Associação Paulista dos Técnicos de Seguro
N O T Í C I A S
A REINVENÇÃO DO SEGURO Novo marco regulatório traz mudanças profundas na atividade e promove avanços
A revolução do Open Insurance
Sandbox II quer atrair novos segurados
Lei de Licitações pode alavancar seguro garantia
Mercado de seguros se prepara para a transformação
Foco será em produtos simples, acessíveis e inéditos
Seguradoras precisarão se estruturar para garantir step-in
jul ⁄ago • edição 138 • ano XXXII
ÍNDICE
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PALAVRA DO PRESIDENTE DATAS
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OPINIÃO
ASSOCIAÇÃO PAULISTA DOS TÉCNICOS DE SEGURO
Walter Polido aborda a evolução na estrutura contratual dos seguros de Responsabilidade Civil
EM FOCO Vida e previdência estão ganhando espaço nas empresas como benefícios valorizados
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DIRETORIA EXECUTIVA Presidente: Octavio J. Milliet Secretário: Luiz Macoto Sakamoto
APTS TV
Tesoureiro: Evaldir Barboza de Paula
Séries de vídeos analisam as novas regulamentações e as mudanças no seguro auto
Conselho Administrativo Efetivos: Jayme Brasil Garfinkel, Hélio Opipari Junior e José Luis S. Ferreira da Silva.
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CAPA O seguro no país não será mais o mesmo depois do Open Insurance. Seguradoras enfrentarão desafios
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Suplentes: Alexandre M. Camillo, Claudio Macedo Pinto e Cesar Bertacini
Órgão oficial da ASSOCIAÇÃO PAULISTA
TENDÊNCIAS Conquista de novos segurados é uma das apostas do segundo sandbox
DOS TÉCNICOS DE SEGURO Redação e Publicidade: Largo do Paissandu, 72 - 17º andar - Conj. 1704, São Paulo - SP CEP 01034-901 - www.apts.org.br e-mail: apts@apts.org.br
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ESPECIAL Lei de Licitações pode alavancar seguro garantia, mas, seguradoras precisam se estruturar para o step-in
Edição e Assessoria de Comunicação: Prisma Comunicação Integrada Jornalista Responsável: Márcia Alves (Mtb 20.338) madlis@uol.com.br
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DESTAQUE A evolução dos canais digitais não diminuiu a importância do corretor de seguros
MERCADO 2 APTS
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PAL AVR A DO PRESIDENTE
O imprevisível Open Insurance NO NOVO MUNDO do Open Insurance, o consumidor será o dono de seus dados, permitindo – ou não – o acesso de outras seguradoras, bem como fintechs e insurtechs. A ideia é que o consumidor disponha de produtos mais simples, baratos e inovadores. Por determinação da Susep, cabe às seguradoras, nesse processo, “abrir” as informações de seus clientes (mediante autorização) para outras seguradoras e para as novas empresas digitais (fintechs e insurtechs). As seguradoras também deverão compartilhar os dados com as novas Sociedades Iniciadoras de Serviços de Seguros (SISS), que terão prazo de até 36 meses para testarem novos produtos e serviços. Mas, a meu ver, as SISS deveriam, primeiramente, ser testadas e aprovadas para, somente depois disso, terem acesso aos dados. Tenho lido muitas críticas em relação ao prazo que as seguradoras terão para desenvolverem os sistemas para operarem o Open Insurance, inclusive, em sintonia com a LGPD, que está trazendo ao mercado o risco de multas milionárias, que podem chegar a R$ 50 milhões. Os corretores também terão de acompanhar muito de perto todas essas modificações e, ainda, os novos produtos que serão lançados, para ofertá-los aos seus clientes e para não serem engolidos pelo sistema. Corretores, preparem-se! Dados do segurado sendo trocados, abertos às seguradoras, fintechs, insurtechs e SISS, além de novos produtos sendo ofertados aos consumidores, por empresas em fase de teste..., não sei o que vai acontecer. Para tentar prever como tudo vai se modificar e aonde e como os corretores vão chegar, apelo aos “universitários”. Chamem a Fenacor e os Sincors!
Octavio Milliet Presidente da APTS
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DATAS
Escola de Negócios e Seguros completa 50 anos
CNSEG: 70 ANOS FAZENDO HISTÓRIA
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NO DIA 25 DE JUNHO, a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) completou 70 anos de existência. Sua trajetória começou com a fundação da Federação Nacional das Empresas de Seguros (Fenaseg), em 1951, motivada pelo desejo compartilhado entre as empresas do setor de seguros de obter maior expressão e autonomia. O contexto era de questionamento da intervenção estatal, que ganhou novo fôlego com o retorno de Getúlio Vargas à presidência da República (1951-1954). Inicialmente, a Fenaseg reuniu os Sindicatos das Empresas de Seguros do Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande Sul, e foi reconhecida oficialmente pelo Ministério do Trabalho ao congregar também o Sindicato de Pernambuco, em 30 de novembro de 1953, atingindo assim o número mínimo de sindicatos requerido pela legislação vigente. Comprometida com o desenvolvimento do sistema de seguros privados e com a expansão da atividade seguradora no Brasil, no decorrer dos anos a Fenaseg fomentou estudos, amplos debates, propostas e grandes campanhas nas mídias impressa e televisiva. Em 2008, a criação da CNseg veio ao encontro da necessidade de ampliar a representatividade dos diversos segmentos do setor segurador brasileiro, face à sua diversificação, expressão econômica e alcance social. A Confederação Nacional das Seguradoras congrega quatro Federações que representam as empresas integrantes dos segmentos de Seguros, Previdência Privada Complementar Aberta e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização: FenSeg, FenaPrevi, FenaSaude e FenaCap. “Representar um setor cuja receita anual corresponde a perto de 6,7% do PIB, gera 175 mil empregos diretos e faz a gestão de investimentos equivalentes a quase um quarto da dívida pública brasileira é, sem dúvida, um grande orgulho e um enorme desafio diário para todos os que integram esta Confederação. Desafio compartilhado com as quatros federações”, diz o presidente da CNseg, Marcio Coriolano.
SAL A DO FUTURO FUNDADA EM 1971, a Escola de Negócios e Seguros (ENS) celebrou 50 anos de atuação em junho. Em uma história marcada por pioneirismo e inovação, a ENS atende às necessidades dos profissionais brasileiros com a educação continuada. Dentre diversos cursos, a Graduação Tecnológica em Gestão de Seguros - primeira do país com essas características -, tem se destacado ao obter nota máxima (5) em avaliações do Ministério da Educação (MEC). Desde outubro de 2019, como parte de um amplo reposicionamento mercadológico, a ENS abriu o portfólio e transcendeu ao universo do seguro. Passou a levar conteúdo do mercado de seguros para programas em outros segmentos de negócios – Marketing, Recursos Humanos, Gestão Financeira, Processos Gerenciais, Transformação Digital, entre outros. Como nova estratégia de negócios a logomarca mudou de Escola Nacional de Seguros para Escola de Negócios e Seguros. Com unidades regionais no Rio de Janeiro e em São Paulo e coordenações regionais em todo o país, a ENS também conta com uma rede de parceiros estratégicos. Atualmente, praticamente todos os Sindicatos de Corretores de Seguros (Sincors) do país são promotores dos programas educacionais da Escola. Outra linha de parcerias com empresas e entidades do setor, garante aos empregados, dependentes e prestadores de serviços bolsas de até 20% em cursos de MBA, pós-graduação e extensão. Na área acadêmica, destaca-se o acordo firmado com a IBM para oferta de cursos sobre tecnologia e segurança de dados. Internacionalmente, a ENS viabilizou acordos com a Universidade de Tel Aviv. “Estamos confiantes e preparados para atingir todas as metas. Temos programas educacionais de excelência e capital humano da mais alta qualidade. Estamos pavimentando, hoje, a história dos nossos próximos 50 anos! ”, diz o presidente da Escola, Lucas Vergílio. (Insurance Corp) APTS
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OPINIÃO
Evolução nos seguros do grupo de responsabilidades
Walter Polido*
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eguindo com o programa de flexibilização das condições contratuais dos diversos ramos de seguros, a Susep lançou a Circular 637/2021 e imprimiu através dela grau de evolução nunca experimentado pelo mercado de seguros nacional, na comercialização dos produtos relacionados aos diversos ramos afetos: Responsabilidade Civil Geral (RC Geral); Responsabilidade Civil Profissional (E&O); Responsabilidade Civil Riscos A mbientais (Seguros A mbientais); Responsabilidade Civil Compreensivo Riscos Cibernéticos (Cibernéticos); Responsabilidade Civil de Diretores e Administradores de Empresas (D&O). No Brasil, as Seguradoras sempre estiveram atreladas a modelos padronizados de coberturas, quer durante o período do monopólio de resseguro, quer após a abertura e até o momento anterior à referida
Circular. Os modelos estavam presos a bases construídas em outro momento histórico, especialmente no tocante ao RC Geral, não mais condizentes com a evolução dos riscos, da tecnologia, do Direito e dos interesses seguráveis. O ramo ocupa lugar de destaque na produção mundial e também no mercado nacional ele tem crescido em importância. As estruturas contratuais até então utilizadas pelas Seguradoras no país são anacrônicas e não correspondem mais às exigências encontradas na contemporaneidade. A garantia de RC Produtos e Operações Completadas, por exemplo, sofre de absoluta obsolescência dos termos e condições das apólices. As Seguradoras, especialmente aquelas de origem estrangeira e que operam no país há décadas, têm a missão ou mesmo a obrigação de trazerem, rapidamente, as melhores práticas contratuais encontradas nos seus respectivos países de origem. Novo tempo. Novo comando regulatório. Novas exigências que devem ser requeridas, principalmente pelos corretores de seguros em face dos seus clientes. Não só a forma, a estrutura das condições contratuais tende a ser modificada, eliminando a profusão de cláusulas atualmente praticada, desne-
cessariamente, como também o âmbito dos conceitos técnico-jurídicos dos termos. Inconcebível, por exemplo, as Seguradoras manterem a exclusão de danos morais, assim como de danos estéticos e apenas oferecerem a garantia sob condição particularizada, inclusive sublimitada. O momento é de ação proativa e visando buscar a melhoria do standard local. As empresas devem exigir produtos de melhor qualidade, assim como também os corretores de seguros. Devem, até mesmo, colocar propostas apenas naquelas Seguradoras que efetivamente oferecerem mudanças consideráveis na respectiva atuação nos segmentos de responsabilidade civil como tomadoras efetivas de riscos. A especialização requerida neste novo cenário é inconteste, na medida em que somente realizará mudanças quem de fato estiver tecnicamente preparado para empreendê-las. Um novo olhar para a técnica, portanto, se faz necessário. O elemento preço do seguro deixa de ser fator único diferenciador e os corretores passarão, necessariamente, a considerar o leque de coberturas que os diferentes produtos oferecem. É momento de aprendizado, para todos os players do mercado, sem exceção.
