V FESTIVAL FOTOGRAFIA
EM TEMPO
E AFETO meu meio, é o meio ambiente
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V FESTIVAL FOTOGRAFIA
EM TEMPO
E AFETO
meu meio, é o meio ambiente Organizadora MARCELA BONFIM
Porto Velho | RO 2022
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COMPOSIÇÕES VISUAIS / COMPOSITORES VISUAIS: Galeria 1 - # Bem Viver: Resistências e Vivências Contemporâneas Compositores iniciais: Pi Suruí (RO) e Ederson Lauri (RO) Escala de Composição: Pi Suruí (RO) Israel Vale Jr (RO) Kain Juma (RO) Convocatória: Avener Prado (SP) Guilherme Bergamini (MG) Geane Tavares (RO) Marcos Madalena (RO) Nilson Santos (RO) Rafael da Luz (PA) Lautaro Actis (Argentina) Lucas de Bail (PR) Livre Composição: Naara Fontinele (EUA)
Galeria 2 - # Corpo-Natureza Compositores iniciais: Paula Sampaio (PA) e Marcela Bonfim (RO)
Escala de Composição: Paula Sampaio (PA) Paula Giordano (PA) Deia Lima (PA) Convocatória: Alexandre Cruz Noronha (AC) Ana Carolina Fernandes (RJ) Ngelu de Palmar (MA) Helen Salomão (BA) Elza Lima (PA) Joelington Rios (RJ) Thaís Rocha (RJ) Ulisses Lima (BA) Nilmar Lage (MG) Cruupooh’re Akroá Gamella (MA) Raquel Bacelar (BA) Mario Venere (RO) Livre Composição: Luiz Camillo Osorio (RJ)
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Galeria 3 - # “Fotos Contadoras de Histórias” Compositoras iniciais: Aline Motta (SP) e Lia Krucken (BA) Escala de Composição: Aline Motta (SP) Convocatória: Renata Gordo (SC) Denis Rouvre (França) Fernando Gonçalves (RJ) Christian Braga (AM) Isis Medeiros (MG) Laise Azevedo (RO) Amanda Leite (TO) Miguel Chikaoka (PA) Diego Costa (SP) Cleber Cardoso (RO) Laura Lujan (RO) Margem do Rio (RJ) Larissa Cortez (MA) Livre Composição: Iyalorixá Marlene de Nanã (BA)
Galeria 4 - # Galeria Escura Compositores iniciais: Rogério Assis (PA) e Washington da Selva (BA) Escala de Composição: Rogério de Assis (PA) Octavio Cardoso (PA) Walda Marques (PA) Convocatória: Saulo de Sousa (RO) Rodrigo Pedro Casteleira (RO) Márcia Gomes (PA) Janaina Wagner (SP) Hirosuke Kitamura (Japão) Keila Sankofa (AM) Diego Sei (BA) Danilo Marroco (SP) Mergulha E Voa (PE) Joilson Arruda (RO) Livre Composição: Alberto César Araújo (AM)
Galeria 5 - #Galeria Translúcida Compositores iniciais: Duo Rodrigo Masina Pinheiro (RJ) e Gal Cipreste Marinelli (RJ) e Ana Lira (PE) Escala de Composição: Duo Rodrigo Masina Pinheiro (RJ) e Gal Cipreste Marinelli (RJ) Davi de Jesus do Nascimento (MG) Bicho Carranca (MG) Convocatória: Iago Araújo (BA) Duo Ana Mendes (PA) & Nay Jinknss (PA) Aniram (RJ) Duo Paisagens Móveis: Bárbara Lissa (MG) e Maria Vaz (MG) Thaís Espinosa (SP) Livre Composição: Maria Thereza Soares (MA)
Galeria 6 - Livre Compor como viver, lutar e sonhar Uiler Costa Santos (BA) Michele Saraiva (SP) Rita de Cássia (RO) Marcia Mura (RO) Manoel Pinheiro Santiago (RO) Manoel Batista de Almeida - In Memoriam (RO) Mateus Sousa (RJ) Jessica Moreira (SP) Margot Paiva (RO) Tanison Passos (RO) Ronaldo Nina (RJ) Dom Lauro (RO) Danilo de S’acre (AC) Luiz Brito (RO) Livre Composição: Andressa Silva (RO) Cynthia Cy Barra (BA) Marcelo Reis (BA) Duo Lanussi Pasquali (BA) e Fábio Gatti (BA) (Re)Conhecendo A Amazônia Negra (RO)
Galeria 7 - # (Re)compor como a Natureza Manoel Pinheiro Santiago (RO) Elisabete Christofoletti (RO) Cláudio Zarco (SP) Eriel Araújo (BA) Ianca Moreira (AP) Leandro Marques (RO)
Lucia Martins (PA) Natalí Araujo (RO) Nino Rezende (MG) Samara Ramos (RO) Tulasi Resende (MG) Walter Netto (RO) Beatriz Belo (AP) Vitória Morão (RO) Fernanda Siebra (CE) Livre Composição: Gê Viana (MA)
EQUIPE TÉCNICA: Idealização, ferramentas de composição, direção de produção e organização da Mostra e do Catálogo: Marcela Bonfim (RO)
MOSTRA A CÉU ABERTO DA CULTURA DA VISUALIDADE: Direção de Montagem: Ismael Barreto (RO) Assistência de Montagem Thais Passos (RO) Isaac Lima (RO) Gabriel Melo (RO) Kelven Felix (RO) Matheus Chaves Pereira da Silva (RO) Camilia Vieira Vilarim de Sá (RO) Lais Morais (RO) Fotografia: Saulo de Sousa (RO) Geane Tavares (RO) CATÁLOGO ONLINE:
VÍDEO EXPERIMENTAL: Direção e Roteiro: Marcela Bonfim Montagem e Edição: Michele Saraiva (SP) Vídeo/Frames: Christyann Ritse (RO) Gabriela Barreto (SP) Tobias Rodil (SP) Diego Queiroz (RO) Marcela Bonfim (RO) Geane Tavares (RO) Libras: Neide ALexandre do Nascimento Músicas: Berimbau Ossauro - Dom Lauro (RO) Rio Madeira Afro-Beats - Marcela Bonfim, com programação eletrônica de Rodolfo de Bártolo (RO) River Soul - Marcela Bonfim (RO)
Produção e Mídias Sociais: Saulo de Sousa (RO)
Projeto gráfico e diagramação: Adriana Zanki Cordenonsi (RO)
Assessoria de Produção: Andressa Silva (RO) Hely Chateaubriand (RO)
Textos: Marcela Bonfim (RO)
Captação e edição de voz: Thiago Maziero (RO)
Assessoria de Texto: Lia Krucken (BA)
Plataformas de transmissão, comunicação e execução: Casa Ninja Amazônia, Ninja Foto, Frontfiles, Idea comunicação visual, Greenpeace, Nós Mulheres da Periferia.
Infográfico: Karla Dilascio (AC)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Meu meio, é o meio ambiente [livro eletrônico] : V Festival Fotografia em Tempo e Afeto / [organização Marcela Bonfim]. -- Porto Velho, RO : Marcela Fernandes da Bonfim, 2022.-- (Mostra a Céu Aberto da Cultura da Visualidade) PDF Vários colaboradores. ISBN 978-65-00-43495-8 1. Amazônia - Fotografias 2. Artes visuais Exposições I. Bonfim, Marcela. II. Série.
22-108260
CDD-779.99811 Índices para catálogo sistemático:
1. Amazônia : Fotografias
779.99811
Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9380
Agradecimento especial a todas e todos que direta ou indiretamente colaboraram com esta publicacão. Esta edição foi contemplada no Edital Nº 32/2021/Sejucel-Codec – 2ª Edição Pacaás Novos – Lei Federal 14.017/2020 (Lei Aldir Blanc).
