Estudo do Impacto do Confinamento na Academia de Coimbra

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IMPACTO DO CONFINAMENTO NA ACADEMIA DE COIMBRA

Associação Académica de Coimbra



IMPACTO DO CONFINAMENTO NA ACADEMIA DE COIMBRA

Associação Académica de Coimbra



Índice Parte I - Impacto Do Confinamento Nos Estudantes Introdução E Enquadramento Métodos 2. 1 Participantes e sua descrição sociodemográfica 2.2. Procedimentos 2.3. Instrumentos 2.4. Análise de dados Resultados E Discussão 3.1. Impacto do confinamento na saúde mental 3.2. Impacto do confinamento sobre o desempenho académico 3.3. Impacto do confinamento sobre a capacidade financeira do agregado familiar Conclusão

7 9 9 9 10 10 11 11 27 31 37

Parte II - Impacto Do Confinamento Na Associação Académica De Coimbra Introdução E Enquadramento Métodos 6.1 Participantes 6.2 Procedimentos Resultados E Discussão Conclusão

45 45 45 46 47 53



PARTE 1

IMPACTO DO CONFINAMENTO NOS ESTUDANTES



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1. Introdução e Enquadramento Com origem no mercado de Wuhan (China), o vírus SARS-CoV-2 rapidamente se espalhou pelos 5 continentes, tendo a OMS declarado a COVID-19 uma pandemia no dia 11 de março de 2020. Ao longo dos últimos meses, os governos e as comunidades científicas têm vindo a ser diariamente confrontados com novos desafios, nomeadamente no que diz respeito à governação dos seus sistemas económicos e de saúde. Uma vez certos de que o confinamento, o distanciamento social e o isolamento da população infectada seriam as chaves para conter a epidemia, os governos a nível global passaram à implementação de medidas sem precedentes. Os Estados-Membros da União Europeia não foram exceção, proibindo ajuntamentos na via pública, promovendo o trabalho à distância e encerrando os estabelecimentos de ensino. De facto, se antes da pandemia a população jovem já enfrentava desafios permanentes no que diz respeito à sua integração na sociedade e à sua capacidade financeira, é seguro dizer que os efeitos da pandemia nesta faixa etária serão severos e duradouros, agravando essas dificuldades. Uma das áreas onde as consequências da pandemia da COVID-19 são já notórias e facilmente identificáveis é a da saúde mental. Este impacto negativo resulta não só da quarentena e do isolamento social, mas também do acompanhamento em primeira mão de eventos traumáticos, como a perda de entes queridos ou dos efeitos socioeconómicos nos seus núcleos familiares e comunitários. Destacam-se globalmente níveis aumentados de stress e ansiedade, que, com o decorrer da pandemia, podem vir a agravar sentimentos depressivos, de solidão e até mesmo suicidas. Mais do que nunca, torna-se relevante identificar os grupos de maior risco e entender de que forma a COVID-19 teve impacto na saúde mental dos jovens. O setor mais novo da sociedade tem vindo, também, a sentir intensamente o efeito da pandemia na sua intervenção e participação cívica, cultural, artística e desportiva, pelo claro impacto no tecido associativo jovem. Efetivamente, poucas foram as estruturas associativas que conseguiram transpor a globalidade 7


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do seu plano de atividades para um modelo digital e, ainda assim, manter a sua capacidade de impactar a sua comunidade, sendo que a maioria se viu mesmo obrigada a cancelar ou adiar as suas atividades do ano de 2020 e início de 2021. As principais queixas são a dificuldade em manter as estruturas associativas funcionais e, ainda, os duros cortes sentidos no seu financiamento. As consequências no associativismo jovem, estudantil, cultural e desportivo são inegáveis e põem em causa o seu dinamismo e desenvolvimento nos seus diversos setores, correndo o risco de extinção por força da precariedade forçada pela pandemia e pela falta de apoios. Além disso, a comunidade estudantil universitária viu-se, durante o segundo semestre do ano letivo passado, como se vê hoje novamente, forçada a permanecer em casa. A atividade letiva, quando não interrompida, migrou para as plataformas digitais que surgiram como sucedâneas do ensino presencial, colocando em causa a igualdade de acesso à educação e expondo à luz do dia as tremendas desigualdades sociais que se fazem sentir entre estudantes do ensino superior português. A Associação Académica de Coimbra vem, agora, perante um segundo período de confinamento domiciliário, tentar compreender as debilidades originadas pela pandemia ao longo do último ano, particularmente com os períodos de confinamento, junto da sua comunidade estudantil, em três áreas que considera de suma importância: a saúde mental, o desempenho académico e a condição socioeconómica do estudante e do seu agregado familiar, bem como o impacto do confinamento no próprio quotidiano da AAC. Com a análise das consequências do confinamento nestas quatro áreas fundamentais para todos os estudantes da Academia de Coimbra, a AAC pretende ter uma melhor compreensão das necessidades dos seus associados e do papel que as instituições poderão desempenhar para garantir o máximo bem-estar a todos os estudantes do ensino superior, neste que é, sem sombra de dúvidas, o período mais difícil das academias e dos indivíduos que as constituem.

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2. Métodos

2. 1 Participantes e sua descrição sociodemográfica

A amostra foi composta por 1484 estudantes da Universidade de Coimbra, na sua maioria do género feminino (69,1%, N = 1025), de nacionalidade portuguesa (95,7%, N= 1420) e solteiros (98,9%, N=1467). No que diz respeito à naturalidade, a maioria dos inquiridos é natural da zona centro (centro litoral: 39,8%, N=590; centro interior: 24,8%, N=368). Também foi tida em consideração a diversidade de estudantes da Universidade de Coimbra, sendo inquiridos estudantes das 8 faculdades, nomeadamente Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra e Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra, sendo esta, por sua vez, dividida em Departamentos, nomeadamente, Departamento de Arquitetura, Departamento das Ciências da Vida, Departamento das Ciências da Terra, Departamento de Engenharia Civil, Departamento de Engenharia Informática, Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, Departamento de Engenharia Mecânica, Departamento de Engenharia Química, Departamento de Física, Departamento de Matemática e Departamento de Química.

2.2 Procedimentos Os dados referentes à amostra foram recolhidos entre os dias 17 e 31 de janeiro de 2021, após ter sido decretado pelo Governo novo estado de emergência, com entrada em vigor às 00h00 do dia 15 de janeiro, no contexto académico na Universidade de Coimbra. O questionário foi partilhado com estudantes da UC através de um for9


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mulário online, disponibilizado e difundido pela Associação Académica de Coimbra, com a participação de todas as suas estruturas, especialmente com o apoio dos Núcleos de Estudantes da AAC, com o intuito de conseguir chegar ao maior número de estudantes. O único critério de inclusão no estudo foi ser estudante da Universidade de Coimbra.

