Revista Zacatraz nº 203

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Editorial Revista “ZACATRAZ”

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Presidente da Direcção José Eusébio Pereira Barata Cordeiro de Araújo (591/1973)

Editorial S

endo este o primeiro editorial após a eleição dos Órgãos Sociais para o triénio de 2016-2018, será oportuno aproveitar esta excelente ocasião para publicamente aqui sublinhar o compromisso prioritário então assumido. A uma só voz reafirma-se: a agregação dos Antigos Alunos em torno da sua Associação, procurando que esta se afirme e intervenha como o ente social representativo do seu universo. Como então foi explicitado, este objectivo estratégico desenvolveu-se com base em duas certezas que se julgam incontornáveis. Por um lado a certeza de que a nossa Comunidade Colegial se ergueu, desenvolveu e consolidou tendo por base uma vivência colegial e comunitária, num conjunto de valores que constituem a sua matriz distintiva. Por outro lado, a certeza de que os tempos ditam que o fortalecimento dessa unidade de camaradagem e solidariedade passa inequivocamente pelo recurso a uma materialização formal num órgão representativo, que lhe faculte outros instrumentos de actuação e afirmação. Indubitavelmente foi esta procura de ampliar a acção e assegurar a eficácia que guiou aqueles que, já lá vai mais de um século, fundaram a Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar. Estamos convictos de que, com o preenchimento destes pressupostos, se poderá garantir que a nossa divisa “Um por Todos, Todos por Um” alcançará uma ainda maior dimensão, determinando também a concretização mais perfeita do nosso lema “Servir”, em especial para com o nosso País de que tanto precisa.

Relembra-se igualmente que, para este nosso percurso conjunto, foram ainda assumidas como linhas orientadoras de actuação, plasmando sinteticamente os objectivos que os nossos Estatutos afirmam, as seguintes vertentes: - Consolidação e fortalecimento dos laços de solidariedade que unem os Antigos e actuais Alunos do Colégio Militar; - Intransigente defesa e promoção da Instituição Colégio Militar, em tudo o que ela consiste e representa, nomeadamente nos seus princípios, valores e tradições; - Empenhada colaboração na reafirmação do Colégio Militar como escola de Excelência Académica, Cultural e Desportiva.

Camaradas Antigos Alunos Estamos cientes que estes objectivos sendo fundamentais para a perene e contínua afirmação do Colégio, estão profundamente materializados na Barretina que trazemos no coração. É esta mesma Barretina que nos dita uma enorme e orgulhosamente assumida responsabilidade para com toda a nossa Comunidade, em especial para com os seus membros mais novos ou mais debilitados. Não esqueçamos que também os tempos são difíceis e as batalhas continuarão certamente a ser muitas, mas esta grande Família Colegial que integramos, não vai permitir que o nosso amado Colégio soçobre.

Reiterando esta certeza, salientamos a importância de uma actuação conjunta, relembrando os tempos mais recentes. Numa salutar convergência de objectivos, acentuando a mais-valia desta Família Colegial, vimos a Associação de Antigos Alunos do Colégio Militar e a Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos do Colégio Militar reiterarem a sua perfeita sintonia na defesa intransigente da matriz valorativa caracterizadora do Colégio e na reafirmação do Colégio Militar como escola de Excelência. O tempo tem pois que ser de crer e, por isso, podemos TODOS afirmar uma vez mais O COLEGIO MILITAR NÃO VAI MORRER, porque o nosso País dele precisa e os actuais e futuros Alunos têm direito a que assim seja.


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Ficha Técnica

CORPOS SOCIAIS DA ASSOCIAÇÃO PARA O TRIÉNIO 2016-2018

Ficha Técnica PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL Fundada em 1965 Nº 203 Abril/Junho - 2016 FUNDADOR Carlos Vieira da Rocha (189/1929)

ASSEMBLEIA GERAL Presidente Vice-Presidente 1º Secretário 2º Secretário

DIRECTOR Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949)

Raul Miguel Socorro Folques - 380/1952 José António Pina de Bastos e Silva - 67/1957 António Luís Henriques de Faria Fernandes 454/1970 Pedro Gonçalo Coelho Nunes de Melo - 51/1982

CHEFE DE REDACÇÃO Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957) REDACÇÃO Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950) Pedro Manuel do Vale Garrido da Silva (53/1961)

DIRECÇÃO Presidente Vice-Presidente Secretário Tesoureiro 1º Vogal 2º Vogal 3º Vogal 4º Vogal 5º Vogal 1º Vogal Suplente 2º Vogal Suplente 3º Vogal Suplente

CAPA Uma Chama que nos guia ©Foto Sérgio Garcia (326/1995)

José Eusébio Pereira Barata Cordeiro de Araújo - 591/1973 Artur Manuel de Spínola e Santos Pardal - 587/1961 João Eduardo Correia Barrento Sabbo - 17/1967 Luís Manuel Borges de Albuquerque Nogueira - 323/1969 Francisco Eduardo Moreira da Silva Alves - 392/1954 António Vítor Reynaud da Fonseca Ribeiro - 43/1968 José Miguel Teixeira de Faria - 2/1969 José Maria Gouveia de Azevedo e Bourbon - 598/1971 João Pedro Mendes Carreiro Gomes - 390/1983 Gonçalo Miguel de Matos Gonçalves - 105/1984 Tiago Simões Baleizão - 200/1987 Manuel Soares Albergaria Felgueiras e Sousa - 498/2006

ENTIDADE PROPRIETÁRIA E EDITOR Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar MORADA DO PROPRIETÁRIO e SEDE DA REDACÇÃO Quartel da Formação - Largo da Luz 1600-498 Lisboa Tel. 217 122 306/8 Fax. 217 122 307 TIRAGEM - 1350 exemplares DEPÓSITO LEGAL Nº 79856/94 DESIGN E EXECUÇÃO GRÁFICA:

Tm. (+351) 933 738 866 Tel. (+351) 213 937 020 info@smash.pt www.smash.pt

CONSELHO FISCAL Presidente 1º Vogal 2º Vogal 1º Vogal Suplente 2º Vogal Suplente

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS SÓCIOS DA AAACM Isenta de registo na Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), ao abrigo do nº 1 da alínea a), do Artigo 12º do Decreto Regulamentar nº 8/99, de 9 de Junho.

Manuel Ramos de Sousa Sebastião - 604/1961 Rui Joaquim Azevedo de Avelar - 25/1960 Eugénio de Campos Ferreira Fernandes - 180/1980 Rui Manuel Gomes Correia dos Santos – 225/1981 Bruno Miguel Fernandes Pires - 27/1995

Os artigos publicados são da responsabilidade dos seus autores. Esta publicação não segue o novo acordo ortográfico.

NA AAACM PODE ADQUIRIR

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20€

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NO VO

35€


Sumário

05 Colégio Militar

Berço de Grandes Portugueses

12 Antigos Alunos em Destaque 16 ZacatraZ 17 Curso de 1949/1956 Romagem dos 60 Anos de Saída

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Comunicado

18 Curso de 1959/1966

Romagem dos 50 Anos de Saída

19 Curso de 1961/1968

Romagem dos 55 Anos de Entrada

20 Curso de 1978/1986

Romagem dos 30 Anos de Saída

21 Curso de 1993/2001

Romagem dos 15 Anos de Saída

22 Comandantes da 2ª Companhia Primeiro Jantar/Encontro

23 Breves Apontamentos Fotos com Significado

30 Isto só no Colégio Militar! 31 Encontramo-nos na Avenida! 32 Poemas 33 XXV Torneio Internacional

25

Comemorando o 3 de Março

de Tiro de Tavira

34 Alunas dos Colégios Militares do Brasil 36 4 Quadras e uma Trilogia 36 O Telmo... 37 João Carlos Agostinho Alves (110/1996) 38 VIII Festival dos Estabelecimentos Militares de Ensino

50 Pedro José de Santa Bárbara Governardor do Presídio de São Julião da Barra

53 A equitação no meu tempo 57 A ignorância e a curiosidade 60 Os Master Chefes 62 Ricardo Fernando Ferreira Durão (17/1938) 63 Antigos Alunos nas Artes e nas Letras 64 Origem do ZacatraZ 67 Espada de Aluno do Real Colégio Militar 68 A lição do Velho Professor 69 Carta para o filho entregar ao professor 70 Uma luz na Luz General Calixto e Silva Antigo Director do Colégio

71 Pró-Memória Emygdio Cadimo,

Cultor da Ciência da pesca ao serviço da Sociedade e cidadão militante

73 Os que nos deixaram

41

Uma reparação pelas armas Dois Antigos Alunos em duelo (2 de Julho de 1924)

44 Livros do Fim do Império


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Comunicado

Comunicado 8 de Abril de 2016

A

Direcção da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar (AAACM) tomou conhecimento da demissão do Senhor Chefe de Estado-Maior do Exército (CEME), General Carlos António Corbal Hernández Jerónimo. Lamentando profundamente essa demissão, não pode a Direcção da AAACM deixar de sublinhar os relevantes serviços prestados pelo General Carlos Jerónimo, merecendo um especial destaque a forma altamente meritória como tutelou o Colégio Militar. Acentuamos particularmente, a elevada dignidade com que evidenciou a sua condição de Comandante Militar. Será igualmente pertinente, e também de inteira justiça, expressar uma palavra de louvor à Direcção do Colégio Militar pela forma empenhada, participada e realista que tem manifestado na procura das soluções e respostas para os múltiplos desafios que se colocaram ao Colégio Militar no passado recente. Neste âmbito, é de realçar a reflexão promovida e a cuidada implementação de acções no sentido de contrariar eventuais preconceitos e promovendo soluções de integração na Família Colegial, como bem o demonstram os Projectos de Pedagogia Inclusiva entretanto desenvolvidos.

A sua acção é, portanto, digna de nota e não será maculada pelo esdrúxulo aproveitamento de uma certa comunicação social, que – estranhamente - parece esquecer que, face à especificidade do ambiente formativo, se exige especial atenção na gestão do tema dos afectos. Por fim, considera-se ainda oportuno salientar que o Colégio Militar, como demonstra a sua história, e em particular as suas páginas mais recentes de acolhimento de novas realidades de frequência é, e continuará a ser, uma escola de VALORES que promove a UNIÃO, no respeito pela DIVERSIDADE e IDENTIDADE de cada um. Continuaremos pois a defender uma comunidade colegial que traduzindo a camaradagem e solidariedade que a une, se revê na Divisa “UM POR TODOS, TODOS POR UM”, e acredita que o Colégio Militar tem como missão última promover pessoas bem formadas, felizes e válidas para o projecto colectivo que é PORTUGAL. A Direcção da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar


Colégio Militar Berço de Grandes Portugueses

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José Alberto da Costa Matos 96/1950

Colégio Militar

Berço de Grandes Portugueses Artur Ivens Ferraz General do Exército, Chefe de Governo, Ministro, Chefe do Estado-Maior do Exército e Professor

(5/1883)

N

asceu em Lisboa a 1 de Dezembro de 1870, filho de Ricardo Júlio Ferraz e de Catherine Breakspeare Cickling Prescot Ivens Ferraz. Foi admitido como aluno do Colégio Militar em 1883, sendo-lhe atribuído o n.º 5. Concluiu o curso colegial em 1888 e, enquanto aluno, foi distinguido com as medalhas de prata e de ouro de Comportamento Exemplar (1886 e 1887, respectivamente) e com os Diplomas Honoríficos de Desenho e de Inglês (ambos em 1885), de Desenho, de Latim e de Inglês (todos em 1886) e com os prémios de Desenho e Geografia (ambos em 1888). Ainda enquanto colegial, foi graduado em comandante de Esquadra em 1886 e comandante de Companhia em 1888. Saído do Colégio, alistou-se de imediato como 1.º sargento graduado cadete no Regimento de Caçadores n.º 2, indo frequentar a Escola Politécnica onde concluiu os estudos preparatórios, ingressando depois na Escola do Exército, onde veio a terminar com alta classificação o curso de Artilharia, sendo então promovido a 2.º tenente, em 3

de Novembro de 1893, para o Regimento de Artilharia n.º 1. Ascendeu a 1.º tenente em 1895 e, em 1900, concluiu com distinção o curso do Estado-Maior. Em 1904 inicia a sua actividade docente como lente-adjunto da 7.ª Cadeira da Escola do Exército e, do ano seguinte e até 1913, é também professor, no Colégio Militar, do 2.º Grupo de disciplinas (Português e Francês) e do 3.º (Inglês e Alemão), tendo sido entretanto promovido a capitão em Dezembro de 1906. Passou de seguida a lente da 5.ª Cadeira (Táctica de Artilharia) da que era agora denominada de Escola de Guerra. Em 1914, os seus profundos conhecimentos da língua inglesa (a sua língua materna) e as suas qualidades militares, de inteligência e de carácter, fizeram com que o então ministro da Guerra (general Pereira d’Eça, ex-aluno do Colégio Militar) o nomeasse chefe da missão militar que foi a Londres fazer entrega das bases da convenção anglo-lusa segundo a qual se deveria regular a intervenção das forças portuguesas na 1.ª Grande Guerra (1914-1918).


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Colégio Militar Berço de Grandes Portugueses

De regresso a Lisboa, passa a comandar em 1927 a Escola Central de Oficiais, em cuja organização tinha colaborado no Gabinete do Ministro da Guerra. Em Agosto desse ano é promovido por escolha a general e, no mesmo mês, era nomeado Ministro do Comércio e Comunicações e, interinamente, das Finanças do governo do general Oscar Carmona (ex-aluno do Colégio Militar), em cujas funções se veio a manter até Novembro desse ano.

Promovido a major em Setembro de 1916, em plena guerra, foi nomeado para fazer parte do Quartel-general da Divisão de Instrução (Tancos) e, em finais de Dezembro desse ano embarcou para França fazendo parte da missão que precedeu as tropas do Corpo Expedicionário Português (CEP), tendo depois substituído o subchefe do Estado-Maior do CEP, que ficara em Lisboa a dirigir os trabalhos até ao embarque das tropas. Em Abril do ano seguinte foi apresentar-se no Quartel-general do 1.º Exército Britânico para chefiar a missão de ligação do CEP junto daquele comando.

Regressou a Portugal a 7 de Maio de 1917 e, em Setembro ascendeu ao posto de tenente-coronel. Decorridos dois anos foi promovido a coronel, sendo então nomeado adido militar junto da Legação de Portugal em Londres, onde permaneceu até 1922, ano em que o governo extinguiu o cargo. Em Julho de 1924 seguiu para Moçambique para chefiar a Repartição Central da Secretaria daquele território, vindo em Abril de 1926 a desempenhar, interinamente, o cargo de Governador-geral.

Não obstante esta curta primeira passagem pela actividade governativa, foi delegado do governo português a Genebra, à Sociedade das Nações, para tratar de um vultuoso empréstimo internacional que Portugal pretendia para 1928, tendo porém, em defesa do prestígio e da soberania nacionais, recusado as condições que aquela Sociedade, como avalista da operação, pretendia impor-nos, granjeando com a sua atitude o aplauso do público e um elevado prestígio junto do mesmo. Em Março de 1929 foi nomeado Administrador Geral do Exército, funções em que se manteve apenas até Julho, por ter sido designado Chefe do Governo e ministro interino do Interior, cargos de que veio a ser exonerado em Janeiro de 1930, regressando então às suas anteriores funções de Administrador Geral do Exército. Em Abril de 1931 pede exoneração deste cargo e é nomeado vogal do júri das provas de aptidão para a promoção a brigadeiro.


