Arca - 4ª Edição

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Palavra do Editor

EDIÇÃO 04 | ANO 02 | DEZEMBRO 2014

01 Palavra do Editor

T

emos o imenso prazer em fechar o ano de 2014 com mais uma edição da Revista ARCA. Chegamos à quarta edição. Com as dificuldades normais em conseguir verba, publicá-la tem sempre um sabor de vitória! A cada edição atingimos um número sempre crescente de leitores, o que nos deixa realizados e convictos de que fazemos um bom trabalho. Nesta edição, além das seções importantes com dicas sobre a Língua Portuguesa e indicação de boa leituras, mostramos que o segundo semestre de 2014 foi rico em atividades acadêmicas, como os leitores poderão conferir na seção “Aqui Aconteço”. Tivemos muito prazer em mostrar a alegria e satisfação dos premiados nos concursos “Literário de Poesia e Prosa” e “Redação na Escola”. Assim, terminamos o ano com a certeza de que caminhamos no caminho certo e bons frutos temos colhido. É com gratidão aos acadêmicos, colaboradores, apoiadores e patrocinadores, que encerramos este ano. Boa leitura e que 2015 seja profícuo em eventos literários e que venham outras edições da revista ARCA!

02 Bastidores 04 Letras em Retrato 08 Por Onde Andei... 10 Crítica Literária 12 São João à Vista 16 Academia em Revista 18 Luz Grafia 20 Arcadianas 56 Luz Grafia 50 Aqui Aconteço... 62 Sopa de Letras 64 Afiando a Língua 66 Livros ARCA | 3

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Bastidores

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M

ais um ano se finda! Chegam ao fim o ano e também a gestão desta diretoria, idealizadora da Revista ARCA. A presidente está reeleita e com ela segue a diretoria com pequenas modificações, de acordo com o novo Estatuto. Quanto aos projetos e eventos culturais, foram oito acontecimentos ao longo do segundo semestre, entre palestras, concursos e homenagens, além de posse de seis novos acadêmicos. Deve-se acrescentar aos acontecimentos a visita da presidente à cidade de Treze Tílias/SC, em que esteve com a Consulesa Honorária da Áustria para Santa Catarina, Sra. Anna Lindner von Pichler, e para ela deixou muitos dos trabalhos realizados pela Academia de Letras de São João. Estudam a possibilidade de instalação de uma Arcádia por lá. As fotos ao lado mostram o quanto se trabalhou nos bastidores para essas realizações, que poderão ser vistas nas páginas finais da Revista. Os textos continuam de acadêmicos, a abrilhantarem a ARCA, já em sua 4ª edição. Ela chega às mãos do sanjoanense poucos dias antes das festas natalinas, por isso toda a equipe de realização procurou deixá-la fraterna, para ser um presente no “Feliz Natal” de cada lar. No próximo ano, novas edições chegarão até você, leitor. Aguarde! Boas Festas!

Lucelena Maia Presidente ARCA | 5

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Letras em Retrato

Uma Noite Daquelas em São João...

S

ão João da Boa Vista, 10 de setembro de 2014, Theatro Municipal.

O ensaio durante a tarde deixou o ma-

estro Paulo Rowlands, da Orquestra Camerata Brasileira, preocupado. Não havia sido dos

melhores. O grupo parecia desatento, e o mais desatento de todos era o solista Jean William.

Experiente, o maestro já assistiu (ou re-

geu) a espetáculos desastrosos. Sabe que tem dias em que inexplicavelmente nada dá certo: a plateia não vibra, os músicos não se acertam e

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“a coisa acontece sem vida”. Diante da aparente

anos do Theatro Municipal e dos 50 anos da

desatenção do solista Jean William e da falta de

Unifae. Fazia tempo que os dirigentes do

entrosamento dos músicos, temeu que aquela

Theatro tentavam trazer Jean William a São

seria mais uma dessas desastradas apresenta-

João. Um sonho distante, afinal, o jovem solista

ções.

vinha de turnê internacional, sendo requisitaApesar dos desacertos, a tranquilidade de

do para vários espetáculos. Só havia uma data

Jean William espantava o maestro. De camiseta

em sua agenda e muitas cidades disputavam a

e bermuda, muito à vontade, o olhar do solista

apresentação.

percorria os detalhes do Theatro de São João da

Boa Vista e parecia estar longe dali.

Vista.

Em

quantos

outros

teatros

Jean

Mas, a escolhida foi São João da Boa O empresário Fred Rossi, o criador do

William já se havia apresentado antes? Tan-

famoso “Circuito Universitário” na década

tos mais bonitos ou mais glamourosos como o

de 70, interferiu na escolha. Fred, que foi em-

Avery Fisher Hall, no Lincoln Center de Nova

presário de Vinicius de Moraes, entre outros,

York, Sala São Paulo ou os ricos Teatros de

é um romântico por natureza. O Circuito tinha

Milão, onde estudou música?

esta característica: o romantismo de contesta-

E foi regido antes por quantas outras

dores que queriam a volta da democracia. Ar-

batutas além da dele: Carlos Spierer, Cláudio

tistas como Vinicius de Moraes, Toquinho, Elis

Cruz, Olivier Toni, Diogo Pacheco, Martinho

Regina, Chico Buarque e Caetano Veloso se

Lutero Gallati, Guido Rimonda, entre tantos,

apresentavam para estudantes, cantando pelo

sem falar em João Carlos Martins, o revelador

fim da ditadura. Romanticamente apaixonados

de Jean William para o cenário lírico.

pelo Brasil e pela liberdade.

Depois de percorrer o mundo todo, de

A apresentação para comemorar os 50

pisar nos palcos mais famosos e cantar, en-

anos de uma universidade era como reviver um

tre outros, para o Papa Francisco, o maestro

pouco do que foi o Circuito Universitário.

Paulo Rowlands não poderia imaginar que Jean

William estivesse emocionado por estar em São

riu na escolha de São João. Depois da turnê pela

João da Boa Vista. Mas, o solista estava verda-

Europa, estava com saudade do interior, de uma

deiramente emocionado. E o resultado desse

cidade que o fizesse lembrar-se de Sertãozinho,

estado de espírito o maestro só conheceria à

onde nasceu, ou de Barrinha, onde foi criado.

noite.

A noite era em comemoração dos 100

O próprio Jean William também interfe-

Absolutamente comprometido com as

questões sociais, Jean William se emocionou ARCA | 7

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quando soube do perfil dos universitários da Unifae: jovens, trabalhadores, de origem humilde, que trabalham durante o dia para estudar à noite, à procura de um lugar ao sol, mesmo diante de tantas adversidades. Impossível não lembrar-se de sua própria luta. Também se emocionou ao saber que iria cantar no Theatro Municipal. Diria depois: “Sou um artista e este é meu habitat. O lugar é lindo, um monumento do Estado de São Paulo que eu queria conhecer.” Por isso, Jean William estava disperso naquele ensaio. Lembrava-se da infância pobre, quando subia no alto de uma árvore lá em Barrinha e ficava comtemplando o horizonte, tentando imaginar o que a vida lhe reservaria. Quando a noite começou, o maestro Paulo Rowlands ainda se preocupava com o descompasso do ensaio. Não havia entendido a aparente desatenção de Jean William e a insistência de incluir no show a apresentação de um aluno da Unifae, Guilherme Quartier Costa. Uma apresentação desastrada do rapaz poria tudo a perder, quebraria o ritmo do show. Melhor seria não arriscar, mas Jean William insistia. Queria dar uma oportunidade ao garoto e fez questão de tratá-lo como um colega e não como um amador. Depois, o maestro reconheceu que aquela havia sido uma grande ideia. O garoto deu conta do recado e logo no primeiro segundo de “Il sole mio’, arrancou aplausos da plateia surpreendida com seu talento.

Antes, no início do show, o maestro já

havia percebido que aquela não seria uma noite comum. Jean William estava impressionantemente inspirado e sua inspiração contagiou a todos, a começar pelos músicos, atingindo a plateia.

Com lágrimas nos olhos, e ainda vibran-

do com os aplausos calorosos dos sanjoanenses, Paulo Rowlands definiu assim o espetáculo que regeu:

“Tem coisa que acontece e não se expli-

ca. Havia algo de muito especial no ar. A química foi perfeita, tudo deu certo. A vibração da plateia contagiou ainda mais a todos nós. Jean William esteve próximo da perfeição. Uma noite daquelas, para jamais ser esquecida.” SOBRE JEAN WILLIAM

Apaixonado desde cedo por música

e extremamente dedicado aos estudos, Jean formou-se em música pela ECA-USP; ainda estudante, participou dos mais importantes festivais do Brasil, dentre eles, o Festival Internacional de Campos do Jordão. Apoiado pelo maestro João Carlos Martins, desde 2009, apresentou-se como solista em palcos como a Sala São Paulo e Avery Fisher Hall, no Lincoln Center de Nova York, recebendo elogiosa crítica. Como bolsista do projeto VOCALIA viveu e frequentou aulas em Milão com grandes nomes do cenário lírico como Davide Rocca, Luciana Serra, Umberto Finazzi, entre outros.

O cantor de 28 anos fala fluentemente

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inglês, espanhol, italiano e francês, o que lhe

permite apresentar-se nos mais renomados pal-

Barrinha, cidade da região de Ribeirão Preto,

cos nacionais e internacionais, destacando-se no

que vive da cultura canavieira e atrai imigran-

cenário artístico e cantando à frente de impor-

tes de todo país em época de safra, no dia 29

tantes orquestras e grupos no Brasil e em países

de junho de 2012, Jean entrou para a história da

como Emirados Árabes, EUA, Itália, Portugal,

cidade ao ser homenageado com o anfiteatro do

Suíça e Argentina.

local que foi batizado com o seu nome: Anfite-

Desde 2012, faz temporadas de concertos

atro Municipal de Barrinha Jean William Silva.

e recitais dentro e fora do país, tendo estreado

Uma inauguração cheia de emoção em que o

uma ópera moderna pelo teatro Comunale de

homenageado se lembrou de uma citação anô-

Vicenza (Itália), recebendo calorosa recepção

nima apropriada para o momento: “Para saber

do programa Ridotto Del Ópera da Rádio Suíça

aonde chegamos, é preciso nunca nos esque-

italiana.

cer de onde viemos, afinal, é de lá que a gente

aprende a ver o céu”.

Jean já cantou sob a batuta de maestros,

Nascido em Sertãozinho e criado em

como: Carlos Spierer, Claudio Cruz, Olivier Toni, Diogo Pacheco, Martinho Lutero Gallati, Guido Rimonda e apresentou-se com distintos grupos e orquestras nacionais e internacionais, sendo admirado pelo público e por artistas.

Francisco de Assis Carvalho Arten Cadeira 10 Patrono Darcy Ribeiro ARCA | 9

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Por onde andei... T

odos temos sonhos de conhecer lugares... O meu era conhecer a terra das vaquinhas... Explico: quando pequena, nos finais de semana, meu pai, presenteava-nos, a meus irmãos e a mim, com o esperado chocolate ao leite da extinta marca “Falchi”. Maravilhoso, delicioso, derretia na boca, cuja embalagem retratava um cenário da Suíça: os montes nevados ao fundo e, nos pastos verdejantes e floridos, vaquinhas malhadas . Quem é do meu tempo, com certeza se lembra! Sonhava com essa imagem e dizia: um dia conhecerei esta paisagem... E não me decepcionei! No ano passado, acompanhada de meu eterno companheiro, pude realizar mais este sonho, ora realidade. Nos meses mais frios do ano, a terra dos relógios precisos, das vacas gorduchas, contas bancárias sigilosas e dos canivetes multifunções , lota de turistas ávidos por curtir o frio em meio ao charme dos Alpes. Mas é no verão que se tem a oportunidade de vivenciar as quatro estações de uma só vez. Enquanto alguns aproveitam para se banhar nas águas límpidas do Rio Limmat, os picos de neve eterna garantem temperaturas abaixo de zero, seja qual for a época do ano. Estive por lá, justamente nesse clima. Nessa brincadeira de “tá quente, tá frio”, a fantástica rede ferroviária exerce papel fundamental. O turista embarca no calor do verão e desembarca, com luvas, cachecol e dentes batendo, em montanhas com temperatura abaixo de zero. Desculpe-me o chavão, porém, não há deixar de dizer: foi uma viagem de sonho muito esperado, mas realizado! Maria José Gargantini Moreira da Silva Cadeira 39 Patrona Clarice Lispector 10 | ARCA

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Crítica Literária Duplicidade

“Escrevo o Que Não Sou”

