Ficha técnica Coordenação Geral Paula Monterrey Coordenação Posada Allan Yzumizawa Produção Allan Yzumizawa / Lucas Costa Fotografia Lucas Costa / Allan Yzumizawa Revisão de Texto Lucas Costa Catálogo Allan Yzumizawa
sala 01
série: Forma equilibrada (201617) óleo sobre papel (pendurado e equilibrado por clips) 50 x 65 x 2 cm. (cada)
O equilíbrio nas linhas tortas. A casa Torta, através do programa de exposições Posada, configurase como um espaço de abertura para que artistas possam tomar certas decisões de acordo com suas experiências através das relações com a casa, como a arquitetura, cotidiano, atmosfera, fluxo de pessoas etc. Tendo essas especificidades em cheque, os elementos assimilados pelos artistas, que dentro do programa, apresentamse como um desafio a ser resolvido de acordo com o passar dos dias durante sua estadia (que variam de dois a três dias). Por não se tratar de um espaço asséptico como no caso das galerias ou outras instituições de arte, o movimento da produção não segue uma hierarquia da ideia do artista assentada no espaço expositivo, mas de uma horizontalidade do diálogo entre trabalho e espaço. Talvez esse diálogo seja um ponto para distinguir o espaço de lugar proposto por Marc Augé, ou até mesmo, os limites do sitespecific art de Miwon Kwon. Nos primeiros diálogos que tive com Lucas para que se pudesse concretizar o evento, o artista propôs na sala de entrada, expor um conjunto de obras das quais estava pesquisando, a série de pinturas Forma equilibrada (201617). Esse trabalho, o qual Lucas considera como uma pintura ao trabalhar com elementos formais e com a tinta a óleo mostra o gesto mais simples do assunto que irá abordar nos outros trabalhos na Posada, sendo esses, a tensão do equilíbrio formal e físico. Na sala, temos três pinturas da Forma equilibrada, uma em cada parede. A localização expográfica de cada pintura corresponde com o deslocamento da tinta sobre o papel. Na parede da esquerda, por exemplo, a camada de 2 cm. de tinta óleo compõe uma forma retangular também deslocada à esquerda do papel, na parede do meio, a forma encontrase centralizada no papel, e na parede da direita, deslocada para direita, respectivamente. O cheiro específico das pinturas indica que ainda não estão secas, aliás, talvez não a consigam alcançar esse atributo. O papel de fibra de bambu (com a dimensão de 50 x 65cm.), além de assentar o peso da camada espessa de tinta preta, equilibra todo o conjunto (papel, clips e tinta) de acordo com a posição onde o clips irá segurar o papel. Tornase uma espécie de pêndulo que vai se estabilizar ao relacionar fisicamente, a composição formal da tinta com o clips. Se um físico visitasse a exposição, com certeza conseguiria traçar uma fórmula matemática que relacionasse o equilíbrio físico com o equilíbrio formal. Mas talvez esse não seja o interesse do artista. Durante a montagem, pude observar enquanto Lucas posicionava o clips, que o equilíbrio era encontrado de modo intuitivo (experiência) atingindo um limite entre equilíbrio e desequilíbrio seus trabalhos presentificam a tensão através desses movimentos antagônicos.
