Agrotec 34

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1º trimestre 2020 | 8€ ( Portugal Continental) | trimestral | Diretor: Bernardo Madeira | agrotec.pt

Inclui o suplemento Pequenos Frutos N.30

34 ESPECIAL OLIVICULTURA MINISTRA DA AGRICULTURA: «É PRECISO GARANTIR A RENTABILIDADE AOS AGRICULTORES» ADEQUAÇÃO DO PORTA-ENXERTO “GOU TOU” À CITRICULTURA PORTUGUESA RESISTÊNCIAS ÀS INFESTANTES DO ARROZ

OS DESAFIOS DA GESTÃO DA ÁGUA



editorial

revista técnico-científica agrícola

nº 34 | 1º trimestre 2020

diretor Bernardo Sabugosa Portal Madeira · diretor@agrotec.com.pt

agrotec.pt

diretor executivo António Malheiro · a.malheiro@publindustria.pt redação Sofia Cardoso · redacao@agropress.pt · Tel. +351 220 964 363 marketing Daniela Faria · marketing@agropress.pt · Tel. +351 225 899 620 design gráfico Raquel Boavista · design@delineatura.pt · Tel. +351 225 899 622 Delineatura – Design de Comunicação · www.delineatura.pt imagem de capa Carol Highsmith gestão de tecnologias de informação 360 graus · info@360graus.pt assinaturas info@booki.pt · www.booki.pt · Tel. +351 220 104 872 conselho editorial Ana Malheiro (Advogada), António de Fátima Melo Antunes Pinto (ESAV-IPV), António Mexia (ISA-UTL), George Stilwell (FMV-UTL), Henrique Trindade (UTAD), Isabel Mourão (ESA-IPVC), Jorge Bernardo Queiroz (FCUP), José Estevam da Silveira Matos (UAC), Mariana Mota (ISA-UTL), Nuno Afonso Moreira (UTAD), Ricardo Braga (ISA-UL), Teresa Mota (CVRVV) colaboraram neste número: Adélia Reis, Alexandra Braga de Carvalho, Aline Viana, Amílcar Duarte, Ana Monteiro, Anicia Gomes, Anne Meyer, António Guerra, Arlindo Lima, Beatriz Casais, Berta Gonçalves, Bruna Rodrigues, Carlos Ribeiro, Catarina Madaleno, Cláudia Brandão, Conceição Santos, Cristiana V. Correia, Diana Acácio, Elsa Lopes, Filipa Setas, Francisco Mondragão-Rodrigues, George Stilwell, Gonçalo Canha, Graça Pacheco Carvalho, Henrique Ribeiro, Isabel Calha, Ivo Oliveira, João Campos, Jorge Vazquez, Lara Vilaça, Luís Alcino Conceição, Luísa Pinto, Márcia Araújo, Maria Dias, Mário de Carvalho, Nuno Mariz-Ponte, Paulo Forte, Pedro Pacheco, Rafael J. Mendes, Ricardo Serralheiro, Sara Sario, Sílvia Afonso, Teresa Letra Mateus, Teresa Vasconcelos, Zita Martins Ruano propriedade Publindústria, Lda. Empresa Jornalística Registo n.º 213163 NIPC: 501777288 Praça da Corujeira 38, 4300-144 Porto, Portugal Tel. +351 225 899 620 · Fax +351 225 899 629 a.malheiro@publindustria.pt · www.publindustria.pt edição Agropress – Comunicação Especializada, Lda. Praça da Corujeira 38, 4300-144 Porto, Portugal Tel. +351 225 899 620 · www.agropress.pt conselho de administração António da Silva Malheiro Maria da Graça Carneiro de Carvalho Malheiro Ana Raquel Carvalho Malheiro detentores de capital social António da Silva Malheiro (31%) Maria da Graça Carneiro de Carvalho Malheiro (38%) Ana Raquel Carvalho Malheiro (31%) sede da redação Agropress – Comunicação Especializada, Lda. Praça da Corujeira 38, 4300-144 Porto, Portugal Tel. +351 225 899 620 · www.agropress.pt representante em espanha: INTEREMPRESAS – Nova Àgora, S.L. Amadeu Vives 20 08750 Molins de Rei – Barcelona Tel. +34 936 802 027 · Fax. +34 936 802 031 correspondentes Bruxelas: Ana Carvalho · ana.carvalho@agrotec.com.pt Reino Unido: Cristina Sousa Correia · reinounido@agrotec.com.pt Rio de Janeiro: Henrique Trévisan · riodejaneiro@agrotec.com.pt Itália: Martina Sinno Portugal: João Nuno Pepino · joaonunopepino@gmail.com impressão e acabamento Lidergraf – Sustainable Printing Rua do Galhano 15, 4480-089 Vila do Conde periodicidade / tiragem: Trimestral / 8.000 exemplares Registo ERC n.º 126 143 inpi Registo n.º 479358 ISSN: 2182-4401 Depósito Legal: 337265/11 Estatuto editorial disponível em www.agrotec.pt Os artigos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores.

