MATÉRIA MATÉRIA
SETEMBRO AMARELO SETEMBRO AMARELO

ENTREVISTA ENTREVISTA
COM DRA. RAQUEL ALTOÉ COM DRA. RAQUEL ALTOÉ
ARTIGO ARTIGO
PSIQUIATRIA E HUMANIDADES
PSIQUIATRIA E HUMANIDADES

![]()
SETEMBRO AMARELO SETEMBRO AMARELO

ENTREVISTA ENTREVISTA
COM DRA. RAQUEL ALTOÉ COM DRA. RAQUEL ALTOÉ
ARTIGO ARTIGO
PSIQUIATRIA E HUMANIDADES
PSIQUIATRIA E HUMANIDADES

com a Dra Raquel Altoé
Nova temporada
Setembro Amarelo
Psiquiatria e Humanidades por Dra. Lara Giovanka Menezes
Novas eleições APES
Lícia Fabris Colodete Presidente
Antônio José Nunes Faria Vice-Presidente
Vitor Maia Santos Primeiro Secretário
Julia Carminati Lopes Segundo Secretário
Leticia Maria Akel Mameri Trés Primeiro Tesoureiro
José Luis Leal de Oliveira Segundo Tesoureiro
Lícia Fabris Colodete Libanio José Luis Leal de Oliveira
Daniela Ramos Jornalista Responsável MTB 2771 - ES
Entre em contato: apespsiquiatria@gmail.com
A dor é uma experiência humana complexa, que ultrapassa os limites do físico e alcança dimensões emocionais e cognitivas. Quando se torna crônica, transforma-se em um desafio clínico e social que exige o olhar atento de diferentes especialidades médicas. Nesse cenário, a integração entre Reumatologia e Psiquiatria mostra-se cada vez mais essencial para o manejo integral do paciente, especialmente na compreensão das doenças autoimunes e dos impactos mentais que a dor persistente causa na vida das pessoas.
Para aprofundar essa discussão, o APES em Foco conversou com a Dra. Raquel Altoé que é médica reumatologista com mais de 15 anos de experiência, dedicada ao cuidado de pessoas com dor crônica por fibromialgia, artrose e doenças autoimunes Sua formação inclui especialização em Clínica Médica e Reumatologia, além de Mestrado em Medicina pela UFES.
1. A dor crônica é um dos sintomas mais comuns nas doenças reumatológicas. Como a senhora enxerga a influência dos aspectos emocionais e psiquiátricos — como depressão e ansiedade na percepção e no agravamento dessa dor?
PÁG.03 | APES EM FOCO