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Colégio Militar Berço de Grandes Portugueses

Oito meses depois, a 5 de Dezembro de 1931, é nomeado Chefe do Estado-Maior do Exército, cargo em cujo desempenho viria a falecer em 16 de Janeiro de 1933. Durante a sua carreira foi também representante do Exército Português na Conferência do Desarmamento, na Sociedade das Nações, vice-presidente do Conselho Nacional do Ar (1930) e pertenceu ainda à Comissão dos Padrões da Grande Guerra. Como autor escreveu «A Ascensão de Salazar. Memórias de Ivens Ferraz» e colaborou em revistas da especialidade, principalmente na Revista de Artilharia e na Revista Militar. Era agraciado com os graus de comendador da Ordem da Torre e Espada com palma, cavaleiro, comendador, grande-oficial e grã-cruz da Ordem de Avis e comendador da Ordem de Santiago, e condecorado com três medalhas de prata de Bons Serviços duas das quais substituídas por uma de ouro, medalhas de prata e de ouro de Comportamento Exemplar, medalha da Vitória, e ainda com a Distinguished Service Order (Inglaterra), grã-cruz da Ordem de Gregório Magno (Vaticano), grã-cruz da Ordem da Coroa (Bélgica), grã-cruz da Ordem de Carlos III (Espanha) e Legião de Honra (França).

Torre e Espada

Avis

Santiago

Bons Serviços

Distinguished Services

Coroa de Bélgica

Carlos III

Legião de Honra


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Colégio Militar Berço de Grandes Portugueses

Augusto César Bon de Sousa General de Brigada e mentor das comunicações militares por pombos-correio

(154/1848)

N

asceu em Lisboa a 11 de Fevereiro de 1832, filho de Pedro Paulo Ferreira de Sousa, tenente-general e 1.º barão de Pernes, e de Helena Águeda Bon. Ingressou em 1841 no Colégio Militar, onde foi o aluno n.º 154, tendo concluído o curso colegial em 1848. Logo nesse ano, assentou praça como voluntário no Regimento de Infantaria n.º 10 e, como 1.º sargento graduado aspirante a oficial, prosseguiu os seus estudos na Escola Politécnica e depois na Escola do Exército, onde tirou o curso de oficial de Infantaria, sendo promovido a alferes em 29 de Abril de 1851. Ascendeu depois, sucessivamente, a tenente em 1868, capitão em 1872, major em 1883, tenente-coronel em 1884 e coronel em 1888. Ainda alferes, foi designado para servir nos Caminhos de Ferro de Lesta e Norte, no âmbito da execução de trabalhos técnicos. Em 1875, por intervenção do nosso embaixador em Paris, vieram para Portugal alguns

casais de pombos de raça apropriada a fins militares, oferecidos por Mr. Ia Perre de Roo. Não se fez logo aplicação ao fim para que vinham destinados (o estabelecimento de comunicações militares) pelo que só mais tarde, o então ministro da Guerra, João Crisóstomo de Abreu e Sousa, desejando pôr em execução o serviço de pombos-correio, encarregou Bon de Sousa de estudar convenientemente a sua utilização bem como o aperfeiçoamento da raça, e de criar e pôr em funcionamento tal serviço. Em resultado dos estudos que realizou, Bon de Sousa instalou no antigo convento da Penha de França a primeira estação de pombos-correio mas, reconhecendo que se tornava também necessário formar pessoal acerca dos procedimentos a adoptar nas diferentes fases por que passam os pombos, decidiu escrever e publicar um livro sobre a criação dos columbídeos, destinado a servir de guia à actuação do pessoal sob suas ordens.


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Colégio Militar Berço de Grandes Portugueses

Em 1880 estavam já construídos os primeiros pombais militares, constituindo uma rede de apoio ao telégrafo que, além de Lisboa, englobava Elvas, Tancos, Setúbal, Vendas Novas, Coimbra, Viseu, Mafra e Évora. Oito anos depois por decreto de 5 de Julho de 1888 era criado o Serviço Telegráfico de Guarnição e dos Pombais Militares. Foi director geral dos Telégrafos do Reino e presidente da Comissão Militar de Telégrafos, e embora oriundo da arma de Infantaria, a maior parte da sua carreira foi dedicada às Transmissões. Publicou «Anteprojecto da organização de telegrafia militar, seguido de elementos de telegrafia eléctrica, teórica e prática» (Lisboa, 1876); «Serviço dos pombos-correio no exército em campanha e seu emprego no recreio e na indústria particular» (Lisboa, 1881); «Memória sobre a telegrafia eléctrica militar na Exposição de Electricidade em Paris, 1881, seguida de um tratado de telegrafia de sinais para uso do Exército» (Lisboa, 1883, e sob patrocínio do governo francês, a partir desta obra foi extraído um opúsculo intitulado «Traité de télégraphie militaire par signaux», editado em Paris, 1885); «Manual para a execução da telegrafia óptica» (Lisboa, 1887); «Projecto e instruções para o estabelecimento de pombais militares no continente de Portugal» (Lisboa, 1888). Era sócio efectivo da Academia Real das Ciências de Lisboa desde 1877, nela tendo apresentado um grande número de comunicações acerca da telegrafia eléctrica e dos pombais militares, assuntos estes que eram

Torre e Espada

Avis

então praticamente desconhecidos entre nós e, em Março de 1878, tornou-se membro da Academia de França. Por incapacidade para o serviço activo, passou à situação de reforma em 23 de Novembro de 1893, com o posto de general de brigada, vindo a falecer em Lisboa a 9 de Outubro de 1905. Era agraciado com o grau de oficial da Ordem da Torre e Espada e da Ordem de Santiago, cavaleiro e comendador da Ordem de Avis, e condecorado com as medalhas de ouro de Bons Serviços e de prata de

Santiago

Bons Serviços

Comportamento Exemplar, e ainda com o grau de oficial da Ordem de S. Jacques do Mérito Científico (França) e idêntico grau da Ordem da Instrução Pública (França). Teve mais quatro irmãos que foram seus condiscípulos no Colégio Militar: o Pedro Paulo Bon de Sousa, o Carlos Augusto, o João Carlos e o Eduardo Augusto.

Comportamento Exemplar

St. Jacques

Instrução Pública


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Colégio Militar Berço de Grandes Portugueses

Carlos Benevuto Casimiro da Silva General do Exército, Visconde de Sagres, Par do Reino e Conselheiro de Estado

(41/1812)

N

asceu em Lisboa a 4 de Abril de 1804, filho do general Emídio Xavier Lopes da Silva e de Mariana Casimiro da Silva. Foi admitido como aluno sem número do Colégio da Feitoria em 1812. No ano seguinte, quando o Colégio foi reconhecido oficialmente como Colégio Militar, sendo então dotado de um plano de estudos provisório que determinava que o curso teria seis anos, é-lhe então atribuído um número como aluno: o 41. Saiu do Colégio em Agosto de 1821 por ter completado 17 anos de idade, e assentou praça como cadete no Regimento de Infantaria n.º 10, matriculando-se na Academia de Marinha onde viria a concluir o 1.º ano de Matemática. Um mês após a incorporação é promovido a alferes. Ascendeu sucessivamente a tenente em 1831, a capitão em 1834, a major em 1842, a tenente-coronel em 1847 e a coronel em 1851. Foi promovido depois a brigadeiro em 1852, a general de brigada em 1865 e, finalmente, a general de divisão, em 21 de Janeiro de 1876. Ainda jovem, logo que se iniciou a luta entre absolutistas e liberais, tomou parte activa em vários combates, designadamente nos de Coruche da Beira, ponte do Prado e Ponte da Barca, em 1827, e no da Cruz de Merouços, em 1828. Com a partida do exército liberal para Plymouth, o governo miguelista lançou-se em enormes devassas e perseguições sobre os liberais, as quais encheram as prisões, ao mesmo tempo que nomeava um Conselho Militar para expurgar todos os oficiais que tivessem servido do lado dos revoltosos. O alferes Carlos Benevenuto é então demitido do Exército e decide emigrar para a Galiza, daí seguindo para Inglaterra com o propósito de se juntar aos liberais que ali se achavam refugiados. Em 1829, mantendo-se a Ilha Terceira como um baluarte do liberalismo, cujas poucas tropas viviam sob ameaça de um ataque miguelista, parte para ali com militares do Regimento de Infantaria 18 a fim de reforçar a guarnição da ilha. Em 1831, já tenente, tomou parte nas expedições liberais que conduziram à submissão das ilhas do Pico e de S. Jorge e, no ano seguinte, às do Faial e S. Miguel.

Regressou então ao continente para se integrar nas forças do Exército Libertador entretanto desembarcadas no Mindelo que lutavam contra os miguelistas, tendo tomado parte nas acções de combate de Amarante (11 de Abril de 1834), de Castro de Aire, (30 do mesmo mês), em que foi louvado, e da Asseiceira (16 de Maio), na qual, pela sua bravura, foi agraciado com o grau de cavaleiro da Ordem da Torre e Espada. Em 26 de Maio de 1834, terminava a guerra civil com a Convenção de Évora Monte e, no ano seguinte, Carlos Benevenuto passa a servir no Estado-Maior como ajudante de campo do Duque da Terceira, vindo a ser promovido a capitão em 24 de Julho desse ano. Na sequência da “Revolução de Setembro” de 1836, pediu a demissão, voltando a ser reintegrado em 1840 como capitão de Caçadores n.º 2, sendo mais uma vez nomeado ajudante de campo do Duque da Terceira, funções em que permaneceu mesmo quando, em 1841, o marechal foi comandar a 1.ª Divisão Militar.


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Colégio Militar Berço de Grandes Portugueses

Face às medidas repressivas adoptadas pelo governo de Costa Cabral a partir de 1842, os “setembristas” radicais decidiram no começo de 1844 recorrer à rebelião militar, que veio a desencadear-se em Torres Novas na madrugada de 4 para 5 de Fevereiro. As tropas revoltosas dirigiram-se depois para Castelo Branco, perseguidas pelas forças governamentais sob comando do barão de Leiria, nas quais se integrava o major Carlos Benevenuto. Os revoltosos acabaram por ser cercados em Almeida, vindo a capitular em 28 de Abril de 1844, por falta de apoio popular e porque a maior parte do exército estava do lado de Costa Cabral. Dois anos decorridos, em 1846, voltou a servir nos Açores, agora como comandante da Subdivisão Militar da Horta. No ano seguinte, promovido a tenente-coronel, é nomeado responsável pelo Governo Militar da ilha do Faial e, ascendendo a coronel em 1851, foi no ano seguinte em brigadeiro para ser governador do Castelo de S. Jorge (Lisboa), o qual era então usado para fins militares. Em 1860 é Chefe do Estado-Maior da 1.ª Divisão Militar e, uma vez general de brigada em 1865, passou a comandar a 1.ª Brigada de Infantaria. Em 23 de Agosto de 1870 foi-lhe concedido o título nobiliárquico de 1.º visconde de Sagres e, sendo general de divisão nos começos de 1876, foi sucessivamente comandante das 1.ª e 8.ª Divisões Militares. Veio a falecer a 10 de Julho de 1885 mas, sentindo que a vida se lhe estava a findar, chamou dois dias antes o seu ajudante de

Torre e Espada

1

Avis

campo (capitão Charters de Azevedo) a quem recomendou que transmitisse um abraço aos oficiais do Estado-Maior, da Engenharia e da Artilharia e que os seus três ajudantes de ordens procedessem de igual modo para os da Cavalaria e Infantaria e para os governadores e demais oficiais das Praças de Guerra. Foi Conselheiro de Estado, Par do Reino e ajudante de campo honorário do rei D.Luís I. Era agraciado com a grã-cruzes da Ordem da Torre e Espada e da Ordem de Avis, bem como os graus de comendador da Ordem de Cristo e da Ordem de N.ª Sr.ª da Conceição de Vila Viçosa, e condecorado com as medalhas de ouro

Nª Srª Conceição de Vila Viçosa

Valor Militar

de Valor Militar, de Bons Serviços e de Comportamento Exemplar, com a medalha das Campanhas da Liberdade com o algarismo 91 e ainda com a grã-cruz de Isabel a Católica (Espanha) e as comendas da Ordem de Carlos III (Espanha) e da Ordem de S. Lázaro e S. Maurício (Itália).

Bons Serviços

Campanhas da Liberdade

Isabel a Católica

No verso da medalha havia um algarismo, entre 1 e 9, que indicava o número de anos de combate do condecorado durante aquelas campanhas.

S. Lázaro e S. Maurício


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Antigos alunos em Destaque

Antigos alunos

em Destaque

Luís Jorge Rodrigues Semedo de Matos (165/1965) Doutoramento em História dos Descobrimento e da Expansão

J

orge Semedo de Matos, distinto Oficial da Armada, Capitão-de-Fragata fuzileiro, concluiu o seu Doutoramento em História dos Descobrimentos e da Expansão com a tese “Roteiros e rotas portuguesas no Oriente nos séculos XVI e XVII”. As provas públicas desta tese, orientada pelo Professor Doutor Francisco Contente Domingues, foram prestadas no Salão de Actos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Em representação do Reitor da Universidade de Lisboa, presidiu ao júri o Professor Doutor António Ventura, tendo o candidato obtido a classificação máxima de “Aprovado com distinção e louvor”. Jorge Semedo de Matos que desempenha funções de Professor efectivo da Escola Naval, é membro emérito da classe de História Marítima da Academia de Marinha. A ZacatraZ felicita vivamente o nosso Camarada do Colégio pelo dignificante título académico que obteve com o seu esforço e saber.

António Pedro Feio Ribeiro Mateus (57/1970) Jornalista

António Mateus, Jornalista de mérito que acompanhou momentos muito difíceis e complicados vividos no Continente Africano, acaba de publicar mais um interessante livro relacionado com essa vivência.

D

e acordo com a Agência LUSA, os bastidores da guerra e da paz na Angola pós-independência centram as “estórias” que deram origem a notícias sobre os 30 anos do conflito angolano no novo livro do jornalista português António Mateus, lançado em Lisboa. Numa entrevista à agência Lusa, empresa para a qual trabalhou como também como delegado em Moçambique e na África do Sul entre 1986 e 2003, António Mateus subli-

nhou que o livro, intitulado “Angola - O Regresso do Fim do Mundo”, não narra o acto político da guerra (1975/2002), mas sim o que esteve por de trás das notícias. “É um livro que conta os bastidores da guerra e da paz em Angola ao longo de três décadas do período que eu acompanhei enquanto jornalista. É um livro que, de alguma forma, procura transportar para o mundo lusófono aquilo que aprendi com Nelson

Mandela: «só nos conseguimos encontrar no futuro se voltarmos atrás no passado e nos entendermos assim»”, sublinhou. Para o actual jornalista da estação de televisão portuguesa RTP, o livro é “uma espécie de bloco de apontamentos” de um repórter que teve o “privilégio” de acompanhar o conflito angolano do pós-independência e as “sucessivas frustrações do povo que, quando esperava finalmente a paz, voltava a cair outra vez na guerra”.


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“Tem muitos aspectos anedóticos, muitos aspectos em que se percebe qual é a função real de um jornalista, as atribulações de um jornalista. É um olhar humano sobre

situações dramáticas”, afirmou, destacando a importância de se pensar que os decisores políticos “também são seres humanos”, algo muitas vezes “esquecido” pelos repórteres. “É um pouco fazer os leitores entender como tantas vezes a guerra acontece, de como tantas vezes por pormenores se encontra a paz ou o contrário. E de como, em situações de sofrimento extremo, muitas vezes se despertam fenómenos de humanismo e de solidariedade humana absolutamente tocantes”, realçou o jornalista português António Mateus, que já publicou vários livros sobre o continente africano, sobretudo relacionados com Nelson Mandela, assegura que a obra relata “três décadas de histórias fantásticas”, possibilitadas, disse, pela agência noticiosa portuguesa. “Toda a minha carreira de jornalista deve-se à Lusa. Sem dúvida. Num ano em que a agência portuguesa de informação assinala três décadas de existência, este é um livro cuja narrativa se confunde com a história da própria Lusa. É um prestar de homenagem, é um obrigado meu, como jornalista”, justificou.