O TORRÃO DE AÇÚCAR E A EFICIÊNCIA DO USO DA ÁGUA Há muitos, mesmo muitos anos, nas escolas de agricultura ensinava-se a importância da sacha e da mobilização do solo na economia da água. Havia uma experiência empírica bem simples: Colocar dois andares de cubos de açúcar comprimido em um pires e, por cima destes, uma colher de açúcar granulado. Depois, adicionar um pouco de água ao pires e ver que a água, por capilaridade, muito rapidamente, assomava à superfície dos cubos de açúcar mas muito lentamente e, só após muito tempo, amolecia o açúcar granulado, ou até nem acontecia. De igual forma, se falava de como uma pegada, num solo “fresado” aparece húmida durante a manhã e a terra em volta se mantém com uma crosta seca. Estas experiências pretendem demonstrar como o solo compactado conduz muito rapidamente a água à superfície, fazendo-a evaporar-se e perder-se. Por este motivo, “os antigos” ainda dizem que uma sacha equivale a uma rega, pela economia de água que proporciona. Prática cada vez mais em desuso, mas que não deveria ser esquecida, e quando possível recuperada. E de rega, e eficiência do uso da água se centra esta edição da AGROTEC, no final de um Inverno que foi particularmente chuvoso, e em que as infraestruturas de rega do Mondego demonstraram a sua fragilidade, mercê de décadas de incúria, prenunciando uma catástrofe humana e, pela esperada inépcia, a continuação de um sistema inacabado de regadio, em uma das várzeas mais ubérrimas de Portugal.

«Estas experiências pretendem demonstrar como o solo compactado conduz muito rapidamente a água à superfície, fazendo-a evaporar-se e perder-se. Por este motivo, “os antigos” ainda dizem que uma sacha equivale a uma rega, pela economia de água que proporciona. Prática cada vez mais em desuso, mas que não deveria ser esquecida, e quando possível recuperada» Bernardo Sabugosa Portal Madeira Diretor | Doutorado em Ciências Agrárias

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sumário editorial

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cuidados veterinários 04

BovINE, um novo projecto europeu para a sustentabilidade da produção de bovinos

dossier

a gestão da água

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A incerteza do regadio e da gestão da água

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A complexidade do Aproveitamento Hidroagrícola da Lezíria Grande de Vila Franca de Xira

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O Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva Os caminhos da água

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Estratégia de gestão da água no Alentejo

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Determinação do momento ótimo de colheita da azeitona

58

Porque vale a pena o azeite das variedades portuguesas

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ADP Fertilizantes apresenta Nutrifluid Impulse

fruticultura 06

As carraças transmitem doenças – a babesiose 36

agricultura 09

Entrevista Gonçalo de Freitas Leal, diretor-geral da DGADR

62 64

Entrevista Maria do Céu Albuquerque, ministra da Agricultura

67

Aplicação de NUTRIMAIS no amendoal tradicional Amêndoa tradicional portuguesa – caraterização biométrica e mecânica Breve caraterização do porta-enxerto “Gou Tou” e a sua adequação à citricultura portuguesa

nutrição vegetal floricultura 42 14

Fórum Stresses Abióticos Das contaminações dos solos às alterações climáticas

empresas que já são futuro 16

Uma nova solução para prevenir e detetar incêndios florestais

ESTATUTO EDITORIAL Título AGROTEC – Revista Técnico-Científica Agrícola Objeto Promoção de tecnologias inovadoras que sustentem a competitividade da agricultura nacional e dos países de expressão portuguesa. Objetivo Estabelecer pontes de diálogo técnico e cooperação com profissionais que operam no setor das Ciências Agrárias, Empresários, Gestores, Formadores e Produtores, tanto em Portugal como nos países de expressão portuguesa. Enquadramento Formal A AGROTEC – Revista Técnico-Científica Agrícola respeita os princípios deontológicos da liberdade de imprensa e ética profissional, de modo a não poder prosseguir apenas fins comerciais ou políticos, encobrindo ou deturpando a informação, indo antes ao encontro

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A importância de alguns nutrientes na qualidade da produção da maça

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A valorização do interior e as megatendências alimentares

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Gestão das infestantes do arroz

Alternativas à turfa na formulação de substratos para a instalação de relvados para golfe

olivicultura 46

Comportamento fenológico das variedades de oliveira

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Monitorização de olivais através do uso de técnicas de deteção remota

das necessidades dos leitores e do bem comum. Na revista haverá liberdade de menção a marcas e produtos sem que tal esteja associado à presença ou ausência de anunciante do artigo mencionado. Caracterização Publicação periódica especializada. Suporte A revista Agrotec estará disponível ao público em formato de papel e em formato digital. Estrutura Redatorial • Diretor; • Diretor-Executivo; • Conselho Editorial; • Coordenador Editorial; • Colaboradores. Seleção de Conteúdos A seleção de conteúdos científicos é da exclusiva responsabilidade do Diretor e do Conselho Editorial. As restantes rubricas são propostas pelo Diretor Executivo e pela Re-

estante

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opinião

80

dação, de acordo com a linha editorial da revista. Poderá ser publicada publicidade redigida nas seguintes condições: Identificada com o título de “publireportagem”; com a aposição no texto do termo “publicidade” se publicada no formato de notícia. Espaço Publicitário A publicidade organiza-se por espaços de páginas e frações, encartes e publireportagens. A tabela de publicidade é válida para o espaço económico europeu. A percentagem de espaço publicitário não poderá exceder 1/3 da paginação. A direção da revista reserva-se ao direito de recusar publicidade, sobretudo se a mensagem não se coadunar com o seu objeto editorial; e se o anunciante indiciar práticas danosas das regras de concorrência ou sociais. Os artigos assinalados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Aceda também aqui: www.agrotec.pt/revista/estatuto-editorial/

