Anais 2016-2017

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ANAIS • Ano VI

Acad. Dr. Renato Maia Guimarães. Para falar em ensino médico tem-se que falar sobre quem é o médico. Somos, entre raros profissionais no mundo, os que podem pedir a uma paciente para ficar despida e logo ela prestar cordata obediência. Podemos fazer profissionalmente toques ou exames retais e vaginais em doentes de todas as idades. Podemos falar a uma mãe que o filho está sendo malcuidado e ela nos ouvirá. O médico é o profissional que tem um poder maior no mundo. Penso que a grande falha nas escolas de Medicina é não capacitar, melhorar esse homem que vai exercer a Medicina. É preciso investir no médico, não se pode pretender tratar o outro quando não tratamos a nós mesmos. Não se pode tentar conhecer o outro uma vez que não nos conhecemos. Acredito que a grande falha nos médicos, em sua formação, é a falta de conhecimentos filosóficos, falta de autoconhecimento, falta de reflexão sobre o que é o médico e o que é a Medicina. Quanto a essas outras falhas, hoje o jovem médico só acredita naquilo que a imagem mostra, que pode ser medido, ou que pode ser pesado. Ocorre que a dor, a angústia, a tristeza e o medo não se medem, não se dosam e não se veem. Como resultado, há somatização da Medicina. A importância que a gente tem que reconhecer, nos aspectos não só somáticos, mas psíquico-somáticos, emergiu claramente quando Alois Alzheimer foi apresentar a descrição de uma doença que é hoje comentada em todo o mundo. Foi numa tarde, em uma cidade alemã chamada Tuttlingen. Ele apresentou o caso da demência de uma mulher de 57 anos. Depois dele, Carl Jung foi apresentar as bases da Medicina Psicossomática. A doença de Alzheimer ficou oculta por cinquenta anos porque todo o mundo queria saber o que era a Medicina Psicossomática. Aquela integração entre a parte psíquica e a parte do corpo é que pegou fogo na cidade, pegou fogo com a associação. A Alzheimer ficou cinquenta anos esquecida, mas ele deu o motivo de encontrar essa necessidade de conhecer corpo e mente. Médico que conhece só o corpo ou só a mente conhece pouco, porque não somos divididos. É preciso que conheçamos não o corpo e a mente, mas as pessoas. Para conhecer as pessoas precisamos conhecer a nós mesmos.

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