S U M Á R I O Apresentação: nós, as Rondônias________________ 09 Um Festival de Composições Visuais_____________ 10 Uma Mostra a Céu Aberto da Cultura da Visualidade_ 11 Metodologia: nossa forma de compor_____________ 12 Infográfico: compondo em linhas e camadas________ 14 Compor o lado não visível do ‘meio ambiente’_______16 GALERIA 1: #Bem viver: resistências e vivências contemporâneas. Compositores iniciais: Pí Suruí e Ederson Lauri__ 18 Pí Suruí (RO)____________________________ 20 Israel Vale Jr (RO)________________________ 22 Kain Juma (RO)__________________________ 23 Avener Prado (SP)________________________ 24 Guilherme Bergamini (MG)_________________ 25 Geane Tavares (RO) ______________________ 26 Marcos Madalena (RO) ____________________ 27 Livre Composição: Naara Fontinele (EUA)_____ 28 Nilson Santos (RO) _______________________ 30 Rafael da Luz (PA) _______________________ 31 Lautaro Actis (Argentina) ___________________ 32 Lucas de Bail (PR) _______________________ 33 GALERIA 2 - # Corpo-Natureza. Compositores iniciais: Paula Sampaio (PA) e Marcela Bonfim (RO)________________ _______ 34 Paula Sampaio (PA) ______________________ 36 Paula Giordano (PA) ______________________ 38 Deia Lima (PA) __________________________ 39 Thaís Rocha (RJ)________________________ 40 Ana Carolina Fernandes (RJ) _______________ 41 Ângelu du Palmar (MA) ____________________ 42 Cruupooh’re Akroá Gamella (MA) ____________ 43 Livre Composição: Luiz Camillo Osorio (RJ)____ 44 Elza Lima (PA) ___________________________ 46 Mario Venere (RO) _______________________ 47 6
Ulisses Lima (BA) ________________________ 48 Helen Salomão (BA) ______________________ 49 Joelington Rios (RJ) ______________________ 50 Raquel Bacelar (BA) ______________________ 51 Nilmar Lage (MG) ________________________ 52 Alexandre Cruz Noronha (AC) ______________ 53 GALERIA 3 - # “Fotos Contadoras de Histórias”. Compositoras iniciais: Aline Motta (SP) e Lia Krucken (BA)___________________________ 54 Aline Motta (SP) _________________________ 56 Isis Medeiros (MG)_______________________ 58 Miguel Chikaoka (PA) _____________________ 59 Amanda Leite (TO) _______________________ 60 Diego Costa (SP) ________________________ 61 Laura Lujan (RO) ________________________ 62 Laise Azevedo (RO) ______________________ 63 Cleber Cardoso (RO) _____________________ 64 Livre Composição: Iyalorixá Marlene de Nanã (BA)____________ 65 Renata Gordo (SC) _______________________ 66 Larissa Cortez (MA) ______________________ 67 Fernando Gonçalves (RJ) __________________ 68 Margem do Rio (RJ) ______________________ 69 Denis Rouvre (França) ____________________ 70 Christian Braga (AM) _____________________ 71 Galeria 4 - # Galeria Escura Compositores iniciais: Rogério Assis (PA) e Washington da Selva (BA)____________________ 72 Rogério Assis (PA) _______________________ 74 Octavio Cardoso (PA) _____________________ 76 Walda Marques (PA) ______________________ 77 Livre Composição: Alberto César Araújo (AM)___ 78 Joilson Arruda (RO) _______________________ 80 Rodrigo Pedro Casteleira (RO) ______________ 81
Hirosuke Kitamura (Japão) _________________ 82 Janaina Wagner (SP) _____________________ 83 Keila Sankofa (AM) _______________________ 84 Márcia Gomes (PA) _______________________ 85 Danilo Marroco (SP)_______________________ 86 Diego Sei (BA)___________________________ 87 Mergulha E Voa (PE)______________________ 88 Saulo de Sousa (RO)______________________ 89 Galeria 5 - #Galeria Translúcida. Compositores iniciais: Duo Rodrigo Masina Pinheiro (RJ) e Gal Cipreste Marinelli (RJ) e Ana Lira (PE)______________________________ 90 Duo Rodrigo Masina Pinheiro (RJ) e Gal Cipreste Marinelli (RJ)_____________ 92 Davi de Jesus do Nascimento (MG)___________94 Bicho Carranca (MG_______________________95 Thaís Espinosa (SP)_______________________96 Iago Araújo (BA)__________________________ 97 Aniram (RJ)_____________________________ 98 Duo Paisagens Móveis: Bárbara Lissa (MG) e Maria Vaz (MG)______ 99 Duo Ana Mendes (PA) & Nay Jinknss (PA)_____ 100 Livre Composição: Maria Thereza Soares (MA)____ 101 O Meio Ambiente é o Mundo____________________ 102 Galeria 6 - # Livre Compor como viver, lutar e sonhar ___________________________104 Jessica Moreira (SP)______________________ 106 Michele Saraiva (SP)______________________ 108 Livre Composição: Cynthia Cy Barra (BA)______ 110 Livre Composição: Andressa Silva (RO)________111 Livre Composição: (Re)Conhecendo a Amazônia Negra - Marcela Bonfim (RO)____ 112 Ronaldo Nina (RJ)________________________ 114 Luiz Brito (RO)___________________________ 115
Danilo de S’acre (AC)______________________ 116 Manoel Batista de Almeida - In Memoriam (RO)___ 118 Mateus Sousa (RJ) _______________________ 120 Rita de Cássia (RO)_______________________ 121 Manoel Pinheiro Santiago (RO)______________ 122 Margot Paiva (RO)________________________ 123 Marcia Mura (RO)_________________________ 124 Tanison Passos (RO)______________________ 125 Uiler Costa Santos (BA)____________________ 126 Livre Composição: Duo Lanussi Pasquali (BA) e Fábio Gatti (BA)__________ 127 Dom Lauro (RO)__________________________ 128 Livre Composição: Marcelo Reis (BA)_________ 129 Galeria 7 - # (Re)compor como a Natureza_______ 130 Walter Netto (RO)_________________________ 132 Lucia Martins (PA)________________________ 133 Cláudio Zarco (SP)_______________________ 134 Vitória Morão (RO)_______________________ 135 Fernanda Siebra (CE)_____________________ 136 Nino Rezende (MG)_______________________ 137 Natalí Araujo (RO)________________________ 138 Samara Ramos (RO)______________________ 139 Beatriz Belo (AP)_________________________ 140 Elisabete Christofoletti (RO)_________________ 141 Manoel Pinheiro Santiago (RO)______________ 142 Tulasi Resende (MG)______________________ 143 Ianca Moreira (AP)________________________ 144 Leandro Marques (RO)____________________ 145 Eriel Araújo (BA)__________________________ 146 Livre composição: Gê Viana (MA)____________ 147 Agenda Visual do Meio Ambiente para as identidades do futuro e futuro das identidades________________________148
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a p r e s e n ta ç ã o
por Ana Aranda
Nós, as Rondônias Este catálogo marca mais uma exposição ao ar livre instalada nas ruas da nossa cidade com participação aberta a todos os seus habitantes. Pertence, portanto, a todos os rondonienses filhos das muitas Rondônias que coabitam este pedaço de terra por onde se adentra para o maravilhoso reino da floresta, suas águas, sua terra, seus bichos, suas plantas, suas gentes. São os rondonienses filhos dos migrantes que de todos os quadrantes aqui aportaram “no porto dos Cabrais” da música do Bado. São os rondonienses que enfrentam a guerra surda empreendida contra os indígenas pela posse do seu território. São os rondonienses quilombolas, filhos dos caçadores das ervas do sertão, são os filhos dos operários da Madeira-Mamoré. São os nordestinos que deram molde e feição para a rica cultura dos arigós. São também aqueles que tristemente miram esta terra por um espelho retrovisor, teimando em ignorar uma herança de riquezas naturais em troca de uma riqueza passageira, efêmera, destruidora e excludente, que se configura em mais um ciclo econômico sem futuro. Mas, principalmente, somos nós, cada um com seu pedaço de amor por este lugar e suas vivências. Somos parte do aconchego e a oportunidade de vida nova oferecida a tantos que aqui vivem e outros que ainda vão chegar. Ana Aranda, jornalista e ativista cultural em Porto Velho, Rondônia.
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Um Festival de Composições Visuais O Festival Fotografia em Tempo e Afeto nasceu do desejo de expandir a sensação de pertencimento visual de Rondônia. Desde 2017 ocupamos as ruas da cidade de Porto Velho e de comunidades próximas, com composições visuais provocadas de dentro para fora. A prática da composição tem sido a aposta fundamental do Festival Fotografia em Tempo e Afeto, prezando o sentido do acesso e da inclusão. Propomos a construção de formas alternativas por meio de processos inclusivos, oficinas pedagógicas, rodas de conversa, e a realização da Mostra à Céu Aberto da Cultura da visualidade.
Por que compor? Acreditamos que, ao nos movimentarmos no sentido da composição, atraímos formas mais autênticas de se expandir o PERTENCIMENTO VISUAL de nossa região, além de estimular processos nos quais percebemos a DESMISTIFICAÇÃO de nossas visualidades, como também dessas tantas Amazônias que aqui habitam. Pensar a FOTOGRAFIA é pensar o PODER, a ECONOMIA, e os MEIOS que essas imagens têm de reconstruir, tanto as nossas humanidades, quanto a própria compreensão de política que significa a visualidade amazônica. Ou seja: ao nos empenharmos na prática do exercício de reconstruir de forma comunitária, que para nós é afetiva, nos deslocamos em direção ao lugar da efetividade das relações e reflexões, aqui presentes no contexto mais próximo possível. Pensemos e tomemos a imagem como uma escuta de cada um, ou seja, de cada lugar, destoando das formas tradicionais na fotografia; porque temos a consciência dos males que significam as invisibilidades, as desigualdades e as castas, por onde residem os ESTIGMAS e regimes de visibilidade. Neste processo de composição, cada imagem possui um sentido ativo, que nos reconecta ao todo e que gera mais pensamentos visuais (e não visuais). Esses arranjos orgânicos, que vão se constituindo, são capazes de desconstruir o que não cabe e/ou nunca coube e de construir outras perspectivas.
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Uma Mostra a Céu Aberto da Cultura da Visualidade A Mostra à Céu Aberto da Cultura da visualidade é uma composição visual coletiva, destinada às ruas de Porto Velho e comunidades tradicionais do entorno, constituída a partir da instalação de galerias a céu aberto, tendo como suporte o Lambe-Lambe e os muros que os recebem. Esta instalação vai compondo com os espaços, as pessoas e os olhares; tornando possível outras formas do fazer, além de ser uma grande oportunidade de desmistificar lugares destas tantas Amazônias, misturadas à memória e aos sentidos deste Festival. Até aqui percorremos quatro edições. Nas duas primeiras, exercitamos o livre exercício da composição, concentrando nossos sentidos na ocupação dos espaços locais e na organização das imagens e nuances das tantas regiões amazônicas. Partimos de convocatórias específicas, voltadas ao exercício interno destas regiões. A primeira edição, por exemplo, foi institucionalmente representada pelo Foto Clube Rondônia, que na época acatou prontamente a ideia da fotógrafa Marcela Bonfim, realizando a primeira ocupação visual na Rua Euclides da Cunha, antiga Rua do Coqueiro, principal acesso à cidade de Porto Velho nascendo. Na terceira edição, passamos a organizar o imaginário a partir de motes. Com o desafio de buscar representações locais, lançamos Lugares que falam. Esta edição foi realizada na comunidade de Nazaré, no Baixo Madeira, tendo como galeria as próprias casas dos moradores e as vias de acesso da comunidade. Acompanhando o nascer de uma narrativa “natural”, a mostra incluiu 77 imagens de moradores, registrados pela fotógrafa Marcela Bonfim, desde o ano de 2015, período em que conheceu a comunidade, no pós-cheia de 2014. A edição ocorreu por ocasião do tradicional Festejo Cultural de Nazaré. Já na quarta edição, o exercício foi integrar o imaginário do lado de dentro da região norte, lançando o mote: Norte por Norte. Desta vez, a proposta foi abrir às mulheres que vivem na região a possibilidade de organizarem e disponibilizarem suas vivências visuais e especificidades. A ideia foi estimular a singularidade de cada uma, provocando sentidos para despertar o pensamento visual interno, compondo, naturalmente, com aspectos para além do exterior. Estes percursos foram abrindo espaço para a quinta edição. Especialmente neste momento, é importante ressaltar o apoio das redes da Mídia Ninja e Casa Ninja Amazônia, que contribuiu para expandirmos nossas composições para o lado de fora das tantas Amazônias.