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cuidados veterinários

BovINE – NOVO PROJETO EUROPEU PARA A SUSTENTABILIDADE DA PRODUÇÃO DE BOVINOS

George Stilwell Médico-veterinário, PhD, Diplom ECBHM Faculdade de Medicina Veterinária Universidade de Lisboa (FMV – ULisboa) Fotos: Martha Stilwell d’Andrade

In this paper the new project Horizon 2020, called BovINE, is introduced. The main objectives, the consortium and the diverse workpackages will be presented. In summary, this project intends to “tackle urgent sustainability challenges faced by beef producers by bringing together beef farmers, farming organisations, advisors, researchers and all relevant actors across member states to close the divide between research and innovation in Europe”.

No início deste ano teve início os trabalhos de um novo projecto europeu destinado a reunir, rever e divulgar o conhecimento ligado às boas práticas na produção de carne de bovino. O objectivo principal será o de promover uma rede que ligará investigadores, técnicos, organizações de produtores e demais parceiros, no sentido de partilhar inovação e ciência que garanta a sustentabilidade do sector. O projecto chama-se BovINE (Horizon 2020), e funcionará através da cooperação de diversas instituições de dez países membros da União Europeia. A coordenação ficará a cargo da Teagasc, um organismo oficial irlandês de investigação na área da agricultura e da pecuária.

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Os desafios actuais para a produção bovina são imensos. Uns são reais e preocupantes, outros são fait-divers criados e expandidos por pessoas e grupos que pouco ou nada sabem sobre o assunto. É preciso distingui-los: enfrentar e procurar soluções, com ajuda da Ciência, para os primeiros e desmascarar e expor as falsidades encerradas nos segundos. De uma forma muito resumida podemos dizer que é preciso cumprir a suprema missão de produzir um alimento de elevada qualidade e segurança, enquanto se responde a efectivas, complexas e difíceis exigências da sociedade. Isto tudo tentado manter o produto final ao alcance de todos, ou seja, mantendo uma certa equidade social. Consegui-lo é realmente um feito notável. As principais preocupações sociais relacionadas com a produção de bovinos e a que urge responder, são: o impacto ambiental, o bem-estar animal e o efeito do consumo de carne sobre a saúde humana. Estas questões têm de ser estudadas e analisadas no seu todo e as conclusões não se podem basear em avaliações unilateralistas, preconceituosas e tendenciosas, independentemente do lado que se esteja a defender. Por exemplo, no caso do impacto ambiental, a avaliação deve ser feita perante dados recolhidos pela ciência imparcial, levando em conta todos os reais efeitos (positivos e negativos). Sabemos que os ruminantes são os únicos que conseguem transformar matérias que não têm qualquer valor para a alimentação humana, em proteína de alta qualidade. Sabemos que podem garantir a sobrevivência de pes-

soas em zonas pobres e mesmo desertificadas, reduzindo a necessidade de migrações de povos inteiros. Sabemos que usam pastagens com uma imensa capacidade de retenção de carbono e ajudam a manter ecossistemas de enorme importância (por exemplo, os montados de sobreiro). Sabemos que adubam os campos reduzindo a necessidade de fertilizantes químicos. Sabemos que produzem materiais biodegradáveis que permitem reduzir o uso de plásticos e outros poluentes. Mas também sabemos que produzem metano (um poderoso gás de efeito estufa), que consomem grandes quantidades de água e que precisam de áreas grandes de pastagem. Também na garantia do bem-estar animal, os produtores são chamados a responder a importantes questões éticas. É crucial, possível e nem sempre difícil, produzir bovinos mantendo uma boa qualidade de vida. Seguindo boas práticas conseguem-se garantir condições de alimentação, segurança, saúde e conforto muito elevadas e próprias de uma espécie gregária, rústica... e com um enorme apetite. Foram exactamente estas e outras preocupações semelhantes, que levaram à criação do projecto de que hoje aqui falamos. O projecto, financiado pelo programa Horizon 2020 da União Europeia, chama-se BovINE (Beef Innovation Network Europe) e propõe criar uma rede transnacional dedicada à divulgação dos conhecimentos adquiridos ao longo de anos pela investigação científica e pela aplicação de boas práticas nas explorações de pecuária. Para assegurar a sustentabilidade do sector da carne de bovino na Europa, o BovINE irá interligar investigadores, técnicos, associações de produtores e outros elementos relevantes, estimulando o diálogo, a troca de informações e a procura conjunta de soluções. O projecto irá partilhar ideias inovadoras e estimular a adopção de métodos comprovados pela investigação, mas ainda não adoptados pela produção. Irá também garantir que as questões sejam discutidas com veracidade, transparência e imparcialidade e as conclusões divulgadas à sociedade, muitas vezes tão mal informada. Em suma, pretende formar fortes e sólidas pontes entre a ciência/tecnologia e a produção, tudo feito à vista dos consumidores.

