Onde foi que voces enterraram nosso mortos edição atualizada

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sair do país. Ao perceber que o casal não iria cair na armadilha da retomada da luta guerrilheira, Alberi se propôs a ajudá-lo na fuga para o exterior, acrescentando que era de Foz do Iguaçu, com muitos conhecidos e facilidade de trânsito na fronteira. Madalena e Gilberto deveriam viajar via Curitiba e encontrá-lo na rodoviária de Foz, onde atravessariam a fronteira para juntar-se ao Onofre na Argentina. Ao mesmo tempo em que Madalena e Gilberto eram sequestrados em Curitiba, a Rural Willys conduzindo o “grupo de Onofre” chegava ao Porto Moisés Lupion, em Capanema. Naquela viagem o balseiro não levou mais ninguém. Depois que a Rural passou, uma patrulha do Exército se postou nas proximidades de Santa Clara, último povoado antes de chegar ao Porto, e não deixou passar mais nenhum carro. Na outra ponta, em Medianeira, uma segunda patrulha fazia o mesmo fechando o Caminho do Colono, na entrada de Capoeirinha. Aquela era uma noite sombria. Alberi e Otávio Rainolfo da Silva sabiam que estavam conduzindo para a morte o grupo que na véspera chegara da Argentina. O “plano”, que havia sido passado e repassado naquela tarde no sítio, era atravessar o rio, “entrar em contato com outros companheiros, apanhar as armas que estavam em um esconderijo localizado à beira da Estrada do Colono e tocar em direção a Medianeira, onde seria feita a expropriação. Depois da ação eles voltariam para o acampamento e esperariam por Onofre. A confiança em Alberi era cega e todos se sentiam como os novos guevaras, guerrilheiros heroicos que instalariam o foco guerrilheiro que iria deflagrar outros tantos, surgindo em seguida à coluna guerrilheira que apoiada por camponeses, operários e setores da classe média libertaria o Brasil do jugo dos militares entreguistas e instalaria a república socialista.Eles eram idealistas, generosos e estavam embriagados de utopia. Ernesto, 18 anos, estudante de agronomia; Daniel, 29, torneiro mecânico; Joel, 26, operário gráfico; Vítor, 30, escultor; e Lavechia, 55, sapateiro. Lavechia era o mais experiente de todos. Esteve com Lamarca no Vale da Ribeira e passou pelo campo de treinamento de guerrilhas em Cuba. Talvez tenha sido por isso que ele pediu uma arma para Alberi ao entrarem na balsa. “Desarmado eu não passo pro outro lado”, reclamou o veterano assim que o grupo chegou à barranca do Rio Iguaçu. “Que não seja


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