António Manuel Pereira da Cunha Ribeiro Valente (217/1978) Engenheiro Mecânico pelo IST-UTL e pela UC Berkeley - Universidade da Califórnia, EUA e Oxford, UK.

António Valente (217/1978) foi distinguido na primeira competição a nível europeu INNOspace Masters.

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sta competição desenrolou-se na Alemanha com a participação de empresas europeias, start-ups, universidades e instituições de investigação e desenvolvimento (R&D), cujos projectos envolvem transferência de tecnologias e conhecimentos de outras indústrias para o sector espacial. O processo de avaliação dos vários projectos decorreu entre Outubro 2015 e Janeiro 2016. A cerimónia final de entrega dos prémios teve lugar em Berlim, no dia 4 Maio de 2016. Tendo sido analisadas várias centenas de projectos para soluções que permitam uma maior eficiência no fabrico de satélites, António Valente através da sua empresa PLY Technologies GmbH, obteve o terceiro lugar na categoria da Airbus Defence and Space (a maior empresa aeroespa-

cial da Europa e líder em tecnologias de satélite), prémio que lhe foi entregue na cerimónia de 4 de Maio em Berlim. O prémio enquadra-se no campo das tecnologias precursoras da quarta revolução industrial, alimentada pela digitalização e caracterizada pela convergência de mundos virtuais e reais para a Internet das coisas e com o consequente rompimento das cadeias de valor tradicionais. Trata-se de desenvolvimentos, destinados a satisfazer a procura das conectividades necessárias em tempo real (comunicação via satélite) que constituem a chamada Indústria 4.0, cujo impacto virá a revolucionar todos os segmentos industriais, incluindo o Aerospacial, afectando as actuais cadeias de valor da grande maioria dos segmentos industriais.

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António Mateus dedica o livro, publicado pela editora Planeta, a outro jornalista da Lusa, Rui Moreira, falecido a 22 de Abril de 2008, aos 46 anos. “A carreira dele na agência quase se confundiu com a minha”, referiu. “Um homem de grande dimensão humana, um grande jornalista, que nos abandonou a todos precocemente e de quem eu tenho muita saudade”, salientou o jornalista português, que como delegado da Lusa na África Austral, cobriu os desenvolvimentos das guerras civis em Angola e Moçambique, as negociações da retirada cubana de território angolano, a independência da Namíbia e o fim do apartheid na África do Sul, entre outros temas. António Mateus, natural de Castelo Branco (interior centro de Portugal), onde nasceu a 11 de Maio de 1960, é autor de vários livros relativos a essas experiências - “Selva Urbana” (2007 e publicado pela editora Colibri), “Homens Vestidos de Peles Diferentes” (2008, Ulmeiro), “Mandela - A Construção de um Homem” (2010, Oficina do Livro, edição revista e aumentada em 2013) e “Mandela Um Rebelde Exemplar” (2013, Planeta).”


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Antigos alunos em Destaque

De 1980 a 1983 no Colégio Militar

Unisys em sistemas CAD/CAM/CAE/CIM para a indústria de moldes portuguesa - Marinha Grande e Oliveira de Azeméis - principalmente para a indústria automóvel e clientes internacionais. Em 1991 foi responsável pelo gabinete técnico/projecto SPEE-Mero Raumstruktur, estruturas espaciais metálicas para vários projectos em Portugal, fabricação e obras (ex. Estrutura Espacial do I.S.T. Pavilhão de Engenharia Civil). Em 1997, assumiu na Ford-VW Autoeuropa, a responsabilidade por um projecto de inovação para colagem de carroçarias automóvel (VW Sharan/Ford Galaxy). Os resultados do projecto foram amplamente reconhecidos pelo responsável R&D do grupo VW e apresentados em 1998 na conferência de Lisboa. Foi convidado a participar nos Estados Unidos no projecto PNGV (Partnership for New Generation Vehicles - Ford/Chrysler/GM), no LBNL-Lawrence Berkeley Lab realizando actividades de I&D como Research Engineer, na avaliação não destrutiva de carroçarias coladas para a indústria automóvel. Em Janeiro de 1999, na Oxford Brookes University - JTRC (Joinning Technology Research Center) iniciou a sua participação no desenvolvimento de base tecnológica dos carros de alumínio com a Ford e a Jaguar Cars. De volta a Portugal, de 2000 a 2002 desempenhou a função de António Valente, em 2013, com painéis tipo “sandwich” estruturais com protecção térmica responsável técnico da integrada (escudos térmicos para reentrada). Com evolução das necessidades do mais pequeno, mais barato e do aumento exponencial do número de satélites (ordem das centenas por cada programa) as soluções apresentadas por António Valente, representaram importante contributo para o alargamento da base industrial da Airbus DS e para novas soluções para a construção destas novas gerações de satélites (LEO-Low Earth Orbit). António Valente nasceu em 13 de Junho de 1968, em Lisboa, Portugal. Entrou para o Colégio no ano de 1978, formou-se em Engenharia Mecânica pelo IST-UTL e complementou os estudos em UC Berkeley - Universidade da Califórnia, EUA e Oxford, UK. Acumula 20 anos de experiência profissional em ambientes industriais, em I&D e desenvolvimento de produto, com destaque para os sectores Automóvel, Rail, Aeronáutico e Aeroespacial. Durante o seu curso universitário teve a sua primeira experiência profissional com a

Hydro Alumínio Portalex, unidade de extrusão da Norsk Hydro grupo (Noruega); (Norsk Hydro - prémio Concurso de Ideias de 2002). Entre 2002 e 2007 trabalhou como director de Desenvolvimento de Novos Produtos num dos principais fabricantes de componentes metálicos em Portugal, focando principalmente as indústrias automóvel e aeronáutica (Ogma, Pilatus e Embraer, tendo participado no início do desenvolvimento do cluster aeronáutico português). O resultado do seu trabalho de desenvolvimento de produto na unidade de montagem de caminhões ISUZU (Patente WO/2009/130581) foi decisivo para a continuação deste cliente em Portugal (Swedish Steel Prize 2005; Menção Honrosa para Carroçarias de Carga em aço de ultra alta resistência-UHSS). Entre 2008-2010, a PLY Engenharia Lda, foi a primeira empresa não Finlandesa a ser financiada pelo programa TEKES na Finlândia, para o desenvolvimento da tecnologia de painéis

Autonomous Robatic Deep Sea Lander (ARDSL)


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presença sustentável em operações no fundo do mar com o objectivo do aumento da operacionalidade e da capacidade de operação (profundidade, autonomia, posicionamento com precisão e carga útil) através da utilização de uma plataforma de operação autónoma. Recentemente, durante o ano de 2015, desenvolveu para a Airbus Defence & Space novas tecnologias estruturais em alternativa aos painéis sandwich convencionais (tipo favo de abelha) para os projectos Ariane6 (lançadores) e OneWeb (constelação de 900 satélites). Do seu palmarés constam, entre outras, as seguinte distinções:

Gewinner INNOspace - Masters

tipo sandwich Opencell™, em cuja patente (WO/2009/034226) António Valente figura como inventor, em consórcio com a Outokumpu Oyj (2º maior produtor mundial de aço inox). Mais recentemente ganhou o prémio BES Inovação 2011 na categoria de produtos industriais com a tecnologia Opencell™. Em, 2012 - o programa HannoverImpuls e o Innovationszentrum Niedersachsen seleccionam António Valente para se estabelecer num dos mais importantes centros de desenvolvimento de tecnologias avançadas de produção em Hannover (Alemanha), e acelerar a comercialização nos mercados europeus e asiáticos, com base nos sectores industriais alemães, nomeadamente (Aerospace, Rail, Naval e Energy) para o que é constituída a PLY Technologies GmbH. A tecnologia é listada como “radical built concept” para a Airbus Deutschland, 2013. Uma nova patente (WO/2013/106112), é submetida no USPTO (EUA), relativo a painéis

Pranchas de surf

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tipo “sandwich” estruturais com protecção térmica integrada (escudos térmicos para reentrada). Em 2013-2014, desenvolveu a primeira prancha de cortiça para o surfista Garrett McNamara, sendo a primeira prancha de cortiça especificamente para ondas grandes/ Nazaré a fazer uma entrada no Billabong XXL Awards, tendo submetido uma nova patente (WO/2014/200374) de uma nova solução para painéis sandwich de cortiça. Em 2013, inicia o desenvolvimento em colaboração com o INESC-TEC, ISEP-Grupo de Robótica e um grupo industrial nacional, de um conceito inovador para veículos autónomos em profundidade (mar) que foi seleccionado pela European Defense Agency (EDA) num conjunto alargado de propostas europeias (só Portugal concorreu com cerca de 50 projectos). O projecto visou o desenvolvimento de tecnologia nacional para a presença em grande profundidade. Além do desenvolvimento do conceito, António Valente foi responsável pela concepção, projecto mecânico e integração dos vários equipamentos, tendo sido o primeiro projecto de “Dual-Use” na Europa a ser financiado e terminado com os testes de mar em Setembro de 2015. O projecto supre uma necessidade de desenvolvimento tecnológico, essencial para o domínio do espaço marítimo nacional, perfeitamente enquadrado com a missão e equipamentos do EMEPC (Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental), Marinha de Guerra Portuguesa, universidades e outras agências estatais. O equipamento, um veículo robótico autónomo, (Autonomous Robotic Deep Sea Lander) e o binómio operação/ equipamento, visam contribuir para a

2002 Hydro Aluminium. Product Idea Competition. 1st prize. 2005 Menção Honrosa no Swedish Steel Prize Competition. 2011 Prémio BES Inovação Categoria produtos industriais. 2012 Airbus Deutschland Inkubator Award. 2014 European Defence Agency. First Dual-use project in Europe. 2016 Innospace Masters. Airbus Defense and Space Challenge Competition. 3º Lugar.


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ZacatraZ

ZacatraZ

Da esquerda para a direita: Francisco Eduardo Moreira da Silva Alves (392/1954), Manuel Soares Albergaria Felgueiras e Sousa (498/2006), Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949), José Eusébio Pereira Barata Cordeiro de Araújo (591/1973), Pedro Manuel do Vale Garrido da Silva (53/1961), José Manuel Teixeira de Faria (2/1969), Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957), Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950), Artur Manuel de Spínola e Santos Pardal (587/1961), António Vítor Reynaud da Fonseca Ribeiro (43/1968) e Luís Manuel Borges de Albuquerque Nogueira (323/1969).

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o passado dia 12 de Abril 2016, realizou-se mais uma reunião do Corpo Redactorial da Revista ZacatraZ, composto pelo Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949), Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957), Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950), Pedro Manuel do Vale Garrido da Silva (53/1961) e João Carlos Agostinho Alves (110/1996). Nesta reunião, esteve ainda presente a Direcção da AAACM, que interpretando um mandato unânime, expressou um profundo voto de agradecimento ao Corpo Redactorial, e reiterou um publico louvor ao Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949), endereçando-lhe um voto de inequívoca confiança e profunda gratidão para que permaneça no desempenho das funções de Director da nossa Revista. A Direcção da AAACM


Curso de 1949/1956 Romagem dos 60 Anos de Saída

Curso de 1949/1956 Romagem dos 60 Anos de Saída 6 de Maio de 2016

Curso 1949/1956 – 60 Anos de Saída – 6 de Maio de 2016 ©Foto Leonel Tomaz

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ecorridos sessenta anos da saída do Colégio, nesta Romagem de Saudade estiveram presentes os Antigos Alunos Manuel Eduardo Leal Vilarinho Pereira (11/1949), Luís Fernando Barahona Mira da Silva (16/1949), José Eduardo de Almeida Barata Correia (28/1949), Luís José Passanha Braamcamp Sobral (34/1948), António Eduardo Queiroz Martins Barrento (40/1948), José Alberto Alves de Paula (62/1948), José Manuel Monteiro Custódio (103/1951), Guilherme Luís Faria Câncio Martins (126/1948), Vasco Joaquim Rocha Vieira (127/1950), António Helder Monteiro de Sena e Silva

(149/1948), Jorge José Clara Travassos Lopes (161/1949), Guilherme José Veiga Clara (173/1949), João Diogo Weinstein (186/1950), Francisco Manuel Vidigal Solano de Almeida (188/1951), Arcelino Manuel Duarte Mirandela da Costa (244/1949), Rui Manuel Machado da Cruz (271/1949), Nuno Gonçalo Gago da Câmara Botelho de Medeiros (275/1948), João Higino do Canto Lagido (299/1948), João Manuel Castel-Branco Falcão (310/1949), Fernando Manuel da Câmara Marques Moreira (317/1948), António Maria de Almeida Bívar de Sousa (325/1948), Rui Armando de Sousa Carneiro (345/1948),

Álvaro António Duarte Dinis Varanda (347/1948), Humberto António de Portugal Restelho Guterres (360/1948), Manuel Pedro Gonçalves Peig Dória (363/1949) e Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949). Na missa celebrada na Capela do Colégio, a que assistiram Familiares dos nossos Camaradas que já partiram, pelo Celebrante foi feita a chamada de cada um deles. Na fotografia realizada nos Claustros podem ver-se os Familiares que acompanharam o Curso nesta Romagem de Saudade.

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Curso de 1959/1966 Romagem dos 50 Anos de Saída

Curso de 1959/1966 Romagem dos 50 Anos de Saída 15 de Abril de 2016

Curso 1959/1966 – 50 Anos de Saída – 15 de Abril de 2016 ©Foto Leonel Tomaz

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ecorridos cinquenta anos da saída do Colégio, nesta Romagem de Saudade estiveram presentes os Antigos Alunos António Augusto de Melo Gomes Duque (12/1958), Vasco Paulo Lynce de Faria (21/1960), Mário Fernando Gonçalves da Fonseca Ramos (44/1960), António da Câmara Homem de Noronha (72/1959), Fernando Nuno Lamy da Fontoura (75/1959), Joaquim José Arranhado Bação (77/1960), Rui Tomaz Vilaça de Castro Feijó (92/1960), João Manuel Ermida Correia (102/1959), João José Fazenda Giria (121/1959), António Jervis de Athouguia (137/1959), José António Graça Pereira de Almeida (144/1958), João do Passo Vicente Ribeiro (153/1958, António José Ermida Mano (176/1959), José Manuel da Luz Bravo Ferreira (204/1959), João

Carlos Chaves de Almeida Fernandes (208/1959), Eduardo José Santos Pereira (214/1959), Pedro Arantes Lopes de Mendonça (222/1958), José Manuel Nunes Salvador Tribolet (230/1959), António Cortez Freire Damião (236/1959), Joaquim Manuel Teixeira Nunes Barata (239/1959), José Carlos Margarido Lima Bacelar (241/1958), António Manuel Martins Ricardo Romão (276/1959), Carlos Manuel de Almeida Cabral (287/1958), Carlos Manuel Santiago e Costa Esperança (300/1959), Carlos Henriques Elias Casanovas Burnay (319/1958), José Miguel Guedes Reis Trigoso (324/1959), José Paulo Machado da Silva da Fonseca (331/1959), José Joaquim Restani Graça Alves Moreira (344/1961), António Alexandre Peixoto Mangas (348/1959), João Luís Madeira de

Carvalho Egreja (359/1959), João José Ferreira Rodrigues Cancela (379/1958), Luís Gonzaga Godinho de Abreu Novais (381/1959), Francisco de Lucena (405/1959), João Manuel Vinhas Frade (457/1959), Jorge Emanuel Soares Coelho Pote (464/1958), Carlos Manuel Pires Nobre Biscaya (469/1958), Francisco Gualter Rodrigues Carneiro (484/1958), Manuel Pedro Dias Massano Santos (487/1958), Raul José Lima Castanha (495/1959), Fernando Neto Almeida d`Eça (499/1959), António Carlos Lemos Lepierre Tinôco (500/1959), Rui Manuel de Sá Leal (502/1959), António José Pinto Mendes Mourão (514/1959), Fernando Faustino Roque do Vale (518/1959), Manuel Pedro da Costa Pereira Roriz (519/1959) e Saul António Dias Pascoal (553/1960).