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á uma crônica de Rubem Alves com o título “Escrevo o Que Não Sou”, e nela ele trabalha com a questão da duplicidade existente entre o escritor e o que é escrito, e consequentemente sobre a identidade do autor. Desta maneira, ele questiona: - O autor e sua obra mostram a mesma personalidade? São as mesmas pessoas? Existiriam dois “eus”: o que escreve e o que vive o prosaico cotidiano? O autor seria personagem de si mesmo? Qual seria o “eu” real, o “eu” verdadeiro? Ele mesmo tenta responder relatandonos que: “Eu não sou igual ao que escrevo e, como Fernando Pessoa, sou um fingidor”: O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. Antônio Machado, grande poeta espanhol, de Andaluzia, sabendo desta dicotomia, afirmava que o poeta “Si miente más de la cuenta Por falta de fantasia: También la verdad se inventa

Zaratustra, profeta e poeta persa, nascido antes de Cristo, já advertia que “os poetas mentem demais”. Fernando Pessoa, possuindo os mesmos questionamentos, talvez numa tentativa de fuga, ou de encontro de seu “eu”, chegou a construir vários heterônimos e trafegou poeticamente entre ele próprio e os “Outros”. Acreditava, no entanto, que era muito pequeno quando comparado com a sua obra e num dos seus poemas chega a dizer: “Depois de escrever, leio... Por que escrevi isso? Onde fui buscar isto? Isto é melhor do que eu...” Vinha-lhe então a suspeita de que aquilo que ele escrevia não era obra dele, mas de um Outro e assim se expressou: “Seremos nós, neste mundo, apenas canetas com tinta com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?”. Em outro poema, Álvaro Campos, heterônimo de Pessoa, a procura desse “eu”, escreve:

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“Não: devagar. Devagar, porque não sei Onde quero ir. Há entre mim e meus passos Uma divergência instintiva. Há entre quem sou e estou Uma diferença de verbo Que corresponde à realidade.” (...) Se dermos, no entanto, um passeio pela literatura, veremos que este questionamento, esta duplicidade, esta inquietação quanto da própria identidade, não é raro de se encontrar. Jorge Luiz Borges escreveu um conto intitulado: “Borges e Eu” onde trabalha a mesma problemática, em que o “eu” é “a pessoa de carne e osso, a que caminha por Buenos Aires, a que se detém para olhar o arco de um saguão e a porta envidraçada”, é quem “se deixa viver para que Borges, o escritor, possa tramar sua literatura”. Dessa maneira sentencia: “é, a este a quem sucedem as coisas”. Ainda, num desabafo diz: “Estou destinado a perder-me definitivamente, e sei que apenas algum instante de mim poderá sobreviver no escritor Borges. Há anos tratei de livrar-me dele e passei a interessar-me por outros temas como o tempo e o infinito, mas logo Borges apropriou-se deles”. E, desorientado conclui: “minha vida é uma fuga. Não sei qual dos dois escreve esta página”. Sá Carneiro, poeta contemporâneo e conterrâneo de Fernando Pessoa, também sofria este mesmo mal e escreve seu autorretrato afirmando: “Eu não sou eu, nem sou o outro, Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte do tédio Que vai de mim para o Outro.” Já, Cecília Meirelles, na procura de sua identidade, num belo poema, relata-nos que:

“Entre mim e mim, há vastidões bastantes para a navegação dos meus desejos afligidos. (...) Ó meu Deus, isto é minha alma: qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário, como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera..” No “Livro do Desassossego” de Bernardo Soares, ele vai nos relatar que: “sou o intervalo, a média abstrata e carnal, entre o que sou e o que não sou, entre o que sonho e o que a vida fez de mim.” Nas palavras do literato Gilberto M. Kujawsky, nesta labuta há simplesmente “um desejo de completude, a busca de si mesmo no seio do desconhecido”. Retornamos, para finalizar, a Rubem Alves que tenta justificar a duplicidade, esta procura do “eu” afirmando que: “não se trata de mentira, pois não há mentira, não há falsidade, o que existe são corpos dilacerados”. Conclui relatando que a poesia não é uma expressão do ser do poeta, a poesia é uma expressão do não-ser do poeta. – “Oh! Pedaço arrancado de mim!”. Neste mesmo diapasão Álvaro Campos exclama: “Acima de tudo o mundo externo Eu que me aguente comigo e com os ‘comigos’ de mim.”

Maria Célia de Campos Marcondes Cadeira nº 11 Patrono Machado de Assis ARCA | 13

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São João à Vista Ave, Guiomar de São João!

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uiomar Novaes nasceu em 28 de fevereiro de 1894, na Rua Santo Antonio, 343 - atual Teófilo de Andrade, em São João da Boa Vista. Filha de Manoel José da Cruz Novaes e Anna de Carvalho Menezes Novaes. Era a décima sétima de dezenove crianças. A família de Guiomar era composta por vinte e uma pessoas. Dos dezenove filhos do casal Novaes oito morreram e foram criados onze: Maria Amélia, Jorge, Alice, Anthenora, Tereza, Anália, América, Accacio, Guiomar, Gastão e Aurora. Guiomar Novaes começou a tocar aos quatro anos. Quando “descobriu” o piano, uma força e um encantamento a fazia tocar impulsivamente. Era uma criança musical e quando ouvia outras crianças no jardim da infância cantarem, logo ia para o piano e tocava o que acabara de ouvir. O pai arranjou um professor para a filha prodigiosa. Com seis anos sua família mudou-se para São Paulo e ela começou a estudar piano com Luigi Chiaffarelli, um italiano que foi aluno de Busoni. Aos sete anos ela compôs uma pura e modesta valsa “Jardim de Infância”. Aos oito anos, ela não só tocava profissionalmente como era a grande sensação nas salas de concerto de São Paulo. Depois de alguns anos estudando piano na França, Guiomar retorna ao Brasil e no dia

Guiomar Novaes e sua filha Anna Maria

21 de fevereiro de 1914, portando uma gloriosa bagagem, Guiomar Novaes reaparece na sua terra, São João da Boa Vista. Um grande contingente de pessoas que, precedidas pela banda de música do Maestro Aquilino e sob o alvoroço contagiante provocado pelos rojões que espocavam no alto, caminharam para avenida Dona Gertrudes, até a residência do ativo e sempre festeiro João Osório (atual sede do Palmeiras) onde ficou hospedada a concertista. Foi uma vibrante manifestação pública à nossa mais famosa conterrânea. Guiomar, falando sobre sua cidade natal, disse: “Assim como o tempo da infância é o melhor tempo de nossa vida, a cidade em que nascemos, é o mais belo recanto do mundo.”. Nessa mesma noite, no Centro Recreativo Sanjoa-

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nense, ao lado da casa onde ela havia nascido, teve lugar o Concerto de Guiomar Novaes, realizado em benefício das obras da Igreja Matriz de São João. Casou-se com Otávio Pinto em 8 de dezembro de 1922. Uma grande emoção para o casal foi o nascimento da tão esperada Anna Maria, em 22 de setembro de 1923. Futuramente viria outra alegria do casal, o filho Luis Octávio. Após 28 anos de vida em comum, Otávio faleceu na madrugada de 30 de outubro de 1950, de problemas cardíacos. Quando, em meados da década de 1950, a Diretoria do Conservatório Musical de São João da Boa Vista. Decidiu que o nome mais plausível para ele seria Guiomar Novaes, recebeu dela o seguinte comunicado: “A razão desse empreendimento também a ideia apresentada de darlhe o meu nome que, infelizmente, não tem méritos para receber tão grande honra – pois não sou artista criador, como tantos que ilustram a literatura musical e sim uma modesta intérprete que sempre contou com a benevolência dos críticos, do público, de meus patrícios e do carinho de meus conterrâneos sanjoanenses. Tamanhas são as suas delicadezas e atenções que neste momento me obrigam a resignar-me ante esta homenagem que generosamente me prestam, embora reconhecendo que ela ultrapassa, em muito, os merecimentos que a bondade de seus corações insistem em me atribuir”. Em 11 de setembro de 1946, uma quartafeira, Guiomar tocou em São João no Theatro Municipal, para mais um evento beneficente, dessa vez em prol da Casa das Crianças. Foi uma noite brilhante com Guiomar apresentando Gluck, Bheethoven, Chopin, Carlos Gomes, Otávio Pinto - seu marido, Camargo Guarnieri e Franz Liszt.

Palacete Ozório - atual sede do Palmeiras, onde Guiomar Novaes hospedou-se em 1914

Retornou ainda em 1965, para outra apresentação no Theatro Municipal. No camarote estava a Professora Miriam Pipano que não conforma-se até os dias de hoje com um público tão pequeno. “Apenas metade da plateia”, diz Miriam. E, em 1972, Guiomar tocou num recital no Centro Recreativo Sanjoanense. Esse recital marcou muito Vânia Noronha, que, à época, era aluna de piano e admirava a grande mestra, que se hospedou na casa de sua amiga Maria Magdalena Oliveira Azevedo, tia de Cláudio Richerme, seu aluno. A Semana Guiomar Novaes foi criada em 1977, em sua cidade natal, São João da Boa Vista. Em 1978, Guiomar veio a São João e foi homenageada no Cine Ouro Branco, durante a Semana que leva seu nome. Na noite de 7 de março de 1979, Guiomar faleceu em São Paulo. Foi sepultada em 8 de março no Cemitério da Consolação ao som da Marcha Fúnebre de Beethoven. Foi uma das mais notáveis pianistas de todos os tempos. Sua maneira de tocar foi inigualável. Neusa Maria Soares de Menezes Cadeira 30 Patrono Euclydes da Cunha ARCA | 15

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Cinema de Meia Tela E

m comemoração ao centenário do Theatro Municipal, muitos artigos foram publicados na imprensa local, abordando diversos aspectos da trajetória histórica desse importante monumento da vida social e cultural da nossa comunidade. Todo esse clima festivo, às vezes nostálgico, despertou-me reminiscências do tempo de infância, vividas na vizinhança daquele majestoso prédio do centro da cidade. Sempre morei ali nos seus arredores, portanto, o Theatro, exerceu papel relevante na minha formação infantil e juvenil. Fim da década de 50, apesar da existência da televisão, meus pais e nossos vizinhos ainda não possuíam o aparelho. Lembro-me bem da cena cotidiana das noites sanjoanenses daquela época. O rádio ligado, os pais lendo o jornal, as mães se entretendo com livros ou atarefadas executando trabalhos manuais e nós, as crianças, brincando na rua alegremente. Toda a vizinhança mantinha as portas e janelas abertas, de forma que casas, jardins e quintais eram território livre para a criançada, e o nosso vizinho mais ilustre, o Theatro que, apesar da sobriedade do seu conjunto arquitetônico, mantinha conosco uma intimidade maior do que a dispensada a outros conterrâneos.

Além das brincadeiras infantis tradicionais, tínhamos o privilégio de outra opção: o cinema de “meia tela” visto gratuitamente das escadas laterais da rua Antonina Junqueira. Nessa época, o Theatro funcionava como cinema com sessões noturnas diárias. Como estávamos ainda isentos da influência da televisão, o cinema exercia fascínio e paixão sem concorrência. Era uma mistura de magia e deslumbramento para nós crianças de uma cidade do interior paulista. O cinema era tudo, ponto de encontro, espaço de sonho, de entretenimento, de flertes e namoricos. Quanta vibração, quando ouvíamos a música tema de abertura da sessão e as imensas e grossas cortinas vermelhas se abrirem vagarosamente anunciando o início do espetáculo. Como o cinema não tinha ar condicionado, nas noites de verão as portas eram abertas para ventilação, ficando aparente somente uma grade de proteção, permitindo que, aglomerados na escada, nós conseguíssemos assistir parcialmente ao filme com ângulo de visão reduzido. E dali, devidamente posicionados, juntamente com outros assistentes eventuais, ficávamos nos vangloriando do espaço conquistado. Como éramos crianças ativas, somente filmes de aventura conseguiam prender nossa

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atenção por alguns instantes. Os preferidos eram os de faroeste, principalmente os estrelados por John Wayne, que caracterizava o heroi implacável contra índios e bandidos. Tarzan e os grandes épicos de Hollywood também despertavam emoção. Dos nacionais, o preferido era o Mazzaropi. Filmes românticos, suspense e comédias adocicadas eram sumariamente descartados em favor das saudáveis brincadeiras de rua. Essa diversão durou anos, até que um dia para nossa surpresa e desapontamento co-

locaram um biombo de madeira impedindo totalmente a nossa visão. E como dizia a célebre frase do grande locutor esportivo da Rádio Bandeirantes Fiori Gigliotti no término das partidas: “Fecham-se as cortinas e termina o espetáculo”.