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Nossa forma de Compor
Compondo em Linhas Compositores da Linha 1 Iniciaram o processo dando o tom, como em uma música, neste caso propondo 04 imagens à respectiva galeria, exercitando o mote conforme a visualidade que os tocam. Com intuito de construirmos uma ‘narrativa composta’, solicitamos de cada compositor da Linha 1 um texto sobre a sua perspectiva/proposta (linear ou não);
Para o exercício prático de construção da Edição V do Festival foram convidados grandes artistas das visualidades com o propósito de pensar e organizar 05 galerias, acrescidas de mais duas livres narrações, com desdobramentos de performances, vivências e ativismos de artistas e pessoas convidadas, a fim de trabalhar todo este processo em camadas, buscando reconhecer os possíveis meios/ambientes que nos envolvem, muitas vezes desvendando aquilo que se pensava do lado de fora . Iniciamos a Camada 1 a partir das duplas que trabalharam na construção das 05 galerias, abrindo os trabalhos da Mostra a Céu Aberto da Cultura da Visualidade, onde o primeiro ou a primeira da dupla é a Linha 1, e a segunda ou o segundo, a Linha 2.
Linhas de Composição por Duplas
Promovendo a escala de composição: além das imagens e texto, cada compositor da Linha 1 incluiu ao processo mais um ou uma “compositora convidada”; solicitando ao mesmo ou a mesma uma proposta de 02 imagens e 01 texto de até 3 linhas; sendo que este também deu sequência a escala, indicando o segundo “compositor(a) convidado(a)”, que fez sua proposta visual com 01 imagem e 01 texto de até 3 linhas. Isto resultou na escala 4:2:1.
Galeria 1: Pi Suruí (RO) e Eder Lauri (RO) Galeria 2: Paula Sampaio (PA) e Marcela Bonfim (RO) Galeria 3: Aline Motta (SP) e Lia Krucken (BA) Galeria 4: Rogério de Assis (PA) e Washington da Selva (BA) Galeria 5: Duo Rodrigo Masina Pinheiro e Gal Cipreste Marinelli (RJ) e Ana Lira (PE) 12
Compositores da Linha 2 Receberam os trabalhos da Linha 1, conforme as duplas, e mais os trabalhos provenientes da convocatória da 5ª Mostra à Céu
Aberto da Cultura da visualidade de Porto Velho, e organizaram as respectivas galerias. ompositores da linha 2 também tiveram acesso ao conteúdo da C Chave de convocatória para prosseguir compondo as galerias. CAMADA 2 Compositores da Linha 3 A segunda camada foi a realização da convocatória pública, onde os olhares dos compositores se misturaram a outras perspectivas de meio ambiente, sendo gratuita e aberta a todo o público interessado por fotografia, com a ideia de abranger o maior número possível de reflexões e diversidades visuais. E também desta chave abrindo a oportunidade de (Re)composição, o que nos levou a uma galeria específica. plataforma utilizada na realização da convocatória foi a FronA tfiles. AMADA 3 C Compositores da Linha 4 A terceira camada se deu a partir das intervenções dos artistas convidados, resultando em uma Galeria especial com performances, nos diversos suportes, imprimindo sentidos como o “Berimbau Ossauro” de Dom Lauro (RO); as imagens da vivência indígena de Márcia Mura (RO), como também da ativista pela leitura Rita de Cássia (RO); as “Coroas” do fotógrafo Uiler Costa-Santos (BA); os varais da série “D’Água e Lama”, da fotógrafa e cineasta Michele Saraiva (RO); as letras visuais de “VÃO: trens, marretas e outras histórias”, livro da jornalista Jéssica Moreira (SP); a “acreanidade” do artista visual Danilo de S’Acre (AC); as sensações visuais da artista plástica Margot Paiva (RO); a potência ativista das imagens de Ronaldo Nina (RJ); a curiosidade do estudante Mateus Sousa (PA); a representatividade do quilombola e fotógrafo Manoel Pinheiro Santiago (RO);
e a saudade do ribeirinho barqueiro, comerciante e fotógrafo Manoel Batista de Almeida (in memoriam - RO) com suas imagens “Por dentro da Cheia de 2014, na comunidade de Nazaré” CAMADA 4 Compositores da Linha 5 A quarta camada foi a própria montagem e documentação das galerias, dirigida pelo artista visual Ismael Barreto, onde a ideia foi associar as camadas narrativas com o próprio meio ambiente e cotidiano da cidade, absorvida pelos fotógrafos e vídeo-makers Saulo de Sousa, Geane Tavares e Christyann Ritse, artistas da região que integraram seus olhares às camadas sensoriais que surgiram. CAMADA 5 E O FLUXO VISUAL Compositores da Linhas 6 e dos demais fluxos Por fim, a quinta camada, com a Linha 6, como as linhas que seguem o fluxo visual, ocupadas pelos seguintes convidados: a professora e pesquisadora Cynthia Cy Barra (BA); a Iyalorixá Marlene de Nanã (BA); a pesquisadora em cinema Naara Fontinele (RO); a fotógrafa e pesquisadora Maria Thereza Soares (MA); o crítico de artes e curador Luiz Camilo Osorio (RJ); os fotógrafos Marcelo Reis (BA) e Alberto César Araújo (AM); os arte educadores Lanussi Pasquali (BA), Fábio Gatti (BA) e Ge Viana (MA), que a partir da suas formas, fazem comentários sobre o processo visual dessas tantas camadas que percorremos; como espectadores abrangendo, sobretudo, o lado de dentro de quem está exercitando “esse processo que é vital”. Assim, compondo em linhas, entendemos a visualidade como uma oportunidade também de pensar a decomposição, sobretudo imaginária, onde as linhas de sentidos não têm fim, sempre em movimento pela continuidade, convidando você a refletir conosco, se o meu meio é o meio ambiente, o que existe ao meu redor faz de mim parte de uma composição? 13
COMPONDO EM LINHAS E CAMADAS
Para o exercício prático foram convidados grandes artistas com o propósito de pensar e organizar 05 galerias visuais, mais performances convidadas. A ideia foi trabalhar este processo em camadas, buscando reconhecer os possíveis meios/ambientes que nos envolvem, muitas vezes, desvendando aquilo que se pensava do lado de fora.
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Dando o primeiro passo, o compositor(a) da linha 1 iniciou dando o tom à sua respectiva galeria, exercitando o mote conforme a visualidade que os tocam e um texto sobre a sua perspectiva/ proposta (linear ou não). en
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Iniciamos na Camada 1, a partir de duplas onde o primeiro ou a primeira da dupla foi parte da Linha 1, e a segunda ou o segundo, parte da Linha 2.
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Assim, o primeiro compositor da Linha 1, além de fazer sua p roposta visual, convidou mais um compositor(a) que propôs 2 imagens acerca do mote, mais um texto reflexão e, dando sequência à escala, mais a indicação do último compositor(a) da escala que, por sua vez, enviou 1 imagem e um texto com seus reflexos; completando a escala: 4;2;1; e iniciando a galeria a partir daí.
O segundo passo, foi o encaminhamento dos conteúdos da escala
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RES para os compositores da Linha 2, conforme as duplas e suas resITO pectivas Galerias. [...] mais os trabalhos da Chave de Convocatória 2 da “Mostra à Céu Aberto da Cultura da visualidade de Porto Velho”. CO P A M . terão acesso N ao conteúdo da I L convocatória
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A convocatória foi executada pela plataforma Frontfiles.
Chave de convocatória: Mostra a Céu Aberto da Cultura da visualidade: cada proponente teve o limite de uma imagem-reflexão pertinente ao mote, enviada em jpg em boa resolução. As impressões tiveram tamanho máximo de 1 x 1,5m. 14
A ideia da convocatória foi abraçar diversas formas de visualidade, onde os olhares dos compositores se misturam a outras perspectivas de meio ambiente. Foi gratuita e aberta a todo o público interessado por fotografia, com a ideia de abranger o maior número possível de reflexões e diversidade visuais. Observando que desta chave saíram imagens que compuseram as galerias das duplas, e mais uma galeria de (re)composição;
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Galeria.1 G.2
G.3
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Nesta linha trabalhamos as intervenções de artistas convidados com suas performances, em diversos suportes, imprimindo sentidos e dando origem a uma galeria específica.
MONTAGEM E DOCUMENTAÇÃO
A ideia desta linha foi captar as camadas que se formaram com o próprio meio ambiente e cotidiano da cidade, absorvida por fotógrafos e vídeo-makers, que integraram seus olhares às camadas sensoriais que surgiram.
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FLUXO VISUAL
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Como espectadores abrangendo, sobretudo, o lado de dentro de quem está exercitando “esse processo que é vital”.
