Vômito e não: práticas antropoêmicas na arte e na cultura.

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perceber as significações que as experiências possuem diante dos movimentos identitários que realizam. Nesse sentido, optamos pelo documentário, por entender que a linguagem audiovisual organiza formatos contemporâneos de visibilidades no domínio público, interferindo em leituras e visões de mundo, intervindo nas identidades e transformando as compreensões sobre as realidades do ser humano. Concordamos com Freire (1987, 48) quando ressalta que “a educação autêntica, não se faz de “A” para “B” ou de “A” sobre “B”, mas de “A” com “B”, mediatizados pelo mundo”. Mundo este que:

Prelúdio O documentário iraniano A maçã de Samira Makhmalbaf − jovem cineasta ganhadora de diversos festivais mundiais, narra uma história verídica sobre duas irmãs − Massoumeh e Zahra, que foram aprisionadas em casa pelos pais durante 12 anos. As mesmas não sabiam falar e não tomavam banho há anos. As irmãs “sofriam” repetidas opressões do pai por este persistir em mantê-las confinadas, podendo elas, interagir apenas com ele, um homem desempregado e preso aos costumes religiosos e sua mãe, uma mulher cega e submissa. Vale ressaltar que além de ser uma história verídica, o drama foi filmado/protagonizado pelos próprios sujeitos envolvidos na história, ou seja, eles representam a si mesmos no filme. Sobre esse aspecto, concordamos com Lima (2012) por aborda que “esse esfacelamento das fronteiras entre ficção e documentário, leva ao hibridismo das imagens, ora em um registro bruto, ora com um zelo pictórico incomum, é nítida influência, na jovem cineasta”. Diante de um abaixo assinado feito pelos vizinhos, o pai é obrigado a ensinar as filhas algumas habilidades essenciais, como por exemplo, fazer comida e ajudar nos serviços domésticos para não perder a guarda das filhas para a tutela do Estado. E é nesse contexto problemático e polêmico, que o documentário se desenvolve. Entendendo os filmes através de Pedagogia da imagem Hoje, podemos dizer a partir dos estudos sobre a Pedagogia da imagem que a sociedade contemporânea situa-se através das visualidades e que as constantes representações, identificações, expressões e significações que realizamos, nascem mediante a sua ligação com as imagens existentes no seu cotidiano. Acreditamos que as imagens e narrativas nos permitem conhecer como procedem as vivências para se ensinar, em um contexto tão desafiador, assim como 28

[...] impressiona e desafia a uns e a outros, originando visões ou pontos de vista sobre ele. Visões impregnadas de anseios, de dúvidas, de esperanças ou desesperanças que implicitam temas significativos, à base dos quais se constituirá o conteúdo programático da educação. Um dos equívocos de uma concepção ingênua do humanismo, está em que, na ânsia de corporificar um modelo ideal de “bom homem”, se esquece da situação concreta, existencial, presente, dos homens mesmos (Ibidem, p.48).

Diante desse complexo, o filmes podem ser pensados como uma ferramenta que nos chama para um conversa, ou seja, nos aproximam das imagens a ponto delas intervirem na construção das suas identidades. Freire (1987, p.45) nos ajuda a entender como o diálogo é muito mais que a troca de palavras, o autor aborda que este é “o encontro em que se solidariza o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar ideias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca das ideias a serem consumidas pelos permutantes”. Portanto, é essencial captarmos as visões, anseios, dúvidas, esperanças ou desesperanças dos sujeitos através do diálogo, ou seja, da conversa. Freire aborda que o diálogo é a historicização e não um produto histórico, sendo ele um movimento e um encontro. Move-se abrindo a consciência para a infinitude e encontra-se com “o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo e ser transformado e humanizado” (FREIRE: 1987, p.45). Um pequeno olhar sobre a cultura dos pares na visão de Vygotsky Vygotsky proporcionou uma contribuição significativa ao estudo de cultura dos pares ampliando seu conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal − ZDP. Como afirma ser a: A distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração em companheiros mais capazes (VYGOTSKY: 2003, p.112). 29


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