EDITORIAL
Luís Mesquita Dias PRESIDENTE DA DIREÇÃO DA AGROTEJO
ÁGUA
Urgência e desafio
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Estamos a chegar ao fim de mais um ano particularmente rico em acontecimentos que trouxe à superfície o melhor e o menos bom que todos nós, como país, temos para dar. A comunidade, como um todo, deu exemplos notáveis de resiliência perante as dificuldades, de disciplina quando foi preciso tê-la e de solidariedade para com os mais afetados. Os poderes públicos, apesar de atuações por vezes erráticas, estiveram no seu melhor em momentos decisivos como o da vacinação. O setor agrícola confirmou os méritos que já tinha revelado no primeiro ano da pandemia, nunca parando e continuando a criar riqueza a uma taxa de crescimento superior à do resto da economia. Deparámo-nos, no entanto, com limitações antigas sem termos visto muitos dos nossos problemas estruturais serem resolvidos. A proliferação de entidades que têm de pronunciar-se sobre as várias intenções de investimento, não parece querer dar tréguas a quem pretende levar por diante os seus negócios. A burocracia comprova-se a cada dia como um dos fatores que mais retardam o nosso desenvolvimento e o seu combate deveria estar no centro das preocupações governativas. A dicotomia ambiente-agricultura parece ter-se extremado quando idealmente deveriam ter convergido. A mensagem de movimentos ativistas ocupou grande espaço mediático quase sempre sobrepondo-se a uma análise ponderada e objetiva que identifique as deficiências e divulgue os bons exemplos. Um maior equilíbrio entre estes dois pilares é urgente se queremos
AGROTEJO união agrícola do norte do vale do tejo
n.º 31 | 2021
aspirar à prosperidade e não apenas ao idealismo bucólico. A água e a sua falta, continuou a ser insuficientemente debatida mantendo-se algum tabu relativamente à procura de novas fontes de captação, como sejam os transvases ou a dessalinização. As barragens continuaram a ser vistas como uma ameaça à natureza em vez de uma fonte de vida e de autonomia para o País. Tudo o que acima se refere tem relevância nacional. O tema da água tem, no entanto, particular relevância para o Ribatejo e o rio Tejo que o percorre. As receitas estão há muito identificadas e apontam para uma sequência temporal bastante óbvia: 1. O consumo atual da água deve ser racionalizado, assegurando uma gestão eficiente de um bem escasso. 2. As barragens do Zêzere têm no termo das atuais concessões, a janela de oportunidade para se tornarem o pulmão óbvio que deveriam ser. 3. A construção da barragem do Ocreza tem uma relação custo-benefício de tal forma positiva que é difícil entender que seja contestada. 4. O Projeto Tejo tem a dimensão que a nossa ambição, como país, deve ter, sabendo todos que, pela sua envergadura, a sua concretização terá de ser faseada. Assim, tenhamos empresários conscientes, ambientalistas equilibrados e governantes com visão que em conjunto permitam pôr em prática estes passos de que o Ribatejo e o país necessitam.