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Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa

362 J ANEIRO 2011


EDITORIAL

A epopéia continua

P RIMEIRA TIRA DO B IDU , DE M AURICIO DE S OUSA .

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Jornal da ABI 362 Janeiro de 2011

SE ESTE EDITORIAL pudesse ser resumido numa tira, esta seria a das Cobras que publicamos acima. Em apenas três quadrinhos, Luís Fernando Verissimo sintetiza a importância das hqs para os jornais num determinado momento da História. E é essa História que continuamos contando na segunda parte da Cronologia dos Quadrinhos, que o Jornal da ABI apresenta nesta edição.

Júlio Shimamoto, entre outros talentos.

A GUERRA ENTRE Adolfo Aizen e Roberto Marinho atinge seu ápice com diversos lançamentos de revistas em quadrinhos. Cada um tentando ocupar seu espaço e sobrepujar o concorrente. Logo surge a Editora Abril, de Victor Civita, que chega com o Pato Donald e os personagens da Disney. E, em seguida, as várias editoras paulistas que publicam mais e mais títulos de todos os gêneros.

OUTRO BALUARTE DAS hqs no Brasil foi Adolfo Aizen, que lutou para fazer que os quadrinhos fossem respeitados e vistos sem preconceito. Por isso, sua Editora Brasil-América, conhecida carinhosamente como Ebal, sempre lançou revistas educativas e buscou o apoio de professores e intelectuais para seus projetos. Revistas como Edição Maravilhosa e Epopéia foram de notável importância em sua época. Alguns romances da literatura brasileira foram adaptados para os quadrinhos com bons resultados editoriais.

ALÉM DAS REVISTAS de terror, que passam a ser totalmente produzidas no Brasil, sucessos do rádio e da tv começam a inspirar adaptações para os quadrinhos. Revistas como Aventuras do Anjo, Fuzarca e Torresmo, Arrelia e Pimentinha, Oscarito e Grande Otelo, Carequinha e Fred, Mazzaropi em Quadrinhos, Jerônimo - O Herói do Sertão, Juvêncio - o Justiceiro e Vigilante Rodoviário são produzidas por desenhistas da mais alta qualificação: Flávio Colin, Nico Rosso, André Le Blanc, Eugênio Colonnese, Sérgio Lima, Rodolfo Zala,

A NÚNCIO DA REVISTA P ERERÊ , DO Z IRALDO ,

UM NOME SE DESTACA em meio a tantos lançamentos: Jayme Cortez. Ele lutou pela nacionalização da produção de quadrinhos e trabalhou com os mais importantes desenhistas da época; foi o responsável pelo lançamento de revistas dos mais diversos temas produzidas no País.

V IGILANTE RODOVIÁRIO , DE O SWALDO T ALO

PUBLICADO PELA E DITORA E G RÁFICA O C RUZEIRO .

NOS ANOS 1960, dois autores começam a se destacar: Ziraldo, com a turma do Pererê, e Mauricio de Sousa, com seus personagens infantis, liderados por Bidu, Cebolinha e, claro, a Mônica. Na entrevista que publicamos, Mauricio nos conta como um repórter policial nunca deixou de acreditar que podia sobreviver desenhando quadrinhos. Também batemos um papo com um desenhista cultuado por apenas cinco hqs produzidas nos anos 1970 para a Ebal: Floriano Hermeto de Almeida Filho, ou FHAF, como assinava suas histórias de O Judoka.

tentamos registrar os principais fatos aqui. Os 34 anos seguintes serão tema de novo volume da Cronologia dos Quadrinhos, que será apresentado pelo Jornal da ABI no segundo semestre.

DE 1949 A 1977 muita coisa aconteceu e

FAÇA UMA BOA viagem no tempo!

“Poucas vezes no quadro geral da literatura e arte brasileiras, uma obra refletiu com tanta agudeza crítica os problemas sociais de sua época.” M OACY CIRNE , EM A LINGUAGEM DOS Q UADRINHOS , SOBRE O P ERERÊ , DE Z IRALDO .


BEETLE B AILEY , DE M ORT W ALKER ,

V ICTOR C IVITA VÊ PROVAS DE IMPRESSÃO DA REVISTA O PATO D ONALD .

DESENHO DE A NDRÉ LE B LANC

ANTES DE SE ALISTAR NO EXÉRCITO E SE TORNAR O R ECRUTA ZERO .

PARA A ADAPTAÇÃO DE O GUARANI , PUBLICADA NA E DIÇÃO M ARAVILHOSA DA E BAL .

1950 1950

1949 X Chega às bancas a revista em quadrinhos Shazam! Shazam!, último título lançado por Roberto Marinho através de O Globo. Depois de publicar revistas de sucesso como Gibi (lançada em 12 de abril de 1939), Gibi Mensal (1942), O Glob o Globo Juvenil Mensal (1943) e Biriba (1948), Marinho passaria a lançar suas publicações em quadrinhos pela Rio Gráfica e Editora a partir de 1952. X Com o sucesso de Herói Herói, Superman (1947) e Idílio (1948), Adolfo Aizen, da Editora Brasil-América-Ebal, lança quatro novas revistas em quadrinhos: Mindinho Mindinho, Álbum Gigante Gigante, Edição Maravilhosa (inicialmente, uma tradução da norte-americana Classics Illustrated; mais tarde publicaria também adaptações de romances nacionais) e Aí, Mocinho Mocinho, com histórias de faroeste.

X A Editora Abril, de Victor ato D onald Civita, lança O P Pato Donald onald, sua primeira publicação oficial (antes, com o nome de Editora Primavera, já havia lançado a ermelho revista Raio V Vermelho ermelho), tornando-se a casa oficial da Disney no Brasil até hoje. Os lucros de O Pato Donald ajudaram a montar o império editorial que se tornou a Editora Abril. O personagem brasileiro de Disney, Zé Carioca, aparecia já na capa da primeira edição, trazendo uma bicicleta para o Pato Donald consertar. X A Ebal começa a publicar adaptações de romances brasileiros em sua Edição Maravilhosa Maravilhosa. A primeira é O Guarani Guarani, de José de Alencar, ilustrado com maestria por André Le Blanc. Não era a primeira vez, entretanto, que esse romance de Alencar tinha sido quadrinizado: em 1947, Jayme Cortez publicou uma versão serializada no Diário da Noite.

X A Editora Vecchi lança as revistas Xuxá e Pequeno Sheriff Sheriff, de procedência italiana, inaugurando o “formato cheque” no Brasil (tipo de revista em quadrinhos na forma de tiras horizontais, que lembram um talão de cheques). A revista Super X (acima), da Ebal, também é lançada nesse formato. X Em abril, a Ebal lança a revista oi? oi?, com aventuras Quem FFoi? policiais e suspense. Na capa o alerta: “para maiores de 17

anos”. Três meses depois, a editora paulista La Selva lança O TTerror error Negro com histórias policiais e de mistério com o personagem que dava nome à publicação. Pelas páginas da revista desfilavam heróis menos conhecidos como Detetive Fantasma, Homem-Maravilha e Doc Strange. X Mort Walker cria a tira Beetle ailey, distribuída pelo King B ailey Features. No Brasil, o personagem seria conhecido como Recruta Zero. Mas o interessante é que ele começou como civil e só entrou para o exército (de onde nunca mais deu baixa) no ano seguinte. X Charles M. Schulz cria uma tira mostrando o universo de crianças Peanuts. pequenas: Peanuts Ele desenhou essa tira continuamente por 50 anos, até morrer, em 2000. Personagens como Charlie Brown, Linus Snoopy e Woodstock se transformaram em verdadeiros ícones da cultura pop.

revista é cancelado nos Estados Unidos, e começa a publicar histórias de terror, tornando a publicação campeã brasileira no gênero. Esse fato provoca a ira do jornalista Carlos Lacerda, da Tribuna da Imprensa, que publica uma reportagem contra a editora, perguntando em tom de denúncia “O que lêem as crianças no Brasil?” E ele mesmo dá a resposta sensacionalista: “Os La Selva espalham o terror pelo Brasil”. Mas o sucesso da revista motiva o surgimento de congêneres da própria La Selva e de sua editora meio-irmã, Gráfica Novo Mundo, e logo as bancas estão cheias de títulos como Sobrenatural Sobrenatural, Medo Medo, Gato Preto e Mundo de Sombras Sombras. X Em julho, Tarzan ganha sua revista em quadrinhos pela Editora Brasil-América. Capitão ZZ, no “formato cheque”, surge no mesmo mês. Em novembro, a Ebal lança também a revista Cinemin Cinemin, que publica quadrinizações de grandes sucessos cinematográficos, como Quando Canta o Coração (Two Weeks with Love), cartaz da primeira edição.

X Samuel Wainer, ao lançar Última Hora, faz uma parceria com Adolfo Aizen, da Ebal, que edita para ele um suplemento diário de quadrinhos, encartado no jornal. Mas o amor de Wainer pelos quadrinhos duraria pouco. Dois anos depois, para se vingar de Roberto Marinho, que o denunciara por não ser brasileiro nato e ser dono de uma empresa jornalística, Samuel contrata o jornalista Edmar Morel para escrever uma série de artigos fazendo uma violenta campanha contra os quadrinhos. X O Capitão Atlas Atlas, personagem do rádio que vivia aventuras principalmente na selva amazônica, ganha uma revista em quadrinhos com histórias desenhadas por André Le Blanc. Nos últimos números reveza as páginas da revista com outra criação de Le Blanc, Morena Flor Flor.

X Com textos de Elliot Caplin (irmão de Al Capp) e desenhos de John Cullen Murphy começa Big Ben B olt Bolt olt, uma tira protagonizada por um boxeador.

1951 X A Editora La Selva relança error Negro a partir do O TTerror número 1, depois que o personagem que dava o nome à

PEANUTS , DE CHARLES M. S CHULZ

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FOTO PUBLICADA NA REVISTA O HERÓI, DA EDITORA BRASIL-AMÉRICA , COM OS ORGANIZADORES DA 1ª EXPOSIÇÃO DE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS: JAYME CORTEZ, REINALDO OLIVEIRA, SYLLAS R OBERG E ÁLVARO DE MOYA. CAVALEIRO NEGRO

P IMENTINHA , DE H ANK K ETCHAM

X Álvaro de Moya, Reinaldo Oliveira, Miguel Penteado, Jayme Cortez e Syllas Roberg organizam a Primeira Exposição Internacional de Histórias em Quadrinhos Quadrinhos, em São Paulo, que exibe didaticamente originais de desenhistas como Alex Raymond (Flash Gordon), Milton Cannif (Terry e os Piratas/Steve Canyon), Al Capp (Ferdinando), George Herriman (Krazy Kat), Roy Crane (Wash Tubbs/Buzz Sawyer) e Will Eisner (Spirit). X Hank Ketcham cria Dennis, The Menace, o Pimentinha Pimentinha. X Cisco Kid Kid, que surgiu no conto The Caballero's Way, de O´Henry, em 1907, já tinha sido adaptado para rádio, filmes mudos e falados, seriado de tv e até mesmo quadrinhos. Mas é na versão de tiras de jornais distribuída pelo King Features Syndicate, roteirizada por Rod Reed e ilustrada pelo argentino José Luís Salinas Salinas, que o personagem galante vive a sua melhor encarnação.

1952 X Harvey Kurtzman cria a revista Mad, que logo se torna o carrochefe da editora E.C. Comics. X Os cowboys cantores Gene Autry e Roy Rogers ganham

revista própria em abril, pela Ebal. No mesmo mês, Papai Noel deixa as festividades natalinas para dar nome a uma revista infantil mensal, com histórias de Tom & Jerry. Já a La Selva lança outro famoso ayne cowboy, John W Wayne ayne. X No Japão, Osamu Tezuka começa a publicar o mangá Tetsuwan Atom Atom, que se tornaria sua mais famosa criação. Uma década depois, viraria série de animação e seria o primeiro desenho japonês a ser importado pelos EUA, com o nome de Astro Boy Boy, que virou febre e abriu as portas para vários outros. Mas a série original nunca foi exibida no Brasil. X Seguindo o caminho da Edição Maravilhosa, em agosto, a Ebal publica o primeiro número da antológica Epopéia Epopéia, revista em formato maior (como O Cruzeiro) que publicaria quadrinhos com adaptações de episódios da História universal. X Surge a Rio Gráfica e Editora, de Roberto Marinho, Editora que absorve os títulos do Globo Gibi Mensal o Juvenil (Gibi Mensal, O Glob Globo Juvenil Mensal Mensal, Biriba Biriba) além de lançar novas publicações, como ro a revista do Cavaleiro Neg Negro (Black Rider), um vingador mascarado que estreou nos Estados Unidos em 1948 no CISCO KID , DE J OSÉ L UÍS SALINAS

segundo número da revista AllWestern Winners, da Timely Comics (mais tarde, Marvel Comics). Suas aventuras fizeram tanto sucesso no Brasil que, mesmo depois de serem canceladas em seu país de origem, continuaram a ser produzidas no Brasil, desenhadas por talentosos artistas como Gutemberg Monteiro, Walmir Amaral e Juarez Odilon. X Em outubro, a revista Mickey é lançada pela Editora Abril.

1953 X Alguns personagens de O Globo Juvenil ganham título próprio pela Rio Gráfica. O primeiro antasma Magazine é O FFantasma Magazine, em março. Em seguida, são lançadas as revistas Mandrake Magazine e Flecha Ligeira Ligeira. X Em março, a Ebal lança quatro novas revistas: B atman atman, Possante Possante, Pinduca e Popeye Popeye. Em julho chega a vez de Reis do FFaroeste aroeste aroeste, uma das revistas de maior duração da editora. Na primeira edição, o cowboy Buck Jones é a atração.

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Z EZÉ & C IA , DE M ORT W ALKER E DIK BROWNE ( ACIMA ). T INTIN E SUA TURMA CHEGAM À L UA ( DIREITA ).

X Surgem as primeiras revistas em 3-D. A tecnologia foi desenvolvida por Joe Kubert e Norman Maurer. A primeira é uma edição especial de Mighty Mouse (Possante) e a Ebal rapidamente a publica no Brasil. Para ver as imagens em terceira dimensão o leitor tem que colocar óculos especiais. A moda vira uma febre, mas a novidade cansa rápido. X Especialista em retratar as raízes do Brasil, o pintor e desenhista José Lanzellotti cria um personagem bem brasileiro: Raimundo, o Cangaceiro Cangaceiro, que alia documentação histórica e quadrinhos, duas especialidades do artista. O personagem passa a ser publicado na revista Aliança Juvenil em 1954; nos anos 1960, é relançado pela La Selva. X Os personagens de Tintin são os primeiros humanos dos quadrinhos a pôr os pés na Lua, antecipando Neil Armstrong, que só repetiria essa proeza dezesseis anos depois. A história começou seriada em 1950 e se estendeu até 1953, na revista belga do mesmo nome; depois foi reunida, em dois álbuns, Objectif: Lune a Lune e On a Marche sur LLa Lune, publicados respectivamente em 1953 e 1954. X Preocupado com as críticas que os detratores dos quadrinhos fazem, Adolfo Aizen continua a lançar uma linha de revistas educativas. Depois de Edição Maravilhosa e Epopéia, chega a vez da Série Sagrada Sagrada, que em sua primeira edição traz a história do Papa Pio XII. Em novembro, a Ebal lança Ciência em Quadrinhos Quadrinhos. X A La Selva lança revistas de vários gêneros: contos policiais aparecem em Emoção e Contos de Mistério Mistério; humor ott e Costello com Ab Abott Costello, infantojuvenis com Capitão Radar Radar, Supermouse Supermouse, O Coelho

milhões de revistas em quadrinhos.

Valente alente, Seleções Juvenis Juvenis, Aventuras Heróicas Heróicas, entre várias outras.

1954 X O cerco se fecha para os quadrinhos: é publicado o livro do psiquiatra norte-americano Frederic Wertham, Seduction of the Innocent (A Sedução do Inocente), que tenta provar por a + b que as revistas em quadrinhos são nocivas para a formação da juventude. Ele levanta suspeitas de que Batman e Robin (abaixo) são homossexuais e a Mulher-Maravilha é lésbica, além de ser dada a práticas de bondage. Mas o alvo maior são as revistas de crime e de terror, que estavam fazendo a fama e a fortuna de William M. Gaines, proprietário da E.C. Comics. Como conseqüência, o Senado norte-americano abre uma CPI para investigar o assunto, e as fogueiras nos EUA destróem

X Para evitar que essa campanha contra os quadrinhos atinja toda a indústria, e não apenas as histórias de terror e crime, os principais editores norteamericanos unem-se para criar o Comics Code Authority Authority, mecanismo auto-regulatório que coloca um “selo de qualidade” nas revistas aprovadas por uma comissão que avalia o conteúdo. Na prática, uma censura velada. X Chegam às bancas Sobrenatural e Contos de Terror error, ambas da La Selva. X O famoso cowboy mascarado The Lone Ranger finalmente ganha, em março, uma revista no Brasil, mas a Ebal altera o seu nome para Zorro orro, e a publicação se tornaria uma das mais duradouras da editora. Mas os lançamentos não param por aí: em abril, chega Pequenina Pequenina, uma revista em formato de bolso que publica histórias clássicas como O Homem da Máscara de Ferro, sua primeira atração. E o grande antok desenhista Ma Maxx YYantok antok, que trabalhara em O Tico-Tico, passa a desenvolver várias histórias que seriam publicadas a partir de outubro na nova série de O Capitão ZZ. X A Rio Gráfica lança outro personagem do faroeste: Búfalo Bill Bill. X Mort Walker cria sua segunda tira de sucesso,

Zezé & Cia (Hi and Lois), só que agora apenas escrevendo. Os desenhos ficam a cargo de Dik Browne. O casal tinha aparecido anteriormente fazendo pontas na tira Beetle Bailey (sim, Hi and Lois são, respectivamente, cunhado e irmã do Recruta Zero). X No Rio Grande do Sul surge uma revista concebida para o público infantil, cuja circulação era praticamente restrita à Região Cacique, mix de contos, Sul: Cacique passatempos e até quadrinhos. Entre os colaboradores estava o promissor Renato Canini, que mais tarde seria o responsável pela renovação das histórias de Zé Carioca no Brasil.

X A editora Western Publishing lança a revista Turok, Son of Stone Stone, com aventuras de índios nativos americanos em um mundo dominado por dinossauros. Mais tarde, o título sairia pela Gold Key e pela Valiant Comics. O ilustrador original foi Rex Maxon, mas a criação original das histórias é disputada por vários autores, como Matthew H. Murphy, Gaylord Du Bois e Paul S. Newman.

1955 X A Rio Gráfica lança em janeiro ra (Sir a revista do Águia Neg Negra

Falcon), um clone australiano do Fantasma, que em vez da selva tinha sua base num castelo medieval e também passava o uniforme de pai para filho, por séculos a fio. Ainda no primeiro trimestre, a RGE lança duas

revistas de faroeste, D on Chicote e Bronco Piler Piler, além de O Santo Santo, com as aventuras do personagem britânico de livros de mistério que ganhou fama também em novelas radiofônicas, no cinema e na tv. O Santo começou a ser publicado em tiras diárias a partir de 1948. Nick Holmes e Capitão Marvel também ganham revista própria pela RGE. X A revista Edição Maravilhosa, que publica com Maravilhosa grande sucesso adaptações de romances mundiais para os quadrinhos, como Os Três Mosqueteiros, e nacionais, como A Moreninha, Escrava Isaura, chega à 100ª edição no mês de março com a adaptação de Menino de Engenho, de José Lins do Rego, desenhada por André Le Blanc. Desde janeiro, Adolfo Aizen inicia uma nova série da revista Álbum Gigante Gigante, que passa a publicar também Romances Ilustrados, como indica a capa da publicação. Vendo o sucesso da concorrente, a RGE também entra nessa linha e lança Romance em Quadrinhos Quadrinhos. O desenhista Jornal da ABI 362 Janeiro de 2011

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NA ÚLTIMA TIRA DE R IP KIRBY , A DESPEDIDA DE A LEX RAYMOND .

Gutemberg Monteiro Monteiro, que ilustrou A Moreninha e já havia realizado outros trabalhos para Adolfo Aizen, da Ebal, é contratado pela RGE. Na nova casa, além de quadrinizar romances e criar as capas de várias revistas, passa a desenhar algumas das histórias do Fantasma. Mais tarde, na década de 60, ele se mudaria para os Estados Unidos, onde seria o autor de diversos comics importantes, como Tom & Jerry, assinando seus trabalhos como Goot. X Depois de O Guri (lançado em 1940 no Diário da Noite), Assis Chateaubriand amplia seus lançamentos em quadrinhos apostando em Luluzinha (Little Lulu), que passa a ser publicada pela Editora O Cruzeiro a partir de julho.

X A Editora La Selva começa a publicar versões em quadrinhos de palhaços ou comediantes brasileiros famosos da época: Fuzarca e TTorresmo orresmo orresmo, Arrelia e Pimentinha Pimentinha, Oscarito e Grande Otelo Otelo, Carequinha e Fred entre outros. X O desenhista britânico e expiloto da Royal Air Force-RAF Sidney Jordan começa a publicar Jeff Hawke Hawke. Inicialmente um piloto da RAF, o personagem passa a viver instigantes aventuras espaciais depois que William Patterson assume os roteiros das histórias, dando a

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A S AVENTURAS ESPACIAIS DE J EFF H AWKE .

A REVISTA LASSIE É LANÇADA PELA E BAL. DESENHADO POR CARMINE I NFANTINO, FLASH É RELANÇADO NOS E STADOS UNIDOS : INÍCIO DA S ILVER A GE .

Jordan a chance de trabalhar ainda mais seus traços realísticos. X Ham Fisher, o criador de Joe alooka, comete suicídio Palooka após ter sido expulso da National Cartoonists Society, por ter tentado difamar Al Capp, acusando-o de embutir desenhos pornográficos em suas tiras. A “prova” apresentada foi uma tira, retocada pelo próprio Fisher, que ficou desmoralizado, quando Capp apresentou o original da tira, que nada tinha de pornográfico. A rixa entre os dois vinha de longe: Fisher, na década de 30, tinha conhecido Al Capp por acaso durante um encontrão casual na rua; ao ajudá-lo a recolher os desenhos espalhados pelo chão, reconheceu seu talento e o convidou para ser seu assistente. Mais tarde, quando Al Capp pediu demissão e criou sua própria tira, Ferdinando (Li’l Abner), com sucesso estrondoso, começou uma guerra suja. Fisher alegava que os caipiras de Dogpatch (Brejo Seco) haviam sido plagiados de uma história de Joe Palooka; Capp contraatacava, satirizando-o como um personagemdesenhista que explorava os assistentes.

1956 X William Gaines muda o formato da revista Mad para escapar da censura, que visa só as revistas em quadrinhos coloridas. Mas logo ele e o editor Harvey

S UPER -HOMEM E CAPITÃO M ARVEL : FIM DA LUTA NA JUSTIÇA .

Kurtzman se desentendem e o comando é passado para o exeditor das revistas de terror, Al Feldstein, que, entre outras novidades, incorpora o mascote Alfred E. Neuman (abaixo) na capa da revista e contrata como colaborador o impagável Don Martin, que logo se torna o sustentáculo da revista. X Acaba a pendência judicial Marvel. Superman x Capitão Marvel Mas não porque a DC Comics tenha ganhado o processo. A Fawcett é que desiste, quando sente que não valia mais a pena, comercialmente, continuar publicando o personagem. Mas o editor britânico ainda estava tendo lucro e cria dois clones para substituir Capitão Marvel e Capitão Marvel Jr.: Marvelman e Marvelman Jr Jr. Eram cópias descaradas, com palavra mágica e tudo (Shazam foi substituída por Kimota). Até o arquiinimigo do herói, Dr.Silvana, tinha seu clone, chamado Gargunza. No Brasil, essas histórias saíam, juntamente com os personagens originais, nos gibis da Rio

Gráfica, com os nomes de Jack Marvel e Jack Marvel Jr. E na década de 80, o laureado Alan Moore faria um remake desses personagens, mudando o nome para Miracleman, para evitar problemas com a atual detentora da marca “Marvel”, a Marvel Comics. X A DC Comics ressuscita, com nova roupagem, seu herói dos anos 40, Flash Flash. Essa publicação é o marco que define a entrada dos quadrinhos norte-americanos na Silver Age (Era de Prata). X Morre aos 46 anos num desastre automobilístico o criador de Flash Gordon, Alex Raymond Raymond, no auge da fama. Raymond dirigia o carro do amigo e também cartunista Stan Drake, autor de The Heart of Juliet Jones, que saiu bem machucado, mas sobreviveu. O fato curioso é que a última tira desenhada por Alex Raymond, a do detetive Rip Kirby Kirby, a última fala de um dos personagens é em tom de despedida. John Prentice assume a série. X Os personagens racy e Flash clássicos Dick TTracy

Gordon ganham títulos próprios pela RGE, que também lança as revistas Campeões do Oeste e Robin Hood Hood, além de outra publicação educativa, seguindo o mesmo caminho da Ebal: Enciclopédia em Quadrinhos Quadrinhos. X Em maio, dois cães famosos ganham revista própria pela Ebal: RinTinTin e Lassie Rin-T in-T Lassie. Mas as novidades não param por aí. A editora lança também Misterinho Misterinho, revista em quadrinhos com adaptações de romances policiais, cuja primeira edição publicou A Porta das Sete Chaves, do dramaturgo e jornalista inglês Edgar Wallace, e Princesinha Princesinha, revista infantil que publicava adaptações de contos de fada.

DOS SERIADOS DA TV PARA OS QUADRINHOS : O C ABO R USTY E R IN -T IN -T IN .


S ANTOS D UMONT, QUADRINIZAÇÃO DESENHADA POR J OSÉ G ERALDO PARA A SÉRIE G RANDES F IGURAS , DA E BAL . J ERÔNIMO , O HERÓI DO SERTÃO , COM DESENHOS DE E DMUNDO RODRIGUES.

Z ORRO , DE A LEX T OTH , BASEADO NA SÉRIE DE TV PRODUZIDA PELA D ISNEY .

X Mike Nomad aparece pela primeira vez em uma aventura de Steve Roper Roper, e a partir daí começa a dividir com ele o estrelato da tira. Após resolverem o primeiro caso juntos, Roper arruma para Nomad o emprego de motorista de caminhão da revista Proof.

1957 X Jerônimo, o Herói do Sertão Sertão, novela radiofônica de Moisés Weltman, torna-se uma revista de quadrinhos de sucesso da Rio Gráfica e Editora, com aventuras desenhadas por Edmundo Rodrigues.

X A La Selva publica Mazzaropi em Quadrinhos com desenhos de Jayme Cortez. X A Ebal lança, em abril, mais aventuras romanceadas na revista Invictus e mais faroeste na revista Nevada Nevada. Mas, a grande novidade chega em agosto: a revista Grandes Figuras em Quadrinhos apresenta biografias de personalidades históricas do Brasil. O primeiro número traz Rondon, o Último Bandeirante, que conta a trajetória do Marechal Rondon. Logo chegariam Oswaldo Cruz, Castro Alves, Machado de Assis, Tiradentes, Duque de Caxias, Pedro Américo, Santos Dumont, entre outros.

X Mell Lazarus lança Peach, famosa Miss Peach tira que foi produzida ininterruptamente até 2002.

Carlos Zéfiro continua um mistério absoluto até 1991.

X No britânico Daily Mirror estréia Andy Capp Capp, de Reg Smythe (ao lado). No Brasil, ele seria conhecido como Zé do Boné Boné. X Hector Oesterheld escreve, e Solano López desenha El Eternauta Eternauta, um marco do quadrinho argentino publicado em Hora Cero. X Demitidos da MGM, que fechou seu departamento de animação e parou de produzir os desenhos de Tom & Jerry, os animadores William Hanna e Joseph Barbera montam sua própria empresa e passam a produzir desenhos para a tv. O primeiro é The Ruff & Reddy Show (Jambo & Ruivão). No ano seguinte vêm Huckeberry Hound (Dom Pixote) e Quick Draw McGraw (Pepe Legal). Todos os personagens de Hanna-Barbera são licenciados pela Western Printing, que produz as revistas em quadrinhos da Dell. X Em 10 de outubro, estréia na ABC a série Zorro orro, produzida pela Walt Disney, com Guy Williams no papel do espadachim mascarado. As

aventuras do herói ganhariam uma antológica adaptação para os quadrinhos, realizada pelo oth jovem desenhista Alex TToth oth, que ganhou notoriedade a partir de então e se tornou um dos mais brilhantes desenhistas dos Estados Unidos.

X Outro cartunista comete suicídio: Jack Cole, criador do Homem de Borracha Borracha, no auge da carreira, aos 43 anos, quando trabalhava para a Playboy, de Hugh Hefner. Cole comprou um rifle e se matou. Segundo Art Spiegelman, ele teria tomado essa decisão ao perceber que sofria de impotência sexual. X Surge B.C. B.C., de Johnny Hart (abaixo), história ambientada na idade das cavernas que inaugura uma nova vertente de humor no mercado de tiras.

X Texas Kid Magazine é lançada pela RGE (acima).

