Arte concreta e vertentes construtivas: teoria, crítica e história da arte técnica (comunicadores)

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ZZ Introdução As vertentes artísticas agrupadas sob o rótulo de ‘construtivas’ (especialmente os movimentos concreto e neoconcreto) deram o tom do debate no campo artístico brasileiro durante os anos 1950 e princípio dos 1960. Pode-se dizer que, no Brasil, tais vertentes se tornaram hegemônicas nesse período – seja por sua legitimação imediata ou, ainda, por sua legitimação posterior, na revisão crítica e historiográfica empreendida no final dos anos 1970. Hoje, tomada uma distância histórica mais ampla, o papel dessas vertentes construtivas tem sido reavaliado, assim como têm havido esforços para investigar alguns aspectos que, até então, constituem pontos cegos na narrativa mais consolidada da história da arte brasileira. Uma dessas lacunas está nas reverberações do projeto construtivo para além do eixo RJ-SP, sobretudo nas cidades e regiões geográfica ou culturalmente mais distantes. Este trabalho busca traçar um balanço crítico de uma dessas reações, a partir do campo artístico em Belém (PA), no ‘extremo norte’ do país. Pode-se falar em dois grandes impulsos das tendências artísticas construtivas no Brasil, momentos de propagação mais intensa dessas correntes a partir do eixo RJ-SP. O primeiro diz respeito à elaboração prática e teórica que levou da arte concreta à arte neoconcreta, cujo maior vigor se deu na segunda metade da década de 1950 nas cidades de Rio de Janeiro e São Paulo. O segundo momento ocorreu na segunda metade dos anos 1970, quando se intensificou a revisão crítica e histórica da produção artística concreta e neoconcreta, e de seus respectivos desdobramentos e heranças. Iniciados naquelas cidades que capitaneavam o debate artístico e cultural brasileiro, esses dois impulsos foram vivenciados, em diferentes ritmos e intensidades, nos campos artísticos de outras cidades de todas as regiões do país. Em Belém, o processo de assimilação das teorias e práticas artísticas de matriz construtiva esteve pendendo entre duas posições: da abertura irrestrita às correntes internacionalistas, a uma posição ‘antropofágica’, que justapôs as questões e culturas visuais locais a essas correntes. Tentarei apresentar uma introdução sucinta ao modo como esses impulsos da arte construtiva foram vivenciados em Belém, de modo a 145


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