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2 OPINIÃO

Porto Velho, Rondônia, terça-feira, 07 de janeiro 2014

Artigos

PALAVRA ESPÍRITA

CONTRA A CAFONICE [Versão revisada e ampliada da minha crônica de 30 de outubro de 2012, que não resisto a publicar aqui, dado o Halloween diário brasileiro, cada vez mais alarmante. Oremos:] Por Felipe Moura Brasil Benditas sejam as moças de vestido sem brilhos, ombreiras e tantos babados, sem cintos de couro, barbante, metal, muito menos fivela; e jamais embaladas a vácuo, pois que a sensualidade, para além da atitude, está mais no detalhe do tecido que roça o corpo em movimento que no grude integral ao corpo estático. Benditas sejam as moças de calça jeans e blusinha branca ou preta, sempre básicas por ruas e bares – como aliás pedem as ruas e os bares, nas calçadas da Pavuna ou do Leblon -, e quiçá de alcinha, como quem dá de ombros aos excessos da moda e leva o sorriso à frente da roupa. Benditas sejam as moças que não saem para tomar um chopinho como quem vai para um casamento, e nem vão para um casamento como quem vai para um Halloween. Benditas sejam as moças capazes de colocar um shortinho e um par de chinelos, e descer em 5 minutos se o homem diz que está passando na portaria, conscientes de que nada é mais elegante que uma mulher despojada e

segura de si. Benditas sejam as moças de sandalinha rasteira, sempre baixa, mas, em último – e somente último – caso, aptas a andar e sambar de salto, porque é o samba que dá a medida – mesmo que a ocasião não obrigue ao samba – da altura que uma mulher pode ter. Benditas sejam as moças de bolsas funcionais e discretas – adeus, correntes douradas -, daquelas que jamais atrapalham o abraço, nem substituem a lanterna em caso de apagão, muito menos parecem, redondas, uma capa de pandeiro ou tamborim. Benditas sejam as moças atléticas, que, ao se vestirem, buscam mais suavizar seus atributos – para fugir ao exibicionismo das periguetes turbinadas – do que ocultar seus defeitos – pendurando a saia nos seios, por exemplo, para encobrir a bunda faltante – e ainda dispensam a mão na cintura para tapar o pneuzinho no álbum de fotos. Benditas sejam as moças leves, práticas e apresentáveis à família de seu pretendente,

que não se deixam transformar em bonecas russas ou árvores de Natal, daquelas que, de tantas camadas (peças de roupa e cosméticos) e enfeites (colares, pulseiras, braceletes, brincos, pingentes e anéis), um homem precisaria de dois ou três Dias de Reis para desmontar. Benditas sejam as moças que se sabem bonitas, pois nada é mais feio que uma moça bonita que tenta, à força de maquiagens, parafinas e demais pilantragens, ser aquilo que, sem elas, já é. Benditas sejam as moças feias que se embelezam pela força de sua personalidade, de seu caráter e das suas realizações, bem como pela via dos exercícios físicos, ao invés de buscar a solução agravante de um artificialismo (cirúrgico) qualquer. Benditas sejam as moças, bonitas ou feias, cujos pais – sobretudo o pai -, quando não também os demais homens de sua vida, disseram-lhe sempre ser a coisa mais linda do mundo, transmitindo a elas a confiança necessária para ignorar os apelos publicitários, que lhes prometem uma beleza

inalcançável à base de todos os produtos que as enfeiam cada vez mais. Benditas sejam as moças curiosas, inquietas e interessadas, que enxergam além das próprias mães e miguxas, sabendo que o senso estético vem do berço e do ambiente, mas, como tudo o mais, pode ser desenvolvido com a ampliação do imaginário e a elevação do espírito, através de um conhecimento que não é servido no Open Bar. Benditas sejam as duas ou três moças que sobraram por aí, imunes ao império da cafonice não (só) pela sorte de terem tido bons exemplos, mas (também) porque, diante do acesso ilimitado aos bens de consumo, conservam o desejo quase extinto de ser muito mais do que aquilo que podem comprar. Benditas sejam as moças que são. ***** Felipe Moura Brasil é colunista de VEJA e, apesar dos pesares, sabe que no peito de uma “árvore de Natal” também bate um coração.

