Do Esforço

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9 As images, the photographs are shockingly direct and, at the same time mysterious, elliptical and fragmentary, reproducing the texture of the experience without explaining it’s meaning. Henry M. Sayre, The rhetoric of the pose, p.44

não se afirmam em demasia. Depois de tanto tempo de feito este trabalho, preocupa-me que a maneira pouco direta como essas imagens se apresentam, a maneira intencionada para elas, e que suas características visuais , também intencionadas, cheguem a trocar-se com o sentido do trabalho, para quem as vier contemplar. Talvez pelo contato excessivo com elas, vindo da escrita desse texto, esteja eu criando falsas questões. Fato é que o trabalho está feito e que se for continuá-lo há muito que ser revisto (que vem sendo revisto). Percebo que, de todas as imagens que fiz, excluí aquelas que possuíam algo de muito particular, fosse no movimento ou postura dos corpos, no desenho luminoso, na intenção dos olhares. E, se vejo um excesso de controle nesse conjunto apresentado, talvez a inclusão desses desvios viesse a (des)consertá-lo. De uma maneira ou de outra, entendo que essa escolha tenha vindo da prioridade de construção do discurso desejado e da preocupação de apresenta-lo com clareza na imagem. Acredito que essa preocupação se apresente como um sintoma. O sintoma de uma relação com a fotografia que existe nesse trabalho e que existiu em outros anteriores a ele; algo como uma vontade de qualificar a fotografia, de esmiuçá-la em sua relação com o mundo. Talvez seja o desconforto ao lidar com a ambiguidade inerente à fotografia a que se refere Sayre:

“Como imagens, as fotografias são brutalmente diretas e, ao mesmo tempo, misteriosas, elípticas e fragmentárias; reproduzindo a textura da experiência sem explicar seu significado.”9 Talvez Sayre trate aqui de um tipo de fotografia, uma fotografa que se pretende direta e que reproduz diretamente um tipo de experiência, a visível. Talvez o visível tenha mesmo se tornado um tipo de verdade — como em “é preciso ver para crer” — e talvez seja o olho a grande máquina de mitos que inventamos.

10 Carnaval Amarelo, 2008

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Se o mistério da imagem fotográfica reside na maneira como ela apresenta algo de passado, algo do mundo em sua aparência; se sua especificidade é justamente a capacidade de criar um mito em torno do objeto a que ela se refere a partir de sua presença invisível, então entendo


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