S E N T IREVISTA PENSARES
SENTIR...
1
SER SENSÍVEL A...
2
PENSAR...
3
ORGANIZAR A EXPERIÊNCIA E ENTENDER SEU SIGNIFICADO...
4
5
UFSM E COMUNIDADE: UM ENCONTRO PARA SENTIPENSAR Simbolo da luta e resistência, Pesquisadores em construção de consciência Se colocam a escutar Ouvindo a experiência da Comunidade Quilombola Da história de vida deles fazer nossa escola, O objetivo era revelar. Revelando saberes, construindo sintonia, Com um aporte teórico, uma metodologia, Mais tivemos que aprender do que ensinar. Lucas Moretz-Sohn David Viera 6
PENSANDO JUNTOS SOBRE A HISTÓRIA
A
comunidade quilombola Júlio Borges, localizada no município de Salto do Jacuí, Rio Grande do Sul, é composta por famílias que ali chegaram, a partir do final da década de 1970, em busca de uma vida melhor. Ao traçar no mapa sua trajetória, as famílias relataram as dificultadas que enfrentavam no lugar de onde vieram (Arroio do Tigre) e as oportunidades que visualizavam em Júlio Borges.
O relato das famílias nos leva a refletir sobre a necessidade que algumas pessoas têm de deixar o lugar onde vivem na busca de uma vida melhor.
7
Perguntas para sentipensar: Você já refletiu sobre a trajetória de migração de seus antepassados? De onde vieram, em que lugares viveram? O que os levou a se deslocar? Migravam em busca de quê?
8
PENSANDO SOBRE OS TERRITÓRIOS VIVIDOS A busca por vida melhor faz a jornada continuar na atualidade. Quando não encontram, em
Júlio Borges, oportunidades para ganhar a vida, as pessoas saem. Ao localizar no mapa onde estão, hoje, os parentes e amigos, as famílias observam que eles encontram-se vivendo em diversas regiões do Rio Grande do Sul.
Ficam por lá por dias, meses ou anos em busca de trabalho, renda ou uma vida melhor. Dessa forma os membros da comunidade contribuem para o desenvolvimento econômico, social e cultural em diversas regiões do estado e dali trazem aprendizados e recursos essenciais para a vida na comunidade de Júlio Borges.
9
Perguntas para sentipensar: O que as pessoas da comunidade levam para as regiões para onde vão? Que trabalhos exercem? Quais suas contribuições para a vida e desenvolvimento desses lugares? O que as pessoas que saem trazem para a comunidade? Adquirem também novos conhecimentos, novas habilidades, que podem ser aplicadas na comunidade? Qual é a importância destes aprendizados? Eles são valorizados?
10
PENSANDO SOBRE A LUTA POR UM TERRITÓRIO QUILOMBOLA 11
Em Seminário realizado em maio de 2016 na Universidade Federal de Santa Maria, representantes da comunidade quilombola relataram a luta pela terra em Júlio Borges. A luta pela terra é uma luta antiga, construída a nível nacional, mediante a busca de reconhecimento legal de direitos. Mas, ela também é uma luta local, de organização e construção de consensos para que as conquistas sejam alcançadas.
Perguntas para sentipensar: Quais lutas foram necessárias para que as comunidades quilombolas pudessem requerer legalmente o reconhecimento de suas terras? E seus direitos? Quem fez e faz estas lutas?
12
SENTINDO A ALEGRIA DA CONQUISTA DA TERRA!
13
14
SENTINDO A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE E SOLIDARIEDADE!
15
16
PENSANDO JUNTOS SOBRE AS EXPERIÊNCIAS NO TRABALHO
17
A CLAREZA DA JUVENTUDE, SÓ TEM QUE SE ESCUTAR? Ela nos falou, pois seus pais estavam fora. Ele, vai para o fumo Sua mãe, para as pedras. Quando chamam para trabalhar Alguém de fora liga: “preciso 15 ou 20 pessoas para trabalhar no fumo.” Então chama os trabalhadores É com ele o contato para trabalhar nas lavouras de fora.