Curso de 1961/1968 Romagem dos 55 Anos de Entrada

Curso de 1961/1968 Romagem dos 55 Anos de Entrada 29 de Abril de 2016

Curso 1961/1968 – 55 Anos de Entrada – 29 de Abril de 2016 ©Foto Leonel Tomaz

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ecorridos cinquenta e cinco anos da entrada no Colégio, nesta Romagem de Saudade estiveram presentes os Antigos Alunos Pedro Roberto Meneres Cudell (3/1961), José Maria Sá Coutinho de Lencastre (13/1960), Jorge Manuel Tavares Salavessa Moura (14/1961), António José Ravasco Bossa Dionísio (20/1961), Júlio Duarte Areia Filho (50/1961), Pedro Manuel do Vale Garrido da Silva (53/1961), Nuno Maria Reis de Matos Silva (91/1961), Joaquim Arnaldo Maltês Cardeira da Silva (133/1961), António Alberto Bastos Carriço (139/1961), Luís Alexandre de Oliveira Mateus de Magalhães (146/1961), José Luís Chaves de Almeida Fernandes (171/1961), Tiago Braga Abecassis (192/1961), José Manuel Garcia Gil Conde (202/1961),

Luís Miguel Pinto e Abreu Soares de Albergaria (203/1960), Fernando José Mena Gravito (211/1961), Rui Manuel de Carvalho Mexia Leitão (240/1960), Manuel José Pimenta de Castro Machado (275/1961), Carlos João Fernandes Pereira da Fonseca (277/1960), Miguel da Câmara e Almeida Pinto (361/1960), Pedro Maia Serpa de Vasconcelos (367/1961), Nuno Ferreira de Barcelos (374/1960), José Francisco Machado Norton Brandão (400/1961), José António Godinho de Abreu Novais (406/1962), Mário Filipe de Araújo Gonçalves de Lima (416/1962), Miguel João de Oliveira Sequeira Marcelino (420/1961), Francisco José Machado Norton Brandão (425/1961), Hermano Duarte de Almeida e Carmo (543/1960), Fernando Martins Machado da Silveira

(555/1961), Joaquim José Ferreira da Silva (560/1961), Fernando Reinaldo Luís Pereira dos Santos (563/1961), José Luís Sousa Pinto de Figueiredo (571/1961), João Luís de Carvalho Charters Taborda (572/1961), Manuel Maria Bastos de Oliveira Martinho (573/1961), José Luís Teixeira Pereira Soares (575/1961), Vítor Manuel de Carvalho Madeira Ferreira (576/1961), José Manuel Granja Gomes da Silva (586/1961), Artur Manuel de Spínola e santos Pardal (587/1961), João Manuel Gomes Pereira Carmona (589/1961), António José Ferreira Lourenço (593/1961), António José Teixeira Gonçalves (597/1961), António José Ferreira Fernandes da Ponte (599/1961) e José Henrique Pereira Leite da Silva (602/1961).

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Curso de 1978/1986 Romagem dos 30 Anos de Saída

Curso de 1978/1986 Romagem dos 30 Anos de Saída 8 de Abril de 2016

Curso 1978/1986 – 30 Anos de Saída – 8 de Abril de 2016 ©Foto Leonel Tomaz

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ecorridos trinta anos de saída, nesta romagem ao Colégio estiveram presentes, como convidado, o Professor de Física Jorge António de Carvalho Sousa Valadares e os Antigos Alunos José Pedro Pacheco Ruas (16/1978), Carlos Eduardo Ramos dos Santos Lourenço (23/1978), Francisco Júlio Timóteo Thó Madeira Monteiro (27/1978), Rui Miguel Sena da Costa Branco (37/1978), José Luís Heitor Mota e Silva (46/1978), José Pedro Mira Monteiro Louro (69/1978), João Carlos de Jesus Filipe Ribeiro (97/1979), Mário Nuno Modesto Loureiro (128/1978), Luís Miguel Baptista Barreiros (151/1977), Pedro Henrique Marques Soares (156/1978), Miguel Maria de Sá Paula Soares Sameiro (185/1979), Carlos Alberto Cabaço Dias (196/1978), Rui Alexandre Nobre Rodrigues (299/1978), Nuno Miguel Bulcão Sarmento (346/1977), Humberto António Pereira de

Oliveira (360/1978), Pedro Manuel Correia Guerreiro Marques de Almeida (384/1977), Nuno Miguel Costa Gaspar Duarte Ramos (387/1978), Armando Luís Lopes Custódio (425/1978), José Armando Arnaut Monroy Vizela Cardoso (435/1978), João Paulo de Melo dos Santos Silva (475/1978), João Guilherme Conde Magalhães Mateus (523/1978) e José Manuel Mendes Martins (525/1978).


Curso de 1993/2001 Romagem dos 15 Anos de Saída

Curso de 1993/2001 Romagem dos 15 Anos de Saída 13 de Maio de 2016

Curso 1993/2001 – 15 Anos de Saída – 13 de Maio de 2016 ©Foto Leonel Tomaz

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ecorridos quinze anos de saída, nesta romagem ao Colégio estiveram presentes os Antigos Alunos Nuno Filipe Reis da Silva Carvalho Ribeiro (2/1993), Diogo Miguel Dias Soares Coelho (89/1993), Francisco Nuno Girão Vieira Lamy da Fontoura (94/1993), Pedro Miguel Freire de Carvalho Pimentel e Laranjeira (96/1993), Fernando Jorge Paulo Lobo Santos Costa (118/1993), Nuno Vítor Paredes Pereira (129/1993), Tiago Filipe Rodrigues Gonçalo (133/1992), João Margarido Ruivo Chiotte Lopes da Silva (146/1993), Rúben Teófilo Vasconcelos Moreira Rocha Trindade (195/1993), Paulo António Martins Barreiros (234/1993), Guilherme Morais Caldas Canedo Regadas Correia (247/1993), Francisco Miguel Domingos Antunes (265/1994), António Manuel Meira Dantas (323/1993), Luís André Fernandes Castro (325/1992), João Miguel Ribeiro Azevedo

(335/1992), João Camargo Ribeiro Marques dos Santos (342/1993), Ivan Yuri Alves Bastos (356/1993), Hermínio José Rodrigues Vasconcelos Branquinho de Almeida (362/1993), António Maria Rosinha Dias Barbosa (368/1993), Tito Barros Caldeira(394/1993), Francisco José Castro Martins (409/1993) e José Manuel Silvério Miranda dos Reis (419/1994).

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Comandantes da 2ª Companhia Primeiro Jantar/Encontro

Comandantes da 2ª Companhia Primeiro Jantar/Encontro

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o passado dia 7 de Março teve lugar, na Feitoria, o primeiro Jantar de encontro dos Comandantes da 2.ª Companhia. Os jantares de AA são um hábito de sempre mas, até agora, apenas os Comandantes de Batalhão e os Comandantes da 4.ª Companhia (mais recentemente) tinham organizado eventos semelhantes. Esta iniciativa surgiu de uma conversa com o Nuno Miguel Luís de Carvalho Moura (81/2006), quando da Abertura Solene. No Jantar Anual da AAACM entrámos em contacto com alguns Antigos Alunos (sabíamos terem sido também Comandantes da 2.ª Companhia) que aprovaram desde logo a ideia. A partir de então fomos desenvolvendo o trabalho de identificação dos vários Comandantes, através das fotografias da Sala de Leitura na 2.ª Companhia e através do “Quem é Quem”. Conseguimos reunir nomes e contactos a partir de 1934 e procedemos à divulgação da ideia através de Facebook, emails e chamadas telefónicas.

A ideia foi mais uma vez bastante bem recebida por todos aqueles que foram contactados. Passámos então à fase de marcação do jantar, considerando ideal que fosse realizado na proximidade do 3 de Março, altura em que mais Antigos Alunos se encontram presentes. Obtivemos a disponibilização da Feitoria por parte do Colégio, um pouco em cima da hora, razão pela qual não conseguimos uma maior adesão ao nosso encontro. De qualquer modo, todos considerámos este primeiro jantar um êxito, não só por nos ter proporcionado um animado convívio entre várias gerações, como pelas histórias partilhadas e pela vivência daquele espírito colegial único que é tão importante cultivar. Participaram no 1.º Jantar de Comandantes da 2.ª Companhia, os Antigos Alunos, por ordem cronológica do comando, João José de Freitas Ribeiro Pacheco (163/1944), Guilherme Luís Faria Câncio Martins (126/1948), José Eduardo Fernandes de Sanches Osório (210/1951), António José de Azeredo Lopes

(350/1954), Júlio José Lavrador Lobo da Costa (627/1965), João Paulo Noronha da Silveira Alves Caetano (609/1973), Ricardo Francisco Sarrico Lapão (50/1992), Paulo David Oliveira Costa Cavalheiro Dias (287/2006), Leonardo Afonso Vidas (21/2005), Nuno Miguel Luís de Carvalho Moura (81/2006) e Tiago Faustino de Azevedo da Silveira Caetano (609/2008). Em jeito de agradecimento, gostaria de felicitar em especial o Nuno Moura por todo o trabalho desenvolvido e esforço dedicado a esta causa, sem o qual com certeza não teria sido possível a sua realização. Um especial agradecimento ao Colégio pela cedência da Feitoria, e ao Sr. Ricardo e Sr. Duarte pelos serviços prestados. Se estás a ler isto e és antigo Comandante da 2ª Companhia, contacta-nos através da AAACM para que te possas juntar a nós no próximo jantar. Zacatraz! Leonardo Afonso Vidas 21/2005


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Breves Apontamentos Fotos com significado

Breves Apontamentos

Fotos com significado O

novo espaço editorial, que neste número se inicia, será destinado à apresentação de fotografias comentadas e de textos referindo episódios ou acontecimentos que pela sua natureza e interesse deverão ser preservados, evitando-se que fiquem perdidos com o rodar do tempo. As fotografias e os textos são sempre registos. Todavia alguns textos e fotografias podem também registar momentos com especial significado. Coisas simples que nos despertem ou nos confrontem e que sejam expressivas da

vida colegial ou da presença da cultura colegial na vida dos Antigos Alunos. Esperamos que a ideia possa ter acolhimento e fazemos um apelo para que nos façam chegar os vossos apontamentos que, seguramente, irão enriquecer o nosso património da memória e certamente constituirão um valioso contributo para a melhoria e engrandecimento da ZacatraZ. Para que o espaço não se confine apenas a recordações pessoais, estes apontamentos envolverão naturalmente terceiros, não

dispensando por isso a natural ponderação e, sempre que tal seja possível, dando-lhes prévio conhecimento do conteúdo e propósito da sua publicação. Estamos convictos que involuntários actores, em fotos ou em textos, se irão neles rever com agrado e até mesmo com orgulho e saudade dos tempos em que ocorreram. A Redacção da ZacatraZ

Francisco Eduardo Moreira da Silva Alves 392/1954

Vocês aí,

levantem-se!

A

6 de Março de 2016, o Batalhão estava a formar-se, rodeado por uma multidão de Pais e Antigos Alunos, na alameda lateral do Parque Eduardo VII. Aproximava-se o Estandarte Nacional, transportada a passo cadenciado, no meio de um silêncio generalizado e expectante. A voz soou, firme e cortante, mesmo à minha frente. Espreitei para ver a quem se dirigia: eram dois gaiatos, despreocupadamente sentados no chão à frente do cordão humano, e espantados com todo o cerimonial. Os meus dois netos! Algo me varou de alto abaixo. A eles fez-lhes muito bem. E, devo dizer: a mim também… Procurei depois saber de quem tinha partido a ordem: Major Castanho, Segundo Comandante do Corpo de Alunos. Aqui fica.

As fotografias são sempre registos. Mas algumas registam também momentos. Estes, com significado. Coisas simples, que nos despertam. Esperemos que os seus involuntários actores se revejam nelas sem constrangimento.


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Breves Apontamentos Fotos com significado

Afinal, os homens também choram! 3 de Março, um momento simbólico de despedida dos alunos graduados.

Foto e texto de Francisco Eduardo Moreira da Silva Alves (392/1954)

Foi só um olho que desalinhou! 17 de Outubro de 2014, abertura do ano lectivo. Um pelotão desfila com garbo, mas a curiosidade é sempre mais forte…e a objectiva estava lá.

Foto e texto de Francisco Eduardo Moreira da Silva Alves (392/1954)

Já nascerá com elas? 3 de Março de 2015, assistindo ao desfile. Uma menina do 1º ciclo ajeita o chapéu, para se certificar de que está tudo bem.

Foto e texto de Francisco Eduardo Moreira da Silva Alves (392/1954)


Comemorando o 3 de Março

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Comemorando o

3 de Março Algarve

©Foto Mário Simonetti (544/1965)

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a Adega Nunes, nos Machados em São Brás de Alportel, participaram os Antigos Alunos Pedro Júlio de Pezarat Correia (10/1943), Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949), Rui Jorge Chagas Junqueira dos Reis (179/1951), João Henrique de Bívar Mello e Sabbo (301/1953), Ventura José Ortigão de Mello Sampayo (148/1955), Francisco José da Silva Antunes (422/1955), António Manuel Loureiro do Nascimento Gonçalves Trindade (424/1955), Martiniano Nunes Gonçalves (8/1958), Carlos Manuel Mendes Caramês (42/1959), Fernando José Vieira Cardoso de Sousa (28/1960), António Carlos da Cruz Cor-

deiro (175/1960), Raul Monteiro de Sousa Machado (318/1961), Artur Manuel de Spínola e Santos Pardal (587/1961), Artur Joaquim dos Reis Ferreira (274/1962), António Carlos da Palma Estanislau (376/1964), João Manuel Simões Carvalho (464/1964), José Manuel Machado dos Santos (200/1965), João Pedro Rodrigues Ferreira Quaresma (213/1965), António Ramos Pinto Teodósio (266/1965), Joaquim Paleta Marreiros (413/1965), João Pedro Beregovoy de Abreu Pimenta (461/1965), José Manuel Pais Sampaio (483/1965), Mário Manuel Godinho Simonette (544/1965), José Alberto de Barros

Lopes Coelho Casquilho (322/1966), José Pedro Duarte Lupi Fialho (515/1967), Pedro Baptista Esteves Virtuoso (616/1967), José Carlos Pereira de Matos Duque (123/1968), António Manuel Freitas Soares de Almeida Pires (492/1969), Rui Manuel Gama Pinto da Cunha Jóia (658/1969), António Paulo Caseiro Martins Godinho (46/1971), José Eusébio Pereira Barata Cordeiro Araújo (591/1973), Luís Augusto Pereira de Matos Duque (269/1975) e Rui Pedro Nabais Nunes Ferreira (300/1982).


