gira #20 maio 2018

Page 38

38 // reportagem // maio opinião

Porque não a municipalização dos bombeiros? Maria da Luz Rosinha*

Escrevo este texto no dia em que se comemoram 44 anos da revolução de Abril de 1974 e quero saudar não só os militares de Abril, mas todos os homens e as mulheres que lutaram para que o que aconteceu nesse dia fosse possível. Portugal mudou. Quarenta e quatro anos de liberdade, de democracia, que se viveram com lutas diferentes. A luta pelos direitos à saúde, à educação, à igualdade de oportunidades para mulheres e homens. Percebemos o muito caminho que se fez e se é certo que muito ainda falta fazer para garantir a salvaguarda dos direitos dos cidadãos, independentemente do credo político, raça ou género, as portuguesas e os portugueses têm de fazer desse objectivo uma causa de todos os dias. Que nos possamos continuar a orgulhar sempre de um dia sobre o qual já passaram 44 anos. Neste momento e porque este número da gira é dedicado aos bombeiros, envio uma saudação muito especial a todas e a todos que dão de si sem pensar em si. O ano de 2017, ficará gravado na memória de todos os nossos soldados da paz a sangue pelo inferno que em junho e outubro atingiu Portugal e que provou que, mesmo nas alturas de maior dificuldade, não viram as costas ao perigo, com risco da própria vida e cumprem o dever que um dia, voluntariamente, abraçaram. Aos bombeiros de Portugal e particularmente aos do concelho de Vila Franca de Xira uma saudação muito forte. Considero que é importante ter atenção às condições e meios que as associações dispõem para o desempenho das suas funções. Na minha opinião é importante considerar em parte a reestruturação desta entidade e quando estamos à beira de dar um passo de gigante na reforma do estado com a descentralização, porque não equacionar a municipalização parcial das nossas associações? A todas e a todos os bombeiros de Portugal um muito obrigada pela sua generosidade e dedicação. *deputada do PS no Parlamento

bombeiros de Samora Correia. “Tenho um curso de Contabilidade e sou funcionária administrativa da corporação. Admito que a área me seduz muito e até era capaz de ir trabalhar para uma outra empresa. Mas nunca deixaria de ser voluntária aqui", diz, olhando para o edifício moderno à sua volta. "Sentimos que fazemos um trabalho em prol da comunidade, útil e valioso. Apesar de, no momento da crise, as pessoas nem sempre nos valorizarem, porque estão em sofrimento. Todavia, após o problema passar, elas serenam e reconhecem que nós estivemos lá quando mais precisaram". Se calhar "esse é o lado mais positivo de ser bombeiro" concorda Sandra Carvalho, da corporação da Castanheira do Ribatejo. "É compensador quando antigos utentes passam por aqui e nos agradecem pelos serviço prestado. Sentimo-nos úteis e valorizados. É muito bom". A operacional de 42 anos de idade, é um dos casos que caiu por acaso nesta área. Entrou no Exército, estudou análises clínicas, seguiu um percurso civil normal até que se vê no desemprego e decide ocupar o seu tempo ajudando os bombeiros. "Aprendi imenso", assegura. "Queria vir também para aperfeiçoar conhecimentos na área da saúde e descobri que os bombeiros fazem muito mais do que salvar vidas. Apagam fogos, acodem a acidentes, transportam doentes, e por aí fora". Como afirma Pedro Carolino: "nunca temos momentos mortos. Nenhum dia é igual a outro. É falsa a ideia que parte da sociedade tem de nós que estamos os dias inteiros sentados a fazermos nada. Bem pelo contrário", desabafa. Os números diferem mas há quem garanta que os bombeiros são responsáveis por 80% a 90% dos serviços de segurança e proteção civil. "É preciso valorizar o nosso trabalho", reitera Luís Gaspar da associação Bombeiros Para Sempre. "Seja qual for o caminho, a situação não pode continuar na mesma. Os bombeiros precisam de fazer parte de um sistema coordenado e nacional, bem remunerado, sem falhas, porque todos acabamos por pagar caro


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.