A garota que voce deixou para trás jojo moyes

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coceira, e vi um na minha saia. Espanei-o com a mão, sentindo que isso era inútil. Não escaparia deles, eu sabia. Era impossível passar tanto tempo em contato direto com outros e evitá-los. Devia haver trezentas mulheres tentando se lavar e usar o banheiro em paz num espaço planejado para doze pessoas. Quando consegui trazer Liliane para perto dos cubículos, ambas tivemos ânsias de vômito diante do que encontramos. Limpamo-nos na bomba de água fria como pudemos, seguindo o exemplo das outras mulheres: elas mal se despiam, e olhavam em volta preocupadas, como se esperando algum subterfúgio dos alemães. — Às vezes, eles irrompem banheiro adentro — disse Liliane. — É mais fácil, e mais seguro, ficar vestida. Enquanto os alemães estavam ocupados com os homens, saí para catar gravetos e pedaços de barbantes entre os escombros, depois fui me sentar com Liliane. Na fraca claridade, entalei os dedos quebrados de sua mão esquerda. Ela foi muito corajosa, aguentando firme mesmo quando eu sabia que devia estar machucando-a. Ela parara de sangrar, mas ainda andava com cuidado, como se sentisse dor. Não me atrevi a perguntar o que lhe acontecera. — É bom ver você, Sophie — disse ela, examinando a mão. Lá no fundo, pensei, ainda devia haver uma sombra da mulher que conheci em St Péronne. — Nunca fiquei tão feliz em ver outro ser humano — eu disse, enxugando seu rosto com meu lenço limpo, e estava sendo sincera. Os homens foram enviados para realizar um trabalho. Dava para ouvi-los ao longe, fazendo fila para receber pás e picaretas, formados em colunas para marchar em direção ao barulho infernal no horizonte. Fiz uma prece silenciosa para que nada acontecesse com nosso francês caridoso, depois fiz outra, como sempre fazia, por Édouard. As mulheres, enquanto isso, foram direcionadas para um vagão de trem. Fiquei desanimada com a ideia da próxima viagem demorada e fedida, mas aí me censurei. Pode ser que eu só esteja a algumas horas de Édouard, pensei. Pode ser que este seja o trem que me leve a ele. Embarquei sem reclamar. Embora esse vagão fosse menor, parecia que esperavam embarcar nele todas as trezentas mulheres. Ouviam-se xingamentos e algumas discussões abafadas enquanto tentávamos sentar. Liliane e eu encontramos uma pequena vaga no banco. Sentei-me aos seus pés e soquei a bolsa embaixo dela. Eu cuidava daquela bolsa com zelo, como se ela fosse um bebê. Alguém gritou ao sentir o trem chacoalhar com a explosão de um projétil nas imediações. — Me conte sobre Édith — disse ela quando o trem partiu. — Ela está bem-disposta. — Falei com a voz mais convincente possível. — Come bem, dome tranquila, e ela e Mimi estão inseparáveis. Ela adora o bebê, e ele a adora também. Enquanto eu falava, descrevendo a vida da filha em St Péronne, ela manteve os olhos fechados. Não sei se aliviada ou agoniada. — Ela está feliz? Respondi com cuidado:


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