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Comemorando o 3 de Março

Aveiro

Bruxelas

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m Aveiro no Restaurante “A Nossa Casa”, participaram os Antigos Alunos António José Resende Fernandes Matias
 (284/1954), João Luís Mendes Leite de Almeida
 (445/1958), José Luís Frias de Almeida Branco
 (460/1958), Artur Manuel Restani Graça Alves Moreira (301/1961), 
Fernando Martins Machado da Silveira
 (555/1961), Fernando José Lemos de Araújo de Faria Barbosa (367/1968), 
Afonso José Leal Duarte de Oliveira (647/1968), 
Mário António Marques Barbosa
 (516/1970), Rui Vasco Tavares de Azevedo Félix (73/1971), Luís Fernando Leal Duarte Oliveira
 (628/1972) e 
Sérgio Augusto Santiago e Santiago (235/1979).

o restaurante português DONLUIS, em Bruxelas, comemoraram os Antigos Alunos Pedro Rui Bastos Teixeira Chaves (277/1966), Carlos José Ferreira Paixão Soares (506/1967), João Francisco Ramalho Ortigão Delgado (531/1969), Paulo Sérgio da Silva Antunes (405/1982), Rodrigo Filipe de Oliveira de Ataíde Rodrigues Dias (473/1985) e André Salgado Paula Santos (192/1995).

Évora

Curso de 1986

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onfraternizando e comemorando, reuniram-se no 3 de Março os Antigos Alunos do Curso de 1986 Diogo Almeida e Brito Moreira Dores (44/1986), Nuno Filipe de Almeida Borges Isaías (68/1986), João Miguel Nunes Ferreira (71/1968), Jorge Manuel Barroso Patrão (79/1986), Sérgio Dino Neves de Melo Cunha (148/1988), Bruno Miguel da Silva Couto Ferreira Quaresma (214/1986), Bruno Miguel Carrilho de Oliveira Dias (355/1986), Nuno Pedro Cristóvão Martins Mendonça (373/1986), Pedro Pinho Veloso (429/1986), Pedro Miguel Gonçalves Afonso (503/1986), Diogo Rodrigues da Cruz (504/1986) e Frederico Mendes Macias (505/1986).

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articiparam, confraternizaram e evocaram o 3 de Março os Antigos Alunos José Domingos Mantero Moraes (16/1941), Jerónimo José Nunes Vieira Lopes (59/1943), António Francisco Martins Marquilhas (67/1944), António Eduardo Queiroz Martins Barrento (40/1948), Marcial António Estrela Rodrigues (81/1953), António Eduardo Barbosa Alves (427/1955), Rui Alexandre Carita Silvestre (115/1956), José António Saturnino Balula Cid (152/1957), Nuno Joaquim Costa Cara de Anjo Lecoq (269/1958), João Luís da Costa Ruas (118/1959), Joaquim José Arranhado Bação (77/1960), José Mira de Vilas-Boas Potes (3/1967), João Francisco Braga Marquilhas (132/1969), António Manuel Mira Alves Pinto (468/1969), Edmundo José Henriques Melo do Cruzeiro (95/1971), António Manuel de Carvalho Simas e Couceiro Braga (278/1971), Pedro Frazão Alpendre (412/1972), José António Gonçalves da Câmara Tavares (597/1972), António José dos Santos Dias Vinha (630/1973) e António Miguel Arnaut Pombeiro Taurino (239/2004).


Comemorando o 3 de Março

Funchal

Golegã

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Luanda

Macau

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o Funchal reuniram-se os Antigos Alunos Francisco Manuel Geraldo de Faria Paulino (265/1956), João Filipe Pereira Nunes Prudente (337/1964), José Manuel Cunha Leal Molarinho Carmo (72/1966), Frederico Manuel Resende Alves Martins (188/1948), Marcial António Estrela Rodrigues (81/1953), António Eduardo Barbosa Alves (427/1973), Paulo Jorge da Silva Ramos Lourenço (484/1977), Alberto Franco Pereira Reynolds Mendes (588/1978), Marco Paulo Pereira Nunes (192/1987), Pedro Miguel Mendes Cunha (316/1978) e Luís Mário Bagulho Gaspar (468/1988).

m Angola, no Clube Náutico da Ilha de Luanda, participaram os Antigos Alunos Noel de Melo e Vasconcelos (490/1971), Carlos José Correia dos Santos Silva (452/1973), António Miguel Magalhães Nogueira Lúcio (437/1983), Pedro Filipe Moreira de Andrade Tavares (145/1984), João Ayala Boto Mariz Fernandes (261/1984), Paulo Jorge da Silva Curto (431/1984), João Carlos Benevenuto Falcão Correia Gonçalves (32/1987), Júlio Fernando Gonçalves de Oliveira (270/1987), Luís Manuel Nunes de Matos (324/1987), Júlio Filipe de Campos Gameiro (451/1988), Pedro Miguel Costa Santos (155/1990), Hermínio José Rodrigues Vasconcelos Branquinho de Almeida (362/1993), Emmanuel Cliquer Cá e Sá (152/1997) e Lázaro Stefan da Silva Conceição (349/1998).

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a Golegã comemoraram os Antigos Alunos Manuel Frederico Basto Saragoça (122/1944), João Francisco Braga Marquilhas (132/1969), António Manuel Lucas de Lemos (238/1969), Eleutério João Laranjinho Faleiro (264/1976), António José Sousa Costa Godinho de Carvalho (153/1980), Pedro Miguel Pinto Reis (201/1988) e Miguel Henrique Domingos Dias Sereno (331/1988).

m Macau, no Clube Militar, comemoraram os Antigos Alunos Luís Filipe Andrade e Sá Machado (384/1961), Luís Augusto Pimenta de Castro Machado (209/1965), Pedro Manuel Loureiro da Nazaré Cortés Fernandez (125/1985), Bernardino Sobral Senna Fernandes (393/1993), Samuel Ma (29/1995), Hélio Filipe Gama Branco (315/1995) e Simão Ma (403/1996).


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Comemorando o 3 de Março

Maputo

Murtede

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m Murtede, concelho de Cantanhede, os Antigos Alunos Manuel Pedro da Costa Pereira Roriz (519/1959), José António Breda Marques da Costa (445/1965) e Carlos Filipe Lopes Leal (98/1986), comemoraram o 3 de Março.

Porto

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ompareceram os Antigos Alunos Victor Manuel Patrício Corrêa Mendes (524/1963), Carlos Manuel Paulos de Almeida Nave (326/1964), Alexandre da Silva Pereira Duarte Silva (19/1965), Nuno Cid da Costa Álvares (421/1966), Luís Filipe dos Santos Paulo Antunes (73/1982), Jorge Miguel Afonso Marques (119/1986), Luís Miguel Lauret Albuquerque Ferreira de Macedo (7/1988), Nuno Miguel Tavares Corrêa Mendes (39/1988), Nuno Miguel Miranda Santos (102/1992), Frederico Antunes Sanches de Miranda (326/1992), Joaquim Tobias Dai (125/1993), Cláudio Isaac Ivan Moty Julaia (250/1993), Nélson Filipe Simões Martins (108/1995), José Maria Limpo Serra Marques Paixão (296/1995), Higino Sigma José Mateus Catupa (422/1995), João Nuno Vareda Tomé (380/1997) e Artur Danilson Pereira Augusto (165/1998).

©Foto Martiniano Gonçalves (9/1958)

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as magnificas instalações do «Oporto Cricket and Lawn Tennis Club» realizou-se o Jantar Comemorativo do 3 de Março, este ano pela primeira vez no próprio dia, mais uma vez organizado pelo Delegado da AAACM Bruno Pinto Basto Soares Franco (281/1970). Este tradicional encontro dos «Meninos da Luz» residentes na área do Grande Porto, decorreu com a habitual boa disposição e espírito de camaradagem que sempre têm caracterizado estas comemorações e confraternizações. Nele participaram os Antigos Alunos Manuel José Martins Rodrigues (261/1940), Luís Augusto Nunes de Almeida Bandeira (236/1945), José António Campos Resende Santos (23/1949), José Alberto da Costa Matos (96/1950), José Manuel Simões Ramos de Campos (319/1950), José Faceira Teixeira (234/1952), Luís Manuel Ferraz Pinto de Oliveira (138/1954), Afonso Henriques Mendes de Araújo (31/1958), António Norton de Matos Carmo Pereira (522/1959), António Carlos Cyrne Pacheco Lobato Faria (373/1960), Alfredo Filgueiras Resende (313/1961), Albino Manuel Pereira de


Comemorando o 3 de Março

Santiago do Chile

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m Santiago do Chile, Pedro Manuel Pinto Pereira Tomás (344/1973) e José Ricardo Duarte Baptista Viegas (187/1989) reuniram-se e comemoraram o 3 de Março.

Desenho de José Alberto da Costa Matos (96/1950)

Sousa Botelho (342/1961), José João Ponce Centeno Castanho (562/1961), Carlos Pimenta Machado (83/1963), José António Marques Salgado Lameiras (281/1963), José Manuel Duarte Presa Fernandes (403/1963), Manuel Maria de Castro e Lemos (423/1963), Luís Filipe da Cruz Cordeiro (130/1964), Rogério de Mesquita Pinto Ribeiro (283/1964), António José Serôdio Fernandes (162/1965), António José Magalhães Silva Cardoso (455/1965), António Manuel Couto Espírito Santo (239/1966), Eugénio Coelho (390/1966), Paulo Manuel Ferreira Lobo Fernandes (487/1966), Rui Manuel Albuquerque Soares (615/1966), Álvaro Manuel Cruz Cordeiro (48/1967), José Manuel da Silva Pinto dos Reis (100/1967), Gilberto Castelo Branco (154/1967), Gualter Manuel da Mota Santos (229/1969), Herlânder José Resende Marques (260/1969), José Manuel Queimada da Silva Soares (82/1970), Bruno Pinto Basto Soares Franco (281/1970), Paulo César Alves Bacelar (403/1970), António Jaime Tavares Coutinho Lanhoso (176/1971), Guilherme Eduardo Lickfold de Novais e Silva (488/1971), Paulo Manuel Santos Lestro Henriques (200/1973), Agenor Guerreiro Ranhada Rolo (199/1974), José Eduardo da Costa Silva Pereira (391/1974), Rui Costa Branco (37/1978), Alfredo Andersen Guimarães (518/1978), João José Pacheco de Almeida Tété (383/1984), Nelson Cajão (496/1984), Marcos Faceira Teixeira (232/1985), Amândio Emanuel Lopes Ribeiro (368/1993) e Luís Filipe Pinto Leite (384/1994). De Lisboa, como já vem sendo hábito, deslocou-se uma delegação integrando o Presidente e o Vice-Presidente da Associação, respectivamente, José Eusébio Pereira Barata Cordeiro de Araújo (591/1973) e Artur Manuel de Spínola e Santos Pardal (587/1961), o Presidente do Conselho Supremo Martiniano Nunes Gonçalves (9/1958), o Director e o Chefe da Redacção da ZacatraZ, Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949) e Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957), ambos membros do Conselho Supremo.

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Isto só no Colégio Militar!

Isto só no Colégio Militar!

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ode parecer que vos vou contar uma história, no entanto eu vou apresentar-vos o final dessa história. Trata-se da demonstração de uma solução à Colégio Militar, essencialmente da solução e não do problema que a originou. Eu, nas vésperas do Natal passado, fui sujeita a uma cirurgia a ambas as mãos, ficando impossibilitada de as usar fosse para o que fosse. Desse modo, os meus pais contactaram o Colégio, em plenas férias, para os ajudarem a encontrar uma solução para o meu problema e, qual não foi o espanto deles quando exactamente naquele instante em que enviava um email para o Colégio toca o telemóvel da minha mãe! Era o Comandante do Corpo de Alunos - Senhor Tenente Coronel de Cavalaria Bernardo Luís da Silveira e Lorena Lopes da Ponte (80/1980) - a dizer: mandem a Aluna! O lugar dela é aqui junto de todos os Camaradas, lugar esse digno de uma Menina da Luz. A Lígia será tratada como uma Princesa. A minha preocupação não eram as mãos mas sim não poder voltar à minha Casa, enquanto aluna presente nos três anos seguintes que ainda me restavam, dado que ser externa não era opção devido à longinquidade que ficava a minha outra casa. As férias haviam chegado ao fim. Questionava-me acerca do Colégio: - será que vou aguentar desta forma? Logo as minhas dúvidas terminaram quando, para meu espanto e sem informações superiores (pensava eu, porque mais tarde vim a saber que o Senhor Comandante do Corpo de Alunos já havia concluído as diligências necessárias para uma princesa), as minhas camaradas combinaram, de imediato, o meu dia-a-dia no Colégio e, assim, a escala estava feita embora que oralmente e sem aviso prévio da graduada para o fazerem. “Eu ajudo-a a vestir-se!”, “Tu levas-lhe as malas!”, “Eu faço-lhe a cama!”, “Eu lavo-lhes os dentes e penteio-lhe o cabelo!”, diziam elas. A minha preocupação desaparecera com esta magia colegial e deixei de me questionar acerca da minha estadia no Colégio.

Durante 3 meses as minhas Camaradas fizeram-me a higiene, a cama, vestiram-me, arrumaram-me o quarto, o roupeiro, a mochila, a secretária, o cacifo, levaram-me os livros para todo o lado, ... Houve até quem acordasse às 6 horas da manhã, antes da alvorada, para ter tempo para me ajudar. E eu? O que lhes fiz eu por me terem ajudado? Nada tão significante obviamente. Fiz-lhes o que pude! Isto: um eterno, sincero e especial agradecimento aos meus camaradas e superiores, porque sem eles nada disto teria acontecido. Os meus pais não teriam feito melhor na minha outra casa! Espero com sinceridade que nunca seja necessário retribuir-vos da mesma maneira, mas caso aconteça eu estarei aqui para vos aconchegar a roupa da cama à hora de deitar, para também acordar cedo só para ter tempo de vos ajudar, para carregar todos os

milhões de livros que carregaram durante este tempo todo, para vos dar comida à boca como fizeram comigo... Para todo o sempre vos estarei grata camaradas!

Isto só no Colégio Militar! Zacatraz! Lígia Deitado Marques Ribeiro Aluna 268/2015 - 4ª Companhia


Encontramo-nos na Avenida!

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Encontramo-nos na Avenida!