Também fazemos lavouras Quando não tem fumo, tem feijão... A gente acostuma desde sempre E sempre tem pedra. Mas não vendemos isso O dinheiro do trabalho, na safra dos outro, dá para comer o ano todo, a mandioca a gente planta para comer e dar pros outros. E dá para quem não tem. Experimentar com soja, experimentar com fumo aqui não deu. Eu prefiro colher fumo ao feijão, colher feijão faz dor no corpo todo, e isso que eu tenho poucos anos.
Eu tenho 17 anos, quero estudar agronomia, é a possibilidade Vestibular, já vai dar... Minha amiga passou para medicina, e vai voltar para atender na comunidade. Eu também gostaria!
Ao fumo se acostuma, primeiro vem as tonturas, os vômitos, as doenças. Depois já tá dentro!
“E nas terras novas? O que você acha que tem que fazer com elas?”
O verão quebra a cabeça, Principalmente no fumo, Tem que se cuidar da umidade, Pois o veneno vem com ela.
São 5 anos, não sei que doença vai acontecer logo. Para comprar e vender força precisa do bloco de produtor De que outra forma seriam reconhecidos?
Ir e voltar no mesmo dia, Levar uma bóia fria para comer. Comer na lavoura. Comer ao voltar. Tomar banhos longos para tirar o grude que fica do veneno.
Num dia desses de trabalho minha prima cortou um dedo do pé com a faca do produtor Saiu muito sangue! O fumo não tem que entrar pela pele O dono foi com ela para o hospital e se encarregou de tudo.
Nessas terras, fazer união! Uma cooperativa, cultivar seus hectares e fazer grande o que a gente já sabe. Plantar mandioca, feijão e amendoim, quem sabe, vender para fora. Não fazer coisas com fumo, ou soja. A gente não conhece, e é prejudicial para a gente. A clareza da juventude, só tem que se escutar. Jimena Sol Ancin Bernardo Rodrigues da Silva
18
TRABALHAR FORA É UMA ALTERNATIVA?
OPORTUNIDADE DE TRABALHO
RENDA
SABER FAZER
GRUPOS DE TRABALHO
A comunidade tem uma longa história de pessoas que saem para trabalhar fora por tarefa, por dia, por serviço, na lavoura, na casa ou no negócio de outras pessoas.
Perguntas para sentipensar:
A sua família viveu uma experiência marcante ao trabalhar fora como empregado por dia ou tarefa? O que aprendeu desta experiência? As palavras que estão escritas na ilustração lembram você de aspectos positivos ou negativos da atividade? Quais são as palavras mais significativas? Quais outras palavras você lembra quando pensa nesta atividade?
ESFORÇO
19
SAÚDE
ORDENS/ EXIGENCIAS
DIREITOS
PAGAMENTOS
RECURSO DISPONÍVEL
AUTONOMIA
SABER FAZER
TRABALHO/ MERCADO
EXTRAIR PEDRAS É UMA ALTERNATIVA? Salto de Jacuí é conhecido como a capital nacional da pedra ágata. As famílias vieram para trabalhar na extração de pedras e lavouras. Desde aquele tempo muita coisa mudou! A extração de pedras vem sendo feita por grandes máquinas e é muito controlada pelo governo. Por outro lado, as famílias (re)conhecem e sabem extrair artesanalmente do solo boas pedras. A extração de pedras faz parte da história da comunidade. Que histórias queremos escrever com as pedras na comunidade?
Perguntas para sentipensar:
PEDRA
MASSA
PESO
ACIDENTE
LEI
Sua família viveu uma experiência marcante na extração de pedras? O que aprendeu desta experiência? As palavras que estão escritas na ilustração lembram você de aspectos positivos ou negativos da extração de pedra? Quais palavras são mais significativas? Quais outras palavras você lembra quando pensa na extração de pedras?
20
CULTIVAR LAVOURAS PARA VENDA É UMA ALTERNATIVA?
RENDA
INVESTIMENTO
CRIAÇÃO INFRAESTRUTURA
FACILIDADE
Com a conquista da terra e a obtenção de recursos de projetos para aquisição de maquinário, criou-se a oportunidade de constituir a própria lavoura ou aumentá-la. Na região de Salto de Jacuí a maior parte dos proprietários vêm investindo na formação de lavouras de soja.