Raul de Oliveira Andrade Filho Cadeira 44 Patrona Cecília Meirelles ARCA | 17

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Academia em Revista A

Academia de Letras completou 43 anos no dia 15 de novembro e, homenageá-la, segundo a diretoria em exercício e reeleita para a gestão 2015|2016, é manter a Instituição ativa em todas as formas de arte, especialmente na literatura. A agenda cultural da Instituição esteve lotada nos últimos dois anos. Homenageamos a poeta sanjoanense Orides Fontela; os 120 anos de Mario de Andrade e a Literatura de Cordel. O Centenário de Vinicius de Moraes “o Poetinha do Brasil” e o Centenário de Dorival Caymmi com “O Universo Amado de Caymmi”, foram homenageados com evento lítero musical, no Theatro. Na sede da Academia de Letras, no tradicional Chá Literário, falou-se do Centenário de Dom Tomás Vaquero, um dos fundadores da Arcádia, também, dos 193 anos de São João da Boa Vista e do Centenário do Theatro. A Academia recebeu palestrantes: Drª. Luiza Nagib Eluf, pelo mês internacional da mulher e Dr. Almino Monteiro Álvares Affonso, pelos 50 anos do Golpe de Estado, também a Professora Salete de Almeida Cara, doutora em letras, para falar de “Pessoa através de Pessoas”. Criamos a Revista ARCA, com edições semestrais. Demos

posse para dez novos acadêmicos. Realizamos os XXI e XXII “Concurso Literário de Poesia e Prosa”, e, os 5º e 6º “Concurso Redação na Escola”. Buscamos parceiros para manter a porta da Academia de Letras aberta (Sequóia Loteamentos patrocina a assistente de secretaria e a BVCi a internet). Contamos com a segurança da LeaderAlarm nos eventos. Trabalhamos pela atualização do Estatuto, com redação do confrade Donisete Tavares Moraes de Oliveira e revisão da confreira Beatriz Virgínia Camarinha Castilho Pinto. A Fundação Curimbaba, Cimentolândia, Lamesa, Sequoia, LeaderAlarm, BVCi, 1º Cartório Ceschin, Peres Moto Honda, Padaria Rainha, Sempre Vale, UniFae, UniFeob, Sociedade Esportiva Sanjoanense S.E.S., Jornal Edição Extra, TV União, Gráfica Sanjoanense, Faça Festa, Banca Martins, Colégio Anglo, Elfusa, Departamento de Cultura e Turismo Municipal e Departamento de Educação Municipal foram nossos apoiadores.

Lucelena Maia Cadeira 13 Patrono Humberto de Campos

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Acadêmicos

01-Ronaldo Frigini

02- Wildes Bruscato

03- Lincoln Amaral

04- Mª Candida Costa

05 - João B. Rozon

09 - Silvia Ferrante Lima

10 - Francisco Arten

11 - Maria Célia Marcondes

12 - Luíza Eluf

13 - Lucelena Maia

14 - Marcos Parolin

15 - Cyro Sanseverino

17 - João Batista Scannpieco

José Ricardo Noronha Neoacadêmico

19 - João Otávio Junqueira

20 - Lauro Borges

21- Pe. José Benedito

22 - Sérgio Meirelles

23 - Celina Varzim

24 - Vânia Noronha

25 - João Sérgio Januzelli

26 - Wilges Bruscato

27 - Antônio “Nino” Barbin

28 - Luiz Antônio Spada

29 - Antônio Pádua

30 - Neusa Menezes

31 - Beatriz Castilho Pinto

32 - Antônio Carlos Lorette

33 - Carmem Balestrim

34 - Jorge Splettstoser

35 - William Oliveira

36 - Carmem Lia Romano

37- João Batista Gregório

38- Donisete Oliveira

39 - Maria José Moreira

40 - Maria Cecília Malheiro

41 - Vedionil do Imperio

42 - Luiz Fernando Dezena

43- Clineida Jacomini

44- Raul Andrdade

45 - Pe. Claudemir Canela (Mil)

Almino Affonso Membro Honorário

Miriam Pipano Membro Honorário

Lígia Fagundes Telles Membro Honorário

06- Gilberto Marcon

07 - Mª Ignez D´Ávila

08 - Sônia Quintaneiro

16 - José Rosa

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LuzGrafia “O sonho é que leva a gente para frente. Se a gente for seguir a razão, fica aquietado, acomodado” Ariano Suassuna

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Natal: Festa da Fraternidade

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a base da doutrina de AMOR, que Jesus Cristo veio trazer ao mundo, está a FRATERNIDADE. O Evangelho (Boa Notícia) nos diz, em primeiro lugar, que Deus é PAI e que, em consequência, todos nós somos IRMÃOS. E, portanto, deveríamos viver como irmãos. Contudo, não é o que vemos acontecendo no nosso planeta. No próximo dia 25 de dezembro,

celebraremos os 2014 anos do nascimento de Jesus Cristo e, no entanto, o que presenciamos no mundo é o crescimento da miséria, que provoca o aumento da violência que, por sua vez, produz as revoluções e as guerras. As perguntas que povoam o nosso pensamento são estas: a causa de tanta miséria é a falta de comida? É a falta de roupas? É a falta de habitações? É a falta de medicamentos? A

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Arcadianas resposta é simples: NÃO! A causa de tanta miséria é a falta de PARTILHA! Uma minoria muito pequena da humanidade, que tem muito, quer ter cada vez mais; e a imensa maioria da população, por isso mesmo, tem cada vez menos! O grande motivo: não há uma CONSCIÊNCIA sólida de que somos todos IRMÃOS, filhos do mesmo PAI, que é Deus. E sem essa consciência sólida, não haverá PARTILHA. A mensagem de Jesus, na cena da multiplicação dos pães, é muito clara. Quando os apóstolos lhe sugeriram mandar a multidão embora, pois já caía a noite, para que “se virassem” quanto à alimentação, a resposta do Mestre teve peso de eternidade: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Entretanto, no meio de tanta gente (mais de 5.000 pessoas), apenas um menino, que trazia consigo cinco pães e dois peixes, se dispôs a fazer a PARTILHA. Dizem alguns exegetas que o milagre da multiplicação que Jesus realizou não foi o dos pães e peixes. Ele fez coisa muito mais difícil: multiplicou nos corações de centenas e centenas de pessoas, que traziam alimentos suficientes para dois ou três dias, escondidos nas dobras dos seus mantos, o gesto fraterno daquele menino que ofereceu tudo o que trazia para a partilha. E sobraram doze cestos, com os restos dos

alimentos, depois que todos se alimentaram! Que grande lição! Por isso é triste verificar que, depois de mais de 2000 anos do nascimento de Jesus, de sua vigorosa mensagem, dos seus exemplos pessoais de conduta, dos seus milagres, de sua paixão e morte na cruz e, sobretudo, de sua Ressurreição gloriosa, a Humanidade continue caminhando sem FRATERNIDADE e, portanto, sem vivenciar a partilha. Ora, não havendo partilha não haverá IGUALDADE; não havendo igualdade, não haverá LIBERDADE; não havendo liberdade, não haverá PAZ, que é o maior anseio do ser humano sobre a terra! Portanto, neste Natal, peçamos a Deus que dê à Humanidade, em especial aos ricos e poderosos, que mantêm o poder político e econômico em todas as nações da Terra, o grande presente da CONSCIÊNCIA DA FRATERNIDADE, para que cada IRMÃO possa levar uma vida digna e, assim, se realize finalmente o pedido feito pelos anjos, naquela primeira Noite Santa: “Glória a Deus nas alturas e PAZ na terra aos homens de boa vontade!”

Antônio de Pádua Barros cadeira nº 29 Patrono é Raimundo Correia ARCA | 23

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A Literatura e a Identidade de um Povo

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ara que serve uma Academia de Letras? Fomentar a cultura, divulgar a literatura, incentivar a leitura, espalhar conhecimento? Se somos de letras, temos de, antes de mais nada, ensinar. Ensinar a ler e a gostar de ler. Não como se faz na escola, mas talvez como se deveria fazer. Jovens não querem livros, querem videogames, whatsapp, facebook, dizem os mais velhos. A cada dia surgem propostas mais inacreditáveis, tecnologia de ponta, e um dia o mundo caberá inteirinho na palma de nossas mãos. Livros de papel são coisa do passado, hoje, a moda é “e-book”, uma boa ideia que, do mesmo jeito, pouca gente lê. E quem não falar inglês está definitivamente perdido. O português foi mastigado, condensado, amarrotado, privado de suas vogais e transformado em novo idioma, quase um código, usado na internet. Nem tudo o que é novo é melhor. Alguns ainda se lembram das vitrolas, dos discos de vinil. Pois é, eles voltaram! Estão na crista da onda, quem tem toca-disco é moderno, poderá ouvir um belíssimo “long-play”. Há lojas vendendo essas relíquias a preço de ouro e Antiquários, comercializando os grandes sucessos de 1940/50/60/70. Não conseguiram passar como um trator sobre nossos corações e o passado voltou. Tudo pode acontecer na sociedade capitalista, se houver chance de vender muito. Mas a questão permanece. O que significa ser brasileiro(a)? Um povo com ou sem identidade, com ou sem autoestima, com ou sem

rumo? O que as Letras podem fazer por uma Nação? A literatura nada mais é do que o retrato de um agrupamento de pessoas, num determinado território, em uma determinada época. O Brasil já existia antes do descobrimento, muitas tribos estavam fixadas em nosso solo, mas elas não se reconheciam como um país (que é invenção europeia) e não se autodenominavam “Brasil”. Assim, depois de os portugueses aportarem em nossas terras, tudo mudou demais. Os

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antigos indígenas guerrearam com os invasores e perderam. Os vencedores sempre se acharam dominadores temporários e sonhavam retornar a Portugal, à Europa. Os tristes trópicos eram só mosquitos, contrariedades e incompreensão. Assim foi até a independência, proclamada por Dom Pedro I, quase de surpresa, em São Paulo, nos idos de 1822. Nesse dia, pedimos que fôssemos nós mesmos e ter reconhecimento internacional, para ser uma estrelinha no céu dos países do mundo. Para que outros pudessem nos enxergar e nós pudéssemos enxergar a nós mesmos. Até hoje estamos em busca de uma identidade, do auto reconhecimento, de uma liga, um ímã que nos possa unir e confirmar a ideia de que, sim, estamos juntos. Sim, somos isso ou aquilo, bons ou maus, espertos ou trouxas, abastados ou carentes, promissores ou fracassados. Somos a esperança ou o nada? Temos a nossa cultura, os nossos hábitos, costumes, valores. Mas onde está tudo isso? Existe um código ou manual de sobrevivência

dos brasileiros? Existe um retrato, um quadro, um número, uma forma de identificação? Na escola, recomendam livros de história, geografia, ciências, línguas, matérias muito importantes, embora pouco estudadas. No entanto, literatura é mais importante que tudo. Literatura condensa todos os temas, ensina todas as verdades em forma de arte. Nossa identidade ainda é precária porque os brasileiros leem pouco, não têm consciência do lugar onde vivem, não se reconhecem nos sentimentos e nem na geografia. Não se percebem sulamericanos, latinos, tropicais. E quando vislumbram isso, sentem vergonha, querem mudar de nome, de roupa, de cor, de país. Foram os grandes escritores brasileiros que fizeram nosso retrato. José de Alencar, Machado de Assis, Euclides da Cunha, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Lygia Fagundes Telles, Ana Cristina Cesar e muitos, muitos outros. Escritores continuam falando de nós, mas hoje quase não são ouvidos, ou melhor, publicados. Nosso povo cada dia lê menos e a cada momento menos se reconhece. Livros são vendidos como sabonete: valem pela embalagem, pela cor, pelo cheiro, pela propaganda. Só os sucessos internacionais emplacam nos tristes trópicos. Um povo sem literatura não tem identidade. E as Academias de Letras, tão antigas quanto eficientes, têm hoje a grande responsabilidade de trazer ao Brasil, por meio da palavra escrita, sua identidade perdida. Luiza Nagib Eluf Cadeira 12 Patrono Carlos Drummond de Andrade ARCA | 25

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Sobre trilhos, patetices e civilidade G

rand Central Station, primeiro dia. O provinciano compra o tíquete para East Norwalk, pergunta dez vezes ao bilheteiro qual o número da plataforma [track] de saída e,

prudente, se dirige a ela com 15 minutos de antecedência. Track 26, ou coisa parecida. Segundo dia. Quase nativo, vestindo um gorro com as iniciais NYC, andando com a ginga de um negão do Harlem e um sentimento de “tá tudo dominado”, a passagem na mão é a segurança para perambular pela belíssima estação e só descer à plataforma no último minuto da prorrogação. Não, seu aparvalhado! A track de saída varia diariamente e há que se confirmar no painel o número conforme o horário de partida. Não, seu desnorteado! Presta atenção que a Quinta é um pouquinho diferente da Dona Gertrudes. Uma desvairada correria e muito suor para chegar em tempo à plataforma correta [track 107, ou próximo disso] foi uma pedagógica lambada pro matuto deixar a sabichonice de araque e tomar as precauções necessárias para que uma pequena macaúba tenha o mínimo de percalços na Grande Maçã. E, heroicamente embarcado, vamos para o interior do trem. O silêncio no vagão é incômodo.