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Em termos práticos, o consórcio, formado por dez países europeus, dividiu as diversas tarefas por grupos de trabalho incumbidos de abordar as várias vertentes da produção: • Qual o verdadeiro impacto ambiental da produção de carne de bovino? Como pode ser minimizado esse impacto? Que sistemas de produção são mais nefastos e quais os que promovem uma produção mais harmoniosa com a Natureza? Quais os benefícios para o ambiente, quais as alternativas sugeridas e qual será o seu peso ambiental/económico? • Quais as preocupações principais em termos de bem-estar animal? Como podemos avaliar de forma objectiva o bem-estar dos bovinos? Quais as doenças mais importantes e como as podemos prevenir? Como garantir a qualidade de vida, a expressão dos comportamentos mais importantes e o conforto dos nossos animais? Quais sistemas são mais amigos dos animais?

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• Como podemos colocar a tecnologia, incluindo a seleção genética, a melhorar a qualidade de vida dos animais enquanto garante o sucesso da produção? • Qual a sustentabilidade económica das diversas boas-práticas recomendadas? Será utópico tentar aplicar tudo o que a Ciência eventualmente defina como bom, já que a possibilidade de boicotar a sobrevivência da produção pode ser uma realidade? Os restantes grupos de trabalho irão promover a divulgação e a troca de experiências, nomeadamente com projectos que se ocupam de áreas muito específicas de investigação. Aliás, um dos maiores perigos da investigação científica de alta qualidade é ficar fechada em gabinetes e publicações das universidades e instituições afins. A grande incumbência do BovINE é abrir aos produtores, aos técnicos, aos consumidores e à sociedade em geral, estas portas encobertas, desconhecidas ou empoeiradas. Aqui merecem uma palavra de

reconhecimento as publicações, na qual se inclui a Agrotec que aceitou desde o princípio cooperar de forma muito próxima com o consórcio, que levarão a palavra para o público-alvo do BovINE. São elas que garantirão que a missão última e superior do projecto se complete. Portugal é um dos 10 países que formam o consórcio e está representado pela Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa (FMV-UL) e pela Promert (Agrupamento de Produtores de Bovinos Mertolengos), que se comprometem a trazer a visão e as preocupações dos produtores e levar consigo a tarefa de dar a conhecer as boas práticas e as inovações. O projecto BovINE, ao longo dos três anos de trabalhos, promete compilar o que a ciência demonstra serem boas práticas e fornecer linhas orientadoras à produção, garantindo assim a sustentabilidade de um sector tão importante para a economia europeia. Paralelamente irá garantir que o público conheça a verdadeira história da produção de bovino... e não o que se fantasia.


«É PRECISO GARANTIR A RENTABILIDADE AOS AGRICULTORES E OS SEUS RENDIMENTOS» Maria do Céu Albuquerque é a nova ministra da Agricultura. Caracterizando o seu percurso político pelo «serviço público», a nova titular da pasta da agricultura já desempenhou funções enquanto Presidente da Câmara de Abrantes e Secretária de Estado do Desenvolvimento Regional. Este é o seu maior desafio até à data, algo que encara com «responsabilidade», visto que, na sua ótica, a «agricultura é o motor de desenvolvimento em Portugal». Entrevista Sofia Cardoso Fotos Sofia Cardoso e Ministério da Agricultura

AGROTEC: O seu percurso até chegar a ministra da Agricultura foi marcado pela disponibilidade em aceitar novos desafios. Como o descreve até então? MARIA DO CÉU ALBUQUERQUE: O meu percurso político caracteriza-se pelo serviço público. Faço-o com sentido de responsabilidade, com vontade de servir todas e todos os portugueses.

to Regional, consegui adquirir mais conhecimentos e conhecer as desigualdades do nosso país, mas também adquiri matéria para dar mais oportunidades a quem vive nesses territórios. Aceitei este desafio, de ser ministra da Agricultura, com a certeza que conseguimos fazer mais pelas pessoas, pelo nosso país. A agricultura é o motor de desenvolvimento de Portugal.

da PAC, que engloba o 1º pilar e o 2º pilar da PAC, é desenhado pelo Ministério da Agricultura, mas em conjunto com outras áreas governativas, como sejam o Ministério do Ambiente e Alterações Climáticas, que trabalhará em estreita articulação, mas também com o Ministério da Coesão, do Planeamento, da Economia e Transição Digital e Ciência e Tecnologia.

AG: De que forma ter sido secretária de Estado do Desenvolvimento Regional contribuiu para o atual desempenho das novas funções, dado o conhecimento das fragilidades e especificidades agrícolas do território nacional? MCA: Tenho no meu currículo a vereação e a presidência de uma câmara. Isto significa que conheço muito bem os territórios e que condições reúnem. Como Secretária de Estado do Desenvolvimen-

AG: O Desenvolvimento Rural já não pertence à pasta da Agricultura, bem como as Florestas, que não ficavam fora da pasta desde 1974. Baseado na sua experiência profissional, acredita que tal se justifica? MCA: O Desenvolvimento Rural pertence à pasta da agricultura, agora e no futuro. Senão veja-se: a definição do próximo quadro para a Política Agrícola Comum (PAC), o denominado Plano Estratégico

AG: No futuro, o trabalho passa então por colaborar com o Ministério do Ambiente e com o Ministério da Coesão Territorial. Será uma colaboração facilitada? MCA: Será com toda a certeza, uma colaboração facilitada. É importante que todos tenhamos a perceção que vamos trabalhar para um fim, que é colocar a Agricultura e as Florestas ao serviço do nosso país. Trabalhamos de mãos dadas. Do ponto de agricultura

