Arte concreta e vertentes construtivas: teoria, crítica e história da arte técnica (palestrantes)

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Asbury comenta que o concretismo se via aliado a um programa estatal central que buscava aliar a produção estética à sociedade como um todo, mas era apenas sustentável enquanto a comunidade artística continuava intoxicada pela ideologia do desenvolvimentismo: a crença que o subdesenvolvimento poderia ser superado através de planejamento (ASBURY, 2005, p. 184). O declínio da utopia da modernização acelerada de Juscelino Kubitschek (1902-1976) com a altíssima dívida externa e o consequente colapso da democracia com o golpe civil-militar de 1964, também pode ser visto como o declínio da estética construtiva—a quarta Bienal de São Paulo com sua preferencia pelo informel e a dissidência de Ferreira Gullar (1930-2016) marcando esta mudança. Entretanto, Frederico Morais e outros autores como Juan Acha(1916-1995) apontam para o construtivo (construir: esculpir o futuro) como um caminho para o processo de estabelecimento de uma identidade latino-ameriana e, apesar de ligado ao contexto do período, eles argumentam que não se resume ao sonho desenvolvimentista (MORAIS, 1997, p. 36). No caso do Brasil, alguns eventos podem ser vistos como centrais na história do impulso construtivo na região. Entre eles estão a II Exposição Francesa de 1945 e a presença no Rio de Janeiro desde 1940 dos artistas Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), Arpad Szènes (1897-1985), Leon Degand (1907-1958) (primeiro diretor do MAM-SP) e Samson Flexor (1907-1971). Adicionalmente a séries de conferencias de Jorge Aníbal Romero Brest (1905-1989) em 1948, e as renomadas exposições de Max Bill(1908-1994) em 1950 e a Bienal Internacional de São Paulo de 1951 marcam pontos fundamentais dessa história. Além disso, do ponto de vista da América Latina, a ampla influência de Joaquín Torres-García(1874-1949) é inegavelmente um ponto importante de disseminação das ideias construtivas no continente (RAMÍREZ, 1992). Enquanto por um lado Vieira da Silva e Szènes, assim como Brest, criam uma ligação direta entre o Brasil e os países da América Latina— particularmente a Argentina, Venezuela e Uruguai onde os movimentos abstratos já tinham vários adeptos e grupos dedicados desde vários anos—Flexor, Degand e o retorno de artistas e críticos como Cícero Dias (1907-2003), Lygia Clark (1920-1988) e Mário Pedrosa (1901-1981) de viagens ao exterior, configuravam uma rede de troca de informações que

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