Revista comemorativa da ADL - 60 anos

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Resgate de um menino da roça Com a voz calma, jeito fraternal e beirando os 70 anos de idade, o advogado Valdemar Holz tem uma história de vida que sintetiza o potencial transformador da ADL para a realidade das pessoas da zona rural. Ele é filho de pequenos agricultores descendentes de pomeranos e alemães instalados na Barra do Empoçadinho, próximo à Serra Pelada, em Afonso Cláudio (ES). Até os 10 anos, Valdemar só falava o pomerano e o alemão, idiomas praticados pelos pais dentro de casa e predominantes em sua comunidade. Foi nesta idade que o então menino tímido da roça ingressou na ADL, depois que o pastor Artur Schmidt convenceu os seus pais a deixá-lo estudar. Valdemar foi aluno da primeira turma de internos formada pela Escola Bíblica, que mais tarde viria a ser ADL. Ali, ele aprendeu a falar e escrever em português. “Aprendi muita coisa. Era como um segundo grau, com aulas de História, Geografia e outras. Os professores eram pastores”, lembra. Depois da ADL, enquanto os demais colegas foram para o Rio Grande do Sul estudar Diaconia ou Teologia, Valdemar Holz optou por trabalhar no cartório de Serra Pelada. “Meus pais não tinham condições de me mandar para fora”, conta. Ele firmou-se na nova atividade e transformou-se no primeiro tabelião que falava pomerano e alemão, conquistando a confiança de pessoas destas descendências: “Vinha gente até de outros municípios. Alguns chegavam a cavalo. Muitos também não falavam português. Eu atendia no cartório, conversava com eles, dava orientação. Foi uma forma de retribuir o que aprendi na Escola Bíblica”, relata, acrescentando que também se transformou no juiz de paz da comunidade e presidente da paróquia. Dali, Valdemar Holz foi para a Alemanha estudar Administração Hospitalar por indicação da Igreja Luterana em parceria com o governo alemão, visando à administração dos recursos daquele país que fo-

ram aplicados na construção do Hospital Evangélico de Domingos Martins. “Uma das exigências era que um brasileiro fizesse este acompanhamento, e eu fui indicado”, conta. Quando retornou, Valdemar mudou-se para Domingos Martins, assumiu a construção e, depois, a administração do hospital, quando também decidiu cursar a faculdade de Direito. Ele foi ainda secretário municipal da Prefeitura por duas vezes, uma na pasta de Saúde e a outra na de Administração. Para Valdemar, a ADL abriu-lhe o campo de visão e as portas do mundo. Hoje, ele está aposentado e continua morando em Domingos Martins, onde tem por hábito registrar fatos que resgatam a história da ADL.

Aos 10 anos, na ADL, aprendi a falar português .

Revista da ADL | 60 ANOS

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