(*) Walter Polido é advogado, coordenador acadêmico da especialização em Direito do Seguro e Resseguro da ESA-OAB-SP, árbitro e parecerista em seguros e resseguro, sócio e professor da Conhecer Seguros. APTS
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EM FOCO
Instrumentos poderosos de planejamento financeiro Vida e previdência, produtos que garantem proteção econômica e renda no futuro, conquistam cada vez mais espaço e atraem interesse das empresas.
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pandemia afetou o modelo econômico oriundo do pós-guerra baseado no consumo como meio exclusivo de vida, além da desigualdade social. Na análise do vice-presidente Comercial da MetLife, Ramon Gomez, a União se empenhou mais na agenda de renda mínima em detrimento da responsabilidade fiscal. “O governo deveria estar mais presente na defesa de causas ligadas à saúde e educação, mas tornou-se intervencionista e paternalista”, disse ele durante participação no fórum da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Rio de Janeiro (ABRH-RJ). O vice-presidente da MetLife comentou o chamado “novo normal”, que exigiu das empresas a quebra de paradigmas ao adotar, por exemplo, o home office. A pandemia também trouxe uma transformação radical no consumo, segundo Gomez. “O e-commerce no Brasil cresceu até cinco vezes mais, abrindo uma gama enorme de ofertas”. Nesse contexto, o executivo acredita que a saúde deveria ter um cunho mais holístico. “Antes da pandemia, uma em cada quatro pessoas estava preocupada com sua saúde física e emocional, agora a relação é sete para um grupo de dez”. Gomez enfatizou
o seguro de vida que também entrou nessa pauta – até então “considerado um mal necessário”, hoje um produto indispensável. Para o executivo da MetLife, os dois produtos – vida e previdência – são instrumentos poderosos de planejamento financeiro e ainda liberam liquidez. Na sua avaliação, a pandemia está influenciando diretamente a construção de produtos, tipos de benefícios e desafia as lideranças na gestão das empresas para garantir saúde física e emocional dos funcionários. O setor de RH assume, então, papel de protagonista neste processo.
“Insustentável” “Estamos vivendo alguns de6 APTS
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safios na previdência complementar”, disse o líder de Previdência da Consultoria Mercer Brasil, Felipe Bruno. Um aspecto desse desafio, segundo ele, é a reforma da Previdência, com “viés importante na redução de benefícios”. Na sua avaliação, o sistema de repartição simples no sistema público está cada vez mais “insustentável”, até porque a pandemia drenou os recursos do setor. Em termos de política macroeconômica, Bruno ressaltou que a taxa de juros mantida pelo Banco Central, em 2020, foi a menor da história (2% ao ano), mas, por outro lado, houve desequilíbrio fiscal. Ainda assim, o mercado de previdência complementar
EM FOCO
Ramon Gomez: Seguro de vida passou de mal necessário a indispensável
possui muito espaço para crescer. Ele citou um dado da Federação Nacional de Previdência e Vida (FenaPrevi): em dezembro de 2020, as contribuições para aos planos de previdência privada somaram R$ 17 bilhões, apontando avanço de 23,5% frente ao mesmo mês do ano anterior. Para reforçar essa tendência de crescimento, Bruno destacou estudo recente da consultoria, que ouviu mais de 7 mil profissionais e 600 líderes em 11 países. Deste contingente, 86% dos entrevistados afirmaram que houve um impacto positivo no trabalho, após o empregador incluir planos de previdência privada no pacote de benefícios.
União para superar a crise O comportamento do mercado de saúde suplementar desde 2010, com crescimento acima do PIB na última década, é o que os economistas chamam de “contracíclico”. De acordo com o presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), Marcio Coriolano, em face dos entraves no acesso à saúde pública, no período, houve aumento nos custos de financiamento da saúde privada decorrente, sobre-
tudo, da tecnologia empregada no sistema. Como consequência, se estabeleceu um conflito na relação entre os custos financiados pelas empresas e as operadoras de planos. Coriolano observou uma mudança de comportamento em tempos de pandemia: “Há um sentimento de finitude de todos e de aversão ao risco”. Segundo ele, a população está mais preocupada com a sua integridade ao consumir mais produtos de saúde e previdência. As empresas, por sua vez, redobraram os cuidados com o bem-estar de seus funcionários. Diante desse quadro, o dirigente prega a união de esforços de toda a cadeia produtiva de saúde, visando o maior empenho à atenção à saúde primária, critérios na adoção de tecnologia, revisão na forma de remuneração dos prestadores e a revisão do marco legal do setor, entre outras medidas. Na visão de Coriolano, o desastre da pandemia é um entre outros importantes, como o do meio ambiente, que exigem o envolvimento de setores representativos da sociedade. Ele fez um apelo aos gestores de RH: “Os se-
Marcio Coriolano: RH pode contribuir com a saúde suplementar ao apoiar mudança de hábitos
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Paulo Sardinha: RH foi protagonista na pandemia
nhores precisam se apoderar das discussões dos sistemas de saúde, promovendo a prática de hábitos saudáveis dentro das empresas”. Com isso – entende o presidente – o RH irá apoiar as pessoas a melhorar seus hábitos, oferecendo uma contribuição importante à saúde suplementar. Paulo Sardinha, presidente da ABRH, reforçou a tese de Coriolano quanto à integração dos atores da cadeia de saúde, como garantia à estabilidade, destacando que os departamentos de RH seriam “os melhores interlocutores para construir as pontes necessárias” no desafio de superar a crise sanitária. “Pensar em saúde é pensar a conduta de todos os indivíduos em termos coletivos”, defendeu. Sardinha lembrou que a área de recursos humanos foi protagonista na pandemia, ao preservar as atividades das empresas com o home office e conscientizar os colaboradores em momentos difíceis. Ele não enxerga a relação do setor com as operadoras como uma questão de custo. E reiterou: “É preciso olhar a saúde como algo universal, sendo amparada de forma mais colaborativa”.
APTS TV
Vídeos Conexão APTS abordam regulamentações Nova série de vídeos analisa as regulamentações dos seguros de danos sob os enfoques de produtos, ambiente regulatório e jurídico.