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dossier a gestão da água

A INCERTEZA DO REGADIO NACIONAL AGRADECIMENTO Claudia Brandão, Chefe da Divisão de Infraestruturas Hidráulicas da Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural, é a editora convidada do dossier desta edição, dedicado ao regadio. Neste dossier poderá contar com vários artigos, entre eles uma análise sobre a incerteza atual do regadio e da gestão da água, realizada pela editora convidada, “A complexidade do Aproveitamento Hidroagrícola da Lezíria Grande de Vila Franca de Xira”, “O Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva”, “Estratégia de gestão da água no Alentejo” e uma entrevista a Gonçalo de Freitas Leal, atual diretor-geral da DGADR. A revista Agrotec agradece à editora convidada por todo o incansável apoio prestado durante este trabalho, que tornou possível a elaboração de um dossier versátil e útil à comunidade. Um sincero agradecimento por parte de toda a equipa.

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A incerteza do regadio e da gestão da água

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O Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva – os Caminhos da Água

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Estratégia de gestão da água no Alentejo

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A complexidade do Aproveitamento Hidroagrícola da Lezíria Grande de Vila Franca de Xira

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Estratégia de gestão da água no Alentejo



olivicultura

COMPORTAMENTO FENOLÓGICO DAS VARIEDADES DE OLIVEIRA COBRANÇOSA, GALEGA VULGAR E AZEITEIRA

Elsa Lopes1 Francisco Mondragão-Rodrigues1,2 1Instituto Politécnico de Portalegre (IPPortalegre) 2Mediterranean Institute for Agriculture, Environment and Development, Universidade de Évora (MED – UEvora)

INTRODUÇÃO

As alterações climáticas são, hoje em dia, uma realidade inegável, esperando-se que ocorra na Península Ibérica, nas próximas décadas, um aumento gradual da temperatura média e uma diminuição da precipitação média anual. Esta nova realidade justifica claramente o estudo, com detalhe, do comportamento fenológico e produtivo das variedades de oliveiras portuguesas, isto por se pensar estarem melhor adaptadas ao clima das regiões portuguesas e potencialmente melhor preparadas do que as variedades estrangeiras, no que respeita às condições climáticas adversas que se esperam até ao final do século. Tendo em conta a sensibilidade que a oliveira apresenta em algumas fases do ciclo a fatores de stress, como as altas e as baixas temperaturas ou a ausência de precipitação, pensa-se que algumas anomalias derivadas das condições ambientais inadequadas – como a elevada formação de flores imperfeitas sem capacidade para gerar fruto ou a desidratação do estigma

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durante florações com temperaturas elevadas e falta de água no solo – contribuirão para a redução da produção olivícola nos anos vindouros (Cordeiro, 2014). Uma particularidade da cultura da oliveira é o seu ciclo reprodutivo bienal, fazendo com que existam dois ciclos reprodutivos/produtivos em simultâneo. Em cada ano ocorre o processo de floração na primavera, que levará à formação do fruto e à sua maturação no outono, ao mesmo tempo que ocorre o processo de formação das gemas nos crescimentos do ano e o início do processo de indução floral, que culminará na floração e na produção do ano seguinte. A floração, o vingamento, o crescimento do fruto e a maturação ocorrem nos lançamentos do ano anterior (Rallo e Cuevas, 2008). A simultaneidade dos dois ciclos e a sua interação (e competição) estão muito dependentes das condições ambientais do ano. As gemas axilares, resultantes do crescimento vegetativo do ano, passam por processos químicos e fisiológicos durante o verão até ao repouso invernal. Estes processos estão dependentes do frio que se faz sentir no inverno (Cordero e Inés, 2017) e da acumulação de temperaturas (Galán et al., 2001; Orlandi et al,. 2005; Aguilera et al,. 2014). Vários estudos mostram também uma relação entre as horas de frio, acumuladas no inverno, que provocam a quebra de dor-

mência e o processo de floração da oliveira na primavera seguinte (Guerrero, 1994; Rallo e Martin, 1991). No ano seguinte, a temperatura nos dois meses antes da floração é um dos principais fatores que determina a data de floração. Se a temperatura é alta, a floração é mais precoce e se a temperatura é mais baixa que o normal, a floração é mais tardia. A temperatura também influencia a duração do período de floração a partir do momento de abertura das flores. Se as temperaturas são baixas, a floração dura mais dias; se a temperatura é mais elevada, o período de floração é mais curto (Rallo, 1998). São estas alterações nas diferentes fases do ciclo da oliveira, resultantes da ação dos parâmetros ambientais, levando a uma antecipação, atraso, encurtamento ou alongamento de fases cruciais para a produção de azeitona e a acumulação de gordura nos frutos, que importa estudar para avaliar, num cenário de alterações climáticas, quais as variedades que verão o seu comportamento vegetativo e reprodutivo mais afetado. Para caracterizar os diferentes estados vegetativos e reprodutivos da oliveira ao longo do seu ciclo anual (do abrolhamento, na primavera, à entrada em repouso vegetativo, no final do outono) foram definidos estados fenológicos para a cultura, que são descritos através de diferentes escalas, conforme é possível verificar nos trabalhos publicados por diversos autores. Uma das escalas mais utilizada, ultimamente, é a escala BBCH (Biologische Bundesanstalt, Chemische Industrie), aceite pela European Plant Protection Organization (EPPO) e adaptada à cultura da oliveira por Sanz-Cortés et al. (2002). Entre outras numerosas tarefas, o projeto OLEAVALOR – Valorização das variedades de oliveira portuguesas, que pretende avaliar e melhorar o potencial produtivo de algumas das principais variedades de oliveira na região do Alentejo (Galega vulgar, Cobrançosa, Azeiteira, Blanqueta, Carrasquenha de Elvas, Verdeal alentejana e Cordovil de Serpa), debruçou-se sobre o comportamento vegetativo e