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Como as linhas que seguem o fluxo visual, convidamos artistas para observarem todo o processo e exercerem uma epécie de “LIVRE-COMPOSIÇÃO” que, a partir das suas formas, farão comentários sobre o processo visual dessas tantas camadas que foram percorridas.
Entendemos a visualidade como uma oportunidade de composicão e decomposicão, sobretudo imaginária, onde as linhas tem sentido, não tem fim. 15
Compor o lado não visível do ‘meio ambiente’
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Atualmente percebemos que dentro dos grupos de poder - visíveis e invisíveis - a imagem tem papel crucial. Interessa a imagem e tudo o que dela é composto, até chegar no sentido de uma criação. Entretanto, a questão tem sido pensar nesses sentidos não como verbo, mas sim como formas políticas, econômicas e permanentes de um sistema, onde a imagem se constitui dos próprios limites da racialização humana. Sendo a raça a própria distinção de poder; é sobretudo o plano mais concreto de um capital abstrato, por onde se pensa que “vê” a imagem da cor da riqueza, e a imagem da cor da pobreza, automatica-mente, sem ao menos enxergar o que existe por detrás dessas confabulações De-Cor; que se ampliam e difundem dentro de um sistema oculto, onde a inteligência da visualidade se compõem na artificialidade de normas e linguagens, em camadas específicas, convalidando o padrão. No entanto, pensar a questão racial de um sistema tão sofisticado, como o capital, é desdobrar a aparência dos corpos e lugares, percebendo que toda a ilusória condição de visualidade também convive na ideia de meio ambiente. É justamente aí que caminham os estigmas, e seus corpos-alvos, todos existentes do lado de dentro das invisibilidades e de um racismo ambiental. Pensar ambiente é pensar a Amazônia, onde homens e mulheres têm desaparecido em meio ao meio ambiente. Comecemos com a própria noção que cultivamos de Amazônia, na maioria das vezes do lado de fora, nos fazendo mecanica-mente reduzir culturas, por exemplo, à simples ideia de reserva, ou de verde. É como se o que existe do lado de dentro só se apresentasse de uma cor, ou de até pensar a região como um pulmão excluindo o som das batidas de milhares de corações e raízes presentes. Ou seja, o imaginário passa longe das origens e legados indígenas, dos fluxos negros, juntados à cultura e à ancestralidade pertencentes às regiões. Estas últimas são pobremente pensadas. Resta-nos questionar: Quem são os povos-identidades, em meio ao meio ambiente? Podemos pensar em um futuro digno para este país sem reconhecê-los? A ideia de meio ambiente vem apagando, todos os dias, milhares de histórias e realidades. Legados compostos de uma verdadeira relação com a floresta, completamente inversa à noção construída do lado de fora, como a própria ideia de desenvolvimento, já apagaram. E ainda seguem sendo apagados diariamente. Os frutos de antigas gerações se vão, em troca de privilégios. E nós ainda reproduzimos esses apagamentos e não percebemos. Como invertermos este movimento?
(1) Trecho da coluna publicada por Marcela Bonfim “Compor o lado não visível do ‘meio ambiente’ é tema de festival”; em “Nós Mulheres da Periferia”, 03/02/2022.
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#Bem viver: resistências e vivências contemporâneas GALERIA 1
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CompositorEs INICIAIS:
Pí SuruÍ (RO) Ederson lauri (RO)
LIVRE COMPOSIÇÃO:
NAARA FONTINELE (EUA)
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PÍ SURUÍ (RO)
Imagens Pí Suruí | Fotografia Saulo de Sousa
Guerreiras da Ancestralidade, 2021 20
Cultura, 2021
escala de composição/TOM
Imagens Pí Suruí | Fotografia Saulo de Sousa
Mulher indígena, 2021
Natureza, 2021 21
ISRAEL VALE JR (RO)
Imagens Israel Vale Jr | Fotografia Saulo de Sousa
Brasil Terra Indígena, 2021 22
Harmonia, 2017
escala de composição
KAIN JUMA (RO)
Imagem Kain Juma | Fotografia Saulo de Sousa
Sem título, 2021 23
AVENER PRADO (SP)
Imagem Avener Prado | Fotografia Saulo de Sousa
Macaco doce, 2019 24
CHAVE DE CONVOCATÓRIA
GUILHERME BERGAMINI (MG)
Imagem Guilherme Bergamini | Fotografia Saulo de Sousa
Resta uma árvore, 2009 25
GEANE TAVARES (RO)
Imagem Geane Tavares | Fotografia Saulo de Sousa
Brasil abandonado 26
CHAVE DE CONVOCATÓRIA
MARCOS MADALENA (RO)
Imagem Marcos Madalena | Fotografia Saulo de Sousa
Janela para o futuro, 2019 27
LIVRE COMPOSIÇÃO NAARA FONTINELe (EUA) (reverberação: NUHU YÃG MU YÕG HÃM: ESSA TERRA É NOSSA! de Isael Maxakali, Sueli Maxakali, Carolina Canguçu, Roberto Romero, Brasil, 2020; Conversas no Maranhão de Andrea Tonacci, Brasil, 1977-83).
28
caminhar entre as imagens, entre os olhares, entre os corpos. caminhar. caminhar juntos. caminhar abraçadas. caminhar cantando. caminhar nas terras e nos sonhos. os cantos e os pés caminham juntos. por vezes o caminho já não é mais o mesmo. mas há terra. por vezes é preciso desviar ou saltar os caminhos cerceados. mas há terra. há terra e a terra é nossa. nos cantos da caminhada dos Tikmu’un e nas conversas no maranhão.
“Essa terra é nossa”. 29
NILSON SANTOS (RO)
Imagem Nilson Santos | Fotografia Saulo de Sousa
A espera do território 30
CHAVE DE CONVOCATÓRIA
RAFAEL DA LUZ (PA)
Imagem Rafael da Luz | Fotografia Saulo de Sousa
Alenquer, Comunidade São João, 2018 31
Imagem Lautaro Actis | Fotografia Saulo de Sousa
LAUTARO ACTIS (ARGENTINA)
Uma bicicleta e o rio, 2018 32
CHAVE DE CONVOCATÓRIA
LUCAS DE BAIL (PR)
Imagem Lucas de Bail| Fotografia Saulo de Sousa
Ribeirinha acenando, 2021 33
#Corpo-natureza GALERIA 2
34
CompositorAs INICIAIS:
LIVRE COMPOSIÇÃO:
PAULA SAMPAIO (PA) Luiz Camillo Osorio (RJ) MARCELA BONFIM (RO)
35
PAULA SAMPAIO (PA)
Série nós, 2000 36
Imagens Paula Sampaio | Fotografia Saulo de Sousa
Série nós, 2004
escala de composição/tom
Imagens Paula Sampaio | Fotografia Saulo de Sousa
Série nós, 2003
Série nós, 2004 37
PAULA GIORDANO (PA)
Imagens Paula Giordano | Fotografia Saulo de Sousa
Infância Quilombola, 2021 38
Infância Quilombola, 2021
escala de composição
DEIA LIMA (PA)
Imagem Deia Lima | Fotografia Saulo de Sousa
Sem título, 2015 39
THAÍS ROCHA (RJ)
Imagem Thaís Rocha | Fotografia Saulo de Sousa
40
CHAVE DE CONVOCATÓRIA
ANA CAROLINA FERNANDES (RJ)
Imagem Ana Carolina Fernandes | Fotografia Saulo de Sousa
41
ÂNGELU DE PALMAR (MA)
Imagem Ângelu de Palmar | Fotografia Saulo de Sousa
42
CHAVE DE CONVOCATÓRIA
CRUUPOOH’RE AKROÁ GAMELLA (MA) Imagem Cruupooh’re Akroá Gamella | Fotografia Saulo de Sousa
43
LIVRE COMPOSIÇÃO Luiz Camillo Osorio (RJ) O ambiente é meio e é todo, nele estamos, vivemos e morremos. As imagens são muitos tempos, muitos olhares, surpresas, encantos e terrores. As imagens nos muros são constelações no céu - brilham, fascinam e sinalizam. O sinal é uma mistura de saber ver e ser visto pelo saber dos outros. Estas imagens falam de pertencimento, de ser-com (as plantas, os bichos, os mortos, a fantasia). As crianças sabem nos olhar.
As cores não têm brilho pois este é sugado pelo muro - mas elas carregam uma luz opaca que ilumina de dentro. É bonita a ideia de uma exposição nas
frestas da cidade e
do mato. As fotografias preenchem os buracos entre o que ainda não é e o que já foi - entre tudo por fazer e o já arruinado.
A natureza brota junto à palavra lixo. É forte isso. 44
Há muitos corpos que nos são caros nestas imagens - entre indígenas e negros, tudo ali fala dos processos de “crioulização” amazônica.
