O guardiao da meia noite rubens saraceni

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- Não importa por quem seja, mas tire-me daqui. - Somente sob aquelas condições. Do contrário, fique ai por toda a eternidade, pois os do alto já o excomungaram há muito tempo. - Eu aceito suas condições, mas tire-me daqui, por favor. - Está bem, vou tirá-lo. Segure em minha mão e eu o puxarei para cima. - Não posso mover-me, estou paralisado. - Vou agarrá-lo e tira-lo num instante. Neste momento eu vi uma cara chegar até mim. Era horrível a sua aparência. As unhas eram longas e curvas. Não era uma mão humana, mas sim de um cadáver descarnado. Pegou num dos meus braços e puxou-me num golpe só. Eu atravessei a terra e fui colocado em pé. Estava duplamente paralisado. Uma era a paralisia que me atingira há tempos, a outra provocada pela aparência dele. Era um esqueleto enorme, vestido com um longo pano negro. Tinha na cintura uma longa espada com uma pequena caveira no cabo. Na cabeça um elmo usado pelos cruzados. Seu rosto era só ossos. Não havia olhos, boca, nada enfim. Eu estava paralisado com tão grotesca figura. Ele deu uma gargalhada cadavérica. Sim, aquela foi mesmo uma gargalhada cadavérica. - Está assustado com minha aparência, estúpido? - Sim! Estou sim - disse eu, trêmulo. - Pois olhe-se neste espelho, idiota! Dei um grito de horror quando me vi no espelho. Eu também era um cadáver, um esqueleto igual a ele. Demorei um pouco para me reequilibrar. - O que houve comigo? Quem é você? - Você não! A partir de agora trate-me por amo ou senhor, eu aceito qualquer um dos dois. Você morreu, estúpido! Não percebeu ainda que é impossível alguém viver sem carne ou vísceras. Sem ar para respirar como você viveu sob o solo? Olhe à sua volta! Eu olhei. - Estamos num cemitério. Olhe ali no seu túmulo. Virei-me e vi uma placa com meu nome inscrito. “ Barão de tal. Nascido em 1716 e morto em 1764 .” - Eu morri?


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