1958 X Por volta desse período, Carlos Zéfiro segue o exemplo dos americanos Tijuana Bibles existentes desde os anos 1930 e começa a produzir seus “catecismos” eróticos distribuídos numa rede clandestina, que abastece o então, por baixo dos panos, mercado pornô. O gênero prolifera e surgem vários seguidores e imitadores, mas sempre é Zéfiro o mais lembrado. Essas revistas, que mediam em torno de 11x14cm, apesar da distribuição não oficial, chegam aos quatro cantos do Brasil, tornando-se cult. Os catecismos foram publicados até 1970, quando perderam mercado para as revistas pornográficas com fotos coloridas, que vinham de contrabando de países nórdicos, e também pelo aperto das autoridades, que estavam fechando o cerco. Apesar de inúmeras tentativas de localizálo, a verdadeira identidade de

época as transmissões de tv eram ao vivo. Em São Paulo, o herói era vivido por José Parisi; no Rio, por Gilberto Martinho.

X A Ebal lança em novembro a revista Biografia em Quadrinhos Quadrinhos, que começa com a história de Cristóvão Colombo, iniciando a Série Descobridores.

X Começam as aventuras de equeno Ranger Kit Teller, O P Pequeno (Piccolo Ranger), criado pelo jornalista italiano Andrea Lavezzolo e desenhado por Francesco Gamba. X Falcão Negro Negro, um dos primeiros seriados brasileiros da televisão, ganha sua revista de quadrinhos pela Editora Garimar. As aventuras eram creditadas a Péricles Leal e os desenhos eram de Getulio Delphin, entre outros. O personagem, uma espécie de Zorro da Idade Média, era interpretado por diferentes atores, já que na

X O forte da Garimar eram as histórias verídicas dos pracinhas da II Guerra Mundial, quadrinizadas em suas revistas de guerra. Mas essa editora publicou até uma biografia em quadrinhos com o pai do jiu-jitsu, Hélio Gracie, dividida em várias edições e erdade sobre os chamada A V Verdade Gracie Gracie. X O belga Pierre Clifford (que assinava Peyo) introduz em uma aventura de seu personagem Johan Johan, publicado na revista Spirou Spirou, estranhos duendes azuis chamados Schtroumpfs (abaixo). Eles fazem sucesso instantâneo e ganham depois sua própria série. Anos mais

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S ARGENTO R OCK , DE JOE K UBERT .

A STERIX, O G AULÊS , E SEU AMIGO

O BELIX ; CRIAÇÃO DE G OSCINNY E UDERZO .

A VENTURAS DO A NJO , DE F LÁVIO C OLIN .

1960

M ORTADELO & S ALAMINHO

tarde, a Vecchi lançaria os personagens numa revista própria com o nome de Os Duendes Strunfs em 1975. X Desenhado por Francisco Ibáñez, surge nas páginas da revista Pulgarcito, da Editorial Bruguera, a atrapalhada dupla tadelo de agentes secretos Mor Mortadelo & Salaminho (Mortadelo y Filemón), que se torna uma das mais populares séries dos quadrinhos espanhóis.

1959 X Outro seriado televisivo brasileiro, o super-herói Capitão 7 7, ganha sua revista pela Editora Continental (depois Outubro). A primeira aventura é desenhada por um jovem estreante, Julio Shimamoto Shimamoto. O nome do personagem vem do número do canal que o exibia (TV Record). Era interpretado por Aires Campos. X Em janeiro a Ebal lança a revista infantil Anjinho Anjinho, que apresenta a adaptação de Aladim e a Lâmpada Maravilhosa. Em fevereiro, a editora finalmente publica no Brasil a revista do Pica-P au Pica-Pau au, mas ela recebe o nome de Údi-Údi Údi-Údi, uma

diminuição sonora do nome real do personagem, Woody W oodpecker Woodpecker oodpecker. O personagem foi lançado em desenhos animados, em 1940, pelo estúdio de animação de Walter Lantz. Em 1942, ele já apareceria nos Estados Unidos na revista New Funnies, da Dell; depois ganharia seu próprio título. X O Reizinho (The Little King), de Otto Soglow, ganha uma revista só dele, pela RGE. X A revista do Pimentinha é lançada pela Empresa Gráfica O Cruzeiro e seria publicada até 1967. X Aventuras do Anjo é outra famosa novela radiofônica que ganha vida nos gibis, desta vez sob os traços de Flavio Colin Colin, que inova a narrativa gráfica com uma fase que ainda seguia de perto a escola visual de Milton Caniff. Colin adaptava os roteiros radiofônicos do criador do personagem, Álvaro de Aguiar, transplantando as aventuras que originalmente se passavam nos EUA para o Brasil. X Mauricio de Sousa começa a publicar suas primeiras tiras do Bidu em jornais do grupo Folha de S.Paulo, criando depois mais personagens e montando sua própria agência de distribuição nos moldes dos syndicates americanos, a qual revendia as tiras para todo o País, estabelecendo o império que o tornaria anos depois o mais importante desenhista brasileiro de quadrinhos. X Em outubro, Jean-Michel Charlier, Albert Uderzo, René Goscinny, Raymond Joly, François Clauteaux e Jean Hébrard fundam a publicação semanal Pilote Pilote, que passa a ser uma referência mundial pela qualidade dos quadrinhos publicados em suas páginas.

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Goscinny e Uderzo criam, para a nova revista, o gaulês Asterix Asterix, que se torna o herói nacional da França. No ano 50 a.C., uma pequena aldeia resiste à invasão romana, uma referência à Resistência Francesa que o país montou quinze anos antes, quando a França fora ocupada pelos nazistas. Em 1960, Pilote é vendida à Dargaud que a mantém semanal até 1974, quando a revista se torna mensal e nova numeração é iniciada. X Bob Kanigher e Joe Kubert criam o mais famoso personagem de guerra da DC Comics: Sargento Rock Rock, líder da Easy Co. (Companhia da Moleza) em missões na Segunda Guerra Mundial.

X Super-Homem ganha uma irl (Supermoça), prima, Superg Supergirl como ele, uma sobrevivente do planeta Krypton. Ela aparece na revista Action Comics n° 252, de maio. X O rinoceronte Cacareco é o vereador mais votado de São Paulo. Uma disputa entre os zoológicos do Rio e de São

Paulo, que reivindicavam a guarda do animal, ganhou a mídia, no mesmo período da campanha eleitoral; e a desmoralização da classe política na época levou os paulistanos a votarem em protesto no simpático paquiderme, que teve mais de 100 mil votos (todos os candidatos do partido mais votado, somados, não chegaram a 95 mil). O pitoresco resultado das eleições deu a idéia ao te editor Jayme Cor Corte tezz , da Continental/Outubro, de transformá-lo em uma revista em quadrinhos infantil. No início do ano seguinte, era lançada a revista Cacareco Cacareco, cujo slogan publicitário foi “eleito pela maioria!” X Joe Simon e Jack Kirby criam The Fly (Homem-Mosca), um super-herói que recebe poderes de uma raça extraterrestre de outra dimensão. O personagem antecipou as futuras criações da Marvel Comics. No Brasil, ele foi lançado pela La Selva em 1965.

1960 X É lançada a primeira revista em quadrinhos de Mauricio de Sousa: Bidu Bidu, pela Editora Continental. Mauricio, que apareceu na editora com uma história de terror debaixo do braço tentando uma brecha nas revistas que estavam saindo, foi estimulado pelo editor Jayme Cortez a não sair do estilo infantil. “Você não é o mesmo Mauricio daquela tira Bidu da


A T URMA DO P ERERÊ , DE ZIRALDO (ESQUERDA ), F RED F LINTSTONE ( ACIMA ) E S PY VS S PY , DE P ROHIAS ( ABAIXO ).

Folha?” (Leia o restante do diálogo na entrevista com Mauricio de Sousa a partir da página 19 desta edição).

seu próprio selo editorial, Gold Key Comics Comics, para publicar as revistas de todos os personagens licenciados, como os da Disney e da Hanna-Barbera, além de novos títulos. O primeiro lançamento inédito da editora é Solar Man of The Atom Atom, uma criação original da Western. No Brasil, Solar, o Homem-Átomo foi lançado pela Ebal em agosto de 1966, numa revista cujo miolo era impresso em duas cores. A Dell continuaria no mercado produzindo os próprios comics.

X Estréia, em horário nobre, nos Estados Unidos, a animação The Flintstones Flintstones, primeiro megasucesso de Hanna-Barbera. Até os anos 90 (quando o recorde foi batido pelos Simpsons), foi a série que ficou mais tempo no ar. Os personagens foram licenciados rapidamente para os quadrinhos em jornais e revistas. No Brasil, Os Flintstones foram publicados pela Editora Gráfica O Cruzeiro a partir de 1962.

X Para se preparar para uma possível lei de nacionalização dos quadrinhos, que estava sendo reivindicada pela entidade da classe, a editora O Cruzeiro abre as portas para os desenhistas da casa. Ziraldo, então funcionário da revista, adapta o seu Pererê ererê, um cartum semanal já publicado em O Cruzeiro, para o universo dos quadrinhos, criando o ambiente da Mata do Fundão e a trupe de coadjuvantes: Galileu, Tininim, Pedro Vieira, Moacir e o Compadre Tonico e Seu Neném. A revista em quadrinhos começa em outubro de 1960 e sai ininterruptamente até 1964, ano do golpe militar. O cancelamento da revista acontece devido a uma disputa financeira entre Ziraldo e a editora.

X Após uma parceria de quase 25 anos, a Western Printing cancela o contrato com a Dell Comics Comics. Essa editora distribuía os quadrinhos criados e impressos pela Western, que passa a ter o

X Péricles, autor de O Amigo da Onça, também publicado na revista O Cruzeiro, não consegue finalizar o protótipo de sua revista do Oliveira Trapalhão, e o projeto é abortado. Dois anos

X D on Pixote Pixote, animação de sucesso da Hanna-Barbera, ganha uma revista que é publicada até 1966 pela Empresa Gráfica O Cruzeiro.

depois o terceiro cartunista mais famoso de O Cruzeiro levaria seu Dr Dr.. Macarra (ao lado) para as páginas de uma revista homônima, que não consegue chegar a um ano de publicação. X Alguns meses antes do Pererê, entretanto, a editora O Cruzeiro já tinha começado a publicar o seu primeiro quadrinho produzido no Brasil, embora não completamente “nacional”. Como o material original americano havia acabado, e para não perder um título que vendia bem, por causa do sucesso do seriado de tv no ar, o desenhista Getulio Delphin fora incumbido de criar novas aventuras de Charlie Chan Chan, agora ambientadas em nosso País. O Charlie Chan tupiniquim fez ainda uma ponta numa aventura do Pererê ererê, em que era culpado do próprio crime que estava fingindo desvendar: o sumiço da tanga de Tininim. X Mais dois clássicos dos quadrinhos passam a circular em revistas próprias: Brucutu e Príncipe Valente alente, ambas da RGE. A editora lança também a antasma revista Cavaleiro FFantasma antasma, que traz as aventuras de um pistoleiro mascarado no velho Oeste. O personagem guarda muitas semelhanças com o famoso Fantasma de Lee Falk.

X A Ebal lança mais uma revista “para meninas e meninos”: Per-lim-pim-pim Per-lim-pim-pim, que na verdade publicava histórias mais femininas. X O cartunista cubano Antonio Prohias entra no índex do e é obrigado a fugir de mala e cuia para os EUA. Após alguns meses de sufoco, cria uma dupla de espiões, Spy vs Spy Spy, que é imediatamente comprada pela revista Mad e publicada a partir de 1961. Embora datada, pois remete aos tempos da Guerra Fria, a série sobrevive ao tempo e os dois espiões são até hoje um dos carros-chefes da revista. X Trocando o R pelo L, surge em outubro mais um ícone da turminha criada por Mauricio de Sousa: Cebolinha (abaixo) aparece pela primeira vez nas tiras do Franjinha.

1961 X Após a morte do criador Péricles Maranhão, o Amigo da Onça (à direita) não pára de ser publicado. A série é assumida por Carlos Estevão, que consegue fazer uma versão ainda melhor. te X Jayme Cor Corte tezz recebe o Prêmio Jabuti na categoria capista pelo trabalho feito em Barro Blanco. X A Resolução nº 204 da Superintendência da Moeda e do Crédito, durante o Governo Jânio Quadros, é um duro golpe para as editoras de quadrinhos e para a imprensa de modo geral. Com a retirada dos subsídios, entre outros produtos importados, do papel de imprensa, comprado com 75% de desconto, o peso dos custos do papel no orçamento das revistas passa a ser muito maior. Isso acarreta um aumento de preço de capa e o cancelamento de alguns títulos, que passaram a não ser mais rentáveis. X Bristow Bristow, personagem criado pelo cartunista britânico Frank Dickens, ganha sua própria tira. X Sob o pseudônimo de Guido Nolitta, Sergio Bonelli cria Zagor Zagor, com o traço de Gallieno Ferri. Jornal da ABI 362 Janeiro de 2011

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A ERA DE OURO DA M ARVEL COMICS COMEÇA COM Q UARTETO F ANTÁSTICO , HULK , HOMEM -A RANHA , X-MEN : OS SUPER HERÓIS PASSARIAM A VIVER PROBLEMAS COMUNS AOS SIMPLES MORTAIS ENQUANTO COMBATEM OS MAIS INCRÍVEIS VILÕES .

A CAPA DA PRIMEIRA EDIÇÃO DA REVISTA F ERDINANDO , DA R IO G RÁFICA , FOI DESENHADA POR G UTEMBERG , QUE NA ÉPOCA FAZIA PARTE DA EQUIPE DE DESENHISTAS DA EDITORA . A ABRIL COMEÇOU A PUBLICAR HISTÓRIAS DO Z É C ARIOCA PRODUZIDAS NO B RASIL .

X A revista Zé Carioca surge quinzenalmente nas bancas, revezando as edições com o Pato D onald Donald onald, começando no número 471! Na verdade era um “truque” que facilitava a distribuição montada pela Editora Abril e o recolhimento do encalhe das revistas pelos jornaleiros. Os números ímpares eram de Zé Carioca e os pares continuavam sendo as edições do Pato Donald. A Abril começa a produzir aventuras do papagaio com artistas locais. X Depois de ter suas histórias publicadas na revista Mindinho, o coelho Pernalonga ganha um título próprio a partir de abril, na mesma Ebal.

X Também em abril, a Ebal lança a revista trimestral Edição Monumental Monumental, em formato maior que o das revistas convencionais. A primeira edição traz a quadrinização do romance Gabriela, Cravo e Canela Canela, de Jorge Amado, que apoiou totalmente a adaptação. O texto foi de Fernando Albagli e os desenhos de Ramón Llampayas. erdinando (Li’l Abner), a X FFerdinando genial criação de Al Capp, ganha uma revista pela RGE, que ero também lança Recruta ZZero ero. X Stan Lee e Jack Kirby lançam a primeira revista em quadrinhos

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que inaugura a gloriosa “Era Marvel”: Fantastic FFour our (Quarteto Fantástico) introduz os problemas pessoais e existenciais no gênero super-heróis. X A Hanna-Barbera lança mais duas séries de animação na tv: The YYogi ogi Bear Show (Zé Colméia) e Top Cat (Manda Chuva). Litchenstein, um dos X Roy Litchenstein pais da pop-art, começa a usar elementos de quadrinhos em suas obras. A primeira tentativa é canibalizar Mickey Mouse, o que é rechaçado pela Disney, que ameaça meter um processo nele. Ele passa então a fazer ampliações de quadrinhos mais “genéricos”, como os das revistas no gênero romântico e guerra, publicados pela DC Comics, principalmente os desenhados por Irv Novick. X As principais editoras brasileiras – Ebal, Rio Gráfica, O Cruzeiro e Abril – se unem e criam uma versão tupiniquim do Comics Code norte-americano, imitando o selo e algumas regras e o rebatizam de Código de Ética Ética, passando a estampá-lo nas capas de suas revistas. O objetivo era basicamente o mesmo de seu similar norteamericano: atrapalhar a concorrência (no caso, as editoras paulistas que publicavam o gênero terror) e aplacar a ira de alguns religiosos e educadores, que moviam campanha contra os quadrinhos, dando a entender algo como “os nossos quadrinhos são limpinhos”.

1962 X O então Governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, ajuda o desenhista José Geraldo a montar a Cooperativa Editora

economicamente, mas também pelo conturbado clima político que estava se formando no Brasil na época. de Trabalho de Porto AlegreCetpa, voltada para a publicação de genuínos heróis nacionais como o gaúcho Aba Larga Larga, de Getulio Delphin, e Sepé Sepé, de Flavio Colin. O projeto previa uma inteira linha de revistas em quadrinhos, mas a editora não consegue emplacar, não só

X A Ebal lança mais duas revistas em formato cheque: a infantil Minha Revistinha e a de faroeste O Juvenil Mensal Mensal, esta para concorrer diretamente com o Juvenil a tradicional O Glob Globo Mensal Mensal, da Rio Gráfica, que já passava do número 250.

Jorge Amado e os quadrinhos Num depoimento publicado na primeira Edição Monumental, Jorge Amado escreveu um grande elogio ao trabalho de Adolfo Aizen à frente de sua Editora BrasilAmérica e se disse plenamente satisfeito com as adaptações para os quadrinhos de seus romances. Segundo o escritor, “elas só têm feito aumentar o público dos meus livros”. Reconheceu, porém, um dos graves problemas que os quadrinhos ainda enfrentavam à época: “Há muita genORGE A MADO E SUA FAMÍLIA EM FOTO te que tem preconceitos con- JPUBLICADA NA PRIMEIRA EDIÇÃO MONUMENTAL: E tra as histórias em quadri- LOGIO VEEMENTE AOS QUADRINHOS DA EBAL. nhos e algumas aconselharam-me a não permitir tal adaptação. Mas eu gosto de concluir por mim mesmo, à base da experiência.” E continuou, defendendo sua posição: “O leitor da adaptação em quadrinhos, se gosta do livro, termina por ir buscá-lo para uma leitura na íntegra. Tenho provas disso. Da mesma maneira que as adaptações cinematográfica, teatral, radiofônica ou para tv, a adaptação em quadrinhos é uma forma de popularizar o livro, de aumentar seu círculo de leitores, de ampliar sua repercussão. E concluiu fazendo um elogio à Ebal: “O trabalho que Adolfo Aizen, à frente da Brasil-América, vem realizando é admirável e merecedor de todos os elogios. Eu, de minha parte, quero deixar aqui o meu louvor à grande realização que é sua editora. Editora amada pelas crianças, que mais pode desejar um homem cuja vida foi toda voltada para os meninos brasileiros?”

X A RGE, por sua vez, lança Jim das Selvas Selvas, Pafúncio afúncio, Zezé & Cia e mais uma revista de faroeste: Xerife Magazine Magazine. No ano seguinte seria a vez de B ang B ang Magazine engordar o cardápio de publicações sobre o Oeste bravio, gênero que era sucesso de vendas na época. X Em parceria com Steve Ditko, Stan Lee acerta em cheio com a criação de O Homem-Aranha (Spider-man), que traz a história de um adolescente que ganha poderes extraordinários mas continua a enfrentar os problemas comuns de um rapaz de sua idade. Nesse mesmo ano, Stan Lee e Jack Kirby criam um outro ícone da editora: O Incrível Hulk Hulk, um anti-herói que combina elementos de Frankenstein e Dr Jekyll e Mr Hyde. X Com o sucesso de Os Flintstones, a Hanna-Barbera volta os olhos para o futuro e lança Os Jetsons Jetsons. X Depois de fracassar em várias tentativas de lançar revistas para concorrer com a Mad Mad, Harvey Kurtzman cria Little Annie Fanny para a revista Playb oy . Playbo X Sergio Aragonés vende seus primeiros cartuns para a revista Mad Mad. Ele logo começa a publicar as famosas “marginais do Mad” (ao lado e abaixo), minúsculos cartuns que enfeitam até hoje os cantos das páginas. Esse espaço era preenchido com frases e os editores acharam ótima a idéia de substituí-las por cartuns, pois estavam ficando sem imaginação para novas frases. Depois de Al Jaffee (criador da famosa


P ETER P ARKER , O ADOLESCENTE QUE GANHOU PODERES INCRÍVEIS , TINHA DIFICULDADES PARA PAGAR AS CONTAS NO FINAL DO MÊS .

T ENENTE BLUEBERRY , CRIAÇÃO DE J EAN GIRAUD , MAIS TARDE CONHECIDO MUNDIALMENTE POR M OEBIUS .

A FOLHINHA DE S.P AULO , SUPLEMENTO QUE M AURICIO DE S OUSA AJUDOU A CRIAR E A TIRA DO C EBOLINHA ONDE A M ÔNICA FEZ SUA ESTRÉIA .

Dobradinha), Aragonês é o colaborador que publicou mais páginas até hoje. X Surge na França a aventura de ficção científica Barbarella Barbarella, de Jean Claude Forest (abaixo), com avançados conceitos feministas que até hoje influenciam os quadrinhos. Em 1968, a história foi levada ao cinema por Roger Vadim com a bombshell Jane Fonda no papel da heroína. No ano seguinte, o álbum em quadrinhos foi lançado no Brasil pela Linográfica Editora com tradução de Jô Soares.

1963 X As leis de nacionalização não vingam e os principais artistas, como Shimamoto, Colin e Getulio Delphin migram para os pastos mais verdes da ilustração publicitária. Não param de ser produzidos quadrinhos brasileiros, mas quem continua ativo na profissão são estrangeiros aqui radicalizados, como o italiano Nico Rosso e os argentinos Eugenio Colonnese e Rodolfo Zalla. O gênero terror ganha força, uma vez que nos

EUA não estavam sendo mais produzidas essas histórias, por causa do Comics Code Authority. X Com o grande sucesso da série de tv, a Outubro lança a revista em quadrinhos Vigilante Rodoviário Rodoviário, com roteiros de Gedeone Malagola e desenhos de Flávio Colin e Osvaldo Talo. X Mônica Mônica, que se tornaria a mais famosa personagem de Mauricio de Sousa, faz sua estréia em uma tira do Cebolinha, publicada no jornal Folha da Manhã. Horácio Horácio, que aparecia desde 1960 nas aventuras pré-históricas do Piteco, também estréia em histórias semanais próprias na Folhinha de S.Paulo. O simpático dinossauro verde seria publicado no suplemento da Folha de S.Paulo durante 24 anos. X Além dos personagens Zé Legal, da Colméia e Pepe Legal Hanna-Barbera, a O Cruzeiro passa a publicar a revista Pingo

de Gente Gente, com histórias dos Peanuts, de Schulz, que receberam nomes bem diferentes: Charlie Brown foi chamado de João Barbosa; Snoopy era Xereta e Schroeder ficou conhecido como Essenfelder.

X Peter O’Donnell e Jim Holdaway criam, na Inglaterra, Modesty Blaise Blaise. X O famoso Gato Félix é outro personagem clássico dos quadrinhos a saltar para as páginas de sua própria revista pela Rio Gráfica e Editora. X A Gold Key lança nos Estados ot Unidos a revista Magnus Rob Robot Fighter 4000 AD AD, personagem de ficção científica criado por Russ Manning, que também desenhava as tiras e pranchas dominicais de Tarzan. X Stan Lee e Jack Kirby criam os X-Men (abaixo), personagens que se tornariam grandes ícones da Marvel Comics.

X A revista Pilote lança o cowboy Blueberry na aventura Fort Navajo Navajo. A autoria é de Jean Giraud, que assinava Gir, e mais tarde ficaria mundialmente famoso com seu outro pseudônimo, Moebius. X Na Paraíba, Deodato Borges resolve transformar seu personagem Flama Flama, grande sucesso local do rádio (era líder de audiência, destronando até o popular Jerônimo) numa revista de histórias em quadrinhos, a primeira publicada na Paraíba. Outro mérito de Deodato Borges é ser o pai de Deodato Filho, que virou estrela internacional com o pseudônimo Mike Deodato Jr. X Em dezembro, a Editora Abril lança o Almanaque do Tio Patinhas atinhas. Em 1970, a revista passaria a ser chamada apenas de Tio Patinhas.

O S MUTANTES X-MEN ERAM REJEITADOS PELA SOCIEDADE , QUE OS VIA COMO UMA AMEAÇA .

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O ÚLTIMO NÚMERO DA REVISTA P ERERÊ PELA O C RUZEIRO TEVE TOM PROFÉTICO , A COMEÇAR PELA DATA IMPRESSA NA REVISTA E PELO DIÁLOGO QUE ACONTECE LOGO NA SEGUNDA PÁGINA DA HISTÓRIA DE ABERTURA, QUANDO O COMPADRE COMUNICA AOS HABITANTES DA M ATA DO F UNDÃO O TEOR DA PEÇA QUE SERIA APRESENTADA . A O LADO , DUAS DAS MAIS IMPORTANTES REVISTAS DE TERROR DOS E STADOS UNIDOS DAS DÉCADAS DE 1960 E 1970: CREEPY E EERIE.

1964 X Após ter sido demitido da revista O Cruzeiro por causa de protestos contra sua Esta é a Verdadeira História do Paraíso, Millôr Fernandes lança, por conta af como revista própria, O Pif-P Pif-Paf independente. Mas ela só dura oito números. X Outra vítima da editora O Cruzeiro: o último número da revista Pererê Pererê, de Ziraldo, aparecia nas bancas na última semana de março e a data da publicação impressa na revista, 1° de abril, era uma estranha coincidência com o golpe militar. X Uma reforma gráfica na Folha de S. Paulo aumenta consideravelmente o espaço para as tiras em quadrinhos. Entre as novidades, está Vizunga Vizunga, de Flavio Colin, considerada uma de suas melhores histórias e marco da transição do estilo do artista. A narrativa tinha duas linhas gráficas: o tempo presente (personagens ouvindo o personagem-título contar suas histórias), em estilo realista, e as aventuras do velho caçador, em estilo cômico.

X Estréia na tv americana uma bem-sucedida série de desenhos animados de ação: Jonny Quest Quest. Criado por Doug Wildey para a Hanna-Barbera, o personagem logo seria publicado em quadrinhos. X Para driblar a censura do Comics Code norte-americano, o editor James Warren lança as revistas de terror Creepy e Eerie em preto e branco e formato diferente. Diversos artistas da fase da E.C. Comics tornam-se colaboradores e Frank Frazetta vira o principal capista. Mais tarde as duas revistas ganham uma irmã, Vampirella ampirella. X Os Fradinhos de Henfil, ainda embrionários, fazem sua estréia na revista mineira Alterosa. X O argentino Quino cria Mafalda, a contestatária Mafalda (abaixo), que se transformou num grande sucesso em seu país e em todo o mundo, tornando-se um símbolo da luta pela liberdade e contra a tirania. X A La Selva lança a revista com protagonista do famoso seriado da tv Dr Dr.. Kildare Kildare.

PERSONAGENS DA SÉRIE O M AGO DE I D . A CIMA, UMA TIRA DE V IZUNGA , DE F LÁVIO C OLIN E , NA EXTREMA DIREITA CAPTAIN E ASY GANHOU O NOME DE C APITÃO C ÉSAR NO B RASIL .

upãzinho, X Minami Keizi cria Tupãzinho publicado em tiras no Diário Popular de São Paulo. No ano seguinte, o personagem, inspirado no Astroboy Astroboy, de Osamo Tezuka, ganha sua revista própria pela editora PanJuvenil, embrião da editora Edrel que ele fundaria depois. O personagem Tupãzinho vira o símbolo da editora. X Na Itália, é lançada a revista Linus, abrindo caminho para um Linus novo tipo de publicação. Mistura

X Os amigos cartunistas Brant Parker e Johnny Hart criam a tira O Mago de Id (The Wizard of Id), com um acentuado tom de crítica política bem ao gosto de Parker. rês P Patetas atetas, que já X Os TTrês atetas foram publicados pela La Selva, passam para a Ebal. X Reestréia em grande estilo, pela Marvel, as aventuras do Capitão América (Captain America), personagem clássico do tempo da Segunda Grande Guerra, desenhado pelo mesmo Jack Kirby.

1965 X Neste ano a Rio Gráfica e Editora coloca nas bancas mais seis revistas: Arizona Kid Kid, Agente Secreto Secreto, Capitão Cesar (acima), Gibi Colorido Colorido, Jim Gordon e Rancho Fundo Fundo.

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CAPITÃO A MÉRICA , DE JACK KIRBY E STAN LEE.


À ESQUERDA , NETRON SE PERDE NOS LÁBIOS DE V ALENTINA. À DIREITA , O DESENHISTA JIM STERANKO DEU A NICK F URY UM TRATAMENTO GRÁFICO DE ALTO NÍVEL .

tiras cult americanas como B.C. e Peanuts (o nome Linus vem do amigo de Charlie Brown) e abre espaço para a produção local lançando Neutron Neutron, de Guido Crepax. Esta, uma série de ficção científica, acabaria mudando de foco, quando a coadjuvante Valentina alentina, namorada de Neutron, vira protagonista e um ícone do quadrinho erótico.

S PACE GHOST , DE A LEX T OTH .

que conquistou fama internacional, quando seu Cuba para Principiantes foi traduzido para o inglês e se tornou um bestseller internacional.

