Lago Dochart, Escócia, Reino Unido
A
ONDE O SILÊNCIO VALE OURO TEXTO E FOTO ALINE OLIC
temperatura é baixa. Sintomas de um verão que possui os dias contados. O sol, fraco, já pouco aparece. Não é mais o ator principal. Entende que precisa repousar durante os meses seguintes para sua reestreia. No entanto, o astro luminoso se esconde, na coxia, caso algum dos atores fenomenais, talentos naturais, esqueçam suas falas. Entrará em cena, mesmo fraco, radiante, sabendo que tudo gira ao seu redor. As montanhas, tão altas e belas, tímidas, se envolvem na mais bela e misteriosa neblina. Seu longo vestido branco se arrasta por quilômetros. Encadeadas, sabem que ali, para sempre, ficarão, mas que nunca estarão sós. Uma vez ou outra, alpinistas. “Bom dia!” com olhares. Seguem seus caminhos. Eu, sigo o meu. Alguns lagos se escondem atrás de árvores. A água gélida proíbe qualquer banho. Suspiros de alívio. Narcisos, ali, estão a salvo. Se apaixonam pelo lago e esquecem de contemplar suas próprias feições. Tempestades andam calmas, com seus cajados rajados. Não há motivo para explodirem. Calmaria. A chuva, fraca, cai. Nos pés, lama, barro. As botas sujas, a alma limpa. Gratidão. Medo. Vazio. O cartão de memória da câmera fotográfica não é o bastante para guardar tanta beleza. Nada é. Nada será. Diante da perfeição, fecho os olhos. Agradeço. Busco algo. Procuro, sem estar pedida. Não fiz uma viagem. Me tornei uma viajante.
Setembro/Outubro 2016 Revista Ponto & Vírgula 15