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Absortos nos seus problemas, alegrias, expectativas, frustrações, os passageiros não conversam entre si. Se o fazem no celular, o tom de voz soa num volume absurdamente civilizado. Imagino que muitos tomam o trem no mesmo horário e até se conhecem, mas a cultura os trava pra jogar conversa fora e tornar a viagem mais agradável. Agradável, diga-se, do ponto de vista deste latino escriba. Pra eles, a privacidade, a intimidade, mesmo que num veículo de transporte coletivo, são valores inegociáveis. Puxar papo seria uma

tentativa de violação destes valores. Todos usam dispositivos móveis. A leitura, a informação, o entretenimento, a socialização, vêm via “laptops”, “tablets” ou “smartphones”, [a cada quatro assentos há tomadas para recarregar os super-utilizados gadgets]. Algumas vezes a mesma pessoa usa os três simultaneamente. Definitivamente, o papel em livros e jornais caminha pra uma quase extinção nos EUA. O cachorro, devidamente licenciado e documentado, também pode viajar acompanhando o dono. Nenhum latido, nenhum ruído. O animal é educado pra respeitar o código de conduta. O bicho homem se acostuma, se adapta rapidamente com o diferente. Passados alguns dias, abastei meu iPad com livros, jornais e revistas e, envolvido com a leitura, também comecei a achar que a privação do som ali nada tem de desconfortável. Bateu até vontade de alugar um cão.

Lauro Augusto Bittencourt Borges Cadeira 20 Patrono Castro Alves ARCA | 27

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Relatividade E

sta foi a primeira crônica-reflexão que escrevi e foi publicada num jornal, mercê do interesse, gentileza e amizade de meu caro amigo, o confrade fundador, Ademaro Prézia. Saiu num jornal de Poços de Caldas. Com ela presto minha justa homenagem a esse poeta de sua terra, Águas da Prata, que também é minha e me rendo mais uma vez à sua veia poética, sua cultura, religiosidade, vida íntegra e lisura em tudo o que fazia. Em minha crônica, dizia da relatividade das coisas à nossa volta, mesmo não sendo nenhum Einstein, nem famosa, nem mostrando minha língua a ninguém. Para amigos e noivos, ricos e importantes, quebramos nossa conta bancária sempre exígua e damos presentes vistosos, de marca e caros; já para os mais simples e pobres, uma dúzia de xícaras, copos ou pratos estão de bom tamanho, literalmente! E enumerava várias situações diárias e rotineiras onde essa relatividade até injusta acontece: o mesmo tempo gasto numa festa, ouvindo uma boa música, assistindo a um filme cativante ou lendo um livro não são, seguramente, os mesmos minutos gastos numa fila,

no corredor de um hospital à espera de uma notícia angustiante ou à mesa de um gerente bancário, precisando de dinheiro (não faço aqui o abominável merchandising que a Globo faz em suas novelas). Uma colher de doce de leite de Minas não é a mesma contendo um laxante ruim de gosto e efeito... e assim por diante, quantas situações se tornam incoerentes, mormente porque as pessoas que as vivenciam são tão diferentes. Não critico nenhum evento, em nenhuma área, pois sei quão trabalhoso e preocupante é realizar qualquer atividade, por menor e mais simples que ela seja. Dou um valor extremo ao trabalho dos outros! Acho que isso se deve à minha proverbial e já conhecida preguiça. Voltando ao Sr. Ademaro, fino de trato, de figura e de sutilezas linguísticas e éticas, só uma coisa vinda dele me deixou decepcionada: quando lhe perguntei a razão do nome de um rio pratense. Ele me respondeu: - Não gosto de falar sobre o passado. Incoerente, pois seus escritos todos se referiam a ele, o passado, com muita propriedade e realismo. Ele sabia muito de nossa história e de fatos de nossa região. Bem, mas esse tema

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me veio à mente exatamente para que todos nós, leitores, acadêmicos ou não, nos lembrássemos de um tempo que já se foi, mas que, como tudo em nossas vidas, deixou marcas, fortes e expressivas. Não me lembro do início de nossa Arcádia, mas conheci todos os seus idealistas fundadores: os dois Octávios, D. Tomás, Odila, Maria Leonor, Oliveira Neto, Dr. Abelardo, Dr. Licínio, Dr. Lansac, Jordano, Cordeiro, Palmyro, Fábio, Roberto... todos grandes expoentes da cultura local, senão regional. Voltando ao meu tema, relativismo, relembremo-nos de nossa torcida recente e inglória pelo nosso amado país. Torcíamos pelo Brasil e por sua vitória, obviamente... E contra

os diferentes times que contra nós jogavam. Já na próxima fase, torcemos pela Holanda, pela Alemanha e contra a Argentina; finalmente, contra a Holanda e na final, a favor da Alemanha novamente. Parece-me que a única unanimidade foi ser sempre contra los hermanos. Tudo na vida parece ser circunstancial e relativo, não é mesmo?!

Clineida Andrade Junqueira Jacomini Cadeira 43 Patrono Rubem Braga ARCA | 29

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O BEIJO E A CANÇÃO Se você beija a boca que canta Você beija também a melodia? Será que fica impregnado de canção? O beijo é tão efêmero quanto a música É preso apenas ao instante que acontece Depois, vaga, viaja só no pensamento Abraça o ar e voa longe Fica preso apenas ao coração Ao sentimento A canção, como o beijo, torna-se parte de nós Cria um elo, uma beleza infinda Acaricia a alma como se fosse o toque suave de um deus Embala-nos num sonho tranquilo, num chegar ao céu O beijo é uma canção

Silvia Ferrante Cadeira 09 Patrono Raul de Leoni 30 | ARCA

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ntigamente existia um lugar chamado armazém. Um tempo em que cliente era chamado de freguês. Éramos, então, fregueses do armazém e o nosso nome, muitas vezes, com uma referência familiar (“Paulo da dona Filó”) era anotado em uma caderneta, juntamente com os gastos diários, que saldávamos no fim do mês. Fiado vinha da palavra confiar e era empregada diariamente. As compras eram somadas em folhas de papel de embrulho, e a caneta (Bic) ficava atrás da orelha do atendente, que geralmente era o próprio dono do armazém: o seu Toninho – que também tinha nome. Este costumeiramente nos cumprimentava e perguntava ainda sobre nossa família. - Como vai sua mãe? E seu pai, melhorou da gripe? Os produtos, na época chamados de mercadorias, eram colocados no chão mesmo, ou em cima do balcão de madeira que vivia cheio de anotações a caneta e os cartazes feitos a mão indicavam os preços das mercadorias. Tudo parecia uma bagunça só, mas que nos passava uma sensação de proximidade, de aconchego mesmo. Os sacos de estopa abertos pelo chão mostravam as mercadorias (feijão, arroz, açúcar cristal e macarrão) e o tato era um sentido que fazia muito sentido. Havia ainda um cheiro no ar que a nossa memória olfativa nunca conseguiu definir, nem sentir igual. O nosso dinheiro era

em papel apenas e geralmente vinha amassado em nossas mãos, juntamente com as moedinhas retiradas do cofrinho, aquele porquinho de plástico. Porém, o tempo – sempre ele – abriu-se para o novo e tratou de fechar os armazéns. Hoje, quem nos atende já não é mais o seu Toninho (aliás, onde andaria o seu Toninho?), mas, sim, o crachá de um funcionário, de cujo nome não me lembro. E nós, os clientes, sem nome, sem mãe, nem pai, viramos um número no computador e os produtos apresentam seus preços em códigos de barras. O armazém virou supermercado, o balcão de madeira virou gôndola e as mercadorias viraram marcas. A caneta virou calculadora, a caderneta virou “check out” e nós nos viramos para achar os produtos. O dinheiro em papel virou cartão de crédito ou débito, que tem o nosso nome em letra miúda e uma senha que a gente vive esquecendo. Dizem que nós somos o “rei” e que tudo ali existe para satisfazer nossos desejos e necessidades. Perdemo-nos em meio a tantos produtos, centenas de marcas, embalagens e rótulos; promoções que nos atropelam. O consumo vive a nos consumir. Estamos no BIG, no HIPER, no corredor “WALL MORTE”. O nosso carrinho se enche, o nosso bolso se esvazia e a gente se enche de alegria, afinal, estamos em um lugar de gente feliz, como diz o locutor do local. Compramos o que todos compram, com

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Armazém do Tempo

dinheiros iguais, pensamos iguais, somos iguais perante a lei da oferta e da procura. Viramos consumidores, clientes anônimos de um mercado super. E nos dá aquela vontade imensa de voltarmos a ser fregueses novamente e encontrar pela frente o seu Toninho a nos cumpri-

mentar pelo nome. Que saudade, no armazém do tempo, dos tempos do armazém.

Wiliam de Oliveira Cadeira 35 Patrono Casimiro de Abreu ARCA | 33

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Azul D

e minha visita a Maria Célia e Marcondes, vivi casualmente nessa memorável tarde, uma profunda experiência. Chegou à mesa onde tomávamos café a netinha do casal no colo de sua mãe, trazendo bem junto ao peito uma bonita caixinha. - O que tem dentro da caixinha? Pergunteilhe para distraí-la. Ela demorou um pouco e respondeu-me: Esperança. Encantada e surpresa voltei para casa e sonhei que... “a menininha acompanhou-me na viagem de volta para outro vale do Morro Azul no lugar onde eu moro. Aí paramos para conversar em tom azul num todo azul. - A esperança mora mesmo em sua caixinha, ou você brincou comigo? E ela afirmou que sim, que a esperança mora aqui, apontou a caixa com o dedinho.

- Fecha a tampa, senão ela pode fugir. A esperança é como borboleta e quer espaço. - Ela não foge. Ela gosta de mim, falou segura. - É mesmo? - Eu ensinei ela gostar de mim, sabe? - Não, não sei. Como se faz isto? Conta, conta pra mim. Ela me contou que é preciso ter uma caixinha e prender a esperança nela e depois, continuou, tem que dar comida para ela. - Que comida? Como se faz esta comida? Perguntei muito interessada. É difícil? - Um pouco e alisava seu vestido sentindose importante, só vendo! - Eu ponho, continuou, carinho na caixa dela e ponho também cuidado e tempero de amor. São comidas difíceis, sabe? A gente tem que procurar porque não existe receita. Ah, ia me esquecendo de contar que a esperança adora alegria de sobremesa. - E depois? - Depois vou abrindo a tampa da caixa devagar e vou dizendo pra ela que lá fora mora o perigo. Não é bom sair voando por aí que nem boba. E nesta hora, disse com voz de segredo: prendo-a com um fio de luz, transparente, fininho, fininho, não pesa nada. Ela vai, voa e volta. - Você tem certeza de que ela volta? Perguntei aflita. - Certeza, certeza não tenho. Tenho Esperança.

Maria Cecília Azevedo Malheiro Cadeira 40 Patrono Monteiro Lobato 34 | ARCA

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Perdas... “Cada minuto nunca é mais, sempre é menos.”

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perda é essencialmente um tema universal. O ser humano independentemente de sua nacionalidade, credo ou raça, convive sempre com a perda. Como lidar com ela, no decorrer de nossa existência? Quando pensamos em perda, pensamos de imediato na morte de pessoas que amamos. Entretanto, ela é muito mais abrangente – um sonho não realizado, uma expectativa impossível, uma ilusão de liberdade, de poder, de eterna juventude, são exemplos de perdas constantes em nossas vidas. Fazem parte de nosso cotidiano. Para crescer temos de perder, abandonar, desistir. Existe um elo vital entre nossas perdas e ganhos. Muitas vezes desistimos para podermos crescer. Precisamos enfrentar nos sonhos que sonhamos, bem como nos nossos relacionamentos íntimos, tudo que jamais seremos ou teremos. Temos de concordar: perder é difícil e doloroso, mas temos que considerar também que só através de nossas perdas nos tornamos seres humanos plenamente desenvolvidos. Mais cedo ou mais tarde, todos nós compreendemos que elas são sem dúvida uma condição permanente da vida humana. Temos de admitir que tudo tem um fim, até nós. Todos somos acometidos pela morte.