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berturas all risks e a reativação dos seguros singulares, Santos também aborda o prêmio periódico, que abre espaço para a criação de produtos com vigência intermitente (seguro liga e desliga). “Um segurado poderá contratar cobertura para a sua residência apenas para o período em que estiver viajando”, exemplifica. Na visão do especialista, as novas regras são positivas para o mercado. “Toda desregulamentação e desburocratização é benéfica para a evolução do seguro”, diz.
m tema analisado sob dois ou três pontos de vista diferentes. Esta é a ideia da nova série de vídeos Conexão APTS, que a APTS lançou em seu canal no YouTube. Com duração média de dez minutos, cada vídeo aborda um aspecto de um mesmo tema, em análises que se complementam. O tema escolhido para a estreia da série foram as novas regulamentações para os seguros de danos (Circular Susep 621 e Resolução CNSP 407), que são discutidos por três especialistas.
Ambiente regulatório No segundo vídeo, Luiz Macoto Sakamoto, secretário da APTS, apresenta o ambiente regulatório atual no mercado de seguros, incluindo o nível de concentração no setor, a simplificação e flexibilização dos seguros e, por fim, as ações do órgão regulador para fomentar o desenvolvimento.
Impactos nos produtos No primeiro vídeo Nivaldo dos Santos, experiente profissional do mercado segurador, analisa os impactos nos produtos. Ele comenta a possibilidade trazida pela circular de as seguradoras desenvolverem produtos com coberturas de outros ramos. Segundo o especialista, essa possibilidade já existia, mas era limitada. “Um seguro empresarial compreensivo para um escritório de advocacia, por exemplo, poderá conjugar coberturas de cyber risks”, diz. Além de discorrer sobre as co-
Enfoque jurídico O advogado e corretor de seguros Edson Fecher explica no vídeo por que as mudanças atuais na legislação de seguros estão em linha com o ambiente regulatório global e com o propósito de facilitar a compreensão dos consumidores. Ele também analisa os impactos da flexibilização para os corretores. A seu ver, as novas regulamentações APTS
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estão trazendo mais liberdade – ainda que “vigiada” - para as seguradoras criarem novos e diferenciados produtos. Fecher teme que os corretores não tenham condições de assimilar tamanho volume de produtos inéditos. “É muito perigoso para corretor ter em sua grade uma infinidade de produtos, porque precisará de maior capacidade tecnológica e mais colaboradores ou, então, venderá errado”, diz. Os vídeos podem ser assistidos no canal da APTS no YouTube (aptsseguros).
APTS TV
Ponto de Vista discute mudanças no seguro auto No vídeo da série, especialista comenta os impactos da proposta da Susep para corretores de seguros e consumidores. poderão ocorrer distorções no valor da indenização. Assista ao vídeo: https://youtu. be/weFBBK0Ir5Y
José Carlos destacou os pontos principais da proposta
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seguro de automóvel está prestes a passar por mudanças. Depois de submeter a sua proposta à consulta pública, a Susep agora se prepara para publicar a circular com as alterações no ramo. Quais as principais mudanças e os seus impactos para os corretores de seguros e consumidores? Para responder a essa pergunta, a APTS convidou o seu ex-diretor, o especialista em seguro de automóvel José Carlos de Oliveira, profissional com 42 anos de carreira na área técnica de seguradoras. O resultado dessa análise pode ser conferido no vídeo de curta duração produzido especialmente para a seção Ponto de Vista, publicado no canal da APTS. No vídeo, José Carlos destaca três principais pontos da proposta: a utilização de peças usadas; a contratação de seguro, independentemente do veículo do condutor; e a as consequências da indenização com base na data do sinistro. Em relação a esta última, ele avalia que
M ais sobre a série A série Ponto de Vista, que estreou em 2020, apresenta temas diversos analisados por especialistas em vídeos de curta duração. Confira a seguir os vídeos mais recentes. Novas diretrizes para o combate à lavagem de dinheiro (Circular Susep nº 612) Barbara Bassani, sócia na área de Seguros e Resseguros de TozziniFreire Advogados, comenta a circular que traz mudanças nas regras de prevenção e combate aos crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores. A circular estabelece para as seguradoras regras de governança, riscos e controles, além de determinar a implantação de controles internos compatíveis com a natureza, complexidade e os riscos das operações realizadas. Inovação em Seguros - Novas Tecnologias O professor da ENS, Edval Tavares, aborda o tema inovação em seguros, destacando como as novas tecnologias, como Inteligência Artificial, Big Data, IoT, Biometria e outras, estão mudando o seguro. APTS
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O professor é responsável no MBA pelo curso de gestão estratégica e de cyber security para gestores de seguros, na Sala do Futuro. LGPD e corretores de seguros: como proteger os dados dos clientes Como os corretores de seguros podem proteger os dados dos clientes, inclusive na relação com as parceiras seguradoras? A advogada especialista em Compliance e em Proteção de Dados Pessoais, Juliana Costa, orienta os profissionais da corretagem sobre o que fazer. 9
ANÁLISE
Sequestro digital avança Trabalho em home office abre brechas para crescimento do ransomware, vírus que sequestra dados e alimenta indústria do cibercrime.
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lém de todos estragos que já causou, a pandemia também foi responsável, indiretamente, pelo aumento de ataques cibernéticos. Com mais empresas trabalhando em regime de home office, crimes dessa natureza vêm se tornando mais comuns. Recentemente, um relatório da consultoria de cibersegurança Fortinet mostrou que o Brasil é um dos países que mais sofreram ataques de hackers neste ano. Ao todo, foram registradas em todo o mundo quase 3,2 bilhões de tentativas de invasões só no primeiro trimestre. Já se fala entre especialistas da chegada de uma pandemia cibernética. “Já está acontecendo”, garante Rogério Brito Reis, diretor de negócios da Howden Harmonia Corretora de Seguro. Ele acredita que quase todos os brasileiros, atualmente, já tiveram seus dados vazados. “Com isso, se abre um mercado extremamente valioso para cibercriminosos, que pa-
gam por esses dados de telefone, e-mail, dados bancários, endereços, senhas, entre outros para práticas fraudulentas”, diz.
Franquia do cibercrime A cada período, surgem novas modalidades de ataques cibernéticos. Os mais conhecidos são: ransomware (sequestro de dados), trojans (vírus tipo cavalo de troia), phishing (em que os hackers “pescam” dados dos usuários, lançando uma “isca”), smishing (mensagem de texto SMS ou whatsapp) e cryptojacking (mineração de criptomoedas). De acordo com o Relatório de Ameaças da SonicWall, o Brasil é o quinto maior alvo dos ataques de ransomware, com mais de 9 milhões de tentativas. Os líderes são Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e África do Sul. No seminário “Seguro Cibernético aplicado - Ransomware”, promovido pela Academia Nacional de Seguros e Previdência (ANSP), 10 APTS
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no final de julho, o instrutor em Cybersecurity pela IBM, Rogério Vergara, explicou que o sequestro dados se processa por meio de criptografia no computador ou servidor. O vírus sequestrado age codificando os dados do sistema operacional e bloqueando o acesso do usuário. Segundo ele, a característica mais notável dos ataques é o uso do modelo Ransomware as a Service (RaaS), que permite aos cibercriminosos afiliados utilizem ferramentas já desenvolvidas do malware para executar os ataques. Ou seja, uma espécie de “franquia” do cibercrime. Segundo Vergara, até pouco tempo, os ransomwares eram criptografias simples que permitiam aos proprietários, após o pagamento do resgate, recuperar seus dados, mediante a aplicação das chaves de acesso oferecidas
Rogério Brito Reis: Todos os brasileiros já tiveram seus dados vazados
ANÁLISE
Rogério Vergara: Ransomware as a Service (RaaS), franquia do cibercrime
pelos atacantes. Mas, devido ao aumento do uso de métodos de descriptografia já conhecidos pelas empresas de serviços de cibersegurança, houve uma evolução e hoje o atacante de ransomware adota cópias dos arquivos em servidores públicos para coagir as empresas ao pagamento, se não pela chave de “descriptografia” então pela não liberação na rede mundial dos arquivos sequestrados, muitas vezes confidenciais ou de propriedade intelectual.