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reprodutivo destas variedades, na tentativa de estabelecer algumas relações com as variações das condições ambientais em diferentes anos agrícolas. O trabalho que aqui se apresenta é uma parte desse estudo e teve como objetivo principal descrever a fenologia de três variedades portuguesas de oliveiras, durante dois anos consecutivos, com a finalidade de conhecer as variações no seu comportamento fenológico causadas pelas diferentes condições ambientais de cada ano, em particular durante o período da floração, que é uma fase crucial para a produção.

MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo de duas campanhas (20172018) foi realizado numa exploração agrícola com forte especialização na olivicultura, situada em Monforte (Alto A­ len­ tejo). A região caracteriza-se por um clima mediterrânico muito quente e seco no verão e muito frio no inverno. De acordo com a classificação climática de Köppen, a região insere-se no tipo climático Csa, mais concretamente, no clima mediterrânico temperado húmido, com verão seco e quente. Apresenta uma secura acentuada no verão e um outono e inverno com certa pluviosidade. Os solos dos olivais em estudo são mediterrâneos vermelhos ou amarelos, com materiais de pedra calcária, de calcários cristalinos, associados a outras rochas cristalofílicas básicas e solos calcários pardos, dos climas subhúmidos e semiáridos, associados a depósitos calcários (Cardoso, 1965). Os três olivais, com as variedades Galega vulgar, Cobrançosa e Azeiteira, são intensivos, de regadio, plantados em 2006, apresentando um compasso de plantação de 7,0 m × 5,0 m Precipitação média dos últimos 30 anos

(o que se traduz em 286 árvores por hectare). Em cada um dos olivais/variedades em estudo, definiram-se cinco blocos experimentais e, em cada bloco, marcaram-se quatro árvores consecutivas na linha, totalizando 20 árvores para amostra por variedade. A metodologia utilizada na observação dos estados fenológicos foi efetuada de acordo com o método proposto por Fleckinger (1954), citado por Fernández-Escobar & Rallo (1981) e descrito por Cordeiro & Martins (2002), registando-se em cada data de observação o estado fenológico mais atrasado, o mais adiantado e o predominante, após observação de todos os quadrantes da copa da árvore. Para suportar a determinação do estado fenológico observado, recorreu-se à escala BBCH adaptadas à oliveira por Sanz-Cortés et al. (2002), realizando-se as observações duas vezes por semana, no período da floração e semanalmente nas restantes fases do ciclo. Na determinação da duração da fase de floração (DuF) e caracterização da mesma, utilizou-se o conceito proposto por Barranco et al. (1994) e posteriormente citado por Cordeiro & Martins (2002). Para o cálculo dos graus-dias de crescimento (GDC) utilizou-se, de acordo com Melo-Abreu et al. (2009), a temperatura base para a oliveira de 9,1 ºC e somou-se a temperatura média diária acumulada acima da temperatura base. A acu­mulação dos GDC iniciou-se a partir do dia 1 de janeiro, utilizando-se as temperaturas médias recolhidas na estação meteorológica localizada junto dos olivais em estudo. Os dias do ano (DOY) em que ocorreram as diferentes etapas de desenvolvimento também se contabilizaram a partir desta data. Precipitação para 2017-2018

Os dados foram analisados estatisticamente utilizando o programa STATISTICA, versão 10.0 da StatSoft, Inc. Com este software realizaram-se análises de variação (ANOVA) e, quando se detetaram diferenças significativas, procedeu-se à separação de médias, recorrendo ao Teste de Tukey com uma P < 0,05.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As alterações climáticas estão a influenciar o desenvolvimento de todo o ciclo da fenologia. Vários estudos mostram uma variação na evolução da fenologia, associada a variação da temperatura e a diminuição da precipitação ou a episódios de elevados níveis de precipitação em curtos períodos, levando a uma alteração do desenvolvimento fenológico quando comparado com o normal esperado (Úbeda, 2014). Durante os meses em que decorreu este estudo, o nosso país passou por um período prolongado de seca, que abarcou a totalidade do ano de 2017 e se prolongou até ao mês de fevereiro de 2018. Em setembro de 2017, mês em que normalmente se deve iniciar a maturação das azeitonas e uma forte acumulação de gordura nos frutos, a precipitação total foi de cerca de 5% da precipitação do ano normal, tendo sido este mês o mais seco dos últimos 87 anos. No final do mês de fevereiro de 2018, 83% do território nacional estava em estado de seca severa (IPMA, 2018). Os anos em que decorreu o estudo foram bastante diferentes. No ano de 2017, a temperatura média durante a fase da floração foi superior, em cerca de 2,0 ºC, e a precipitação foi menor, com diferenças na ordem dos 40 mm, relativamente ao ano de 2018 (Figura 1). Estas diferenças meteorológicas determinaram um atraso de cerca de três semanas no início da

