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A Várias Mãos … Projeto Concelhio de Escrita Colaborativa Famílias da Flávio

Póvoa de Varzim 2015/16


Título: A Várias Mãos: Projeto de Escrita Colaborativa com Famílias

Textos e ilustrações: Vereador do Pelouro da Educação e da Cultura, alunos do 5.º I da Escola Básica Dr. Flávio Gonçalves e famílias

Coordenação: Ana Simão e Rosa Mateus

Revisão:

Ana Simão e Rosa Mateus

Edição: Ana Simão e Anabela Torre


Amanhecia, o sol espalhava os seus braços sobre as casas, fazendo com que as telhas, acabadas de acordar, ganhassem um brilho incandescente, quase irreal. As gaivotas desenhavam acrobacias levadas pela suave brisa vinda do norte. Noé, com os seus dezoito anos de sonhos e de esperanças, inspirava todo o mar naquela maresia que lhe enchia os pulmões e lhe purificava as ideias. O que haveria para além da linha inatingível do horizonte? Que outras pessoas, que outros mundos, que outros tesouros poderia lá encontrar?

Sentia nos pés descalços a areia húmida, rangendo a cada passo. Não sabia o que fazer. Sabia que não poderia continuar à espera que as coisas acontecessem, tinha que procurar o futuro, sem medo, sem interrogações vazias, sem arrependimentos. Toda a vida tinha vivido naquele areal, mas agora tudo lhe parecia pouco, precisava de ir mais longe, decerto todos iriam compreender a sua decisão. Queria conquistar espaço, queria descobrir outros caminhos, outras terras, outras paisagens, outros cheiros. Queria ouvir outros silêncios para além do que lhe fazia chegar o mar. Estava decidido, iria enfrentar o mundo, ele que nunca virou a cara a qualquer desafio, ele que trabalhara em tudo o que lhe aparecia, desde que os seus sete irmãos e os seus pais precisaram desse apoio. Trabalhava nas férias, trabalhava depois das aulas e sempre obteve boas notas na escola. Perdido nos seus pensamentos, olhou para trás e reparou que apenas os seus pés marcavam a areia limpa e inexplorada daquela manhã que já ia alta. Em terra, avistou o vulto do Cego do Maio que, com a mão servindo de pala, vigiava o colorido dos barcos que, na faina da pesca, manchavam o azul do mar.



Decidido a mudar a sua vida e a procurar novos horizontes , Noé encaminhou-se, com o coração cheio de força e de vontade, pelas ruas estreitas e antigas do bairro sul, a pensar na conversa que teria com a sua família ao contar os seus planos. Na noite anterior, durante o trabalho que tinha ocasionalmente no Casino da Póvoa, tivera conhecimento de uma vaga a preencher no navio cruzeiro OceanDreamOdyssey que estava atracado desde a manhã do dia anterior. Era uma oportunidade única, pois poderia ter finalmente um emprego a tempo inteiro, com a duração de um ano, e bem pago, por sinal, podendo continuar a ajudar os seus pais na educação dos irmãos, mesmo à distância. Mas, o que realmente lhe enchia a alma era a oportunidade de descobrir o mundo. Sim, esse mundo que sempre desejou conhecer: diferentes culturas, paisagens, pessoas, crenças, línguas e aromas. A aventura da sua vida! - dizia para si mesmo.

Com a mente num turbilhão de ideias, começou a pensar na forma de comunicar esta decisão à família. A sua querida família! Sabia que podia contar com a bondade da mãe, sempre preocupada, mas compreensiva e esperançosa. Tivera uma vida difícil, como a mãe dela e as outras mulheres da sua família, que dedicaram a vida aos filhos e ao mar. Criara os filhos praticamente sozinha e ainda cuidava da avó Maria que cedo ficara viúva. Também tivera muitos sonhos quando era nova, mas a vida fez com que os reprimisse. Via-os agora nos olhos de Noé, o seu primogénito, a menina dos seus olhos, que, tal como ela, tinha sempre a cabeça cheia de sonhos. O pai, com certeza, teria uma conversa de “homem para homem” e iria falar-lhe das dificuldades da vida do mar. A sua vida de pescador começara aos dez anos. No final da escolaridade obrigatória, teve de trabalhar, tal como os homens da sua família. Os tempos passados no mar fizeram com que se distanciasse da educação dos filhos, pois “isso cabe à mulher”.


Os irmãos iriam sentir a sua falta, principalmente o mais pequeno. Manuel, o irmão mais novo, de seis anos, era quem iria sentir mais saudades do irmão mais velho porque foi ele, praticamente, quem o criou, era, aliás, seu padrinho de batismo. Noé ajudou-o nas primeiras palavras, nos primeiros passos e era quem o levava todas as manhãs para a escola.

