Revista Amazônia Viva ed. 55 / março de 2016

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2012. O processo traz ainda outro benefício: por serem criadas a partir das células do paciente, o risco de rejeição por incompatibilidades imunológicas é nulo. Ainda assim, Walace Leal explica que o tratamento é promissor, mas não se trata de nenhum milagre, e a recuperação de cada doente vai depender de diversos fatores. “Quando as conexões se refazem, é como se elas se formassem pela primeira vez. O paciente precisará reaprender a utilizar os movimentos e outras funções. Passará por um período longo de reabilitação e, mesmo após tudo isso, não será exatamente como era antes da lesão”, esclarece.

REPARO DE LESÃO

OUTRAS CONTRIBUIÇÔES

- Os axônios desenvolvidos se estenderam

Além da colaboração com a Universidade da Califórnia em San Diego, o Laboratório de Neuroproteção e Neuroregeneração Experimental da UFPA trabalha em projetos próprios com uso de modelos de AVC, lesão espinhal e epilepsia. Resultados são experimentais, mas promissores, com destaque ao uso da medicina popular para identificar possíveis inovações para a neurologia. “Precisávamos partir de algum ponto para pesquisar o desenvolvimento de neuroprotetores, que são substâncias que previnem o agravamento de lesões neurológicas. Então, partimos do que já é tido como fato pela sabedoria popular. Iniciamos com a copaíba e tivemos excelentes resultados”, conta Walace Leal. Substâncias presentes no óleo de copaíba, quando isoladas, apresentam a característica de neuroprotetores. “Ainda estamos no início, mas meu objetivo é ver um remédio que poderá ser administrado por via oral a um paciente em quadro de AVC e bloqueará os danos, impedindo que uma lesão pequena se transforme em algo maior. Hoje, um médico nada pode fazer para prevenir a agravação do dano cerebral de um paciente que chega ao hospital com um quadro de AVC”, observa. O trabalho sobre a copaíba foi publicado em 2013. As pesquisas incluem ainda o gergelim, a jalapa (aguardente alemã), unha-de-gato e outras espécies.

Particularidades no desenvolvimento do novo tratamento com implante do “relé neural” feito de célula-tronco pluripotentes ativadas: - O implante realizado no rato foi criado com células de um homem de 86 anos, provando que mesmo células já idosas podem apresentar resultados eficazes; - O tipo de lesão medular estudado foi um corte completo na vertebra C5 do roedor. Em humanos, lesões com corte completo são bastante raras;

por toda a coluna do roedor, indo desde o cérebro até a base, um resultado jamais visto antes; - Apesar do desenvolvimento dos neurônios e criação de uma nova rede de cabos neurais funcionais, o rato não apresentou uma completa recuperação dos movimentos, com resultados considerados modestos por outros cientistas; - 95% dos estudos clínicos iniciados em seres humanos para tratar lesões medulares falharam até hoje.

CARLOS BORGES

MARÇO DE 2016

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