Os Tenharim, a ditadura e seus interesses na região “É preciso que se faça uma investigação da ação nefasta da Ditadura Militar sobre mais esse povo indígena do Amazonas, com a construção da Rodovia Transamazônica e a instalação de seus projetos de interesse saqueador. Num momento em que mais um crime de morte foi cometido contra um líder indígena, o cacique Tenharim, e com mais ameaças em curso, se investigue e se punam os mandantes e as empresas que participaram e continuam participando desses crimes de ontem e de hoje”, defende Egydio Schwade, da Casa de Cultura do Urubuí, Presidente Figueiredo, AM. Eis o artigo. Diante das novas agressões que o povo Tenharim vem sofrendo no seu habitat ao Sul do Amazonas, trago a público trechos de documentos que guardo na Casa da Cultura do Urubuí, ou seja, cartas de agentes do CIMI de 1981, onde estes já denunciam os interesses que comandam as agressões contra esse povo. Interesses não muito diferentes dos de hoje. Veja este relato de 1981, de Exequias Heringer, vulgo Xará, e Ana Lange, ambos então agentes do CIMI atuantes naquela região do rio Madeira: “O grupo Paranapanema tem duas minerações de cassiterita na região: Igarapé Preto e São Francisco. Estivemos na primeira onde obtivemos informações com a equipe de engenheiros local. Lá a mineração se estabeleceu em cima da aldeia indígena (Tenharim), que teve

de se transferir para uma área anexa. Não recebem qualquer tipo de assistência e se encontravam num triste quadro de catapora. Outros Tenharim estão dentro da reserva a ser demarcada, mas estes declaram que não irão para dentro da reserva apesar dos insistentes convites da FUNAI. Em represália os funcionários da FUNAI transferem a responsabilidade de assistência para a mineração, que declara que os assiste, mas nada faz neste sentido. Hoje são apenas 22 índios. Daqui a dois anos acabará o minério e a Paranapanema implantará um projeto agro-pecuário, aproveitando a infraestrutura instalada. Enquanto isso os índios são aproveitados para serviços de limpeza, de carregamento, de caça. Nenhum dos engenheiros conhece a aldeia atual dos índios, e um deles chegou mesmo a declarar que trata-se de um grupo Karitiana, mostrando muito bem o que é o estilo Paranapanema em relação aos índios.” Relato de agosto do mesmo ano de 1981, assinado pelo Coordenador do CIMI Norte I, Ricardo Parente, confirma as informações acima: “…dados que pudemos recolher durante a nossa viagem na rodovia Transamazônica, trecho de Humaitá até a mineração de estanho pertencente à famosa Paranapanema, empresa nacional que conta com forte apoio dos meios militares. Quando chegamos na mineração, localizada no igarapé Preto, área usurpada dos Tenharim, o pessoal da firma nos disse

que dias antes o supremo patrão da Paranapanema estivera no local com alguns generais especialmente convidados e amigos do maioral da empresa. O objetivo de tão inesperada visita era o seguinte: o chefão queria mostrar aos generais como funciona a mineração a fim de conseguir a aprovação militar para a exploração das ricas jazidas de estanho que estão em Ipitinga(Pitinga). A maior parte dessa jazida está em território dos WaimiriAtroari. Informaram-nos que a empresa também está em contato com o Cel. Nobre da Veiga, presidente da Funai, a respeito do assunto. Sabese que em Ipitinga há uma das maiores concentrações de estanho que, segundo os cálculos dos engenheiros, durará cerca de 15 anos para ser esgotado. Eles pretendem construir uma pequena hidrelétrica própria para abastecer de energia o projeto e construir casas de alvenaria. Esses dados são muito preocupantes… se prenunciam muito desfavoráveis aos povos indígenas Waimiri-Atroari.” E o relatório de Xará e Ana Lange nos fornece ainda outros dados preocupantes sobre os interesses da Paranapanema: “Atualmente tem as seguintes minerações: Novo Planeta, no norte de Mato Grosso; Bacajás, no Pará; Maçanã (Massangana?), em Rondônia, além das duas citadas. No ano que vem implantará mais duas, sendo uma a chamada Ipitinga, que estará em sua maior parte dentro do território WaimiriAtroari. Os engenheiros de

minas que trabalharão em Ipitinga estão sendo treinados no Igarapé Preto e eles conhecem as dificuldades que a Paranapanema está encontrando para invadir a área indígena. Recentemente o dono da Paranapanema, Otávio Lacombe, recepcionou um grupo de generais no Igarapé Preto, para convencê-los dos bons serviços que Ipitinga poderá prestar ao Brasil. Os engenheiros estavam exultantes com a impressão que os generais tiveram.” E o relatório conclui: “A Paranapanema utiliza tecnologia importada dos EE.UU. e consultores americanos, canadenses e malasianos.” Como se pode ver é preciso que se faça uma investigação da ação nefasta da Ditadura Militar sobre mais esse povo indígena do Amazonas, com a construção da Rodovia Transamazônica e a instalação de seus projetos de interesse saqueador. Num momento em que mais um crime de morte foi cometido contra um líder indígena, o cacique Tenharim, e com mais ameaças em curso, se investigue e se punam os mandantes e as empresas que participaram e continuam participando desses crimes de ontem e de hoje. A questão Tenharim é uma questão de lesa humanidade que deve merecer providências do Ministério Público Federal, da Comissão Nacional da Verdade e da Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA. É uma questão de justiça. (Instituto Humanista Unisinos)