Noé chegou, por fim, à porta azul celeste da Rua Camilo Castelo Branco, com todos estes pensamentos na cabeça, e suspirou: “Esta notícia vai ser um choque. Mas não posso adiar mais este sonho que trago dentro de mim. Nunca poderei ser apenas o que a minha família quer. Terei de ser eu a descobrir por mim mesmo.”dizia para si próprio. Noé entrou e olhou para a casa de uma outra forma. Se os seus planos corressem como esperava, dentro de uns dias estaria longe dali, do seu lar, do seu aconchego, da sua zona de conforto. Como sempre, a primeira a correr para ele foi a Pipoca, a sua cadela, que o cheirou e saltou para cima dele, como sempre fazia. Era domingo e a casa estava sossegada. Iria descansar por algum tempo, antes de a mãe os chamar para o almoço. Talvez esse fosse o momento ideal para lhes contar os planos para o futuro.

Exausto, deitou-se na cama e olhou para o teto. Pouco tempo depois, fechou os olhos e adormeceu. - Todos para a mesa! O almoço está pronto!!! Não volto a dizer o mesmo! – gritou Rosa, a mãe de Noé. - Noé, Noé, anda para a mesa. A mãe já está a chamar. É melhor vires. – disse Manuel, baixinho, para Noé acordar.


Ainda com o corpo dorido e meio ensonado, Noé foi lavar o rosto para estar um pouco mais acordado. Ao ver a sua cara no espelho da casa de banho, disse para si mesmo: “Vamos lá! O que tiver de ser será, como diz a canção.” Estavam todos na conversa. A Graça e a Maria riam-se de um programa de televisão que tinham visto na noite anterior. Eram gémeas, pelo que faziam, desde sempre, tudo juntas. Eram uma desgraça quando se juntavam contra alguém, pois essa pessoa “estava feita”! O Zé estava na cozinha. Tinha fascínio pela culinária e ajudava muitas vezes a mãe. Via todos os programas do Masterchef. Esse era o seu sonho. Ser chef… Bem, cozinheiro, pelo menos. O André estava na conversa com o pai. Com certeza tinham ido os dois ao café ter com os amigos. Gostava de estar com os “homens” no café e de ouvir todas as aventuras da pesca. A Anabela era uma miúda calma e muito tímida. Gostava de estar no seu canto e não gostava quando lhe pediam para fazer alguma coisa. Lúcia era pouco mais de um ano mais velha do que o Manuel. Muito irrequieta e traquina, era toda despachada nas tarefas da casa, exceto quando trazia da escola trabalhos de casa. Nesse caso, era diferente. Simplesmente não gostava da escola. Achava um desperdício de tempo estar dentro de uma sala um dia inteiro, quando havia tanta coisa mais interessante lá fora, pelo que estava sempre distraída, com “défice de atenção e concentração”, como dizia a professora nas reuniões de avaliação. Em segundos, toda a família Milhazes estava sentada à mesa para o almoço. Como em quase todas as famílias, todos tinham o seu lugar marcado. O pai, numa ponta da mesa e a mãe na outra, as gémeas ficavam juntas no lado esquerdo da mãe, ao pé de Lúcia e Noé, Anabela, Manuel e Zé do lado direito, sempre muito apertados.


Depois de muita conversa intercalada com a “pescada à Poveira”, Noé arranjou coragem para contar os seus planos. Foram uns longos minutos, uma vez que todos se calaram, até a Pipoca, para ouvirem o que Noé tinha para contar. Não foi fácil para ninguém constatar que iam ficar sem o seu filho e irmão. Principalmente porque Noé partiria dali a dois dias. Uns choravam, outros abraçavam-no. Manuel desapareceu, pois não queria acreditar que tal acontecesse. Noé sabia onde o encontrar. Estava escondido no armário do sótão, tal como acontecia sempre que fazia uma asneira. Noé explicou ao irmão que teria mesmo de ser assim, mas que telefonaria todos os dias e que, com o dinheiro que iria ganhar, poderia oferecer-lhe um telemóvel pelo seu aniversário, tal como ele sonhava. Assim, poderiam conversar, trocar mensagens e até trocar fotografias. Esta foi uma boa estratégia para o acalmar, ainda que não deixasse de doer o coração a ambos. Nos dois dias seguintes, Noé tratou dos seus documentos e da sua mala. Bem, primeiro foi necessário comprar uma, pois nunca tinha viajado. Na véspera do dia da viagem, fizeram uma pequena festa lá em casa. Convidaram os amigos e a família. E foi um bom momento de despedida, um momento alegre e ao mesmo tempo triste. Noé estava a sentir emoções novas que não sabia explicar muito bem. Finalmente chegou o dia da viagem. Amanhecia e Noé encontrava-se em frente ao OceanDreamOdyssey. O sol espalhava a sua luz pelo belo navio e o rapaz sentia que era o início de uma grande aventura. A aventura da sua vida!