Perguntas para sentipensar:
Sería o cultivo de soja uma alternativa sustentável para as famílias da comunidade quilombola Júlio Borges? Em que medida o cultivo de soja pode trazer melhorias na condição de vida das famílias e da comunidade? A sua família viveu uma experiência marcante no cultivo de soja? O que aprendeu desta experiência? As palavras que estão escritas na ilustração lembram você de aspectos positivos ou negativos do cultivo de soja? Quais são as palavras mais significativas? Que outras palavras você lembra quando pensa em lavoura?
21
ASSISTÊNCIA TÉCNICA
DEPENDÊNCIA
INVESTIMENTO
CUSTOS
RENDA
FARTURA
RIQUEZA
DOAÇÃO
SOLIDARIEDADE
RECONHECIMENTO
LAVOURA PARA O CONSUMO FAMILIAR É UMA ALTERNATIVA? A história da comunidade Júlio Borges é cheia de relatos de lutas para garantir a produção de alimentos. Alimentos na mesa são sinal de fartura, alimentos compartilhados são sinal de solidariedade. Batata doce, mandioca, feijão, milho, amendoim, as hortas, os pomares e as criações, remetem às lutas e conquistas diarias. Com a conquista da terra, o quanto cada um irá investir no trabalho para si, na produção de alimentos para a família e a comunidade?
Perguntas para sentipensar:
TRANSGÊNICOS
AGROTÓXICOS
TRABALHO
SEMENTES
A partir de sua experiência, quais são os aspectos positivos e negativos da produção própria de alimentos? As palavras que estão escritas na ilustração lembram você de aspectos positivos ou negativos da produção própria de alimentos? Quais são as palavras mais significativas? Que outras palavras você lembra quando pensa em lavoura para consumo?
22
O ARTESANATO É UMA ALTERNATIVA? Nas lutas e nas conquistas sempre foi necessário combinar de uma maneira criativa os recursos disponíveis. Quando esses recursos são combinados para se fazer algo que, além de útil, é belo, temos arte artesanal, temos artesanato. Na comunidade Júlio Borges, o tempo passou, a experiência se diversificou, os cursos possibilitaram aprender sobre o uso de novos recursos e novas combinações. Aos poucos algumas pessoas se tornaram mestres de diferentes artes, se tornaram mestres no artesanato!
Perguntas para sentipensar:
Qual é o papel do artesanato para o bem-estar e renda das mulheres e famílias em Júlio Borges? A sua família tem experiência com o artesanato? Como avalia essa experiência? A partir de sua experiência, quais os aspectos positivos e negativos da confecção de artesanato?
23
AGROINDUSTRIALIZAÇÃO DE ALIMENTOS É UMA
ALTERNATIVA?
Cada povo tem uma cultura particular, tem sua forma particular de selecionar e preparar o alimento! Quando a cultura inspira a preparação
dos alimentos temos sabores singulares. Cada lugar tem sua cultura alimentar, que garante a vida e seu sabor. Preparar um alimento para os outros requer cuidados especiais, requer conhecimento e formação de agroindústria. Projetos apoiados pelo governo atualmente apontam a possibilidade de formação de agroindústrias na comunidade de Júlio Borges.
Perguntas para sentipensar:
Quais são os sabores de sua história e cultura que a comunidade valoriza? A sua família tem experiência com agroindustrialização de alimentos? Quais são suas expectativas com a formação de agroindústrias na comunidade?
24
25
A
comunidade reconhece que um de seus maiores desafios é o de definir como utilizar a terra e o trabalho para que se aproveite todo seu potencial como base para viver bem. Em Júlio Borges as famílias já conhecem um conjunto de possibilidades de utilização da terra e do trabalho e podem, agora, avaliar o que melhor lhes convém desenvolver mais. Talvez este seja o momento de cada um refletir sobre suas experiências, sabendo que cada possibilidade tem seus aspectos positivos e seus aspectos negativos.
Além disso é importante reconhecer que, na sua manutenção, as famílias desenvolvem um conjunto diversificado de atividades interrelacionadas. Do mesmo modo uma comunidade, para manter-se, requer a combinação de diversas atividades. Muitas das atividades que representam a possibilidade de uma vida melhor para as famílias e a comunidade, requerem trabalho conjunto. Por isso, destaca-se a importância de refletir e planejar em conjunto o futuro da comunidade, a partir da experiência e aprendizado de cada um.