2.3 Instrumentos Além de um questionário sociodemográfico contendo questões como género, estado civil, nacionalidade, zona de residência e Faculdade/Departamento, o estudo foi repartido em três grandes grupos de estudo, nomeadamente o impacto do confinamento na saúde mental dos estudantes, o impacto do confinamento no desempenho escolar dos estudantes e o impacto do confinamento na capacidade financeira do agregado familiar.

2.4 Análise de dados Trata-se de um estudo não experimental, transversal, quantitativo e descritivo, com uma amostra de conveniência. Na análise de todas as respostas foram considerados valores relativos e não absolutos tendo em conta a diversidade do universo da amostra. Em relação ao erro amostral (ou margem de erro) foi de 3% com uma confiança de 95%, devido ao tamanho da amostra analisada.

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3. Resultados e Discussão

3. 1 Impacto do confinamento na saúde mental

Este estudo começou pela análise das respostas aos itens sobre o impacto do confinamento na saúde mental dos estudantes da Universidade de Coimbra, sabendo que, a priori, o sofrimento psicológico estava presente desde o início da pandemia de COVID-19, devido a toda a incerteza e medo que se fazia sentir. Pela análise das respostas às perguntas do primeiro grupo, conseguimos retirar dados concretos e preocupantes sobre os estudantes da Universidade de Coimbra. É possível perceber, no gráfico 1, que o equilíbrio emocional e mental dos estudantes foi drasticamente afetado, através das respostas que apontam para 90% dos estudantes se sentirem recorrentemente (sempre, muitas vezes e às vezes) emocionalmente fragilizados durante o período em que estão confinados. Já no gráfico 2 é possível analisar a percentagem de estudantes que sentem repercussões negativas devido ao isolamento social a que estão sujeitos, destacando-se que cerca de 80% dos estudantes sentem que os seus relacionamentos interpessoais são afetados negativamente com imensa regularidade durante o confinamento. 1. Análise da frequência com que os estudantes se sentiram emocionalmente fragilizados durante o confinamento 2% 8%

Muitas vezes 47%

34%

Sempre Às vezes Raramente

9%

Nunca

11


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2. Análise da frequência com que a saúde mental dos estudantes afetou negativamente os seus relacionamentos interpessoais durante o confinamento 15%

5%

Muitas vezes

35%

Sempre Às vezes

41%

Raramente

4%

Nunca

É de realçar, ainda, que os estudantes internacionais inquiridos (gráfico 3) demonstraram, na sua grande maioria, uma maior perturbação nas suas relações interpessoais: 9 em cada 10 estudantes de nacionalidade brasileira viram a sua cognição social prejudicada habitualmente (sempre e muitas vezes). 3. Perturbação nas relações interpessoais vs Nacionalidade 100% 80% 60% 40% 20% 0%

Portuguesa Muitas vezes

Brasileira Sempre 12

Outra Outras respostas


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É previsível que o desconforto emocional sentido proporcione um ambiente instável para os estudantes perante a sua situação académica. Este facto é representado (gráfico 4) por 40% dos estudantes que pensam constantemente (sempre e muitas vezes) em desistir de estudar no Ensino Superior. Se formos mais abrangentes no que concerne à frequência deste pensamento, 7 em cada 10 estudantes pensaram pelo menos uma vez em abandonar o ensino superior, durante o período de confinamento. Se analisarmos a correlação desse fator com a naturalidade, os resultados mostram que cerca de metade dos estudantes inquiridos residentes no sul interior, no norte interior e no centro interior consideraram mais frequentemente (sempre e muitas vezes) a opção de abandono escolar, durante o confinamento (gráfico 5).

4. Análise da frequência com que os estudantes pensaram em desistir de estudar no En sino Superior durante o confinamento

Muitas vezes

26%

34%

Sempre Às vezes

15% 19%

6%

Raramente Nunca

13


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5. Abandono Escolar vs Naturalidade 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%

Muitas vezes

Sempre

Outras respostas

Em relação a situações sentidas/decorridas no período de confinamento, da análise dos gráficos 6-12 destaca-se que cerca de 60% dos estudantes inquiridos tiveram “dificuldades em sentir sentimentos positivos” (gráfico 6), assim como em “esperar algo positivo do futuro” (gráfico 7). Situações de pouca autoestima e motivação pessoal também são bastante preocupantes, pois metade dos estudantes sentiu “pouco valor enquanto pessoa” (gráfico 8) e que a sua “vida não tinha sentido” (gráfico 9) durante o confinamento. Um dos resultados mais graves e preocupantes encontra-se plasmado no gráfico 10. Quando confrontados com a questão de terem lidado com pensamentos suicidas, 20% dos estudantes revela ter tido um ou mais pensamentos suicidas durante o confinamento. Por fim, cerca de 40% dos estudantes inquiridos admite ter sentido dificuldades em respirar (sem ser devido à infecção pela COVID-19) (gráfico 11) assim como tremores no corpo, em particular nas mãos (gráfico 12), devido ao confinamento, o que revela claramente os efeitos do confinamento também no bem-estar físico da quase maioria dos estudantes. 14


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6. Análise da frequência com que os estudantes expressaram “Não consegui sentir nenhum sentimento positivo” durante o confinamento

12%

Muitas vezes

23%

Sempre Às vezes

2%

26%

Raramente Nunca

37%

Prefiro não responder

7. Análise da frequência com que os estudantes expressaram“Senti que não tinha nada a esperar do futuro” durante o confinamento

19%

Muitas vezes

25%

Sempre Às vezes

5%

21%

Raramente Nunca

30%

Prefiro não responder

15


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8. Análise da frequência com que os estudantes expressaram “Senti que tinha pouco valor como pessoa” durante o confinamento

24%

1%

Muitas vezes

22%

Sempre Às vezes

5%

Raramente

23%

25%

Nunca Prefiro não responder

9. Análise da frequência com que os estudantes expressaram “Senti que a vida não tinha sentido” durante o confinamento

1% 30%

21%

Muitas vezes

19%

Sempre

5%

Às vezes Raramente

24%

Nunca Prefiro não responder

16


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10. Análise da frequência com que os estudantes expressaram “Tive ideação suicida” durante o confinamento