A Póvoa de Varzim não possui um porto de navios cruzeiro. O único terminal de passageiros de navios cruzeiro, a norte do país, situa-se no Porto de Leixões, na cidade de Matosinhos. O embarque de Noé realizou-se, portanto, em alto-mar, onde o navio estava ancorado, a algumas milhas da costa poveira. Noé sentia-se, apesar disso, próximo, muito próximo dele, pois que os mais de trezentos metros de comprimento, mais de cinquenta metros de largura e mais de trinta metros de altura, lhe traziam, simultânea e contraditoriamente, um sentimento de acanhamento e de grandeza. Noé julgou estar a ser enganado pela linha do horizonte. Mas o prédio Sopete, em frente ao café Guarda-Sol, ali ao lado, permitiu-lhe erradicar qualquer dúvida, pois que parecia mais baixo e mais pequeno que o enorme navio cruzeiro. Não se espera utilizar os botes salva-vidas de um cruzeiro, salvo em momentos de grande aflição. Foi, pois, com grande estupefação que Noé se viu recolhido no barco salva-vidas, cor de laranja, com o número cinco, do total de doze que o navio possuía a bordo. A segurança no mar depende de conhecimento e de certezas. Por isso é que todos os membros do pessoal a bordo são treinados para desempenhar um papel específico que lhes é atribuído para qualquer emergência. E também por isso é que a tripulação tem que ter um curso de sobrevivência a bordo e põe a sua formação em prática em viagens pequenas como aquela que se destinou a transportar Noé e outros seus futuros colegas de trabalho para a viagem que iriam iniciar. À medida que se ia aproximando do navio, a sensação de pequenez apoderava-se progressivamente de Noé, como se de uma formiga, junto a um grande paquiderme, se tratasse.


A entrada deu-se por uma grande porta levadiça que se abriu numa parte do casco, até ao nível zero hidrográfico. Depois de se identificar e passar pelo detetor de metais, como já tinha visto nos aeroportos, Noé dirigiu-se de imediato para a sua cabine, situada cerca de seis metros abaixo do nível médio do mar, onde rapidamente pousou a mala e vestiu a sua farda de serviço, para iniciar funções. Noé foi contratado para trabalhar nos bares e restaurantes do navio, visto que ainda não tinha experiência a bordo. A cabine não media mais do que quatro metros quadrados, tinha que ser partilhada com outro colega, e a roupa de Noé era guardada num gavetão, por baixo do seu beliche. Durante a noite, o ruído dos motores do navio era ensurdecedor, o que não obstava a que Noé adormecesse ao cair na cama, pois que a rotina das suas tarefas era bastante fatigante: dez horas de trabalho por dia, distribuídas em três turnos, e sem um dia de folga completo por semana. Geralmente tinha meia hora para as refeições que eram sempre servidas num refeitório comum e compostas pelas sobras da alimentação dos passageiros do dia anterior ou daquele dia. A roupa era lavada por Noé com um sabão pequeno, numa lavandaria também comum a todos os tripulantes, o que o obrigava a aguardar na fila pela sua vez. As condições de vida e de trabalho de Noé a bordo contrastavam com as condições e o ócio dos passageiros. Os camarotes destes situavam-se acima da linha de água, com ou sem janelas ou varandas, e tinham disponível, vinte e quatro horas por dia, restaurantes, cafés, bares, lojas e entretenimentos. O acesso à internet era muito caro e não existia rede de telemóvel em alto-mar que permitisse a Noé contactar a sua família. No navio o mar ressoava como no interior de um búzio.


Os primeiros dias foram os mais difíceis. O cansaço e a completa ausência da sua anterior rotina, aliados à saudade da família, fizeram aflorar a vontade de desistência que nem sequer era minorada pelas diversões entre colegas e pessoal a bordo, numa tentativa de motivação que a afastasse. Noé recebia para trabalhar e oferecer aos passageiros um serviço de excelência. Era realmente uma oportunidade sem igual, em que adquiria experiência internacional, tinha contacto com novas tendências e, praticamente, não tinha despesas, podendo conhecer dezenas de países que dificilmente teria a oportunidade de visitar de outro modo. No decurso dos dias, Noé fez amizades verdadeiras que permaneceram para o resto da vida. A sua família alargada tinha várias nacionalidades: italianos, sul-africanos, ucranianos, russos, brasileiros, espanhóis, búlgaros, americanos, asiáticos e, principalmente, porto-riquenhos e filipinos que Noé percebeu serem muito solicitados para trabalharem em navios cruzeiro, devido à sua experiência, disponibilidade e espírito de serviço. Pessoas raras. Pessoas que nunca antes vira na vida e que, provavelmente, não voltaria a reencontrar. Nos períodos de folga, e quando o navio estava atracado, Noé podia gozar algumas horas nas cidades de paragem, para fazer compras, tirar fotografias e conhecer novas terras, alargando os seus horizontes.