X Tom K. Ryan começa a publicar Tumbleweeds (acima), uma paródia ao velho Oeste. No Brasil, o personagem foi chamado de Kid Farofa. O artista produziu a tira durante 42 anos, até encerrá-la em 2007. X O mexicano Eduardo Del Rio (Rius) cria Los Supermachos Supermachos, quadrinhos de cunho político e social misturando seus desenhos com colagens e fotopotocas, falado em linguagem simples para o povão entender, sobre assuntos que variavam do trivial urbano a política ou à Igreja Católica. Os Supermachos freqüentemente eram vítimas da censura (o editor sofria pressões do Governo e trocava os diálogos à revelia do autor), o que causou a ruptura de Rius com a Editorial Meridiano, que, entretanto, manteve o título com outros desenhistas. Em 1968, ele cria outra revista similar, Los Agachados Agachados, que durou mais de 200 edições. Mas foi em 1970

X A turma da Disney ganha um reforço: Pateta (Goofy) come o super-amendoim que o transforma em Superpateta . X A Marvel Comics lança na ales as revista Strange TTales ury primeiras histórias de Nick FFury ury,, Agente da S.H.I.E.L.D S.H.I.E.L.D, personagem secundário das histórias do Capitão América que, nas mãos de Jim Steranko Steranko, a partir do final de 1966, ganha contornos plásticos arrojados e uma história de espionagem de grande impacto dramático.

1966 X O desenhista Alex Toth desenvolve para a Hanna-Barbera uma nova linha de desenhos animados para tv: os personagens agora são super-heróis e o primeiro a ser lançado é Space Ghost (acima). Logo viriam outros, entre os quais Os Herculóides (The Herculoids) oderoso Mightor (The eO P Poderoso Mighty Mightor). Todos teriam suas histórias adaptadas para os quadrinhos.

X Batman vira série de tv, com Adam West no papel-título e Burt Ward interpretando Robin. A série, que não passava de uma paródia dos quadrinhos, vira um sucesso instantâneo nos EUA e também no Brasil, lançando a tendência conhecida como Batmania e até mesmo gera um longa-metragem no mesmo ano. A DC Comics aproveita para mudar um

pouco o leiaute dos quadrinhos, que ainda se baseava nos traços do criador Bob Kane, e escala o desenhista Carmine Infantino (antes do staff das revistas de ficção-científica) para a empreitada.

X As aventuras do veterano (e fictício) repórter policial Márcio Moura, do jornal O Globo, interpretado por Jardel Filho na série 22-2000 Cidade Aberta desde 1965, saem da tv para ganhar as páginas da revista em

BATMAN , POR C ARMINE I NFANTINO .

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I LUSTRAÇÃO COM OS CINCO HERÓIS M ARVEL QUE FOI UTILIZADA NA CAMPANHA DE LANÇAMENTO DOS S UPER HERÓIS S HELL EM PARCERIA COM A E BAL.

C ORTO M ALTESE , DE H UGO PRATT .

O S URFISTA P RATEADO , DE J ACK K IRBY.

quadrinhos de mesmo nome, lançada pela RGE, e desenhada por Edmundo Rodrigues. X Criação do aclamado Jack fista Prateado (Silver Kirby, Sur Surfista Surfer) faz sua primeira aparição na revista Fantastic Four n° 48, de março. X Miguel Penteado, que tinha fundado uma nova editora, a GEP (Gráfica Editora Penteado), lança revistas de vários gêneros, a maioria criada por Gedeone ro é um Malagola: Raio Neg Negro super-herói com visual “emprestado” do Ciclope, da antiga formação dos X-Men, e origem idêntica à do Lanterna Verde da Era de Prata. Na época, a editora achava que essas revistas jamais seriam publicadas aqui. No campo de terror, lança Lobisomem obisomem,, escrita por Gedeone e desenhada

por Sérgio Lima, e A Múmia Múmia. De Eugênio Colonnese, lança Pele de Cobra Cobra, além de revistas de guerra e infantil. Mais tarde a GEP lança também alguns heróis Marvel que a Ebal deixou de lado. X O ilustrador e quadrinista mexicano Eduardo Del Río (Rius) publica o álbum Cuba para Principiantes Principiantes, dando início a uma série de álbuns sobre política e comunismo. Em 1972, publicou também o livro Marx para Principiantes Principiantes, com uma introdução ao estudo do marxismo e da figura de Karl Marx. X Henfil migra de Belo Horizonte para o Rio, onde arruma trabalho em O Sol, de Reynaldo Jardim, e no Jornal dos Sports, cuidando das charges. Já começa mudando todos os símbolos dos clubes antes calcados em personagens estrangeiros: Popeye era o mascote do Flamengo, que Henfil representou como Urubu Urubu. Sua popularidade foi comprovada no dia em que, incitada por uma charge do jornal, a V IDA D EL C HE , DE H ECTOR O ESTERHELD E A LBERTO E E NRIQUE B RECCIA .

R AIO N EGRO , DE G EDEONE M ALAGOLA .

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torcida de um Maracanã lotado urrou em peso, no jogo do Brasil contra o Uruguai, “Maricón! Maricón!” para dar as boasvindas à seleção rival.

1967 X Três meses após a morte de Che Guevara, o roteirista Hector Oesterheld e os dois Breccia (Alberto e Enrique, pai e filho) el lançam na Argentina Vida D Del Che (mais tarde conhecida como Che, os Últimos Dias de um Herói Herói), que desagradou o Governo argentino. Poucos meses depois, a editora que o publicou foi invadida e os exemplares recolhidos. Em 1969, foi a vez de os originais serem destruídos. Em 1973 o livro foi proibido oficialmente pela ditadura militar. E,

finalmente, boa parte da família Oesterheld engrossou a lista dos desaparecidos políticos em 1977, quando não só ele como as quatro filhas (uma grávida) e dois genros foram seqüestrados pelos militares. X A Ebal lança três revistas com cinco já famosos (nos Estados Unidos) super-heróis Marvel: Capitão Z traz as aventuras do Capitão América e do Homem de FFerro erro erro; Super X X, com as histórias de Namor Namor,, o Príncipe Submarino e o Incrível Hulk Hulk, e Álbum Gigante Gigante, com as hor aventuras do Poderoso TThor hor. Esses personagens chegam apoiados em uma grande campanha de marketing da Shell, que também inclui o patrocínio de desenhos animados na tv.

amplia sua linha de personagens vindos da DC e da Marvel, as editoras paulistas lançam “genéricos” nacionais como Golden Guitar Guitar, de Rivaldo; Super-Heros Super-Heros, de Paulo Fukue; Mylar Mylar, de Colonnese (abaixo) e Pabeyma de Fernando Ikoma. Esta última, antecipando a ciência, já fala de engenharia genética.

X Além dos personagens da Marvel, a Ebal coloca nas bancas Sargento Rock Rock, de Joe Kubert; Batman e Super-Homem Super-Homem, na revista Invictus alcões Invictus; Elektron Elektron; Os FFalcões alcões; Flash, o Homem Relâmpago Relâmpago; O Gavião Neg ro e Jerry Lewis Negro Lewis, na revista O Garotão Garotão, publicando histórias do famoso comediante do cinema. X O gênero super-heróis, em alta no mercado norteamericano, começa a crescer por aqui. Enquanto a Ebal

M YLAR , DE C OLONNESE


À ESQUERDA , OS QUATRO INTEGRANTES DA BANDA THE MONKEES, DA DIVERTIDA SÉRIE DE TELEVISÃO QUE FOI ADAPTADA PARA OS QUADRINHOS . EMBAIXO , DETALHE DE UMA HISTÓRIA DESENHADA POR F ERNANDO I KOMA PARA A REVISTA E STÓRIAS A DULTAS , DA E DREL

À DIREITA , A SENSUAL VAMPIRA M IRZA , DE E UGÊNIO C OLONNESE . E MBAIXO , O GURU M R . N ATURAL , DE R OBERT C RUMB .

Edrel, editora fundada por X A Edrel Minami Keizi e o empresário Salvador Bentivegna, se firma no mercado. Os principais artistas, como o próprio Minami mais Fernando Ikoma e Claudio Seto são nisseis e “importam” o modelo dos quadrinhos japoneses, chamados de mangás, voltando-se principalmente para a produção de histórias de conteúdo erótico-light dentro da liberalização de costumes que surgia com os anos 60. Algumas revistas intercalavam quadrinhos com fotos de mulheres seminuas, em muitas páginas, como os mangás japoneses. A Edrel conseguiu se estabelecer nesse nicho de mercado, mas não resistiu a uma portaria que proibia revistas eróticas, surgida em 1969 com o recrudescimento da ditadura militar. X O italiano Hugo Pratt cria seu personagem mais famoso, Cor to Maltese Corto Maltese, na história Uma Balada del Mare Salato (Balada do Mar Salgado), que foi publicada originalmente na revista italiana Sgt. Kirk (o nome da revista vem de outro personagem seu). Corto Maltese era um marinheiro que vivia aventuras nas duas primeiras décadas no século 20 e suas andanças incluem até a Amazônia. Em 1970, quando Pratt se mudou para a França, seu personagem se tornou um dos astros da revista Pif. Hugo Pratt teve seus trabalhos

editoras nos Estados Unidos e enviava seus originais pelo correio.

letreiramento e da sofrível tradução em “portunhol”. X Robert Crumb cria o místico guru e profeta dos anos 1960, Mr Mr.. Natural (acima).

publicados em diversos países, como Itália, Inglaterra, França e Argentina, e fixou residência em alguns deles. Como seu personagem, Pratt viajou o mundo e adorava o Brasil. X Outro italiano, o roteirista Gino D’Antonio, inicia a publicação de Storia del W est (A História do West Oeste), um dos maiores clássicos dos quadrinhos italianos de todos os tempos, que conta as aventuras da família MacDonald no Oeste norte-americano. Essas aventuras seriam lançadas no Brasil três anos depois, em 1970, pela Ebal, na revista EpopéiaTri Epopéia-T ri.

alentina XV Valentina alentina, de Guido Crepax, se torna protagonista de sua própria série. Sua primeira história é La Curva di Lesmo. X Aproveitando-se das facilidades de exportação criadas pela Associação Latino-Americana de Livre Comércio-Alalc, a editora chilena Lord Cochrane inunda as bancas brasileiras com revistas em quadrinhos traduzidas e impressas no Chile, com personagens que não estavam sendo publicados pelas editoras brasileiras, como Gato Félix, X-9, Jim das Selvas e outros. A iniciativa fracassa, não só porque a maioria dos títulos não eram comercialmente fortes, como também por causa do péssimo

X Estréia, na Espanha, Cinco por Infinito Infinito, série de ficçãocientífica de Esteban Maroto, lançada no Brasil dois anos depois pela Ebal. X Na França, começa a ser publicada na revista Pilote a série Valérian alérian, agente espaçotemporal, de Pierre Christin e Jean-Claude Mézières.

X A voluptuosa Mirza, a Mulher Vampiro ampiro, de Eugenio Colonnese, conhece a luz do dia, quer dizer, da noite. Ela foi criada antes de outra vampira famosa: Vampirella ampirella. Nesse mesmo ano, Colonnese inicia as histórias de O Mor to do Pântano Morto Pântano, precedendo seus congêneres Thing norte-americanos ManMan-T hing (O (da Marvel) e Swamp TThing Monstro do Pântano, da DC).

1968 X Muito populares na tv, Os Monkees também são lançados numa revista em quadrinhos da Ebal. Neste mesmo ano a editora passa a publicar as revistas Supermoça egião dos Supermoça, A LLegião Super-Heróis e Turma Titã Titã.

X O sucesso do seriado Jornada nas Estrelas (Star Trek) estimula a Gold Key a lançar uma versão em quadrinhos, com desenhos do italiano Alberto Giolitti (ao lado), que já fazia trabalhos para

A H ISTÓRIA DO O ESTE É CONTADA A PARTIR DA CHEGADA DE B RETT M AC D ONALD ( AO LADO ) AOS ESTADOS UNIDOS . À DIREITA , EM CIMA , S POCK E CAPITÃO KIRK , DE JORNADA NAS E STRELAS (S TAR T REK). A BAIXO , A FICÇÃO CIENTÍFICA ESPANHOLA CINCO POR I NFINITO , DE E STEBAN MAROTO .

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AS PRIMEIRAS HISTÓRIAS DE S IGMUND NO P ASQUIM ERAM MUITO SELVAGENS . E NQUANTO ISSO , J EREMIAS , O B OM , DE Z IRALDO , ERA SÓ CORAÇÃO .

À DIREITA , PÁGINA DE ABERTURA DE UMA HISTÓRIA DO J UDOKA , DE F LORIANO H ERMETO .

produtos. Jotalhão torna-se “o elefante mais amado do Brasil”. X A imprensa underground começa a florescer nos EUA. Robert Crumb e sua mulher vendem de mão em mão, nas ruas de São Francisco, o primeiro número de Zap Comix Comix, Crumb torna-se, em pouco tempo, o maior representante da nova vertente. he FFabulous abulous FFreak reak X TThe Brothers, de Gilbert Brothers Shelton estréia na revista underground Fed edss ‘n’ Heads Heads. Os personagens fazem a cabeça do público e no ano seguinte Shelton e mais três malucos fundam a Rip Off Press para lançar mais revistas com os personagens, que fazem mais sucesso ainda e chegam até a ser publicados na Playboy. Eternos desempregados, o lema deles era “Dope will get you through times of no money better than money will get you through times of no dope.”— que na revista brasileira Grilo ganhou uma tradução ainda mais saborosa: “A grama te ajuda a viver melhor quando não tem grana do que a grana te ajuda a viver quando não tem grama.” X Antes de ficar famoso com sua Turma do Lambe-Lambe, Daniel Azulay publica o seu Capitão Cipó em tiras diárias no Correio da Manhã. X Lançamento da revista de hq de horror A Cripta Cripta, R. F. Lucchetti e Nico Rosso pela Taika X A Editora Abril lança Clássicos Walt Disney com adaptações dos desenhos animados do estúdio. Em formato maior que as revistas em quadrinhos da época, a edição de estréia trouxe A Bela Adormecida.

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X Surge pela Editora Prelúdio a revista Juvêncio, o Justiceiro Justiceiro, um personagem saído da rádionovela homônima criada pelo jornalista Reinaldo Santos, no rastro do sucesso de Jerônimo, o Herói do Sertão. Geralmente adaptados das histórias originais, os roteiros dos quadrinhos do herói mascarado foram escritos por nomes como R.F, Lucchetti e Gedeone Malagola. Para os desenhos, artistas de peso como Sérgio Lima, Rodolfo Zala e Eugênio Colonnese, deram um toque de excelência à publicação.

1969 X A popularidade de Mônica aumenta quando ela e o elefante Jotalhão (acima), outra criação de Mauricio de Sousa, são veiculados nos comerciais dos extratos de tomate da Cica, abrindo as portas para o licenciamento de seus

X O Jornal do Brasil começa a publicar The Supermãe Supermãe, de Ziraldo, mas o sucesso da personagem a leva para as páginas coloridas da revista Claudia, da Editora Abril, em março de 1970. asquim X Surge O P Pasquim asquim, criado por Jaguar, Tarso de Castro e Sérgio Cabral, e com a rápida adesão de nomes como Ziraldo, Millôr Fernandes, Fortuna e também Henfil, que lança os seus Fradinhos e eles se tornam muito populares entre os leitores. OP asquim rapidamente pula da Pasquim tiragem inicial de 20 mil para 200 mil exemplares por edição. Sig Sig, o rato criado por Jaguar, vira mascote do jornal. X Com prefácio do jornalista e escritor Antônio Callado, a Editora Expressão e Cultura lança em julho o livro Jeremias, OB om Bom om, de Ziraldo. X Cláudio Seto cria Maria Erótica (ao lado), a princípio uma coadjuvante em histórias O J UDOKA , NO TRAÇO DE M ONTEIRO FILHO , E THE SUPERMÃE, CRIAÇÃO DE Z IRALDO .

de outro personagem, Beto Sonhador. Depois ganha Sonhador aventuras solo, torna-se uma das estrelas da editora e chega a ter sua própria revista. X A Ebal lança seu super-herói brasileiro: O Judoka Judoka. A estréia acontece em outubro, no número 7 da revista de mesmo nome, que publicava desde abril as aventuras de Judô-Master, estranho personagem da Charlton Comics. A idéia do novo herói foi do próprio Adolfo Aizen, que concebeu os conceitos básicos do personagem, e o visual foi criado por Monteiro Filho. Os roteiros são do novelista da Era do Rádio, Pedro Anísio, e vários desenhistas se revezavam: Eduardo Baron, Mário Lima, Claudio Almeida, Juarez Odilon, Alberto Silva e muitos outros. Mas com a

entrada de FHAF (pseudônimo de Floriano Hermeto de Almeida Filho), que se inspirava na técnica narrativa de Guido Crepax, Enric Siò e Steranko, o quadrinho passa a ser endeusado por críticos como Moacy Cirne. O personagem deu origem ainda a um filme (mal) produzido em 1972 com Pedrinho Aguinaga no papeltítulo e a jovem atriz Elisângela como a namorada do herói e foi um tremendo fracasso de bilheteria. Porém a expectativa criada pelo lançamento do filme nos cinemas salvou a revista de um cancelamento antecipado. A revista durou 52 números e foi publicada até julho de 1973. X A Ebal também lança dois grandes personagens da Marvel, O Homem Aranha e O Demolidor Demolidor, além dos títulos da DC, Aquaman e Os Justiceiros Justiceiros. Neste ano, a editora passa a publicar revistas coloridas com capas plastificadas impressas num papel de melhor qualidade. Os primeiros títulos são Superman oy , Superman, B atman atman, Superb Superbo Pernalonga e Tarzan arzan. X O cineasta José Mojica Marins vira personagem de quadrinhos, com a publicação da revista O Estranho Mundo de Zé do Caixão Caixão. X Magnus Magnus, de Russ Manning, passa a ser publicado no Brasil pela O Cruzeiro.


A CAPA DA EDIÇÃO COMEMORATIVA CHAMADA GERAL E OS HERÓIS CANTANDO PARABÉNS PARA A E BAL . M AIS À DIREITA , J IMMY O LSEN E O GUARDIÃO , DE J ACK KIRBY .

1970 X A Hanna-Barbera lança uma nova série de sucesso: ScoobyD oo, Where Are YYou! ou! X Surge na França a revista Charlie, inspirada na italiana Charlie Linus, que passa a publicar tiras clássicas e cultuadas como Krazy Kat e Andy Capp; quadrinhos contemporâneos, como Mafalda, e autores europeus (Pichard, Wolinski, Crepax e muitos outros).

X Em janeiro, a Editorial Novaro, do México, lança a revista Fantomas, LLa a Amenaza Elegante Elegante, que era livremente inspirado no personagem Fantômas, criado em 1909 por Pierre Souvestre e Marcel Allain na Europa, cujos livros de suspense fizeram muito sucesso no começo do século XX. Antes de ganhar um título próprio quinzenal, o personagem foi publicado em outras revistas da editora, mas rapidamente se tornou um grande sucesso, principalmente pelos roteiros bem elaborados, escritos inicialmente por Alfredo Cardona Peña e desenhados com elegância por Rubén Lara Romero e seu estúdio. No Brasil, Fantomas foi publicado pela Ebal numa revista própria mensal a partir de agosto de 1970, mas saíram apenas 13 edições.

Cortázar e Fantomas Fantomas, a Ameaça Elegante fez tanto sucesso no México que até o escritor Júlio Cortaázar pegou o personagem “emprestado” quando escreveu, em 1975, o conto Fantomas Contra los Vampiros Multinacionales, sobre as violações dos direitos humanos que assolavam a América Latina na década de 1970 e o exílio forçado de muitos perseguidos políticos. Na história, o narrador é o próprio Cortazar, que fala do golpe de estado no Chile, patrocinado pela CIA, contra o governo democraticamente eleito de Salvador Allende. A história começa durante uma viajem de Cortázar, quando ele descobre que Fantomas busca pistas que o ajudem a desvendar quem está por trás de uma conspiração demoníaca que quer destruir a cultura em todo o mundo. Vários intelectuais estavam recebendo ameaças de morte. Entre eles, Alberto Moravia, Octávio Paz, Susan Sontag e o próprio Cortázar. Bibliotecas em todo mundo sofriam atentados terroristas e eram incendiadas. Mas toda essa violência encobria uma realidade muito mais vil. Este conto foi publicado no Brasil em 1976 pelo jornal Versus Quadrinhos – Especial América Latina.

Fantomas é um milionário e misterioso ladrão de obras de arte, que não se furta a ajudar os necessitados.

1970 teto FFantástico X Quar Quarteto antástico finalmente chega ao Brasil pela Ebal, que lança também a revista O Homem de Aço Aço, com as aventuras de Miriam Lane (como era conhecida na época a namorada do Super-Homem, Lois Lane) e Jimmy Olsen, além de outras duas que publicam adaptações dos seriados de faroeste da tv Cheyenne e Gunsmoke Gunsmoke. X A Ebal comemora 2 25 5 anos reunindo todos os personagens importantes que publicou numa edição especial da revista Epopéia intitulada Chamada Geral Geral, em que até mesmo um Ota adolescente, que já trabalhava na editora, aparece ciceroneando personagens como Tarzan, Zorro, SuperHomem, Capitão América, Mandrake, o próprio Judoka, além de personalidades da História do Brasil como D. Pedro II (publicados na série Grandes Figuras) e ainda os heróis dos contos de fadas como Branca de Neve. Esse especial publica o primeiro e maior cross-over de personagens de copyrights diferentes de que se tem notícia, precedendo até a junção dos super-heróis das rivais DC e Marvel Comics em Superman vs. Spider-Man (Super-Homem Contra o Homem-Aranha) publicada somente em 1976. O roteiro é assinado por Pedro Anísio e os desenhos são de Eugenio Colonnese.

Disney. Essa foi a primeira de uma série de publicações periódicas com os personagens do grande desenhista. X Depois de se desgastar com Stan Lee, Jack Kirby troca a Marvel Comics pela sua maior rival, a DC, e desenvolve uma nova linha de revistas para a editora a partir dos personagens Novos Deuses (New Gods), Senhor Milag re (Mister Milagre Miracle), Kamandi Kamandi, entre outros. Kirby desenvolve também novas histórias para Super-Homem e seu amigo Jimmy Olsen, cuja revista Superman’s Pal Jimmy Olsen corria o risco de ser cancelada. O genial desenhista e ião (The roteirista resgata a Leg Legião Newsboy Legion) e o Guardião

X Maio marca a entrada definitiva de Mauricio de Sousa no mercado de revistas em quadrinhos: finalmente a Editora Abril lança Mônica e Sua TTurma urma (simplificada para “Mônica” nas edições seguintes) no mesmo formato das revistas Jornal da ABI 362 Janeiro de 2011

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A CIMA, UMA CENA REPLETA DE AÇÃO DE L OBO S OLITÁRIO . A BAIXO , A RQUEIRO -V ERDE DESCOBRE QUE SEU PUPILO É VICIADO EM DROGAS .

(Guardian), antigos personagens criados por ele e por Joe Simon em 1942, para viverem aventuras ao lado do fotógrafo do Planeta Diário e do Homem de Aço e a revista volta a ser um sucesso de vendas. Nessa revista surge, na edição 134, de novembro, o vilão cósmico Darkseid Darkseid, que se tornaria um dos personagens mais importantes do Universo DC. X Denny O’Neil e Neil Adams revolucionam a mídia introduzindo temas modernos nos quadrinhos de Green Lantern/Green Arrow (Lanterna Verde/Arqueiro Verde) e ganham vários prêmios. Uma das edições da revista desafia o Comics Code ao publicar uma história em que Speedy (Ricardito), parceiro do Arqueiro Verde, torna-se viciado em drogas, abrindo um

precedente que marcaria o fim do Comics Code. X No Japão, Kazuo Koike e Goseki Kojima começam a publicar a saga de um samurai e seu filhote: Kozure Ôkami (Lobo Solitário). X Em São Paulo realiza-se o resso Internacional de Congresso I Cong Histórias em Quadrinhos com convidados do naipe de Will Eisner, Lee Falk e Burne Hogarth. X A Editora Vozes lança o livro A Explosão Criativa dos Quadrinhos Quadrinhos, escrito por Moacy Cirne, um dos mais importantes estudiosos dos quadrinhos no Brasil. Ele lançaria ainda

A ARTE SOTURNA DE BERNIE W RIGHTSON EM O M ONSTRO DO PÂNTANO .

1932, finalmente, chega ao mundo dos quadrinhos, quando a Marvel Comics passa a publicar as aventuras do personagem.

1971 A Linguagem dos Quadrinhos (1971) e Para Ler os Quadrinhos (1972). X Mell Lázarus emplaca a sua segunda tira de sucesso: Mãe! (Momma), personagem inspirado em sua própria mãe. X O bárbaro Conan Conan, criado pelo escritor Robert E. Howard em

X Os fundadores da revista Bondinho lançam Grilo Grilo, um jornal em quadrinhos em formato tablóide que sobrevive ao fechamento das demais publicações da editora (que lançou várias publicações de resistência ao regime militar, como Ex-, fechadas pela ditadura uma após a outra). Grilo começa publicando alguns dos mais

importantes quadrinhos da época, como Peanuts, Mago de Id, Feiffer, Tumbleweeds e Valentina. Mas no número 25 muda de formato e passa a publicar também a imprensa underground norte-americana encabeçada por Robert Crumb e quadrinhos franceses de vanguarda, como os cartuns de Wolinski e a história que ele fez em parceria com Georges Pichard, Paulette. Esta heroina sensual teve algumas aventuras vividas no Brasil, onde foi torturada pelos militares. A revista acabou quando essa história estava sendo publicada em série. X Henfil lança um tablóide com o seu personagem mais famoso: Fradim (abaixo), que reúne suas primeiras histórias e se esgota rapidamente. Outras edições seriam lançadas até que, em 1976, o título se torna uma revista mensal no formato 27x18cm. X Nas páginas da revista de terror House of Secrets é publicada a primeira aventura de Monstro do Pântano (Swamp Thing), de Len Wein e Bernie Wrightson.

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, Continua na pagina 31


FRANCISCO UCHA

Aos 75 anos de idade e 51 anos de carreira, Mauricio de Sousa construiu com histórias em quadrinhos uma multinacional jamais imaginada por quem viu os primeiros desenhos do jovem jornalista. A imprensa permeia a história deste que é hoje o maior desenhista brasileiro. O homem responsável por um trabalho que inspira centenas de profissionais e continua alfabetizando milhões de pessoas mundo afora. POR F RANCISCO UCHA

certo afirmar que Mauricio de Sousa hoje é, antes de tudo, um empresário, mas seria um erro confundi-lo com um empresário qualquer. No dia-a-dia todos o reconhecem como alguém que cuida de seus negócios com extremo carinho, organização e ousadia dentro de uma dinâmica invejável. Para conseguir um espaço em sua agenda depois das comemorações dos seus 50 anos de carreira, em plena produção para a Bienal do Livro, Mauricio reservou um dia para ser entrevistado por diversos jornalistas e veículos interessados em registrar sua história. Quando chegamos ao seu escritório, ele já havia concedido duas entrevistas e teria para nós apenas 40 minutos antes do compromisso seguinte. Porém a conversa seguiu com tanta espontaneidade que durou mais de duas horas. Nesse entretempo presenciamos outra rápida entrevista por telefone a uma rádio em Portugal. Assim, sem parar. Sem perder a paciência, a simpatia e o ar atencioso que já se tornou uma característica reconhecida até por pessoas que o abordam em busca de um autógrafo. O seu largo e generoso sorriso sempre esteve presente enquanto respondia às nossas perguntas. Com uma caneta na mão e vários papéis, Mauricio não parava de desenhar para explicar as coisas. Ele fala com as mãos e com os olhos. “A nossa próxima década será a da educação!”, disse com a euforia de quem já ajuda a alfabetizar milhões de crianças na China, Coréia, Vietnã e Indonésia. “Espero que um dia consiga fazer isso no Brasil também.” Embora milhões de brasileiros tenham encontrado nas histórias em quadrinhos o primeiro contato com a leitura, Mauricio sabe que o desafio da educação no Brasil é muito mais complexo, e talvez por isso mesmo esteja tão empenhado em colaborar com os que pretendem enfrentá-lo. Entre as memórias reveladas nesta longa conversa está a lembrança da primeira vez que mostrou seus desenhos a um certo diretor de Arte que tentou dissuadi-lo da idéia de vencer na vida desenhando. Isso foi na Folha da Manhã, quando ainda era um jovem em busca do primeiro emprego. Foi lá também que encontrou na Redação um amigo que lhe deu bons conselhos e o incentivou a continuar. Desde aquele tempo, nota-se: ele é obstinado, sabe o que quer e como fazer. Jornal da ABI 362 Janeiro de 2011

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FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

JORNAL DA ABI – COMO SURGIU SEU INTERESSE POR DESENHOS E POR QUADRINHOS?