26
SENTIPENSANDO JUNTOS SOBRE O FUTURO
Em reunião, a comunidade desenhou o futuro desejado. Estes desenhos revelaram que os jovens sonham e desejam que os parentes que estão fora voltem a viver em Júlio Borges e que, através de uma produção diversificada, se garanta o bem viver de todos.
27
28
O despertar da (mu)dança Buscando o próprio reconhecimento, Jovens mulheres quilombolas em movimento, Através da dança começam a se afirmar. E assim se unem para novos desafios, Sonhando traçar diferentes caminhos, E um dia poderem se graduar! Mas jamais se esquecerão da Comunidade, Das raízes e valores oriundos da etnicidade, Que após realizarem os sonhos, as farão retornar! Pois para os povos Quilombolas, Mais importante do que ter acesso à escola, São seus modos de vida e direitos preservar! Lucas Moretz-Sohn David Vieira
29
SENTINDO A FORÇA E BELEZA DA VIDA POR MEIO DA ARTE! 30
INTERAGINDO, REVELANDO, CONSTRUINDO
A
REVISTA SENTIPENSARES foi elaborada para manter viva a memória de nosso convívio e também para motivar a continuidade de uma construção que se iniciou em 2016.
31
Como parte da iniciativa do Núcleo de Extensão em Desenvolvimento Territorial do Território Centro Serra (NEDET), com apoio da EMATER de Salto de Jacuí, nós, da disciplina de Extensão Rural Avançada do Programa de Pós-graduação em Extensão Rural (PPGExR), da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), nos aproximamos das pessoas e da vida da comunidade Quilombola Júlio Borges. Para nós, foi uma experiência significativa e cheia de aprendizados!
A parceria entre entidades foi constituída para que refletíssemos, em conjunto, sobre as alternativas de inserção produtiva. Hoje, olhando para esta experiência, vemos que a comunidade enfrenta muitos desafios e que nós, na universidade, também enfrentamos desafios! Percebemos que temos o desafio de pensar sobre nossas práticas, nossas formas de aprender, ensinar e agir. Pela interação, revelou-se a importância de juntar o sentir e o pensar. A importância das pessoas e posturas sentipensantes!
32
33
34
35
36
37
ENTIDADES ENVOLVIDAS O Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural (PPGExR), em nível de Mestrado e Doutorado, é um programa do Centro de Ciências Rurais da Universidade Federal de Santa Maria e tem por objetivo qualificar o profissional para o exercício das atividades de pesquisa, extensão e de magistério superior no campo da extensão rural. A disciplina de Extensão Rural Avançada visa dar ao acadêmico condições de identificar e analisar criticamente os modelos teórico-metodológicos que constituem a referência para ação extensionista.
O Núcleo de Extensão em Desenvolvimento Territorial do Território Centro Serra (NEDET Centro Serra) esta vinculado a um projeto financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e é responsável pela implementação da política federal de desenvolvimento territorial. A Associação Comunitária Remanescentes de Quilombos Julio Borges visa representar a comunidade em questões relacionadas as políticas publicas.
FICHA TÉCNICA Geração de conteúdo: Alessandra Regina Müller Germani, Amábile Tolio Boessio, Andreia Vasconcelos, Bernardo Rodrigues da Silva, Bruna Tadielo Zajonz, Carine Dalla Valle, Cecilia Tayse Muniz Teixeira, Gladis Maria Backes Bühring, Jimena Sol Ancin, Laila Garcia Marques, Lucas Moretz-Sohn David Vieira, Mauricio Machado Sena, Patricia da Rosa Leal, Patricia Eveline dos Santos Roncato. Revisão técnica e seleção de conteúdo: Vivien Diesel. Edição e texto: Andrés Leonardo Becerra, Silvio Calgaro Neto, Vivien Diesel. Projeto gráfico e capa: Andrés Leonardo Becerra, Vivien Diesel. Revisão de projeto gráfico: Membros Comunidade Quilombola Júlio Borges. Editoração gráfica: Andrés Leonardo Becerra. Fotos: Andrés Leonardo Becerra, Mauricio Machado Sena, Vivien Diesel, Yosani Morales. Revisão de texto: Silvio Calgaro, Lucas Moretz-Sohn David Vieira. Local e data de publicação: Santa Maria, Rio Grande do Sul, Maio 2017.
38