Viu a noite tornar-se dia com o sol da meia-noite da Suécia; adormeceu a olhar as auroras boreais da Islândia; engordou com as massas de Itália; viu as muralhas mais bonitas da Croácia; as praias mais lindas da Grécia; e o país mais glamoroso, a França. Enfim, cada país com as suas particularidades magnificamente únicas.


A primeira paragem ocorreu em Veneza. O navio atravessou as diferentes ilhas que a compõem, mais de cem, em direcção ao porto de Veneza. Noé avistou, durante a travessia, do cimo do navio, como se estivesse num camarote, a Praça de S. Marco, principal destino turístico de Veneza, que parecia um formigueiro agitado, e, nela, a Basílica de S. Marco, o Palácio Ducal, o Campanário e as diferentes e variadas gôndolas estacionadas em frente aos improvisados cais, de onde se destacava o que se situa em frente ao Hotel Danieli, onde Angelina Jolie e Johnny Depp rodaram o filme “O Turista”.

A viagem entre o porto e o centro fez-se de táxi aquático, uma lancha muito rápida que rasgava as ondas mais depressa que um peixe-espada. Ali chegado, Noé teve a oportunidade de tomar um café no Florian, um dos míticos cafés existentes na Praça de S. Marco, e assistir a um concerto ao vivo. Os canais de Veneza eram tão lindos quanto ele os imaginava por os ter visto nos programas de televisão. Os prédios e a própria praça, construídos há mais de mil anos e assentes em pilares de madeira fixados na água, mantinham-se firmes e intactos. A madeira milenar não apodreceu até ao presente, porque não está em contacto com a atmosfera nem com o oxigénio que de outro modo ajudariam no processo de decomposição.

Atravessou os canais de gôndola, passou sob a Ponte dos Suspiros e a de Rialto, e constatou que nem todos os sentidos se aliam na definição de beleza, pois que a imagem das gôndolas e edifícios antigos contrasta com o cheiro que emana dos canais, para onde são despejados os esgotos, fazendoo brevemente recordar os tempos em que as águas residuais da Póvoa de Varzim e Vila do Conde eram despejadas no mar, junto ao cais, antes de serem tratadas em estações próprias.


A paragem seguinte ocorreu em Argostóli, o porto mais importante da Cefalónia, a maior das ilhas jónicas, com praias, como a de Myrthos, de águas azuis fosforescentes, e onde visitou a gruta Melissani, uma caverna cheia de água cristalina com uma abertura no centro a deixar passar um feixe de luz solar até se juntar às águas transparentes. A lenda diz que na “gruta das ninfas” vivia Melissanthi, ninfa que acabou com a própria vida e caiu ao lago, após uma deceção de amor não correspondido pelo deus Pan. Essa lenda terá surgido quando o aventureiro que descobriu a gruta encontrou, numa das suas expedições, um disco de argila com o retrato do deus Pan e as suas ninfas, que atualmente faz parte do acervo do Museu Arqueológico de Cefalónia. Nessa gruta, Noé conheceu um fenómeno hidrogeológico misterioso e único no Mundo. A água do mar é sugada numa zona a oeste da ilha, perto de Argostóli, e é expulsa vários quilómetros acima, na Baía de Sami, que deu o nome ao filme “As Aventuras de Sammy: A Passagem Secreta” da tartaruga com o mesmo nome, criando um rio que corre subterraneamente cruzando a ilha por baixo e percorrendo mais de quinze quilómetros, fazendo com que a água do mar surja salobra naquela baía e na gruta de Melissani. Noé identificou-se com Sammy. Todos os perigos enfrentados por Sammy no filme mostram os problemas que Noé, tal como a tartaruga, estava a ter ao longo da sua vida. Nascemos e vivemos sem saber se seremos bem-sucedidos na nossa jornada, mas perseveramos, buscamos as nossas conquistas e encontramos amigos que nos ajudam e nos ensinam; no fim, sempre existe aquele amor por que lutamos, que nos tornará completos e dará sentido às nossas vidas. Estes são os valores que Sammy, como Noé, buscavam na sua viagem… os valores da vida.


Apesar dos pesares, o desejo de conhecer novos mundos não o largava. Tudo o que tinha sonhado quando saiu do seu porto de abrigo, a Póvoa de Varzim, essa “terra de encanto”, verificou que em todas as cidades que conhecera, sempre de forma distinta, esse encanto também existia. No navio aprendeu a fazer tudo. Todavia, o que mais o fascinava era o contacto com os turistas. Já sabia falar vários idiomas. Além do inglês e do espanhol aprendidos na escola, entendia perfeitamente o italiano e o francês, desde que falassem mais lentamente, e até arranhava o russo e o alemão. Trabalhava nos bares e nos restaurantes, o que o auxiliava a atingir o posto ambicionado desde o início: ser um dos responsáveis pelas relações públicas. A escala seguinte do cruzeiro era a ilha grega de Mikonos. Que encanto! As casinhas brancas, apinhadas umas contra as outras, com estreitas ruas de mármore, qual cascata sanjoanina! Que contraste com o delicioso azul profundo das águas do mar Egeu! Suspirou… Para ver sítios como este sempre valia o sacrifício provocado pelas distância e saudades de casa. Sem este emprego nunca teria a oportunidade de se deslocar a locais que só conhecia através da televisão e da internet. Estava a viver um sonho e tinha de aproveitar a ocasião. Quem sabia se o seu futuro não estaria ali? Até já tinha “engraçado” com uma colega francesa com quem aproveitava as folgas para passear (e, claro, melhorar as suas competências linguísticas, se não até outras!).