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esde os meus 6 anos, altura em que o meu irmão entrou para o Colégio Militar que me interesso em ver e saber coisas sobre a Instituição. Era ao então Director, o Senhor Major General Raúl Jorge Passos, a quem eu dizia de uma forma perfeitamente natural que queria ser aluna do Colégio Militar, ao que me respondia carinhosamente “não pode ser Maria… este Colégio é só para rapazes”. Iniciei-me como aluna interna exactamente como desejava há 6 anos atrás mas noutra instituição, no saudoso Instituto de Odivelas. Com o encerramento deste, dei por mim a entrar num lugar totalmente diferente como aluna externa, porque não havia internato ainda. Encontrava-me agora, no lugar onde anos antes disse que iria ser aluna, mas a quem foi dito que isso seria impossível. Seis anos depois aqui estou eu, com um orgulho imenso de pertencer a esta Casa mas de algum modo, triste por terem acabado com uma outra Casa onde também pertenci. Este ano em regime de internato ou até mesmo externato; sendo rapariga ou rapaz, vejo que a camaradagem, a entre ajuda, a igualdade, o espírito de sacrifício e união são palavras que, não são ditas mas sim interpretadas pelas atitudes que temos entre nós. Passou mais um 3 de Março e orgulho... é a única palavra que encontro para descrever o que senti e o que espero sentir até ao fim da minha vida colegial! O 3 de Março é uma data que estará sempre marcada, não só na memória mas no coração de todos os Meninos/as da Luz! Para os “Ratas” este 3 de Março irá ficar marcado por ser o primeiro assim como aos graduados finalistas ficará marcado por ser o último... Dentro de pouco tempo, o último 3 de Março também me chegará, o último em que eu e o meu curso poderemos representar o Colégio envergando a farda “cor de pinhão”, onde a maior avenida de Lisboa, uma vez mais, parará para nos ver desfilar. Aproveitarei todas as cerimónias, todos os dias, todos os minutos nesta Casa, nunca

pensando que é só mais um, mas sim que é menos um e que isso significa que a minha vida colegial está prestes a chegar ao fim! Chegarei ao fim com os que me acompanharam desde o início, com o meu Curso! A determinada altura da vida Colegial, formam-se Cursos, estamos diante de um deles quando sentimos que se algum dia um de nós cair, os outros baixar-se-ão com a graciosidade de quem não sente pena, mas sente o mesmo. Sabemos que juntos iremos chegar mais longe, SEMPRE! Sem um Curso nada do que se vive no Colégio seria possível. Cada discussão, cada berro, cada lágrima, cada vez que vemos alguém a chorar, alguém que precisa de apoio e todos nós o vamos tentar ajudar, cada gargalhada, cada sorriso, cada piada, tudo isto junto é união, e a união faz-nos mais fortes. Desistir desta Casa nunca será uma opção. Pois no fundo só os que por cá tiveram a

oportunidade de passar, sabem que todas as pingas de suor, todas as dores, todas as lágrimas, valeram a pena, o nosso esforço vale sempre a pena! Orgulho-me desta Casa bicentenária, que já há alguns anos acompanha o meu crescimento, e que espero continue a acompanhar o crescer de muitos mais privilegiados, como eu, durante muitos mais anos!

Parabéns Real Colégio Militar. Maria Gargalo Silva Alexandre Roque Aluna 587/2014, Roqueta


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Poemas

Poemas Do Marquês até à alma

Filho...

O tropel dos sentidos no redemoinho emocional uma tempestade que amaina para voltar em vendaval Emoção portentosa que sufoca a respiração refreando o galope do sangue que reprime o coração Ecoa na alma, fustiga em arrepios a memória dos antepassados a intensidade das batidas nos passos bem marcados Colégio Militar desfila na Avenida tremem as pedras da calçada em sentido, frente, marche Lisboa é dominada.

Queira Deus que um dia quando a morte me levar possa comigo carregar as lembranças deste dia e renascer noutro corpo noutra vida limpa das tristezas mas na memória este dia... Vou tatuar a data tatuar sua lembrança inscrita na minha alma com a ponta da tua lança... Obrigada Escolta Obrigada Colégio Militar Obrigada meu FILHO

©Foto Sérgio Garcia (326/1985)

Paula Cristina da Cruz Caseiro Gonçalves Mãe do Aluno da Escolta Valentim Caseiro Gonçalves (301/2013), Timon

ANTIGO ALUNO USA A BARRETINA


XXV Torneio Internacional de Tiro de Tavira

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XXV Torneio Internacional de Tiro de Tavira Campeonato Regional de Bala

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na Raquel Baptista, atiradora que representa a Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar (AAACM), participou no XXV Torneio Internacional de Tiro de Tavira., onde se classificou em primeiro lugar na prova de ar comprimido (P10) com 369 pontos, tendo também obtido o segundo lugar na prova de bala (P25) com 544 pontos. Concluído o Torneio e após as honrosas classificações que obteve, não impediram a atleta de referir que o segundo lugar ficou aquém das suas expectativas dizendo: há que continuar a trabalhar. Desta determinação e do anseio de fazer sempre melhor, resultará certamente grande progresso na prática desportiva que abraçou. No Campeonato Regional de Bala, a atleta Ana Raquel Baptista sagrou-se Vice-Campeã Regional de P25 metros, na competição realizado no Estádio Nacional no passado do mês de Abril, tendo conseguido alcançar 551 pontos, melhorando em 7 pontos a pontuação da prova anterior. A ZacatraZ deseja-lhe os maiores êxitos na sua promissora carreira como atleta da modalidade Tiro, com a conquista de outros troféus e a sua consagração na prática desportiva onde tem evidenciado grande mérito.


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Alunas dos Colégios Militares do Brasil

Alunas dos Colégios Militares do Brasil Visitam o Colégio Militar da Luz Texto e poema de António Herculano de Miranda Dias (292/1925), publicado na Revista 135 –Abril/Junho de 1999 quando da Visita de Delegação dos CM do Brasil

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Coronel Engenheiro Galaor Ribeiro1, sabendo que gosto de apreciar o que é bom e bonito e dar provas disso, voltou-se para mim, quando das cerimónias da recepção da embaixada dos Colégios Militares ao Colégio Militar na Luz e disse-me (no tom carioca): "Miranda, fala aí com as meninas dos Colégios Militares. Tu vais gostar!". E assim fiz. Pedi primeiro que me fosse possível falar com uma professora para me orientar a conversa com as "mininas". Depois de me ter certificado de qual a reacção das raparigas à educação militarizada, e se essa orientação não brigava com a sua natureza feminina, foi-me assegurado que, naqueles Colégios, as posturas das raparigas, como tal, era salvaguardada por tudo, até pelo seu atavio e cuidado de se apresentar como mulher, graciosa, aprumada, competente e sensível. Falei depois com uma aluna. Frequentava há sete anos o Colégio Militar e apresentava-se com uma simplicidade, com uma convicção, com um conhecimento do que é ser mulher, embora sujeita a um enquadramento militarizado, e sendo bonita e gentil, não tinha aquela vaidade tola de muito rapariga da sua idade. Foi uma conversa muito interessante que me levou a escrever a mensagem que junto e que lhes dediquei, e que lhes li quando da recepção no Instituto do Vinho do Porto, e que me pareceu terem entendido e apreciado. Ela aqui vai

1 O Coronel Engenheiro José Galaor Ribeiro, Antigo Aluno do Colégio Militar do Rio de Janeiro. Desempenhou o cargo de Presidente da Associação dos Antigos Alunos dos Colégios Militares do Brasil


Alunas dos Colégios Militares do Brasil

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Menina-Soldado Vós sois Um milagre realizado! Guardais a natureza feminina E aprendeis de pequenina, A ser Menina-Soldado Soldado, É aquele eleito Por sua vontade Ou por efeito Do que há a fazer pela Nação, Que tem a melhor retribuição - O seu real direito No cumprir o seu dever De defender A razão, a verdade e o bem Da sua Terra e da sua Gente E não há ninguém Que melhor sente A defesa do Bem e da Verdade, Do que a Mulher, Quando ela guarda A verdadeira atitude De ser raiz da vida. Ao ver-vos assim, Cuidadas e com porte gentil, Meninas-Soldado do Brasil, Eu sinto-me consolado Porque vejo guardado O papel da Mulher na vida, Gentil e cuidada como uma flor, Forte e firme como uma paliçada, Capaz de enfrentar a nortada Da incúria e do desleixo. Aqui vos deixo A minha homenagem E o meu enlevo. A razão, a verdade e o bem Da sua Terra e da sua Gente Guardai, na viagem da vida, O vosso aprumo, beleza E gentileza. Como hoje mostrais, E sereis bem as vestais Do templo da Verdade e do Bem. Dou graças a Deus Porque os olhos meus Viram Meninas-Soldado, Que serão amanhã, O melhor afã Na defesa do que é sagrado Na vida. A beleza, a gentileza, a postura Da mulher Que sabe defender A vida como ela é. É esta a minha fé, A minha homenagem, E por isso, Vos deixo esta mensagem, Meninas-Soldado.


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4 Quadras e uma Trilogia O Telmo...

Roberto Ferreira Durão

Rodrigo Miguel Vieira Dias

(15/1942)

(399/1990)

4 Quadras e uma Trilogia Desabafo em verso para alguns em estilo algo controverso QUATRO QUADRAS Esta vida vou cantando Com vontade de chorar... Mas um dia, não sei quando Mundo absurdo hás-de mudar. Durmo quase todo o dia, Sonhando esta vida absorto. Mais feliz talvez seria Se um dia acordasse morto(!?) Sonho mesmo a dormitar, Em nada o sonho tropeça. Sonho até ao caminhar, O sonho no chão começa . Vou uma prece fazer A Deus, se ele me escutar: Faz-me dormir ou morrer Para ver-te ao despertar..

TRILOGIA

(de entre mais de 100 que tenho e publicarei, ou não). Saudade que vens e vais Como o mar na praia, em espuma, Onde o sol deixa sinais De amor-presente entre a bruma. Saudade que já não tenho, Tão leve em meu peito duro. Lágrimas que em mim contenho: Saudade sim, do futuro! Ó mar futuro e passado De ondas à tona e no fundo, Tens meu amor bem guardado, Beijas por mim todo o mundo!

O Telmo...

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Telmo é um dos meus Camaradas do Colégio Militar. Nós não temos muito em comum. Não partilhamos dos mesmos interesses. Não passamos férias nos mesmos sítios. Não saímos juntos à noite. Nunca tivemos uma conversa íntima sobre a vida do outro. Ele tem acesso a canais de televisão em casa e eu não. Então porque é que sempre que nos encontramos, nos cumprimentamos com um abraço de cumplicidade, como se fossemos irmãos? Anualmente, durante os festejos de aniversário do Colégio Militar, reencontro-me com o bando com quem partilhei a minha adolescência dia após noite, durante oito anos. Este ano no meio de toda aquela alegria, dos abraços, das histórias de sempre e dos risos destravados, apercebi-me que eu não escolhi este grupo de pessoas para a minha vida. Este grupo é família e a família não se escolhe. Esta distinção levou-me a reflectir sobre a qualidade da relação que tenho com o Telmo e com o resto das pessoas que me acompanharam ao longo do Colégio. Apesar de já ter escrito várias vezes dentro da categoria Umbigo sobre relações, esta merece uma atenção especial, por tão reveladora que é.

Camaradagem O termo camarada suscita-me sempre imagens que ecoam à revolução dos cravos. Tem conotações político-militares. Talvez por isso me tenha sido sempre difícil tratar as pessoas do meu Curso do Colégio por Camaradas. É que o que me une a eles não é político, nem militar. No entanto, não encontro nenhum termo mais adequado. Colega nem sequer começa a descrever o que nos une. Amigo nem sempre é verdade. Companheiro foi verdade durante aqueles oitos anos, mas já não é. Camarada está certo. A palavra significa literalmente: pessoa que partilha a mesma câmara. Não sei se alguma vez partilhaste o teu quarto com alguém que não conhecias. Uma vez fi-lo numa pequena pensão, no sopé do vulcão Villarrica no Chile. Fiquei num quarto duplo, o qual tive de partilhar, numa noite com um espanhol e noutra com um suíço. Dormi mal e agarrado às coisas mais valiosas que tinha: a carteira, o meu diário e o leitor mp3. Dormir é um acto de confiança. Quando fechamos os olhos e nos entregamos ao sono, estamos também a entregar-nos à possibilidade de não voltarmos a acordar. Por isso só aceitamos dormir ao lado de quem confiamos. Para muitas pessoas, esse grupo restringe-se à família e ao cônjuge. Eu dormi numa camarata ao lado de um bando de gajos durante anos, noite após noite. Sem os ter escolhido, foi com eles que partilhei a câmara que serviu de casulo para a atribulada transformação da adolescência. Nessa câmara não eram só os armários que não tinham cadeados, eram também os nossos sonhos, com todas as suas ilusões e desventuras. O sentimento de confiança era reforçado por uma relação igualitária. Todos usávamos roupa da mesma marca. Todos comíamos o mesmo caldo verde ao jantar. Todos tínhamos dois cobertores com que nos aquecermos à noite. Foi uma surpresa quando compreendi que afinal não pertencíamos todos à mesma classe


O Telmo... João Carlos Agostinho Alves

social. Esta convivência igualitária poderia chegar para explicar a camaradagem que existe entre mim e o Telmo, mas não chega. Para que o nosso abraço se revista de cumplicidade foi preciso que ele tivesse visto a minha sombra.

Na sombra Muitas das minhas relações são baseadas em máscaras que utilizo conforme as necessidades que tenho: a pessoa que compreende e aceita tudo; o optimista que acredita na humanidade; o extrovertido que não deixa ninguém de fora. Estas ,máscaras são funcionais, mas cansativas. Então, quando chego a casa, dispo a máscara e exponho aquilo que não quero que ninguém veja. A minha falta de paciência, o meu cansaço, a minha tristeza, a minha inveja, a minha sensação de fraude, o meu medo. Tudo aquilo que é a minha sombra e que eu não mostro ao outro, não vá ele rejeitar-me. É a minha família que tem de aturar a minha sombra. Quando vivemos num internato utilizamos máscaras para as relações com os adultos, mas os nossos pares têm acesso a quase tudo o resto. São como os irmãos que conhecem todos os nossos podres. Foram os meus Camaradas que viram o Rodrigo-cheio-de-paciência descontrolar-se e

atirar uma bola de basket à cabeça de um deles. Foi com eles que o Rodrigo-bem-comportado entrou à socapa, durante a noite, no gabinete do Director. Foi com eles que o Rodrigo-que-não-chora chorou baba e ranho por ter terminado o secundário. Foi com eles que o Rodrigo-leal-acima-de-tudo beijou a apaixonada de um dos seus melhores amigos. Não há ninguém que não tenha a sua sombra, mas ironicamente todos temos medo de a mostrar. Então não nos relacionamos de forma completa. Perante o outro somos só metade, a parte ideal. As relações genuínas precisam da sombra. Sem unidade não há intimidade. Sem intimidade não há cumplicidade. E sem cumplicidade nunca teriam existido os Três Mosqueteiros.

Vinte anos depois A divisa do Colégio Militar é lema dos mosqueteiros de Alexandre Dumas – Um por Todos Todos por Um. Eu, que sou um romântico por natureza queria acreditar de coração nesta mensagem. Hoje, quase vinte anos depois, e porque continuo um romântico, quero acreditar na mensagem de “Vinte Anos Depois”, o volume seguinte da trilogia “D’Artagnan Romances”. Na sequela de ”Os Três Mosqueteiros”, D’Artagnan perdeu completamente o contacto com os seus

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três amigos. Numa tentativa de os voltar a reunir, ele e Porthos descobrem-se na facção oposta de Athos e Aramis. Ao longo da história a amizade dos quatro mosqueteiros é posta à prova pela divergência dos seus interesses e lealdades políticas. No final, os laços que os unem provam ser mais fortes que qualquer diferença. Estou convencido que esta experiência de mosqueteiro foi a maior dádiva que o Colégio Militar me deu. Ela permitiu-me compreender, profundamente, que as vivências intensas criam a possibilidade de relações genuínas entre pessoas, mesmo que elas acabem do outro lado da trincheira. Talvez por isso tenha ido em busca de grupos como a Tuna Universitária do Instituto Superior Técnico, os animadores da Candeia ou a Alma13 da Biossíntese. Ao longo da vida fui tendo a sorte de estabelecer relações genuínas com pessoas muito diferentes. A maior parte delas já não está presente na minha vida, mas o vínculo mantém-se, pois sei que quando as encontrar também lhes darei um abraço destes que dou ao Telmo – um abraço mosqueteiro. http://apulsar.pt/um-abraco-mosqueteiro/ Se gostaste deste artigo, junta-te ao grupo de pessoas que acompanham de perto o meu blogue. Clica neste link e deixa-me o teu nome e email. Receberás uma mensagem de boas-vindas com o meu contacto.