Termino aqui com o Glissant (que certamente adoraria ver estas fotografias de tempo e afeto):
“A poética da Relação (que é, então, uma parte da estética do caos-mundo) pressente, supõe, inaugura, reúne, espalha, continua e transforma o pensamento desses elementos, dessas formas, desse movimento. Desestruture esses dados, anule-os, substitua-os, reinvente sua música: o imaginário da totalidade é inesgotável e sempre, e em todas as formas, completamente legítimo, ou seja, livre de qualquer legitimidade”. 45
ELZA LIMA (PA)
Imagem Elza Lima | Fotografia Saulo de Sousa
46
CHAVE DE CONVOCATÓRIA
mario venere (RO)
Imagem Mario Venere | Fotografia Saulo de Sousa
Cachoeira Teotônio,1999 47
ULISSES LIMA (BA)
Imagem Ulisses Lima | Fotografia Saulo de Sousa
48
CHAVE DE CONVOCATÓRIA
HELEN SALOMÃO (BA)
Imagem Helen Salomão | Fotografia Saulo de Sousa
49
JOELINGTON RIOS (RJ)
Imagem Joelington Rios | Fotografia Saulo de Sousa
50
CHAVE DE CONVOCATÓRIA
RAQUEL BACELAR (BA)
Imagem Raquel Bacelar | Fotografia Saulo de Sousa
51
NILMAR LAGE (MG)
Imagem Nilmar Lage | Fotografia Saulo de Sousa
52
CHAVE DE CONVOCATÓRIA
ALEXANDRE CRUZ NORONHA (AC)
Imagem Alexandre Cruz Noronha | Fotografia Saulo de Sousa
53
#Fotos contadoras de histórias GALERIA 3
54
CompositorAs INICIAIS:
ALINE MOTTA (SP) LIA KRUCKEN (BA)
LIVRE COMPOSIÇÃO:
Iyalorixá Marlene de Nanã (BA)
55
ALINE MOTTA (SP)
Imagens Aline Motta | Fotografia Saulo de Sousa
Pontes sobre Abismos #6, 2017 56
Pontes sobre Abismos #28, 2017
escala de composição/tom
Imagens Aline Motta | Fotografia Saulo de Sousa
Pontes sobre Abismos #07, 2017
Pontes sobre Abismos #2, 2017 57
ISIS MEDEIROS (MG)
Imagem Isis Medeiros | Fotografia Saulo de Sousa
58
CHAVE DE CONVOCATÓRIA
MIGUEL CHIKAOKA (PA)
Imagem Miguel Chikaoka | Fotografia Saulo de Sousa
59
Imagem Amanda Leite | Fotografia Saulo de Sousa
AMANDA LEITE (TO)
60
CHAVE DE CONVOCATÓRIA
DIEGO COSTA (SP)
Imagem Diego Costa| Fotografia Saulo de Sousa
61
laura lujan (RO)
Imagem Laura Lujan | Fotografia Saulo de Sousa
62
CHAVE DE CONVOCATÓRIA
laISE AZEVEDO (RO)
Imagem Laise Azevedo | Fotografia Saulo de Sousa
63
CHAVE DE CONVOCATÓRIA
CLÉBER CARDOSO (RO)
Imagem Cléber Cardoso | Fotografia Saulo de Sousa
64
LIVRE COMPOSIÇÃO Iyalorixá Marlene de Nanã (BA) AS FOTOS SÃO CONTADORAS DE HISTÓRIAS Não podemos olhar somente de maneira estética.
É preciso ver o que está e o que não está ali. Ver o que não está à mostra e ouvir o que não foi falado. As fotos contam histórias. As fotos são contadoras de histórias. As fotos conversam entre si. Não têm a mesma origem de motivo, mas tem a mesma inspiração. Às vezes, o fundo é parte da imagem. A parede sem reboco do muro, a imagem além da moldura. Vejo a foto, é só uma criança, com muitas coisas à volta. Não pode ter medo, mas merece crescer com compreensão das coisas. A gente cresce para sobreviver. Mas o que cresceu de verdade? Existe uma semelhança de impactos com a foto da queimada. Olhando esta foto, fiquei extremamente emocionada, porque entendi que era um pôr do sol. Olhando mais atentamente, vi que era uma queimada. Senti muita dor. Uma dor que me levou quase ao desespero. E a pergunta é:
Por que estamos fazendo isso com nós mesmos? Já que a nossa ancestralidade nos ensina, com cantigas do nosso protetor das matas, Sr. Osanha, também conhecido como Agé:
Agé máà inön ò pá àdá Agé máá ìnòn ò pá àdá ó Em português quer dizer:
Agé não quer fogo, Agé não quer corte. As crianças, de novo. O menino cuida da menina com carinho. Estão aprendendo juntos (com o maracá). Ela mostra a ele o que fazer ou é ele que mostra a ela? É uma troca. A preservação dos hábitos. Precisamos guardar esta troca, antes que a construção do homem branco acabe com tudo. A foto dos caminhos e dos barcos é uma das mais bonitas. Também faz a gente pensar: em que condições vivem estas pessoas? A poluição do rio. Quando a floresta queima também queima a forma destas pessoas sobreviverem, os animais que vivem na água. Algumas fotos chamam a olhar para frente. Outras pedem para a gente entender como foram feitas, a tecnologia. Para algumas imagens tenho que olhar várias vezes para ir me afeiçoando a elas porque não sei se as pessoas estão em tocaia, vigília ou observação.
Quando uma imagem mostra tudo maravilhoso, me pergunto: será que é isso mesmo? 65
RENATA GORDO (SC)
Imagem Renata Gordo | Fotografia Saulo de Sousa
66
CHAVE DE CONVOCATÓRIA
LARISSA CORTEZ (MA)
Imagem Larissa Cortez | Fotografia Saulo de Sousa
67
Imagem Fernando Gonçalves | Fotografia Saulo de Sousa
FERNANDO GONÇALVES (RJ)
68
CHAVE DE CONVOCATÓRIA
MARGEM DO RIO (RJ) Imagem | Fotografia Saulo de Sousa
69
DENIS ROUVRE (FRANÇA)
Imagem Denis Rouvre| Fotografia Saulo de Sousa
70
CHAVE DE CONVOCATÓRIA
CHRISTIAN BRAGA (AM)
Imagem Christian Braga| Fotografia Saulo de Sousa
71
#GALERIA ESCURA GALERIA 4
72
Compositores INICIAIS:
ROGÉRIO ASSIS (PA) WASHINGTON DA SELVA (BA) LIVRE COMPOSIÇÃO:
Alberto César Araújo (AM)
73
ROGÉRIO ASSIS (PA)
Sem título 1, 2018 74
Sem título 2, 2018
escala de composição/tom
Imagens Rogério Assis | Fotografia Saulo de Sousa
Sem título 3, 2018
Sem título 4, 2018 75
OCTAVIO CARDOSO (PA)
Imagens Octavio Cardoso | Fotografia Saulo de Sousa
Série Lugares Imaginários, 2009 76
Série Lugares Imaginários, 2009
escala de composição
WALDA MARQUES (PA)
Imagem Walda Marques | Fotografia Saulo de Sousa
77
LIVRE COMPOSIÇÃO ALBERTO CÉSAR ARAÚJO (AM)
78
Nós da Amazônia Estamos entalados, Com nó na garganta Num gargalo em espiral Os gritos são necessários Nesses muros, matas e rios Amazônia é verbo “Amazoniar” Também é verborragia, Amazônia e ar! Um grito na mais alta luz estourada. Amazônia e água! Um rio voador Rios, margens, imagens Calor, cola, colagem. Umidade. Amazônia líquida, fluida, lambida. Um grito na mais escuras das águas. Amazônia também queima Labaredas, rasgos e floresta Mato ou Mato?! A ferro, alumínio, ouro e fogo Tem muros, cercas e atalhos Várzeas, veredas e margens. Do verde mais verde ao mais verde pálido Do pasto ou da soja Amazônia, uma colcha de retalhos De náusea que enoja. Amazônia é imagem É Imaginário, fábula e memória Inventada, saqueada, estuprada. Amazônia é preta, é branca, amarela, vermelha, cinza Também é negra, é indígena, é alienígena Verde, negro, azul, chumbo e carvão Um grito de dor no mais vermelho dos sangues.
um eco do lado de dentro dos lados de cá
O sul do sul global é o norte Faroeste, sem lei, sem Estado, Bang-bang. Vende-se; aluga-se; doa-se, não importa. Para muitos: procura-se! Viva ou morta.
Foto Rogério Assis
79
Imagem Joilson Arruda | Fotografia Saulo de Sousa
JOILSON ARRUDA (RO)
Agroecologia feminina, 2021 80
CHAVE DE CONVOCATÓRIA
Imagem Rodrigo Pedro Casteleira| Fotografia Saulo de Sousa
RODRIGO PEDRO CASTELEIRA (RO)
Sem título, 2021 81
HIROSUKE KITAMURA (JAPÃO)
Imagem Hirosuke Kitamura | Fotografia Saulo de Sousa
Silêncio dos Sentidos, 2022 82
CHAVE DE CONVOCATÓRIA
JANAINA WAGNER (SP)
Imagem Janaina Wagner | Fotografia Saulo de Sousa
Curupira das estradas, 2022 83
KEILA SANKOFA (AM)
Imagem Keila Sankofa| Fotografia Saulo de Sousa
Direito à memória - outras narrativas, 2019 84
CHAVE DE CONVOCATÓRIA
MÁRCIA GOMES (PA)
Imagem Márcia Gomes| Fotografia Saulo de Sousa
Ninfa, 2016 85
Imagem Danilo Marroco | Fotografia Saulo de Sousa
DANILO MARROCO (SP)
Homem, cavalo e rio em um elo, 2020 86
CHAVE DE CONVOCATÓRIA
DIEGO SEI (BA)
Imagem Diego Sei | Fotografia Saulo de Sousa
Onde a casa começa, 2021 87
MERGULHA E VOA (PE)
Imagem Mergulha e Voa | Fotografia Saulo de Sousa
Sem título, 2021 88
CHAVE DE CONVOCATÓRIA
SAULO DE Sousa (RO)
Imagem Saulo de Sousa | Fotografia Saulo de Sousa
Uma mãe desde sua janela, 2022 89
#GALERIA TRANSLÚCIDA GALERIA 5
90
Compositores INICIAIS:
Duo RODRIGO E GAL (RJ) (Rodrigo Masina Pinheiro e Gal Cipreste Marinelli)
Ana Lira (PE)
LIVRE COMPOSIÇÃO:
MARIA THEREZA SOARES (MA) 91
DUO RODRIGO E GAL (RJ)
Imagem Duo Rodrigo Masina Pinheiro e Gal Cipreste Marinelli | Fotografia Saulo de Sousa
Cerca, 2021 92
escala de composição/tom
Imagens Duo Rodrigo Masina Pinheiro e Gal Cipreste Marinelli | Fotografia Saulo de Sousa
Implante, 2020
GH, 2020
Carta de 2016, 2020 93
DAVI DE JESUS DO NASCIMENTO (MG)
Imagens Davi de Jesus do Nascimento | Fotografia Saulo de Sousa
94
escala de composição
BICHO CARRANCA (MG)
Imagem Bicho Carranca | Fotografia Saulo de Sousa
95
THAIS ESPINOSA (SP)
Imagem Thais Espinosa | Fotografia Saulo de Sousa
Imensidão 96
CHAVE DE CONVOCATÓRIA
IAGO ARAUJO (BA)
Imagem Iago Araujo | Fotografia Saulo de Sousa
Rio de Desejos 97
ANIRAM (RJ)
Imagem Aniram | Fotografia Saulo de Sousa
Baby Diz 98
CHAVE DE CONVOCATÓRIA
DUO PAISAGENS MÓVEIS BÁRBARA LISSA E MARIA VAZ (MG)
Imagem Duo Paisagens Móveis: Bárbara Lissa e Maria Vaz | Fotografia Saulo de Sousa
Três momentos de um rio 99
CHAVE DE CONVOCATÓRIA
ANA MENDES & NAY JINKNSS (PA)
Imagem Ana Mendes & Nei Jinknss | Fotografia Saulo de Sousa
Eu não sabia que ia ser militar 100
LIVRE COMPOSIÇÃO MARIA THEREZA SOARES (MA) O tempo da espera, do agora, do hoje, da urgência, o meu tempo, o nosso tempo. Tempo de amor e afetos, tempo que contempla a vida.