Noé estava encantado com esta nova aventura na sua vida, pois fora a melhor opção que tomara. Durante o dia, com toda a azáfama e as responsabilidades inerentes ao seu cargo, não tinha sequer tempo para se lembrar de quem deixara para trás. No entanto, na solidão do seu beliche, tinha saudades da família, dos almoços de domingo, do seu Varzim, da sua praia e, principalmente, do seu irmão Manuel, o caçula da família, e da sua cadela. Claro que havia vantagens! Já tinha dinheiro suficiente para oferecer ao irmão mais novo a prenda que lhe prometera.



Aproveitando as poucas horas de folga lá foram os dois passear por Mikonos, começando no “Velho Porto “, com os barcos dos pescadores locais; caminhando pelas suas estreitas e sinuosas ruas pelo meio das casinhas brancas, com as portas e os caixilhos das janelas coloridos, cheias de vasos de flores e alegradas por belíssimas buganvílias de praticamente todas as cores do arco-íris; visitando as suas igrejinhas escondidas, como a igreja ortodoxa de S. Nicolau e a de PanayiaParaportiani, o edifício da Câmara Municipal e o castelo situado sobre o porto de pesca; tirando maravilhosas fotos dos seus moinhos, sem esquecer a mascote oficial de Mikonos: o pelicano Pétrus encontrado por um pescador depois de uma tempestade em 1954 e que rapidamente se tornou a grande companhia dos habitantes da cidade. Quando morreu, o desgosto pela sua morte foi tão grande que depressa acharam um substituto. Em honra de Pétrus, os locais estabeleceram uma tradição em que pelicanos vagueiam, na frente marítima, como um facto essencial do dia-a-dia. Por isso, não podiam deixar de tirar uma ‘selfie’ à beira de um sucessor de Pétrus. Outro dos mais importantes locais da ilha é a chamada “LittleVenice” ou “pequena Veneza”, uma “freguesia” do século XVIII, dominada pelas mansões dos grandes capitães, com coloridas varandas debruçadas sobre o mar que recordaram a Noé algumas das famosas cidades italianas visitadas. Acabaram a visita sentados num café, admirando a vista dos moinhos com as suas velas brancas impondo a sua presença no cimo da colina, contra um luminoso azul. Regressaram ao barco, felizes e descansados, para enfrentar um novo turno, lamentando apenas não terem tido a possibilidade de visitar as praias mais selvagens e serenas da costa norte da ilha, como AyiaÁnna, Houlákia, Kápari e AgráriandAyiosStéfanos.


Depois do turno, no seu beliche, as recordações daquele dia bem passado cruzavam-se com as saudades de casa. Essas memórias trouxeram de volta o tempo em que praticava futebol no pelado do Varzim, onde todos os dias, depois das aulas, o professor Hugo Teixeira ministrava as táticas para o jogo do sábado de manhã. Que bom que era esse grupo e os lanches no fim dos jogos, o convívio, as caras tristes com as derrotas e as alegrias das vitórias. Sonhava sempre poder jogar no Dragão aplaudido por toda aquela gente nas bancadas, os cânticos… Enfim! Sonhos de criança! Mas bom, muito bom mesmo, era quando entravam com os jogadores seniores, de mão dada! Oh! Que alegria ver aquele estádio cheio, os cânticos das mulheres poveiras, a claque, as faixas. Oh!!! Qual S. Pedro! Aquilo, sim, era uma verdadeira família! Ninguém faltava aos jogos e apoiavam sempre a sua equipa. As claques até prémios ganhavam ao entoar cânticos que ensaiavam na garagem do tio Joaquim… As mãos até doíam por causa de tanto tocar bombo... Ai Varzim! Ai Varzim!… “Lobos do mar de ricas tradições.” ”O Varzim é nosso, da Póvoa inteira…”. De volta à realidade, resolveu telefonar para casa e falar com o seu afilhado que, de tão contente, não o deixava praticamente dizer nada. Falava do Carnaval, da Páscoa, de que estava quase de férias, da namorada que tinha arranjado na escola e dos desenhos que tinha para lhe oferecer, para além, claro, das saudades que dele tinha. E assim, embalado por estas recordações, adormeceu.