Proteção do seguro Claudio Macedo Pinto, fundador da Clamapi Seguros Cibernético e diretor da APTS, confirma que a pandemia fez aumentar o volume de ataques cibernéticos e também de indenizações no mercado de seguros global. Esse cenário tornou o mercado hard para determinados riscos e para empresas de médio e grande portes. Segundo Claudio Macedo, o seguro de cyber risks chegou ao Brasil em 2012, trazido pela AIG Seguros. Atualmente, nove seguradoras atuam no ramo, mas, já se tem notícia de que, em breve, mais uma companhia irá estrear na área. Por isso, ele aposta no crescimento desse mercado. No
primeiro semestre deste ano, o faturamento do seguro para riscos cibernéticos foi de R$ 33 milhões, quase mesmo o valor alcançando durante todo o ano passado. Nesse período, cerca de 6 milhões de sinistro foram pagos. “Dependendo da indústria, um ataque cibernético pode trazer danos catastróficos para todo o entorno da empresa, mas a maioria das apólices de seguros não cobre riscos de ataque cibernético, é preciso contratar o seguro específico”, comentou o fundador da Clamapi. O seguro de Responsabilidade Civil Cibernética oferece cobertura em casos de violação de informações pessoais e corporativas, ato, erro ou omissão na segurança de dados, lucros cessantes, despesas para a substituição de equipamento digital e multas. O seguro também oferece a opção de incluir na apólice coberturas especiais para o pagamento de qualquer perda por extorsão sofrida pelo segurado, como resultado de ameaça de segurança; indenização em caso de distribuição de material que resulte em uma infração de direitos autorais; e cobertura para lucro que teria sido obtido e despesas operacionais em caso de falha de segurança que te-
Claudio Macedo Pinto: Ataque cibernético pode trazer danos catastróficos
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Daniel Lamboy: Avanço dos ataques aumenta a percepção do risco cibernético
nha causado interrupção ou suspensão dos negócios. Caso o segurado seja vítima de cibercrime, a primeira ação, segundo o gerente do Departamento de Linhas Financeiras e Riscos Cibernéticos da Tokio Marine Seguradora, Daniel Lamboy, é acionar a equipe de resposta a incidentes. “Então, dá-se início a uma investigação forense para determinar que tipo de malware, de código malicioso está no sistema; na segunda possibilidade, o ataque já é conhecido e sabe-se que ainda não tem uma chave, um antídoto para o vírus. Outra possibilidade é a de o usuário ter um histórico do malware”, diz. Mesmo diante do significativo aumento dos ataques, dados apontam que apenas 4% das pequenas e médias empresas estão preparadas para lidar com ataques cibernéticos. Dessas, apenas 55% já iniciaram algum processo para adequação à nova LGPD. “O lado bom é que esse ambiente todo contribuiu para a percepção de que existe o risco cibernético e, consequentemente, aumentou a busca dos usuários por proteção. A parte negativa é o aumento exponencial das taxas de sinistralidade”, diz Lamboy.
C APA
OPEN INSURANCE uma revolução está a caminho Com o propósito de simplificar e modernizar o seguro, o novo sistema aberto marca o início de um período de transformações e desafios para o mercado.
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o modelo atual, um motorista cuidadoso, que há anos não enfrente sinistros no seu seguro de automóvel, não terá qualquer vantagem ou recompensa na renovação. Se resolver mudar de seguradora, seu bom histórico de segurado não fará diferença no preço do seguro. Mas, esse modelo tem data certa
para acabar quando entrar em operação o Open Insurance, um sistema de seguros aberto que consiste no compartilhamento padronizado de dados dos clientes das empresas do mercado supervisionadas pela Superintendência de Seguros Privados (Susep). No novo sistema, o segurado que consentir em compartilhar 12 APTS
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seus dados poderá não apenas se beneficiar com descontos na renovação do seguro, como receber ofertas personalizadas de várias seguradoras, inclusive da sua, bem mais adequadas ao seu perfil de risco e com preços e condições mais atraentes. Esse empoderamento do consumidor de seguros está alinhado aos preceitos da
C APA
Eduardo Fraga – Open Finance trará inclusão financeira
Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), em vigor desde 2020, que confere ao titular dos dados o direito de portabilidade e compartilhamento. Com o Open Insurance, o seguro no Brasil não será mais o mesmo. O que se espera é a oferta de produtos inéditos, mais simples e modernos e também maior concorrência entre as empresas. O novo sistema tem conexão com o Open Banking, que está um pouco à frente nesse processo e já se prepara para o compartilhamento de dados de clientes bancários. Quando ambos os setores tiverem concluído o processo de abertura, então estará configurado o Open Finance, sistema financeiro aberto. O Open Finance visa a consolidação da vida financeira do consumidor, com o histórico das contas mantidas em instituições financeiras, operações de crédito e investimentos, e também a consolidação dos produtos de seguros, previdência ou capitalização. A interoperabilidade entre ambos os segmentos está relacionada à concepção de um sistema mais transparente, em que o consu-
midor, além de ter verdadeiro domínio de seus dados, tenha fácil acesso a informações precisas sobre produtos, serviços e custos de cada empresa. O diretor de Tecnologia da Informação da Susep, Eduardo Fraga, ressaltou, em evento do setor realizado em julho, que o sistema financeiro aberto não é uma iniciativa isolada nas agendas do Banco Central e da Susep, pois o objetivo comum é impedir que haja assimetria de informações. “O compartilhamento de dados seguirá fortes padrões de segurança e só ocorrerá com consentimento expresso e inequívoco do cliente”, disse. Fraga acredita que um dos ganhos do Open Finance será a inclusão financeira, com a entrada de desbancarizados e não-segurados.
C ronograma O start para o processo de implantação do Open Insurance no mercado teve início em abril, quando a Susep colocou em consulta pública as primeiras minutas de circular. Em julho, veio a regulamentação com a Resolução CNSP nº 415/2021 e a Circular Susep nº 635/2021,
Marcelos Fernandes – SISS serão como Buscapé do seguro
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Gustavo Leança – Para seguradoras, há muito a ser feito em pouco tempo
que definem as diretrizes para o sistema. O cronograma estabelece três fases de implantação, com término em junho de 2023. Na primeira fase, que começa em dezembro e se estende até o meio do próximo ano, haverá o compartilhamento de dados públicos das empresas referentes a produtos e canais de atendimentos. Em setembro de 2022, terá início a etapa mais importante, quando os clientes poderão compartilhar seus dados pessoais. Por fim, de dezembro de 2022 até junho de 2023, será concretizada a última etapa, a de efetivação dos serviços, com a realização de modificações e endossos, acessos, resgates e avisos de sinistros, com foco na melhoria da experiência dos clientes. Nesta última fase entram em cena as Sociedades Iniciadoras de Serviços de Seguros (SISS), que, segundo Gustavo Leança, Head de Soluções de Seguros da Capgemini, funcionarão como uma espécie de prestadoras de serviços ao cliente. De acordo com Leança, nesse cronograma também estão definidas as datas para o estabe-
C APA lecimento da Governança Provisória e Definitiva do Open Insurance, órgão responsável dentre outras funções pela definição dos padrões de APIs (Application Programming Interface, ou, em tradução livre, Interfaces de Programação de Aplicação), que serão utilizadas para viabilizar o compartilhamento de dados entre as seguradoras. As APIs funcionam por meio de um conjunto de rotinas e padrões estabelecidos por um software, que faz a interface para a comunicação com ou-
tros sistemas de forma segura, sincronizada e estruturada, a partir do consentimento ou solicitação do consumidor. O sistema é o mesmo utilizado, por exemplo, no Google Maps, no qual o aplicativo permite que qualquer um consiga construir um site com um mapa integrado a ele.
D esafios para o mercado Pode não parecer, mas os prazos, apesar de ampliados recentemente, são relativamente curtos para a adequação das seguradoras ao Open Insurance.
Gustavo Leança concorda que há muito a ser feito em pouco tempo. “Começa pelo ajuste ao modelo de comunicação via APIs, que precisa estar devidamente gerenciado, construído e monitorado, e vai até a adequação a protocolos de segurança que garantam a troca de informações segura e controlada, além de ser preciso também trabalhar a gestão do consentimento do cliente de maneira estruturada e com comunicação fluida”, diz, acrescentando que “agora é a hora de se preparar”.