Temperatura média dos últimos 30 anos

Temperatura para 2017-2018

300

50 Floração 2018

45

250

40 35

200

30 150

25 20

100

15 10

50 0

Temperatura (ºC)

Precipitação (mm)

Floração 2017

5 J

F

M

A

M

J 2017

J

A

S

O

N

D

J

F

M

A

M

J

J

A

S

O

N

D

0

2018

FIGURA 1. Dados de precipitação e temperatura para 2017 e 2018 vs média das temperaturas e precipitação dos últimos 30 anos.

olivicultura

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A terceira sessão do dia ficou a cargo de Francesco Montanari, da Arcadia International, que apresentou as megatendências no setor agroalimentar, identificou os problemas que estão a impactar a evolução da cadeia agroalimentar a nível global e apresentou os desafios para o futuro. «No caso dos países desenvolvidos, apresentamos uma situação dicotómica, na medida em que encontramos padrões de alimentação emergentes e que de facto privilegiam cada vez mais a saúde mas, ao mesmo tempo, estes são os países que apresentam a taxa de obesidades mais elevadas entre a população adulta e as crianças», destacou, a título de exemplo de uma das problemáticas. Segundo o investigador, as megatendências relacionam-se com as tendências demográficas e de rendimentos; a crescente exigência dos padrões de consumo; a inovação e mudança tecnológica; as alterações climáticas; o desperdício alimentar e a competição constante por recursos naturais. Francesco Montanari destacou ainda as forças globais que afetam o futuro da cadeia alimentar, nomeadamente, os acordos comerciais; a economia da cadeia de valor; os novos sistemas de produção de alimentos; e a transformação do mercado. «Todos os desafios aqui apresentados chamam a nossa atenção para a necessidade de realizar uma transição e transformação dos sistemas alimentares para podermos assegurar a segurança alimentar, a saúde e a sustentabilidade», realçou. «Temos que encarar os objetivos importantes que temos pela frente». O painel contou com a moderação de Luís Mira, Secretário-Geral da CAP, e com os comentários de Pedro Queiroz, diretor-geral da FIPA, e José Diogo Albuquerque, anterior Secretário de Estado Adjunto e da Agricultura. O último painel debateu a neutralidade carbónica, na medida em que esta poderá ser uma condicionante ou oportunidade para a agricultura portuguesa. A apresentação ficou a cargo de Pedro Santos, da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), e os comentários foram proferidos por Eduardo Diniz, diretor-geral do Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP), Francisco Gomes da Silva, diretor-geral da AGROGES e João Nisa Ribeiro, da Universidade do Porto.

«A CULTURA DO MILHO ASSUME UMA IMPORTÂNCIA RECONHECIDA PELO PAÍS E PELO GOVERNO» Para encerrar o certame, estiveram presentes Jorge Neves, presidente da ANPROMIS, Eduardo Oliveira e Sousa, da Confederação dos Agricultores de Portugal, e Maria do Céu Albuquerque, ministra da Agricultura. Durante a sua intervenção, Maria do Céu Albuquerque destacou o facto deste encontro juntar agricultores, cientistas e responsáveis políticos «num debate sobre o papel da agricultura na resposta a alguns dos maiores desafios da atualidade: coesão do território, neutralidade carbónica e megatendências agroalimentares». «A cultura do milho nos sistemas agrícolas e pecuários nacionais assume uma importância reconhecida pelo país e pelo Governo de Portugal. Prova disso é a implementação da Estratégia Nacional para a Promoção da Produção de Cereais, a qual surge em resposta à acentuada diminuição da produção de cereais que se tem vindo a verificar nas últimas décadas, à baixa taxa de aprovisionamento do país e tendo em conta a importância dos cereais na dieta alimentar», adiantou a ministra com a pasta da Agricultura. Recorde-se que foram estabelecidos objetivos estratégicos orientados para a redução da dependência externa, para a consolidação e aumento de áreas de produção, para a criação de valor na

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A ministra da Agricultura, Maria do Céu Albuquerque, destacou a importância da cultura e da região para o setor agrícola nacional.

fileira e para a viabilização da atividade produtiva em todo o território nacional. Segundo a ministra da Agricultura «prevê-se que, num horizonte de 5 anos, se alcance um grau de auto-aprovisionamento em cereais de 38%, correspondendo 80% ao arroz, 50% ao milho e 20% aos cereais praganosos», adiantando que «os números são animadores e fazem crer que estamos num bom caminho: Em termos de Balança Comercial, apesar de Portugal continuar a ser um país deficitário em cereais, nos últimos anos parece começar a desenhar-se uma tendência de incremento das exportações principalmente no setor do milho e do arroz».

