Mídia e Deficiência

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Deficiência não é doença

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da violência urbana e no trânsito, paradoxalmente não existem peças que falem sobre as diversas incapacitações provocadas por estas mesmas razões. O médico Eduardo Biavati, Coordenador do Centro de Pesquisa em Educação e Prevenção do Hospital Sarah Kubistchek, em Brasília, acredita que isso aconteça pela falta de dados precisos. “Os hospitais só quantificam as mortes. Levantar informações sobre o tipo de acidente que levou à incapacitação, o tipo de deficiência, a idade, o sexo da pessoa, é muito complexo e não há pessoal para fazer isso”. Esse mapeamento só foi possível na Rede Sarah por meio de um trabalho extenso, que envolveu entrevistas diárias com os pacientes. “Na situação atual em que o País se encontra, não se sabe nem quem está dando entrada nos hospitais, nem a quem deveria ser dirigida uma campanha dessas. A própria imprensa dá uma ênfase extremada à morte, porque esses são os dados disponíveis”, comenta. O risco para as crianças Segundo os números da rede, mais de 300 mil pessoas sobrevivem aos acidentes todos os anos. Dessas, aproximadamente 100 mil adquirem alguma incapacitação. O não uso do cinto de segurança, principalmente entre crianças de seis a 12 anos, é a principal causa de lesão cerebral. Nos outros casos, o fator determinante é a desinformação dos pais. “Rarissimamente os pais sabem transportar as crianças nos carros. Primeiro, porque são muito complicadas as orientações. Depois,

eles não têm idéia do que pode acontecer caso a regra não seja seguida. Tampouco sabem das possibilidades de incapacitação. E mesmo o bem informado não encontra, no Brasil, todos os acessórios necessários para proteger a criança”, afirma Bivati. O preconceito é outro problema que dificulta a criação de campanhas preventivas. Caso uma campanha procure alertar para o risco de incapacitação falando das dificuldades que a pessoa com deficiência enfrenta, corre-se o risco de aumentar a discriminação contra essa parcela da população. A saída, na opinião do médico, é discutir abertamente as conseqüências, inclusive seu impacto sobre a família, porém enfatizando que isso não significa o fim da vida da pessoa e que não se deve vê-la como alguém incapaz – ou seja, é importante destacar a possibilidade de reconstrução do cotidiano. Entretanto, ele alerta que essa mudança de perspectiva não acontece facilmente, “principalmente no Brasil, onde a pessoa com deficiência costuma virar um cidadão de quinta categoria”.

As doenças congênitas Entre as chamadas causas internas da Deficiência, as doenças congênitas estão entre aquelas cuja prevenção depende, de maneira geral, de ações de execução simples e eficazes. E, neste sentido, deveriam merecer especial atenção por parte das políticas públicas. Entende-se por deficiências congênitas aquelas anomalias funcionais ou estruturais do desenvolvimento do feto decorrentes de fator originado antes do nasci-


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