SISS se inspiram nas TPPs Olhando para o modelo inglês de Open Banking, Leança observa que as SISS foram inspiradas nas Third Party Providers (TPPs), que têm atuado como grandes promotoras de inovação no mercado europeu. “Se o cliente permitir o uso de seus dados, as SISS poderão consultar todas as seguradoras e consolidar as informações, agindo como uma agregadora financeira. Posteriormente, se tornará uma gestora de seguros do cliente”, disse. Segundo ele, inicialmente, as TPPs na Europa não passavam de cem, mas, dois anos depois aumentaram para 438 empresas. “Elas viram uma oportunidade de ganhar dinheiro, daí porque estão atraindo um impressionante número de angels investidores”, disse. Durante a CIAB Febraban 2021, Leança expôs exemplos de TPPs inovadoras, como o Multiply, que utiliza o Open Banking para obter insights sofisticados sobre os gastos dos clientes. “Se o cliente quiser comprar uma casa, por exemplo, o Multiply pedirá a liberação dos dados dele para todos os bancos, analisará seus extratos e gastos e dirá como investir mais e quais os gastos terá de reduzir. Trata-se de uma consultoria financeira automatizada, com foco na compra de ativos de alto valor, que usa os dados com inteligência”, disse. Outro exemplo é a Credit Kudos, que, segundo o executivo da Capgemini, está revolucionando a maneira de precificar crédito na Europa. Em vez de depender de sistemas de pontuação de crédito desatualizados e injustos, a empresa desenvolveu uma pontuação de saúde financeira, que identifica se o cliente tem tendência à inadimplência, além de reunir informações que possam melhorar e ajustar preços. Porém, mais um concorrente de peso vem por aí, o Google, que detém dados e tecnologia e se propõe a ser o app de internet banking para quem desejar. Leança aposta que outras big techs, fintechs e insurtechs também estão se preparando para trabalhar dados de seguros. Com base nos cases que apresentou, ele avalia que é hora de as seguradoras brasileiras pensarem em como irão se encaixar nesse cenário. “Se essas empresas vão cuidar do front, então as seguradoras poderiam cuidar da operação, criando uma nova maneira de subscrição de riscos e de tratar o cliente, oferecendo mais do que o pagamento de sinistros”, disse. 14 APTS
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C APA Mas, o tempo não é o único obstáculo que as empresas de seguros têm pela frente no Open Insurance. Quando o sistema entrar em funcionamento, as companhias vão entrar em acirrada concorrência. Por um lado, as seguradoras terão a oportunidade de aumentar receitas a partir do conhecimento que irão adquirir do seu cliente e de clientes novos. Na Europa, os bancos já estão lucrando com a venda dados por meio de APIs que ajudam, por exemplo, a calcular hipotecas, produzir estatísticas de uso de cartão, dados socioeconômicos etc. Mas, por outro lado, existe para as seguradoras a ameaça da perda de clientes para outros players do Open Insurance que conseguirem trabalhar melhor os dados. “Dados são como petróleo”, diz Marcelo Fernandes, gerente de Desenvolvimento de Negócios para Insurance da FICO. Mas, não basta ter dados dos clientes. Para Fernandes, as empresas de seguros terão de extrair o máximo de insights e valor dos dados para, então, monetizar esse conhecimento. Na sua participação em evento sobre o tema, realizado em agosto pela WSO2 e a Prensa, Fernandes previu que o Open Insurance será um grande divisor de águas no seguro, trazendo enorme competitividade ao mercado. “As SISS serão como um Buscapé do seguro, fazendo comparações de preços de seguradoras”, disse. Na sua opinião, os agregadores de preços serão capazes de oferecer mais opções aos clientes do que os corretores, os quais, aliás, ficaram de fora do Open Insurance. “Seguradoras e corretores de seguros terão de se reinventar”, disse.
Compartilhamento de dados com inovação e segurança Open Insurance pode favorecer a criação e a oferta de produtos mais customizados e flexíveis aos consumidores
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oje, o acesso à informação no mundo corporativo passou a ser um objetivo estratégico delineado pelas empresas. No setor de seguros existe a mesma percepção. No Open Insurance, a Susep pretende adotar “o espírito da cidadania financeira” nas normas, permitindo ao consumidor desfrutar dos benefícios do seguro. E mais: fazer a ponte de integração com o Open Banking e, assim, ampliar significativamente as oportunidades. O modelo proposto é um triângulo formado pelos vértices da segurança, transparência e inovação. A Susep vislumbra a criação de produtos mais customizados e funcionais. As seguradoras seriam atraídas para este “novo mundo” ao adotar soluções inovadoras que permitam decisões mais rápidas, imprimindo desenvolvimento ao setor. Há quem considere que, quando o sistema democratiza o acesso a dados e informações, abre, inclusive, espaço para a operação de companhias regionais, de médio porte e de nicho. Hufnagel: compartilhamento de dados O presidente do Sincorfavorece produtos mais assertivos -SP, Alexandre Camillo, 15 APTS
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Camillo: Para o mercado de seguros não, pois já temos a figura do corretor
concorda que o seguro vive um processo de transformação diante de um mercado de grande potencial. Contudo, ele se mostra apreensivo. “Não temos nada contra inovação, mas é uma cópia do Open Banking. A diferença é que a relação é banco e consumidor. No caso do Open Insurance, a relação é seguradora com seguradora, mais o consumidor. Para os bancos, faz todo sentido, mas para o mercado de seguros não, pois já temos a figura do corretor. Outra questão é: vai diminuir o valor final para o consumidor? Não vai. Nós, como setor, não só os corretores de seguros, Fenacor e CNseg, já nos posicionamos, durante a audiência pública, contrários às disposições trazidas no Open Insurance. Principalmente, sobre as sociedades iniciadoras em seguros. Isto não está previsto em lei”, declara.
P rodutos mais assertivos Já o especialista em seguros de Responsabilidade Civil e consultor, Robert Hufnagel, encara o tema com otimismo: “O compartilhamento de dados favorece a criação e oferta de
produtos mais assertivos aos clientes, mas tende a ampliar a concorrência tanto para corretores quanto às seguradoras, com a entrada de novos players interessados na versatilidade dos produtos”. Na avaliação do especialista, a própria LGPD garante ao cidadão o direito à portabilidade dos seus dados, autorizando o compartilhamento das informações entre fornecedores e prestadores de serviço. Essa é a tese do coordenador da Susep, Thiago Barata, que, em live realizada pelo órgão regulador, reiterou a importância da LGPD no novo ambiente. A partir de agora, “o consumidor passou a ser o dono dos seus dados”, disse. Hufnagel explica que o Open Insurance propicia práticas de inovação, por meio da transmissão de informações a parceiros e startups, por exemplo, garantindo a criação de novos modelos de negócios. Um entusiasta do tema, o CEO da Via Direta Corretora de Seguros, Jefferson Floriano, acrescenta outra virtude do sistema de seguros aberto: “A tendência de simplificação nas análises de risco dos segurados e a melhora considerável na precisão da precificação do próprio risco”. Floriano crê que a inovação defendida pela Susep permitirá às seguradoras trabalharem em conjunto, oferecendo
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Galiza: tema deve ser bem esclarecido e avaliado com os cuidados necessários
coberturas mais flexíveis para outros tipos de eventos. Com uma visão igualmente cautelosa, o economista e consultor Francisco Galiza considera a ideia um “desafio”. E justifica: “Embora possa acontecer em um ou outro caso internacional, temos de avaliar se o Open Insurance pode ser aplicado à cultura do setor no Brasil, que tem certas restrições sobre o compartilhamento de dados, por razões estratégicas e comerciais”. Em sua visão, o tema deve ser bem esclarecido e avaliado com os cuidados necessários para que alcance o êxito esperado. No entanto, considera válida a iniciativa. De fato, a inovação no setor de seguros é um caminho sem volta.
As seguradoras seriam atraídas para este “novo mundo” ao adotar soluções inovadoras que permitam decisões mais rápidas ...” 16 APTS
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Primeira edição bem-sucedida, faz Susep repetir o modelo, mas com ajustes.