101
O meio ambiente é o mundo
(2)
Pensar o “meio ambiente” é perceber as invisibilidades de uma pauta cheia de estigmas e distorções. A própria questão foi transportada a um plano delimitado, onde nos condicionamos o tempo inteiro em pensar as imagens da problemática relacionadas a uma suposta cor - o verde - e a um determinado lugar - a Amazônia. A construção social, política e histórica coloniais, colonizadas e colonizadoras, trazem como princípio o conhecimento destes territórios, renomeados de “Amazônia” - assim, no singular. Uma construção exercida do lado de fora, exatamente no centro político, onde habitam e transitam os fluxos e refluxos do imaginário social, estreitados à ótica econômica do capital. Sendo que, para quem reside do lado de dentro destas tantas margens, é tido e consciente, a multiplicidade, como também o desconhecimento da amplitude do próprio território. O grande desafio tem sido contribuir para a conscientização de quem vive do lado de fora destas tantas margens, sobretudo, quanto a necessidade de compreensão sobre as diversas especificidades destes tantos lugares, bem como de sua diversidade. Seja em relação à diversidade do clima, ou das raízes dos imensos contextos afunilados de Amazônia, é preciso conscientizar sobre o direito de existir como identidade, voz, tradição, política, sociedade, economia e imagem. Neste sentido, percebemos que discutir o meio ambiente tem sido principalmente debater ideias e planos desconhecidos, e/ou invisibilizados do próprio território, para além das paisagens, e para além do imaginário colonizador. O que nos importa são outras formas e princípios, que nos desloquem ao caráter humano da questão, onde a comunidade tem consciência que é dependente, como também responsável por suas formas e corpos. O que pensam e como se movimentam, para dentro e/ou para fora, têm nos próprios limites a convalidação da sua própria existência como natureza (meio/ambiente), como o próprio mundo. Sendo assim, a questão que se coloca é: por que pensar o meio ambiente restrito à imagem de uma Amazônia, enquanto os efeitos da dita emergência climática têm afetado abruptamente o mundo todo? Estados brasileiros (muitos que já perderam grande parte de suas florestas) têm dividido (ou enfrentado) o ônus do peso ambiental (com situações ambientais muito complexas). E, por que, assim, só pensar na Amazônia quando se fala em meio ambiente? Ou seja, ao transportar a discussão do meio ambiente para as humanidades de nossas necessidades como também natureza, assumimos parte substancial da responsabilidade ambiental para quem de fato é responsável: isto é, os indivíduos, e o mundo todo. Consideremos, por exemplo, o peso da guerra atual, instalada superficialmente, por meios políticos, com profundidades ambientais, como uma usina nuclear. Por quais motivos ainda nos debruçamos apenas à ideia destes pesos na Amazônia? 102
(2) Coluna publicada por Marcela Bonfim em “Nós mulheres da periferia” em 09/03/2022.
A consciência das camadas políticas nos remete a estes atravessamentos do homem pela própria natureza. Traz a necessidade de se inverter a movimentação para que continuemos vivos. A imagem tem sido uma forma de trazer para perto as nuances que envolvem a mata ou o concreto. A partir do Festival Fotografia em Tempo e Afeto, propomos trabalhar imagens e pensamentos visuais em Rondônia. Várias camadas visuais têm se transformado, tanto em economia quanto em política. A visualidade tem despertado olhares para narrativas comunitárias, muitas vezes pouco aparentes quando separadas, mas ganhando força e forma quando estão em conjunto. Além do mais, pensar “meio ambiente” dentro de Rondônia, uma das tantas Amazônias, é desafiar os modos operacionais da lógica de um circuito de ideias. Assim, no mês de fevereiro foi estabelecido um grande movimento de composição com o mote: “meu meio é o meio ambiente”. Mais de cem pessoas, todas compondo entre si, e também com as ruas de Porto Velho, resultaram na montagem de 7 galerias a céu aberto, que foram transpostas para a plataforma do festival(3) e para este catálogo. Lia Krucken, que é uma das compositoras, junto com Aline Motta, desenvolveu uma das galerias do projeto e compartilha os sentidos que nortearam as construções permeadas da coletividade expressa em cada imagem em conjunto, umas com as outras:
Uma imagem chama outra. É um tipo de chamamento pela imagem. O pensamento se ancora no visual, mas não só. Uma imagem, perto de outras, diz mais, vai além. Várias imagens, numa galeria, fazem uma galera: quem está retratado, quem retratou, lugares, tempos, meios-ambientes. O resultado é eletrizante: vemos movimentos, olhos que nos olham, cenas que nos convidam a ler e participar. Muitas energias estão ali, nas imagens que se juntaram - algumas são visíveis aos olhos e outras não. Marcela propõe um método que vai se abrindo, nos quais as escalas musicais vão se ampliando e parece desaguar no mar. A composição se faz compondo e nos faz um ‘corpo a compor’ com várias paisagens e histórias. Nesse método de arranjar imagens, pensamentos e in-corpo-rações, a lógica é a do fluxo, ou melhor, dos fluxos. Entendi que a beleza do método é justamente fluir junto, ler os sinais e pegar a onda que quer vir. Assim, fomos montando uma galeria, numa composição que se iniciou junto com Aline Motta e foi se desdobrando, incluindo várias pessoas de um longe-perto. E agora estamos nas ruas de Porto Velho e nos espaços virtuais do festival. O convite para quem ler as 7 galerias-galeras do projeto é pensar o seu próprio ambiente. Porque o jogo é esse, um jogo sem fim, no qual estamos todos juntos: ler com o corpo e seu meio, e continuar a composição.
(3) https://www.fotografiaemtempoeafeto.com/
103
#LIVRE COMPOR COMO VIVER, LUTAR E SONHAR GALERIA 6
104
LIVRE COMPOSIÇÃO:
ANDRESSA SILVA (RO) CYnthia Cy Barra (BA) MARCELO REIS (BA) Lanussi Pasquali (BA) Fábio Gatti (BA)
(RE)conhecendo a amazônia negra (RO) 105
Imagens Jessica Moreira | Fotografias Saulo de Sousa
JESSICA MOREIRA (SP) TRENS, MARRETAS E OUTRAS HISTÓRIAS
106
107
MICHELE D’ÁGUA SARAIVA E LAMA (SP)
Imagens Michele Saraiva | Fotografias Saulo de Sousa
108
Imagens Michele Saraiva | Fotografias Saulo de Sousa
109
volutas
cynthia cy barra
LIVRE COMPOSIÇÃO CYNTHIA CY BARRA (BA)
um corpo que dança é feito de ar e me encontra? escuto o que não vejo só depois a imagem me diz como me chama um varal de imagens posto na feira solfeja: olho-lama pele-terra boca do mar areia rio mangue corpo de águas distâncias um corpo que dança é feito de ar e me encontra? escuto o que não vejo só depois a imagem me diz como me chama 110
Fotografia Michele Saraiva | D’água e Lama
LIVRE COMPOSIÇÃO ANDRESSA SILVA (RO)
Fotografias Geane Tavares 111
LIVRE COMPOSIÇÃO (RE)CONHECENDO A AMAZÔNIA NEGRA (RO) BOCA DO MOCAMBO
Processo fotográfico (Re)conhecendo a Amazônia Negra/imagem: Marcela Bonfim. Fotografias: Saulo de Sousa / Geane Tavares
112
s
113
RONALDO NINA (RJ)
Imagens Ronaldo Nina | Fotografias Saulo de Sousa
Xavante, 2004 114
Bateção Xavante, 2004
LUIZ BRITO (RO)
Imagem Luiz Brito| Fotografia Saulo de Sousa
115
Imagens Danilo de S’Acre| Fotografias Saulo de Sousa
Poema na liquidez inerente
Alguma decisória para construções impossíveis 116
Imagem Danilo de S’Acre| Fotografia Saulo de Sousa
DANILO DE S’ACRE (AC)
Batelão Fantasma 117
MANOEL BATISTA DE ALMEIDA (RO) (in memoriam)
Imagens Manoel Batista de Almeida | Fotografias Saulo de Sousa
118
119
MATEUS SOUSA (RJ)
Imagem Matheus Sousa| Fotografia Saulo de Sousa
120
RITA DE CÁSSIA (RO)
Imagem Rita de Cássia| Fotografia Saulo de Sousa
121
MANOEL SANTIAGO (RO)
Imagem Manoel Santiago | Fotografia Saulo de Sousa
122
MARGOT PAIVA (RO)
Imagem Margot Paiva | Fotografia Saulo de Sousa
123
MARCIA MURA (RO)
Imagens Marcia Mura | Fotografias Saulo de Sousa
124
TANISON PASSOS (RO) Desenhos a lápis: Tanison Passos Fotografias Saulo de Sousa
125
Imagens Uiler Costa Santos | Fotografias Saulo de Sousa
UILER COSTA SANTOS (BA)
126
LIVRE COMPOSIÇÃO Lanussi Pasquali Fábio Gatti (BA)
127
Pinturas D. Lauro (sobre pallets). Fotografias Saulo de Sousa
DOM LAURO (RO)
Rabetas que sobem, 2021
Abertura Amazônica, 2021 128
A salvação, 2021
Cunianzitas, 2021
LIVRE COMPOSIÇÃO MARCELO REIS (BA) Existem duas imagens
Cristo na selva, 2021
Caricatú lobo guará, 2021
Uma que é a própria suposta realidade: a matéria, a outra é nossa imagem mental, quase sempre opaca, transparente a sua própria matéria, contudo, reflete ao real. A fotografia, essa sim, é uma terceira imagem, que é a soma dessas duas outras imagens, e que por sua vez assume um corpo que carrega em sua materialidade uma imagem morta de um outro corpo qualquer.