Mauricio de Sousa – Tudo começou com o jornal. Sou fruto do ambiente em que cresci. Desde a infância, vivi cercado de livros, de cadernos de poesia, música, de gente tocando violão, compondo, pessoal que trabalhava no rádio. Sempre tinha perto de mim publicações de cinema e de rádio, quando não filmes e programas. Naquele tempo, ainda não havia televisão. Enquanto brincava em casa, mamãe ouvia novelas no rádio – a Rádio São Paulo, rainha das novelas. Eu me lembro das novelas, das músicas, dos arranjos musicais das novelas. Tinha cinco ou seis anos, mas recebia informação sobre como as novelas eram escritas e produzidas, com músicas, acompanhamentos, arranjos e tudo mais. Além disso, meu pai trabalhava em rádio. Fazia de tudo: era redator, apresentador, interpretava, cantava. E ele me levava na emissora. No interior e depois em São Paulo, na Rádio Cruzeiro do Sul, que era a rádio mais importante na época, – a Globo de então. O rádio era o que havia de mais avançado em termos de mostrar e exibir artistas. Eu via artistas de Hollywood, da Metro Goldwyn Mayer, o grande estúdio do período, dançando, as orquestras tocando ao lado dos pianistas, freqüentava os bastidores. Houve até um tempo que eu pensei que ia ser pianista, não desenhista. JORNAL DA ABI – O QUE O FEZ PENSAR ASSIM? Mauricio de Sousa – Eu estava mais cercado de música do que de desenho. Mas, em seguida, meu pai começou a me levar também às Redações de jornal, principalmente em Mogi das Cruzes. Ele tinha amigos, proprietários de jornais, e quando comecei a brincar de desenhar ele pediu que me dessem uma oportunidade. Comecei rabiscando figuras e símbolos dos clubes de futebol da região. Foi a minha estréia e o pessoal gostou. Entre desenho e música, optei pelo primeiro. Para ingressar na carreira musical, precisava batalhar e estudar muito, e eu não tinha como fazer essas coisas em Mogi. Já para o desenho havia condições. Também pesou aí o fato de ser apaixonado por gibis. Lembro-me de que me alimentava deles desde que me considero por gente; mamãe me ensinou a ler no gibi antes de eu entrar na escola. Queria fazer história em quadrinhos, criar meus próprios personagens. E comecei a treinar. Na escola eu fazia caricatura dos meus personagens, dos meus amigos, dos meus colegas, e fazia meus gibizinhos artesanais, e distribuía para a turma. De tanto ser incentivado pela família e incentivado por amigos, vim para São Paulo. Queria ar20

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No alto, o pai Antonio Mauricio de Souza (com z) nos anos 20 no jardim de Mogi das Cruzes, e Mauricio (o segundo à esquerda, sentado) com sua turma do 3° ano do Grupo Escolar Visconde de Congonhas do Campo, no Tatuapé. Ao lado, na formatura do Ginásio e iniciando como repórter no jornal à la Dick Tracy.

rumar emprego de desenhista, mas não consegui. O que poderia fazer, então? Escrever e trabalhar como jornalista, mais uma coisa de que gostava. JORNAL DA ABI – COMO SE DEU ESSA TRANSIÇÃO?

Mauricio de Sousa – Um dos jornais em que procurei espaço como desenhista foi a Folha da Manhã, hoje Folha de S. Paulo. Quando cheguei na Folha, no começo, com um desenho debaixo do braço, fui procurar o Diretor de Arte, que era um grande desenhista e ilustrador, e havia trabalhado na revista O Cruzeiro, a grande publicação ilustrada da época. Mas ele me disse: “Menino, desista! Isso não dá dinheiro, não dá futuro. Vá fazer outra coisa na vida!” Puxa, o cara que eu admirava, um dos maiores desenhistas do País chega e joga esse balde de água gelada em você... Eu saí da sala dele me arrastando pela Redação e pensando: “Minha mãe, meu pai, meus amigos, minha avó, minha professora, todo mundo me enganou. Todo mundo falava que eu desenhava; até eu pensava que desenhava. E esse cara fala isso”. Nisso, um jornalista chamado Mário Cartaxo, já falecido, viu a forma como eu estava saindo e perguntou o que tinha acontecido. Eu devia estar com uma cara... Penso que temiam que eu fosse me jogar da

janela. Eu falei pra ele o que tinha acontecido; ele pegou os desenhos para ver e disse: “Você tem jeito para desenho, mas da próxima vez coloca numa pasta, enfeita mais, põe papel manteiga por cima, dá uma caprichada, não põe tudo junto, põe um por um, aumenta o tamanho, faz isso, faz aquilo, capricha mais, desenvolve um pouco”. Ele deu uma aula de marketing. Acho que gostou de mim, pois me disse que havia uma vaga de copidesque, e mesmo não ganhando muito trabalhava só três horas e meia. Além disso, havia a possibilidade de conhecer o pessoal que poderia me contratar para publicar os desenhos. “Entra aqui, faz isso, e daqui algum tempo, você melhora, capricha, faz uma apresentação melhor e daí você vai mostrar para o amigo seu, o cara que já tomou café com você, que já tomou cervejinha com você”. Valia a pena; eu estava estudando ainda de noite, então dava pra trabalhar de dia. Peguei a vaga de copidesque, trabalhei menos de um mês, e se abriu a vaga de repórter e ele me avisou: “Mauricio, tem uma vaga de repórter policial ou na parte social, quer se candidatar? Tem uma possibilidade, mas tem 200 candidatos”. Eu passei em primeiro lugar, pois escrevia bem. Entrei na reportagem como trainee. Quinze dias depois, o repórter principal ficou doente e me chamaram para ocupar o lugar dele. A rotina era massacrante, mas foi ótimo. Essa foi uma experiência que me ensinou muita coisa, na base da porrada mesmo. Comecei a gostar:

com o tempo, ganhei até prêmios de reportagem. Trabalhava num grande jornal, sempre tinha um fotógrafo ao meu lado (era ele quem apanhava quando tinha confusão), motorista, jipinho à disposição... Eu era o super-homem, o Dick Tracy. (risos) JORNAL DA ABI – PODE CONTAR UMA HISTÓRIA DAQUELES TEMPOS DE REPORTAGEM?

Mauricio de Sousa – Para ser sincero, eu estava na fase de super-herói mesmo. Sentia que era o defensor dos fracos e oprimidos. Quando ia na delegacia e via alguma coisa acontecendo, um mau trato com alguém que chegava lá ou dúvida sobre tortura de preso, ia investigar. Era um chato para a Polícia e mesmo para os nossos repórteres que já estavam há mais tempo lá. Eu perturbava a vida deles, não caía em qualquer historinha. Certa vez, havia uma denúncia de que um delegado espancava o pessoal com uma palmatória. Não importava se o preso era inocente ou culpado. Fazia fila e batia com força, sem dó. A fama do homem se espalhou como uma lenda. Entrei na Delegacia, num momento que estava passando uma fila. “Será a fila da palmatória?”, pensei. Quando vi que se dirigia para sala afastada e que estava sempre fechada, entrei no meio dos meliantes, na fila. Realmente, era a fila da palmatória. Só não apanhei porque, quando estava chegando minha vez, o pessoal me reconheceu. JORNAL DA ABI – A REPORTAGEM FOI UMA TREMENDA DENÚNCIA...

Mauricio de Sousa – Nada. Descobri que as torturas com palmatória eram reais, mas a chefia da Redação não se interessou em noticiar. Achavam que o delegado estava fazendo um bom trabalho. Mas não foi a única história curiosa. Noutra vez, meu chefe de Redação me segurou: “Você não vai à rua fazer matéria hoje”. “Por quê?”, questionei. “Fica aí. Depois eu falo com você”. Fiquei lá, batendo papo, escrevendo. De repente, chegou um povo, passou pela minha mesa, olhou para mim e foi conversar com meu chefe. Deram meia-volta e foram embora. “O


FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

que foi?”, questionei. “Eles haviam falado que um repórter estava achacando um pessoal, não fazendo os textos e distorcendo acontecimentos. Eles acharam que fosse você. Vieram te reconhecer”. Não acreditei no que ouvia. Sentia-me o pior dos criminosos e briguei com ele, pois não aceitava que duvidassem da minha ética. Quebrei o pau ali na Redação mesmo. Não aceitava um negócio desses. Foi difícil, mas era a minha escola. Aquela Redação foi a escola! De lá, trouxe amizades que tenho até hoje, e ali também, aprendi a falar o “jornalês”, para criar histórias em quadrinhos, chegar nos jornais e vender meu peixe. JORNAL DA ABI – A REPORTAGEM POLICIAL É O COMEÇO PARA MUITOS JORNALISTAS, MAS BOA PARTE NÃO GOSTA DA ÁREA. O QUE O FEZ GOSTAR DELA?

Mauricio de Sousa – Eu vinha de gibi, devorava tramas policiais, histórias do Dick Tracy. Queria até mesmo virar o personagem. A primeira coisa que fiz quando me disseram que estava contratado foi ir até o Largo do Arouche e comprar uma capa e um chapéu de repórter norte-americano. Quando cheguei na Redação, alguns até tiraram sarro comigo, mas por que fiz isso? Eu era tímido, vinha do interior e tinha chegado num jornalzão de uma grande metrópole. Quando botava a capa e o chapéu, virava outro. Já não era o Mauricio, caipira do interior; era o repórter, eu era o Dick Tracy. Eu falava com o governador, com o bandidão, com o industrial, de igual para igual, da mesma maneira. Então, era uma maneira de eu me revestir de outra personalidade. JORNAL DA ABI – ISSO O AJUDAVA NO JORNALISMO?

Mauricio de Sousa – Sim. Desde a escola, eu era muito tímido, tanto que não tinha coragem de pedir para nenhuma garota para namorar, ficava só na vontade. Mas aí também enfrentei um choque na Redação. Eu vinha de uma escola pública, ótima, por sinal, em que aprendi inglês, francês e latim, com professo-

Mauricio com as filhas Maria Angela, Mônica e Magali em 1964. Acima, Mônica recebe o carinho do pai-coruja.

res ótimos. Era tão louco, que lia todo dia um livro novo nos tempos do velho ginásio. Cheguei no jornal carregado de Machado de Assis, Eça de Queirós, José de Alencar, mas tinha de escrever as notinhas daquele jeito, mais conciso. O pessoal vivia me falando para jogar fora os adjetivos, tirar meus pensamentos, minhas opiniões, a emoção, as sensações e tudo mais. Tive que aprender à força a me limitar ao “o quê, onde, como, por que e quando”, o lide. O mais importante era a pirâmide invertida; se sobrasse espaço, poderia escrever mais alguma coisa, o que quase nunca acontecia. Mas sem exageros estilísticos. “Meu Deus”, pensei, “Estudei tanto para isso? Para jogar todo o meu português fora?” Foram anos de muita briga, mas o jornalismo me ensinou a concisão. JORNAL DA ABI – ENTÃO, VOCÊ CONSEREDAÇÃO... Mauricio de Sousa – Tive que me enquadrar. (Mauricio pega uma caneta e um papel e começa a desenhar) Mas graças a isso quando comecei a fazer histórias em quadrinhos aprendi a ser mais conciso, colocar um texto inteiro dentro de um balão, se não eu não seria roteirista de quadrinhos, seria um desenhista. Mas o jornalismo me ensinou a concisão, me ensinou o que o GUIU PEGAR O RITMO DA

Twitter está fazendo hoje na internet para as novas gerações. Você se obriga a caber no espaço, e eu me obriguei a caber em três linhas no balão. Com isso, não percebi na época, mas consegui futuramente enfrentar os quadrinhos concorrentes, que vinham com balões grandes que mais pareciam trazer romances. Eu tinha preguiça de ler aquilo. E decidi que a minha história em quadrinhos não podia passar de três linhas num balão. Até hoje passo essas valiosas lições para o pessoal aqui do estúdio. Além disso, economizei um salário, já que era roteirista e desenhista. O jornal pagava apenas um dólar por tira e era importante acumular as duas funções para enfrentar a concorrência e não encarecer o trabalho. O jornal não ia pagar mais por isso. Então, o jornalismo, acidentalmente, me ajudou a desenvolver a indústria de quadrinhos que fizemos aqui e, ao mesmo tempo, enfrentar a concorrência. O jornalismo me ensinou muitas coisas, além da concisão. Me ensinou a objetividade do lide. Minhas histórias têm começo, meio e fim; sem tramas paralelas, situações anteriores, como flashbacks. Os textos são curtos, rápidos. Vencemos a concorrência e hoje temos 86% do mercado. Sinto muito, mas o pessoal que faça a mesma coisa.

Um bolo caprichado para comemorar as mil tiras publicadas do Cebolinha.

JORNAL DA ABI – ESSA BAGAGEM TODA VOCÊ ADQUIRIU NO TEMPO DE JORNAL?

Mauricio de Sousa – Diversas circunstâncias nos levaram à posição em que estamos. Lógico, eu também estudei bastante. Mesmo trabalhando na reportagem, ainda mantinha o objetivo de fazer história em quadrinhos. Assim, cantava os chefes de Redação para me darem todo o material que chegava dos syndicates norte-americanos, os folders, prospectos. Daí eu via como é que chegavam, como é que eram traduzidos, como faziam os balões, tudo. Eu estava estudando, porque não havia no Brasil uma redistribuição como os syndicates; eu tinha que inventar isso, tinha que criar uma distribuição no Brasil. Ou fazia isso ou continuaria ganhando um dólar por tira de jornal. Eu ia ganhar menos do que um salário-mínimo para fazer uma história em quadrinhos diária. Não dava, daí eu via que lá o pessoal fazia uma tira e redistribuía para diversos jornais. Decidi fazer o mesmo. Aprendi como enviar o material e, depois de cinco anos trabalhando na reportagem, deixei o jornalismo para fazer as primeiras tirinhas do Bidu. JORNAL DA ABI – SEUS QUADRINHOS NASCERAM NOS JORNAIS?

Mauricio de Sousa – Umbilicalmente ligados a eles. Em 1959, montei meu primeiro estúdio, em Mogi das Cruzes. Fácil de chegar, a apenas 50 quilômetros da Redação. Mas eu ainda precisava vender o peixe e não tinha dinheiro para montar a distribuidora. Meus recursos só davam para chegar aos jornais próximos e oferecer meu material. Tanto que pedia para o pessoal da Redação devolver os clichês e os originais. Originais que tenho guardados até hoje. Já que não tinha dinheiro, peguei o compasso, botei a ponta seca em Mogi e rodei 100 quilômetros em volta. Era para onde eu conseguiria pagar ônibus para chegar. Não dava para ir a Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Curitiba, Ribeirão Preto; mas chegava em Campinas, Santos, Sorocaba. Eu pegava o ônibus com os clichês devolvidos e ia visitar os jornais de padre, e alguns outros jornais de artes que havia na região. E comecei a vender, a distribuir. Aos poucos, fui aumentando o círculo e Jornal da ABI 362 Janeiro de 2011

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Mauricio ao lado de Jayme Cortez em Lucca, durante sua primeira viagem internacional, em 1966.

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

cheguei em Curitiba e Rio de Janeiro. Em dez anos, publicava as tiras em 300 jornais: estava pronto para lançar uma revista. Nesses 300 jornais e na prévia do lançamento da revista, no fim dos anos 60, eu me reencontrei com alguns jornalistas dos velhos tempos. Eles estavam montando uma editora para fazer revistas e me convidaram para fazer gibi – o gibi da Mônica. JORNAL DA ABI – ELES ESTAVAM PENSANMÔNICA MESMO? NÃO NO BIDU OU CEBOLINHA? Mauricio de Sousa – O Bidu e o Cebolinha eram fortes. Mas já estava trabalhando na Mônica. Começamos a produzir o material. DO NA

JORNAL DA ABI – QUEM ERAM OS JORNALISTAS? Mauricio de Sousa - Era uma equipe de jornalistas chefiada pelo Sinval de Itacarambi, que hoje é o Diretor da revista Imprensa. Só que, quando combinamos tudo e eu me preparei para lançar, todo mundo foi preso pelos militares e eu não sabia! Todo mundo sumiu! “Cadê o pessoal que ia fazer a revista comigo?” Custei para descobrir a resposta dessa pergunta. Fiquei sem saber, não achava ninguém, não atendiam telefone... só depois de muito tempo, quando começaram a libertá-los, é que descobri. Era 1969. Então, a ditadura desmontou a minha célula de resistência das histórias em quadrinhos brasileiras. O projeto foi abortado até que veio a proposta da Editora Abril para fazer a revista Mônica e Sua Turma. O gibi começou em 1970, dando grande visibilidade à Mônica e garantindo recursos para que pudéssemos terminar nosso projeto de chegar a outros importantes jornais brasileiros. Mauricio tem um carinho especial por Horácio.

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JORNAL DA ABI – VOLTANDO AO INÍCIO DOS ANOS 60, VOCÊ AJUDOU A FUNDAR A ASSOCIAÇÃO DE DESENHISTAS DE SÃO PAULO-ADESP.

POR QUE ACONTECEU ESSE MOVIMENTO? Mauricio de Sousa – Na início da década de 60, quando assumiu a Presidência, o Jânio Quadros iniciou uma campanha pela valorização do material brasileiro e pediu para nós desenhistas criarmos condições para isso. Naquela época surgiram muitas revistas. Falavam sobre artistas de televisão, cinema, como Mazzaropi, Oscarito, os palhaços Arrelia e Pimentinha, o Vigilante Rodoviário e uma porção de outras publicações. Foi aí que criei a Associação dos Desenhistas do Estado de São Paulo. Provoquei o surgimento de outras associações no resto do País, mas também tive um problemão com a Folha. A Associação não tinha inclinação política. Mas naquela época ou você era de direita ou era de esquerda. Não havia meiotermo. Eu não era nada! Eu só queria fazer histórias em quadrinhos. Alguém disse: “Vamos fazer uma lei de proteção.” E eu perguntei: “Mas pra que lei de proteção?” Começamos a lutar por uma lei de proteção e a Adesp começou a ter uma conotação política. A Folha me chamou e mandou parar com aquilo. O Estado de S. Paulo publicou editorial chamando todo mundo de comunista. E eu falava que não podia parar, que não era comunista, que não poderia abandonar o barco, pois a luta era justa. Acabei despedido, mas fiquei com os clichês e passei a me dedicar somente às tirinhas.

quadrinhos do Piteco. Promoveram uma verdadeira campanha de marketing, anunciando a chegada de celebridades: o homem pré-histórico e os dinossauros. E foi um sucesso. Quando a Folha viu que eu tinha entrado no JB e depois na Tribuna de Imprensa, teve as garantias de que precisava de que eu não era comunista. Fui chamado novamente pelo Frias e pelo Caldeira, comecei a desenhar o Horácio, participei da criação da Folhinha e atraímos muitos novos leitores para o jornal. Em contrapartida tive auxílio para deslanchar: eles me alugaram meio andar do prédio ao lado do jornal por um preço simbólico, sem cobrar luz ou telefone. Era uma bela troca. O Frias e o Caldeira me ajudaram bastante e eu dava um sucesso danado para o jornal também. (Octávio Frias, dono da Folha; Carlos Caldeira, seu sócio.)

gando, pois acho que os quadrinhos podem voltar e com força. Tenho até um projeto diferenciado nesse sentido, mas não posso falar ainda sobre ele. JORNAL DA ABI – ESSA É UMA DAS LUTAS DA ABI: VALORIZAR O DESENHISTA NACIONAL.

NÃO SÓ DE QUADRINHOS, MAS ILUSTRADORES TAMBÉM.

Mauricio de Sousa – Outra coisa: a história em quadrinhos fideliza o jornal para a criança. Se não tiver esse tipo de material, o jornal morre. O pessoal não percebe isso. Eu brigo tanto com os jornais porque se a criança não pegar no jornal, ele vai acabar morrendo. JORNAL DA ABI – FALE SOBRE SUA RELA-

JORNAL DA ABI – A FOLHINHA TAMBÉM FOI CRIADA PARA ATRAIR NOVOS LEITORES? Mauricio de Sousa – Sim, era a proposta. Uma proposta minha e da Lenita Miranda de Figueiredo, que era jornalista. Queríamos que as crianças pegassem no jornal. Para mim não foi exatamente uma novidade, pois já estava publicando um suplemento em vários jornais com quadrinhos. Chamava-se Jornalzinho da Mônica. JORNAL DA ABI – VOCÊ JÁ TINHA UMA EQUIPE OU FAZIA SOZINHO?

Mauricio de Sousa – Eu tinha uma pequena equipe. Foi muito louco na época, porque eu trabalhava na Folha e também vendia para a cadeia dos Diários Associados. Eu tinha duas linhas de produtos: Chico Bento, Astronauta, Piteco iam para os Diários; e Mônica, Cebolinha, Jotalhão e Horácio iam para a Folha. Então, os meus próprios materiais competiam. Por isso, digo que meu trabalho nasceu tão ligado ao jornal. Hoje o perfil dos jornais mudou bastante, inclusive no que diz respeito às histórias em quadrinhos. Mas estou bri-

ÇÃO COM ADOLFO AIZEN E COM JAYME CORTEZ, DOIS GRANDES NOMES DOS QUADRINHOS

BRASIL. Mauricio de Sousa – O Aizen deu o pontapé inicial para as histórias em quadrinhos no Brasil. Era uma pessoa maravilhosa, respeitava os artistas, criou a Ebal quando ele lançou O Herói. Foi um marco porque ele se preocupava com a qualidade de impressão, do papel. Eu levei um susto quando vi aquelas revistas... era outra coisa. A gente não estava acostumado com aquele jeito de as histórias em quadrinhos serem publicadas, com melhor qualidade gráfica inclusive. Ele era uma simpatia e a equipe dele também! Visitei a Ebal, o museu dos quadrinhos, a locomotiva que tinha lá... era um sonho. Depois ele e a esposa visitaram o meu estúdio. Vieram com o Monteiro Filho, que fazia várias capas da Ebal. Foi uma visita histórica para mim. (Ebal: Editora Brasil-América Ltda.)

NO

JORNAL DA ABI – QUANDO FOI ISSO? Mauricio de Sousa – Nossa... isso tem tempo! Foi no começo da década de 70.

JORNAL DA ABI – POR ESSE TEMPO, SUAS TIRINHAS TAMBÉM COMEÇARAM A FAZER SUCESSO NO RIO DE JANEIRO. COMO CHEGOU LÁ?

Mauricio de Sousa – Naquele tempo, a imagem nacionalista estava sendo muito atacada e eu entrei em contato com a Tribuna da Imprensa para oferecer uma história brasileira. Mas devido ao contato de um editor amigo meu quem acabou me procurando para comprar quadrinhos foi o Alberto Dines, que comandava o concorrente Jornal do Brasil. O jornal tinha uma proposta nacionalista e promoveu uma campanha muito grande no Rio de Janeiro para o lançamento da história em

Maurício durante o 1° Congresso de História em Quadrinhos de 1974, em Avaré.


FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

nacionais como a Marvel, a DC ou fazem sucesso no Japão. A imprensa brasileira está virando as costas para esse pessoal aqui... renegando grandes talentos brasileiros.

JORNAL DA ABI – FOI O JAYME CORTEZ QUE PUBLICOU SUA PRIMEIRA REVISTA EM QUADRINHOS, NÃO?

Os Superamigos Amizades e negócios quase sempre andam juntos: com Osamu Tezuka (no alto), conversas para reunir num crossover a Turma da Mônica e Astro Boy; com Pelé, a criação do Pelezinho; com Kim Basinger, um projeto de um parque de diversões e de personagens infantis que acabou não se concretizando. Abaixo, o abraço fraterno a Will Eisner.

Mauricio de Sousa – O dia em que eu conheci o Cortez... ele me encheu de palavrões! (risos) Eu fui lá na Editora para vender uma história de terror para eles e eu já estava publicando as tirinhas do Bidu na Folha de S. Paulo. Mas a onda era história de terror. O pessoal ganhava dinheiro com histórias de terror e as tiras de jornal davam uma merrequinha. Aí eu pensei: “Puxa, preciso ganhar dinheiro!”. Então, fiz umas páginas de terror... uma porcaria porque eu não tinha jeito para aquilo! E levei pra ele... Aí ele olhou o material e falou: “Tu não és aquele gajo que faz aquelas historinhas do cachorrinho lá no jornal?” “Sou...” “Então porque me trazes essa merda? (risos) Trazes aquilo que tu estás acostumado a desenhar! “Mas...” “Mas nada!” Ai ele falou mais um monte de palavrões e eu voltei e fiz umas páginas com histórias em quadrinhos do Bidu e do Franjinha, levei e publicamos as primeiras revistas em quadrinhos do Bidu. Como eu não tinha equipe, não tinha nada, era repórter e tinha que trabalhar de madrugada para fazer as histórias, agüentei fazer uns cinco números só... tive que parar. Trabalhava, ganhava pouco, a Editora pagava um salário-mínimo para fazer uma revista inteirinha! Então não agüentei mais... mas foram as minhas primeiras revistas. Uma boa experiência graças ao Cortez. Só dez anos depois que tive condições de manter uma revista e foi quando lancei a Mônica. Quando Cortez ficou disponível no mercado, eu o chamei para ser Diretor de Arte do nosso estúdio. Ele trabalhou lá durante muitos anos. Acompanhou, por exemplo, o planejamento e a produção do primeiro desenho animado nosso, da Turma da Mônica, produzido pelo Daniel Messias, que passou na Globo e que tinha aquela música de Natal que todo mundo canta até hoje... ele é que, praticamente, coproduziu. E agora nós vamos refazer esse desenho e lançar de novo na Globo, depois de 40 anos. Então, o Cortez faz parte da história de nosso estúdio; orientou muita gente, orientou o pessoal do desenho animado que está comigo até agora. Ele foi fundamental na construção, na elaboração de nosso estúdio. JORNAL DA ABI – VOCÊ LANÇOU A REVISMÔNICA E SUA TURMA EM 1970 E UM ANO DEPOIS GANHOU O TROFÉU YELLOW KID, EM LUCCA, NA ITÁLIA. COMO VOCÊ RECEBEU TA

JORNAL DA ABI – QUANDO VOCÊ LANÇOU SUAS HISTÓRIAS, ELAS FIZERAM SUCESSO NÃO APENAS PORQUE ERAM BRASILEIRAS, MAS TAMBÉM POR CAUSA DO SEU TRAÇO SINGULAR E DOS ROTEIROS BEM CRIATIVOS. IMAGINAVA FAZER TANTO SUCESSO?

Em 1963, Mauricio participou ativamente da criação do suplemento infantil Folhinha de S.Paulo, e dois anos depois lançou pela FTD alguns livros infantis com personagens como Astronauta e Piteco (acima).

A NOTÍCIA DE SUA PREMIAÇÃO? AFINAL O YELLOW

KID É CONSIDERADO O OSCAR DOS

QUADRINHOS.

Mauricio de Sousa - Eu já estava lá. Era a terceira ou quarta vez que eu ia a Lucca apresentar os trabalhos, estava mostrando, fazendo a minha festa lá. Aí falaram pra mim: “Você precisa ir lá” e ninguém falava por quê. “Vai bem vestido, vai de gravata”. Na festa me chamaram e aí fui receber o prêmio... Custei a entender o significado e o peso da responsabilidade... Eles tinham, então, um motivo: uma revista numa grande editora, a coroação de um trabalho de dez anos de histórias em quadrinhos, uma publicação nova que representava uma saída para os quadrinhos brasileiros. JORNAL DA ABI – VOCÊ PARTICIPOU TAMESTADINHO? Mauricio de Sousa – Sim. Na década de 80, o Octávio Frias Filho remodelou o jornal e decidiu apostar em histórias mais voltadas para adultos. Nisso, o Estadão me chamou e criamos o Estadinho, que no começo era praticamente igual à Folhinha. Aos poucos, o caderno foi mudando seu perfil. Mas você falou sobre a valorização dos desenhistas nacionais. Em comemoração aos 50 anos de quadrinhos, lançamos dois livros em que 100 artistas brasileiros foram convidados para desenhar a turma da Mônica, com seu traço, seu estilo e sua história. Cada um fez à sua maneira. Esse pessoal não está sendo usado pelos jornais, mas por multi-

BÉM DA ELABORAÇÃO DO

Mauricio de Sousa – O sucesso foi uma soma de muitas coisas. Você até pode errar na dose, mas teve o negócio do texto, do ritmo, de a história ser linear, de falarmos a mesma língua – quer dizer, a língua da criançada, a língua da casa. Mas acredito que sucesso não se planeja. Você prepara uma carreira, monta uma estrutura, mas não sabe se vai ou não dar certo. O que fazemos aqui é procurar o melhor. O artista sempre está insatisfeito, quer o melhor, procura coisas que ainda não fez. Estamos sempre inventando novos personagens, criando novas revistas. Mas tudo o que temos hoje já começou a ser planejado quando comecei a desenhar. Já pensava em fazer histórias para os jornais, desenhar as tirinhas, depois em formato tablóide, revistas, desenhos animados, parques temáticos. Mas eu não inventei isso. Era uma tendência. Olhei e percebi que os norte-americanos já começavam a fazer isso. Adequamos para fazer no Brasil. Nossos quadrinhos não foram influenciados pela Disney. Nos anos 40 e 50, eles tinham bons desenhistas, mas eu achava suas histórias fracas. Havia outros bons modelos. Histórias clássicas do Li’l Abner, o Ferdinando do Al Capp; o Spirit, do Will Eisner; Brucutu, de Vincent Hamlin, e outras me mostraram que não precisávamos ficar no básico. Podíamos fazer quadrinhos mais elaborados, sofisticados. Não acho que inventei nada. Apenas recriamos em um contexto diferente. Outro personagem de que gosto muito é o Asterix. Ele tem a qualidade de ser o detonador para o processo de leituras mais sofisticadas. A criança pode ler outras histórias, mas quando encontra as do Asterix começa a buscar algo mais cabeça. Zé Vampir e Penadinho eram desenhados assim em 1965.

