Audiovisual comunitário e educação: histórias, processos e produtos

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Aspectos da gestão de ONGs brasileiras que lidam com os temas Comunicação e Educação

em sua dinâmica organizacional, e não a existência ou não de atividades de planejamento, direção, organização e controle. Organizações sem fins lucrativos se distinguem das estruturas organizacionais que usualmente são objeto dos estudos em administração principalmente pela natureza de seus objetivos, suas metas e suas missões. Nas ONGs estudadas, identificamos práticas que evidenciam a busca de um equilíbrio entre a exigência de que o ser humano se organize mentalmente para o exercício de tarefas funcionalmente racionalizadas – em que se impõe um autocontrole moral e físico – e a sua necessidade inerente de desenvolvimento para a autoconsciência. Essa busca faz com que o conceito de efetividade nos processos organizacionais estudados assuma definições particulares. As necessidades da organização são consideradas tão importantes quanto as dos indivíduos que a compõem. O conflito entre os valores da organização e dos indivíduos é discutido nos estudos organizacionais por pesquisadores que propõem uma distinção entre a racionalidade da organização (e da ação administrativa) e outras racionalidades. Essa distinção remonta a Max Weber, considerado por alguns o fundador dos estudos organizacionais (Carrieri; Paço-Cunha, 2009). Para Ramos (1983), a ação administrativa apresenta um tipo específico de racionalidade, que Weber denominou racionalidade funcional,4 por meio da qual “não se aprecia propriamente a qualidade intrínseca das ações, mas seu maior ou menor concurso, numa série de outros, para atingir um fim preestabelecido, independentemente do conteúdo que possam ter as ações” (Ramos, 1983, p. 38). A predisposição pragmática do padrão das ações funcionalmente racionais implica uma subordinação dos indivíduos a realidades dadas e uma concomitante inclinação a se opor a toda sorte de orientação baseada na transcendência da Utilizamos as traduções adotadas por Ramos (1983) para os termos weberianos. Em traduções adotadas por outros autores, a racionalidade funcional é também chamada de racionalidade instrumental ou técnica; a racionalidade substancial é também chamada de racionalidade substantiva ou com relação a valores.

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