O paciente com diagnóstico de uma doença autoimune, como artrite reumatoide ou lúpus, ou ainda de uma doença degenerativa, como artrose, ou com manifestações nociceptivas, como a fibromialgia em seus diferentes graus de gravidade , quando também apresenta depressão e ansiedade, experimenta uma percepção e um nível de frustração incomparavelmente maiores do que aquele que não tem essas condições associadas.
Se o médico não adotar uma abordagem conjunta e acolhedora e, às vezes, acaba sendo até autoritária , dificilmente terá sucesso terapêutico.
2. Em muitos casos, o paciente com dor crônica percorre vários especialistas até obter um diagnóstico. Como a integração entre reumatologistas e psiquiatras pode ajudar na identificação precoce de distúrbios emocionais que perpetuam a dor?
Sem dúvida, a interação entre reumatologia e psiquiatria é de extrema importância. Tenho percebido isso especialmente na minha experiência recente no ambulatório multiprofissional, nos últimos um ano e meio. Esse convívio tem me levado a buscar um conhecimento mais profundo sobre os agravos psiquiátricos, pois, em muitos casos, seria ideal contar com um psiquiatra na equipe seria o melhor dos mundos.
Nem sempre conseguimos ter o knowhow necessário para identificar se, além da depressão e da ansiedade, há algum outro transtorno associado, como esquizofrenia ou outro agravo psiquiátrico que possa estar sendo negligenciado e interferindo na manifestação central da dor, para além das queixas locais ou sindrômicas.
Estamos, inclusive, buscando ampliar essa integração com a equipe de psiquiatria da prefeitura. Há poucos profissionais para uma grande demanda, mas seguimos insistindo e mostrando à gestão a importância desse vínculo.
Além disso, o contato constante com fisioterapeutas, psicólogos e enfermeiros tem sido grandioso. Para mim, já não faz sentido qualquer outra forma de abordagem que não seja multiprofissional para o paciente com dor crônica.
3. Além dos medicamentos, quais abordagens complementares — como psicoterapia, mindfulness, atividade
PÁG.04 | APES EM FOCO
o psicoterapia, mindfulness, atividade física, entre outras — têm mostrado bons resultados no controle da dor crônica em pacientes reumatológicos?
Sem dúvida, o tratamento multiprofissional, realizado de forma contínua e por um período de 12 a 16 semanas, é decisivo. Para mim, não há mais como ser diferente. Pretendo, inclusive, levar essa estrutura também para o sistema privado, pois é incomparável a qualquer modelo tradicional de consultas mensais ou trimestrais.
A presença frequente do fisioterapeuta três vezes por semana , do psicólogo semanalmente e do médico quinzenalmente faz toda a diferença.
Além disso, os grupos terapêuticos são de grande valor Muitas vezes, a troca de experiências entre os próprios pacientes é o que convence aquele que ainda não compreendeu totalmente o processo de melhora.
O depoimento de um colega pode ter mais impacto do que a insistência de um médico ou psicólogo. Por isso, estruturamos um programa que funciona quase como um curso: durante 16 semanas, a cada 15 dias, abordamos temas específicos e abrimos espaço para o diálogo entre os participantes. Esse formato tem sido um verdadeiro tesouro. Estou escrevendo sobre essa experiência e pretendo publicar, pois os resultados são muito significativos.
4. O sofrimento contínuo pode levar à desesperança, isolamento e até ideação suicida. Como o acompanhamento psiquiátrico pode
modificar o curso clínico e emocional desses pacientes?
Acredito que o profissional que ainda pensa que o paciente se contenta apenas com o ajuste farmacológico está fora da realidade.
O paciente com dor crônica carrega um grau de frustração muito maior do que aquele que tem apenas ansiedade ou depressão.
Não há como acreditar que a abordagem se resume ao ajuste medicamentoso — isso é claramente insuficiente.
5. Muitos pacientes sentem que sua dor “não é levada a sério”. O que os profissionais de saúde médicos e equipes multiprofissionais podem fazer para humanizar esse cuidado e oferecer acolhimento integral a quem convive com dor crônica?
O trabalho que desenvolvemos aqui no Centro de Facilidades da Prefeitura é um
O APES em Foco Podcast é uma iniciativa da Associação Psiquiátrica do Espírito Santo (APES) que tem como propósito promover reflexões sobre saúde mental, comportamento humano e os desafios contemporâneos da psiquiatria.
Produzido pela associação e apresentado pela presidente Dra. Lícia Colodete, e outros membros associados, o programa traz entrevistas com psiquiatras capixabas e convidados que compartilham experiências e
| APES EM FOCO
exemplo concreto de que a abordagem multiprofissional é o caminho não há outro.
Acredito que a psiquiatria precisa estar ainda mais presente nesse contexto, mas o grande desafio é a integração das equipes.
Nem todos têm a paciência ou a humildade necessárias. Infelizmente, muitos profissionais médicos ainda estão acostumados à prática isolada e têm dificuldade em compartilhar responsabilidades com colegas de outras áreas.
Mas, no caso do paciente com dor crônica, pelo menos 80% das vezes ele precisa de acolhimento psíquico de toda a equipe
Manter esse cuidado de forma contínua é um desafio, mas também uma missão. E é nessa missão que eu e uma colega reumatologista estamos empenhadas: fortalecer esse olhar humano e coletivo sobre a dor.

conhecimentos sobre temas ligados à psiquiatria e às humanidades.
A primeira temporada contou com seis episódios e consolidou o podcast como um novo canal de diálogo e aprendizado Para a próxima temporada, estão previstos ao menos mais seis episódios, que darão continuidade às discussões sobre ciência, prática clínica e cuidado humano. Associados e interessados podem sugerir pautas ou participar como entrevistadores entrando em contato pelo e-mail apespsiquiatria@gmail.com


Amarelo: mais que um mês, um chamado permanente à vida
O Setembro Amarelo é a maior campanha antiestigma do mundo dedicada à prevenção do suicídio. Idealizada e coordenada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), a iniciativa tem como objetivo conscientizar a sociedade sobre a importância de falar abertamente sobre o sofrimento psíquico e de promover o acesso à informação e à ajuda profissional.
O dia 10 de setembro é reconhecido como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas durante todo o mês, diversas ações educativas, palestras e
PÁG.06 | APES EM FOCO
mobilizações reforçam que falar é o primeiro passo para salvar vidas A cada ano, a campanha traz um novo tema em 2025, o lema é “Se precisar, peça ajuda!” convidando todos a enxergarem o cuidado com a saúde mental como um gesto de amor e responsabilidade coletiva.
Mais que um mês: uma causa contínua Apesar de concentrar atenção e mobilização em setembro, é fundamental lembrar que o sofrimento psíquico não tem data. Depressão, ansiedade, transtornos do humor e ideação suicida podem afetar pessoas em qualquer época do ano, em diferentes contextos e idades. Por isso, o Setembro Amarelo deve ser visto não como um ponto final, mas como um marco de conscientização permanente, que nos convida a manter a escuta ativa, o acolhimento e o cuidado durante todos os
meses. Dados da ABP indicam que 96,8% dos casos de suicídio estão associados a transtornos mentais, a maioria passível de diagnóstico e tratamento. Isso reforça a importância de reconhecer sinais de alerta, combater o estigma e oferecer ajuda antes que o sofrimento se torne insuportável.
O papel de cada um na prevenção
A prevenção do suicídio é uma responsabilidade compartilhada. Pequenas atitudes podem ter grande impacto: ouvir sem julgar, acolher com empatia, evitar frases que minimizem a dor do outro e, sobretudo, incentivar a busca por ajuda profissional. Psiquiatras, psicólogos e equipes de saúde mental estão preparados para orientar, tratar e acompanhar pessoas em sofrimento.