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lha da Tarde, do mesmo Grupo Folha, no começo da minha carreira. Eu chegava da Polícia e tinha meia hora para ler o noticiário do jornal. Precisava escolher duas matérias e ilustrar com desenho simples para colocar como chamada de capa no jornal. Não tinha tempo nem de fazer rascunho; tinha que olhar aquilo e sair quase que psicografando o negócio. Foi uma escola também para eu dominar o traço simples e rápido. JORNAL DA ABI – O RITMO ALUCINANTE REDAÇÃO, ENTÃO, MOLDOU SEU ESTILO? Mauricio de Sousa – Realmente, aprendi na loucura. Hoje podemos sofisticar um pouco mais graficamente. Mas sempre me perguntam por que a Mônica não tem sapatos. Assim como o Cascão e a Magali, a Mônica não tinha sapatos porque eu não tinha tempo de desenhar sapatos. E por que o Cebolinha tem sapatos? Porque quando criei o Cebolinha fazia uma tira só; então, tinha tempo de desenhar sapatos. Quando comecei a desenhar várias tiras, fiquei sem tempo. Quem nasceu com sapatos não podia perdê-los; quem nasceu sem sapatos não podia mais ganhá-los.

Os personagens Pelezinho e Ronaldinho Gaúcho tiveram carreira internacional. Abaixo, capa da revista na França. Ao lado, a Turma da Mônica Jovem em estilo mangá é um enorme sucesso em vendas.

DA

JORNAL DA ABI – O CEBOLINHA VEIO PRIMÔNICA? Mauricio de Sousa – É. O Cebolinha surgiu com sapatos e o Cascão sem sapatos, mas ambos nasceram juntos. Mas durante muitos meses eu tive medo de lançar o Cascão por causa do hábito dele de não tomar banho. Tinha receio do pessoal pegar no meu pé, criticar muito. Então, o Cebolinha foi na frente. Depois eu falei para a minha mulher, a mãe da Mônica, da minha dúvida. E ela me convenceu de que era besteira. Arrisquei, mas já não dava tempo de desenhar sapatos. MEIRO QUE A

JORNAL DA ABI – VOCÊ AINDA LÊ HISTÓRIAS EM QUADRINHOS?

Mauricio de Sousa – Quando tenho tempo, procuro ler tudo que dá de histórias em quadrinhos. Mas não gosto de coisas muito dramáticas, sofridas. Prefiro as mais leves, cômicas, de ficção científica e de aventuras. JORNAL DA ABI – E OS QUADRINHOS JAPONESES, VOCÊ GOSTA?

Mauricio de Sousa – O problema é que a maioria dos mangás japoneses apela muito para a violência. Um personagem que eu e meu filho de onze anos gostamos muito é o Naruto. É uma trama bem produzida e alicerçada, apesar de acharmos que, às vezes, exagera na violência. Já outros desenhos são insuportáveis. Penso que devemos dar às crianças algo mais leve, que as estimule a pensar e não transformar as revistas em divãs de psicanalistas. JORNAL DA ABI – VOCÊ TAMBÉM JÁ FALOU BOLINHA E DA LULUZINHA SOBRE SEU TRABALHO. EM QUE ESSOBRE A INSPIRAÇÃO DO

SES PERSONAGENS TE INSPIRARAM?

Mauricio de Sousa – Foi a última inspiração que eu tive. Como disse, tive outras. Meu estilo de desenho sempre foi meio parecido com a Marta, de Luluzinha, simples. Só que eu via os outros desenhistas norte-americanos, muito sofisticados em termos de arte, grafismo. Eu tinha um pouquinho de receio, de medo, pois me achava muito simples, pedagógico. Quando vi o sucesso da Luluzinha, isso me encorajou. A Luluzinha me deu coragem para apostar no desenho que eu já fazia. Meu traço é ágil, rápido. Parece com aquele cineminha que eu fiz com 13 ou 14 anos, de brincadeirinha. A minha avó contava histórias e eu ilustrava, desenhava aqui, colava com cola de farinha de trigo, fazia uma manivela, botava num caixote, cortava, fazia uma telinha, colocava a vela atrás, passava e contava a história. Aquilo foi uma excelente forma, que me permitiu criar estilo próprio. Outra coisa que me ajudou a criar um estilo simplificado de desenho foi ter começado a fazer ilustrações para a Fo-

Popular, Mauricio de Sousa já apareceu diversas vezes em aventuras junto com a Turma da Mônica.

JORNAL DA ABI – ALIÁS, QUAL A INSPIRAÇÃO PARA SEUS PERSONAGENS?

Mauricio de Sousa – A maioria de meus personagens é inspirada em pessoas reais, gente que conheço, familiares e amigos. A Mônica, a Magali, o Do Contra, o Nimbus são filhos. A Mônica tinha mesmo um coelho, mas não batia em ninguém com ele, pois era maior que ela. Mas acho que pensei na idéia em algum momento meu de mais “agressividade”. (risos) Nem na Turma da Mônica Jovem eu inventei. Minha filha Mônica, quando tinha seus 15 anos, era daquele jeito: vaidosa, gostava sempre de estar elegante e bem arrumada. Optei por desenhar a Turma da Mônica Jovem em estilo mangá, porque esse estilo japonês ganhou o mundo e atrai muitos jovens. Foi uma estratégia acertada: a revista é a publicação de quadrinhos brasileira mais lida no mundo, com mais de 400 mil exemplares por edição. Ainda devemos fazer o Chico Bento Jovem, no mesmo estilo. JORNAL DA ABI – ALÉM DO TRAÇO E DA CONSISTÊNCIA NAS HISTÓRIAS, O QUE MAIS JUSTIFICA QUE, CINCO DÉCA-

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DAS DE DESENHOS DEPOIS, SEUS PERSONAGENS CONTINUEM TÃO APRECIADOS?

Mauricio de Sousa – O que ajuda um personagem a durar – com sucesso – tanto tempo é o cuidado que o autor tem com esse personagem. E o autor durar também. (risos) Nunca disse estar farto da Mônica e espero que ela nunca diga isso de mim também. Sei que montei uma verdadeira “indústria” de histórias em quadrinhos. Por isso, preocupo-me com a continuação dessa “empresa”. Nesse sentido, trabalhamos a fidelização do nosso público e a sucessão, quem virá depois de mim. Dos meus dez filhos, seis já trabalham comigo. Dá para escolher. Três chegaram agora, são mais novos, o que dá um gás renovado e atual às histórias. A Marina, de 24 anos, por exemplo, faz roteiros. Eu examino os roteiros de tudo o que sai. Tem também o Mauro, mais ligado ao teatro, e o Mauricio, que cuida de uma área de tecnologia, mais ligada à internet. Enquanto isso, a Mônica está cuidando da parte comercial, a Vanda, de projetos especiais, inclusive ligados a nosso instituto cultural; a Valéria ajuda na área internacional. É uma empresa familiar, mas não apenas da minha família. Vários funcionários também trazem seus parentes para trabalhar aqui. Isso me dá a certeza de fidelidade e durabilidade. Tenho gente que trabalha há mais de 40 anos comigo, sem problema nenhum. JORNAL DA ABI – ESSA “INDÚSTRIA” VIROU UMA AUTÊNTICA MULTINACIONAL DA CULTURA...

Mauricio de Sousa – Somos multinacionais. Os personagens de Ronaldinho Gaúcho já estão em 32 idiomas. Em 2010, quero chegar a 60 ou 70 países do mundo com desenhos animados. Trabalhamos em co-produção não apenas no Brasil, mas


FOTOS: FRANCISCO UCHA

O irmão de Mauricio de Sousa, Márcio Araujo (de pé, à esquerda) cuida da finalização dos desenhos animados e das trilhas sonoras. O desenhista Zazo Aguiar faz as capas da Turma da Mônica Jovem (direita). Embaixo, diversas etapas da produção das revistas em quadrinhos: o letreiramento de uma história do Ronaldinho Gaúcho; os roteiros de histórias da Dorinha e do Chico Bento esboçados pelo roteirista Robson B. Lacerda, e a colorização de uma história da Tina.

na Itália, na China e em outros países. Isso permite produzirmos mais rapidamente e com mais qualidade os desenhos, de forma a entrar com força na televisão aberta no mundo inteiro. Depois disso, acredito que o licenciamento e o merchandising nos darão condições financeiras para entrar em outros espaços. Isso nos permitirá novos investimentos em parques temáticos e na área educacional. JORNAL DA ABI – E VOCÊ CONTINUA DESENHANDO? Mauricio de Sousa – Infelizmente já não desenho mais, a não ser as histórias do Horácio, mas reviso todos os roteiros. Todas as histórias passam por mim. Idéias nunca faltam. Quanto mais

você tem, mais vêm. É um poço sem fundo. Junto com os roteiristas e desenhistas, produzimos uma nova revista a cada dois dias. Temos uma equipe de 150 pessoas trabalhando conosco diretamente, sem contar os indiretos. Eles produzem histórias com uns 300 personagens. Alguns personagens ficaram para trás. Mas não digo que fracassaram. Isto seria como negar a um filho. Não me arrependo de nada, apenas tento consertar o que não deu certo. JORNAL DA ABI – É VOCÊ MESMO QUE FAZ ORKUT, O SEU TWITTER? Mauricio de Sousa - Sim. Sou eu mesmo. Falo apenas da superfície do que eu faço. E coloco muitas fotos... O SEU

JORNAL DA ABI – VOCÊ TEM COMPARTITWITTER MUITAS FOTOS HISTÓRICAS. POR QUÊ? SAUDOSISMO? Mauricio de Sousa – É... realmente quero ficar mais assíduo na história dos quadrinhos e na minha história nos quadrinhos, inclusive no meu contato com outros autores. Depois pretendo fazer um álbum ou uma revista com o material que estou publicando no Twitter para documentar essa história, para não ficar solto. Na internet fica solto, não há uma continuidade cultural. Talvez até crie um endereço na internet dedicado só para falar dessa história dos quadrinhos. Mas já conversei com a Panini e eles estão estudando uma puLHADO COM SEUS SEGUIDORES DO

FOTOS: DIVULGAÇÃO

No HQMix 2010, Mauricio recebeu das mãos de Sonia Luyten um presente especial do escultor Olintho Tahara, responsável pelos troféus do prêmio: um Astronauta personalizado. Durante as Olimpíadas de Pequim, Mauricio teve a oportunidade de mostrar ao Presidente Lula o trabalho educativo de grande impacto que ele desenvolve com o apoio do Governo chinês para alfabetizar milhões de crianças naquele país.

blicação em cima do que eu coloco no Twitter. Não só com o material histórico, mas também com as coisas que estão acontecendo no dia-a-dia. JORNAL DA ABI – VOCÊ CONHECEU AS PRIMEIRAS PALAVRAS ATRAVÉS DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS. AGORA, PRETENDE ATUAR NA EDUCAÇÃO NA PRÓXIMA DÉCADA. FALE UM POUCO SOBRE ISSO.

Mauricio de Sousa – Queremos trabalhar em alfabetização e no ensino de valores para as crianças não somente com quadrinhos, mas também com desenhos animados e livros. Projetos em parceria com os governos, mas não necessariamente dependendo deles. Já temos condições de embarcar nessas ações. A nossa próxima década será a da educação. Na China, por exemplo, firmamos um contrato para que 180 milhões de crianças sejam alfabetizadas com a Turma da Mônica. Uma empresa de Xangai nos contratou, juntamente com a Discovery e BBC. Gostaram da nossa proposta filosófica. Estamos abrindo caminho aí para 200 milhões de chineses chegarem à idade adulta com a Turma da Mônica na cabeça. Eu não sei o que vai acontecer com isso, mas vai acontecer. Serão os futuros dirigentes na China. Também estamos entrando com propostas parecidas na Coréia, Vietnã e Indonésia. Espero que um dia faça no Brasil também. JORNAL DA ABI – POR QUE A RESISTÊNCIA? Mauricio de Sousa – Estou propondo esse tipo de trabalho há uns quatro ministros da Educação. Às vezes, a resistência não é do Governo. O Lula já me Jornal da ABI 362 Janeiro de 2011

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No último dia 4 de janeiro Mauricio postou esta foto no Twitter com a seguinte legenda: Cebolinha 50 Anos: acabei de receber. Está sensacional! Durante as comemorações dos 30 anos de criação da Mônica, em 1993, vários desenhistas de renome enviaram ao Mauricio desenhos com interpretações pessoais da personagem. Milo Manara fez a bela ilustração ao lado. Embaixo, a revista da Mônica na Indonésia.

disse que quer. Mas aí precisa passar por Ministérios, por comissões e aparece gente falando que o Mauricio não precisa disso, sugerindo que faça por conta própria. Ou acusando de que a minha motivação é ganhar dinheiro e vender mais produtos. Também existem aqueles que acusam a Mônica de ser agressiva, o Cascão de não tomar banho e buscam problemas em outros personagens. Sempre há alguma coisa atrapalhando, e com isso a gente vai perdendo tempo precioso de poder passar para a criançada um processo tipo Vila Sésamo de pré-alfabetização. Nos Estados Unidos, houve o mesmo problema para alfabetizar os filhos dos imigrantes que não falavam o inglês. Aqui nós não temos mais o problema com o imigrante, temos o problema do brasileiro. Ele precisa ler mais cedo, precisa se alfabetizar até antes de entrar na escola. Principalmente agora, que chega e não sabe nem pegar no lápis. Se nós ensinarmos pela televisão essa criançada que não tem

acesso ao ensino infantil, eles começam a treinar em casa, começam a brincar de aulinha. Se nós criamos produtos que de alguma maneira apontam para esse tipo de preocupação, eu penso que realmente estaremos no caminho para furar a barreira dos... pedagogos “analistas” cujos critérios eu não entendo bem, mas... devem ter lá os seus critérios. Temos que respeitá-los, logicamente, e torcer para que a gente esteja acertando... Enquanto não estou acertando deste lado, vou acertando do outro, alfabetizando milhões de crianças nesses anos todos naqueles países, com gibis, com livros, com desenhos animados... Eu faço o que eu posso. JORNAL DA ABI – PRODUZIR EM ESCALA GLOBAL DEVE SER BASTANTE CUSTOSO E COMPLEXO. Mauricio de Sousa – É caro, especialmente desenhos animados. Nosso plano era entrar com tudo nesse mercado já no ano 2000. Montamos todo o esque-

ma com a TV Globo, mas depois o contrato não foi adiante e nos atrasamos. Estamos agora retomando a produção em desenho animado. Quero ver se no ano que vem chegamos a 40 ou 50 países. Daí a gente vai ratear os custos e o preço baixa para entrar em mais países. As revistas já estão na Holanda, Grécia, França. Esse material da China, por exemplo, na zona de Xangai é em papel; no resto do país será disponibilizado pela internet. Pelo menos não podem nos acusar de destruir os recursos do planeta. JORNAL DA ABI – COMO SURGIU A PARCEMAURICIO DE SOUSA COM O RUBEM ALVES? Mauricio de Sousa – Estamos planejando com a Editora Record/Verus várias coisas de que ainda não posso falar, mas queríamos lançar algum produto que estivesse pronto para a Bienal do Livro deste ano e não dava tempo de eu escrever uma história. Então sugeriram o material do Rubem, que tem uma penetração muito grande com educadores. Eu vi a profundidade dos textos e falei: “Opa! Isso eu quero ilustrar”. Não é um texto tão infantil, principalmente o Pinóquio às Avessas, que é um livro mais para os pais dos alunos. Fizemos uma ilustração diferenciada da infantil, com outro tratamento. Agora, A Menina e Pássaro Encantado é uma história bonita, gostosa, na linha de O Pequeno Príncipe, e fizemos com o desenho tradicional. Chamei a minha turma, orientei e deu tempo de fazer para a Bienal deste ano. O Rubem Alves é uma sumidade... dá RIA DO

Mauricio de Sousa deve investir ainda mais em desenhos animados a partir deste ano. A turma do Penadinho estreou no dia 31 de outubro dentro do Especial do Dia das Bruxas do Cartoon Network.

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vontade de ficar ouvindo-o falar o tempo todo pela forma como ele explica de onde vem a idéia, a inspiração, as emoções que ele passa e transforma num texto. Estou aprendendo com ele. JORNAL DA ABI – E SOBRE OS NOVOS PROJETOS?

Mauricio de Sousa – Muitos desenhos animados e muitos livros, principalmente na área paradidática. Nós temos acordos de publicação com 12 editoras, porque cada uma tem uma especialidade; vai para um nicho de mercado. E nós trabalhamos para um público supervariado. Então, tenho que trabalhar com editoras diferentes. As editoras não são concorrentes: uma publica livros paradidáticos; a outra, entretenimento; a outra, cultura, e assim nós vamos espalhar mais livros porque o pessoal precisa ler. Se nós pudermos usar imagem, figuras, desenhos, grafismos para puxar mais o leitor, vamos puxar mais leitores! Vamos criar os habituês pela leitura porque a pessoa quando começa a ler não pára mais e é isso de que se precisa neste País. O leitor precisa sentir que há uma cumplicidade dele com o autor ou com o grupo editorial. Não é papel pintado. Isso aqui tem espírito, tem mensagem, tem conteúdo. Por isso temos que fazer com que a turma leia, leia, leia cada vez mais, porque aí não pára mais! Assim o povo não é mais enganado e assim nós vamos mudar este País. Estamos numa democracia mas está faltando o acabamento. Colaborou Marcos Stefano. Entrevista feita em novembro de 2009 e agosto de 2010.


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Jean (ao lado), que criou uma história com o Louco e o Cebolinha, disse que Mauricio de Sousa é uma referência também como empresário: “Ele foi capaz de levar seus personagens para diversos países e culturas e se manteve sempre atualizado.”

No traço dos melhores Homenagem aos 50 anos de carreira de Mauricio de Sousa resulta em livros que formam uma antologia com a participação dos mais conhecidos nomes dos quadrinhos brasileiros. POR M ARCOS STEFANO O mercado de histórias em quadrinhos passa por um momento de efervescência no Brasil. É bem verdade que, se ainda está longe do ideal, termos como instabilidade e crise parecem cada vez mais distante de seu, para usar um jargão próprio do meio, “universo”. Chegar até este ponto não foi nada fácil, mas se existe uma figura emblemática desse processo ela é a do desenhista Mauricio de Sousa. Apontado como exemplo e fonte de inspiração, ele é considerado pelos nossos grandes desenhistas como o “Walt Disney brasileiro”. E, após mais de 50 anos de carrei-

ra, nada melhor do que o devido reconhecimento, que veio com o lançamento no final de 2009 do livro MSP 50 Mauricio de Sousa Por 50 Artistas, publicado pela Panini Comics. Ainda mais do que uma homenagem ao criador da Turma da Mônica, a obra é um libelo do atual momento pelo qual os quadrinhos nacionais passam. Cinqüenta dos melhores ilustradores, desenhistas, cartunistas, chargistas e quadrinistas brasileiros foram convidados para emprestar seus traços e produzir histórias com Magali, Cebolinha, Chico Bento, Cascão e companhia. Cada qual poderia escolher seu personagem, mas sem copiar o estilo de Mauricio de Sousa. O traço deveria ser original. A coletânea reuniu os mais variados estilos e temas com expoentes do gênero, como Vitor Cafaggi, Jean Galvão, Walmir Orlandeli, Ziraldo, Laerte, Julia Bax, Angeli, Wander Antunes, Marcelo Campos, Fernando Gonsales e Ivan Reis. Sidney Gusman, editor do site Universo HQ e idealizador do projeto, acertou em cheio a mão. Mais do que um belo álbum, faz uma antologia dos quadrinhos nacionais que mistura talento e ótimo argumento. Na obra, as histórias assemelham-se a contos. As mais fracas são muito boas. Muitas são ótimas. E várias são excelentes. “Fui alfabetizado lendo quadrinhos. Quando recebi o convite para participar dessa homenagem, quase não consegui

me conter. Ter a liberdade de mexer num universo que faz parte da nossa cultura é maravilhoso, mas também uma grande responsabilidade. Afinal, Mauricio de Sousa é o nosso Disney. Meu traço é meio sujo, rabiscado, com um pé no underground. Por isso, lembrei do Capitão Feio, um vilão com sua horda, saindo dos esgotos. Parecia um prato cheio para desenvolver uma boa história e apostei minhas fichas nele”, conta Orlandeli, conhecido pelos quadrinhos e charges que publica em jornais e por personagens como Grump. Autor de charges na Folha de S. Paulo e tiras de quadrinhos nas revistas Recreio e Runners, Jean Galvão diz que Mauricio de Sousa não é apenas uma referência como artista, também é como empresário. Alguém que foi capaz de levar seus personagens para diversos países e culturas e com criatividade para se reinventar e se manter sempre atualizado: “Aprendi a desenhar copiando desenhos da tv e dos gibis, como os da Mônica. Quando comecei a fazer minha história para o livro, não pensei em um roteiro do início ao fim. Um quadrinho foi puxando outro. Daí, quase não consegui parar mais. Desenhos e ilustrações estão hoje em alta. Mas não dá para dizer o mesmo das charges, já que muitos jornais não têm espaço para elas”, conta ele, que em MSP 50 escolheu as personagens Louco e Cebolinha para trabalhar. A aposta tornou-se um sucesso. E como o número de artistas era maior do que o livro poderia comportar, um segundo volume foi lançado em agosto de 2010: MSP + 50 – Mauricio de Sousa Por Mais 50 Artistas. Já está em produção um terceiro volume da série, com outros talentos que não entraram nessas duas edições e que breve deve chegar às livrarias: “O trabalho está sendo colorizado e

ainda é cedo para dar mais detalhes. Mas é um desafio se distanciar do traço do Mauricio. Acho fantástico o design que ele criou. Eu me esforcei ao máximo para imprimir meu estilo, mas achei legal manter algumas características do traço oficial. Acredito que quem gostou dos outros dois gostará também do terceiro. A coleção é realmente um compêndio dos quadrinhos nacionais”, afirma Eduardo Francisco de Jesus, um dos mais conhecidos ilustradores brasileiros no mercado norte-americano e que participará do novo volume em parceria com o roteirista Marcelo Cassaro. DIVULGAÇÃO

Orlandeli e seu Capitão Feio (à esquerda): “Ter a liberdade de mexer num universo que faz parte da nossa cultura é maravilhoso, mas também uma grande responsabilidade”.

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Os quadrinhos chegam à Academia Com a eleição de Mauricio de Sousa para imortal, a Academia Paulista de Letras quer aumentar o diálogo com a sociedade. POR M ARCOS STEFANO Histórias em quadrinhos finalmente estão ganhando status de literatura. E a confirmação disso se deu em dezembro, quando o cartunista, ilustrador e escritor Mauricio de Sousa foi eleito o mais novo imortal da Academia Paulista de Letras-APL. O criador da Turma da Mônica ocupará a cadeira de número 24 da instituição, que pertencia ao poeta e jurista Geraldo de Camargo Vidigal, morto em agosto. Mas degustar o tradicional chá das reuniões da entidade, nas tardes das quintas-feiras, na companhia de personalidades como Walcyr Carrasco, Ignácio de Loyola Brandão, Ruth Rocha, Lygia Fagundes Telles, Antônio Ermírio de Moraes, Miguel Reale Júnior, Gabriel Chalita e Jorge Caldeira, entre outras, deverá ser apenas uma das tarefas do novo acadêmico. A centenária APL planeja uma revolução em sua atuação junto à sociedade paulista. E Mauricio pode ser uma das peças que faltavam para esse novo momento. Primeiro quadrinista a conquistar a honraria, Mauricio de Sousa disputou a condição de imortal, nome como se torna conhecido o membro da Academia, com o advogado Joaquim Cavalcanti de Oliveira Lima Neto. Em outros tempos, nos quais histórias em quadrinhos não passavam de entretenimento sem maior propósito, certamente teria perdido e por grande diferença de votos. Nesse novo momento, no entanto, com resistências vencidas, conquistou a preferência de 30 dos 36 presentes à sessão. Autor de textos, mas textos dentro de balões, como ele mesmo costuma dizer, Mauricio recebeu a notícia do próprio Presidente da APL, o jornalista e desembargador José Renato Nalini, durante um coquetel realizado em sua homenagem, na sede da Editora Globo, em São Paulo, pouco depois. Sintonizado com os propósitos da Academia, Mauricio, que ainda não foi empossado, falou sobre a emoção que sentiu ao receber a nova distinção e sobre seus planos na instituição: “Além da honra de me sentar ao lado de luminares da literatura e da intelectualidade, beber de suas luzes e inteli-

gências, gostaria de atrair crianças e jovens para conhecerem a APL e seus representantes. E, com estes, discutir eventos que possam rejuvenescer a Casa com a presença dessas crianças; afinal, são leitores ou futuros leitores das nossas letras. Sem esquecer meu lado de quadrinhos, que me trouxe até aqui e abriu caminho para minhas incursões também em livros.” Para quem pensa ser esta uma proposta audaciosa, não é mais do que a própria Academia espera do quadrinista. Assim como a Academia Brasileira de Letras, a APL foi criada segundo o modelo da Academia Francesa, instituída em 1634 pelo Cardeal Richelieu. Fundada em 27 de novembro de 1909, por iniciativa do médico carioca Joaquim José de Carvalho, a entidade paulista enfrentou seguidos períodos de inatividade e ressurgimento. O mais novo desses momentos de ressurreição é aquele pelo qual ela passa agora, a começar pela reforma de sua sede, um prédio histórico localizado no Largo do Arouche, no Centro de São Paulo. Levantada entre 1948 e 1953, a construção nunca havia passado por reforma. Molduras de obras de arte tinham cupins, tapetes e carpetes estavam rasgados e o teto do auditório tinha desabado por causa das infiltrações. Graças a uma parceria com o Governo do Estado, o auditório e o primeiro andar já foram restaurados. Restam ainda outros dois andares. Quando tudo estiver pronto, a Academia pretende realizar ali eventos como palestras e cursos sobre temas atuais, cinema, teatro e artes plásticas, coquetéis e lançamentos de livros.

“Os quadrinhos são a porta de entrada de boa parte da juventude para as demais modalidades literárias. E esperamos que o Mauricio nos ajude nesse processo de formar novos leitores.”

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Portas abertas Outra proposta é facilitar o acesso às mais de 100 mil obras de sua biblioteca. Por enquanto, os livros só podem ser emprestados pelos acadêmicos. Demais interessados precisam agendar visita com antecedência e podem apenas consultar as obras. A idéia é firmar uma parceria com alguma grande universidade ou instituição para transformar o lugar em um espaço de convívio, além de digitalizar os livros – inúmeros deles raros – e disponibilizar o acervo pela internet.

“Queremos abrir as portas da Academia ao povo paulista, contribuir não apenas nos debates sobre questões como educação e democracia, transformando a entidade num “grilo-falante” da sociedade, numa pedra no sapato das autoridades, uma voz da consciência. Mas também construindo diretamente o futuro pela promoção desses eventos. Quem não gostaria de participar de um encontro com a escritora Lygia Fagundes Telles, uma das autoras mais importantes da literatura nacional, imortal tanto da APL quanto da ABL, ou com Paulo Bomfim, o “príncipe dos poetas” e nosso membro mais antigo?”, questiona o acadêmico José Renato Nalini. A proposta de revolucionar a vida da Academia é colocada em prática desde a gestão do jurista e professor Ives Gandra Martins, quando a APL resgatou uma preocupação já presente em sua fundação: ser a mais representativa possível da sociedade. Entre seus imortais há real preocupação de se ter a participação não somente de escritores profissionais, mas também de juristas, médicos, engenheiros, jornalistas e médicos. Nos últimos tempos, as eleições, decididas tantas vezes na base da amizade, passaram a dar mais importância às obras e ao renome dos escolhidos. Na teoria, qualquer autor de texto publicado pode concorrer à vaga, enviando uma carta ao Presidente da instituição e anexando currículo e exemplar da obra. Nem precisa ser nascido em São Paulo. Basta residir na cidade. Mas, na prática, os eleitos são muito bem selecionados. Outra mudança é a ampliação do leque de ocupação dos acadêmicos. Júlio Medaglia, por exemplo, é maestro; já Benedito Lima de Toledo, arquiteto. Gabriel Chalita é um educador; por sua vez, Raul Cutait é o médico-cirurgião do ex-Vice-Presidente José de Alencar. Walcyr Carrasco e Tatiana Belinky são figuras importantes da televisão. O primei-

ro é um consagrado novelista. Ela, uma das mais profícuas escritoras infantojuvenis da atualidade, é apontada como a grande responsável por trazer crianças e adolescentes para a tv, ainda em suas primeiras décadas no País, com exuberantes adaptações. A religião católica também mostra sua força na entidade. No quadro dos imortais está um sacerdote, Dom Fernando Antônio Figueiredo, especializado em Patrística e mentor do carismático padre Marcelo Rossi. Mesmo assim, nenhuma ousadia se compara à eleição de Mauricio de Sousa. O quadrinista deverá ser empossado no fim de fevereiro, em cerimônia que também marcará a posse da nova gestão da APL. À frente da Academia estará, a partir de então, o advogado, jornalista e cronista Antônio Penteado Mendonça. Mas a proposta de continuar a abertura permanece, especialmente aproveitando a popularidade do criador da Mônica, um dos dez escritores mais admirados no Brasil em todos os tempos, segundo pesquisa do Ibope para o Instituto Pró-Livro, realizada em 2008. “O diálogo com a sociedade deve ser ampliado. Os quadrinhos são a porta de entrada de boa parte da juventude para as demais modalidades literárias. E esperamos que o Mauricio nos ajude nesse processo de formar novos leitores. Quando conscientiza usando seus personagens sobre temas como o cuidado com o planeta, ele mostra que sua obra ultrapassa a arte. Esse é o alvo da Academia. Ano passado, Monteiro Lobato, que foi imortal da APL, quase foi censurado numa absurda acusação de racismo. Ignácio de Loyola Brandão chegou a ter um de seus contos tachado de obsceno. Obscena é a realidade do Brasil, uma das maiores economias do mundo, mas com péssima educação e elevadíssimas taxas de analfabetismo funcional”, conclui Nalini que, a partir do fim de fevereiro, será o SecretárioGeral da Academia.


