Jornal Unesp - Número 349 - novembro 2018

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conceito de exponencialidade, estarei formando um excelente desempregado”, alertou. O terceiro seria o surgimento de novas tecnologias digitais de formação e comunicação, que afetam os modos tradicionais de investigar e educar. Silva também argumentou que, além da realização de ensino e pesquisa, alguns autores defendem a existência de uma terceira missão da universidade, que seria o envolvimento com a sociedade. Para ele, haveria ainda uma quarta missão, voltada para a produção de respostas a desafios sociais complexos que envolvem tanto o viés tecnológico quanto o humanista. “Como a universidade equilibra esses dois elementos dando respostas a desafios sociais complexos?”, questionou. Ele defendeu uma revisão do tradicional conceito de “tripla hélice”, formado pela interação do sistema universitário com as entidades estatais e a iniciativa privada. Para Silva, existe ainda uma quarta “hélice”: a sociedade civil, que precisa integrar o processo de inovação e desenvolvimento tecnológico. Com esse objetivo, o professor acentuou que é necessário identificar ou criar oportunidades, prestar serviços aos mercados, melhorar processos e operações, criar novos mercados, repensar os serviços e atender às necessidades sociais.

TERCEIRO DIÁLOGO: O DESAFIO DO FINANCIAMENTO O professor Carlos Antonio Luque, da FEA-USP, e a diretora-presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis), Paula Maria de Jancso Fabiani, foram os responsáveis pelo terceiro diálogo, que teve como tema “Financiamento da universidade pública”. As exposições foram mediadas pelo professor Marcos Macari, reitor da Unesp entre 2005

e 2009, que iniciou os trabalhos fazendo algumas observações, baseadas em sua experiência como dirigente universitário. “Quem dá os recursos dá as regras”, assinalou ele, recordando que, como reitor, jamais recebeu de um secretário ou governador do Estado qualquer informação ou orientação sobre quais deveriam ser as prioridades do ensino superior em São Paulo. Para ele, os gestores universitários devem ter educação financeira, evitando gastar além do limite recomendado. O reitor também defendeu a formação de uma reserva financeira, a ser usada principalmente nos momentos mais difíceis. “Economize pelo menos 20% do que você recebe”, aconselhou aos presentes. E, finalmente, sugeriu uma discussão racional sobre a destinação de recursos para as universidades públicas paulistas. “Em casa que falta o pão, todos falam e ninguém tem razão”, comentou, citando o ditado popular. Apoiado em sua experiência como secretário-adjunto da Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado de São Paulo entre 1995 e 2001, Luque discorreu sobre as dificuldades enfrentadas em relação ao financiamento do ensino superior público. “As universidades públicas dependem de orçamentos públicos, que são estressados por gastos que normalmente não se consegue cortar e que levam a uma disputa entre a educação e todos os outros setores”, esclareceu. Como consequência dessa disputa, de acordo com o docente, surgiu a vinculação dos recursos para educação, de 30%. Devido à atual crise econômica, ele advertiu que existe o risco de se acabar com as vinculações – o que retiraria a garantia dos recursos para o setor educacional. Além da disputa com outras áreas, segundo Luque, a educação apresenta uma concorrência interna, porque o ensino superior “briga” com os ensinos fundamental e médio. Ele acentuou que, em 2017, a Secretaria da Educação

Para Luque, universidades e governo estadual não dialogam

Novembro 2018

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Reportagem de capa

Vejo este evento como muito oportuno porque propiciará a todos, especialmente aos nossos conselheiros – que pertencem aos três colegiados centrais da Universidade; que têm o poder decisório nas mãos –, discutir o momento dentro desses temas que serão abordados. E, obviamente, aproveitando isso para criar uma maturação dentro do conhecimento e dos aspectos relativos às necessidades de mudança da nossa Unesp. Crises são interessantes desde que você consiga aproveitá-las para repensar e tomar medidas que sejam necessárias para que a instituição seja preservada e, obviamente, para que ela avance.

Marcos Macari, reitor da Unesp entre 2005 e 2009 recebeu R$ 26,9 bilhões e as três universidades públicas paulistas obtiveram R$ 8,2 bilhões, acrescentando que a rede pública tem 4 milhões de alunos, e as públicas têm cerca de 200 mil. “É difícil dizer que a educação superior é mais importante que a educação básica”, acrescentou. Luque assinalou que falta diálogo entre o trio USP, Unesp e Unicamp e o governo estadual, advertindo para o risco da ampliação de vagas pelas universidades sem a garantia de recursos que compensem esse processo. O ex-secretário levantou a possibilidade de cobrar mensalidade dos alunos mais privilegiados das três universidades. “Eu não defendo o ensino pago, porque no dia que houver cobrança de mensalidades dos alunos das três universidades, imediatamente o governo reduzirá o equivalente no financiamento que hoje ele fornece”, advertiu. Em sua intervenção, Paula Maria enfocou o funcionamento dos chamados fundos patrimoniais. Segundo a dirigente, esses fundos funcionam muito bem em países como os Estados Unidos, garantindo boa parte das atividades de universidades como Harvard. De acordo com ela, tais fundos são formados por recursos financeiros vindos, por exemplo, de doações, heranças e legados, colaborações de sócios mantenedores e patrocinadores de programas e eventos, entre outras fontes. Os valores são aplicados no mercado de

Paula Maria explicou como funcionam os fundos patrimona capitais e seu rendimento é destinado ao financiamento de instituições. Ela ressaltou que, no Brasil, há poucos fundos patrimoniais em instituições de ensino – uma exceção sendo a Escola Politécnica da USP. “A situação, porém, tende a mudar se pudermos aprovar iniciativas como a Medida Provisória 851, em discussão no Congresso Nacional”, comentou. Se entrar em vigor, a MP 851 deverá regulamentar essa área e dará segurança jurídica aos possíveis doadores. Segundo Paula Maria, as entidades da área, no país, já apresentaram sugestões como o estabelecimento de regras simples de gestão e governança dos fundos patrimoniais para os congressistas. Também foi proposto que a constituição dos fundos permita uma amplitude de campos de atuação, assim como uma amplitude de incentivos fiscais: “É importante que o incentivo

fiscal para doação seja válido para todas as causas, não só a cultura”, advertiu. “Além do incentivo fiscal, a exoneração da tributação das aplicações financeiras também se mostra recomendável para atrair recursos privados e garantir adesão à lei.”

QUARTO DIÁLOGO: ÊNFASE NA GESTÃO INOVADORA A quarta e última sessão de diálogos focalizou o tema “Modelos inovadores de gestão da universidade pública”, contando com a participação de Maria Alexandra Rios de Castro Sousa Martins, da Universidade do Porto, em Portugal, e do professor João Eduardo Ferreira, superintendente de tecnologia da informação da USP. Eles foram mediados por Alvaro Martim Guedes, assessor da Pró-Reitoria de


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