DRA LARA GIOVANKA MENEZES
A psiquiatria é uma especialidade médica que se relaciona amplamente com diversas outras áreas do conhecimento. Por exemplo, tem-se a filosofia, a sociologia, a psicologia e a história. Essa interação ocorre pois o diagnóstico do sofrimento psíquico perpassa pela experiência de vida individual de cada ser humano, motivo pelo qual diversos aspectos culturais, sociais, religiosos, éticos e até mesmo econômicos influenciam no tratamento daquele paciente.
O ser humano é moldado pela cultura e pelas convicções sociais de onde vive e, um bom tratamento, levará em conta todo esse contexto existencial, gerando um diagnóstico situacional.
PÁG 07 | APES EM FOCO
O não dito e o não questionado podem ter proporções catastróficas para o sujeito que sofre e se torna passivo perante a sua dor. Diante disso, o exercício da empatia por parte do profissional de saúde deve representar um valor basilar, no qual será pautado o cuidado integral.
Para que a atuação médica cumpra a sua finalidade, o psiquiatra deve deixar de lado suas convicções pessoais, buscando sempre promover a escuta do paciente de maneira acolhedora e livre de julgamentos. Entender o problema do outro também requer compreender em qual cenário ele se encontra.
O tratamento é muito mais abrangente que a simples prescrição de psicotrópicos, é a construção de um espaço seguro, no qual a fala seja compreendida e não somente escutada.
paciente Sem adentrar no mérito de cada uma, neste momento é importante saber que todas elas apresentam pontos em comum: o vínculo, o cuidado e o respeito.
Nós, profissionais de saúde mental, nos espaços de acolhimento, sejam públicos ou privados, podemos nos tornar agentes de transformação, incentivando e facilitando que o paciente assuma a responsabilidade na mudança de sua qualidade de vida. Passo esse de suma importância, pois transformará aquele sujeito, muitas vezes sem desejo e sem permissão de ser, o agente principal no seu processo de cura.
Existem diversas correntes que propõem práticas com o intuito de aprimorar as relações entre profissional e
Não basta, todavia, construir esse ambiente seguro para o tratamento sem o devido conhecimento técnico que, por sua vez, deve se pautar no aprimoramento constante. Essa necessidade de evolução acadêmica se dá pela complexidade da sociedade em que se vive hodiernamente, haja vista suas constantes mudanças e evoluções. Precisamos
entender que não mais vivemos em um mundo estático e que os rápidos avanços tecnológicos contribuem para um meio social dinâmico, ou seja, em constante transmutação.
Para exemplificar, apesar do primeiro uso do carbonato de lítio ter sido relatado em 1949, como estabilizador de humor, sua eficácia ainda não era aceita e devidamente documentada. Por outro lado, a clorpromazina foi reconhecida em 1952 como o primeiro antipsicótico adequado para tratamento de doenças psiquiátricas. Observa-se, então, que essas descobertas são muito recentes em termos
de análise temporal histórica.
Por outro lado, a clorpromazina foi reconhecida em 1952 como o primeiro antipsicótico adequado para tratamento de doenças psiquiátricas.
Em 2025, cerca de apenas 73 anos depois, já existem em média 90 moléculas distintas, variando entre diversas classes. Essas numerosas descobertas em tão pouco, por si só, já demonstram o cenário de rápida e crescente evolução tecnológica em que nos encontramos. Logo, é evidente que o tratamento adequado e efetivo das doenças e dos transtornos mentais requer a atualização técnica profissional de
A Associação Psiquiátrica do Espírito Santo (APES) realizará no dia 4 de dezembro a eleição para presidente e diretoria da entidade, em um importante momento de renovação e continuidade das ações que fortalecem a psiquiatria capixaba. O processo ocorrerá durante uma Assembleia Geral
PÁG 08 | APES EM FOCO
maneira concisa e constante.
Nessa conjuntura, importa compreender que um profissional bem capacitado atualmente não mais é representado por um controlador do caos social (cuja função era reprimir os indivíduos considerados socialmente anormais), mas sim, por um agente de transformação num construto de uma sociedade mais saudável, que, por sua vez, vise lidar com as diferenças humanas, no lugar de descartá-las.
Lara Giovanka Menezes - Médica; especialista em psiquiatria pela residência da Colônia Juliano Moreira no Rio de Janeiro/RJ; associada a APES (Associação Psiquiátrica do Espírito Santo); associada da ABEMS (Associação Brasileira de Estudos em Medicina e Saúde Sexual).
Extraordinária, no auditório da Associação Médica do Espírito Santo (AMES), reunindo reunindo associados para deliberar sobre a nova gestão. O edital de convocação será publicado no mês de novembro, com todas as informações sobre prazos, chapas e orientações para participação
A APES reforça a importância da presença e do envolvimento de seus membros nesse processo democrático, essencial para dar seguimento aos projetos, eventos e iniciativas que têm consolidado a entidade como referência em psiquiatria e saúde mental no Espírito Santo.