O BEIJO ARDENTE DE B ATMAN EM TALIA, A FILHA DE UM INIMIGO MAQUIAVÉLICO : R A 'S AL GHUL . À DIREITA , A FACE MARCADA DO PISTOLEIRO JONAH HEX ASSUSTOU MUITAS PESSOAS NO OESTE SELVAGEM .

X Mauricio de Sousa ganha o prêmio Yellow Kid do Salão de Lucca, na Itália, considerado o “Oscar” dos quadrinhos (veja crônica na página 48). X Em 1969, o escritor Dennis O’Neil e o desenhista Neal Adams passaram a trabalhar na reformulação total de Batman Batman, afastando-o da aparência caricata que a série de tv impôs ao personagem. Na realidade, como disse O’Neil na época, sua idéia “era simplesmente levá-lo de volta à sua origem”. Com um trabalho magistral de Neal Adams, o cruzado ganhou contornos mais soturnos e histórias mais densas, além da inclusão de novos personagens, como Man-Bat (Morcegomen), criado pela dupla Adams e Frank Robbins em 1970. E o ponto alto dessas mudanças acontece em junho de 1971 com a entrada de um grande vilão em cena: Ra's al Ghul Ghul. Ele e sua filha Talia infernizam a vida de Batman. O personagem estrearia no cinema em 2005 no filme Batman Begins, de Christopher Nolan, interpretado por Liam Neeson. X Aparece o livro Octobriana Underground, and the Russian Underground escrito pelo tcheco Petr Sadecky, que revela ao mundo a existência de uma heroína underground russa, Octobriana Octobriana, que teria sido criada em 1960 por um grupo de dissidentes soviéticos, auto-intitulado P P P (Pornografia Política Progressiva). O nome seria uma alusão ao “verdadeiro espírito da Revolução

de Outubro”. O livro causou interesse no Ocidente, mas, na verdade, tudo não passou de uma farsa. Sadecky era um picareta, que convenceu dois artistas tchecos, Bohumil Koneèný e Zdenek Burian, a produzirem a história alegando já ter um editor em vista. A personagem se chamaria então Amazona Amazona. Sadecky fugiu para o Ocidente com os originais na mala, onde conseguiu interessar editores, forjando a história de que ela seria um produto clandestino da União Soviética. Mais tarde, Koneèný e Burian chegaram a processar Sadecky num tribunal da Alemanha Ocidental. Ganharam, mas não levaram, pois não conseguiram recuperar os direitos nem os originais. Como a personagem não tinha copyright, sendo, portanto, de domínio público, diversos artistas, entre eles Brian Talbot, usaram Octobriana em outras histórias.

Paulo Caruso, Laerte e Angeli, todos ainda em formação. X Henfil passa a trabalhar no Jornal do Brasil, onde cria Zeferino Zeferino, Graúna e o bode Francisco Orellana com os quais mostra a realidade do agreste brasileiro.

X Manuel V Victor ictor Filho recebe o Prêmio Jabuti pelas ilustrações das obras de Monteiro Lobato.

1972 X Oito anos depois de sua revista ser cancelada, as histórias do Pererê, de Ziraldo, são reunidas na série de livros A Turma do Pererê Pererê, publicados pela Gráfica Editora Primor. X Iniciativa de alguns alunos da Usp e seus parceiros, surge um marco na imprensa alternativa: B alão alão, que revela jovens talentos como os irmãos Chico e

X Com roteiro de John Albano e desenhos de Tony de Zuniga, surge, na revista All-Star Western n°10, o caçador de recompensas Jonah Hex Hex, um ex-soldado confederado que teve seu rosto marcado para sempre. X Fundada pelos conceituados roteiristas e desenhistas de quadrinhos Marcel Gotlib, Claire Bretécher e Nikita Mandrykam, surge, em maio, a revista francesa L’Écho des Savanes Savanes, que se manterá com a mesma fórmula até 1982. A revista encerra sua carreira em 2006. X Os editores Joe Orlando e Carmine Infantino, em busca de mão-de-obra para ilustrar suas histórias em quadrinhos, vão às Filipinas e recrutam os melhores artistas locais, entre eles Alfredo Alcala Alcala, Nestor Redondo e Alex Niño Niño. A “invasão filipina” havia começado um pouco antes, quando Tony de Zuniga Zuniga, criador de Jonah Hex, começou a vender seus trabalhos para a editora americana, e revelou ao mundo a existência dos talentosos artistas, que há décadas abasteciam as revistas daquele país.

torna tão popular que vira filme de animação destinado ao público adulto. Dirigida por Ralph Bashki, a produção se torna um grande sucesso, mas os desentendimentos entre o autor e o diretor levam Crumb a tomar uma decisão drástica: matar seu personagem. Nesse mesmo ano, ele publica uma hq em que o gato Fritz é assassinado por uma ex-namorada. X Com um ótimo cardápio de tiras que inclui Hagar, Kid Farofa, Zé do Boné, Peanuts, Mafalda, Mago de Id, B.C. entre outras, começa a circular a revista Patota atota, lançada pela Artenova. A editora também passa a publicar uma série de livros de bolso com as tiras dos Peanuts eanuts, de Charles Schulz. O primeiro título é Puxa Vida, Charlie Brown!, e os livrinhos se tornam um sucesso de vendas, abrindo espaço para o lançamento de

X Comemorando meio século da travessia aérea do Atlântico, realizada por Sacadura Cabral e Gago Coutinho em 1922, a Ebal antástica lança o álbum A FFantástica Aventura (ao lado), com desenhos de Eugênio Colonnese, roteiro de Pedro Anísio e capa de Monteiro Filho. X Publicado desde 1965, Fritz Cat, de Robert Crumb, se the Cat Jornal da ABI 362 Janeiro de 2011

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BURNE HOGART EXPLOROU O MOVIMENTO E AS CORES E CRIOU UMA SELVA DE BELEZA BARROCA QUANDO SE DESPEDIU DE T ARZAN , DEIXANDO UMA OBRA DEFINITIVA SOBRE A ORIGEM DO HOMEM-MACACO.

X Depois de passar vinte anos afastado do mundo dos th quadrinhos, Burne Hogar Hogarth volta a ser o centro das atenções quando é publicada uma graphic-novel de luxo com a origem de Tarzan recontada.

S ON -O’-G OD : J ESUS VIRA SUPER - HERÓI NESTA SÉRIE SATÍRICA QUE CAUSOU MUITA POLÊMICA .

títulos de outros personagens, arofa e BC como Kid FFarofa BC. X Lançada em abril de 1970, a revista de humor National Lampoon começa a publicar a partir de janeiro a controvertida O’God Comics Comics, série SonSon-O’O’-God criada por Michael Choquette e Sean Kelly e desenhada pelo premiado artista Neal Adams, que reformulou Batman,

Lanterna Verde e Arqueiro Verde para a DC Comics. A história mostra Jesus como um superherói dos tempos modernos lutando contra o Anticristo e seus asseclas. Muito mais que uma paródia aos super-heróis, os autores fazem uma crítica contundente ao fanatismo religioso. Ofensivo para muitos e hilariante para outros, Son-O’-God Comics saiu de cena em 1976.

X É também neste ano que a DC Comics assume a revista Tarzan e Carmine Infantino, então Diretor-Editorial, chama Joe Kuber ubertt para recontar a história do Rei das Selvas a partir dos livros de Edgar Rice Burroughs. X A Editora Perspectiva lança, em sua coleção Debates, o livro Shazam! – organizado por Álvaro de Moya Moya. Entre os textos publicados estão artigos de Jô Soares, Reinaldo de Oliveira, Naumim Aizen, Henrique Lipszyc,

O DESENHO DE J OE K UBERT RESSALTOU O ASPECTO SELVAGEM DE T ARZAN .

O TRAÇO MARCANTE DE GENE COLAN CONTRIBUIU PARA O SUCESSO DE THE TOMB OF DRACULA.

dos jornalistas Sérgio Augusto e Luís Gasca, além do próprio Moya, entre outros nomes. X A dupla belga Greg e Hermann inicia a publicação de um dos grandes clássicos do faroeste europeu: Comanche Comanche. X A Marvel lança The TTomb omb of Dracula, revista com histórias de Dracula terror do Príncipe das Trevas, magistralmente desenhadas por Gene Colan. X O capixaba Milson Henriques cria Marly Marly, publicada em tiras diárias no Espírito Santo. A personagem se torna nacionalmente conhecida quando passa a ser publicada

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pela revista Patota a partir de 1973. Marly é uma solteirona eternamente fofocando ao telefone e seu bordão “Ralooou, Creuzodete?” agrada aos leitores.


À ESQUERDA , BUDA , DE O SAMU T EZUKA . À DIREITA , UMA SEQÜÊNCIA MAGISTRAL DE P AUL G ULACY : A LUTA ENTRE SHANG -CHI E O G ATO EM O M ESTRE DO K UNG F U .

que é publicada até hoje. Seu filho Tom, que já trabalhava com ele desde 1997, assumiu a tira depois de sua morte em 2006. X A Abril passa a publicar a linha de personagens de Hanna-Barbera Hanna-Barbera. A primeira revista lançada é Os Flintstones Flintstones, em dezembro.

1973 X Osamu Tezuka, o criador de Astro Boy, A Princesa e o Cavaleiro, Kimba, o Leão Branco e tantos outros personagens de sucesso, inicia no Japão aquela que seria uma de suas obras mais aclamadas: Buda Buda, que retrata através de seu genial olhar a vida do fundador do Budismo. Esta história ficaria inédita no Brasil por mais de 30 anos.

X A Ebal lança o álbum Uma Independência, com Estória na Independência a hq escrita e desenhada por Luiz Antônio Novelli vencedora do I Grande Concurso de Histórias em Quadrinhos promovido pela editora para comemorar o Sesquicentenário da Independência do Brasil. X Bob Thaves inicia a publicação da tira cômica Frank & Ernest Ernest,

X Depois de três anos reinando sozinha, Mônica passa a ter companhia nas bancas a partir de janeiro: Mauricio de Sousa e a Editora Abril lançam a revista do Cebolinha Cebolinha, que se torna outro grande sucesso de vendas. Apesar de aparecer na capa, o Capitão Feio não participa de nenhuma aventura nesta primeira edição. X Morando em Nova York, onde fora tentar novos tratamentos para a hemofilia, Henfil consegue vender seus personagens para um distribuidor norte-americano, o Universal Press Syndicate. Os Fradinhos se transformam em The Mad Monks Monks. Mas o humor corrosivo de Henfil não agrada ao público americano; chovem cartas de protesto e todos os jornais cancelam a série. X Dik Browne, parceiro de Mort Walker em Hi and Lois, cria Hagar Hagar,, o Horrível (Hagar the Horrible) ambientando as aventuras na Idade Média. As historinhas mesclam as conquistas do bárbaro viking com situações familiares

comuns e superam o sucesso da tira precedente. Chi, O Mestre do X ShangShang-Chi, u , personagem criado Kung FFu pelo roteirista Steve Englehart e pelo desenhista Jim Starlin, passa a ser publicado pela Marvel em dezembro e se torna um sucesso instantâneo. Porém a série ganha um novo status e passa a ser aclamada pela crítica especializada quando o escritor Doug Moench e o desenhista Paul Gulacy assumem as histórias do herói. X O paraibano Emir Ribeiro cria elta, super-heroína brasileira Welta similar às hqs americanas em moda na época. Welta ainda circula em publicações à margem do sistema, como fanzines e edições artesanais bancadas pelo próprio autor, mas seu nome ganhou um “V” no lugar do “W” original.

monte de revistas em quadrinhos: edita a Portaria 209/73, que proíbe o conteúdo erótico nesse tipo de publicação, ainda que de forma sutil. É o fim para a maioria de editoras paulistas como a Edrel, que exploravam esse mercado. Do listão de quadrinhos banidos não escapa nem o inocente Chico de Ogum Ogum, de Nico Rosso. Esse personagem era inspirado no famoso médium Chico Xavier e não escapou da poda porque, quando fazia suas projeções astrais, o espírito de Chico de Ogum aparecia pelado. Entretanto, depois os editores conseguiram reverter a proibição. FRANK & E RNEST , DE B OB T HAVES . E MBAIXO , HAGAR, O HORRÍVEL , DE DIK BROWNE .

X A ditadura militar manda para o pelotão de fuzilamento um

UMA ESTÓRIA NA I NDEPENDÊNCIA , DE L UIZ ANTÔNIO N OVELLI.

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À ESQUERDA , O HORROR DA BOMBA ATÔMICA NA OBRA MÁXIMA DE KEIJI NAKAZAWA : G EN P ÉS DESCALÇOS . À DIREITA , É O PRÓPRIO D ISNEY QUE APRESENTA AS HISTÓRIAS DE SEUS PERSONAGENS NO LIVRO EM SUA HOMENAGEM .

X E quem diria: depois de tanta confusão o antigo Capitão Marvel/Shazam volta, agora publicado pela própria editora que o processou décadas atrás. Já que a DC Comics tinha comprado o acervo da rival Fawcett, quando esta encerrou a sua linha de quadrinhos, e estava com o personagem dando sopa. Para a empreitada, até o desenhista original da série, C.C. Beck, foi chamado e Super-Homem aparece na capa da primeira edição apresentando o retorno do herói. Para justificar o sumiço do personagem por tantos anos, inventaram a desculpa de que a Família Marvel e seus inimigos da Família Silvana tinham ficado em animação suspensa esse tempo todo. No Brasil, o relançamento do personagem foi comemorado na Ebal com um "Cacharolete Shazânico (de pouco poder explosivo)" no dia 17 de agosto. No evento foram distribuídos os 300 exemplares de uma edição de pré-lançamento da revista Shazam! n°1 "sujeita a correções e imperfeições,

história em quadrinhos, fotos e cometas”, é lançado em São Paulo, exex-, publicação tablóide que dedica a sessão “Comicus” às hqs cult e undergrounds, como Crumb, Feiffer, Don Martin, Son-O’-God, BC e outros.

especialmente impressa e encadernada para os convidados", como informava a sobrecapa da publicação. X Sérgio Macedo lança em uma edição independente pela Massao Ohno Editora seu arma de primeiro livro, O K Karma Gaargot Gaargot.. As páginas vêm com uma espécie de papel de seda entre elas, que teria sido colocado para evitar que a tinta borrasse as páginas contíguas, o que os leitores adoram porque podem fazer outros usos dele. Depois Macedo emigra para a França, onde ajudará a fundar os Humanóides Associados. X A revista japonesa Weekly Shonen Jump inicia a publicação

escalços de Gen Pés D Descalços escalços, de Keiji Nakazawa, dramático e pungente relato sobre os horrores da guerra e do holocausto nuclear de Hiroshima. X A Ebal lança em outubro Os Lusíadas - Quadrinização do Poema de Luís de Camões Camões, adaptado por Pedro Anísio e desenhado por Nico Rosso. A edição comemora os 400 anos da obra-prima do grande escritor português. X Com chamada de capa em letras garrafais “Jornal de texto,

X A Editora Abril publica o livro Disney, que Cinquentenário Disney comemora os 50 anos de atividade de Walt Disney. No livrão, no formato da revista Veja, o próprio Disney se encarrega de apresentar as principais histórias de seus mais famosos personagens e de contar como eles surgiram. Tudo isso, em quadrinhos. X Surgido na Itália em 1965, Peninha ganha um alter-ego criado no Brasil: o atrapalhado Morcego V ermelho Vermelho ermelho. X Em dezembro, é finalizada a impressão do álbum de luxo gigante Flash Gordon no Planeta Mongo Mongo, lançado pela Editora Brasil-América para comemorar os 40 anos de publicação do álbum original, lançado em 1934. O livro reúne as primeiras 60 pranchas dominicais da obra-prima de Alex Raymond, originalmente publicada no Suplemento Juvenil.

1974 X Na tentativa de buscar novos personagens que atraíssem o público, a Editora Abril publica a revista Crás! somente com histórias criadas por grandes nomes do quadrinho nacional,

O K ARMA DE G AARGOT , DE S ÉRGIO M ACEDO E , À DIREITA , O S L USÍADAS , DE N ICO R OSSO .

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O cavaleiro do Zodiako Jayme Cortez criou dois de seus mais importantes trabalhos quando foi convidado a participar da revista Crás!, da Editora Abril. Na primeira edição foi publicada uma pequena obra-prima: O Retrato do Mal. Na segunda edição, o mestre deu início à saga do Zodiako. Mas a partir da terceira edição a revista mudou de formato e linha editorial e a história não teve continuação na revista. Finalmente em 1975 o Zodiako seria publicado num álbum e no ano seguinte estrearia nas páginas da prestigiada revista italiana Sgt. Kirk. (Leia matéria sobre Cortez na página 42)


K EN P ARKER , DE GIANCARLO B ERARDI E I VO M ILAZZO

LAMPIÃO FALOU EM ITALIANO PRIMEIRO : A OBRA DE J Ô O LIVEIRA FOI PUBLICADA ANTES NA REVISTA A LTERLINUS . NO BRASIL, SÓ EM 1976.

como Jayme Cortez, Canini, Perotti, Lanzellotti, Nico Rosso, Herrero, Zélio, Ciça, Sian, Michele, Walmir, Primaggio, Igayara, entre outros. Mas, mesmo com um time tão bom de colaboradores, a revista não decola e é cancelada no sexto número. A publicação de histórias com estilos e gêneros tão diversos não agradou ao leitor. Kactus Kid, de Canini, e Satanésio Satanésio, de Ruy Perotti, foram os personagens mais publicados. X Farkas, Dionnet, Druilett e Moebius fundam os Humanóides Associados (Les Humanoïdes Associés) e lançam a revista Metal Hurlant Hurlant, que contava com a colaboração do brasileiro Sérgio Macedo. X Em janeiro, nasce na Itália a revista AlterLinus AlterLinus, que volta sua atenção para histórias mais densas e de aventura, deixando sua irmã editorial, a Linus, publicada desde 1965, com as tiras de humor. Passam pelas páginas da nova revista nomes

como Hugo Pratt e seu Corto Maltese; Pichard e Wolinski, com Paulette; Crepax e sua Valentina, além de Moebius, Sergio Toppi e o brasileiro Jô Oliveira, com A Guerra do Reino Divino Divino, que foi capa da quinta edição da revista. O primeiro número trouxe a clássica adaptação de Ulisses, de Homero, por Lob e Pichard. X Também na Itália, Giancarlo Berardi e Ivo Milazzo criam Ken Parker arker, baseado no personagem vivido por Robert Redford no filme Mais Forte Que a Vingança (Jeremiah Johnson). Inicialmente programada para uma única arker torna-se história, Ken P Parker uma das mais importantes e cultuadas séries de faroeste já produzidas nos quadrinhos. X A série I protagonisti protagonisti, do roteirista e desenhista Rino Alber tarelli Albertarelli tarelli, é lançada em setembro na Itália. A obra,

baseada numa profunda pesquisa do autor, desmistifica vários personagens lendários do Oeste americano, a começar pelo General Custer, tema do primeiro volume. Albertarelli trabalhava no projeto há mais de um ano e morreu poucos dias depois de seu lançamento, quando já estava terminando os desenhos do décimo volume, que foi finalizado por outro grande mestre: Sergio Toppi. X Numa iniciativa de esforço pessoal, Mort Walker, criador do Recruta Zero, funda o Museum of Car toon Ar Cartoon Artt com seu acervo pessoal de originais e revistas raras que ele começou a colecionar quando descobriu que originais de Krazy Kat estavam sendo destruídos. O museu mudou de lugar e de nome diversas vezes até fechar com dívidas em 2002. Walker acabou doando seu incrível acervo de mais de 200 mil desenhos originais,

além de milhares de revistas e filmes de valor inestimável, para a Ohio State University. X Em julho, a Abril lança a revista da Luluzinha que será publicada até o final de 1992. X Com o lançamento do livro 1, do desenhista e Rango 1 cartunista Edgar Vasques, surge M Editores a L&P L&PM Editores, fundada por Paulo de Almeida Lima e Ivan Pinheiro Machado em agosto. Vasques criou Rango em 1970 e foi das tiras diárias que mais combateram a ditadura militar nesse período, sendo censurada em diversas ocasiões. A publicação de uma tira citando as cores da bandeira brasileira chegou a acarretar a apreensão de toda uma edição do Pasquim. X A Editora Vecchi lança a versão brasileira da revista norteamericana Mad Mad. Ninguém acredita que uma revista “tão americana” vá pegar no Brasil, razão pela qual nenhuma editora tinha tido coragem de publicá-la

antes. Mas, surpreendentemente, torna-se um sucesso instantâneo e, alguns anos depois, já tem metade de seu conteúdo com material nacional, estimulando o aparecimento de várias concorrentes como Klik, Pancada e Crazy. A revista sobrevive à Vecchi (que faliu na década seguinte) e passa por várias outras editoras (Record, Mythos e Panini), sempre comandada pelo cartunista Ota até o ano de 2008. X Em agosto, a Ebal lança o primeiro volume de Príncipe Valente nos TTempos empos do Rei Arthur Arthur, num grande livro de luxo, com capa dura e papel couchê, que resgata as pranchas dominicais da clássica história de Harold Foster. Em dezembro é a vez de Jim das Selvas Selvas, que ganha uma edição de luxo com as primeiras 89 pranchas desenhadas por Alex Raymond entre janeiro de 1934 e outubro de 1935. X O livro Mandrake Mandrake, com as histórias No País dos Faquires e No País dos Homens Pequeninos, é outra obra de luxo lançada pela Ebal, esta totalmente colorida e com texto de apresentação do jornalista Sérgio Augusto.

K ACTUS K ID , DE C ANINI , E O DESENHO DE MOEBIUS NA CAPA DA M ETAL H URLANT .

X É realizado o 1° Salão de Piracicaba, que passa Humor de Piracicaba a fazer parte do calendário da cidade e é considerado o salão de humor mais importante do País. Jornal da ABI 362 Janeiro de 2011

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A S C OBRAS E A CRÍTICA SOCIAL DE L UÍS F ERNANDO V ERÍSSIMO. A RZACH E A FANTASIA DELIRANTE DE M OEBIUS .

the Tropical Forest, de W.H. Hudson. Em 1975, a personagem também ganharia revista própria no Brasil, pela Ebal, com o nome de Rima, a Princesa das Selvas. X A Vecchi lança as revistas Brasinha. Gasparzinho e Brasinha X A Editora Abril passa a publicar a revista Luluzinha Luluzinha.

1975 X Luís Fernando Veríssimo começa a publicar As Cobras Cobras, no jornal Zero Hora e no Jornal do Brasil. X A Rio Gráfica e Editora traz de volta seu título mais emblemático: é lançado o Gibi Semanal em formato tablóide (acima). A publicação chega ao número 40, permanecendo pouco menos de um ano nas bancas. Um mês antes de terminar, a RGE lança o Almanaque do Gibi, com 132 páginas. X A Editora Vecchi lança a versão brasileira da revista Eureka Eureka, com tiras de Feiffer, Pafúncio, Pinduca, Brumilda (Russel Myers), Manhê (de Mel Lazarus) e alguns outros personagens pouco conhecidos, além de histórias completas de Jeff Hawke, Cisco Kid, Steve Canyon, entre outros. Nas duas últimas edições a revista melhorou muito seu cardápio de personagens, incluindo Spirit, Hagar, Krazy Kat, Little Nemo, O Mago de Id, além de O Amotinamento do Potemkin, de Toppi, e do excelente material nacional com Vizunga, de Flavio Colin, A Morte do Samurai, uma história inédita de Shimamoto, e Zodiako, de Jayme Cortez. Mas isso não impediu seu fim após 12 edições. X Com arte do brilhante desenhista Nestor Redondo, a DC Comics lança a revista Rima, The Jungle Girl (ao lado), baseada na heroína do romance Green Mansions: A Romance of

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X A Editora Codecri, que publica o Pasquim, lança a revista O Bicho Bicho,, idealizada e editada por Fortuna, que passa a publicar Madame e seu Bicho Muito Louco Louco. A revista reúne também

trabalhos de jovens talentos como Nani, Guidacci, Coentro e outros, além de republicar ícones da contracultura norteamericana como Robert Crumb. Seis números são publicados nessa fase, mas a revista é suspensa por baixas vendas. Dois anos depois saem mais duas edições por outra editora. X Henrique Magalhães Maria, cria, na Paraíba, Maria personagem que começa como uma “caça-maridos” mas depois evolui para a crítica política e defende o feminismo. X Bill Rechin, Don Wilder e Brant Parker (criador de O Mago de Id) criam a tira de humor Crock (Os Legionários). X Sergio Bonelli emplaca outro sucesso: com o pseudônimo de

M ADAME E S EU BICHO MUITO LOUCO , DE F ORTUNA . A BAIXO , CROCK, O S L EGIONÁRIOS .

Guido Nolitta ele cria Mister No No, um ex-soldado dos Estados Unidos que vive aventuras na Amazônia durante a década de 1950. Este é o primeiro personagem da Sergio Bonelli Editore cujas aventuras não são ambientadas no velho Oeste. X As aventuras silenciosas do guerreiro Arzach começam a ser publicadas na revista francesa

Metal Hurlant e causam grande impacto pela beleza dos desenhos e criatividade. O personagem se torna uma das criações mais famosas de Moebius e é republicado em álbuns. Mas o artista continua inovando com histórias criativas como as belíssimas B allade ong e The LLong Tomorrow omorrow, de Dan O’Bannon, para a mesma revista. Mais tarde esta inspiraria o conceito visual do cultuado filme Blade Runner, de Ridley Scott. X Devido à crise do papel e para obter mais competitividade das bancas, praticamente todas as revistas de histórias em quadrinhos passam a ser publicadas em tamanho menor, o mesmo formato já adotado


À ESQUERDA , O CRUZEIRO DOS E SQUECIDOS , DE P IERRE C HRISTIN E E NKI B ILAL . A BAIXO , O AMALUCADO CAPITÃO K LOTZ , DE D ON M ARTIN .

pela Editora Abril com Pato Donald e as revistas da turma da Mônica. A Rio Gráfica reduz todos os seus gibis, adotando o nome “tamanho gostoso”. As novas editoras que entram no mercado, Vecchi e Bloch, lançam suas revistas no mesmo formato. A Ebal é a única que resiste, mantendo o padrão tradicional, mas é forçada a ceder às tendências do mercado e a partir do ano seguinte também reduz as suas, criando formatinho a expressão “formatinho formatinho”, que passa a ser o termo usado por todos para definir esse formato. X A decadência da Ebal começa neste ano, com a perda de um de seus títulos mais rentáveis, O Homem-Aranha, para a Bloch, que negociou com a americana Marvel Comics um pacote com todos os seus personagens, e vários deles foram lançados ao mesmo tempo em revistas individuais. Mas nunca os personagens Marvel foram tão maltratados, com edições sofríveis e traduções malfeitas, razão pela qual os contratos foram sendo cancelados até 1975, quando a Bloch ainda mantinha a linha de terror da Marvel.

S ATANÉSIO E SEU ANJO DA GUARDA : A NJOCA .

X Em parceria com o roteirista Pierre Christin, Enki Bilal começa a desenhar histórias que reúnem o realismo fantástico e a ficção científica em aventuras sombrias. O Cruzeiro dos Esquecidos (La Croisière des Oubliés) é a primeira a ser lançada. Viriam depois Le Vaisseau de Pierre (A Nave de Pedra, 1976), La Ville Qui n’Existait Pas (A Cidade que Não Existia, 1977), Les Phalanges de l’Ordre Noir (As Falanges da Ordem Negra, 1979), Partie de Chasse (Partida de Caça, 1983). X A Turma do Pererê Pererê, de Ziraldo, volta com força total e passa a ser publicada numa revista mensal pela Abril. Neste ano a editora lançaria também Pernalonga e Heróis da TTevê evê evê, esta com os personagens da Hanna-Barbera. X A RGE lança Gibi Especial Especial, com personagens clássicos dos quadrinhos. A primeira edição é dedicada a The Spirit. X A revista Crás!, da Abril, ganha uma cria: Satanésio Satanésio, de Ruy Perotti, que anos antes havia criado o popular Sujismundo, ganha um título próprio, publicado a cada quatro meses. A revista pára no quarto número, sendo substituída por outra criação de Perotti: o macaco Gabola Gabola, que possui um maracá mágico com o qual ele e sua turma de amigos vivem aventuras no tempo.

refinado desenhista que foram publicadas nos jornais dos Estados Unidos entre janeiro de 1968 e abril de 1972. X A Vecchi começa a publicar olso Mad os Livros de B Bolso Mad. O primeiro traz As Aventuras do Capitão Klutz, de Don Martin.