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epois dos resultados positivos do primeiro sandbox, iniciado em 2020, a Susep deu a partida para a segunda edição, com a expectativa de conceder as primeiras habilitações já no final do ano. Dos 11 projetos aprovados na primeira edição, dez foram habilitados e 3 empresas já entraram em operação. Apesar da pouca base de dados, o sandbox I já tem cases de sucesso para mostrar. Um deles é o de uma empresa que partiu do zero para R$ 11,6 milhões em prêmios, entre dezembro de 2020 e junho de 2021. Mas, o resultado que fez a Susep comemorar foi a conquista de novos segurados. Das 39.389 apó-
lices emitidas pela empresa nesse período, 4.625 no seguro auto, ou 69% eram de clientes novos. Já no seguro para celular, 29.301, ou 90% das apólices eram de novos segurados. “São clientes que nunca tiveram seguro. É uma satisfação ver que estamos aumentando a base de pessoas que desejam contratar seguro”, disse a superintendente Solange Vieira, durante o webinar Sandbox Regulatório, promovido pela FGV, em julho. Ela revelou, ainda, que outra empresa habilitada conseguiu o feito de pagar uma indenização em apenas 12 segundos. No primeiro sandbox, os principais produtos lançados foram para a cobertura de furto sim17 APTS
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ples de smartphones e auto on demand (seguro intermitente). Em ambos, além do uso de novas tecnologias ou processos, se destacaram também a contratação e cancelamento simplificados, o uso de inteligência artificial para a regulação de sinistro e pagamento de indenização, contratos simplificados, vistoria e regulação digital. “É uma aposta grande na tecnologia, tornando o produto melhor, mais acessível e aumentando a cobertura”, disse a superintendente. Não por acaso, os processos mais rápidos são um dos requisitos para os projetos do sandbox II, que incluem, ainda, o uso de meios remotos, regulação auto-
TENDÊNCIAS
Sandbox II mira em novos segurados
TENDÊNCIAS matizada, aplicação totalmente online e a condição de produtos de cauda curta. “O período de contratação não é longo, porque as empresas são feitas para nascerem e crescerem ou morrerem rapidamente. Então, a preocupação é que não haja descontinuação do seguro para o consumidor”, explicou Solange Vieira. Segundo a superintendente, um dos aprendizados da primeira edição foi a necessidade de redução do capital mínimo, que antes era de R$ 15 milhões e agora é de R$ 1 milhão, conforme o segmento. Ao todo, são 4 segmentos, de F1 a F4, cada um com capitais distintos. Outra mudança ocorreu no processo de autorização, que ficou mais rápido porque a Susep está alterando algumas normas. Além do novo limite global de riscos de R$ 150 mil e da ampliação do número de entrantes, que passou de 11 para 15, houve também no sandbox II a expansão de produtos que podem ser operados pelas seguradoras digitais. Nesta edição, as novidades são a inclusão do seguro de pessoas individual (inclusive seguro de vida), o patrimonial empresarial, o seguro de responsabilidade civil facultativa em automóvel e o fiança locatícia (para contratos com no máximo três meses de vigência). Solange Vieira afirmou que o sandbox fez a Susep rever alguns normativos, como, por exemplo, o que trata das autorizações. “Em breve, haverá norma de autorizações em consulta pública, e isso foi fruto das discussões do sandbox”, disse. Além da autorização mais ágil, a Susep também inaugurou uma nova plataforma tecnológica para recebimentos de dados, promoveu a segmentação das empresas, com níveis diferentes de capitais, e avançou no terreno das combinações de coberturas. “Aprendemos muito
com os produtos que surgiram no sandbox”, disse. A superintendente frisou que a revisão do marco regulatório, que concede mais liberdade às seguradoras para a criação de produtos, abriu o caminho para a inovação. Segundo ela, a Susep tende a acompanhar essas mudanças, mas regulando o mínimo possí-
vel. “Essa é a nossa bandeira. A tecnologia está transformando tudo rapidamente e se estabelecermos normas poderemos travar essa evolução”, disse. Por isso, a ideia é que somente após o surgimento dos produtos é que a autarquia passe a discutir mudanças nas normas. “Deixamos o setor com liberdade para inovar”, disse.
ORGULHO DO SETOR DE SEGUROS Com provisões de R$ 1,20 trilhão, que correspondem a 16,2% do PIB, o mercado de seguros brasileiro ainda é pouco desenvolvido em relação a outros mais desenvolvidos. Enquanto na América do Norte, o seguro participa com 11,15% do PIB, e na Europa com 7,71%, o seguro no Brasil representa 4,03%, abaixo da média mundial de 7,23%. Com base nesses dados, a superintendente da Susep, considera que o mercado nacional tem muito potencial para crescer. Para Solange Vieira, a população não se dá conta, mas o seguro está muito presente em suas vidas por meio da assistência social estatal, que opera o INSS, SUS e o seguro desemprego. “As pessoas vivem o seguro, mas não necessariamente pensam nele, porque muitos dos seguros são proporcionados pelo Estado”, disse. Mas, se o seguro tem bastante espaço a ser ocupado, a boa notícia é que está caminhando para esse objetivo. Dados apresentados por Solange Vieira durante o evento online da FGV, revelam que o setor tem se mostrado resiliente na crise. Nos quatro primeiros meses de 2021, o setor arrecadou R$ 92,69 bilhões, R$ 12,18 bilhões a mais que no mesmo período do ano anterior. No primeiro quadrimestre, o crescimento foi de 15,1% e a expectativa é fechar o ano com 20% de crescimento. “Temos orgulho desses números do setor. Atribuímos isso ao processo de inovação tecnológica, à maior conscientização das pessoas na pandemia em relação à importância do seguro e, ainda, à desregulamentação. Não é só sandbox, mas também marco regulatório”, disse.
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Apesar do destaque do seguro na nova Lei de Licitações, seguradoras ainda precisam se estruturar para oferecerem até 30% de garantia e o step-in nas grandes obras.
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astante discutida e aguardada pelo setor de seguros, a nova Lei de Licitações 14.133/2020, publicada em abril deste ano, trouxe a expectativa de impulsionar o crescimento do seguro garantia para obras de infraestrutura. Uma das inovações da lei é a possibilidade da exigência do seguro garantia nas contratações de obras e serviços de engenharia de grande vulto, acima de R$ 200 milhões, com percentual de garantia equivalente a até 30% do valor inicial
do contrato e com a cláusula de retomada (step-in). O destaque conquistado pelo seguro garantia na lei tem um propósito: reduzir o problema das obras paradas. De acordo com levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU), em 2018, existiam 38.412 obras inacabadas financiadas com recursos da União. Mas, o descontrole é tanto em se tratando de obras públicas, que, em 2021, o TCU localizou apenas 27.126 obras paralisadas no banco de dados do 19 APTS
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governo, ou seja, mais de 11 mil obras sumiram do sistema. Por isso, a nova Lei de Licitações incluiu a possibilidade de exigência do seguro com a cláusula de retomada para as obras de grande vulto. Por outro lado, o seguro garantia não terá apenas desafios pela frente, mas também a possibilidade de ampliar a sua carteira, caso o governo aumente os investimentos em infraestrutura. Atualmente, o gap de infraestrutura no país equivale a 4,31%
ESPECIAL
Seguro garantia espera crescer com nova lei
ESPECIAL
Jorge Sant’Anna: A infraestrutura é um dos principais gargalos do país
do PIB, cerca de R$ 284,4 bilhões por ano. Em 2020, o país investiu apenas R$ 123 bilhões, 1,66% do PIB. Segundo o Ranking de Competitividade Global, o Brasil tem uma das piores infraestruturas entre 141 países, ocupando a 78ª posição. Na América Latina está atrás de países vizinhos, como a Argentina, Uruguai e Chile. Jorge Sant´Anna, CEO da BMG Seguros, lembra que, dessa vez, a União, por meio dos seus diversos instrumentos, principalmente o BNDES, deixa de ser o principal financiador de projetos e concessões. Tal mudança estrutural, segundo ele, cria a necessidade urgente de financiamento privado. Na sua opinião, a infraestrutura é um dos principais gargalos no país. “O desafio do governo para alavancar a infraestrutura é atrair financiamentos e capacidade de resseguro internacional para fazer frente a um programa de investimentos de tamanha amplitude”, diz.
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temido step - in No mercado de seguros, as discussões que antecederam a nova lei começaram décadas atrás, a partir do Projeto de Lei
1.292/1995. Nos últimos anos, alguns pontos da proposta atingiram consenso no setor, como é o caso do percentual de garantia de até 30%. Havia, então, propostas para a adoção do modelo americano de 100% da garantia, mas a ideia se mostrou inviável para o Brasil. Dentre os motivos, estariam a falta de experiência com o step-in, bem como as limitações da lei, que impedia as seguradoras de contratarem ou subcontratarem para concluir a obra. Se bem que o step-in não chega a ser uma novidade no país. Segundo Carolina Jardim, superintendente de Garantias da corretora Marsh Brasil, há quase 20 anos esse mecanismo está contemplado nas normas que regulam o seguro garantia no Brasil, funcionando como alternativa para seguradoras se desincumbirem da obrigação de indenizar. “As seguradoras se afastaram dessa forma de indenizar, e isso especialmente em função da insegurança que permeava o instituto do step-in, por causa da possibilidade de ao assumirem a execução do contrato, serem acionada por débitos relacionados ao prestador anterior - notadamente, débitos trabalhistas, fiscais e previdenciários”, diz. Em artigo publicado no site Conjur, em junho, o advogado Ernesto Tzirulnik explica que as seguradoras tiveram uma experiência negativa, na década de 80, com os seguros de riscos de engenharia e construção. Algumas chegaram a constituir departamentos de engenharia para acompanharem as obras, mas, segundo ele, depois desistiram. Hoje, Tzirulnik duvida que o step-in seja a primeira opção das seguradoras. Ele também não acredita que a Administração Pública encontre seguradora disposta a garantir 30%, mas no máximo 10%. Na sua visão, 20 APTS
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Carolina Jardim: Seguradoras se afastaram do step-in por causa da insegurança
será mais benéfico para as companhias pagar a indenização do que concluir a obra. “Pagar uma quantia fixa é muito melhor do que assumir responsabilidade de difícil visualização”, diz.