129
#[RE]COMPOR COMO A NATUREZA GALERIA 7
130
LIVRE COMPOSIÇÃO:
GÊ VIANA (MA)
131
WALTER NETTO (RO)
Imagem Walter Netto | Fotografia Saulo de Sousa
132
LUCIA MARTINS (PA)
Imagem Lucia Martins | Fotografia Saulo de Sousa
133
CLÁUDIO ZARCO (SP)
134
Imagem Cláudio Zarco | Fotografia Saulo de Sousa
VITÓRIA MORÃO (RO)
Imagem Vitória Morão| Fotografia Saulo de Sousa
135
FERNANDA SIEBRA (CE)
Imagem Fernanda Siebra | Fotografia Saulo de Sousa
136
Imagem Nino Rezende | Fotografia Saulo de Sousa
NINO REZENDE (MG)
137
NATALI ARAÚJO (RO)
138
Imagem Natali Araújo| Fotografia Saulo de Sousa
Imagem Samara Ramos| Fotografia Saulo de Sousa
SAMARA RAMOS (RO)
139
BEATRIZ BELO (AP)
140
Imagem Beatriz Belo | Fotografia Saulo de Sousa
Imagem Elisabete Christofoletti | Fotografia Saulo de Sousa
ELISABETE CHRISTOFOLETTI (RO)
141
MANOEL SANTIAGO (RO)
142
Imagem Manoel Santiago | Fotografia Saulo de Sousa
TULASI RESENDE (MG)
Imagem Tulasi Resende | Fotografia Saulo de Sousa
143
IANCA MOREIRA (AP)
Imagem Ianca Moreira | Fotografia Saulo de Sousa
144
LEANDRO MARQUES (RO)
Imagem Leandro Marques | Fotografia Saulo de Sousa
145
ERIEL ARAÚJO (BA)
146
Imagem Eriel Araújo | Fotografia Saulo de Sousa
LIVRE COMPOSIÇÃO GÊ VIANA (MA)
Chão de terra batida avó Maria Viana, 2020
Infância
147
Possíveis identidades do futuro e o futuro das identidades Com a entrada de nossos corpos, no lugar de sujeitos ativos e enunciantes no campo da produção e da circulação da fotografia, os meios e ambientes orientados ao fluxo da visualidade têm se deparado com uma enxurrada de questões e reflexões acerca do processo de racialização de nossas próprias identidades. Tocar na segregação dos corpos-imagens tem nos levado a perceber por onde trafegam os planos da seletividade no âmbito do privilégio. A polarização de nossos sentidos, sempre colocados ao avesso de um suposto lado “certo” ou “bom” da questão, está diretamente relacionada à cultura da visualidade branca, estruturada no topo das vantagens. Sendo o imaginário o grande paradigma de uma sociedade visual, alcançar detalhes (que são bem mais que detalhes) que nos levem para além do visível, significa também perceber camadas estruturais do próprio espaço e de sua cultura, que existem em meio ao meio ambiente, nas quais se organizam os corpos e os movimentos visuais; inclusive dissolvidas na e pela mecânica que segrega suas identidades. No caso da Amazônia, a própria forma de pensar as paisagens locais, desarticulada das imagens humanas que compõem esses espaços, tem distanciado ainda mais a relação entre a natureza e a identidade de seus povos. Eles são invisibilizados pelo lado de fora; exatamente onde são tomadas as principais decisões sobre esses ambientes; invadidos por interesses particulares de seus meios, e condenados à ideia de reserva. Resistindo ao desenvolvimento, tanto do lado de dentro, quanto do lado de fora das tantas Amazônias, o meio ambiente tem suportado o peso do concreto, oscilando de um extremo a outro, como o despontar de um suspiro para a vida, e não para uma economia depredadora. Resta-nos refletir: Porque, então, concentrar a pauta climática apenas na Amazônia? Porque as pessoas não cuidam de seus meios, dos entornos perto de si, e 148
(4)
da natureza de forma mais ampla e difusa? Para aprofundar a questão, convidamos um grupo de artistas visuais da quinta edição do Festival Fotografia em Tempo e Afeto, que fizeram de suas imagens meios e ambientes propícios de reflexão conjunta, a compartilhar impressões. A proposta é acolher e estimular formas diversas de se pensar e se fazer, (re)conhecendo as sombras que permeiam nossos imaginários. Sendo as sombras uma forma de proteção para as florestas, na preservação e manutenção da temperatura global “[...] percebemos a metáfora da reprodução da vida na natureza, representada pela mata preservada, como um grande útero materno onde a vida se desenvolve”. São as sombras que dão o tom à “Galeria Escura”, sacada e nomeada pelo artista visual Washington da Selva, proposta por Rogério Assis. A composição, assemelhada à “essência lúdica, marcada pela liberdade, espontaneidade e autonomia no brincar” - como descreve Paula Giordano -, reflete o universo de uma criança em seu envolvimento com as árvores, por exemplo, dando sentidos à vida como uma perfeita encantaria, encontrando os próprios meios de enxergar o mundo. Sombras também guardam a força das identidades e das tradições. A imagem proposta por Kain Juma, da documentação da “mobilização dos povos indígenas em 2021; ato contra a tese do Marco Temporal que visa acabar com a demarcação das terras indígenas”, traz a dimensão das mobilizações, como meio ambiente propício para articulação e de luta desses povos, constantemente usurpados em seus territórios. E como Israel do Vale observa, nesses territórios os povos vivem “em harmonia com a Natureza, defendendo e usando seus recursos de maneira responsável, para sua subsistência e fortalecendo os laços históricos e culturais”.
(4) Trecho da coluna publicada por Marcela Bonfim em 21 de abril de 2022 no site: https://nosmulheresdaperiferia.com.br/festival-de-fotografia-disponibiliza-agenda-visual-do-meio-ambiente/
“Os povos indígenas são declarados pela ONU como os “guardiões da floresta”, nossas vidas, nossa história e nossa cultura é a floresta. O sagrado vem da floresta. Não existem povos indígenas sem floresta e não existe floresta sem povos indígenas, somos um. Somos e sempre seremos. Minha ancestralidade vem das árvores, dos rios, da terra, da mata. Minhas fotografias indicam o meu ambiente, que é a floresta, cultura, luta, mulheres e também ancestralidade”. (Pí Suruí)
/ Laços de pernas com saltos”. Ou seja, aqui na Galeria 5 (p.90), articulada por Ana Lira, falamos sobre ambientes nada translúcidos vivenciados por Rodrigo Masina Pinheiro e Gal Cipreste Marinelli, que são rearticula-dores de seus próprios meios, em meio à potência reflexiva de seus corpos, e do desejo traduzido em suas visualidades.