X Pela primeira vez uma tira de quadrinhos ganha o Prêmio Pulitzer Pulitzer, na categoria “cartum editorial”: Doonesbury Doonesbury, de Gay Trudeau (abaixo), que é publicada desde 1970. X Em comemoração ao centenário de nascimento de Edgar Rice Burroughs, a Ebal lança o álbum A Primeira Aventura de TTarzan arzan em Quadrinhos Quadrinhos, de Harold Foster, e inicia a publicação de uma série de álbuns de Tarzan arzan, de Russ Manning. Ao todo são produzidas cinco edições com as pranchas dominicais do

X Para comemorar os 25 anos de sua fundação, a Editora Abril onald lança o álbum Pato D Donald Especial Especial, um livro em formato maior e capa dura com nove aventuras do divertido personagem que foi o ponto de partida editorial de Victor Civita. X Em dezembro a Abril lança a revista Manda Chuva Chuva.

1976 X É publicado o primeiro número de American Splendor Splendor, hq autobiográfica escrita por Harvey Pekar e ilustrada por inúmeros desenhistas, entre eles Robert Crumb. X A Editora Codecri lança uma das primeiras graphic-novels brasileiras, quando esse termo ainda não existia, A Guerra do Reino Divino Divino, do pernambucano

Jô Oliveira, com o grafismo dos livros de cordel. Essa história já havia sido publicada na revista italiana AlterLinus.

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A GARAGEM HERMÉTICA , DE M OEBIUS E , AO LADO , O HOMEM DO N ILO , DE S ERGIO TOPPI , NA SÉRIE ITALIANA U N U OMO U N ’A VVENTURA .

X A L&PM lança Caulos - Só Respiro, uma Dói Quando Eu Respiro coletânea da obra do desenhista publicada no Pasquim e no Jornal do Brasil, com texto de apresentação de Sérgio Augusto.

Quadrinhos de B olso Bolso olso, uma série de livros com um personagem por volume. Hagar abre a coleção. Depois viriam Recruta Zero, Frank & Ernest, Touro Sentado, entre outros.

X Moebius dá início à elogiada série de ficção científica A Garagem Hermética (Le Garage Hermétique) na revista Metal Hurlant.

X É publicada a edição especial Versus Quadrinhos – América Latina atina, com as histórias Fantomas contra os Vampiros Multinacionais, escrita por Julio Cortazar, e Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, de Jô Oliveira. Ainda na edição Luiz Gê; Rango, de Edgar Vasques; Enrique Breccia e Chico Caruso, além de uma entrevista com Henfil. X Zé Colméia ganha uma revista mensal pela Editora Abril. X Criado em 1973 por Steve Gerber e Val Mayerik, a Marvel Comics lança a revista Howard The Duck (ao lado). Além de Steve, são

X O material das cultuadas revistas Creepy e Eerie Eerie, dos Estados Unidos, é lançado no Brasil pela revista Kripta Kripta, da RGE. X A Ebal lança o álbum Agente Secreto X-9 em O Caso Powers Powers, de Dashiell Hammett e Alex Raymond, com capa de Monteiro Filho. Na realidade uma republicação de melhor qualidade de uma edição especial do Suplemento Juvenil de 1937. X A RGE também passa a publicar a coleção

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chamados para produzir as aventuras satíricas desse estranho personagem nomes consagrados como Frank Brunner, Gene Colan, Mark Evanier, Marv Wolfman, Bill Mantlo, All Milgrom, Carmine Infantino e Frank Giacoia. X Na Argentina, a dupla Juan Gimenez e Ricardo Barreiro inicia, na revista Scórpio, a publicação de um dos maiores clássicos de guerra dos quadrinhos, Ás de Espadas Espadas. X Em novembro, a italiana Sergio Bonelli Editore lança Un Uomo Un’ Avventura Un’A vventura, uma extraordinária coleção de álbuns em formato especial, bem maior do que as outras revistas da casa editorial. Sob a curadoria de Decio Canzio, a série publicou os trabalhos de alguns dos maiores desenhistas dos quadrinhos mundiais, como Sergio Toppi, Hugo Pratt, Enric Sio, Guido

Crepax, Milo Manara, Gallep, Ivo Millazzo, entre muitos outros nomes de destaque. Até um brasileiro participou da epopéia: o grande artista Jô Oliveira, com O Homem de Canudos Canudos.

série da Rede Globo fazia. Mas os desenhos dos personagens não são tão bem resolvidos e a série é totalmente reformulada dois anos depois, ganhando traços mais adequados ao público infantil.

X A exemplo do Pato Donald no final do ano anterior, outro personagem Disney também ganha um livro com capa dura: Tio P atinhas Especial é Patinhas lançado pela Abril.

X A RGE também lança A V Vaca aca oadora, baseada nos livros da Voadora escritora Edy Lima.

1977 X A Rio Gráfica e Editora lança a revista Sítio do Picapau Amarelo Amarelo, para aproveitar o sucesso que a

X Depois de muitas conversas com Pelé, Mauricio de Sousa finaliza o projeto de um personagem infantil baseado na figura do Rei do Futebol e, em agosto, lança pela Editora Abril a revista Pelezinho Pelezinho, com toda uma nova galeria de personagens. X O escalador de paredes mais famoso dos quadrinhos chega aos jornais: o Homem-Aranha passa a ser publicado também em tiras diárias. X A Codecri lança o livro O Novo asquim Pasquim asquim, reunindo Humor do P um time de grandes desenhistas, como Reinaldo, Nani, Guidacci,


O BRASILEIRO S ERGIO M ACEDO ESTEVE PRESENTE NA PRIMEIRA EDIÇÃO DA H EAVY M ETAL COM A HISTÓRIA S ELENIA (À ESQUERDA ).

NA PRIMEIRA EDIÇÃO , DR . S PEKTRO SÓ TEVE HISTÓRIAS DESSE PERSONAGEM , QUE NÃO VOLTARIA MAIS A SER PUBLICADO NA REVISTA . O SEGUNDO NÚMERO DA SPEKTRO, JÁ COM NOVO NOME , TRAZ NA CAPA A ARTE DE V ILMAR . ABAIXO , UMA PÁGINA ILUSTRADA POR SHIMAMOTO PARA O TERCEIRO NÚMERO DA PUBLICAÇÃO .

mundiais como Dino Battaglia, Guido Crepax e o brasileiro Miguel Paiva. A L&PM lançaria o álbum no Brasil 11 anos depois.

Duayer, Luscar, Mariza, Mollica, Angeli, Canini, Calicut, Geandré, Mino, Nicolielo, Ral, Nilson, Santiago e muitos outros. X A mesma editora da satírica National Lampoon, então no auge do sucesso, lança a revista Heavy Metal Metal, com material importado da francesa Metal Hurlant. A nova publicação dá espaço também para a nata do quadrinho americano. A primeira edição já mostra a que vem publicando os trabalhos de Richard Corben, Drulllet, Moebius, Alexis, Jean-Claude Gal, Jean-Pierre Dionnet e o nosso Sergio Macedo. X A Editora Versus lança Livrão Quadrinhos, uma revista dos Quadrinhos especial de 84 páginas com histórias escritas e desenhadas por autores como Jô Oliveira, que apresentou a história de Zumbi com o seu grafismo inspirado na literatura de cordel; Edgar Vasques, que trouxe a história de outro revolucionário, Artur Arão, e

Edgar de Souza, que ilustrou Os Irmãos Dagobe, de Guimarães Rosa. Participam também Angeli, Rubens Matuk e Luiz Gê. Nas últimas seis páginas, Rui Veiga e Mário Augusto Jacobskind apresentam os fragmentos de um texto inédito de Paulo Pontes. X Franco Maria Ricci Editore lança o álbum Casanova Casanova, com as histórias do famoso aventureiro veneziano interpretadas por nomes de destaque dos quadrinhos

X A Vecchi lança a Coleção Eureka Terror e seu primeiro número apresenta As Histórias Sobrenaturais do Dr. Spektro, mas já na segunda edição o conceito da publicação muda completamente, a começar pelo nome, resumido apenas para Spektro Spektro. A revista, que mais parecia um livro, com mais de 190 páginas, capa plastificada e lombada quadrada, passa a publicar, além do material importado, com várias histórias clássicas de Steve Ditko, reportagens, contos e quadrinhos nacionais, trazendo de volta da antiga Editora Outubro grandes autores, como Jayme Cortez, Flávio Colin, Nico Rosso e Júlio Shimamoto. Suas capas passam

a ser desenhadas por ilustradores como Vilmar, Carlos Chagas e o próprio Shimamoto. Inicialmente com poucas histórias produzidas no Brasil, aos poucos a publicação vai se nacionalizando e passa a revelar novos talentos, como Watson Portela, Elmano Silva, Zenival Ferraz e o roteirista Patati. E dá espaço para artistas da nova geração – como Ofeliano, César Lobo, Antonino Homobono –, expandirem seus horizontes. E até cartunistas como Mariza e Luscar tiveram espaço na seção Humor Negro. Em pouco tempo Spektro passa a publicar apenas trabalhos produzidos no Brasil e, com isso, deixa sua marca na história editorial do País: uma única revista publicava quase 200 páginas de quadrinhos nacionais por mês.

Tracy Ullman Show. Em vez disso, ele cria uma família inteira de novos personagens: Os Simpsons Simpsons. X Surge Thorgal horgal, criado pelo escritor belga Jean Van Hamme e o desenhista polonês Grzegorz Rosinski. X A editora L&PM publica o álbum As Cobras e outros Bichos Bichos, compilação das tiras As Cobras, de Luís Fernando Veríssimo, publicadas desde os anos 1970 em diversos jornais brasileiros. Em 1997, aos 60 anos, Veríssimo decidiu aposentar as cobrinhas. X Comemorando os 50 anos da criação do camundongo mais famoso dos quadrinhos, a Editora Abril lança Mickey Especial Especial, um livro de 160 páginas, capa dura e uma seleção de histórias desde os primórdios da Disney.

X O canadense Dave Sim começa a publicar o quadrinho independente Cerebus the Aardwark Aardwark, prometendo que seria uma “máxi-série de 300 edições”.

O S S IMPSONS , DE M ATT GROENING .

X Matt Groening publica a primeira revista em quadrinhos independente de Life in Hell Hell, que começa a sair em veículos alternativos e aos poucos vai ganhando a mídia. Anos mais tarde, o produtor James L. Brooks chama-o para produzir sketches com essa série para o A história dos próximos 34 anos continua no terceiro volume do Jornal da ABI • Cronologia dos Quadrinhos, que trará também mais entrevistas e perfis de alguns dos mais destacados desenhistas brasileiros.

Continua!

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A grande aventura de um russo no Brasil A trajetória de Adolfo Aizen, responsável pela introdução no Brasil das principais histórias em quadrinhos norte-americanas e comandante da histórica Ebal, sinônimo de qualidade na publicação de hqs.

MONTAGEM SOBRE DOIS DESENHOS DE EUGÊNIO COLONNESE PUBLICADOS NA REVISTA CHAMADA GERAL

POR PAULO CHICO

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Ele é visto como o ‘pai’ dos quadrinhos. Foi o responsável pela introdução no Brasil das principais histórias em quadrinhos norte-americanas, como Mandrake, Tarzan, Dick Tracy, Príncipe Valente e Flash Gordon. Estamos falando de Adolfo Aizen, para muitos um dos maiores editores brasileiros de todos os tempos. Há um porém nesta história. Aizen não era baiano, como afirmava, e sim russo. Como somente um legítimo brasileiro poderia ser dono de um veículo de comunicação no País. Para iniciar suas atividades empresariais Aizen forjou uma certidão de nascimento e conseguiu esconder seu segredo até à morte. Sua verdadeira nacionalidade só seria revelada muitos anos mais tarde pelo jornalista e escritor Gonçalo Júnior em seu livro A Guerra dos Gibis: A Formação do Mercado Editorial Brasileiro e a Censura aos Quadrinhos, lançado pela Companhia das Letras, em 2004. “Sem dúvida, ele foi o responsável pelo nascimento da indústria dos quadrinhos no Brasil, ao criar, em 1934, o Grande Consórcio de Suplementos, e depois trazer para o País os modernos quadrinhos de aventura que descobriu nos Estados Unidos. Ao lado de Roberto Marinho, seu concorrente entre as décadas de 1930 e 1950, foi fundamental para combater o preconceito e as tentativas de se criar leis de censura aos gibis, que brotaram entre 1938 e 1964 – foram mais de 20 iniciativas. Para atrair a simpatia de professores e padres, que costumavam acusar os quadrinhos de ‘deseducarem’ crianças e jovens, Aizen criou revistas educativas e religiosas, como Edição Maravilhosa, Ciência em Quadrinhos e Série Sagrada”, conta Gonçalo, um apaixonado por hqs e organizador de coleções de livros, como Quadrinhos Sujos. Embora tenha realmente morado na Bahia, foi no Rio de Janeiro, para onde se mudou na adolescência, que Aizen deu seus primeiros passos profissionais. Em 1933, começou a trabalhar na editora O Malho, responsável pela revista O Tico-Tico. Já em 1934, lançou o histórico Suplemento Juvenil, com

histórias de personagens dos quadrinhos americanos. Inicialmente, ele vinha encartado no jornal A Nação. Devido à sua grande repercussão, logo o suplemento passou a circular como publicação independente. O sucesso mexeu com um poderoso concorrente, lembra Gonçalo Júnior. “Quando Aizen viajou para os Estados Unidos, em agosto de 1933, como assessor do Touring Clube do Brasil, ele era repórter de O Globo. Ao voltar, propôs a Roberto Marinho lançar suplementos diários no jornal, gratuitamente para os leitores. Entre eles, o de quadrinhos. Marinho considerou a proposta de custo elevado e inviável. Em março de 1934, Aizen lançou os suplementos diários no jornal A Nação. O de quadrinhos foi o de maior sucesso e aumentou a tiragem do jornal de 20 mil para 80 mil exemplares. Logo se tornaria independente, como Suplemento Juvenil. Em maio de 1937, Marinho chama Aizen para conversar e lhe propõe sociedade. Aizen recusa; em junho, Marinho lança O Globo Juvenil, o que deixa Aizen irado. Ele acusa o antigo patrão de ‘roubar’ o termo ‘juvenil’ de seu tablóide e de pegar carona em seu sucesso”, diz o escritor.


REPRODUÇÃO

REPRODUÇÃO

Um dos troféus de que Adolfo Aizen tinha mais orgulho era a estátua de bronze de Gutemberg que representava o Prêmio Paula Brito conferido à Editora BrasilAmérica em 1958 “em reconhecimento à obra de nacionalização e melhoria constante que esta empresa jornalística vem realizando no setor das histórias em quadrinhos”, como informava a nota publicada na revista Epopéia. Ao lado de Aizen, aparece o Prefeito Sá Freire Alvim, que lhe entregou a estatueta. O prêmio foi instituído pela Secretaria Geral de Educação e Cultura do antigo Distrito Federal.

Uma vista noturna do prédio da Ebal numa foto publicada na revista comemorativa Chamada Geral.

A disputa ainda teria capítulos mais radicais. Em 1939, Roberto Marinho convence Aroxelas Galvão, representante do King Features, a transferir todos os personagens que Aizen publicava no Suplemento Juvenil para O Globo Juvenil. Aizen, cordialmente, avisa a seus leitores que continuassem a ler suas histórias no concorrente. Como resposta, manda registrar o nome e lança o Lobinho, que, na verdade, era o Globinho sem a letra “G”, para impedir Marinho de apoderar-se do título. “Passada essa fase de disputa de mercado, já na década de 1950 os dois se reaproximaram para combater o preconceito contra os quadrinhos. No enterro de Aizen, em 1991, Marinho se aproximou do caixão, pegou-lhe nas mãos e disse: ‘Meu amigo, meu grande amigo’...”, revela Gonçalo. Os mais destacados: Aizen, Roberto Marinho e Civita Esse período também é lembrado por Álvaro de Moya, escritor, ilustrador e especialista em histórias em quadrinhos. “Os três nomes mais importantes, quando falamos de grupos editoriais de quadrinhos, são Adolfo Aizen, Roberto Marinho e Victor Civita. Principal-

mente o Adolfo, que em 1934 lançou o Suplemento Juvenil, com os heróis daquele tempo, que eram novidade por aqui. Além do caso de O Globo Juvenil, Roberto Marinho pegou carona em outro lançamento de Aizen. Ele havia lançado o Mirim, que já era um tamanho metade de tablóide. Marinho lançou, então, o Gibi imitando o concorrente – e o termo ‘gibi’ passou a ser um sinônimo de revista em quadrinhos”, recorda ele, lembrando ainda a experiência de Civita no setor. “Na década de 1950, Victor Civita veio para o Brasil com os direitos do Disney e lançou o Pato Donald, que foi a pedra fundamental nesse gigante em que se transformou a Editora Abril.” Outro ponto destacado por Álvaro na trajetória de Adolfo Aizen é, claro, a Ebal. “Pela Editora Brasil-América Limitada, criada por ele em 1945, lançou as revistas Super-Homem, Quarteto Fantástico, Homem-Aranha, Popeye, Fantasma, Mulher Maravilha, Pernalonga e outros. Tinha todos os títulos da Marvel e da DC Comics.” Em 1975, Aizen recebeu na Bienal Internacional de Quadrinhos de Lucca, na Itália, o Prêmio Yellow Kid, como reconhecimento de sua contribuição ao desenvolvimento da ‘Nona arte’, com

a menção de que tinha ‘uma vida dedicada aos quadrinhos’. Outra distinção ao editor ocorreu no Brasil, por iniciativa da União Brasileira de EscritoresUBE, que instituiu o Prêmio Adolfo Aizen de Literatura Infantil, que desde os anos 1990 destaca as melhores publicações no gênero. Nas décadas de 1950 e 1960, a Ebal era líder nas bancas, vendendo anualmente milhões de revistas e chegando a ter mais de 40 títulos mensais com tiragens superiores a 150 mil exemplares. Suas diversas publicações formaram gerações de leitores – nobre papel desempenhado pelos quadrinhos e que sempre fora destacado por Aizen. E influenciaram diretamente editores e artistas que surgiam naquela época. Em seu apogeu, a editora era dirigida, também, por Paulo Adolfo Aizen e Naumin Aizen, filhos de Adolfo, bem como pelo jornalista Fernando Albagli. O período de crise da Ebal teve início em meados da década de 1970. Após a morte de seu criador, em 1991, a editora durou apenas quatro anos, publicando ainda um último álbum de luxo do Príncipe Valente, de Hal Foster. No prédio que pertencia à Ebal, na Rua Almério de Moura, em São Cristóvão, funciona atualmente uma escola particular. Suas revistas estão na memória de diversos brasileiros ou entre colecionadores. E o acervo do Museu dos Quadrinhos, que incluía publicações importantes de outras editoras, foi doado pela família Aizen à Fundação Biblioteca Nacional, que já os colocou em exposição, em 2002 e 2003, na mostra HQ, O Mundo Encan-

tado dos Quadrinhos. O fato é que o legado de Aizen permanece vivo, sendo destacado por artistas dos quadrinhos. Um grande sonho de consumo: conhecer a Ebal “Os leitores como eu sabiam que o selo da Ebal era garantia de qualidade. Para quem teve a infância e adolescência nos anos 1960, uma visita à Ebal era o maior sonho de consumo. Aizen abria as portas para caravanas de visitas escolares e mostrava a gráfica que imprimia os gibis – termo que, em seu íntimo, ele abominava, pois o título pertencia ao rival Roberto Marinho. Ele dava aos visitantes um pacote de cortesia com revistas da editora. Essa política de relações públicas lhe rendia bons frutos e consolidava a marca. Sou muito grato a Aizen porque, depois do meu pai, ele foi o primeiro que enxergou a minha vocação e me deu uma chance de trabalhar com o que eu mais gostava. Ele via potencial em mim e disse mais de uma vez que um dia eu seria ‘o futuro diretor’ da editora”, relata o cartunista Ota, que segue num depoimento emocionado sobre o mestre e sua maior criação. “Para um moleque de 15 anos, como eu, era um sonho trabalhar na Ebal. O salário era baixo. Começava-se com salário-mínimo e os aumentos eram comedidos. Mas isso era compensado pelas inúmeras vantagens. Além de fazer aquilo que eu gostava, lia as histórias antes de todo mundo, fuçava nas gavetas e encontrava centenas de coisas interessantes. Tinha acesso às coleções de tudo que eles publicavam, inclusive as encadernações do Suplemento Juvenil e Lobinho. Eu era pago para ler gibis! Aprendi como funcionava uma gráfica por dentro, a mexer com edição e fazia amizade com os visitantes ilustres que apareciam de vez em quando – ídolos de infância como Malba Tahan, Ziraldo, caravanas de editores estrangeiros e representantes dos personagens que eram publicados... Vi coisas acontecendo, negócios sendo fechados... Era como um estranho que caiu nas boas graças da família real de um reino distante. De fato, a Ebal era um reino. E Aizen a chamava de O Reino Encantado das Histórias em Quadrinhos”, relembra Ota. Jornal da ABI 362 Janeiro de 2011

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As lições do versátil

Nascido em Lisboa, foi no Brasil que Jayme Cortez Martins se tornou mestre e referência para diversas gerações de desenhistas. Ele deu provas de seu talento também na televisão, na publicidade e no cinema. POR PAULO CHICO

Alguns dos mais belos traços da história do desenho brasileiro aqui chegaram embalados pelas ondas do mar. Foram forjados nas mãos de um português nascido em Lisboa em 1926 que desembarcou no porto de Santos, em São Paulo, em 1947. Nesse episódio particular da História, era o Brasil que estava prestes a descobrir o talento daquele que, em pouco tempo, se firmaria como um dos seus maiores autores de quadrinhos. Ao chegar aqui, Jayme Cortez Martins já havia publicado, em 1944, sua primeira hq no semanário O Mosquito – publicação na qual atuou por dois anos. Na época, seu trabalho tinha ênfase na exploração dos tipos populares lusitanos. No Brasil, radicando-se em São Paulo, casou-se com a brasileira Maria Edna. Começou a trabalhar na Gazeta Juvenil e na Gazeta Esportiva, ainda nos tempos da Avenida Cásper Líbero. Iniciou sua carreira como desenhista de quadrinhos fazendo tiras para o Diário da Noite – como Caça aos Tubarões e O Guarany. Atuou também nas editoras La Selva e

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Outubro, onde foi capista e diretor de arte. Cortez exerceu o papel de grande mestre de gerações de artistas. E teve passagens curiosas em sua trajetória, como as experiências de ator de cinema, em três filmes dirigidos por José Mojica Marins, o Zé do Caixão: Delírios de um Anormal lançado em 1978; Mundo Mercado do Sexo, de 1979, e Perversão Estupro, de 1979. “Esse português chegou ao Brasil com 18 anos de idade e se tornou fundamental para a profissionalização dos quadrinhos no Brasil. Principalmente graças à sua amizade com o gráfico e desenhista amador Miguel Penteado – com quem criaria, em 1959, a Editora Continental, depois rebatizada de Outubro. Os dois agregaram uma geração de jovens quadrinistas e estabeleceram uma nova forma de fazer quadrinhos, a partir da utilização de modelos vivos – não só pessoas, mas também animais. Essa turma acabaria suprindo toda a produção nacional necessária para as revistas da La Selva na década de 1950. Para essa

editora, aliás, Cortez fez capas antológicas nas revistas de terror, como Terror Negro e Sobrenatural, até hoje cultuadas por fãs do gênero”, lembra Gonçalo Júnior, jornalista e autor de diversos livros sobre hqs. Outro apaixonado por quadrinhos que situa a importância de Cortez é o cartunista Márcio Baraldi: “Ele foi um presente que Portugal deu ao Brasil. Quando Cortez veio pra cá, ainda muito jovem, já era um desenhista virtuoso e tinha uma carreira respeitável em Portugal. Aqui no Brasil ele rapidamente se enturmou com os melhores desenhistas da época, como Eugenio Collonese, Rodolfo Zalla, Benicio, Getulio Delphim... Logo formaram uma verdadeira ‘geração inesquecível’ da hq brasileira! Ele era o melhor de todos, o ‘mestre dos mestres’ como o chamavam, pois dominava todas as técnicas e estilos de ilustração que se possa imaginar. Ia do grafismo cubista à pintura hiper-realista em segundos. Por conta disso, as editoras de hqs da época o colocavam sempre para fazer as capas dos gibis, que ficavam sempre deslumbrantes, graças às suas pinturas primorosas.” Baraldi ressalta facetas do namoro profissional de Cortez com o cinema: “Ele foi o desenhista oficial de outros grandes artistas de sua época, como os comediantes Mazzaropi e a dupla Oscarito e Grande Otelo. Graças também à sua versatilidade, foi um artista muito produtivo, que deixou centenas e centenas de obras de altíssima qualidade gráfica, todas feitas no pincel e tinta, que continuam atuais e surpreendem

até hoje, quando temos devaneios mil com os recursos dos computadores. Pouca gente sabe, mas Cortez também foi ator e protagonizou até algumas propagandas de tv”, revela. Amigo de Cortez, Álvaro de Moya também exalta a sua importância para os quadrinhos. “Os desenhistas brasileiros, salvo raras e honrosas exceções, copiavam Alex Raymond e Harold Foster. Cortez influenciou toda uma geração brasileira a trabalhar com modelos vivos e a criar um estilo próprio. Em 1951, no dia 18 de junho, ele e um grupo de desenhistas, inclusive eu, prepararam a primeira Exposição Internacional de Histórias em Quadrinhos do mundo, realizada no Centro Cultura e Progresso, em São Paulo. Nunca antes havia sido feita uma exposição didática provando que os quadrinhos eram uma arte. Parecida com cinema e literatura, mas com uma expressão própria. O quadrinho começava a ganhar status. Tanto que, nas décadas


Zodiako (à esquerda) foi uma de suas obras primas nos quadrinhos. Mas Jayme Cortez também criou capas de revistas e cartazes de cinema e foi um ilustrador de primeira: até seus esboços merecem destaque, como o deste cavalo.

seguintes, artistas do porte do cineasta Federico Fellini revelaram ao público a importância dos quadrinhos em sua formação artística e intelectual.” Hoje, o reconhecimento a esse feito permanece nas enciclopédias sobre comics nos Estados Unidos, França, Itália e Espanha, onde sempre há um verbete registrando que o Brasil foi um país pioneiro, ao fazer uma exposição nesses moldes. Álvaro de Moya lembra que Cortez militou na publicidade na televisão, pela primeira vez, fazendo o desenho-assinatura de uma telenovela da TV Excelsior. E emprestou seu talento aos estúdios de um de seus discípulos mais famosos, Mauricio de Sousa, onde foi Diretor de Merchandising e Animação. Cortez escreveu três livros: A Técnica do Desenho, Mestres da Ilustração e Manual Prático do Ilustrador. Também essa contribuição é reconhecida por colegas, como Toninho Mendes. “Seus livros sobre como desenhar, publicados nas décadas de 1950 e 1960, influenciaram toda uma geração. Antes deles, até havia publicações técnicas sobre desenho... Mas era tudo muito desorganizado, pulverizado, publicado em fascículos. Ele foi o primeiro mestre que juntou, em livros completos, as dicas de como desenhar pés, mãos e outras partes do corpo, com todas as instruções e as técnicas de acabamento a lápis, nanquim e bico de pena.” Fundador da Circo Editorial e atualmente à frente da Editora Peixe Grande, ele confirma a tese de que Cortez foi referência para os jovens que estavam se formando em desenho na época. “O que havia de mais marcante em sua arte é que ela é solta, livre, e preci-

sa ao mesmo tempo. Ele não tinha um traço ‘duro’. Escrevo e tenho livros publicados. Minha praia é mais a edição e a diagramação de Arte. Mas o que aprendi sobre desenho, na infância e na adolescência, teve muito da contribuição de Cortez”, diz Toninho Mendes. Em novembro de 1986, Jayme Cortez foi homenageado em Lucca, na Itália, com o prêmio Caran D’Ache, no XX Festival Internacional de HQ e Ilustra-

ção, pelos seus 50 anos de atividades. Foi professor da Escola Pan-Americana de Arte e trabalhou na área publicitária como diretor de criação da McCann Erickson. Ao longo de sua carreira, no Brasil, participou ativamente da luta

pelo reconhecimento e valorização dos quadrinhos – visto com menosprezo e preconceito por setores conservadores da sociedade e até mesmo por alguns segmentos editoriais. Foi um dos idealizadores do projeto de reserva de mercado para a produção nacional de hq, reservando dois terços do espaço para artistas locais, que chegou a ser entregue às autoridades, mas nunca foi implantado. Jayme Cortez morreu em 1987, de ataque cardíaco, após dois dias internado em conseqüência de uma hemorragia no abdômen. Deixou organizado o álbum Saga de Terror, reunindo diversos de seus quadrinhos. A obra foi lançada postumamente pela editora Martins Fontes, e segue disponível em catálogo.