Podemos dizer que sem a morte a vida não teria sentido. Imaginemos o homem imortal para quem a infância, a juventude, a maturidade e a velhice seriam palavras desprovidas de sentido, um tempo sempre igual onde não haveria lugar nem para a esperança, nem para a saudade. A vida é, em essência, um processo de perdas constantes. Ela nos ensina a ver o mundo com outro enfoque. Aprendemos a viver com lágrimas nos olhos, quando menos se espera, ao acontecer algo que seja capaz de suscitar em nós uma lembrança ou uma grande saudade.

Maria Ignez D’Ávila Ribeiro Cadeira 07 Patrono Coelho Neto ARCA | 35

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Predestinado ao Encontro U

m retrato lambe-lambe da nona Augusta de Giava Gregório, em frente à basílica velha, portando uma grande imagem de Aparecida, pode ser o elo de uma futura e grande amizade. “Quando encontrei esta foto, ainda criança, meu pai Oswaldo relembrou uma mirabolante história de tradição italiana, que romperia por muito tempo a família Gregório, não só pelos ressentimentos, mas também em território. Ao falecer o nono Basílio, de tanto beber vinho, sua viúva colocou em prática a tal tradição da partilha, dividindo apenas aos homens o sítio localizado no Bairro Pedregulho. As filhas ficaram chateadas com tal atitude e uma delas, justamente minha avó Ana, cortou radicalmente qualquer relação com sua mãe. Isto perdurou anos, quase uma década, a ponto de levar a nona a fazer promessa especial à Nossa Senhora Aparecida. Foi quando ela chegou lá em casa, no Sítio Matãozinho, levando esta foto como pretexto e reconciliando entre choros e lamentos. Minha avó perdoou, mas as relações entre os primos pouco se frutificaram. E eu, até então, nada ouvia falar sobre os familiares de Pedregulho. O tempo passou, fui para a faculdade, retornei a São João, trabalhei no jornal O Município, na restauração da Igreja Catedral, na fundação do Museu de Arte Sacra e no restabelecimento das tradições do Bairro São Benedito. Justamente no Centro Social do São Benedito, sobre os zelos da Dona Maria, estavam instalados dois jovens estudantes, que pretendiam se tornar seminaristas: Renato e Mil.

Protegidos e coordenados por Monsenhor Denizar Coelho, os dois eram pau-pra-toda-obra, dividindo seu tempo entre estudos no ensino técnico e os trabalhos puxados na Fazenda Cachoeira. Mil era um rapaz magrinho, tímido e alegre, que gostava por demais de música litúrgica popular. Seu nome de batismo era Claudemir, mas recebeu das avós o apelido de Mil: inicialmente Mir, com “r”, depois foi se tornando Mil, uma sofisticação à nossa caipires!. Dali soube que ele era meu parente de Pedregulho: sua avó materna era irmã de minha avó Ana, e permaneceu com a nona até seu falecimento. Não imaginava, ainda, que seríamos tão amigos, como hoje somos. Parecemos irmãos, com muitos gostos em comum. Um deles seriam as antiguidades, principalmente a Arte Sacra. Mil tornou-se padre, um dos melhores que temos na Diocese: facilitou o retorno da restauração da Igreja Catedral; assumiu a administração do Museu de Arte Sa-

Nona Augusta n foto lambe-lam

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a Augusta numa o lambe-lambe

cra; reativou as procissões e festas de rua, além das decorações no interior das igrejas; fortaleceu a catequese da Paróquia e restabeleceu uma das associações religiosas mais importantes que tivemos no passado, o Apostolado da Oração. Sempre atento aos seus estudos e especializações, tornou-se professor do Seminário e escreve constantemente na imprensa local, sobre os eventos sacros que empreende. E nunca deixou de lado suas funções de sacerdote, um verdadeiro pastor que acorda cedíssimo e dorme tardíssimo, sempre disposto ajudar a quem precisa. Monsenhor Denizar acertou em sua aposta, fez um rapaz encantado pelas belezas da Igreja se revelar como seu melhor instrumento. Suas missas são concorridíssimas, suas homilias estudadas, nunca improvisadas; dedica-se carinhosamente a seus doentes e conforta exemplarmente seus familiares; já celebrou milhares de bodas e batizados, diria quase um padre da geração pop. Um dia, conversando com uma funcionária da casa paroquial, disse-me que Padre Mil é um santo, de tão iluminado e prestativo, de tanto carisma. Mesmo assim, continua sendo meu primo, quase irmão, distante nas histórias e muito

próximo de nossa realidade. Nunca me negou ajuda e topa minhas loucuras, pela arte e pela arquitetura. Se brigamos, pouquíssimo; logo tudo se explica e se desmancha. Padre Mil é muito querido de minha família, está nos principais momentos de nossa vida. Companheiro de asfalto e antiquários, atualmente é dos mais importantes colecionadores de arte sacra da região, destaque para seus preciosos oratórios e crucifixos. Também viajamos pelo Mundo, como Portugal, Espanha e Nova York. Infelizmente, por incompatibilidade de agendas, não conseguimos ir juntos a Jerusalém. Mas agora, ele vai! Claudemir Aparecido Canela, Padre Mil, torna-se meu confrade nesta noite, mais uma estripulia de nossos destinos. Que a nona Augusta nos esteja vendo!” Este discurso de apresentação foi lido pelo autor como apresentação de Padre Claudemir Aparecido Canela na cerimônia de posse da Academia de Letras de São João da Boa Vista, em 1º de novembro de 2014.

Antonio Carlos Rodrigues Lorette Cadeira 32 Patrona Orides Fontela ARCA | 37

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uando conheci a história do escritor pinhalense “Edgard Cavalheiro”, por volta de 1982, por acaso, através de informações obtidas junto ao memorial Juca Mulato da cidade de Itapira, fiquei impressionado e muito orgulhoso de ser pinhalense, por saber que o grande biógrafo de Monteiro Lobato, presidente da Câmara Brasileira do Livro, idealizador do Prêmio Jabuti e autor de inúmeras obras literárias era pinhalense, aqui nasceu, estudou e teve por base sua trajetória literária.

Li um pequeno livro denominado “Subsídios para uma Biografia”, de autoria de Antonio de Mello Júnior, pela Editora O Taubateano, da cidade de Taubaté, cidade que homenageou em vida Edgard Cavalheiro por seu empenho em tombar o sítio do Pica Pau Amarelo, preservar a memória e escrever a biografia de Monteiro Lobato. Com a publicação desse livro, que registra a trajetória literária de Edgard, todo trabalho e dedicação do escritor não só a Lobato, mas também a outros tantos autores brasileiros e estrangeiros, foi muito divulgado. Então, foi neste pequeno livro que descobri a amizade e carinho que Lygia Fagundes Telles tem por Edgard, onde ela justificava através de uma carta que não poderia ir para o interior ao encontro dos amigos porque tinha um compromisso de família. Passados alguns anos, Lygia lançou, em São João da Boa Vista, o livro Capitu. Tive o prazer de estar lá na noite de autógrafos, levei uma cópia da carta e contei a ela que o Edgard era da minha terra, e então ficamos por horas conversando. Pude conhecê-la melhor e meu interesse por Edgard aumentou. Comentei com ela estar fundando em nossa cidade a Casa do Escritor Pinhalense “Edgard Cavalheiro”, e ela, de imediato, me deu todo apoio, afirmando que

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Lygia Fagundes Telles

A Escritora

seria um prazer estar aqui em nossa cidade um dia para participar dessa homenagem. Por motivos alheios a sua vontade, ela não pôde vir para Espírito Santo do Pinhal. No primeiro Pin Pin de Literatura, comemorando o centenário de nascimento de Edgard Cavalheiro. Ela, mais uma vez, por motivo de saúde, não pôde vir, pois tinha sofrido um acidente e quebrado o fêmur. Mas, através de nosso amigo e também escritor Moacir Amâncio, ela gravou uma mensagem carinhosa homenageando Edgard, onde revela que sua carreira de “Escritora” deve-se a ele, pois na época que começou a escrever, uma mulher escritora era mal vista, então ela sofreu muito preconceito dos escritores famosos da época, não tinha apoio e era duramente criticada, foi quando apareceu o Edgard na sua vida e lendo o que ela escrevia, achou muito bom, e deu total apoio, incentivando e a levando ao mundo literário. Então, mais uma vez, Edgard prova que sempre estava certo, sempre plantando cultura, incentivando leitura, publicando e provocando o interesse do brasileiro na literatura, como escritor, editor e jornalista que foi. Então espero que em breve a Lygia venha

para nossa cidade, até porque é uma promessa dela. Assim, teremos o privilégio de um bate papo sobre o mundo literário e conhecer sua trajetória literária. Aliás, sua palestra é maravilhosa, sua palavra é fácil, empolga a todos, agrada a jovens e adultos, tem muita história para contar. Ela estudou Educação Física e cursou Direito em São Paulo, tornando-se aluna das famosas Arcadas do Largo de São Francisco. Diz que o curso de educação física foi para tranquilizar a mãe, Dona Maria do Rosário, que a achava magrinha demais e provável candidata a uma tuberculose. E também, a pedido da mãe, que tocava piano, Lygia recitava, muito compe-netrada, Casimiro de Abreu, Olavo Bilac e Guilherme de Almeida. Foi ao som desses poetas e ao lado de livros de belas e coloridas capas que Lygia foi crescendo. A Faculdade de Direito do Largo São Francisco ocorreu na vida de Lygia por volta da década de quarenta. Por esse tempo, já delineavam seus caminhos literários: ela participava e acompanhava o pessoal da escola ligado às artes. Frequentava a Jaraguá, misto de livraria, salão de chá e galeria de arte, grupos intelectuais e boêARCA | 39

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mios, entre os quais o pessoal da Faculdade de Filosofia de São Paulo. Os frequentadores da Jaraguá enfrentaram problemas, o Brasil do Estado Novo, a ditadura de Vargas e as reuniões proibidas, a censura à imprensa, a perseguição a estudantes. Tudo isso oprimia, tudo isso tornava perigosa e subversiva a atividade intelectual. Nos anos 40, o primeiro livro publicado: os contos de Praia Viva. Sua segunda obra só publicaria em 1949, reunindo contos no livro O Cacto Vermelho. Lygia vivia então no meio intelectual, sua casa sempre cheia de jovens, que entravam e saíam o tempo todo, e ouvia todo tipo de papo. Com o livro “As Meninas”, foi premiada e teve su-cesso junto aos leitores, e assim tornou-se escritora profissional. Como Edgard Cavalheiro, também lutou para assegurar o lugar do escritor brasileiro no nosso mercado, invadido por uma literatura estrangeira de baixa qualidade. Nascida em São Paulo, a 19 de abril de 1923, filha de Durval de Azevedo Fagundes e Maria do Rosário Azevedo Fagundes, Lygia ao longo de sua carreira literária sempre demonstrou que a qualidade do trabalho do escritor é demonstrada nas constantes publicações de textos adaptados para o cinema e a televisão, publicação em jornais, revistas, entrevistas, e o que é bom deve sim ser sempre publicado. Para finalizar, com a palavra da própria Lygia, sobre a definição de escritor: “A função do escritor? Escrever por aqueles que muitas vezes esperam ouvir de nossa boca a palavra que gostariam de dizer.

Comunicar-se com o próximo e, se possível, mesmo por caminhos ambíguos, ajudá-lo no seu sofrimento. Na sua fé. Isso requer amor – o amor e a piedade que o escritor deve ter no coração”. Espero que a Edição deste ano da Semana Literária “Edgard Cavalheiro” tenha a presença da grande escritora Lygia Fagundes Telles, e que todos lutem como eles lutaram no passado, para um universo literário educativo e libertador, na construção de um mundo melhor sem distinção de raça, cor ou religião. Do qual todos façam parte como elos de uma corrente de paz e sabedoria. Vamos lutar... JUNTOS! Também fica aqui a homenagem ao grande escritor, biógrafo, jornalista e editor pinhalense, nosso saudoso “Edgard Cavalheiro”. Em 30/06/2014, completaram-se 56 anos de seu falecimento. Que Deus o ilumine e que ele nos inspire de onde estiver.