No seu sono profundo, Noé sonhava. Aquela imensa arca de madeira lembrava-lhe, por contraste, a aula de história em que tinha estudado a colonização das ilhas atlânticas desabitadas, mas atrativas pela amenidade do seu clima, beleza natural e exuberância da sua flora e fauna. No seu sonho Noé interrogava-se: mas como? Como fazer chegar a ilhas tão distantes, com embarcações tão frágeis, colonos, animais domésticos, sementes e alfaias agrícolas?


Recordou do seu manual a imagem de uma pequena embarcação, que fazia lembrar uma casca de noz carregada com tudo o que era necessário para recomeçar novas vidas. Sentiu-se, então, marinheiro de primeira viagem, um verdadeiro aventureiro como os heróicos portugueses dos séculos XV e XVI.

Um golpe mais forte das ondas no casco do navio acordou-o. O sonho tinha sido belo, mas a realidade era outra. À pressa, levantou-se, fez a sua higiene e apresentou-se no seu posto de trabalho. Cheio de energia, boa vontade, sorridente, atendia aquela imensa multidão de turistas das mais diferentes proveniências, falando as línguas e dialetos mais variados e envergando trajes exóticos. A diversidade de hábitos alimentares era também uma realidade e impunha um cuidado e um respeito especial. Noé foi aprendendo e até acabou por achar graça a alguns daqueles costumes e, consigo, pensava: todos diferentes, mas, no fundo, todos iguais. Esta convivência diária com a diversidade estava a ser o valor mais alto que estava a receber, crescendo culturalmente, adquirindo novos hábitos de vida e aprendendo a ver o mundo com diferentes olhos e pontos de vista. Realmente a sua escolha tinha sido acertada e, apesar da saudade aumentar, de gostar do amor e convívio dos seus familiares, aquele trabalho tinha sido uma dádiva de Deus a um pequeno mortal, Noé. O barco deslizava mansamente pelas águas calmas do Mediterrâneo quando, subitamente, as nuvens negras toldaram o azul dos céus. Os trovões rugiam e assustavam toda a gente e a chuva torrencial que desabava sobre eles a todos fez correr para o interior do navio. As águas agitaram-se e o navio estremeceu.



Surpreendido, Noé ouvia toda a gente comentar: “Uma tempestade no Mediterrâneo! Quem diria?” Todavia, as pessoas não arredavam pé daquele espetáculo grandioso e temível que, lentamente, foi perdendo a sua força: a chuva parou, as nuvens desapareceram e o tempo amainou. Como sempre, depois da tempestade vem a bonança e assim ancoraram no porto de Istambul. Os olhos maravilhavam-se! Todos queriam sair apressadamente para ir ao encontro daquela mítica cidade. Noé também tinha tido a sorte de integrar o grupo de turistas, pois era o seu dia de folga. O espanto continuava. Donde vinha aquele formigueiro de gente que enchia as ruas da cidade?

O sonho de quem vai a Istambul é visitar a Basílica de Santa Sofia, transformada em mesquita no século XV, depois da conquista turca, com os seus minaretes, as suas colunatas, os seus rendilhados de pedra, a sua grandeza, enfim, a sua história. Após esta visita, seguiram para o Grande Bazar. O espanto manifestou-se de todas as formas, pois, ao atravessarem a porta principal, depararam-se com uma verdadeira cidade com ruas alinhadas e quarteirões bem demarcados. Os cheiros das especiarias de todos os cantos do mundo penetravam nas suas narinas. E que bom que era o aroma do chá de maçã e de menta confidenciavam os turistas.


De repente, desembocaram nas ruas das tapeçarias que forravam as paredes e davam um colorido fantástico. Eram irresistíveis nas cores, nos desenhos e no aveludado de lã e de seda. Não passavam despercebidas as exposições dos utensílios de latão, cobre e prata, nem os seus artesãos que os executavam com minúcia e muita perícia.

Por toda a parte eram surpreendidos pela variedade de artigos que despertavam a sua atenção: a beleza das sedas, os lenços, as gravatas, os objetos em couro. No meio de tanta raridade, Noé hesitava na escolha das pequenas lembranças que queria comprar para a família - uma lembrança de Istambul! Só tinha uma certeza! O telemóvel para o irmão Manuel era um ponto de honra para o qual trabalhava desde o início. Por isso, entrou numa loja cuja vitrine estava cheia de telemóveis de última geração, observou-os com cuidado e, conhecedor dos hábitos de negociação prolongada dos turcos, bebeu o chá de menta, discutiu inteligentemente o preço e comprou um belo aparelho para o seu querido irmão. Saiu radiante da loja. Tinha adquirido o primeiro troféu com o seu próprio labor e ia fazer feliz uma pessoa para si tão especial, o seu irmão mais novo. O tempo passava a correr! A luz do dia já estava a diminuir, sinal de que o regresso ao navio estava próximo. Teve ainda tempo para comprar uma bijutaria para a sua mãe e um livro sobre Istambul para o seu pai e, num olhar de despedida sobre o Bósforo, já saudoso de tantas sensações, Noé e o grupo regressaram ao navio para retomar a viagem.

