Revista RESSONÂNCIA - Edição XXIX

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A LT E R N AT I VA

MARIA H. VIEGAS

Consequências das TNC no SNS

Nos últimos 100 anos, o conhecimento cada vez mais detalhado da biologia humana e o contributo da epidemiologia para avaliar a eficácia e segurança de cada tratamento, pelo desenvolvimento exponencial da ciência, permitiram-nos duplicar a nossa esperança média de vida. A Medicina começou a adoptar progressivamente um modelo de Medicina Baseada na Evidência (MBE) como guia da decisão clínica. Paralelamente a este progresso, temos assistido à promoção de um conjunto de práticas que se recusam a submeter ao mesmo rigor e escrutínio científico que a MBE, as Terapêuticas Não Convencionais (TNC), nomeadamente acupunctura, fitoterapia, homeopatia, naturopatia, Medicina Tradicional Chinesa, osteopatia e quiropraxia que, após serem legalmente reconhecidas pela Entidade Reguladora da Saúde (ERS), começam agora a pedir para ser integradas no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Quais seriam as potenciais consequências? Dos vários estudos realizados, incluindo ensaios randomizados com controlo placebo, não foi possível demonstrar a eficácia das TNCs. Os estudos publicados com resultados positivos têm sido excluídos por falhas metodológicas graves. As TNCs baseiam-se em pressupostos que falham sistematicamente em demonstrar, mas se alguma das TNCs vier a demonstrar validade, será prontamente integrada na Medicina. Ao integrarmos práticas que carecem de evidência científica e as colocarmos ao mesmo nível da MBE, estamos a legitimar e a tornar igualmente válidas práticas que carecem de comprovação científica, promovendo junto do doente noções de falsa equivalência, contribuindo para a desinformação. Podemos questionar-nos qual será o limite. Se a inexistência de base científica e a ineficácia


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