Ponto de Vista: Os artigos assinados não traduzem necessariamente a opinião deste jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular debates dos problemas naconais e, principalmente regionais.

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CARIDADE Emmanuel CARIDADE é, sobretudo, AMIZADE. Para o faminto — é o prato de sopa fraterna. Para o triste — é a palavra consoladora. Para o mau — é a paciência com que nos compete auxiliá-lo. Para o desesperado — é o auxílio do coração. Para o ignorante — é o ensino despretensioso. Para o ingrato — é o esquecimento. Para o enfermo — é a visita pessoal. Para o estudante — é o concurso no aprendizado. Para a criança — é a proteção construtiva. Para o velho — é o braço irmão. Para o inimigo — é o silêncio. Para o amigo — é o estímulo. Para o transviado — é o entendimento. Para o orgulhoso — é a humildade. Para o colérico — é a calma. Para o preguiçoso — é o trabalho. Para o impulsivo — é a serenidade. Para o leviano — é a tolerância. Para o deserdado da Terra — é a expressão de carinho. CARIDADE é o AMOR, em manifestação incessante e crescente. É o sol de mil faces, brilhando para todos, e o gênio de mil mãos, amparando, indistintamente, na obra do bem, onde quer que se encontre, entre justos e injustos, bons e maus, felizes e infelizes, porque, onde estiver o Espírito do Senhor aí se derrama a claridade constante dela, a benefício do mundo inteiro. Para conhecer melhor o Espiritismo, procure o Centro Espírita mais próximo da sua casa, em qualquer cidade do Estado de Rondônia. Informese no site da Federação Espírita de Rondônia FERO (http://www.fero.org.br) ou pelo telefone: (69) 3222-5930.

Delicadas transições Por Paulo Guedes

A economia mundial enfrenta em 2014 delicadas transições. Apesar das favoráveis estimativas quanto a uma reaceleração do crescimento global, o fato é que há enormes desafios a serem superados em diversas regiões do planeta. A economia americana terá de demonstrar resiliência ante a gradual retirada dos estímulos monetários. As maciças injeções de recursos, as compras de títulos de renda fixa e a derrubada dos juros pelo Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, elevaram os preços desses títulos, das ações e dos imóveis, aumentando a riqueza, reativando o consumo e reduzindo a taxa de desemprego. A transição de uma recuperação cíclica para o crescimento sustentável nada tem de trivial. Os europeus continuam sua difícil travessia institucional de regimes fiscais nacionais embutidos em regime de moeda única supranacional. Enquanto o Fed infla os preços dos ativos, camufla as perdas com a farra do crédito e transfere para os contribuintes os custos das operações de salvamento financeiro, o Banco Central Europeu, sob influência alemã, tornou- se a “instância dominante” da teoria dos jogos, forçando os tesouros nacionais a apertar o cinto. Por quanto tempo abusarão os americanos do direito de emitir a antiga moeda-reserva da economia mundial, o dólar? Por quanto tempo aguentarão os europeus a disciplina exigida pelo euro, candidato a futura moeda- reserva global? Há também importantes transições ocorrendo na Ásia. Os alquimistas japoneses praticam agora o “Abenomics”, tentativa de transformar papel colorido em riqueza. Os primeiros efeitos são sempre agradáveis. Sobem as bolsas, aumentando a “riqueza”, a moeda se desvaloriza, estimulando as exportações. Nada melhor em meio à guerra mundial por empregos. Os problemas estarão à frente, quando subirem a inflação e os juros, pois a dívida pública excede 200% do PIB. Já a China tem de transferir para seu mercado interno de consumo de massa o eixo de sua dinâmica de crescimento, hoje sustentada por forte ritmo de investimento em infraestrutura e pela fabulosa engrenagem de geração de empregos lubrificada pelas exportações. E o Brasil? Nada trivial transformar em crescimento sustentável uma expansão cíclica à base de crédito e transferências de renda já em estágio de exaustão.


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