João Batista Rozon Cadeira 05 Patrono Visconde de Taunay

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ODE À MANTIQUEIRA por quem choras oh serra querida por quem derramas longo penar se as águas que correm na face adoçam as águas do mar

sei que sangras teu solo o arado sei que matas quedaram no ar por quem choras oh serra querida me alucina esse longo calar

das lindas nascentes és mãe nos grotões um colo a embalar no verdor das matas descerra o abrigo tranquilo do lar

o filho perdido no mundo que a lembrança de ti faz voltar por quem choras oh serra querida se teu filho é todo pesar

a terra natal encravada numa encosta com raro luar é o canto mais lindo da serra Águas da prata a abraçar

se não pelo filho perdido que no poema a ti vai buscar por quem choras oh serra querida no clamor desse vento a cantar

e nas altas encostas valentes tantos homens quiseram saltar sonhando da Pedra da Mina com o pássaro livre a voar

o vento que em brisa se torna e em carícia a mim vem tocar lembrando que na hora da morte em teu seio eu quero ficar

vai por Minas São Paulo e Rio tua bela imponência escarpar impedida no criar do mundo de tocar as águas do mar

por quem choras oh serra querida por quem derramas longo penar se as águas que correm na face adoçam as águas do mar

Puris habitavam tuas terras perfeita simbiose secular e vil explorador chegou para as matas e tribos extirpar

Luís Fernando Dezena da Silva Cadeira 42 Patrono Pedro Nava ARCA | 41

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O Theatro e Minha Geração Antes da faculdade, no subsolo da Coletoria Estadual, as tardes de jogo de damas, xadrez e dominó, na sede do Grêmio Augusto de Freitas. Um pouco de ping-pong, alguns passos do “chachacha”. Uma acalorada discussão se Beatles ou Rolling Stones para tudo terminar num foxtrote de rodopios e rosto colado. O objeto de desejo era o joelho da Nara Leão no contraste do retrato em branco e preto da capa do LP do selo Elenco. Quem poderia ter o Chega de Saudade, nem bem lançado e já então antológico? Já era hora de uma sodinha Galvani ou uma tubaína Cariovaldo no bar do Tulu, pra hidratar a polêmica pelo Dolce Vita ou pelo O Ser e o Nada que a vã filosofia não entendia, ainda. Existencial ou não, o fato é que a banda do Nim, guitarrista dos melhores na terra do João Lanzac, o amigo de Garoto e Jacob, ensaiava para ir gravar baladas do Elvis e blues do Little Richard, no balanço do rock. E o Nim, que era irmão do Tulu, que ainda tinha outro, o Renê, que arrasava no órgão da igreja matriz no silêncio da madrugada. Este era o meu entorno do Theatro Municipal nos anos sessenta. Mas, claro que quase esqueci o ponto do Expressinho dos Domingues e da bomba de gasolina defronte à loja do Gabriel Antakly, onde é hoje uma agência bancária. Atrás da Catedral,

muita sombra de árvores frondosas que criavam uns mosquitos infernais, mas abrigavam os “carros de praça” refrescados para o uso dos viajantes que chegavam admirando o pôr do sol. Se não tivesse que estudar para a sabatina da Dona Vera ou do Ditão ou do Caselato, dava para pegar um cineminha com a morena sestrosa, para tentar, todo prosa, roçar o dedo mindinho na mão aveludada, languidamente esquecida no braço da poltrona de pau. E o cineminha era o Cine Theatro, tão maltratado por dentro como por fora. Judiado mesmo. Decaído mas majestoso. Empobrecido com dignidade. No foyer: o bar do Tulu, o pipoqueiro, a bilheteria e a baleira. Todos sobre um piso de Carrara. No piso superior, uma sala vazia, com um palco, que já abrigara rádio, sociedade cultural e que servia de estúdio para os ensaios, de músicos e atores, para o piano do Ferrante e muita big-band na vitrola. Mas era onde podíamos ver a Sophia Loren (Duas Mulheres) ou o James Dean (A Leste do Éden) ou a Marilyn Monroe (O Pecado Mora ao Lado) ou o Alain Delon (O Sol por Testemunha). Além dos Mazzaropi, Cantinflas, Oscarito e Grande Otelo. E o João Negrinho com os atores na plateia. Era no Theatro que experimentáva-

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mos atores e pendores com o Pierini, sem saber que por ali já tinham pisado lendas, divas e monstros sagrados. Foi lá que Roberto Carlos, Vanderleia e Erasmo se apresentaram quinze dias antes de estrearem um concorrido programa na consagrada TV Record, antes de serem o Rei, a Ternurinha e o Tremendão. Já na faculdade, o período das botas e quepes, as noites mal dormidas pelo estudo ou pela boemia, espalhados por variados endereços, muito pouco frequentávamos o Theatro, mas já começamos a desconfiar de que São João tinha um patrimônio raro, que não encontrávamos, com facilidade, nos nossos variados caminhos. Mas, estávamos preocupados com outras ansiedades da vida. Depois da faculdade, uma nova geração de políticos conquistou os votos necessários para cuidar dos rumos da cidade. E, Nelsinho, e depois Beraldo, impediram que aquele prédio majestoso, com toda a história nele realizada, fosse ao chão. E foi aí que muitos daqueles das tardes do Grêmio Augusto de Freitas puseramse nas catacumbas, defenestraram a tela branca e insípida e começaram a devolver a pompa e

circunstância de um teatro do início do século XX. E, coletivamente, conseguiram com muito suor, talvez sangue e lágrimas de alegria, esta sala que deslumbra experientes, vividos e viajados artistas. E eu, na minha insignificância, dirigi o mais importante, significativo e valioso patrimônio da cidade, que adotei por três anos como presidente da AMITE – Associação dos Amigos do Theatro. Foi uma honra.

Sérgio Ayrton Meirelles de Oliveira Cadeira 22 Patrono Mário Palmério ARCA | 43

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Versos Alados Vai andando num divagar solitário por um falso vazio. Vai como que vasculhando o cérebro em busca de filosofias. Ali encontra-se com as teorias, imaginando suas realizações. Deixa a criatividade viva, tentando dar ao virtual tom de realidade. São letras que se organizam em frases e estas ordenam-se em textos. Seja poesia, seja prosa, ali é semente de futura imagem. Trabalho inspirado pelo silêncio e na quietude das vozes das ideias. O presente perde-se entre passado e futuro, surge irritação. São como que grandes novidades de um tempo que já se foi. Lembranças do desejo de virtudes irrealizadas que insistem em viver. Antigos sonhos vertidos em ideais que aguardam o momento de nascer. Nisto existe um delírio de um cérebro inquieto, uma alta febre de pensamentos. O tempo eterno observa o relógio cotidiano empurrando lentamente as horas. A atenção se dispersa, fica ali perdido nos afazeres do dia-a-dia.

O espírito sente-se ludibriado pelo corpo. E o corpo quer fugir do espírito. Um quer apenas viver a vida, enquanto o outro quer entendê-la, quer libertar-se. Nascedouro de um conflito, mas a alma é mais forte, impõe a sua vontade. Fecham-se, então, as pálpebras, mergulha-se num voo pela intimidade. Um diferente universo, tudo se movimenta rapidamente, tudo é tão intenso. Abandona-se o aconchego do cotidiano para andar pela história humana. Vê como se estivesse além do seu tempo, observa os risos e as lágrimas. Reconhece o movimento das sociedades a carregar os seus indivíduos. Tenta identificar um mecanismo motor, enche-se de muitas dúvidas. Qual seria a real distância para as respostas que tanto necessita? Por não sabê-lo, recorre à ironia, diverte-se consigo, faz troça. Critica-se por sua arrogância científica, vê-se como soldado que se pensa general. Deixa-se livre para as fantasias, imagina-se caindo ao tropeçar nas ilusões. Uma espécie de drama com tons de comédia, para depois ficar cheio de melancolia. Ganhar uma face com traços maduros

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que lhe espantam os fulgores juvenis. Constatar que em seu coração acasalam-se tristeza e felicidade. Descobrindo-se dividido, mas conseguindo ver virtude nesse estranho estado. Buscando muito por respostas, mas, momentaneamente, apenas achando caminhos. E por estes quer andar, quer saber os segredos do sol e das grandes eclipses. Quer desvendar o que está oculto no acasalar das noites com os dias. Querendo encontrar um secreto portal para perder-se entre auroras e crepúsculos. Enchendo-se de sagrada inspiração, tendo por um instante a certeza de ser divino. Ficando emocionado com sua filiação celestial, imaginando ser possível ligar para o céu. Mas novamente pousando na realidade ao encontrar o telefone ocupado.

Ligeira Visão

Hoje voltei a te ver, bela, airosa e tão altiva, porte ereto, a espairecer. Como isso me cativa! No camisão esvoaçante, no matiz cinza do vestido, tu estavas tão brilhante que ofuscou o meu sentido. Mas a visão foi repentina. Tão depressa tu entraste, mais depressa tu saíste. Mas guardei-te na retina Porque tu me emprestate um calor que nunca viste.

Gilberto Brandão Marcon Cadeira 06 Patrono Mário Quintana

Wildes Antônio Bruscato Cadeira 02 Patrono Ruy Barbosa ARCA | 45

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Adeus, Meus Amigos...

Neste ano de 2014, o Brasil perdeu grandes pensadores. Tive a felicidade de compartilhar alguns momentos especiais com alguns deles, com a certeza de que me enriqueci profundamente. Serão eternamente reverenciados como seres que participaram na transformação positiva de muitas vidas. O impacto de seus pensamentos ainda conduzirão muitos, como

lanternas definindo caminhos mais justos, solidários, fraternos e libertários. Nas noites sem estrelas, nortearão nossas frágeis jangadas pelas correntezas conflitantes em seus paradoxos. Mestre Plinio de Arruda Sampaio. Mestre André Carneiro. Transcrevo aqui, do seu livro “Quânticos da Incerteza” este belo poema:

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Testamento EU, abaixo assinado, mamífero, no pleno gozo das minhas faculdades, descendente dos peixes e de um homem sábio, declaro para todos os fins de direito, que deixo como herança para a amada, várias constelações no lado direito da Via Láctea, conforme mapas astronáuticos. Declaro ainda ser possuidor de alguns ventos da madrugada e de várias ondas na praia descrita no documento anexo, com amostras da areia e uma estrela fossilizada. Outras propriedades não citadas, deixo para o cartório distribuir aos autores dos melhores versos, nas próximas temporadas. A vasilha hermética junto, deverá conter a alma, incinerada para distribuição gratuita entre os pássaros e abelhas.

Desejo a todos um bom dia e a mesma noite de plenilúnio riscada por meteoros erráticos. Firma reconhecida e o labirinto digital da minha vida debaixo do último verso. Quero também registrar uma frase do seu conto “Confissões do Inexplicável” : “Ninguém liquida uma ruga, até a plástica pode escondê-la, mas ela cresce na memória e se revela na palavra” . Resta-me, agora, resgatar, através de suas obras, a imagem e a sonoridade de suas existências, vincadas em minha “alma”.

Luiz Antônio Spada Cadeira 28 Patrono Guilherme de Almeida ARCA | 47

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A Terceira Borboleta (Professor ou Educador?)

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nalisando o contexto social, político e econômico, do momento, concordo com um notável historiador que afirma estarmos mudando de uma época histórica para outra. Ele compara a ruptura, atual, como aquela que aconteceu quando findou a antiguidade: Queda do Império Romano, invasão dos bárbaros, fuga das cidades que apesar das muralhas estavam desprotegidas, aparecimento de feudos, hoje seriam os blocos econômicos e cisão entre dois mundos: Ocidente e Oriente. Este contexto leva a escola a ter bem claro um pretexto para fazer a sociedade mudar. Diga-se bem alto que é a escola que faz a sociedade mudar e não esta moldar a primeira. Isto posto, todos educadores devem se preparar para as mudanças, rever suas posições reforçar sua filosofia para poderem escrever, em tempo, um hipertexto para que a escola ocupe de verdade o lugar que lhe cabe nesta mudança histórica em que estamos a viver. Todo educador é sempre um questionador e um insatisfeito e quer desvendar o que vai à cabeça de seus alunos. Se for acomodado

pode ser professor, porém nunca educador! Fiquei surpreso e intrigado, em uma manhã de domingo perdida no tempo, quando meu neto de quatro anos me disse: “Na minha cabeça moram três borboletas”. Uma abre as asas quando penso, outra abre as asas quando falo e a outra sai voando por aí... Como educador dedicado ao pensar e ao dialogar e a programas e metodologias para promover esse pensar e a colocar voz nas próprias ideias, fiquei entusiasmado com as borboletas de meu netinho As imagens ficaram bem claras para mim via as duas borboletas se movendo. Mas a terceira. aquela que sai voando por aí até hoje me intriga. Eu suspeito que esta terceira borboleta é a imaginação e tanto pais como os professores devem correr atrás desta imaginação dos pequenos. Imaginar é perceber mentalmente, Ter ideia sobre algo. O pensamento criativo está sempre presente através de diversas formas: fantasioso,

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conceptivo ou inventivo. Fantasiar é um ato que nos mantém imaginário, mas inventar pode tanto nos manter nesse mundo, quanto a nos conduzir à vida concreta e assim podemos interferir na realidade. Imaginar – dar aos alunos esta oportunidade! Isto é importante para o conhecimento científico e artístico, também o é para o campo ético! A borboleta que há na cabeça de seus filhos é igual à que visualizei em meu neto. Ela tem muito que voar porque vai por distintos campos do conhecimento, beija diversas flores da convivência humana, além de nascer e morrer em múltiplas metamorfoses reflexivas.

