Al-Madan Online 18-1

Page 107

FIG. 9 − Doca Seca. À esquerda da imagem, a área a que poderá corresponder a realidade da Cova 1. Vista de Sul para Norte com as comportas em primeiro plano. Fotografia de Eduardo Portugal. Década de 30 do séc. XX. Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa.

nada com o Dique, sendo, no entanto, complicado aferir com certeza a sua funcionalidade. Nas três fiadas observadas, constatou-se que o aparelho construtivo é idêntico à estrutura que, à data da nossa intervenção, estava parcialmente exposta nas instalações da Administração Central da Marinha (Fig. 8). No mesmo sentido, o facto de se apresentar a pouca profundidade face à cota actual poderá ser um dado que aproxima os paralelismos entre as realidades. No entanto, a ausência de materiais arqueológicos, tal como a exiguidade do espaço onde foi detectada, não permitem, de momento, uma caracterização mais segura e concreta. Observando os elementos estruturais levantados e registados pelas intervenções arqueológicas levadas a cabo pelo Gabinete do Teatro Romano, em 1990 (FERNANDES, 1994), pela empresa Ozecarus, em 2002 (BUGALHÃO, 2005), e pela ERA, em 2010 (NASCIMENTO, 2010), há claros paralelismos que reforçam a nossa caracterização e leitura. No entanto, há que realçar que as acções levadas a cabo por estas três entidades possibilitaram leituras mais alargadas, quer em extensão, quer em profundidade. Um elemento que nos leva a considerar a possibilidade da estrutura identificada ser parte da Doca Seca é o facto do alçado registado ter os silhares aparelhados para Norte e, desta forma, virados para o interior de algo, ficando o alçado exterior (não identificado nesta inter-

venção) virado para o rio Tejo. A proximidade da estrutura com a zona exposta da Doca Seca (Cova 1, implantada a cerca de 30 m da parte exposta da Doca Seca) será, igualmente, um dado a ter em conta na sua caracterização e possível paralelismo. A maior dificuldade estará em compreender a globalidade da estrutura. A que espaço do Dique da Ribeira das Naus corresponde a realidade identificada e registada na Cova 1 das Árvores? Face à localização, em fotografia aérea, é difícil estabelecer uma relação directa entre os vestígios observados na Cova 1 e a Doca Seca. Traçando uma linha, que parte e segue a zona exposta da Doca, parece que a realidade da Cova 1 sai fora dos seus limites. No entanto, haveria um conjunto de realidades estruturais que fariam parte de um todo que caracterizava o Dique da Ribeira das Naus. E será neste conjunto que esta realidade se enquadrará. O facto de se terem, somente, observado três fiadas do sistema de cantaria / silharia é, como já referido, um elemento condicionante. No entanto, apesar de limitador, terá um conjunto de informações a ter em conta. As três fiadas são seguidas, não apresentando degraus nem elementos pintados que sinalizam a reparação de navios. Se observarmos a estrutura parcialmente exposta da Doca Seca, as imagens antigas em plena actividade e os dados provenientes do registo realizado pelo Gabinete do Teatro Romano em 1990, e em 2010 pela ERA (sondagem 1), constata-se que os primeiros patamares laterais da Doca Seca correspondem a duas fiadas de dois silhares, seguidas de um degrau. A existência de três fiadas seguidas só é observada a uma maior profundidade ou numa área próxima das realidades que encerrariam o dique (Fig. 9), já longe dos espaços onde se procediam às

107


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.