M ais responsabilidades Transparência sempre esteve em falta nas obras públicas e a Operação Lava Jato trouxe à tona essa situação. Débora Schalch, sócia de Schalch Sociedade de Advogados, cita exemplos de sinistros em que o desequilíbrio era tanto que se fosse possível a seguradora garantir 30% do valor do contrato, ainda assim não seriam suficientes para concluir a obra. “Por falta de controle adequado e, obviamente, por causa da corrupção, obras custavam o triplo do valor previsto”, diz A advogada se recorda que era comum as companhias liberarem recursos sem a devida contraprestação prevista em contrato. Com a nova lei, ela entende que haverá muitos mecanismos para impedir essa prática. “Ao garantir 30% do contrato, a companhia poderá fazer exigências mais rigorosas, controlando o fluxo do contrato por meio de tecnologia e sistemas”, diz.
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Debora Schalch: Corrupção e falta de controle triplicavam o preço das obras
Mas, a nova lei também avançou nessa direção, tratando de criar condições para dar mais segurança às seguradoras. Para começar, abriu a possibilidade de a seguradora participar do contrato como interveniente anuente da obra pública e, ainda, conferiu o poder de fiscalização. “A lei não vai solucionar todos os problemas do mercado, mas inegavelmente representa um grande avanço, com segurança jurídica, redução das incertezas e aumento da capacidade de atrair investimento estrangeiro”, diz João Géo Neto, CEO da Pottencial Seguradora. Para o CEO da Pottencial, as seguradoras, no papel de intervenientes anuentes, podem assumir responsabilidades maiores. “Se antes, elas se limitavam a analisar o risco de crédito do tomador, agora, com a lei, farão uma análise detalhada e técnica de vários fatores que poderiam culminar em uma obra inacabada”, diz. Ele acredita que até mesmo a idoneidade do licitante e do licitado será analisada pela seguradora que, por sua vez, deverá exigir ainda mais transparência do tomador (construtoras) na exposição de dados, informações e números.
Para João Géo Neto, as mudanças resultarão em maior transparência na gestão dos projetos e no fortalecimento do mercado de seguros, que, a seu ver, passará a desempenhar papel fundamental no controle de grandes obras públicas. “Estamos preparados para mergulhar em um universo muito mais amplo do que aquele ao qual nos restringíamos com a lei anterior, quando não era necessário acompanhar a obra”, diz. Na visão de Jorge Sant´Anna, sem a certeza da execução correta e tempestiva das obras, o financiador privado, especialmente internacional, simplesmente não se comprometerá. A mudança na Lei de Licitações é um início, a seu ver, no entanto, no tocante ao seguro e ao resseguro, considera que evoluções regulatórias adicionais precisam ser implementadas. “Questões como regulamentação do step-in, contrato de contragarantia como instrumento executivo, entre outros ainda precisam ser endereçados”, diz. As contragarantias também preocupam a superintendente da Marsh Brasil. Para ela, o legislador perdeu a oportunidade de reforçar a Lei de Licitações com dispositivos que corroborassem a liquidez e exequibilidade dos contratos de contragarantia face aos tomadores inadimplentes, sabidamente muito frágeis no Brasil, e a proteção das seguradoras contra sucessão em caso de step-in. “Bastaria aplicar o regramento já construído para a alienação de UPIs (Unidades Produtivas Isoladas) no âmbito de recuperações judiciais”, sugere. Carolina Jardim observa, ainda, que, no momento, as seguradoras estão avaliando se internalizam ou terceirizam as atividades relacionadas à conclusão de obras. “Parece haver 21 APTS
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João Géo Neto: Mercado de seguros passará a desempenhar papel fundamental
consenso sobre a necessidade de investimentos em ferramentas tecnológicas para a gestão eficiente das informações relacionadas ao monitoramento de projetos”, diz.
C enário favor ável No âmbito regulatório do seguro, algumas mudanças, como a flexibilização de normas e a extinção da padronização em determinados ramos, podem facilitar o caminho para a expansão do seguro garantia. Para Debora Schalch, as mudanças regulatórias vieram na hora certa. “A flexibilização é muito oportuna, porque as seguradoras, com base na nova Lei de Licitações, poderão realizar contratos sob medida para cada projeto. Estão com a faca e o queijo na mão”, diz. O CEO da BMG Seguros concorda e aponta outras inovações, como SRO, Open Insurance e até mesmo o PIX, que, a seu ver, tendem a provocar uma revolução na forma como o mercado está estruturado hoje. “Muito ainda tem de ser feito, principalmente no que diz respeito a mudanças regulatórias. No entanto, o movimento é irreversível”, diz Jorge Sant´Anna.
DESTAQUE
Corretores de seguros são o canal preferido Pesquisa global da Capgemini revela que digital é o canal mais conveniente, mas o corretor ainda é o mais confiável.
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nquanto algumas pesquisas apontam para a “desintermediação” do seguro, com a prevalência dos meios remotos para a aquisição de seguros, o recente estudo global Capgemini, World Insurance Report 2021, foi na contramão ao revelar que os corretores de seguros são o canal preferido. A pesquisa, que já está em sua 4ª edição, entrevistou no Brasil 375 segurados, 16 executivos de seguradoras e cinco corretores. Ao todo, 12 mil pessoas foram entrevistadas em todo o mundo. Neste ano, segundo Gustavo Leança, Head de Soluções de Seguros da Capgemini Brasil, a pesquisa enfocou a distribuição de seguros no pós-pandemia. “Nos tornamos quase totalmente digitais com a pandemia. Então, queríamos entender como os canais de distribuição deveriam acompanhar essa mudança para se tornarem mais efetivos e maximizarem o esforço de venda”, disse ele durante a apresentação do estudo em evento paralelo do CIAB Febraban 2021, em junho. Uma das primeiras constatações do estudo é que os canais de distribuição de seguros estão sendo extremamente desafiados na pandemia. O canal humano, que inclui corretor, bancos e call center, é visto pelos entrevistados como muito bom aconselhador,
porque ajuda a esclarecer dúvidas e a personalizar o produto. No entanto, não é considerado conveniente. Já o canal digital (website e aplicativos) é conveniente, mas não é visto como bom conselheiro. “Nenhum canal é efetivo sozinho. Por isso, as seguradoras devem trabalhar ambos os canais. Como? Aportando tecnologia”, disse. A segunda constatação é que tanto o canal humano como o digital precisam do aporte de tecnologia, com o uso de dados e inteligência artificial. Leança explicou que o canal humano precisa ser mais digitalizado para depender menos da interface humana. Já o canal digital também precisa de tecnologia para ser um pouco mais humano e ter a capa22 APTS
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cidade de ofertar produtos mais adequados ao perfil do cliente. O estudo da Capgemini conclui que não haverá “desintermediação” do seguro no futuro, mas a “digi-intermediação”, que propicie maior personalização do atendimento e a melhoria da experiência do cliente. Uma das principais premissas levantadas pelo estudo é que as seguradoras precisam combinar modelos de distribuição física e digital, sobretudo em um mundo pós-pandemia. Para Leança, esta questão está alinhada ao atual momento do mercado brasileiro, que se prepara para o Open Insurance.