O que fazer para tentar acompanhar a imaginação de seus filhos, meu neto e de nossos alunos? Simplesmente passear com eles no fim da tarde no bosque de nossos diálogos. O que espero é que ela siga compartilhando conosco este terceiro voo.

João Baptista Scannapieco Cadeira no 17 Patrono Francisco Dias Paschoal ARCA | 49

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LuzGrafia

“Um único momento de beleza e amor justifica a vida inteira” Rubem Alves

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Aqui Aconteço... Noite de Festa na Academia de Letras de São João da Boa Vista

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a Sede da Academia de Letras, reuniram-se autoridades, acadêmicos e amigos da Arcádia para exaltar São João da Boa Vista, por seus 193 anos, com apresentação Lítero Musical e Lançamento da 3ª edição da Revista ARCA com homenagem a João Batista Merlin e pelo Centenário do Theatro Municipal. Era 07 de junho, sábado, 20h. A noite foi embalada por melodias tocadas e cantadas por Samir Nassur e Fábio Jabur, com participação especial de Silvia Ferrante em duas das canções apresentadas. No encerramento, delicioso coquetel foi servido no saguão da Estação.

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Posse de Luiza Nagib Eluf

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s 20h, do dia 02 de agosto de 2014, sábado, na Sede da Academia de Letras de São João da Boa Vista, em Reunião Ordinária reuniram-se autoridades, acadêmicos, parentes e amigos da Academia para a posse de Luiza Nagib Eluf, para ocupar a Cadeira 12 Patrono Carlos Drummond de Andrade. Luiza é Procuradora de Justiça de São Paulo, aposentada. Para compor a mesa diretora a presidente Lucelena Maia chamou o Prefeito Vanderlei Borges de Carvalho, a Membro Correspondente Professora Adélia Jorge Adib Nagib, tia da neoacadêmica, e a mãe dela, Senhora Munira Nasser Nagib, a 1ª Secretária Silvia Ferrante e, para acompanhar a neoacadêmica até a mesa, o acadêmico José Rosa. Um minuto de silêncio foi prestado à morte recente do acadêmico Plínio de Arruda Sampaio, e pela recente perda das importantes personalidades literárias: João Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves, Ariano Suassuna e pelo jornalista e crítico literário, também membro da ABL, Ivan Junqueira.

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Conversando com Almino Affonso

“1964 e o Golpe de Estado”

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m 15 de agosto de 2014, na sede da Academia de Letras, Dr. Almino Affonso discorreu sobre o tema “1964 e o Golpe de Estado”, baseando-se em reflexões de seu livro lançado em março, com o tema “1964 na Visão do Ministro do Trabalho de João Goulart”, pelos 50 anos do Golpe de Estado. Ao final da palestra, aplaudido de pé por todos, Dr. Almino, sensivelmente emocionado, abriu a palavra para os presentes e, após responder as perguntas de acadêmicos, professores presentes e alunos universitários, foi aberta a sessão de autógrafos e sessão de fotos. A presidente da Academia de Letras pediu aos acadêmicos que se aproximassem para uma foto com o palestrante, da qual participou a Membro Correspondente Adélia Nagib e o neoacadêmico William Lázaro. Em momento de descontração, durante os autógrafos, Dr. Almino conversou com os amigos políticos, Nelson Nicolau, Vanderlei Borges e Sidney Beraldo. Estiveram presentes à palestra seu filho Rui, a nora Cristina, e alguns de seus amigos íntimos.

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Posse dos Acadêmicos Marcos César Pavani Parolin Wiliam Lázaro Rodrigues de Oliveira

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s 20h, do dia 06 de setembro de 2014, sábado, na Sede da Academia de Letras de São João da Boa Vista, em Reunião Ordinária reuniram-se autoridades, acadêmicos, parentes dos neoacadêmicos e amigos da Academia para a posse de: Marcos César Pavani Parolin, Procurador do Estado, para ocupar a Cadeira 14 – Patrono Afonso D’Escragnolle Taunay e Wiliam Lázaro Rodrigues de Oliveira, Professor, para a Cadeira 35 – Patrono Casimiro de Abreu. Contou-se com a presença do cantor Zé Alexandre, amigo do neoacadêmico Wiliam, que abrilhantou a noite, entre outras músicas, com a “What a Wonderful Wordl” de Louis Armstrong.

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Premiação do XXII Concurso Literário de Poesia e Prosa

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o dia 27 de setembro de 2014, sábado, às 17h, na UNIFAE – Auditório José Edgard Simon Alonso realizou-se a Premiação do XXII Concurso Literário de Poesia e Prosa da Academia de Letras de São João da Boa Vista. A mesa foi composta pela presidente da Academia, Lucelena Maia, pelo patrono do Concurso, o acadêmico Wildes Antônio Bruscato, a 1ª secretária e Coordenadora do XXII Concurso Literário, a acadêmica Silvia Ferrante e pelo ator João Gabriel Bruscato que abrilhantou a noite com a apresentação: “O céu é um circo”, baseado na obra de Marcelino Freire. O Concurso contou este ano com 526 trabalhos. Na Categoria Poesia, foram 342 inscrições e na Prosa 184. Das inscrições aceitas, 48 chegaram via Correio e 478 via Internet, com 25 Estados participantes e 7 Países, fora o Brasil. Entre eles: Suíça; Portugal; Alemanha; Itália; Moçambique; Japão e EUA.

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Encontro com

Salete de Almeida Cara

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m 19 e 20 de setembro de 2014, a Doutora em Letras – Teoria Literária e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo e professora livre docente da mesma Universidade, Salete de Almeida Cara, apresentou a palestra “Do Conto Através dos Contos”, no Theatro Municipal, sala de Múltiplo Uso, para alunos dos centros universitários UniFae e UniFeob e a palestra “Pessoa Através de Pessoas”, na Fazenda Recanto do Bosque, para acadêmicos e convidados.

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Participaram: ELENCO: Dorival Caymmi: Antônio “Nino” Barbin | Jorge Amado: Luiz Antonio Spada NARRADORA: Maria Ignêz dos Santos D’Ávila Ribeiro CANTORAS SOLISTAS: Ana Paula Trindade Aprígio | Júlia Lisi dos Santos | Roseane Moreti Queiroz Silvia Ferrante | Sônia Quintaneiro CORAL DO CENTRO EDUCACIONAL SESI 156/São João da Boa Vista: Adriano Higor Ferreira da Silva | Amanda Rossetti Cavalari | Carlos Eduardo Bronetti Peinado | Cauã Basilio Paixão | Fábio Augusto Silva Julião | Gabriel Ramos da Silva Gabriela Gimenes Pigato | Giovanna Lourenço Ricci | Giulia Territo Moreira Buzelli João Pedro Gnann Emygdio | João Victor Morgado Ferreira | Júlia Gutierres Domingos | Mariana Alves Ribeiro | Mariane Ramos da Silva | Marina Damaceno da Silva | Matheus Gomes de Sousa | Verônica Aparecida Felisberto | Witoria Domingos Pinheiro | Profª Marly T. Estevam de Camargo Fadiga MÚSICOS: Beto Amiki ( Percussão ) | Julio Lima ( Violão ) | Maurício da Silva ( Baixolão ) Micael Chaves ( Bandolim e Cavaquinho ) DANÇA: Martha Jacinto ESCOLA DE CAPOEIRA PALMARES: Carlos Alexandre Costa de Almeida | Fábio Cavelagna | Geraldo Raul Faustino | Marcos Paulo Pereira | Maria Helena Eduardo Texto: Maria Célia de Campos Marcondes | Maria José Gargantini Moreira Direção Teatral: Maria Célia de Campos Marcondes Direção Musical: Silvia Ferrante Vídeo “Dorival Caymmi”: Neusa Menezes Coordenação Geral: Lucelena Maia MÚSICAS APRESENTADAS 1 - Maracangalha – Coral do SESI, Silvia Ferrante e Sônia Quintaneiro 2 – Saudade da Bahia – Silvia Ferrante 3 - Marina – Sônia Quintaneiro 4 – O que é que a baiana tem? – Silvia Ferrante e Coral do SESI 5 – É doce morrer no mar – Roseane Moreti Queiroz e Ana Paula | Trindade Aprígio e Coral do SESI 6 – Só louco – Sônia Quintaneiro 7 – Oração da mãe menininha – Silvia Ferrante e Coral do SESI 8 – João Valentão – Silvia Ferrante e Coral do SESI 9 - Acalanto – Silvia Ferrante e Coral do SESI 10 – Samba da minha terra – Sônia Quintaneiro 11 – Suíte dos pescadores – Júlia Lisi dos Santos e Coral do SESI 58 | ARCA

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Evento Lítero-Musical

“O Universo Amado de Caymmi”

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m 19 de outubro, domingo, 18h, no Theatro Municipal – Projeto Seis da Tarde. A Presidente da Academia de Letras, Lucelena Maia, fez a abertura do evento Lítero Musical “O Universo Amado de Caymmi” agradecendo a presença de todos, com o seguinte comentário: “Se o Todo-Poderoso não tivesse convocado Dorival Caymmi, com sua voz inconfundível e inabalável e o seu violão magistral para cantar a Bahia poética, romântica, ingênua, negra e praieira lá no firmamento, ele teria completado 100 anos em 30 de abril. Jorge Amado e Caymmi se consideravam irmãos gêmeos, por essa razão a Academia de Letras apresenta a vocês a amizade e a afinidade entre eles com, “O Universo Amado de Caymmi”. Citou a presença do Diretor de Cultura, Sr. Beto Simões e do Sr. Orlando Reis do Projeto Andorinhas. Agradeceu o apoio da Prefeitura, através do Departamento de Cultura e da AMITE e, também, a divulgação do espetáculo pela TV União e pelos jornais “O Município”, “Edição Extra” e a “Gazeta de São João”. ARCA | 59

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Homenagens em Placas nas Pedras da Praça Sérgio Vieira de Mello

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Academia de Letras se fez representar em 14 de setembro, através dos Acadêmicos Prof. João Scannapieco, Lucelena Maia, João Otávio Bastos Junqueira e Silvia Ferrante, que cantou o Hino de São João da Boa Vista, acompanhada de Julio Lima ao violão, em homenagem na Praça da Paz Sérgio Vieira de Mello, com descerramento de placas pelo Centenário do Theatro e por Sérgio Vieira de Mello, com poemas de Antonio “Nino” Barbin. Pelos criadores do Hino de São João - placa com o Hino foi descerrada. Aos pioneiros de São João e a Alexandre Dutra, do Projeto Andorinhas. Todo o evento foi do Sr. Orlando Jorge Reis da Silva.

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Posse dos Acadêmicos

Wilges Ariana Bruscato Pe.Claudemir Aparecido Canela Cyro Gilberto Nogueira Sanseverino

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s 20h, do dia 1º de novembro de 2014, sábado, no Centro Cultural Otávio Bastos, Unifeob, Campos I, Auditório Romildo Alonso, em Reunião Ordinária reuniram-se autoridades, acadêmicos, parentes dos neoacadêmicos e amigos da Academia para a posse de: Wilges Ariana Bruscato, Advogada, Doutora em Direito Comercial, para a Cadeira 26 – Patrono Gregório de Mattos. Cyro Gilberto Nogueira Sanseverino, Advogado, para ocupar a Cadeira 15 – Patrono Mário de Andrade. Pe. Claudemir Aparecido Canela – Filósofo e Professor, para a Cadeira 45 – Patrono Pe. Antonio Vieira

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Premiação do 6º Concurso “Redação na Escola” Tema: “Brasil! Mostra tua Cara”

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eu-se o início da reunião com a 1ª Secretária, Silvia Ferrante, chamando atenção de todos para o telão com o vídeo: “Brasil! Mostra tua Cara”, de cinco minutos, elaborado pela confreira Neusa Menezes. Em seguida a presidente Lucelena Maia compôs a mesa com o Prefeito Vanderlei Borges de Carvalho; a Sra. Diva Maria de Araújo Barth, representando a Sequóia; Sra. Maria Fernanda Martarello Astolpho Vicente, representando a Diretoria de Ensino Estadual; a Supervisora Maria Cecília Molinari Nogueira, representando o Departamento Municipal de Educação, o Vereador Fernando Beti; a presidente da AMITE, Fafá Noronha e a Coordenadora do Concurso, a Acadêmica Neusa Menezes. Agradeceu ao presidente da SES, Sr. Lucio Doval, a disponibilidade do salão social, pelo sexto ano consecutivo. Agradeceu o apoio da Escola Estadual Cel. Joaquim José e do Supermercado Sempre Vale. Aproveitou para agradecer, também, a Sequóia Loteamentos pelo patrocínio de grandioso projeto. Mencionou diretores e professores pela dedicação em tornar o Projeto Jovem Escritor realidade e aos alunos, por acreditarem no desafio proposto para eles. Antes de começar o evento, citou o aniversário da Arcádia, nesse mês, em que completa 43 anos. A Academia estava em

Presidente Lucelena Maia, Professora Ana Aguiar Andrade - homenageada e Coordenadora Neusa Menezes

festa e aproveitando o salão lotado, com mais de 500 pessoas, entre crianças, jovens e adultos, dividia com imensa alegria as tantas e boas realizações do Sodalício. A presidente abriu os trabalhos de premiação informando a participação de 97% das escolas ao projeto. Das 237 redações possíveis, 203 chegaram até a Academia de Letras, com índice de 85% de aproveitamento. Após essa análise, a presidente citou o prefeito Vanderlei Borges como defensor da educação e deu-lhe a palavra. Na sequência, a palavra foi passada para a patrocinadora do evento, Sra. Diva Maria de Araújo Barth, que também foi comissão julgadora. Para concluir, a Coordenadora Neusa Menezes iniciou a premiação.

