Primeira Impressão ed.35

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A curiosidade era aguçada pelo avô, que havia anos embarcava em longas viagens pelas estradas brasileiras. O neto, aos 18, logo depois de conquistar a licença para dirigir, começou a prestar serviços de entrega. A cabine que o leva a tantos lugares pelo Brasil é a mesma que guarda uma imensidão de histórias. As lembranças são capazes de transformar o semblante do motorista com a mesma rapidez com que o cenário vai mudando. Enquanto atravessa serra, campo e planície, tal qual um baú de histórias, ele relembra as diversas fases pelas quais passou durante os 20 anos dedicados à estrada.

ESTRADA SEM LIMITES Antes mesmo de qualquer pergunta, despeja algumas de suas piores lembranças: “Já estive em meio a tiroteio, soube de amigos que caíram em golpe de mães que usavam as filhas, prostitutas menores de idade, como isca para denunciar e prender caminhoneiros. Fiquei dias ilhado pela chuva, sem ter o que comer, precisei cumprir prazos que me obrigavam a colocar minha vida em risco.” Com a mulher e a filha recém-nascida, de apenas 20 dias, Luiz presenciou um assalto a um supermercado em uma favela de São Paulo. O carregamento de leite sob sua responsabilidade chegava ao destino no momento em que o estabelecimento era saqueado. “Nesses casos, a sensação de impotência é gigante. Simplesmente não havia o que fazer”, recorda. “Em muitas situações nós simplesmente não temos opção.” A frase serve como explicação para o restante do balaio de más recordações: Luiz presenciou a prisão de um conhecido que, em um posto de gasolina, foi abordado por uma mulher que oferecia a filha me-

POR INFLUÊNCIA DO AVÔ, CHESINI TORNOU-SE CAMINHONEIRO AOS 18 ANOS

PRIMEIRA IMPRESSÃO | JULHO/2011 | 79


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