O gênero de Terror era a especialidade de Jayme Cortez.

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FRANCISCO UCHA

Com apenas cinco edições de O Judoka, publicado pela Ebal nos anos 70, Floriano Hermeto escreveu seu nome no hall dos grandes desenhistas brasileiros. POR PAULO CHICO

O golpe certeiro de um mestre do desenho “O maior problema do quadrinho é saber a hora de parar, identificar o momento em que o desenho está pronto. Ter a sabedoria de não fazer demais, e nem de menos.” A lição é de Floriano Hermeto, autor de cinco festejadas edições de O Judoka, publicadas pela Editora Brasil-América, mais conhecida como Ebal. Engenheiro civil de formação, no início dos anos 70 mergulhado nas obras do metrô do Rio de Janeiro na Avenida Presidente Vargas, Floriano Hermeto chegou a ser apontado como o melhor autor e melhor desenhista por Moacy Cirne, especialista em hqs, em sua coluna no Jornal de Letras. Com produção tão curta e farta de elogios, não teria Floriano traído a própria receita, e parado de desenhar antes do tempo? “Essa coisa de fazer histórias em quadrinhos surgiu como uma distração, diversão. Nunca vi essa experiência como carreira, um meio de vida, até pelo fato de pagarem muito mal. Se fosse uma opção profissional, acho que teria encarado tudo de outra maneira. Depois das edições de O Judoka, iniciei a produção de Zorro, mas o Adolfo Aizen, dono da Ebal, achou que meu desenho ficara sofisticado para o personagem. Eu trabalhava o dia inteiro como engenheiro do metrô, tinha uma mão-de-obra danada durante o dia e chegava em casa e ainda tinha que desenhar... Estava ficando cansado. Daí, abandonei tudo e nunca mais desenhei, a não ser em casa. Fiz os retratos das minhas filhas e da minha esposa”, conta ele, mostrando suas detalha44

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Esta é uma das cenas mais reproduzidas em livros de estudos sobre quadrinhos no Brasil e aparece na primeira história do Judoka desenhada por Floriano Hermeto: A Caçada.

das reproduções, feitas de ponto em ponto, penduradas na parede. Paixão precoce A paixão pelos quadrinhos veio ainda da infância. Já a inspiração para passar de simples leitor para autor de histórias em quadrinhos surgiu por volta dos 30 anos de idade.

“Desde garoto fui criado sem televisão. Era só rádio, gostava muito das revistas e gibis. Gostava de desenho, mas nunca estudei. Aliás, acho que desenho é prática. Todos os desenhistas começam jovens desenhando muito mal, e depois de dez, quinze anos, estão fazendo maravilhas. Ninguém começa a carreira como um grande desenhista. Fazia de

brincadeira no colégio, e em casa ficava desenhando. E fui crescendo assim. Até que pensei em desenhar algo, mas para ser publicado, e não ficar guardado no fundo de uma gaveta.” No Rio de Janeiro, na época, a Ebal dominava o mercado. Dentre as suas publicações, o único personagem nacional era O Judoka. “Eu o achava meio ridículo... Não gosto de super-herói. Mas, por falta de opção, parti pra fazer uma aventura com ele mesmo. Fiz umas dez pranchas. Uma secretária do trabalho conhecia o Fernando Albagli, da Ebal. Peguei as pranchas e fui pra lá. Veio o Fernando, veio o Naumin Aizen, pediram para ver o material e foram todos lá pra dentro. Aí, depois, veio o seu Adolfo, que me disse que iriam publicar a minha história”, recorda Floriano. “Sabia que eles iam gostar. Pelo nível das outras edições, a minha arte não estava abaixo. Estava no mesmo nível, ou até melhor.” Mas a alegria pela aprovação dos desenhos cedeu espaço para uma preocupação prática. “Pensei: e agora? Como é que eu vou terminar isso? Nem sei como essa história vai acabar, só fiz essas dez pranchas sem pensar no final. Tanto que, você vê, dá pra notar bem que, numa parte, a história pára e começa outra coisa. Há um corte, que até funcionou bem.” A repercussão rendeu mais quatro edições. Das cinco que assinou como desenhista, apenas uma teve um parceiro, Pedro Anísio, um dos criadores de O Judoka e autor do roteiro de Gigantes de


Apuarema. Um momento difícil, no qual a diversão quase se tornou um martírio. “Essa história foi horrível, e muito mal desenhada por mim. Não me enquadrava no estilo dele. Suava frio, madrugada adentro, desenhando. Queria fazer a minha história, entende? Se eu via uma motocicleta que me chamava atenção, ela entrava na história; colocava o Judoka andando de motocicleta. Ou seja, eu fazia a história à medida que desenhava, não a fazia antes. Nem tinha tempo pra isso... E assim seguia até o final. Eram 29 páginas, acho. Fazia uma página, fazia outra... Seguia criando e dosando tudo até chegar ao final.” Como explicar que, com apenas cinco edições de O Judoka – que também ganhou formas e cores pelas mãos de Eduardo Baron, Mário Lima, Cláudio de Almeida – FHAF (como assina Floriano Hermeto de Almeida Filho) tenha garantido o seu nome entre os grandes desenhistas brasileiros? “Sinceramente? Não sei”, responde Floriano, ciente de que há alguns palpites no ar. O processo peculiar de sua criação, no qual desenho e história nasciam juntos, pode ser uma explicação. “Para mim, a história era um meio de desenhar. Certa vez, fiz uma história com águas-vivas, que eu havia visto em fotos. Achei que ficariam bonitas no desenho. Pronto, fui lá e coloquei o herói nadando perto delas.” Nas mãos de Floriano Hermeto O Judoka teve ganhos reais em termos de ação e aventura. Na prática foram derrubadas algumas fronteiras que limitavam a ação do personagem, que passou a viver aventuras mesclando perigos internacionais, espionagem e mistério. “Era uma proposta que não deve ser confundida com a pasteurização que hoje é o principal algoz da manifestação artística”, diz Floriano. Sem estilo, decadência “A história em quadrinhos americana está numa decadência terrível. Aliás, as hqs estão em decadência no mundo todo. Elas são bem desenhadas, mas são pasteurizadas. Você não identifica mais o estilo do desenhista. Antigamente, você via a história e, ainda sem ler, identificava personagem e autor.” E o que teria causado esse mal? Floriano tem lá suas suspeitas.

Todas as capas de O Judoka desenhadas por Floriano Hermeto e Irma La Douce (direita), sua vilã preferida. À esquerda, um desenho da esposa feito em 1976.

“Quando tudo descambou pra superheróis e monstros, porrada pra lá, pancada pra cá, começaram a faltar enredo e boas histórias. A Europa experimentou um boom, mas as revistas foram acabando. A Linus acabou, Correo del Piccolo, Pilote... Pego isso agora na internet, mas tudo do final dos anos 70, ou 80. As de hoje não têm graça. Se você lê uma história, leu todas... Os brasileiros, coitados, estão desenhando bem, mas você não

sabe quem é brasileiro, quem é americano. Esse é outro problema: um cara faz uma cor, outra pessoa faz o desenho, um terceiro faz o lápis, outro a letra... Falta espaço para a produção mais autoral. Na minha época, eu fazia capa, lápis, tinta, legenda, título, história... Fazia tudo”, recorda. Do mesmo mal, acredita, padece outra de suas paixões: o cinema. “Antigamente, quando você ia atrás de um filme de determinado diretor, sabia o que estava indo assistir. Hoje, cada filme é de um diretor diferente, e eles são todos iguais. É sempre aquela correria, com explosões e brigas, closes em cima de closes, empobrecimento da linguagem. Acho que há um guia básico de como filmar. É tudo massificado, e os caras são obrigados a fazer daquele jeito. Muitos dos filmes eu não consigo acompanhar”, critica. O próprio O Judoka, embalado pelo sucesso nas bancas, foi tema de filme, tendo como estrelas o modelo Pedro Aguinaga, então considerado o homem mais bonito do Brasil, no papel título, e Elisângela. Lançado em 1973, foi um fracasso nas bilheterias, pois sua produção mostrou-se muito amadora. Por falar em estilo próprio, Floriano é crítico de sua obra. “Eu não acredito que tenha desenvolvido um estilo próprio. Não tive tempo pra isso”, diz ele, que reconhece algumas

influências. “Gostava muito do Steranko, copiei um personagem dele. E havia os espanhóis, né? Maravilhosos, como o Victor de la Fuente.” Apesar da magia dos quadrinhos, acredita ele, essa é uma arte fadada à extinção. “As histórias para adultos já acabaram. Os quadrinhos para crianças podem durar um pouco. Mas à medida que forem se difundindo coisas mais interativas, animadas, vai sobrar pouco espaço para os impressos”, acredita. “Um choque de felicidade” Edições que promovem experiências únicas, como a do garoto Floriano Hermeto, que na década de 40 corria às bancas atrás das principais publicações do gênero, no bairro de São Cristóvão. Emoção que teria uma releitura anos mais tarde, no bairro de Ipanema, onde mora até hoje, aos 74 anos. “Minha maior sensação como desenhista foi ver a primeira revista que fiz nas mãos de um garoto. Me avisaram lá da Ebal: O Judoka vai sair tal dia. E lá fui eu pra banca da General Osório. Quando eu estava atravessando a rua em direção ao jornaleiro, veio um garoto com a revista aberta, lendo-a na rua. Isso foi um choque de felicidade, um impacto! Depois, até desenhei essa passagem numa história de O Judoka, com direito à Praça General Osório, jornaleiro e tudo mais....” Colaborou Francisco Ucha.

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FOTOS E IMAGENS: DIVULGAÇÃO

Will Eisner em 1941; embaixo, The Spirit.

em movimento A chegada ao mercado do dvd Profissão Cartunista – Will Eisner, filme produzido por Marisa Furtado há mais de dez anos, apresenta a antigas e novas gerações o talento e a personalidade encantadora de um dos maiores artistas do universo das hqs. POR PAULO CHICO William Erwin Eisner nasceu em Nova York, em 1917, e faleceu na Flórida, no dia 3 de janeiro de 2005. Em 87 anos de vida, esteve por diversas vezes no Brasil, país com o qual desenvolveu uma relação muito especial e no qual fez grandes amizades. Pois é justamente por meio de uma dessas amigas especiais que Eisner, considerado um dos mais importantes artistas da História das histórias em quadrinhos, volta à vida. Sua arte, seu senso de humor e seu talento estão novamente ao alcance do público, graças ao lançamento, em dvd, do documentário Profissão Cartunista – Will Eisner, lançado pela gravadora Rob Digital. Originalmente o vídeo é uma produção de 1999, fruto de uma parceria entre a produtora Scriptorium, de Marisa Furtado, e a TV Senac. O filme chegou a ser exibido em diversos canais, como a TV Cultura, além da própria tv que participou da produção. Foi lançado no mercado pela Devir, mas de forma incompleta, com apenas dois de seus três episódios. Fez brilhante carreira internacional, sendo exibido em mais de 40 países, e ganhou o Troféu HQ Mix em 2000, na categoria melhor adaptação dos quadrinhos para outro veículo. “Agora ele chega ao mercado, no formato dvd, em versão completa, inclusive com o terceiro episódio, que nunca fora lançado, e mais quatro extras. Esse episódio, o 46

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Master Class, considero, hoje, o mais interessante. É o que mais encanta as pessoas, pois fala em detalhes da técnica do desenho, de como Eisner trabalhava as questões da sombra, da luz... Nele o artista demonstra sua técnica desenhando na prancheta e comentando seus livros, como o Quadrinhos e Arte Seqüencial”, conta Marisa Furtado, que dividiu a direção e produção do vídeo com Paulo Serran, que se dedicou sobretudo ao roteiro da obra. Os dois primeiros episódios do dvd são Spirit – Tudo sobre The Spirit, retratando o personagem mais famoso de Eisner, que estreou em 1940 e vem sendo continuamente publicado em todo o mundo, e O Sonho – O Sonho de Eisner, no qual é explorado o fato de Eisner ser mundialmente reconhecido como um artista através de seu meio original de expressão, que são os quadrinhos. Fala ainda de seu encontro com artistas underground em 1978 e de como isso o levou a produzir a primeira novela gráfica para adultos que revolucionou o mercado e as hqs. Nos extras, o próprio Will Eisner fala de sua vida pessoal, profissional, faz piadas e revela sua intensa relação com o Brasil, país que visitou sete vezes e onde fez amigos como Álvaro de Moya e Jaime Cortez. Marisa Furtado faz questão de ressaltar a produção extremamente cuidadosa para o lançamento do dvd brasileiro – o filme chegou ao mercado norte-americano em 2008. “Nossa versão, na verdade, tem um cuidado de acabamento maior. Deu muito trabalho reunir todo esse material, fechar os extras, gravar narrações, produzir um menu animado bacana...”, enumera ela, lembrando que o dvd tem várias seqüências animadas feitas a partir dos originais de Eisner e traz entrevistas com Ann Eisner, esposa do artista, Art Spiegelman, Bill Sienkiewicz, Denis Kitchen, Jerry Robinson, Angeli, Mauricio de Sousa e Ziraldo, entre outros. A produtora fala ainda das dificuldades encontradas para lançar o filme no mercado brasileiro. “O mais complicado foi justamente conseguir um distribuidor. Acontecia assim: todo mundo achava o filme ótimo, genial, dizia que deveria mesmo estar em catálogo. Desenhistas sempre o procuraram, professores universitários também... O pessoal da Warner chegou a se mostrar interessado. Tentei viabilizar o projeto via Riofilme, mas não andou... Até que o Roberto Carvalho, da Rob Digital, que na verdade é mais voltada para a área de música, se encantou com o trabalho e demonstrou interesse em lançá-lo em dvd”, conta Marisa. Nesta primeira formada, saíram 5 mil cópias. O dvd está à venda no site da Rob Digital (www.robdigital.com.br) e também pode ser encontrado nas Livrarias


A diretora Marisa Furtado (acima filmando nos arquivos da Universidade de Ohio) e Will Eisner (ao lado, em 1997) se tornaram grandes amigos e ele deu total liberdade de criação para desenvolver o documentário que agora é lançado completo em dvd.

Travessa e Saraiva e em algumas livrarias especializadas em hqs, como a Comix, em São Paulo. Com a obra disponível no mercado, Marisa diz que pretende negociar em breve, diretamente com a gravadora, melhores preços de venda do produto, para tentar torná-lo mais acessível ao público. E adianta que há previsão de lançamento de outros três filmes produzidos por ela na série Profissão Cartunista – estes retratando Jerry Robinson, Ziraldo e Henfil. Vinha de longa data a admiração de Marisa por Eisner. Mas a relação estreita entre os dois começou meio que por acaso.

Jornal da ABI Número 362 - Janeiro de 2011

Editores: Maurício Azêdo e Francisco Ucha Projeto gráfico e diagramação: Francisco Ucha Edição de textos: Maurício Azêdo Pesquisa e redação: Francisco Ucha, Otacílio d'Assunção e César Silva Apoio à produção editorial: Alice Barbosa Diniz, André Gil, Conceição Ferreira, Elizabeth Ziliotto, Guilherme Povill Vianna, Maria Ilka Azêdo, Ivan Vinhieri, Mário Luiz de Freitas Borges, Rita Braga. Publicidade e Marketing: Francisco Paula Freitas (Coordenador), Queli Cristina Delgado da Silva, Paulo Roberto de Paula Freitas. Diretor Responsável: Maurício Azêdo Associação Brasileira de Imprensa Rua Araújo Porto Alegre, 71 Rio de Janeiro, RJ - Cep 20.030-012 Telefone (21) 2240-8669/2282-1292 e-mail: presidencia@abi.org.br Representação de São Paulo Diretor: Rodolfo Konder Rua Dr. Franco da Rocha, 137, conjunto 51 Perdizes - Cep 05015-040 Telefones (11) 3869.2324 e 3675.0960 e-mail: abi.sp@abi.org.br Impressão: Taiga Gráfica Editora Ltda. Avenida Dr. Alberto Jackson Byington, 1.808 Osasco, SP

“Quando ele veio para a primeira Bienal de Quadrinhos, no Rio, em 1991, eu fiquei encarregada de assessorá-lo, inclusive em eventos e entrevistas. Fui esperá-lo no aeroporto e logo no contato inicial me surpreendi. Eu não podia imaginar que ele seria a pessoa que era. Um sedutor! Tivemos uma identificação à primeira vista. Nos tornamos os melhores amigos. Inclusive, mantenho contato com Ann Eisner até hoje.” Amizade já estabelecida, foi numa viagem aos Estados Unidos, onde ficou hospedada na casa do casal Eisner, que Marisa teve acesso a um vasto material sobre Will. Por pura coincidência, na

época Paulo Serran, que atuava no ainda incipiente segmento de tv a cabo no Brasil, necessitava de material inédito e de qualidade para compor a programação de novos canais. Pronto! Estava lançada a semente para a produção de Profissão Cartunista – Will Eisner. O próprio

DIRETORIA – MANDATO 2010-2013 Presidente: Maurício Azêdo Vice-Presidente: Tarcísio Holanda Diretor Administrativo: Orpheu Santos Salles Diretor Econômico-Financeiro: Domingos Meirelles Diretor de Cultura e Lazer: Jesus Chediak Diretora de Assistência Social: Ilma Martins da Silva Diretora de Jornalismo: Sylvia Moretzsohn CONSELHO CONSULTIVO 2010-2013 Ancelmo Goes, Aziz Ahmed, Chico Caruso, Ferreira Gullar, Miro Teixeira, Nilson Lage e Teixeira Heizer. CONSELHO FISCAL 2010-2011 Jarbas Domingos Vaz, Presidente; Adail José de Paula, Geraldo Pereira dos Santos, Jorge Saldanha de Araújo, Lóris Baena Cunha, Luiz Carlos de Oliveira Chesther e Manolo Epelbaum. MESA DO CONSELHO DELIBERATIVO 2010-2011 Presidente: Pery Cotta Primeiro Secretário: Sérgio Caldieri Segundo Secretário: Arcírio Gouvêa Neto Conselheiros efetivos 2010-2013 André Moreau Louzeiro, Benício Medeiros, Bernardo Cabral, Carlos Alberto Marques Rodrigues, Fernando Foch, Flávio Tavares, Fritz Utzeri, Jesus Chediak, José Gomes Talarico (in memoriam), Marcelo Tiognozzi, Maria Ignez Duque Estrada Bastos, Mário Augusto Jakobskind, Orpheu Santos Salles, Paulo Jerônimo de Sousa e Sérgio Cabral. Conselheiros efetivos 2009-2012 Adolfo Martins, Afonso Faria, Aziz Ahmed, Cecília Costa, Domingos Meirelles, Fernando Segismundo, Glória Suely Álvarez Campos, Jorge Miranda Jordão, José Ângelo da Silva Fernandes, Lênin Novaes de Araújo, Luís Erlanger, Márcia Guimarães, Nacif Elias Hidd Sobrinho, Pery de Araújo Cotta e Wilson Fadul Filho. Conselheiros efetivos 2008-2011 Alberto Dines, Antônio Carlos Austregesylo de Athayde, Arthur José Poerner, Carlos Arthur Pitombeira, Dácio Malta, Ely Moreira, Fernando Barbosa Lima (in memoriam), Leda Acquarone, Maurício Azêdo, Mílton Coelho da Graça, Pinheiro Júnior, Ricardo Kotscho, Rodolfo Konder, Tarcísio Holanda e Villas-Bôas Corrêa.

artista assistiu ao filme. E se encantou com o que viu. “Ele amou, adorou o filme! Aliás, tive total liberdade de criação, sem qualquer controle da parte dele. Ao fazer o vídeo eu havia manipulado sua arte, interpretado suas visões, tomado liberdades com o trabalho de sua vida... Interferências que poucos artistas consentiriam com facilidade. Então, imagine a minha alegria quando recebi o seguinte fax dos Eisners: ‘Queridos Marisa e Paulo, eu e Ann recebemos o seu filme na noite passada... Bravo! Ele é excelente. Seu design das seqüências animadas foi brilhante e criativo! Obrigado por esse grande filme!’, escreveram eles, que compareceram às duas pré-estréias do filme, em novembro de 1999, no Rio e em São Paulo”, lembra Marisa Furtado.

Conselheiros suplentes 2010-2013 Adalberto Diniz, Alfredo Ênio Duarte, Aluízio Maranhão, Arcírio Gouvêa Neto, Daniel Mazola Froes de Castro, Germando de Oliveira Gonçalves, Ilma Martins da Silva, José Silvestre Gorgulho, Luarlindo Ernesto, Marceu Vieira, Maurílio Cândido Ferreira, Sérgio Caldieri, Wilson de Carvalho, Yacy Nunes e Zilmar Borges Basílio. Conselheiros suplentes 2009-2012 Antônio Calegari, Antônio Henrique Lago, Argemiro Lopes do Nascimento (Miro Lopes), Arnaldo César Ricci Jacob, Ernesto Vianna, Hildeberto Lopes Aleluia, Jordan Amora, Jorge Nunes de Freitas, Luiz Carlos Bittencourt, Marcus Antônio Mendes de Miranda, Mário Jorge Guimarães, Múcio Aguiar Neto, Raimundo Coelho Neto (in memoriam) e Rogério Marques Gomes. Conselheiros suplentes 2008-2011 Alcyr Cavalcânti, Edgar Catoira, Francisco Paula Freitas, Francisco Pedro do Coutto, Itamar Guerreiro, Jarbas Domingos Vaz, José Pereira da Silva (Pereirinha), Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli, Ponce de Leon, Ruy Bello (in memoriam), Salete Lisboa, Sidney Rezende, Sylvia Moretzsohn, Sílvio Paixão e Wilson S. J. de Magalhães. COMISSÃO DE SINDICÂNCIA José Pereira da Silva (Pereirinha), Presidente; Carlos Di Paola, Marcus Antônio Mendes de Miranda, Maria Ignez Duque Estrada Bastos e Toni Marins (in memoriam). COMISSÃO DE ÉTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO Alberto Dines, Arthur José Poerner, Cícero Sandroni, Ivan Alves Filho e Paulo Totti. COMISSÃO DE DEFESA DA LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOS Lênin Novaes de Araújo, Presidente; Wilson de Carvalho, Secretário; Alcyr Cavalcanti, Arcírio Gouvêa Neto, Daniel de Castro, Geraldo Pereira dos Santos, Germando de Oliveira Gonçalves, Gilberto Magalhães, José Ângelo da Silva Fernandes, Lucy Mary Carneiro, Maria Cecília Ribas Carneiro, Mário Augusto Jakobskind, Martha Arruda de Paiva e Yacy Nunes. COMISSÃO DIRETORA DA DIRETORIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL Ilma Martins da Silva, Presidente, Jorge Nunes de Freitas, Manoel Pacheco dos Santos, Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli, Mirson Murad e Moacyr Lacerda. REPRESENTAÇÃO DE SÃO PAULO Conselho Consultivo: Rodolfo Konder (Diretor), Douglas Tavolaro, Fausto Camunha, George Benigno Jatahy Duque Estrada, James Akel, Luthero Maynard e Reginaldo Dutra. O JORNAL DA ABI NÃO ADOTA AS REGRAS DO ACORDO ORTOGRÁFICO DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA, COMO ADMITE O DECRETO Nº 6.586, DE 29 DE SETEMBRO DE 2008.

CAPA: OS PERSONAGENS QUE INTERFEREM NO LOGOTIPO DO JORNAL DA ABI SÃO MAFALDA, THE MAD MONKS (DO HENFIL NOS EUA), SNOOPY, M ÔNICA, HOMEM-ARANHA E PERERÊ. EMBAIXO, NO SENTIDO HORÁRIO, COMEÇANDO PELO SAMURAI LOBO SOLITÁRIO, OS QUADRINHOS QUE ILUSTRAM A CAPA SÃO BALLADE, DE MOEBIUS; K EN PARKER; Z UMBI, DE JÔ OLIVEIRA; JUVÊNCIO, O J USTICEIRO, POR SÉRGIO LIMA; PELE DE COBRA; VALENTINA (EM CIMA) E BARBARELLA; E O JUDOKA, POR MARIO LIMA.

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Sem dinheiro... no hotel mais caro do mundo POR MAURICIO DE SOUSA

vinham pela frente. Não podíamos nem pensar em errar na esra tempo de festicolha de um mero restaurante. Tíval de História em nhamos que economizar, mesmo! Quadrinhos em Lucca, na Mas o outono era uma festa, o Itália. O mais importante do mundo e que reuclima de lua-de-mel também. nia, a cada ano, os mais importantes desenhisDinheiro era o menos importante... desde que tas de cada país. O ano: 1971. tomássemos cuidado. Para mim um festival memoChegamos a Veneza, por trem. Este texto foi publicado rável: voltei para o Brasil com dois Hugo nos esperava, com aquele originalmente no Portal da Mônica (www.monica.com.br) prêmios: o Gran Guinigi e o Yeseu corpanzil, sorriso simpático em 1996. No site, Mauricio llow Kid (este último considerae jeitão todo diferente de falar. de Sousa tem uma área onde do o Oscar das HQ). Misturando italiano com porpublica periodicamente suas E lá estávamos nós, os desetuguês e espanhol para que Vera crônicas. Nesta, ele conta, nhistas, reunidos para palestras, o compreendesse. Chamou uma 25 anos depois, um fato marcante que aconteceu logo convenções, premiações e princilancha-táxi e disse que tinha redepois de ter sido agraciado palmente (naquela região da Tosservado para nós um hotelzinho com o Oscar dos Quadrinhos, cana) para almoços e jantares simpático e barato. Eu já havia lhe o Prêmio Yellow Kid. monumentais, regados a vinho contado, em Lucca, do nosso progeneroso. Mas a coisa não termiblema de caixa. Ele nos acalmou, nava aí. A Europa nos convidava para esticadas enquanto singrávamos pelos canais, abobados pelo aos países mais próximos após a mostra. E eu acei- espetáculo. Hugo dizia, enquanto admirávamos tei a sugestão do meu colega Hugo Pratt (Corto a cidade, que Veneza fôra feita para lua-de-mel. E Maltese) para visitá-lo em Veneza, onde ele ti- a lancha embicou numa viela-canal ao lado de nha uma de suas casas. velhos prédios, próximo da Piazza San Marco. Antes, como o clima do Festival estava uma Uma portinha quase despercebida surgiu rente beleza, antevia a premiação e tinha um tempinho à água, num paredão lateral de uma velhíssima para essa fugidinha para Veneza, liguei para o Brasil construção. Hugo disse que era ali. Fez-nos dese convidei minha então esposa Vera Lúcia, para cer da lancha num pequeno embarcadouro e nos “voar” para Lucca, a fim de ainda pegar o Festival encaminhou à entrada. Antes que pudéssemos pelo meio e depois irmos, juntos, para Veneza falar mais coisas subiu na lancha e sumiu. numa lua-de-mel tardia. Vera conseguiu chegar raTomamos o corredorzinho meio escuro e fopidinho, participou das festividades de premiação mos em busca da recepção. A julgar pelo corree arrumamos as malas para a esticada veneziana. dor velho e escuro, já estava até imaginando que Só havia um problema naquele tempo: eu ti- o Hugo Pratt nos indicara um hotel inferior ao nha o dinheiro contado para os poucos dias que que eu pedira.

E

Mas a dúvida se desvaneceu quando deparamos com um enorme salão renascentista, coalhado de quadros e tapetes maravilhosos. A decoração era, no gênero, o que eu vira de mais sofisticado e magnificente. Era de cair o queixo. Vera e eu achamos que o Hugo se enganara ou estávamos no meio de um museu no caminho do tal hotelzinho. Mas tudo era muito estranho. Até encontrarmos, atrás de uma coluna, a recepção. Onde nos informaram da reserva feita em meu nome. Preenchemos as fichas e subimos para uma suite de cobertura que dava para o grande canal. Uma beleza de vista. Linda. E provavelmente muito cara. Vera estava encantada. E preocupada, como eu. Como é que íamos pagar tudo aquilo? Telefonei para o Hugo. E ele, às gargalhadas, disse que tinha planejado tudo aquilo, sim, porque achava que uma lua-de-mel merecia o melhor e mais caro hotel do mundo: o Danieli Excelsior. E que eu economizasse no resto da viagem. Mas não nos três dias de Veneza. Aceitei o argumento. Já que estávamos ali, o melhor era aproveitarmos. O que fizemos. Nos dias restantes, na volta via Paris tivemos que experimentar almoços e jantares de sanduíches e vinhos mais baratos. Mas sabe que também foi delicioso? Pudera: pão e salame franceses e mais vinho Beaujolais, que era mais barato que água. O que mais queríamos para terminar a lua-de-mel temporã? Mas todas essas aventuras tiveram um significado especial dentre as minhas lembranças de vida: uma semana depois de nossa chegada ao Brasil, Vera morreu num acidente de carro.


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