João Carlos Agostinho Alves (110/1996)

J

oão Carlos Agostinho Alves concluiu o curso do Colégio no Ano Lectivo de 2003/2004, ano em que foi graduado Comandante do Batalhão e, em Abril de 2008, com a edição do número 171, iniciou a sua colaboração integrando o Corpo Redactorial da Revista da Associação (mais tarde ZacatraZ). Desde logo se revelou um excelente colaborador, sereno e metódico, desenvolvendo um meritório trabalho junto de Alunos e das camadas mais novas de Antigos Alunos.

Mesmo em plena actividade na sua formação universitária, que concluiu com elevada classificação, nunca deixou de estar presente dando o seu contributo trimestral para a realização dos diferentes números que foram sendo publicados. Entretanto casou e foi pai de um futuro Aluno do Colégio, estando para chegar um novo elemento enriquecedor da sua simpática Família. Como Médico-Veterinário do Quadro Permanente da GNR, onde actualmente desempenha o cargo de Chefe da Equipa Veterinária do Centro de Apoio da Área Centro, com a patente de Capitão, as funções que lhe estão cometidas não lhe dão margem para se dedicar cabalmente, como é seu timbre, a outras ocupações. Para além disso, o facto de se encontrar a fazer um Doutoramento em Ciências Veterinárias, ocupação que lhe absorve grande quantidade de tempo e lhe exige um esforço acrescido, constitui

mais uma razão impeditiva de poder continuar no Corpo Redactorial na forma em que sempre esteve, com a maior dedicação e participação útil. De forma muito delicada e franca, expôs a situação comunicando a sua dificuldade em manter a colaboração na ZacatraZ. Aqui fica o registo de um Antigo Aluno que prestou um bom serviço à nossa Revista e que merece o nosso agradecimento pelo seu empenhamento e salutar camaradagem. Desejamos-lhe os maiores sucessos pessoais, profissionais e académicos, estando certos de que sempre dará, no futuro, contributos muito válidos para o Colégio e para a Associação. Muito obrigado João Carlos. Gonçalo Salema Leal de Matos 371/1949 - Director da ZacatraZ


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VIII Festival dos Estabelecimentos Militares de Ensino

Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957

VIII Festival

dos Estabelecimentos Militares de Ensino

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CM + IPE lamentavelmente sem o Instituto de Odivelas

©Foto Leonel Tomaz

o passado dia 15 de Abril, a convite da Direcção do Colégio, que aqui publicamente agradeço, fui de abalada até ao pavilhão desportivo nº 2 do Estádio da Luz, para aí assistir ao VIII Festival dos Estabelecimentos Militares de Ensino, este ano organizado pelo Instituto dos Pupilos do Exército (IPE). Este ano foi o primeiro em que apenas participaram dois estabelecimentos militares de ensino, dada a extinção do Instituto de Odivelas, crime de lesa Pátria que nunca deixarei de condenar. Veio-me à ideia o festival do ano passado em que as Meninas de Odivelas, apesar de desfalcadas em número, se apresentaram com beleza e galhardia, dizendo-nos sem palavras «O Instituto morre, mas morre de pé». Guardaremos sempre com saudade as memórias desse notável Instituto, onde se formaram mães, mulheres, filhas e namoradas de muito Menino da Luz. Podem continuar a fazer impunemente todos os crimes deste tipo, mas não poderão cortar-nos nunca «a raiz do pensamento». À chegada ao pavilhão fomos surpreendidos por um pequeno grupo de Alunos dos Pupilos que estava encarregue de guiar os convidados até à respectiva bancada. Apresentavam-se em uniforme de passeio (como no meu tempo se dizia) e com o cinturão branco do uniforme de gala. Não sei se este uniforme «misto» é agora regulamentar, mas deu para nos surpreender. O Festival iniciou-se, como é da praxe, com um discurso de abertura e boas vindas do Director do estabelecimento organizador do evento, neste caso o Coronel Director dos Pupilos do Exército, que recordou os modelos de educação da Grécia Antiga e que prestou homenagem a


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©Foto Leonel Tomaz

um ilustre Antigo Aluno do «Pilão», David Sequerra, recentemente falecido, homem de personalidade multifacetada, que se notabilizou na nossa sociedade, nomeadamente nos campos do jornalismo e do desporto. Seguiram-se os hinos do Colégio e do «Pilão», entoados com vibração e fervor pelos respectivos Alunos e Antigos Alunos. Tal como nos anos transactos, o festival teve números musicais e de ginástica, que se foram alternando ao longo da noite e que comento de seguida em separado. A parte musical iniciou-se com a conhecida canção «Flor sem Tempo», tocada pela Orquestra Ligeira do Exército (do tipo big band norte americana do tempo da 2ª Guerra Mundial) e entoada por uma Aluna dos Pupilos, senhora de uma bela voz. Mais tarde voltaria a cantar integrada no Grupo Coral do IPE. Seguiu-se o Orfeão e Orquestra do Colégio, que interpretou dois temas, sendo que o segundo (Stand by me) deu para pôr a assistência a balançar-se nas cadeiras. A Orquestra Ligeira do Exército actuou ainda por duas vezes no decurso da 1ª parte do festival, apresentado uma vocalista cheia de ritmo e com uma boa voz, tendo sido interpretada a conhecidíssima canção de Stevie Wonder «I just call to say I love you», que me fez lembrar os tempos em que se namorava pelo telefone fixo. Agora mandam-se mensagens SMS, que ficam mais baratinhas, mas o encanto de se ouvir as vozes maviosas das namoradas a «arrulhar» do outro lado da linha, esse foi-se embora de vez. Ainda na 1ª parte do festival actuou a orquestra de Alunos e Antigos Alunos do IPE e

o respectivo coro, que interpretaram um «medley» dos «Piratas das Caraíbas» e o tema «I see fire». Segundo foi informado, esta foi a primeira vez que a orquestra com esta composição se apresentou em público e pode-se dizer que o fez com agrado geral da assistência. A 2ª parte do Festival iniciou-se com a actuação da Escola Superior de Música de Lisboa, que interpretou a «Canção de Embalar», uma música tradicional da ilha da Madeira. Surpreendeu-me a utilização de uma gaita de foles, que é um instrumento que não me lembro de alguma vez ter visto utilizar pelos grupos folclóricos da Madeira. O problema pode porém ser meu, já vou tendo lapsos de memória e os meus conhecimentos musicais são menos do que básicos. De seguida voltou a actuar o Grupo Coral e Instrumental do IPE apresentando a conhecida «Canção do Mar» de Ferrer Trindade e o tema «Todas as ruas do amor». O Orfeão e Orquestra do Colégio retorquiram com o tema «Let it go» e com a conhecida e velha canção «A Rosinha dos Limões», que foi interpretada por um Aluno com uma excelente voz, acompanhado não só pelo Orfeão mas por toda a assistência. A parte musical terminou com a actuação da Orquestra Ligeira do Exército, que interpretou o tema «Cry me a river», com um desempenho notável do seu vocalista. Resumida a parte musical do festival, vamos agora à parte da ginástica, onde me sinto mais à vontade na minha qualidade de antigo praticante (14 anos de saltador de mesa alemã e gafanhotos). A parte gímnica foi aberta pelo Ginásio Clube Português, Instituição pioneira e de grandes

pergaminhos no panorama gímnico nacional. O Ginásio apresentou a classe mista «Mixappeal», que fez uma bela exibição, honrando os referidos pergaminhos do Clube. Costumo dizer que as classes mistas quando não são de bom nível, não são carne nem são peixe, são insípidas. Neste caso tenho de reconhecer que se esteve em presença de uma mistura harmoniosa de carne e peixe, bem apaladada, cheia de sabor. A fasquia ficou alta para aqueles que viriam a seguir. Quem se seguiu foi a classe feminina “MIXtica” do «Glorioso» (seja-me perdoada esta liberdade) Sport Lisboa e Benfica. Como se disse, encontrou a fasquia alta, mas não se atrapalhou, brindando-nos com uma magnífica exibição. Seguiu-se a designada classe de formação do Colégio, uma classe mista que tem de ser julgada com outro critério, face à idade dos seus componentes. A exibição da classe foi do agrado geral e terminou com saltos diversos com recurso a um conjunto de minitrampolins. A novidade foi a indumentária apresentada, idêntica para os elementos dos dois sexos. Era um conjunto completo justo, de licra, de mangas e calças compridas, com as cores vermelha e preta (le rouge et le noir), que dava um bom visual à classe. A última classe da 1ª parte do festival foi a classe feminina «Silhuetas», de novo do Sport Lisboa e Benfica, que se apresentou em exercícios com fitas e arcos, tendo feito uma bela exibição. A 2ª parte do programa começou com nova classe feminina do Ginásio Clube Português, designada «Imagens». Posso dizer que fizeram uma exibição «sui generis», que tenho dificuldade em comentar. Entraram no pavilhão descalças e com um sapato preto de salto alto em cada uma das


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©Foto Leonel Tomaz

Classe Especial de Ginástica do Colégio Militar

mãos, situação que se manteve durante a maior parte da exibição e que continuou na saída de cena da classe. Os exercícios que apresentaram foram, em geral simples, o que até poderá ter levado alguns a pensar que se tratava de uma classe de manutenção. Dada a idade e a esbeltez das participantes, não tirei essa conclusão, não tendo percebido porém a ideia dos sapatos na mão, que me levaram de início a conjecturar se iriamos assistir a uma exibição de sapateado irlandês. Se me explicarem devagarinho, poderei ainda vir a entender o que se pretendia. Seguiu-se a classe especial de raparigas do Sport Lisboa e Benfica, que fez uma exibição que deu para justificar a sua designação. Na sua sequência deu entrada no pavilhão a classe especial do Colégio Militar, envergando indumentária idêntica à da classe de formação, que se tinha exibido na primeira parte do festival. Na crónica que fiz do festival do ano passado indiquei que receava que viessem a pôr Alunas nesta classe, para se adoptar uma prática agora considerada politicamente correcta. Os meus receios eram fundados, a classe incluí agora duas Alunas. A exibição da classe não me entusiasmou, sendo o reflexo da sua composição. Trata-se de uma classe heterogénea, com as duas Alunas novatas nestas andanças e com rapazes cujas idades variam, aparentemente, entre os 11 e os 18 ou 19 anos. O produto resultante foi também heterogéneo, com os primeiros das torrentes a fazerem coisas mais simples e com dificuldade em saírem instantaneamente dos colchões, para não comprometerem as chegadas ao solo dos que os seguiam, e com os mais velhos a fazerem duplos mortais com meia pirueta, alguns deles com grande correcção

de execução. Não entendo o que se passa. Admito, que por falta de bons ginastas nos últimos anos, se esteja a recorrer a rapazes mais aptos dos anos inferiores, que pela sua idade estariam muito bem na classe de formação. Continuo a achar que a classe de mesa alemã deveria ser reservada aos rapazes, podendo, em paralelo, fazer-se uma classe especial de Alunas, o que obviamente daria mais trabalho. Receio agora que haja alguém que venha a ter a peregrina, mas politicamente correcta, ideia de constituir uma classe feminina, exibindo-se com fitas e bolas e massas indianas, onde se incluiriam alguns rapazes. As exibições gímnicas terminaram com a apresentação da classe especial do IPE, também ela mista e também com um novo visual em cores azul e preto. Foi indicado no início da sua exibição, que se tratava de uma equipa nova, o que leva a um menor grau de exigência para com ela. Veremos em novos saraus até onde irá. Para terminar a função, entraram no pavilhão todos os conjuntos participantes no festival, a quem foram distribuídas lembranças. Foram lançados ao ar os «gritos de guerra» do IPE e do Colégio, sendo os actuais Alunos secundados pelos Antigos Alunos. Foi então entoado, por todos os presentes, o Hino Nacional, ao que se seguiu a saída do pavilhão. Foi uma saída sem a beleza e o empenho que seria de esperar dos participantes dos estabelecimentos militares. A única classe que saiu marchando garbosamente e com toda a graciosidade, em bicos de pés, foi a classe especial feminina do Benfica, cuja porta-estandarte o erguia orgulhosamente no ar, à altura máxima que o comprimento dos seus braços permitia. Já o ano passado referi, que no meu tempo as

classes do IPE e do Colégio entravam no pavilhão marchando com um garbo, com uma «panache» e com uma total correcção de movimentos, que faziam a assistência romper em aplausos, ainda sem termos feito qualquer exercício ou salto. Fazia parte da nossa sã competição dessa época. Os nossos Mestres exigiam-nos isso e nós aderíamos de alma e coração. As entradas e as saídas faziam parte das exibições. Hoje em dia é uma apagada e vil tristeza. Nas entradas e saídas assiste-se a qualquer coisa entre o passeio e a marcha, que não sei classificar. É pena. Voltem às boas práticas. É sempre bom. Termino referindo um «fait divers». Tenho visto ao longo dos últimos anos Alunas do IPE e do Colégio apresentando-se no exterior com cabelos longos caídos pelas costas, ou apanhados em «rabo de cavalo», o que creio ser contrário ao que está regulamentado. Tinha dito que só me faltava ver Alunas com tranças pelas costas abaixo. Pois nesta noite já vi isso. Vi Alunas com uma longa trança única. O próximo passo será Alunas com duas trancinhas, quiçá com laçarotes com as cores dos seus estabelecimentos de ensino. Talvez até se possa vir a fazer um fado análogo ao da violeteira que vendia as suas flores no Chiado, sem que nenhuma menina fina que a imitasse conseguisse ter umas «tranças pretas como ela as tinha». Curiosamente, as duas soldados que vi fardadas no pavilhão, tinham os cabelos apanhados atrás e presos com uma rede, da forma regulamentar. Vá-se lá saber porquê! NOTA FINAL

Qual será a cor adoptada para o calçado da classe especial do Colégio Militar? Preto ou Branco? Da foto nada consigo concluir.


