Informativo APUSM - Sexta-feira, 13 de março de 2020
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ASSOCIAÇÃO DOS PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS DE SANTA MARIA
INFORMATIVO Edição 05 - 13 de março de 2020
ENTREVISTA: ELAINE RESENER, NO DIA INTERNACIONAL DA MULHER
Referência feminina de dedicação e sucesso A figura da mulher passou a ser extremamente importante na sociedade, onde ela exerce cada vez mais um papel de protagonista, embora ainda sofra com as heranças históricas do sistema social patriarcalista em seu dia a dia. Com o tempo, graças às lutas promovidas, a mulher vem aumentando o seu espaço na sociedade, abandonando a imagem de mera dona de casa e assumindo postos de trabalho, cargos importantes em empresas e estruturas hierárquicas menos submissas. Apesar de uma maior presença no mercado de trabalho, ainda há uma desigualdade em relação ao homem. Não faltam exemplos de mulheres batalhadoras que trilham belos caminhos e alcançam o sucesso, servindo de inspiração para muita gente. Por isso, neste Mês da Mulher, a Apusm homenageia a todas contando um pouco da história de uma mulher que é referência na sua área de atuação e exemplo de dedicação. É a professora Elaine Verena Resener, médica formada pela UFSM que hoje atua como Superintendente do Hospital Universitário. Na entrevista a seguir, ela conta um pouco da sua trajetória e os desafios enfrentados. Confira: – A senhora é referência na saúde no Estado. Pode nos contar sua trajetória? Elaine Resener – Tudo iniciou ao cursar Medicina na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e, também, a Especialização em Ginecologia e Obstetrícia. Depois, atuei em consultório privado e integrei o corpo clínico dos hospitais de Santa Maria. Logo a seguir, fui aprovada em concurso para médica do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), em 1982. Devido ao estreito contato com alunos de Medicina, busquei qualificação acadêmica no mestrado e doutorado da Universidade de São Paulo e, como consequência, ingressei como docente de Medicina em 1993. Estas duas atividades na saúde e no ensino me aproximaram da gestão, onde atuo desde 1998, quando assumi o primeiro mandato como diretora geral do Husm, reeleita em 2002 para mais quatro anos. Diante do desafio de Gestão da Saúde Pública, em especial do maior hospital público do interior do Estado, além da qualificação acadêmica, fiz especializações em gestão hospitalar. A primeira foi na Pontifícia Universidade Católica do RS (PUC), em 2002, Hospital Sírio Libanês em 2013 além de especializações Internacionais de Gestão da Saúde Pública em hospitais de ensino na França, Portugal e Espanha em 2014 e 2015. Essas experiências foram balizadoras para o enfrentamento dos desafios hospitalares dos novos cenários de saúde e a devida inserção da formação de profissionais. Tive a oportunidade ímpar de atuar na Atenção Básica e Especializada da cidade como secretária de Município da Saúde por
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– Como vê a conquista das mulheres nos diferentes setores? Elaine Resener – Ainda se acredita no mito de que o cargo de gestão de liderança demanda dedicação absoluta em detrimento de si mesma e da família. Isso faz com que muitas mulheres abram mão de um relacionamento e de ter filhos. Porém, penso que, hoje, há espaço para o equilíbrio e motivação para a participação da mulher nos mais variados espaços, visto a crescente representação junto às forças armadas, parlamento, universidades, pesquisadoras entre outros, sem deletar sua vida pessoal. – O Dia Internacional da Mulher faz com que se sintam representadas? Elaine Resener – É sim um dia especial, para reflexão e atitudes que devem ser de todos os dias. Apesar de importantes conquistas e avanços, ainda há muitas situações de vulnerabilidade e ainda morrem pelo simples fato de serem mulheres. São segregadas em inúmeras posições pela sua condição fisiológica da gravidez, maternidade e aleitamento, estão subrepresentadas no cenário político e em muitos outros cargos de liderança e gestão. Embora as competências não sejam gêneros dependentes, ainda há um longo caminho, neste sentido as mulheres sabem do que estou falando.
Dra. Elaine Resener foi a primeira mulher indicada para administrar o Husm, em 1998
três anos, o que representou um desafio totalmente diferente da gestão do Husm. Conhecer diferentes instâncias dos problemas mudou definitiva e decisivamente minha visão de Rede de Saúde Pública. Ao retornar ao Husm, atuei na adoção do novo modelo de gestão pública pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), fui indicada e nomeada superintendente, quando pude acompanhar o primeiro grande concurso, em 2014, com mais de 800 vagas para o hospital. Isso possibilitou passar de 307 para 403 leitos e atender mais de 200 mil consultas especializadas por ano, além de aumentar em 90 % a oferta de cursos de especialização (residência) Médica e Multiprofissional. Neste cenário, continuo a exercer, além da gestão, minhas atividades de docente no curso de Medicina, ciente, com toda minha equipe, da dimensão de nossa responsabilidade do pleno funcionamento, com qualidade de nosso hospital. – Quais são os desafios enquanto profissional, mãe e vida pessoal? Elaine Resener – Os desafios mudam conforme a fase da vida, da profissão e idade dos filhos. Enquanto profissional,
conquistei o mais elevado grau da carreira acadêmica que é a de professor titular, além dos muitos reconhecimentos públicos decorrentes de minhas atividades dentro e fora da UFSM, e mantenho o compromisso do ensino e da inserção dos novos profissionais no cenário de trabalho. Na gestão do Husm, o desafio é o da manutenção e, se possível, a ampliação e qualificação de um hospital que nunca foi tão grande como é hoje. No entanto, ainda temos a obra da ampliação de leitos de UTI e importantes laboratórios para concluir. Neste ano, comemoramos os 50 anos do Husm e apresentamos à comunidade o amadurecimento e crescimento de todas atividades do hospital. Como mãe, tenho a gratificação e a felicidade de três filhos formados, especializados e inseridos com sucesso em suas áreas, sendo dois médicos e uma psicóloga. Na vida pessoal, o desafio do equilíbrio nas atividades, da relação de casal nesta fase da vida, manutenção da saúde é permanente. O exercício de ‘desconectar’ é um deles, além de fazer atividades que me deem alegria e prazer. Por oportuno preciso citar o novo espaço da academia da Apusm, reunindo prazer e cuidado com a saúde.
– Quais as qualidades e deficiências na saúde de Santa Maria? Elaine Resener – Nossa cidade tem privilégio de contar com uma universidade e um grande hospital de ensino que formam profissionais excelentes e atende a população com qualidade e totalmente pelo SUS. Nossas deficiências e desafios para a saúde de Santa Maria estão no fortalecimento da atenção básica, promoção e prevenção da saúde e maior resolutividade em nível primário. As unidades de saúde enfrentam grande rotatividade de médicos, fato que reduz o vínculo com o paciente bem como a e adesão e confiança nos tratamentos. Na parte hospitalar, faltam leitos e, nesse sentido, é importante que o hospital Casa de Saúde (que foi municipalizado) atenda de fato o que se propõe em contrato de gestão com o município e que seja constante no atendimento ao SUS, como é o Husm É vital que o Hospital Regional passe a funcionar de forma integral, atendendo o que a população realmente precisa e pelo SUS, haja vista as grandes filas de espera por cirurgias e procedimentos. – Qual mensagem de incentivo deixa para quem busca sucesso e realização? Elaine Resener – Que estudem e se qualifiquem muito, avaliem os cenários onde desejam se inserir em qualquer ramo de atividade e que busquem o sucesso que, na verdade, representa o equilíbrio entre todas as nossas atividades e papéis.