3% 1% 1% 6% 12%

Muitas vezes Sempre Às vezes Raramente

77%

Nunca Prefiro não responder

11. Análise da frequência com que os estudantes expressaram “Senti dificuldades em respirar (sem ser sintoma do vírusCovid-19)” durante o confinamento

42%

Muitas vezes

16% 4%

Sempre Às vezes

19%

Raramente

19%

Nunca Prefiro não responder

17


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12. Análise da frequência com que os estudantes expressaram “Senti tremores (por exemplo, nas mãos)” durante o confinamento

Muitas vezes

1% 15%

Sempre

5%

38%

Às vezes

22%

Raramente

19%

Nunca Prefiro não responder

Foi também intenção deste estudo explorar com maior detalhe as emoções dos estudantes face ao confinamento. De entre os 11 estados emocionais apresentados no gráfico 13 ao gráfico 23, cerca de 80% dos estudantes reiteram que se sentem habitualmente afetados a nível emocional, com repetitivos sentimentos de frustração, angústia, depressão, ansiedade e nervosismo. 13. Análise da frequência com que os estudantes sentiram a emoção/estado “ Feliz” durante o confinamento 1% 12%

Muitas vezes

38% 48%

Sempre Às vezes Raramente

1%

Nunca

18


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14. Análise da frequência com que os estudantes sentiram a emoção/estado “Calmo/a ” durante o confinamento

3% 30%

23% 2%

Muitas vezes Sempre Às vezes Raramente

42%

Nunca

15. Análise da frequência com que os estudantes sentiram a emoção/estado “ Energético/a” durante o confinamento

35%

5% 16% 1%

Muitas vezes Sempre Às vezes

43%

Raramente Nunca

19


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16. Análise da frequência com que os estudantes sentiram a emoção/estado “ Apático/a” durante o confinamento

5% 31%

22%

3% 39%

Muitas vezes Sempre Às vezes Raramente Nunca

17. Análise da frequência com que os estudantes sentiram a emoção/estado “ Frustrado/a” durante o confinamento

11%3%

Muitas vezes

48%

31%

Sempre Às vezes Raramente

7%

Nunca

20


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18. Análise da frequência com que os estudantes sentiram a emoção/estado “ Angustiado/a” durante o confinamento

16%

3%

Muitas vezes

40%

Sempre Às vezes

35%

Raramente

6%

Nunca

19. Análise da frequência com que os estudantes sentiram a emoção/estado “ Triste” durante o confinamento

17%

2%

47%

31% 3%

Muitas vezes Sempre Às vezes Raramente Nunca

21


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20. Análise da frequência com que os estudantes sentiram a emoção/estado “ Depressivo/a” durante o confinamento

14%

21% 4%

29%

Muitas vezes Sempre Às vezes Raramente

32%

Nunca

21. Análise da frequência com que os estudantes sentiram a emoção/estado “ Nervoso/a” durante o confinamento

2% 11%

Muitas vezes

46%

29%

Sempre Às vezes Raramente

12%

Nunca

22


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22. Análise da frequência com que os estudantes sentiram a emoção/estado “Ansioso/a” durante o confinamento

2% 7% 25%

Muitas vezes

48%

Sempre Às vezes Raramente

18%

Nunca

23. Análise da frequência com que os estudantes sentiram a emoção/estado “ Confuso” durante o confinamento

18%

6% 33%

Muitas vezes Sempre Às vezes

36%

7%

Raramente Nunca

23


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Com o intuito de perceber o papel do apoio especializado na área da saúde mental e a frequência com que os estudantes recorrem a ajuda profissional, com base no gráfico 24, é importante enfatizar que apenas 18% dos estudantes inquiridos procurou ajuda profissional e especializada durante e depois do anterior confinamento. Posto isto, procuramos saber os motivos para o facto de 82% dos estudantes não ter recorrido à ajuda profissional (gráfico 25). Os principais motivos revelados foram os seguintes (ordenados do mais recorrente ao menos recorrente): dificuldades económicas; por motivos de exclusão social, nomeadamente vergonha e falta de coragem; desconhecimento e dificuldade em encontrar ajuda; falta de tempo pela carga horária e exigência imposta pela faculdade. 24. Procura ajuda profissional durante/depois do confinamento Não Sim 0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

25. Motivos dos estudantes para não terem recorrido a apoio profissional durante/depois do confinamento Desconhecimento/Dificuldade em… Vergonha e falta de coragem Não senti necessidade Preço elevado 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45%

Série1

Preço elevado

Não senti necessidade

Vergonha e falta de coragem

40%

26%

21% 24

Desconhecimento /Dificuldade em encontrar ajuda 13%


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Mais uma vez, ao nível da correlação com a nacionalidade, metade dos estudantes brasileiros da universidade de Coimbra inquiridos procurou ajuda profissional especializada durante o confinamento, enquanto que, na comunidade dos estudantes portugueses, quase 20% recorreu a apoio, como se verifica no gráfico 26. 26. Procura ajuda profissional durante/depois do confinamento vs Nacionalidade 100% 80% 60% 40% 20% 0%

Portuguesa

Brasileira Sim

Outra

Não

Como é já do conhecimento dos especialistas, um sono reparador é crucial para a saúde e as perturbações do sono são extremamente prejudiciais na qualidade de vida e saúde mental do indivíduo. A última análise deste grupo de questões foi sobre a qualidade do sono durante o confinamento (gráfico 27), em que cerca de 80% (79%) dos estudantes revelaram que vivenciaram, com maior frequência, distúrbios na qualidade de sono.

25


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27. Análise da frequência com que os estudantes sentiram a sua qualidade de sono afetada negativamente durante o confinamento

13%

8%

Muitas vezes

36%

Sempre Às vezes

31%

Raramente

12%

Nunca

Segundo o último relatório do setor da saúde da OCDE, foi anunciado que “Portugal é o quinto país da OCDE que mais consome ansiolíticos e antidepressivos”, e é previsível que a pandemia, e o respetivo confinamento provocado pela mesma, venham agravar esta situação, atingindo cada vez mais parcelas jovens da sociedade. Durante este confinamento, os estudantes universitários encontram-se numa posição mais vulnerável a todos os níveis, em particular a possíveis alterações na sintomatologia depressiva, na capacidade funcional, nas queixas de memória, no estado cognitivo e na qualidade de vida, podendo resultar num aumento da taxa de suicídio entre os estudantes do ensino superior português.

