Dossiê "A invenção da balbúrdia"

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2. PREFÁCIO

Na música Desordem, o conjunto Titãs pergunta: “Quem quer manter a ordem? Quem quer criar desordem?” e, adiante, insiste: “Mas o que é criar desordem? Quem é que diz o que é ou não? São sempre os mesmos governantes, os mesmos que lucraram antes”. No governo de Jair Messias Bolsonaro, um de seus ministros da Educação, Abraham Weintraub, declarou: “As universidades são caras e têm muito desperdício com coisas que não têm nada a ver com produção científica e educação. Têm a ver com politicagem, ideologização e balbúrdia. Vamos dar uma volta em alguns câmpus [sic] por aí? Tem cracolândia. Estamos em situação fiscal difícil e onde tiver balbúrdia vamos pra cima” (WEINTRAUB, 2019).

O governo elaborou acusações fantasiosas sobre o ensino superior e sobre a educação em geral com vários objetivos. Um deles foi o de justificar intervenções no processo de indicação de dirigentes de universidades e institutos federais. O Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDESSN), junto com suas Seções Sindicais, principalmente as mais afetadas, vem empreendendo uma luta contra este e outros processos autoritários, contando, é claro, com o apoio da Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (Fasubra), seus sindicatos locais, com a União Nacional dos Estudantes (UNE) e organizações locais de discentes. Desde sua fundação em 1981, conforme consta no Caderno 2 (ANDES, 2013, p. 25), o ANDES defende que “o reitor e o vice-reitor sejam escolhidos por meio de eleições diretas e voto secreto, com a participação, universal ou paritária, de todos os docentes, estudantes e técnico-administrativos, encerrando-se o processo eletivo no âmbito da instituição”. A luta tem sido para que, a partir de tais critérios, os eleitos assumam os cargos, sem necessidade de aval, aprovação ou qualquer interferência de autoridade legal, como a Presidência da República ou governos estaduais. Neste sentido, uma conquista fundamental foi a inserção do artigo 207 na Constituição de 1988, que garante autonomia às universidades. Os governantes, porém, “os mesmos que lucraram antes”, usam leis e decretos para determinar a elaboração, no caso das universidades públicas federais, de listas, antes sêxtuplas, hoje tríplices, das quais podem sacar quem quiserem. As comunidades acadêmicas, sempre que as lutas democráticas avançam, com diferentes soluções e trajetórias históricas, buscaram escolher as pessoas

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