«Prevê-se que, num horizonte de 5 anos, se alcance um grau de auto-aprovisionamento em cereais de 38%, correspondendo 80% ao arroz, 50% ao milho e 20% aos cereais praganosos» «No caso do milho, durante os últimos 5 anos, as exportações quadruplicaram em termos de quantidade, sendo Espanha o principal destino tal como acontece para os restantes cereais exportados; em 2018 foram exportadas cerca de 270 mil toneladas de milho com o valor de cerca de 50 milhões de euros», afirmou. Para Maria do Céu Albuquerque «esta estratégia surgiu num momento crucial, em que teve início a discussão da futura Política Agrícola Comum, Portugal continuará, de forma construtiva e empenhada, a apostar na melhoria das propostas regulamentares em discussão, visando obter um novo modelo de prestação da PAC que, sendo robusto e orientado para o desempenho, permita, em simultâneo, uma efetiva simplificação». No dia de 20 de fevereiro os participantes tiveram a oportunidade de realizar visitas técnicas a entidades relevantes para a região, entre as quais o BIOCANT Park, em Cantanhede, que foi o primeiro centro empresarial de Biotecnologia em Portugal; e duas agroindústrias, nomeadamente a fábrica da SIA – Sociedade Industrial de Aperitivos, em Tentúgal, um dos principais transformadores de batata em Portugal, e a fábrica de produção de tissue da The Navigator Company, em Cacia, um dos maiores operadores mundiais da indústria de papel. Recorde-se que o amido de milho é uma das matérias-primas usadas no fabrico do papel.

AGROTEC 34 | março 2020


Gestão das infestantes do arroz Maria Dias 1, Pedro Pacheco 1, Teresa Vasconcelos 1, Arlindo Lima 1, Paulo Forte 1, Gonçalo Canha 2, Filipa Setas 2, Isabel Calha 3, Ana Monteiro1 1

Linking Landscape, Environment, Agriculture and Food,

Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa (LEAF – ISA) 2

Lusosem S.A.

3

Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV, I.P.)

RESUMO Na cultura do arroz (Oryza sativa L.), realizada em constante alagamento, as infestantes que se desenvolvem, a sua densidade e correta gestão têm uma grande importância para o desenvolvimento do arroz e para a sua produção em quantidade e qualidade. O conhecimento da cultura, das infestantes e dos produtos herbicidas homologados permite relacionar estes fatores da melhor forma, atuando na parcela o mais oportunamente possível. Apesar da cultura do arroz não dispensar a aplicação de herbicidas, a implementação de métodos preventivos e culturais pode levar a reduções drásticas nas densidades de infestação, sendo uma ferramenta importante a médio e longo prazo. Com a preocupação de auxiliar o orizicultor no seu planeamento e tomada de decisão, este artigo termina com a apresentação de um esquema de controlo químico para as principais infestantes, baseado nos produtos presentemente homologados, por isso, sujeito a atualizações anuais.

Poáceas

A

B

milhã-pé-de-galo Echinochloa crus-galli (L.) P. Beauv. subsp. crus-galli.

Palavras-chave: Controlo, Herbicidas, Modo de ação, Resistência.

C

milhã-do-arroz Echinochloa crus-galli (L.) P. Beauv. subsp. hispidula (Retz) Honda.

D

milhã-peluda arroz-bravo Echinochloa phyllopogon Oryza sativa L. subsp. (Stapf) Stapf ex silvatica Chiappelli Kossenko.

Poáceas

Ciperáceas

INTRODUÇÃO Nos arrozais portugueses estão identificados 68 táxones de infestantes. Os táxones que causam prejuízos significativos pertencem às famílias botânicas das poáceas, alismatáceas e ciperáceas (Vasconcelos et al., 2020). As poáceas são as mais difíceis de controlar, designadamente o arroz-bravo (Oryza sativa L. subsp. silvatica Chiappelli) e as milhãs (Echinochloa P. Beauv.). O predomínio da monocultura e do controlo químico das infestantes levam a uma situação de elevado risco para a seleção de populações resistentes aos herbicidas. Neste domínio já foram identificadas em Portugal, populações de Echinochloa resistentes à substância ativa penoxsulame (Calha et al., 2017). O conhecimento dos produtos herbicidas homologados, as suas doses e o conhecimento da oportunidade ideal de aplicação, relacionando os estados fenológicos do arroz e das infestantes, bem como a gestão correta da água, resulta numa intervenção mais eficaz e proveitosa.

E

F

G

leptocloa erva-serra Leptochloa fusca (L.) Leersia oryzoides (L.) Sw. Kunth subsp. fascicularis (Lam.) N. Snow

Ponteridáceas

I

falsa-alisma Heteranthera limosa (Sw.) Willd.

J

H

espeto Schoenoplectiella mucronata (L.) J. Jung & H. K. Choi

Alismatáceas

K

falsa-alisma Heteranthera reniformis Ruiz & Pav.

negrinha Cyperus difformis L.

L

orelha-de-mula-lanceolada Alisma lanceolatum With.

Literáceas

orelha-de-mula Alisma plantago-aquatica L.

Asteráceas

PRINCIPAIS INFESTANTES De acordo com Kraehmer et al. (2017), prevalecem as infestantes monocotiledóneas e, dentro destas, os táxones mais frequentes e representativos são Oryza sativa subsp. silvatica, Echinochloa spp., Cyperus spp., Alisma spp. e Heteranthera spp. Ilustram-se famílias botânicas e alguns dos seus táxones infestantes com maior importância nos arrozais portugueses (Figura 1). As infestantes com um porte mais elevado que o arroz podem reduzir a luz disponível para a cultura até 50%, assim, interferem

M

carapau Ammannia occinea Rottb.

N

verbesinha Eclipta prostata L.

FIGURA 1. Infestantes normalmente encontrados em arrozais portugueses.

no crescimento, causam perdas de produtividade e quebra na qualidade do grão (Sureshkumar et al., 2016).

grandes culturas

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