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3.2 Impacto do confinamento sobre o desempenho académico A segunda parte do inquérito foi estruturada com o objetivo de apurar os verdadeiros prejuízos no desempenho académico durante o confinamento. Neste sentido, procurou-se aferir a qualidade do desempenho e produtividade dos estudantes do ensino superior, assim como o impacto da atividade letiva digital na relação pedagógica estudante - docente, na motivação académica e na satisfação com a formação recebida. Pela análise do gráfico 28, que reporta os índices de concentração, e do gráfico 29, referente à produtividade académica, cerca de 92% dos estudantes inquiridos sentiu-se habitualmente mais desconcentrado e menos produtivo em momentos de estudo e/ou avaliação, durante o confinamento. Como sequela do baixo rendimento referido, quer no momento anterior e de preparação da avaliação, quer no momento da realização desta, no gráfico 30 é fundamental enfatizar o facto de 8 em cada 10 estudantes referir que teve resultados abaixo do que esperava em grande parte das provas que realizou durante o período de quarentena (sempre, muitas vezes e às vezes). 28. Análise da frequência com que os estudantes se sentiram mais desconcentrados em momentos de estudo e/ou avaliação durante o confinamento

1% 6%

Muitas vezes

20%

Sempre

53% 20%

Às vezes Raramente Nunca

27


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29. Análise da frequência com que os estudantes sentiram o estudo menos produtivo durante o confinamento

2% 7% 24%

Muitas vezes

49%

Sempre Às vezes Raramente

18%

Nunca

30. Análise da frequência com que os estudantes tiveram resultados abaixo daqueles a que se propuseram durante o confinamento

16%

4%

Muitas vezes

32%

Sempre Às vezes

36%

12%

Raramente Nunca

28


O IMPAC TO DO CONFINAMENTO NA ACADEMIA DE COIMBRA

Assim sendo, a maioria dos estudantes inquiridos da Universidade de Coimbra reporta falhas substanciais motivadas pela atividade letiva digital em parâmetros como a motivação académica, a relação docente-discente e a satisfação com a formação académica fornecida. Como podemos observar no gráfico 31, que aborda a relação interpessoal entre o corpo docente e os estudantes, cerca de 7 em cada 10 estudantes revelam que, em algum momento do período de confinamento, sentiram, pelo menos uma vez, carência no processo de acompanhamento por parte do corpo docente. Um menor número de estudantes, cerca de 46% (gráfico 32), refere ter se visto privado de materiais de estudo adequados, durante o confinamento.

31. Análise da frequência com que os estudantes sentiram que deixaram de ter o acompanhamento devido por parte do corpo docente durante o confinamento

6% 24%

28% 4%

38%

Muitas vezes Sempre Às vezes Raramente Nunca

29


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32. Análise da frequência com que os estudantes se sentiram privados de materiais de estudo durante o confinamento

20%

34%

15% 2% 29%

Muitas vezes Sempre Às vezes Raramente Nunca

Os dados supracitados mostram a dificuldade que o período de confinamento levantou para a prossecução plena da atividade letiva no ensino superior, bem como a influência negativa que se reporta no desempenho curricular dos estudantes, conduzindo ao incumprimento dos seus objetivos académicos. Cumpre realçar que o ensino superior é um sistema dinâmico que está em constante adaptação e evolução, sofrendo alterações profundas nas últimas décadas que se reproduz em novas exigências e novas metodologias. Como é certo, o ensino superior e os seus estudantes foram (e continuam a ser) uma parcela fortemente atingida pelas restrições impostas pela pandemia de COVID-19, tendo toda a comunidade sido forçada a uma mudança abrupta do paradigma académico. Se é certo que a adaptação ao novo formato de ensino e avaliação à distância possibilitou a descoberta e exploração de novas funcionalidades e metodologias pedagógicas na área do digital, é, também, seguro afirmar que a componente presencial da atividade letiva nas instituições de ensino superior continuará a ser essencial para garantir a qualidade formativa, a motivação dos estudantes e o acompanhamento pedagógico vital só alcançado por uma relação docente-discente em sala de aula. 30


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3.3 Impacto do confinamento sobre a capacidade financeira do agregado familiar Antes da chegada da pandemia, a situação económica de Portugal estava na fase final da recuperação da crise anterior, contudo o confinamento geral obrigou ao fecho praticamente total do país e as fragilidades existentes na economia, no mercado de trabalho e na distribuição dos rendimentos tornaram-se ainda mais expressivos, prevendo-se o seu agravamento substancial com o decorrer do tempo e com a manutenção de medidas restritivas do quotidiano socioeconómico dos cidadãos. A última parte do presente estudo teve como objetivo analisar a instabilidade financeira do agregado familiar dos estudantes universitários,durante o período pandémico em que foi decretado o estado de emergência em Portugal. Numa primeira instância, pretendeu-se aferir o impacto nos rendimentos do agregado familiar durante o confinamento. Como é possível verificar no gráfico 33, 45% dos estudantes inquiridos referem repercussões negativas no rendimentos do agregado familiar, pelo que a maioria (60,6%) revela que houve uma quebra substancial nos rendimentos, apesar da manutenção do emprego; 23,9% dos estudantes aponta o regime de lay-off como principal factor de prejuízo financeiro na família; um cenário ainda mais dramático assenta no facto de aproximadamente 10% (9,6%) dos estudantes indicarem que pelo menos um dos elementos do seu agregado familiar ficou desempregado durante o confinamento.

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33. Análise das alterações nos rendimentos do agregado familiar dos estudantes durante o confinamento

22%

Concordo totalmente

19%

25%

Concordo parcialmente Indiferente

26%

Discordo parcialmente

8%

Discordo totalmente

34. Motivos das alterações nos rendimentos do agregado familiar dos estudantes durante o confinamento Outro

0,059

Situação de desemprego (pelo menos um elemento do agregado familiar)

0,096

Situação de Lay-off

0,239

Quebra substancial nos rendimentos, apesar da manutenção do emprego

0,606

As quebras de rendimento e a instabilidade económica que a pandemia e as medidas restritivas da atividade comercial explicam os resultados em análise no gráfico 35, onde se evidencia que 12% dos estudantes revela que durante o confinamento viu-se privado de despesas com material escolar. A situação agrava-se quando falamos na manutenção das despesas relativas à habitação estudantil, que tornou-se uma despesa demasiado pesada para os orçamentos de cerca de 31% das famílias (gráfico 36). 32