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Sopa de Letras Como Minha Mãe Participou da Revolução de 1932

Temino, hoje, a trilogia de crônicas sobre minha mãe, em homenagem à sua lembrança, já que há três anos, no mês de novembro, ela resolveu ir-se embora, em busca de outros planos espirituais. Mamãe nasceu em 1919 e foi a caçula dos cinco filhos do casal lisboeta José Maria e Adelaide. Perdeu a mãe aos sete anos e o pai, aos quinze. Foi criada pelas irmãs mais velhas, doces de criaturas, e pela cunhada Marina, uma portuguesa brava e neurótica que só atazanava a vida da família. No entanto, eu que convivi com essa tia, depois de velha, gostava muito dela. Contou-me ela que por ocasião da Revolução Constitucionalista de 1932, o sítio onde moravam foi palco de refregas entre soldados paulistas e mineiros. Meu tio e meu avô, que ainda eram vivos, proibiram as mulheres de saírem da casa, com receios de balas perdidas

ou, talvez, dos soldados que viviam de tocaia nos matos. Minha tia Marina ficou encarregada de vigiar as meninas. Certa noite, o tiroteio foi particularmente intenso e até de madrugada ouvia-se aquela barulhada tremenda. O fogo cruzado foi tão forte, que, pela manhã, todos saíram à procura de mortos ou feridos. Mas, para a alegria de todos e infelicidade de minha mãe, o único cadáver encontrado foi o de sua égua, por ela batizada, carinhosamente, de Estrela. Aprontou o maior berreiro e virou uma fera quando ouviu sua cunhada comentando: “Bem feito...pelo menos é um animár a menos prá tratá!” Mais à tardinha, minha mãe saiu às escondidas, a fim de recolher os cartuchos de balas vazios, espalhados pelos pastos. Conseguiu encher uma latinha, até ser encontrada pela furiosa cunhada! Foi levada de volta para casa, aos safanões, e já na cozinha, para fazer pirra-

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ça, jogou o conteúdo da latinha no braseiro do fogão, onde a tia Marina cozinhava o jantar. Parece mentira, mas não é que ainda havia dois cartuchos intactos e a explosão foi tão grande que até as trempes de ferro do fogão voaram longe! Apesar do estrondo, a única que saiu machucada foi minha mãe, mais pelas mordidas de ódio que a cunhada lhe aplicou... Apesar de brava, minha tia era uma excelente cozinheira e eu ainda cheguei a provar muitos de seus quitutes e até hoje tenho na lembrança o aroma de polvilho assado, em forma de biscoitos ou de pão de queijo. Anotem aí a antiga receita de pão de queijo que era feito com o polvilho fabricado por ela mesma.

PÃO DE QUEIJO DA TIA MARINA 1 kg de polvilho doce (hoje em dia, o melhor polvilho é o da marca Kitano) 3 ovos 2 copos de leite ou de água ½ copo de óleo 1 colher (sopa) rasa de sal Queijo ralado (o fundo de um prato fundo) Ferver o leite, o óleo e o sal. Escaldar o polvilho com essa mistura fervente. Depois de morno, acrescentar os ovos (um a um) e o queijo. Enrolar e assar em tabuleiro, sem untar.

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A

parte da gramática mais difícil é regência verbal. Tal assertiva se justifica, pois cada verbo tem sua regência, razão por que há mister o estudo de cada um. Fizemos o mais grande esforço possível para sermos objetivos em nossa apresentação; claro está, muitas discordâncias poderá haver, porque gramática não é matéria exata. Vamos oferecer aos preclaros leitores as regências do verbo ASSISTIR.

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Afiando a Língua Exemplo 1. - Mariana assiste ao desenho animado com sorriso nos lábios de anjo. - Carla assiste à novela. - João Alberto assiste ao jogo de futebol. Com o sentido de presenciar, ver, o verbo assistir é transitivo indireto e somente se emprega com a preposição “a”. Não admite a construção: João Alberto lhe assiste, mas, João Alberto assiste a ele. Por ser transitivo indireto não aceita voz passiva, apenas alguns verbos transitivos indiretos admitem. Incorreto, portanto, dizer: - O jogo foi assistido por vinte mil espectadores. Exemplo 2. - O médico assiste o doente. - O médico assiste ao doente. Ambas as duas formas estão corretas, pois o verbo assistir no sentido de “cuidar” admite as duas regências (transitivo direto e indireto). Destarte, a voz passiva é admissível: - O doente é assistido pelo médico. Exemplo 3. - Eu assisto nesta hospitaleira cidade de

São João da Boa Vista. Com o sentido de “residir”, o verbo assistir pede a preposição “em”, formando, assim, um adjunto adverbial de lugar. Exemplo 4. - Assiste ao réu o direito de recorrer. - Assiste-lhe o direito de recorrer. Com o significado de “caber”, “pertencer”, o verbo assistir é transitivo indireto, exigindo, portanto, a preposição “a”. “O direito de recorrer” é o sujeito da oração. “Ao réu” é objeto indireto. “De recorrer” é complemento nominal.

Missão cumprida! Amplexos vernáculos!

Ofereço este texto à Mariana, garota angelical, filha da Sra. Vanise.

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Livros E

sclareço que sou apenas um diletante de literatura. Leio muito, desde que fui alfabetizado pela saudosa professora Adalgisa e incentivado por Dona Wanda, minha pranteada mãe, leitora voraz. Escalado pela nossa dinâmica Presidente, Confreira Lucelena Maia, passo a vocês minhas impressões sobre algumas obras lidas e relidas dentre autores de minha predileção. Vejamos: SOLO DE CLARINETA: Memórias Volumes “1” e “2”. Meu ídolo e Patrono nesta Academia de Letras, Érico Veríssimo, nos apresenta no Volume “1” a sua biografia, num linguajar extremamente agradável, contando-nos (e envolvendo-nos) passagens de sua vida, que incluem seus familiares (numerosíssimos!), frutos de sua riquíssima árvore genealógica, com destaque especial para a eterna companheira Mafalda, seus filhos, Luís Fernando (também escritor) e Clarissa, e seus pais, Sebastião e Abegahy. Veríssimo nos mostra também um painel da vida gauchesca, cenário de quase toda sua fecunda obra literária. No Volume “2”, Érico descreve com riqueza de detalhes suas viagens pelo mundo.

Ele e Mafalda adoravam viajar. Conheceram boa parte do Planeta e as descrições de Érico (hábitos, culinárias, sistemas políticos, artes em geral, belezas naturais – “Deus tem cada uma!”) são primorosas. Haveria um terceiro volume dessas memórias, em que Veríssimo trataria de sua carreira de escritor e sobre literatura de um modo geral. Infelizmente, a morte o colheu no final do Volume “2”, pouco antes de completar 70 anos. E a obra ficou inacabada, para nossa profunda tristeza... CAMILO MORTÁGUA: Belíssimo romance do consagrado escritor, gaúcho como Érico, Josué Guimarães, um contador de histórias (como se intitulava), jornalista e militante político, na verdadeira acepção do termo. Josué destaca que o compromisso de todo escritor deva reunir três objetivos: interpretação da trajetória política de seu país, um alto padrão artístico literário e a repercussão junto a um vasto público. A história de Camilo Mortágua amadureceu por oito anos, antes de tomar sua estrutura definitiva. Seu lançamento ocorreu em 1980.

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O velho Cine Castelo tem importante papel no romance, pois Josué se utiliza da tela de um cinema para projetar as memórias do personagem principal do livro: Camilo Mortágua. Uma história emocionante que prende a atenção do leitor do início ao fim do romance, com personagens plenos de vida, que nos levam ao riso e às lágrimas, com descrições riquíssimas do autor. OS MELHORES BRAGA:

CONTOS

DE

RUBEM

Esta obra é um dos meus livros de cabeceira. Para boa parte de nossos críticos literários, Rubem Braga é o melhor cronista da Literatura Brasileira. Assino embaixo! A seleção dos textos foi criteriosamente elaborada pelo consagrado crítico, sãojoanense Professor Universitário de Literatura Davi Arrigucci Jr., que, curiosamente, denomina a coletânea como “melhores contos”. São 39 textos primorosos desse capixaba genial, que releio sempre, cada vez descobrindo um novo enlevo no prazer dessa leitura. Manuel Bandeira já definia sua produção como essencialmente romântica e Davi se refere a Rubem como urdidor de um visgo que prende o leitor como o faz um caçador com os passarinhos, mas com extrema ternura. Um narrador e comentarista dos fatos corriqueiros de todo dia, dando-lhes uma notável consistência literária. Impossível recomendar a leitura de

apenas determinadas crônicas desta coletânea; todas têm que ser “saboreadas prazerosamente”. ALEXANDRE E OUTROS HEROIS: A arte de escrever simples, com textos enxutos, de fácil entendimento para o leitor mediano. Assim se comunica Graciliano Ramos neste apanhado de “causos” contados por Alexandre, histórias que pertencem ao folclore nordestino. Mentirada ou não, como é saboroso ouvir o tabareu falastrão, ao lado da fiel companheira Cesária, dominando sua plateia cativa de caboclos simples e atentos. Nunca ouvi tal referência, mas desconfio de que o personagem Pantaleão do genial Chico Anísio foi inspirado nesse Alexandre do Graciliano. O mesmo “olho torto”, a mesma rede preguiçosa, a mesma companheira condescendente (no caso do Pantaleão era a Terta), as mesmas bazófias, tudo muito parecido e delicioso. De quebra, o livro traz também uma pequena história de nossa República e aí a narrativa e as opiniões são do Graciliano (amargas algumas). Vale (muito!) a pena conferir essas quatro preciosas obras de nossa Literatura!

Antônio “Nino” Barbin Cadeira 27 Patrono Érico Veríssimo ARCA | 69

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Jornalista Responsável: Francisco de Assis Carvalho Arten Projeto Gráfico: Fernanda Buga Edição: Neusa Menezes Gerência Administrativa e Financeira: Lucelena Maia Distribuição: Academia de Letras de São João da Boa Vista Revisão: Antônio “Nino” Barbin Vedionil do Império

Academia de Letras de São João da Boa Vista Presidente Lucelena Maia 1º Vice Presidente Antônio Carlos Rodrigues Lorette 2º Vice Presidente João Sérgio Januzzelli de Souza 1ª Secretária Silvia Tereza Ferrante Marcos de Lima 2ª Secretária Maria Cândida de Oliveira Costa 1º Tesoureiro Lauro Augusto Bittencourt Borges 2ª Tesoureira Vânia Gonçalves Noronha 1ª Bibliotecária Maria Célia de Campos Marcondes 2º Bibliotecário Antônio “Nino” Barbin

FOTOS: Silvia Ferrante Páginas: 18, 19, 20, 22, 23, 26, 27, 28, 29, 31, 32, 33, 39, 42, 43, 44, 47, 48, 49, 55. Internet: Páginas 36, 64, 66 e 67 Acervo UniFae Páginas 04 e 07 Maria José Moreira Página 08 Julio Lima Páginas: 22, 23, 55, 58 Acervo Neusa Menezes Páginas 12, 13, 15 e 41 Acervo Academia de Letras Página 17 Lauro Borges: Páginas: 24 e 25 Antônio Carlos R. Lorette Páginas 35 Cristiane Soares Página 58 Lucelena Maia: Páginas 2, 3

Contato Assistente de Secretaria Stefani Costa Praça Rui Barbosa, 41 - Largo da Estação 13870-269 - São João da Boa Vista-SP academiadeletras@alsjbv.com.br www.alsjbv.com.br

Dezembro de 2014

fotografia de capa: Silvia Ferrante

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