Canal preferido A pandemia fez aumentar o interesse pela compra de segu-
DESTAQUE
Gustavo Leança: Oferta personalizada e mais tecnologia para transformar leads em vendas
ros, sobretudo de vida e saúde. Em comparação com a pesquisa anterior, esse interesse aumentou 10%. “A questão é saber se as seguradoras estão preparadas para aproveitar essa onda, transformando leads em vendas”, disse. Nesse aspecto, o estudo destaca que o processo de compra obedece a três variáveis: conveniência, aconselhamento e capacidade de resposta. Leança observa que essas variáveis devem ser oferecidas por todos os canais de distribuição. Perguntados sobre qual canal consideram mais conveniente, 12 mil pessoas apontaram o digital. No Brasil, este canal obteve score entre médio ou alto. Já o canal corretor foi campeão no quesito aconselhamento no Brasil e no mundo. Aliás, as respostas dos entrevistados, tanto millennials (59% do total) como geração X (41% do total), revelaram que ambas as gerações precisam de aconselhamento para comprar produtos individuais, como seguro automóvel, vida ou saúde (millennials 38% e geração X 27%). Até mesmo o produto mais simples, o residencial, gerou dúvidas na compra. Já nos produtos comer-
ciais, como a saúde empresarial, a necessidade de aconselhamento foi indicada por 71% dos entrevistados. “Este, talvez, seja o motivo de a compra iniciar no digital e terminar com o corretor”, disse. Tanto é que os corretores seguem como o canal preferido. No Brasil, 72% dos clientes utilizam o canal corretor para compra contra 43% no mundo. Outro destaque da pesquisa é o reconhecimento do trabalho do corretor pelas seguradoras; 77% delas consideram este canal o mais produtivo.
Foco no corretor A pesquisa constatou que os corretores têm um lag (ou atraso) de resposta acima do que os clientes gostariam, no Brasil ainda mais alto que no restante do mundo. Leança explicou que o corretor de outros países está mais disposto a pedir ajuda e trocar informações com seguradoras, no Brasil são apenas 20%. O estudo propõe que os corretores diminuam a dependência da interface humana, utilizando ferramentas (chatbots) que permitam a colaboração digital e o engajamento em seu site. Sobre o desafio de converter lead em venda, o estudo analisa
que o motivo pode ser a falta de personalização. “O corretor faz a oferta massificada, envia para todos. Mas, se usar ferramentas de CRM, em conjunto com a seguradora, poderá segmentar os clientes e personalizar a oferta”, disse. A fórmula também vale para os canais digitais, que no Brasil são utilizados por apenas 26% das seguradoras. Apenas 32% no mundo e 17% no Brasil das companhias consideram o canal eficaz no momento da venda.
Hora de expandir A maneira de se comprar seguro está mudando e, por isso, o estudo sugere a “digi-intermediação” para trazer elementos humanos para o canal digital, bem como para trazer elementos digitais para o humano. Nesse aspecto, Leança citou o exemplo da Chubb, que criou uma plataforma moderna, com arquitetura aberta, baseada em APIs (interface de programação de aplicações) para distribuir seu produto para mais de 150 canais, incluindo varejo, fintechs, insurtechs e bancos. “Como estamos no meio de um Open Insurance, que é viabilizado pela API, então essa conclusão está alinhada ao momento que vivemos hoje no Brasil”, disse.
World Insurance Report 2021 sugere a “digi-intermediação”: mais digital no canal corretor e mais elementos humanos no digital
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MERCADO
Bradesco Seguros aposta em plataformas digitais O Grupo Bradesco Seguros vem investindo fortemente em ferramentas digitais como principais aliadas do corretor para potencializar a oferta de seguros, assim como aprimorar a experiência dos clientes. Além do Portal de Negócios do Corretor e do Aplicativo BS Corretor, a seguradora lançou recentemente a mais nova plataforma de capacitação, a “Universeg”. “Mais de 27 mil corretores atuam conosco e podem ser impactados por uma dessas soluções em seu dia a dia. Quando pensamos no futuro, também sabemos que a experiência do cliente, a partir de vendas mais qualificadas e de um bom atendimento, será o segredo para otimizar as negociações”, diz Leonardo Freitas, Diretor da Organização de Vendas do Grupo Bradesco Seguros. O Portal de Negócios e o Aplicativo BS Corretor da Bradesco Seguros são ferramentas que têm como objetivo facilitar o processo de venda e a rotina do corretor. “O mercado tem valorizado muito os corretores que atuam como verdadeiros consultores”. O novo streaming de capacitação do Corretor, a Universeg, também foi pensada para apoiar os parceiros comerciais, no âmbito educacional. A plataforma surgiu como resposta às necessidades do cenário atual. A Universeg é um espaço de aprendizagem com conteúdo relevantes e multidisciplinares, nos mais variados formatos e com uma usabilidade dinâmica e intuitiva.
Comando feminino na Delphos Admitida na Delphos em 1980 como analista de sinistros, Elisabete Prado teve uma carreira exemplar, que avançou rapidamente de encarregada da área de sinistros de danos materiais para subgerente de sucursal, gerente de sucursal, gerente regional sudeste, diretora adjunta de corporações, diretora comercial e de marketing até chegar à vice-presidência e, finalmente, presidência. Para a executiva, a missão é encarada como um grande desafio, uma vez que a empresa sempre foi presidida pelos acionistas fundadores e, nos últimos 14 anos, por Eduardo Menezes, filho de um dos fundadores e o principal acionista da empresa. A Delphos, ao longo de seus 54 anos, sempre esteve sob o comando direto da família, com exceção de um curto período. “A responsabilidade é imensa, mas, a confiança depositada em mim, me fará cuidar da gestão da empresa como se eu fizesse parte da família. O momento é interessante, pois estamos numa fase de implementação de um projeto de alta complexidade que, no longo prazo, fará a empresa dar um salto em seu patamar qualitativo”, diz. Quanto aos seus planos a frente da Delphos, ela revelou que o ex-presidente aprovou um orçamento muito arrojado, o que a leva a perseguir esses números para atingir o resultado esperado. “O time está bastante confiante e posso dizer que temos um respeito mútuo bastante consolidado”, asseverou. 24 APTS
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MERCADO
HDI Seguros torna dupla proteção mais acessível Para manter lar e automóvel protegidos contra imprevistos de toda espécie, a HDI Seguros está disponibilizando o HDI Duo, produto que oferece 6 opções de contratação de acordo com a necessidade de cada cliente. Uma das principais vantagens do HDI Duo é o desconto na franquia do veículo em casos de sinistro, calculado a partir do dobro do prêmio líquido do seguro residencial, o que ajuda no abatimento do valor da franquia e é um grande diferencial para imprevistos com o carro. A assistência residencial do HDI Duo também é outro diferencial, já que inclui serviços como remoção de entulho com caçambas, reparos elétricos e hidráulicos, chaveiro, assistência funeral (inclusive para os passageiros), entre outros. Além disso, as proteções automotivas continuam personalizáveis pelo segurado e incluem assistência e socorro 24 horas em todo o país. Lançado no início de 2013, o Duo é, de fato, o primeiro seguro de auto e residência a oferecer desconto na franquia veicular no valor do prêmio pago pela proteção do domicílio. O produto é um sucesso de aceitação, já que une a proteção de dois imóveis do segurado por um preço mais acessível. “Em meio à crise financeira causada pela pandemia, essa dupla proteção é uma excelente alternativa para economizar no valor dos seguros residencial e automotivo”, comenta Jefferson Silvestrin, Superintendente de Property Massificados da HDI Seguros.
Sompo Seguros contrata especialistas A Sompo Seguros acaba de contratar Paulo de Tarso Magalhaes Paes de Barros Filho como Superintendente de Precificação e Hugo Ferraz Muraro como gerente da área de Gestão de Riscos Financeiros. A chega dos executivos atende à estratégia de negócios que visa o investimento em capital humano e tecnologia para dar suporte aos planos de crescimento estabelecidos para a companhia no Brasil. Paulo de Tarso Magalhães Paes de Barros Filho, superintendente de Precificação da Sompo Seguros, conta com mais de 18 anos de atuação na área atuarial de seguradoras multinacionais, com experiência em Precificação, Portfólio Management e Provisões Técnicas de ramos como Automóvel, Residencial, Prestamista e Garantia Estendida. É graduado em Ciências Atuariais pela PUC-SP, com MBA em Gestão Corporativa pela FGV - Fundação Getúlio Vargas. Também é membro do Instituto Brasileiro de Atuária (IBA). Hugo Ferraz Muraro, gerente da área de Gestão de Riscos Financeiros da Sompo Seguros, conta com 13 anos de experiência nos mercados Financeiro e de Seguros, atuando principalmente entre as áreas de risco de mercado e asset management de companhias nacionais e multinacionais. É graduado em Administração de Empresas pela Universidade Mackenzie, pós-graduado em Finanças pela FGV - Fundação Getulio Vargas e conta com uma Especialização em Gestão de Riscos no Instituto Educacional BM&F Bovespa (atual B3 Educação). 25 APTS
EDIÇÃO 138 - 2021
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