O IMPAC TO DO CONFINAMENTO NA ACADEMIA DE COIMBRA

35. Dificuldade em suportar despesas com material escolar durante o confinamento

2%10%

Concordo totalmente

12%

47%

Concordo parcialmente Indiferente Discordo parcialmente

29%

Discordo totalmente

36. Dificuldade em suportar despesas com habitação estudantil durante o confinamento

16% 45%

Concordo totalmente Concordo parcialmente

15%

Indiferente

6%

Discordo parcialmente

18%

Discordo totalmente

33


O IMPAC TO DO CONFINAMENTO NA ACADEMIA DE COIMBRA

Quanto ao pagamento das propinas e outras prestações pecuniárias devidas à instituição de ensino superior, no gráfico 37 verifica-se que 2 em cada 10 dos estudantes inquiridos demonstraram dificuldades em suportar despesas relativas a propinas, taxas e/ou emolumentos, durante o período em que foi decretado confinamento. No sentido de conseguir perceber a correlação dos dados com as características sociodemográficas dos estudantes internacionais, é clara a discrepância dos resultados ao nível da dificuldade em suportar as despesas das propinas entre estudantes nacionais e estudantes internacionais. No gráfico 38 podemos averiguar que dos 20% de estudantes que sentiram dificuldades em suportar as propinas, 65% estudantes internacionais inquiridos responderam positivamente. 37. Dificuldade em suportar despesas relativas a propinas, taxas e/ou emolumentos durante o confinamento 100%

7% 51%

80%

Concordo totalmente

14% 9%

19%

60%

Concordo parcialmente

40%

Indiferente

20%

Discordo parcialmente

0%

Discordo totalmente

Estudantes Nacionais

Concordo totalmente

Estudantes Internacionais

Concordo parcialmente

Outras respostas

38. Dificuldade em suportar despesas relativas a propinas, taxas e/ou emolumentos vs Nacionalidade Com os resultados desta secção compreende-se que os efeitos da pandemia e do confinamento já se sentem nos orçamentos dos agregados familiares. É expectável que a situação económica das famílias piore nos próximos meses, em particular das famílias com rendimentos inferiores, refletindo-se num agravamento de todas as dificuldades e desigualdades socioeconómicas já existentes no ensino superior, colocando em risco o ingresso e manutenção dos estudantes provenientes das camadas mais pobres da sociedade no ensino superior. 34




4. Conclusão Obtidos, condensados e analisados os resultados do inquérito, impõe-se, agora, que se convertam os números em conclusões, propondo soluções pensadas para o restabelecimento do bem-estar dos estudantes no ensino superior português e a salvaguarda de um ensino superior universal, capaz de ser um mecanismo privilegiado para a prossecução da igualdade na sociedade civil portuguesa. A análise dos resultados consoante a nacionalidade ou a naturalidade dos inquiridos é bem reveladora da diferença que estas realidades acarretam no impacto do confinamento. A segunda nacionalidade que mais respondeu foi a brasileira, sendo expressivo um maior impacto negativo na sua estabilidade emocional e nas suas relações interpessoais. Esta conclusão, acreditamos, estará diretamente associada ao facto dos estudantes internacionais estarem deslocados da sua terra natal e dos seus entes queridos; denotando-se, apesar disso, uma maior abertura à ajuda nessa área, procurando o auxílio profissional com maior frequência que os estudantes nacionais. Entre os portugueses, são os naturais do interior do país que mais se viram afetados, assumindo um maior número de vezes a desistência do ensino superior como uma possibilidade, o que se explicará pelas debilidades socioeconómicas associadas, de forma geral, ao desenvolvimento do interior do país e à diferença entre o rendimento per capita das regiões litorais e do interior de Portugal. Estes dados demonstram que a nacionalidade e a naturalidade não devem ser ignoradas e que os estudantes se encontram em circunstâncias materialmente diferentes consoante o país e, dentro deste, o sítio concreto onde nascem, crescem e estudam. Nesta perspetiva, parece ser fundamental revisitar o estatuto do estudante internacional, limitando com um teto máximo legal as propinas cobradas aos estudantes internacionais, tendo em consideração, na fixação desse limite máximo, as propinas cobradas aos estudantes nacionais. Por outro lado, é imperativo que a atribuição de bolsas de estudo aos estudantes nacionais no próximo ano letivo seja célere, garantindo a estabilidade do percurso académico 37


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do estudante. Além disso, para garantir a prossecução dos estudos por parte dos estudantes com mais dificuldades, é imprescindível que se considere, na atribuição de bolsas de estudo, a propina cobrada no segundo ciclo de estudos que, também ela, deverá ter uma limitação legal, evitando a arbitrariedade na fixação das propinas por parte das instituições de ensino superior, potencialmente aproveitadora da extinção dos mestrados integrados e da diminuição da propina do primeiro ciclo de estudos. No campo da saúde mental, os resultados do presente estudo alertam para uma situação muito preocupante entre os estudantes do ensino superior português. Para além da alarmante quantidade de estudantes que sentiu o seu sono ou os seus relacionamentos interpessoais afetados pelo confinamento, os números preocupam mais ainda quando percebemos que 70% dos inquiridos pensou em desistir do ensino superior, quase 90% sentiu-se frequentemente emocionalmente instável e uns alarmantes 20% tiveram pelo menos um pensamento suicida. Estes valores são expressivos e traduzem testemunhos de estudantes universitários que necessitam de apoio e respostas concretas. Também deve ser considerado preocupante o facto de apenas 18% dos inquiridos terem procurado ajuda profissional nesta área, justificando-se a larga maioria com a falta de capacidade financeira para o fazer ou o estigma social. Torna-se claro que a saúde mental e os problemas a ela associados são ainda vistos de diferentes perspetivas pela sociedade no geral: para alguns, um assunto irrelevante e digno de pouco destaque pela falta de credibilidade dos testemunhos; para outros, que sentem na pele os seus efeitos, um assunto tabu, por receio de julgamentos de terceiros; para muitos, o que deve ser motivo de grande preocupação, um luxo, não sendo possível afirmar que a assistência de foro psicológico seja tratado com a mesma dignidade que as restantes áreas do serviço nacional de saúde português. Posto isto, várias exigências se fazem sentir. Com o prolongamento da pandemia e das medidas restritivas, é fundamental que o governo português desenvolva uma campanha que alerte para o problema, procurando desmistificar, esclarecer e educar a sociedade civil para estas condições patológicas invisíveis, mas com um peso tremendo no bem-estar das gerações mais jovens. Torna-se, 38