Noé caminhava vagarosamente como se não quisesse voltar, sabia que mais duas semanas e esta forma de vida acabaria. Mas - questionava-se – acabaria? Como iria ser depois? Uma angústia, misturada com a alegria de voltar ao seu lar, invadia-lhe o coração. Sem pressa, chegou ao seu posto de trabalho.


O navio partiu rumo a Valência e, mais uma vez, aquando da paragem, Noé aproveitou para passear. Deambulou, sem pressa, pelo centro histórico da cidade deslumbrante e tipicamente espanhola, aproveitou para comprar a prenda para o seu irmão Zé e, claro, não poderia deixar de levar a receita e a famosa paellera valenciana. Noé era um rapaz de trato humilde e meteu conversa com uma senhora, já de idade, proprietária de um pequeno e típico restaurante, que, amavelmente, lhe deu a receita da sua magnífica paella, fazendo questão de que Noé a provasse. O tempo fugia-lhe por entre as mãos, mãos que denunciavam o trabalho diário e, ao mesmo tempo, a delicadeza de quem gosta do que faz. Os dias foram passando e a angústia deste fim apertava. Que mistura de sentimentos o invadiram! Tem calma! - pensou Noé. E sentou-se a escrever mais umas linhas sobre esta grande aventura. Noé não estudou mais porque a situação económica da sua família não o permitiu, mas era um excelente aluno e com uma grande capacidade de escrita. Quando se deu conta tinha escrito um verdadeiro diário sobre esta grande aventura da sua vida. Nem ele sabia que a sua irmã Anabela, calada e sempre metida com os seus botões, em casa, motivada pelas as saudades que não deixava transparecer, fora desenhando, a cada telefonema, as descrições feitas por Noé. Noé foi chamado pelo responsável por toda a área de restauração do barco, o famoso sr. Baltazar e qual não foi o seu espanto ao receber o convite para a renovação do contrato de trabalho, desta vez para os mares das Caraíbas. Sem pensar duas vezes, o “sim” foi a palavra de ordem.


Animado e confuso, sentiu o mar como a sua casa e a brisa o seu coração. Estava ansioso pela paragem seguinte para dar a notícia à família. E esta já seria dada do seu país, pois Lisboa era o próximo destino. Ao contrário do ditado popular, “um mal nunca vem só”, Noé contrariou todas as probabilidades, previstas ou não, e já não cabia em si de contentamento quando o sr. Baltazar lhe perguntou :

- Noé, lá para as tuas bandas, bandas de boa gente como tu, séria e trabalhadora, não me arranjas uma rapariguita para ser camareira quando formos para as Caraíbas? Noé esboçou um sorriso, de orelha a orelha e disse: - A Lúcia? O sr. Baltazar, respondeu: - Pois... Não sei! Mas se o dizes… Trá-la contigo quando vieres ao curso de preparação para as Caraíbas.

Noé ria, ria e saltava e dizia: “Irmã, querida irmã, vens comigo para as Caraíbas!” E cantava ao som da “Mariquinha, vem comigo para Angola”. Mal chegaram a bom porto, Noé respirou o seu ar... Estava em Portugal, que felicidade tamanha! Correu para o primeiro telefone que encontrou e telefonou para casa para dizer que se encontrava em terras Lusas. A chamada caiu e o tempo urgia. Faltavam ainda as lembranças para as gémeas, Graça e Maria, e Noé, em passo apressado, calcorreou as ruas de Lisboa. A sua irmã deu continuidade ao seu telefonema. Como de costume, ilustrou a continuidade da conversa que o cair da chamada não permitiu. Anabela dirigiu-se à mãe e mostrou-lhe o desenho. Os olhos dela encheram-se de lágrimas e, sem palavras, as imagens que saíram das mãos de sua filha, uma verdadeira artista, fizeram-lhe sentir que Noé estava em casa. Ainda não estava, mas pouco faltava. Apressada, limpou os olhos e organizou a receção do filho ao mais ínfimo pormenor.



A viagem de Lisboa ao Porto foi longa. Aparentemente durou mais do que toda a viagem que fizera até então! Como será possível? - pensou Noé. Foram as vinte e quatro horas mais longas da sua vida! Cheguei! Cheguei! E, entusiasmado, apressou-se para a saída. Noé tinha, em Leixões, uma comitiva de receção digna de uma reportagem!

