Revista AlmadaForma 6

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EDUCAÇÃO

Exames e Diferenciação Uma encruzilhada para os professores de Matemática Tenho que acreditar que sim, embora continuando a lutar para que os exames sejam abolidos. Enquanto as políticas educativas continuarem a valorizar apenas determinadas aprendizagens, sobrepondo aos processos educativos de desenvolvimento procedimentos elitistas e de exclusão, as soluções têm que passar por resistir procurando armas para continuar a trabalhar a inclusão e a valorizar o papel da escola, e neste caso da Matemática, no desenvolvimento de todas as crianças.

Cristina Loureiro Escola Superior de Educação de Lisboa

Elejo estes dois temas para discussão porque a meu ver eles estão na ordem do dia para os professores. Muitas vezes são encarados como um dilema para o qual a resposta ao primeiro, os exames, não permite responder ao outro, a diferenciação pedagógica. Prefiro pensar neles como uma encruzilhada para a qual o professor pode encontrar respostas conciliadoras.

Voltando à nossa encruzilhada, vou discuti-la a partir de uma pergunta da prova de exame do 4.º ano em 2014. Nesta prova, uma das questões de geometria pedia aos alunos que completassem duas afirmações a partir de três figuras (Fig. 1). As afirmações pediam a identificação de duas figuras que não são triângulos escalenos, B e C, com a respetiva justificação.

Os exames de Matemática no 4.º e 6.º anos constituem neste momento uma pressão enorme para os professores. Perante as exigências de mostrar resultados, muitos professores passam a encarar o trabalho em Matemática como preparação para os exames, levando os seus alunos a fazer fichas atrás de fichas, com caráter muitas vezes repetitivo de resolução de questões análogas às que saem nas provas de exame. Aprender matemática não é nem pode reduzir-se a isto. A Matemática não faz parte do currículo para preparar alunos para responder a questões de provas de exame. Porém, ao mesmo tempo que os professores sofrem a pressão dos exames, a diversidade de alunos na sala de aula, bem como a heterogeneidade dos alunos em cada turma, exigem cada vez mais que o professor ponha em prática processos de diferenciação pedagógica que permitam trabalhar com todos os alunos, valorizando os processos de cada um.

Figura 1 — Polígonos da questão 22 da prova de Matemática do 4.º ano

Esta questão está formulada de maneira pouco habitual por ser feita pela negativa e por exigir a justificação da escolha. Além disso, uma das figuras a escolher não é um triângulo e os triângulos é que estão em posições não habituais. O desafio que se coloca é como preparar os alunos para pensarem em geometria sem ser através da simples atribuição de nomes a figuras. Uma boa sugestão é realizar tarefas abertas como a que vou propor e discutir.

Exige-se assim ao professor um conhecimento cada vez maior dos instrumentos e recursos didáticos, para que as aprendizagens proporcionadas aos alunos, embora diferentes, concorram para o avanço e sucesso de todos, permitindo que os melhores tenham níveis mais elevados e os mais fracos também sejam bem sucedidos. Será isto possível em turmas tão grandes e com tantas diferenças? 16


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