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além disso, essencial redobrar os recursos alocados ao serviço nacional de saúde, permitindo uma rede de serviços universais associados à psicologia mais ampla e com capacidade de resposta ao aumento das necessidades, bem como mecanismos de resposta rápida, como uma linha específica para estudantes do ensino secundário e superior alocada ao SNS24. No campo do desempenho académico, os resultados são também esclarecedores. A maior tendência para a desconcentração em períodos de estudo ou de avaliação, a falta de acompanhamento por parte do corpo docente e a carência de materiais de apoio adequados ao ensino à distância são fatores que levam a que uma grande percentagem dos estudantes confesse não ter sido capaz de atingir os resultados a que se propôs. O encerramento parcial da rede de bibliotecas universitárias vem privar os estudantes de alguns dos mais dignos espaços de estudo ao seu dispor. Não se deve ignorar o facto de muitos dos estudantes não terem em casa o ambiente mais propício ao correto desenvolvimento de conhecimentos e à avaliação que lhes é inerente, seja por débil ligação à internet ou pelo simples facto de a habitação não ter dimensões adequadas à coabitação permanente de todo o agregado familiar, vendo-se impedidos de condições de privacidade e quietude essenciais à preparação académica. Considerando-se que a atividade letiva digital deverá ser uma exceção à regra, a mobilizar apenas como última opção tendo em conta o desenvolvimento da pandemia, torna-se fundamental uma adaptação pedagógica à nova realidade, com um maior número de pausas durante as aulas, evitando a fadiga mental suscitada pela uso intensivo de meios informáticos, a utilização de materiais de estudo disponíveis gratuitamente online, fazendo face à impossibilidade de recurso às bibliotecas das instituições de ensino superior, e a adaptação da avaliação para moldes que evitem a fraude académica e que sejam capazes de avaliar coerentemente o esforço e conhecimento dos estudantes, como trabalhos periódicos ou provas sob consulta. Apesar de todos estes esforços de adaptação da atividade letiva, o ensino e os momentos de avaliação à distância trarão à luz do dia as desigualdades entre estudantes pelas condições em que residem: se um estudante vive num apar39


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tamento e outro numa moradia, se um não tem de partilhar o quarto e o outro tem familiares idosos dependentes do seu agregado familiar, se um vive num meio urbano com cobertura de rede e outro no meio rural com parca cobertura, não será possível considerá-los em condições materialmente idênticas — sendo expectável, claro, uma tradução destas desigualdades na formação e no sucesso académico obtido. A Associação Académica de Coimbra está convicta de que apenas um ensino em regime presencial pode ajudar a combater estas assimetrias. O acesso generalizado às infraestruturas que as instituições de ensino superior possibilitam e o sistema de ação social indireta que serve o corpo estudantil são ferramentas essenciais para garantir a igualdade de condições entre estudantes do ensino superior. Quanto às questões socioeconómicas levantadas, os resultados revelam uma das faces mais negras da crise pandémica. A larga maioria dos agregados familiares viram os seus rendimentos substancialmente reduzidos pelo despedimento, pelo layoff ou em face das restrições impostas ao comércio por parte do Governo. Um quinto dos estudantes confessam ter tido dificuldades em suportar despesas relativas a propinas, taxas e/ou emolumentos. São 20% dos alunos a confessar não ter possibilidades de suportar os custos de acesso e permanência ao ensino superior público português. Nestas circunstâncias, é fundamental considerar uma nova redução da propina no próximo ano letivo, mantendo a rota de diminuição que tem vindo a ser operacionalizada. É, além disso, fulcral a suspensão imediata de todas as taxas, emolumentos e multas por incumprimento de prestações pecuniárias anteriores cobradas pelas instituições de ensino superior. Concluindo, estes resultados espelham a imagem de um corpo estudantil com debilidades no foro da saúde mental, afetado no seu desempenho académico e com sérias fragilidades socioeconómicas: condições que se agravam a cada dia que passa com o período de confinamento a que estamos novamente obrigados, numa tentativa de estancar a crise pandémica que nos assola. Estas são preocupações reais que começam a tomar proporções que devem motivar a consideração das propostas por parte do Estado. Estas serão algumas das medi40


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das necessárias para dar resposta aos anseios dos estudantes do ensino superior, de forma a que eventuais efeitos de que agora temos os primeiros sinais não marquem o início do próximo ano letivo pelos piores motivos.

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PARTE 2

IMPACTO DO CONFINAMENTO NA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA



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5. Introdução E Enquadramento O agravar da crise sanitária implicou o condicionamento em larga escala da atividade cultural, desportiva e política da Associação Académica de Coimbra. As restrições de combate à pandemia da COVID-19 trouxeram consigo a suspensão de ensaios, treinos e atividades de cariz formativo ou político, forçando as estruturas da AAC a uma transição para o digital para a qual não estavam preparadas, mas que têm vindo a tomar com alternativa única a um total corte de relações com os seus associados efetivos e seccionistas. Tendo plena noção desta realidade, procuramos agora saber, em concreto, de que forma foram afetadas as estruturas da AAC, essencialmente no que diz respeito à perda do número de associados seccionistas, à desmotivação dos seus dirigentes e associados de toda a ordem e às quebras das suas receitas próprias.

6. Métodos

6.1 Participantes

Com o intuito de auferir o impacto do confinamento imposto pela pandemia da COVID-19 no funcionamento da AAC, nomeadamente da Direção Geral, das Secções Culturais e Desportivas e dos Núcleos de Estudantes, divulgou-se junto das respetivas estruturas da AAC um questionário online. O inquérito teve uma amostra de 72 estruturas da Associação Académica de Coimbra tornando o estudo totalmente representativo dos constrangimentos sentidos pelas estruturas da AAC.

