Revista Energia 77

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editorial Visão industrial por André Salgado

André Salgado é Presidente da Areva Renewables Brasil.

Apesar do fraco crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) no Brasil em 2012, em torno de 1%, segundo estimativas do Banco Central, o crescimento no consumo de energia elétrica foi de 3,5%, atingindo 448.293 GW/h. Aliadas a este fato, a falta de chuvas no final de 2012 e a consequente redução do nível dos reservatórios fizeram com que fossem despachadas as Usinas Térmicas em todo o país. O risco de racionamento era iminente, porém reduzido graças às chuvas do ultimo mês, quando os níveis dos reservatórios começaram a se recuperar, contudo ainda continuam bem abaixo do que se poderia considerar seguro. O governo já anunciou a manutenção do despacho das Térmicas. Adicionalmente, a Medida Provisória 579, que trata das renovações das concessões, trouxe um clima de insegurança aos investidores, o que contribui para a redução dos investimentos no setor.A política energética pautada exclusivamente na ‘modicidade tarifária’ colocou em competição todas as fontes e em todo o território nacional. Houve uma grande redução dos preços de compra da energia, mas, em contrapartida, provocou uma grande distorção do ponto de vista geográfico (geração longe dos centros de consumo) e uma enorme concentração da expansão em uma única fonte: a Eólica. Cabe ressaltar aqui o aumento de competitividade desta fonte nos últimos anos advindos de incentivos fiscais, da construção de fábricas no Brasil e ainda dos ganhos de produtividade da indústria. No entanto, entendemos que ao colocar em competição nos leilões todas as fontes da forma como está ocorrendo, não estamos comparando “laranjas com laranjas”. Há que se considerar, para ficar em um só exemplo, os enormes custos de transmissão que estão sendo assumidos pelo governo e que beneficiaram sobremaneira a instalação dos parques eólicos. A Biomassa tem ficado de fora da expansão da geração, assim como as PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas). Com isso uma forte e competitiva indústria, de tecnologia nacional e grande empregadora, vem sofrendo um lamentável revés.Hoje, da forma como a política está sendo aplicada e como os leilões estão sendo organizados, os únicos ganhadores serão os parques

eólicos e continuarão ficando de fora a Biomassa e as PCHs. Há um enorme potencial de geração com a Biomassa. Somente no setor sucroenergético, com a utilização do bagaço de cana-de-açúcar e também das suas pontas e palhas ( palhiço), seria possível gerar 15 mil MW médios, o equivalente a uma “Itaipu Verde”, referência que se tornou comum em nosso mercado. Além disto, a geração de energia se tornou um forte pilar da indústria sucroenergética, que é uma indústria importante estrategicamente para o país, além de ser grande empregadora. Precisamos de uma matriz diversificada e segura do ponto de vista do fornecimento de energia. A Biomassa tem um papel importantíssimo na obtenção desta segurança, pois o combustível pode ser armazenado e, desta forma a geração pode ser modulada de acordo com a necessidade do consumo, o que não ocorre com outras fontes renováveis como a eólica e a solar. Há disponibilidade imediata do combustível e a construção de centrais de geração são projetos de rápida execução (em torno de dois anos). Já há o reconhecimento por parte dos órgãos que planejam e regulamentam a expansão da geração da necessidade de implantação de mais térmicas para garantir a segurança do fornecimento, e mais, reconhecem também que elas deverão ser implantadas o mais próximo possível da carga para evitar grandes investimentos em transmissão. Mais uma vez a Biomassa é a solução ideal, pois encontra-se majoritariamente nas regiões centro oeste e sudeste, onde está o consumo. A alternativa à Biomassa seria a construção de térmicas movidas à combustível fóssil. Num país como o Brasil que tem 88% da geração de energia elétrica proveniente de fontes renováveis e que tem a possibilidade de continuar expandindo a geração partir destas fontes, não faz sentido falar, nem muito menos fazer, a expansão baseada em combustíveis fósseis, indo na contramão da redução das emissões de carbono e contribuindo para o aquecimento global. Só uma mudança da política energética brasileira poderá trazer de volta os investimentos em geração a partir da biomassa. O Brasil precisa desta mudança agora!

REVISTA ENERGIA #77

INDUSTRIAL VISION Despite a weak GDP growth (Gross Domestic Product) in Brazil in 2012, around 1% according to Central Bank estimates, growth of electrical power consumption was 3,5% higher than in 2011, reaching up to 448.293 GW/h. Moreover, drought at the end of 2012 and resulting reduction on the water reservoirs level prompted the government to order thermal plants to produce and deliver power to the domestic grid. The risk of rationing was eminent, but reduced thanks to rainfall in February when water reservoir levels began to recover, although it was not enough, since they are still below what might be considered a safe reserve. The government has already annouced that it will continue their thermal plants power delivery order. Additionally, Provisional Executive Order (Medida Provisória) #579 on renewal of power concessions worried investors and that contributed to a drastic reduction in investiments in the sector. An energy policy based exclusively on « tariff moderation » sparked competition among all sources of power throughout Brazil. Power purchasing prices were reduced but, on the other hand, it caused an imbalance from the geographic point of view - power generation far from consumption centers - and a concentated focus on the expansion of one single source : wind power. It is worthy to note the increased wind power competitivity in the past few years due to fiscal incentives, construction of several manufacturing plants in Brazil as well as the industry´s gains in productivity. However, we understand that, by placing all sources of power in competition at the reverse auctions, as is happening now, we are not comparing « oranges with oranges. » One must consider, just to give one example, the huge transmission costs being paid by the government and that overly benefitted the installation of wind parks. Biomass has been left out of the power generation expansion as have the SHPs (Small Hydroelectrical plants) meaning that a strong and competitive industry which fully uses domestic technology and is a major employer has been delt a regrettable setback. Currently, due to the applied government policy and organization of power biddings, the sole winners will be the wind parks to the exclusion of biomass and the SHPs. Power generation with biomass has a huge potential. In the sugar-ethanol sector alone, using sucar cane bagasse as well as sugar cane waste (the « palhiço ») it would be possible to generate an average 15.000 MW or the equivalent to a « Green Itaipu », a reference that has become common in our market. Moreover, power generation has become a strong pillar of the sugar-ethanol industry, a strategically important industry for the country and which is also a major employer. Brazil needs a diversified power grid that also has to be reliable from the security of supply point of view. Biomass has a hugely important role in achieving this reliability since the fuel can be stored and thus, power generation can be modulated according to consumption needs a fact that does not occur with other renewable power sources such as wind and solar. There is immediate fuel availability and the construction of power generation plants are fast executed projects (about two years). Government agencies in charge of planning and regulating expansion already recognize the need for deployment of more thermal plants in order to ensure a safe supply and, moreover, they also recognize that the plants must be deployed as close as possible to the consumption centers in order to avoid major transmission costs. We reinforce that biomass is the ideal solution since it is mostly located in the midwest and southeast regions, close to consuming customers. An alternative to biomass would be the construction of plants running on fossil fuel. In a country such as Brazil where 88% of electrical power generation comes from renewable sources and with the possibility of expanding generation from these sources, it does not make sense to discuss, much less perform an expansion based on fossil fuel since it goes against the worldwide need to reduce carbon emissions and which also contributes to reducing global warming. Only changes in the Brazilian electrical power policies can bring back investments in electrical generation using biomass. Brazil needs this change now ! Only changes in the Brazilian electrical power policies can bring back investments in electrical generation using biomass. Brazil needs this change now !

AREVA RENEWABLES

NOV . 2012

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