Por isso, a presença do corpo do artista é tão importante para que se possa encontrar essa tensão, e aí o diálogo tão próximo com algumas questões do minimalismo, quando o crítico Hal Foster anuncia a preocupação do minimalismo com o corpo, mas não de uma forma de imagem antropomórfica, mas a partir da presença de seus objetos através da percepção do sujeito (fenomenológico). Essas três pinturas, essa simetria física apresentouse como um prelúdio dos outros trabalhos que se deram no quintal da casa. No quintal temos um tablet na parede da frente, passando dois vídeos de ações realizadas nesse mesmo lugar (ação n. 01 e ação n. 02). Na parede à direita, três fotos disponibilizadas numa reta vertical acompanham a linha da janela (ação orientada para fotografia). Na verdade, a linha sempre é um ponto de partida e de referência, mas o que acontece quando elas são todas tortas? (característica específica da casa) Caso visualizássemos a planta baixa da casa, iriamos obter um quadrilátero irregular, sem nenhuma reta paralela, sem nenhum ângulo reto. Porém, no vídeo da primeira ação, que resultará na série de fotografias também, notamos a composição formal de linhas retas verticais e horizontais. Na reta central do vídeo, formada pela quina onde se encontram a parede central e a parede da direita, temos o corpo do artista que ao se pendurar na estrutura montada, desenha simetricamente em conjunto com a linha da quina. No terço superior da fotografia, temos uma reta horizontal que corta a reta vertical, formada por um batente de madeira encontrada na garagem da casa e encaixada nas brechas da parede do quintal com a parte superior da janela da parede da direita. Um detalhe importante, que às vezes pode parecer irrelevante, é que no canto direito do vídeo, um outro batente – só que menor dá uma certa compensação para que a reta horizontal da madeira fique em nível, perpendicular com a linha vertical da quina. Mais do que um detalhe visual para que se possa desenhar o espaço, esse detalhe da madeira é importante para que o batente não fique em desnível e se desequilibre.
E é nessa relação entre forma e física (apresentada nas pinturas da sala) que se estrutura o equilibro, porém não é alcançada através de uma fórmula matemática, mas de uma fórmula estética. O corpo do artista entra como uma carga, ou uma energia aplicada que evidencia a tensão, e testa o limite daquela estrutura ao mesmo tempo que faz parte da composição desta: se integra à arquitetura, e aos objetos. No segundo vídeo, Lucas Costa utiliza os mesmos materiais do primeiro – dois batentes de madeira – mas agora, criando uma outra estrutura, conhecida popularmente como cavalo. As mesmas retas verticais e horizontais estão presentes, dessa vez compostas pelo chão do quintal e pelas madeiras da estrutura. O chão não se encontra em nível, tendo um certo deslocamento diagonal – a parte da direita é mais alta do que a parte da esquerda. Com isso, a madeira disposta na horizontal, ao encaixar na janela e com o outro pedaço na vertical, não consegue alcançar um nível através do vídeo, não consegue ficar reta. Contudo, ela consegue ficar em paralelo com o próprio chão. Talvez, as únicas retas paralelas da casa, que na mesma lógica do primeiro vídeo, evidenciam a tensão do equilíbrio e do desequilíbrio através da ação do corpo do artista, que dessa vez, caminha sobre a madeira lembrando um equilibrista de circo. Equilíbrio formal e físico tem a ver? Os assuntos indicados pelas pinturas da primeira sala refletem para as ações realizadas no quintal, na tentativa de responder essa pergunta. Por isso não é performance, ou o registro dela: seu trabalho não é a ação em si, mas a composição formal, e como as forças (tempo, peso, ação, gravidade) atuam nessa estrutura para visibilizar a tensão do equilíbrio/desequilíbrio. Dessa forma, Lucas Costa opta em tratar de ações orientadas para o vídeo e para a fotografia. Afinal, não se trata de pôr o corpo em risco, ou de fazer simplesmente uma ação (correndo o risco de o espectador não perceber todas essas linhas evidenciadas pela série fotográfica e nos vídeos), mas de encontrar o equilíbrio das linhas retas nas arquiteturas tortas da casa.
Allan Yzumizawa Campinas, Outubro de 2017.
quintal
ação nº 1 | ação nº 2 (2017) vídeo 3'6'' | 4'
Sem tĂtulo (2017) 3 impressĂľes de 21 x 30 cm. (cada)
Conversa com Sylvia Furegatti e Lucas Costa. link: soundcloud.com/yzumi/conversasylviafuregattielucascosta
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