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6.2 Procedimentos Os dados referentes à amostra foram recolhidos entre os dias 29 de janeiro e 5 de fevereiro de 2021, em que responderam ao inquérito: 15 Secções Culturais, nomeadamente Secção de Fotografia, Centro de Informática, Centro de Estudos Cinematográficos, Secção de Yoga, SOS Estudante, Secção de Jornalismo, Rádio Universidade de Coimbra, Secção Filatélica, Secção de Defesa Direitos Humanos, Secção de Escrita e Leitura, Grupo Ecológico, Secção de Fado, Televisão da Associação Académica de Coimbra, Secção de Astronomia Astrofísica e Astronáutica e a Pro-Secção de Jogos de Tabuleiros; 27 secções desportivas, nomeadamente Secção de Andebol, Secção de Atletismo, Secção de Badminton, Secção de Basebol, Secção de Basquetebol, Secção de Bilhar, Secção de Boxe, Secção de Cultura Física, Secção de Desportos Motorizados, Secção de Desportos Náuticos, Secção de Futebol, Secção de Futsal, Secção de Ginástica, Secção de Halterofilismo, Secção de Judo, Secção de Karaté, Secção de Lutas Amadoras, Secção de Natação, Secção de Patinagem, Secção de Pesca Desportiva, Secção de Radiomodelismo, Secção de Rugby, Secção de Taekwondo, Secção de Ténis, Secção de Tiro com Arco, Secção de Voleibol, Secção de Xadrez e duas Pro-Secções de Boccia e de Padel; e 26 Núcleos de Estudantes, nomeadamente Núcleo de Estudantes de Medicina, Núcleo de Estudantes de Medicina Dentária, Núcleo de Estudantes de Administração Público-Privada, Núcleo de Estudantes de Direito, Núcleo de Estudantes de Antropologia, Núcleo de Estudantes de Biologia, Núcleo de Estudantes de Bioquímica, Núcleo de Estudantes do Departamento de Engenharia Química, Núcleo de Estudantes do Departamento de Física, Núcleo de Estudantes de Engenharia do Ambiente, Núcleo de Estudantes de Engenharia Civil, Núcleo de Estudantes de Engenharia Electrotécnica de Computadores, Núcleo de Estudantes de Engenharia Mecânica, Núcleo de Estudantes de Informática, Núcleo de Estudantes de Matemática, Núcleo de Estudantes de Química, Núcleo Geociências, Núcleo de Estudantes de Arquitectura, Núcleo de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Núcleo de Estudantes de Farmácia, Núcleo de Estudantes de Economia, Núcleo de Estudantes de 46


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Gestão, Núcleo de Estudantes de Relações Internacionais da Faculdade de Economia, Núcleo de Estudantes de Sociologia, Núcleo de Estudantes de Psicologia, Ciências da Educação e Serviço Social, Núcleo de Estudantes de Ciências do Desporto e Educação Física. No que concerne à avaliação do impacto do confinamento na Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra , o estudo foi realizado internamente com todos os relatórios de receitas e despesas desde o período em que foi decretado estado de emergência nacional.

7. Resultados E Discussão A pandemia que dura há praticamente um ano tem debilitado em múltiplas vertentes a Associação Académica. Na área financeira, a AAC registou, a partir do segundo trimestre de 2020, avultadas perdas, que se foram agudizando ao longo do ano, e que ascendem a perto de meio milhão de euros. As restrições decretadas pela constante necessidade de combate à pandemia vieram implicar o adiamento e posterior cancelamento das festas académicas e acordos comerciais diretamente associados à sua realização, o que comportou um prejuízo a rondar os 300.500,00€, representando, por isso, cerca de 70% das perdas registadas. Os restantes 30% de prejuízo financeiro, que representam cerca de 128.000,00€, dizem respeito, essencialmente, à quebra do pagamento dos contratos de arrendamento por parte dos arrendatários do Edifício da Associação Académica de Coimbra, que se viram, além disso, isentos do pagamento das rendas relativas ao primeiro período de confinamento, às receitas que o Bar da AAC e o Bar do Campo de Santa Cruz deixaram de gerar, à compra de equipamento de proteção individual, e à denúncia de alguns patrocínios diretamente associados à atividade corrente da AAC. Com este último indicador compreende-se outra vertente do impacto das restrições na AAC. Passado praticamente um ano desde o início da pandemia, a atividade de representação estudantil, de intervenção política e cívica e de 47


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desenvolvimento desportivo e cultural da Academia coimbrã ficou francamente abalado, com claros prejuízos no que toca à prossecução plena do escopo plural da Associação Académica de Coimbra. A atividade cultural foi, sem sombra de dúvidas, uma das áreas mais afetadas em Portugal e, por conseguinte, também na AAC, tendo sido praticamente suspensa na sua globalidade a atividade das suas 16 estruturas da área. Desde logo, no que concerne às infraestruturas, é consensual entre os membros das estruturas o reconhecimento dos efeitos colaterais no normal funcionamento da dinâmica cultural devido às restrições implementadas no habitual uso das infraestruturas do Edifício Sede. As razões apontadas residem principalmente na limitação do número de utilizadores possibilitados de utilizar os espaços em simultâneo (85,7%), seguindo-se da falta de condições de segurança para a prevenção da transmissão da doença em questão (57,1%). Em terceiro, encontra-se a alteração do horário de fecho das infraestruturas (41,9%). O impacto da pandemia também se fez sentir quanto à captação de associados e de participantes por parte das estruturas culturais da AAC, tendo 9 das estruturas culturais registado uma diminuição dos associados inscritos. Destes, 3 registaram uma diminuição de 76-100%, 4 uma diminuição de 26-50% e 2 uma diminuição de 0-25%. Do ponto de vista exclusivamente financeiro, a pandemia traduz-se num decréscimo substancial das verbas arrecadadas pela cessação de protocolos e a impossibilidade de realização de atividades com retorno financeiro, sendo este impacto difícil de contabilizar em valores objetivos para grande parte dos afetados. Perante os dados apresentados, parece inequívoco o impacto marcante da pandemia na cultura da AAC, que terá dificuldade em retornar ao estado anterior à pandemia, por força do subfinanciamento da atividade cultural ao longo do último ano e pela diminuição abrupta dos seus recursos humanos. A área do desporto foi, também ela, alvo de alguns dos mais sérios condicionalismos desde a chegada da COVID-19 ao país. Durante a primeira vaga da pandemia, e primeiro confinamento obrigatório, foi decretada a total suspensão da prática desportiva, tendo sido, posteriormente, um dos últimos setores a retomar a sua normal atividade à escala nacional. 48


