ANTRO POSITIVO ED.15

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pensamento está em exposição máxima. Sentimentos, perspectivas, opiniões, conclusões, julgamentos. Sobretudo, os julgamentos. Contudo, o pensar, movimento que exige ao indivíduo pré-disposição às dúvidas, incertezas, desconfianças, exigências, comparações, ponderações e reflexões menos pragmáticas à autoafirmação, esse se deteriorou por uma espécie de desuso. Como se pensar fosse perda de tempo, mera distração aos objetivos impostos pela rotina. Fosse sinônimo de definir, determinar, resolver. Por conseguinte, o pensamento, não mais se desdobra em ideias. Limita-se ao desejo daquilo que o provoca, ficando um tanto solto, desprovido de respostas, perdido no acúmulo decorrente ao surgimento de outro pensamento e depois os seguinte e seguintes, ininterruptamente. Ainda que inerentes ao ser, urge a necessidade de conduzirmos os pensamentos à consciência de pensá-los, para deles encontrarmos desvios novos. Pensar faz-se ação primordial ao entendimento de tempos como os de agora. Talvez sempre tenha sido assim mesmo. Não sei dizer com exatidão sobre o ontem. Sei apenas o quanto pensar o amanhã leva-me a desafiar meus pensamentos enquanto os tenho.

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Brasil se perdeu em algum lugar entre seu pensar e seu pensamento. Esfacelado, assiste as estruturas funcionarem como nunca e também como nunca serem distorcidas e tortas. Assumimos a face violenta de quem não mais quer o diálogo, optamos por segmentar raivosamente por diferenças, e descobrimos vencedor o mesmo lado combatido e condenado. Um país formado por sentimentos e não ideias, portanto. Exposto da maneira mais assustadora: democraticamente destruindo nossa caricata democracia. Descobrimos? Taí uma questão complexa a ser pensada. Por isso decidimos conversar sobre também isso com um dos filósofos mais inquietos e interessante em atividade nesse confuso país.

peter, durante conversa e ensaio fotográfico em sua casa, em São paulo.

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ão me lembro como e quando conheci Peter Pál Pelbart. Primeiro por livros e artigos, é fato, em sua vasta produção intelectual. Depois, por sua pesquisa junto à companhia de teatro Ueinzz. Vieram as palestras, os debates, falas... Em algum momento, aproximamo-nos e, durante esse recorte impreciso, tentamos por algumas vezes uma conversa mais profunda, ainda que por corredores e salas casuais. Culpa minha. Na maioria dos esbarrões, perdi-me pelas palavras de forma tímida. Foi Peter quem expôs coerentemente o incômodo com a ideia de sujeito,


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