Chegou a casa, entrou, e a avó Maria tinha preparado o seu almoço, que não há cheiro que engane! Percorreu o corredor ladeado de quartos. O quintal, ao fundo, fumegava numa nuvem linda à qual nem as dos mares se assemelham… E lá estavam as douradas sardinhas, tesinhas, acompanhadas de pimentos, batatas e broa! Ai que repasto! As conversas confundiam-se ansiosas, curiosas, sábias e fascinantes... Tudo foi contado ao mais ínfimo pormenor. O cafezinho foi tomado no quintal, misturado com o cheiro das brasas e na companhia de João, o ourives, amigo do coração, que não podia deixar de estar presente, quer pela amizade que tinha por Noé, quer pela encomenda que este lhe tinha feito para a sua mãe. Chegou a hora da distribuição dos presentes. A excitação dos miúdos e graúdos era grande! Todos esperavam pela surpresa. Noé começou pela prenda do Manuel, o telemóvel tão esperado. Seguiu-se um embrulho para a Lúcia, com uma farda de camareira. A avó Maria deu uma forte gargalhada referindo que o carnaval já passara, mas Lúcia, que não era boa nos estudos, mas astuta e perspicaz, abraçou o irmão e gritou: - Quando, quando? Para onde, para onde? Noé, com calma, agarrou-lhe a mão e apertou-a. - Quinze dias e vamos para os mares das Caraíbas, mas não penses que é sempre fácil, porque não é!


Noé estava preocupado em confortar a sua mãe, que desta vez iria ficar com a casa mais vazia ainda. Tirou da mão de João uma caixinha linda de morrer e pô-la no colo da mãe, como se estivesse a pousar o ovo mais delicado do galinheiro do fundo do quintal. D. Rosa pegou na caixinha, puxou delicadamente cada fita de cor carmim e abriu-a. As contas de Viana reluziram, entrelaçadas umas sobre as outras. Anabela, pôs-se a pé e envolveu o pescoço da mãe com tamanha preciosidade! Aproveitou a ocasião e, no silêncio que já lhe é habitual, deu a Noé um embrulho, não menos bonito do que o de sua mãe. Noé exclamou:

- Ó Belinha! Do seu silêncio, apenas se ouviu, uma palavra forte:

- ABRE! Noé abriu o embrulho e viu uma sebenta, à semelhança das que tinha usado na sua primária. Voltou a viajar, por entre desenhos que cobriam todas as aventuras que tinha vivido durante a sua viagem. - Como é possível? Eu não te vi por semelhantes paragens! Anabela tinha reproduzido por desenhos toda a viagem de Noé, não deixando escapar nenhum pormenor. Que diário aqui estava feito, que obra de arte, que maravilha! Os dias foram passando e Noé preparava-se, desta vez junto com Lúcia, para partir de novo.

Partiram. Partiram e deixaram um rasto de tristeza e de alegria. Que orgulho sentia este pai pelos seus filhos desenrascados e trabalhadores! Que vaidade sentiu ao ver Lúcia fardada! É linda esta menina! Que delicada, aliás caraterística comum a todos! Os Milhazes tinham todos traços finos e esbeltos.


A viagem foi um fascínio para Lúcia e também para Noé - as diferentes paragens, paisagens, todas elas exuberantes, fascinantes e empolgantes. Nenhum dos irmãos descurou o trabalho. A imensidão da beleza das paragens, das gentes, o exótico dos cheiros e dos sabores não minoraram o bom desempenho destes irmãos, sempre elogiados pelo seu trabalho.

A viagem foi longa, pois as paragens foram muitas. Os sonhos não cabiam no navio, o entusiasmo de todos os presentes era contagiante. Ai calor! Ai Equador! Ai Patagónia! Não há palavras para tanta beleza! A vida destes dois membros da família estava delineada, os Milhazes eram trabalhadores, inteligentes, audazes e capazes. Que maravilha fazer parte desta família! Todos eram uma surpresa mais ou menos esperada. As viagens foram o modo de vida destes dois irmãos. As gémeas formaram-se em medicina. E até o pequeno Manuel já era um engenheiro de sucesso numa plataforma petrolífera lá para as arábias. Foram muitas as aventuras, as alegrias, os netos, os casamentos as festas. Mas, a mãe Rosa, já velhinha, tinha como seu maior orgulho o livro “Memórias Desenhadas”, livro este que era o diário da primeira viagem de Noé, ilustrado pela sua querida irmã Anabela que se tornou uma arquiteta famosa. E esta família vê, já na ausência dos seus progenitores, a Rua Patrão Milhazes como a maior homenagem que poderiam ter à sua família e ao bisavô Patrão Milhazes.


Índice Introdução - Dr.º Luís Diamantino Vereador do Pelouro da Educação e da Cultura……………………………………………………………………. 3

Ana Conceição Costa Matos e família …………………………………………………………………………….……. 4 Diana Nova Henriques Remédios Gomes e família……………………………………………….................. 9 Maria Miguel Campos Oliveira e família................................................................................... 15 Pedro Miguel Quintas Araújo e família .................................................................................... 18

Sara Montenegro Terroso e família ......................................................................................... 22 Nota: As expressões a negrito sinalizam a entrada de texto de outra família.


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