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Ao longo do último ano, as estruturas desportivas das AAC têm vindo a sofrer com os vários constrangimentos impostos pelo imperativo de saúde pública, desde logo, a quebra nas receitas de bilheteira, os constrangimentos de utilização dos recintos desportivos que retira tempo fundamental para treino dos atletas e a quase total interrupção da formação das camadas jovens. Tendo em conta isto, o inquérito revela que 26 das Secções Desportivas viu o seu normal funcionamento constrangido no que diz respeito à utilização das infraestruturas da AAC e da UC. Já no que concerne à diminuição do número de atletas praticantes, 19 das estruturas confirmam perdas neste ponto, tendo 13 destas perdido pelo menos ¼ dos seus atletas, chegando algumas a perder mais de 75% dos seus desportistas. A perda destes atletas acarreta a perda de pagamentos de mensalidades nos escalões de formação. Quando inquiridas, 13 assumiram ter perdido, pelo menos, metade das receitas que normalmente arrecadavam. O impacto negativo da pandemia e das medidas restritivas verifica-se, também, nos Núcleos de Estudantes da Associação Académica de Coimbra, estruturas estas que sofreram restrições, também, ao nível do desenvolvimento dos seus planos de atividades. Quando inquiridos, 14 destas estruturas assumiram ter verificado uma diminuição nos seus rendimentos e, consequentemente, impactos no seu normal funcionamento. Esta diminuição de rendimentos apontada pelos Núcleos de Estudantes deve-se, essencialmente, à impossibilidade de realização de eventos com um retorno financeiro para as estruturas estudantis. Com o confinamento, são naturais algumas alterações na motivação de todo o universo estudantil e estas apresentam-se bem vincadas, não só nos dirigentes estudantis, mas também em todo o universo que participa nas atividades realizadas pelas diversas estruturas. Quanto à motivação dos organizadores e colaboradores das atividades dos núcleos, 14 das estruturas inquiridas afirmam que se sente um decréscimo substancial da vontade de colaborar e da intensidade da participação, podendo este ser um reflexo derivado da incapacidade de realizar atividades presenciais, vendo assim o seu esforço reduzido a atividades de cariz digital. Por outro lado, 49


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relativamente à diminuição da motivação dos participantes nas atividades dos Núcleos de Estudantes, 14 dessas estruturas afirmam que não sentiram um decréscimo do interesse nas atividades oferecidas, sendo este um reflexo que, mesmo em confinamento, houve uma procura generalizada do universo estudantil por eventos e atividades que permitissem dispensar o quotidiano em confinamento. Verifica-se, portanto, que, devido à insegurança e instabilidade dos tempos vivenciados, a atividade resultante da readaptação dos Núcleos de Estudantes tornou-se fundamental, permitindo um escape a um número considerável de estudantes, combatendo o isolamento e contribuindo para a manutenção do bem-estar psicológico.

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8. Conclusão A Associação Académica de Coimbra não sai incólume da grave crise que atravessamos. A sua atividade viu-se constrangida, tantas vezes adiada ou até mesmo cancelada, pondo em causa a sua sobrevivência de um ponto de vista financeiro, mas também humano. Se é verdade que as receitas são escassas e que se torna desafiante, para uma estrutura com dezenas de profissionais e com uma capacidade de impacto a nível regional, manter-se em funcionamento nos termos habituais, não se pode ignorar o peso que recai sobre os ombros dos seus dirigentes e associados, profundamente debilitados por circunstâncias que não controlam e perante as quais têm vindo a tomar decisões em prol da estabilidade desta secular instituição. Os desafios são tremendos. A cultura, o desporto e a política da casa sofreram perdas que vão obrigar a AAC a repensar a sua atuação nestas áreas, só desta maneira sendo possível garantir a participação ativa dos milhares de dirigentes e associados envolvidos na sua atividade diária. O setor cultural da Associação Académica de Coimbra vê-se debilitado essencialmente pela diminuição drástica de novos associados seccionistas que integrem as estruturas da casa. Os riscos de contágio, os regimes semipresenciais de ensino e o afastamento que acarretam entre os estudantes e a cidade de Coimbra levaram a que desde o início deste ano letivo menos cerca de 150 interessados se tornassem associados seccionistas das secções culturais da AAC. As debilidades que o desporto da AAC sente são, também elas, evidentes, sendo urgente medidas que visem responder aos anseios de centenas de atletas e dirigentes dispostos a retomar a sua normal atividade e ajudar a reerguer um dos clubes mais antigos e ecléticos da Europa. No caso das secções desportivas, a crise sanitária levou à desistência de mais de 600 atletas, despindo os escalões de formação de atletas e pondo em risco a saúde financeira de tantas secções de tão franco relevo para a história desportiva da casa. 53


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No seio dos Núcleos de Estudantes, estima-se que cerca de 130 atividades ficaram por realizar ou sofreram adaptações. Isto conduziu as estruturas a uma proximidade desajustada, ajudando, por isso, a cavar um fosso entre os núcleos e a comunidade estudantil que cada um deles representa, junto da qual procuram atuar à base da confiança e da interação promovida pelo mundo digital. Todas estas fragilidades encerram em si uma realidade que esperamos transitória e que requer medidas concretas. Dos dirigentes espera-se resiliênica e espírito de sacrifício; das instituições exige-se uma resposta célere e concreta que garanta a estabilidade de uma instituição com um papel de relevo tão próprio no âmbito nacional. Nesta perspetiva, é imperativo revisitar e reverter a alteração legislativa consagrada pela portaria n.º 286/2020, de 14 de dezembro, que acarreta a diminuição do financiamento por parte do IPDJ às associações estudantis neste ano tão difícil. Para além de um retrocesso quanto a este corte, é vital um apoio extraordinário que permita reparar as perdas financeiras provenientes, essencialmente, do cancelamento das festas académicas. É por demais evidente o tamanho défice no apoio prestado pelo Estado português, que seria essencial para tentar colmatar as debilidades criadas pela interrupção quase total da atividade desportiva e cultural ao longo do último ano. Desde março de 2020 que a AAC tem vivido um dos períodos mais conturbados da sua história. As perdas somam-se, as debilidades estão à vista de todos e o auxílio é mais necessário que nunca para assegurar a plenitude da atividade e intervenção da AAC e garantir que esta instituição se mantenha como referência nacional no panorama cultural, desportivo e político.

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O país e o mundo, desde há praticamente um ano, têm combatido uma pandemia que resiste em abrandar. A batalha tem exigido a limitação e redefinição da vida quotidiana de todos os cidadãos, com o propósito claro de assegurar a diminuição da mortalidade associada à doença. Exemplos dessas medidas excecionais que colocam em causa a normalidade das sociedades, das academias e das economias são o encerramento dos estabelecimentos de ensino, o fecho de setores do comércio considerados não essenciais e o dever geral de recolhimento domiciliário: um confinamento que nos restringe os movimentos e que se impõe de forma transversal a toda a sociedade civil. O escopo do estudo que nos propomos levar a cabo é o de descortinar o real impacto da medida de confinamento no seio da Academia de Coimbra: em concreto, no seu corpo estudantil e nas estruturas da Associação Académica de Coimbra.

Associação Académica de Coimbra


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