São fotografias que contam sobre “homens e mulheres sem face, nem nome. Seus rostos se misturam a outros seCOMPOSIÇÃO res, rios, estradas, LIVRE florestas e as coisas do mundo. Sua iden) e da sua Camillo (RJcorpo tidade se inscreve eLuiz se impõe pelaOsorio força do Narrando o ambiente em que vive, a fotógrafa e jovem li- relação com o ambiente. Esses seres sem rosto, nem nome, O ambiente é meio e éconta todo, só”. Assim derança indígena, Pi Suruí, aproxima-se dos meios acadêmicos somos NÓS, todos parte de uma natureza nele vivemos eammorremos. daestamos, Transamazônica, de pensar a questão, dialogando com Eder Lauri, professor e Paula Sampaio, em meio às memórias fotógrafo, também compositor da Galeria 5, “Bem viver: resis- biente onde repercutiu ainda mais a sua natureza documental, As imagens são muitos tempos, muitos olhares, surpresas, encantos umAsescudo; uma leveza; tências e vivências contemporâneas” (p.18), na construção como de quem faz do meio ambientee terrores. imagens nos muros são constelações no céu - brilham, corpo-natureza. São os muros quando recebem as imagens daver e ser visto pelo de pontes entre o ativismo e a educação. fascinam e sinalizam. O sinal é uma mistura de saber saber dos outros. Estas imagens falam de pertencimento, de ser-com (as Galeria 2 (p.34), compartilhada comigo, e diluída em meio, e plantas, os bichos, os mortos, a fantasia). As crianças sabem nos olhar. A natureza brota junto à palavra todo, pois o ambiente é meio e é todo, nele estamos, vivemos e lixo. É forte isso. Entre pontes sobre abismos… também coexistem LIVRE os meios COMPOSIÇÃO ) observa Luiz Camillo Luiz Camillo Osorio (RJComo Há muitos corpos que nos são caros nestas imagens - entre Osorio (p.44): de Aline Motta, ao atravessar o lado oculto de um ambiente fa- morremos. As cores não têm brilho pois este é sugado peloindígenas e ali fala dos processos de “crioulização” amazônica. muro - masnegros, elastudo carregam uma luz opaca que miliar. ilumina de dentro. O ambiente é meio e é todo, “Se tudo que fazemos na vida é atravessar abismos, Termino aqui com o Glissant (que certamente adoraria ver estas fotografias de tempo e afeto): nele estamos, vivemos e morremos. este projeto é sobre pontes. Pontes de palavras e É bonita a ideia de uma exposição nas frestas da cidade e os buracos o que ainda do mato. As fotografias preenchem imagens, pontes de busca por entendimento. Pontes “A poética daentre Relação (quenão é, As imagens são muitos tempos, muitos olhares, surpresas, encantos é e o que já foi - entre tudo por fazer e o já uma arruinado. então, parte da estética do e terrores. As imagens nos muros são constelações no céu - brilham, sobre o Atlântico… É um projeto que fala sobre a micaos-mundo) pressente, supõe, fascinam e sinalizam. O sinal é uma mistura de saber ver e ser visto pelo nha família, mas poderia falar também da sua”. inaugura, reúne, espalha, continua saber dos outros. Estas imagens falam de pertencimento, de ser-com (as
LIVRE COMPOSIÇÃO Camillo (RJ) contextos Junto com Aline MotaLuiz e Lia Krucken,Osorio localizamos
A natureza brota junto à palavra lixo. É forte isso.
LIVRE COMPOSIÇÃO “Nasci na cidade. imersos às águas; como um ambiente familiar; totalmenteMarlene à deIyalorixá de Nanã ( BANa) foz do Amazonas. Cresci cercado de cimento, mangueiras e água. Aprendi a riva do futuro, mas guiada pelas fotos contadoras de história;
e transforma o pensamento desses elementos, dessas formas, desse movimento. Desestruture esses As cores não têm brilho pois este é sugado pelo negros, tudo ali fala dos processos de “crioulização” amazônica. dados, anule-os, substitua-os, muro - mas elas carregam uma luz opaca que reinvente sua música: o imaginário O ambiente é meio e é todo, ilumina de dentro. Termino aqui com o Glissant (que certamente adoraria ver estas fotograda totalidade é inesgotável e fias de tempo epulei afeto):e no rio. Aprendi a remar vivemos e morremos. sempre,ainda e em todas as formas, É bonita a ideia de uma exposição frestas daecidade nadar na nas piscina a Galeria 3 (p.54), como um nele lagoestamos, doce e profundo, completamente legítimo, ou seja, do mato. As fotografias preenchem os buracos entre o que ainda não criança, mas um dia comprei uma moto. São muitas solfejos. Ouvindo as letras da Iyalorixá Marlene de é e o que já foi - entre tudo por fazer e o já arruinado. “A poética da Relação (que é, livre de qualquer legitimidade”. As imagens são muitos tempos, muitos olhares, surpresas, encantos plantas, os bichos, os mortos, a fantasia). As crianças sabem nos olhar. 44
Há muitos corpos que nos são caros nestas imagens - entre indígenas e
inundando surgido deAS FOTOS SÃO CONTADORAS DE HISTÓRIAS lembranças que se misturam, uma Nanã (p.65): então, uma parte da vida estéticaem do dois mune terrores. As imagens nos muros são constelações no céu - brilham, Não podemos olhar somente de maneira estética. Agé máà inön ò pá àdá caos-mundo) fascinam e sinalizam. O sinal é uma mistura de saber ver e ser visto pelodos, talvez mais aqui do que pressente, lá. Nãosupõe, dá para saber Agé máá ìnòn ò pá àdá ó inaugura, reúne, espalha, continua outros. Estas imagens falam de pertencimento, de ser-com (as É preciso ver o que está esaberodosque não onde vou chegar, mas nos meus sonhos me vejo do e transforma o pensamento desses plantas, os bichos, os mortos, a fantasia). As crianças sabem nos olhar. está ali. Ver o que não está à mostra Em português quer dizer: lado de lá, na beira do rio.” (Octavio Cardoso) elementos, dessas formas, desse 44
quer e ouvir o que não foi falado. movimento. Desestruture esses As cores não têm brilho Agé pois estenão é sugado pelo fogo, dados, anule-os, substitua-os, muro - mas elas carregam uma luz opaca que Agé não quer Estecorte. é Octavio Cardoso, soltando as imagens do tempo, em As fotos contam histórias. As fotos são contadoras de ilumina de dentro. histórias.
reinvente sua música: o imaginário
à memória, que davaimenina do dacimento, até o desejo pela beira As crianças,meio de novo. O menino cuida com totalidade é inesgotável e carinho. Estão aprendendo juntos (com o maracá). Ela do rio, …na fluidez e força da fonte dessa natureza. Somos sempre, e em todasda as formas, É bonita a ideia de uma exposição nas frestas da cidade e As fotos conversam entre si. Não têm a mesma origem mostra a eleo oqueque fazer ou é ele que mostra a ela? É legítimo, ou seja, para nos As fotografi as preenchem os buracos entrefeito ainda nãoágua, como nós seres,completamente do mato. e de precisamos da natureza Além de demotivo, história, as fotos também contam quebram paramas tem a mesma inspiração. uma troca. A preservação dos hábitos. Precisamos livre de qualquer legitimidade”. é e o que já foi - entre tudo por fazer e o já arruinado. meio emdo que vivemos. Um desejo da fotógrafa digmas, como o “milagre de esquecer a sexualidade o quanto guardar estareconectar troca, antes com que aoconstrução homem Às vezes, o fundo é parte da imagem. A parede sem branco acabe comLima, tudo. ao traduzir o estouro do Mar como quem vibra o próDeia antes. / Amor de família. / A cerca de metal que sobe as perreboco do muro, a imagem além da moldura. prio corpo, de uma fonte. nas. / Violência sexual. / Reparação de cabelo nas costas. A foto dos caminhos e dosjorrando barcos é uma das mais boVejo a foto, é só uma criança, com muitas coisas à volta. Não pode ter medo, mas merece crescer com compreensão das coisas. A gente cresce para sobreviver. Mas o que cresceu de verdade? 44
Existe uma semelhança de impactos com a foto da
nitas. Também faz a gente pensar: em que condições vivem estas pessoas? A poluição do rio. Quando a floresta queima também queima a forma destas pessoas sobreviverem, os animais que vivem
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Como pássaros juninos, melodramas teatrais de Belém, lembrados por Wanda Marques (p.77), as fotos trazem das sombras o nosso desconhecimento sobre culturas que dizem das nossas identidades. Para além dos festejos juninos, as imagens falam dos elos que essas culturalidades registram em nosso espaço/ tempo. Isto não é visto e nem pensado do lado de fora - e muitas vezes nem do lado de dentro. Muros imaginários, preenchidos de luzes, todas ofuscadas pela ideia de “conhecimento”, alheia ao passo anterior, o (re)conhecimento. Assim, as identidades criam seus próprios mundos, mesmo convivendo restritas a um caos; mas diferentes dos muros criados pelo mundo afora, os promotores das questões caóticas, que tentam separar e evitar o reconhecimento que é transitar em imagem, cultura e identidades. A racialização de nossos corpos apoiam estruturas visuais que invisibilizam homens e mulheres em seus próprios espaços/tempos. “As cores não têm brilho pois este é sugado pelo muro - mas elas carregam uma luz opaca que ilumina de dentro”, nos diz Luiz Camillo Osorio (p.44).
Ainda assim, a maioria das identidades vivem às sombras do meio ambiente, que, por sua vez, se esconde nas asas da Amazônia. E, que por sua vez, é encoberta de várias camadas de estigmas; soterrando ainda mais o que existe de fato, por ideias soltas que se ouvem falar. Deixa-se de reconhecer o que é valioso de fato, as identidades nas suas essências. Por fim, a ideia da composição é também um ato-desejo de ver a língua do povo falar. Pois quando isso acontece são as identidades que se manifestam. E quando se manifestarem em meio-todo poderão assim dizer o verdadeiro nome da Amazônia, do Brasil.
Ao compor com as possíveis identidades imersas ao caos e à própria continuidade, podemos conhecer um caminho mais seguro e promissor de como se pensar soluções e proteções ambientais para cada lugar. Podemos contar por dentro com a brota junto à palavra lixo.eÉcontinuidade forte isso. do mundo culturaAenatureza a visualidade, como extensão que alcançamos em cada lugar. Luiz Camillo Osorio encerra asHá muitos corpos que nos são caros nestas imagens - entre indígenas e sim sua Livre Composição (p.44): negros, tudo ali fala dos processos de “crioulização” amazônica.
Termino aqui com o Glissant (que certamente adoraria ver estas fotogra-
mos.
fias de tempo e afeto):
“A poética da Relação (que é, então, uma parte da estética do caos-mundo) pressente, supõe, inaugura, reúne, espalha, continua e transforma o pensamento desses elementos, dessas formas, desse movimento. Desestruture esses dados, anule-os, substitua-os, reinvente sua música: o imaginário da totalidade é inesgotável e sempre, e em todas as formas, completamente legítimo, ou seja, livre de qualquer legitimidade”.
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