Uma reparação pelas armas Dois Antigos Alunos em duelo (2 de Julho de 1924)

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Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957

Uma reparação pelas armas Dois Antigos Alunos em duelo (2 de Julho de 1924)

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o número 411, de Setembro/Outubro de 2014, da Mais Alto, revista da Força Aérea Portuguesa, foi publicado um interessante artigo, da autoria do Dr. José Manuel Correia e do Dr. Carlos Robalo Cerejo, intitulado A «Questão» dos Aviadores. Esta «questão» ficou também conhecida para a posteridade como «A Revolta dos Aviadores» e foi mencionada de forma breve nesta nossa revista, no artigo intitulado «Os Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras», publicado no número 199 de Abril/ Junho de 2015. Nesse artigo indicava-se que o então Capitão António de Sousa Maya (186/1899) tinha desempenhado um papel importante, na sua qualidade de deputado pela Guiné, na então designada Câmara dos Deputados, ao fazer uma defesa veemente dos aviadores revoltosos, que levou a breve prazo à queda do Governo da altura, chefiado por Álvaro Xavier de Castro (206/1890). A «Revolta dos Aviadores» teve na sua origem a publicação do Decreto-Lei 9749, de 30 de Maio de 1924, que determinava que o Director do Serviço de Aeronáutica Militar poderia ser um coronel de qualquer arma ou do serviço de Estado-Maior. Os aviadores militares não aceitaram esta disposição do diploma, rebelaram-se e concentraram-se no Grupo de Esquadrilhas de Aviação República, na Amadora, comandado pelo então Major Cifka Duarte. Esteve na iminência de ocorrer um conflito armado entre militares, tendo valido na altura a intervenção de influentes figuras da vida militar portuguesa

de então, de entre as quais o Almirante Gago Coutinho, que levaram os aviadores revoltosos a entregarem-se. Foram detidos no dia 7 de Junho de 1924, tendo seguido primeiro para Queluz, depois para Caxias, sob escolta, e posteriormente para o Forte de São Julião da Barra, onde ficaram prisioneiros, aguardando procedimento disciplinar. Os prisioneiros foram amnistiados por decreto de 24 de Junho de 1924, aprovado por uma maioria de um voto. O Major Cifka Duarte e os oficiais prisioneiros consideraram porém a amnistia afrontosa, estando já também indignados por vários factos entretanto ocorridos, nomeadamente pelo facto de Álvaro de Castro, Presidente do Conselho de Ministros, ter sugerido, ao General Bernardo Faria, Comandante da 1ª Divisão na altura da detenção dos revoltosos, que «levasse 20 alunos dos mais pequenos do Colégio Militar» à Amadora para os prender. Os aviadores revoltosos acabaram por ser libertados do forte de São Julião da Barra, pelas 21h30 do dia 28 de Junho de 1924. Um dos oficiais aviadores que mais protagonismo teve no decurso da «revolta» foi o então Capitão Teófilo José Ribeiro da Fonseca (205/1897) um prestigiado militar, que nesta revista foi recordado ainda recentemente por duas vezes. A primeira vez no artigo «Plácido de Abreu. Um ás da aviação mundial», da minha autoria, publicado no número 201 de Outubro/Dezembro de 2015 e a segunda vez no artigo «Antigos Alunos entre os pioneiros do pára-quedismo em Portugal», da autoria

de Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950), publicado no número 202, de Janeiro/Março de 2016. No primeiro artigo, indicava-se que Ribeiro da Fonseca foi o homem que possibilitou que Plácido de Abreu se tornasse piloto militar, que o apoiou sempre na sua meteórica carreira de «acrobata do ar» e que acompanhou a vinda do seu corpo para Portugal, após a sua trágica morte num campeonato internacional de acrobacia aérea realizado em Vincennes, nos arredores de Paris. No segundo artigo, lembrava-se que Ribeiro da Fonseca foi o primeiro homem a saltar de pára-quedas, a partir de um avião, em Portugal, tendo sido frustrada em condições dramáticas a sua primeira tentativa, que foi imediatamente seguida de uma segunda tentativa com pleno êxito. Era um homem de antes quebrar que torcer, de carácter caldeado no nosso Colégio. O Capitão Ribeiro da Fonseca poucos dias após ser liberto do forte de São Julião protagonizou um duelo com o então Presidente do Conselho de Ministros Álvaro de Castro. O que então se passou é descrito numa «caixa» do artigo da revista MAIS ALTO inicialmente referido e que passamos a transcrever parcialmente: «Pouco depois da libertação do Forte de São Julião, o Capitão Teófilo Ribeiro da Fonseca dirigiu-se com outros aviadores ao Teatro de São Carlos para uma cerimónia em honra de Sarmento de Beires e Brito Pais, que tinham concluído dias antes o raid Lisboa-Macau. Na plateia e já demissionário do cargo de Presidente


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Uma reparação pelas armas Dois Antigos Alunos em duelo (2 de Julho de 1924)

Foto dos Aviadores presos em São Julião da Barra e respectivas assinaturas, estando assinalado Teófilo Ribeiro da Fonseca

do Conselho de Ministros, o Major Álvaro de Castro assistia com sua esposa ao evento, quando o aviador lhe faz chegar um cartão em que solicitava «uma reparação pelas armas». Famoso pela sua competência como espadachim, Álvaro de Castro não hesitou e, sentindo-se ultrajado pela quebra de protocolo militar, aceitou o desafio para o duelo, continuando calmamente a assistir à sessão comemorativa. Ribeiro da Fonseca retirou-se da sala e aguardou cerca de duas horas pela comparência das testemunhas do ex-Chefe do Governo. Como tal não se verificasse, no dia seguinte enviou o Comandante Afonso Cerqueira e o Capitão Alfredo dos Santos Cintra ao encontro do desafiado. Este designou os Majores Álvaro Pope e Victorino Godinho como suas testemunhas e as duas partes acertaram a modalidade do duelo, fixando a data da contenda para a manhã de 2 de Julho. A arma escolhida foi o sabre, com assaltos de dois minutos e intervalos de

um minuto, devendo os contendores actuar em camisola sem mangas e sendo proibido o «corpo a corpo». O combate terminaria com a manifesta incapacidade de um dos duelistas e teria como árbitro e mestre de armas o Major José Veiga Ventura. Depressa a notícia do duelo saltou para as páginas dos jornais, gerando grande alvoroço e levando dezenas de espectadores ao Parque das Necessidades na manhã de 2 de Julho, o local supostamente secreto do duelo. Na segunda reprise, o polegar de Ribeiro da Fonseca foi atingido sem gravidade e na seguinte, o sabre de Castro desapareceu sob a axila do aviador e atravessou a camisola branca sem atingir o corpo, perante a comoção da assistência que já presumia trespassado o tronco do piloto. Após a troca de sabres, o duelo prosseguiu e na quarta reprise Castro atingiu o antebraço de Fonseca, causando-lhe uma ferida profunda de quase oito centímetros de comprimento

e quatro de profundidade. O sangue jorrou do braço de Ribeiro da Fonseca, provocando desmaios nas senhoras presentes e levando os médicos presentes a decretar a suspensão da contenda, decisão que o aviador não aceitou. Depois de muita persuasão, Ribeiro da Fonseca acedeu a ser pensado e Álvaro de Castro concordou com a interrupção da justa, considerando reparada a sua honra. Depois de cumprimentar as testemunhas e o seu adversário, retirou-se para o seu domicílio. Do duelo foi lavrada a competente acta, assinada pelas testemunhas das duas partes, pelo Major Ventura e pelos médicos. Estes conduziram Ribeiro da Fonseca ao Hospital de São José, onde o ferimento foi suturado e pensado. Recolhidos em suas casas os dois duelistas receberam dezenas de visitas, centenas de telegramas de apoio e felicitações de militares, autoridades civis e cidadãos proeminentes, conforme relatou a imprensa lisboeta.


Uma reparação pelas armas Dois Antigos Alunos em duelo (2 de Julho de 1924)

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da República, de 18/12/1923 a 6/7/1924, que terminou em consequência da «Revolta dos Aviadores». Com a ditadura militar em 1926 foi preso, tendo fugido de Elvas para Paris em 1928, sendo-lhe dada pouco depois autorização para voltar a Portugal devido ao seu estado de saúde. Veio a morrer nesse mesmo ano em Coimbra, com 49 anos de idade. O duelo entre estes dois Antigos Alunos constituiu um episódio de tal forma inédito, que não resisti a recordá-lo aqui, para que a sua memória não se perca. NOTAS FINAIS

Álvaro Xavier de Castro

Teófilo Ribeiro da Fonseca

O sangue de Ribeiro da Fonseca acabaria, felizmente, por ser o único derramado na «revolta dos aviadores». As consequências políticas seriam, contudo, fatais para o Governo de Álvaro de Castro, substituído nos primeiros dias de Julho de 1924 pelo Ministério de Rodrigues Gaspar». Por mero acaso, tenho em minha posse um postal ilustrado editado pelo jornal «Diário de Notícias», por ocasião do seu 150º aniversário, com o retracto de arquivo daquele jornal do duelo anteriormente descrito, que reproduzimos para ilustrar este artigo. No verso do retracto encontra-se o seguinte texto «Duelo no Parque das Necessidades, em 2 de Julho de 1924. Por uma questão de honra, o então chefe de Governo, Álvaro de Castro (camisola branca), defrontou o aviador Ribeiro da Fonseca. Este ficou ferido». Este retracto permite verificar que o texto atrás transcrito contem uma pequena incorrecção quando indica «o sabre de Castro desapareceu sob a axila do aviador e atravessou a camisola branca». Na realidade a camisola de Ribeiro da Fonseca era preta, como se pode ver na fotografia. Vislumbra-se, um pouco a custo, em fundo da fotografia, que a assistência ao duelo foi numerosa. Penso que não seria apropriado terminar este pequeno artigo sem dizer algo sobre o segundo protagonista do duelo descrito, Álvaro de Castro, também ele uma figura de destaque na sua época. Sendo militar notabilizou-se porém como político, tendo desempenhado cargos públicos ao mais alto nível. De seu nome completo Álvaro Xavier de Castro, foi também ele Antigo

Aluno do Colégio. Segundo o nosso «Quem é Quem II», ingressou no Colégio no ano de 1890, tendo tido o número 206. Foi Governador-Geral de Moçambique entre 1915 e 1918, no período da 1ª Guerra Mundial, tendo assumido o comando das nossas forças militares na campanha contra as forças alemãs, que foi uma campanha que o País quis esquecer, de tal modo ela foi penosa, mortífera e sem sucesso, embora na mesma se tenham distinguido muitos militares pela sua bravura, nomeadamente Antigos Alunos do Colégio. Foi chefe do 28º Governo da República, que durou 10 dias, de 20 a 30 de Novembro de 1920. Foi chefe do 40º Governo

Uma biografia abreviada de Álvaro de Castro pode ser consultada no livro «Os Governos da República 1910/2010», da autoria de Alberto Laplaine Guimarães, Bernardo Manuel Diniz de Ayala (171/1953), Manuel Maria de Menezes Pinto Machado (92/1953) e Luís Miguel Guerreiro Félix António (302/1972). O duelista Ribeiro da Fonseca teve descendência no Colégio: seu filho, António Joaquim Alves Ribeiro da Fonseca (4/1952), detentor de uma Torre e Espada ganha na Guerra do Ultramar, e seu neto, João Manuel Ribeiro da Fonseca Calixto (314/1947), membro do Conselho Supremo da nossa Associação.


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Livros do Fim do Império

Livros do Fim do Império Apresentação no Colégio Militar

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ealizou-se no passado dia 13 de Abril a 14ª Sessão Extraordinária e 141ª Tertúlia Fim do Império que teve lugar no Auditório do Colégio. A convite do Director, Coronel Tirocinado de Artilharia José Domingos Sardinha Dias, no refeitório do Corpo de Alunos, juntamente com todo o Batalhão Colegial, a presença do Subdirector Tenente Coronel de Artilharia António José Ruivo Grilo (338/1978) e do Chefe do Serviço Escolar e Coordenador Pedagógico Professor Pedro Raimundo de Freitas Ferreira, estiveram no almoço convívio os prelectores da sessão e autores, Coronel Manuel Júlio Matias Barão da Cunha (150/1948), Coronel Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950), Almirante José Manuel Castanho Paes (228/1952), Raul Miguel Socorro Folques (380/1952) Presidente da Assembleia Geral da AAACM, José Eusébio Pereira Barata Cordeiro de Araújo (591/1973) e Artur Manuel de Spínola e Santos Pardal (587/1961), respectivamente, Presidente e Vice-Presidente da AAACM, Coronel José António Madeira de Ataíde Banazol (631/1968) Secretário Geral da Comissão Portuguesa de História Militar, Superintendente Isaías Teles Presidente do Núcleo de Oeiras/Cascais da Liga dos Combatentes e Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949) Director da ZacatraZ. A tertúlia decorreu entre as 15 e as 17 horas, com cerca de 140 presenças, que incluíram os Alunos do 9.º e do 12.º ano, do Secundário com opção de História, Professores, Militares, Funcionários e Antigos Alunos. A mesa foi constituída pelo Director do Colégio, pelo Presidente da AAACM e pelos prelectores que apresentaram os oito livros da Colecção “Fim do Império” da autoria de Antigos Alunos.

A abrir a sessão interveio o Subdirector Tenente Coronel António Ruivo Grilo (338/1978), referindo que este programa completou sete anos e integra duas vertentes: tertúlias e colecção literária sendo, essencialmente, um trabalho de equipa. O Programa é, fundamentalmente, apoiado por Câmara Municipal de Oeiras, Liga dos Combatentes (LC), Comissão Portuguesa de História Militar (CPHM) e Sociedade Histórica da Independência de Portugal (SHIP), tendo as Tertúlias sido iniciadas em Janeiro de 2009 na Livraria Galeria Municipal Verney, no centro histórico de Oeiras. A finalidade principal do programa é a de contribuir para a História, através de testemunhos e investigações, tentando abranger militares e civis, homens e mulheres, veteranos e jovens, portugueses e estrangeiros.

A sua primeira vertente é a realização de Tertúlias, estando a decorrer o 15.º ciclo que é dedicado aos militares recentemente agraciados com a Ordem da Torre e Espada do Valor Lealdade e Mérito, Tenente General Vasco Joaquim Rocha Vieira (127/1950) e Coronel Tirocinado Comando Raul Miguel Socorro Folques (380/1952). A outra vertente, a da Colecção Literária, iniciada em 18 de Maio de 2010, conta com 23 edições e 3 reedições de livros e 4 edições e uma reedição de cadernos. Até ao próximo verão está previsto o lançamento, em Oeiras na Livraria Municipal Verney da 5.ª edição do livro Tempo Africano, de Manuel Barão da Cunha, no qual colaboram Vasco Rocha Vieira e José Alberto da Costa Matos (96/1950), Coronel Tirocinado de Artilharia.


Livros do Fim do Império

Objectivo desta Tertúlia A Tertúlia realizada no Colégio teve como objectivo a apresentação dos oito livros dos vinte e três da Colecção “Fim do Império”, da autoria dos Antigos Alunos a seguir referenciados: Manuel Júlio Matias Barão da Cunha (150/1948), Coronel de Cavalaria, autor dos livros Tempo Africano e Radiografia Militar e os 4DDDD?; co-organizador e co-autor do livro Olhares sobre Guiné e Cabo Verde; coordenador do Programa. Luís Manuel Dias Antunes (221/1948) Coronel de Infantaria, falecido, autor do livro Memórias do Oriente. José Manuel Castanho Paes (228/1952), Almirante, licenciado em organização e gestão de empresas (ISCTE, 1983), co-organizador e co-autor do livro Olhares sobre Guiné e Cabo Verde. Carlos Alberto Feliciano Marques Pereira (102/1946), Coronel piloto-aviador, autor do livro Memórias de um marinheiro aviador. Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950) Coronel de Cavalaria pára-quedista, doutor em Ciências Sociais (área de Relações Internacionais), autor do livro Soldado Clarim e membro da equipa de redacção da revista ZacatraZ. Fernando Augusto Falcão Lamy (157/1947), Sargento miliciano autor do livro Angola: as brisas da memória, residente no Brasil.

Manuel Paulo Lalande Vieira Pinto (382/1949), Licenciado em Direito, autor do livro O General Ramalho Eanes e a História Recente de Portugal, 1.º volume; e da biografia do professor Adriano Moreira; fundador do Grupo de Reflexão de Antigos Membros das Forças Armadas. Outros co-autores do livro Olhares sobre Guiné e Cabo Verde: Almirantes José Alberto Lopes Carvalheira (301/1946) e Isaías Augusto Pinto Gomes Teixeira (235/1946); Coronéis José da Câmara Vaz Serra (Sócio Honorário da AAACM) e Raul Miguel Socorro Folques (380/1952). A apresentação dos oito livros de autoria de Antigos Alunos esteve a cargo dos Coroneis Manuel Barão da Cunha (150/1948), de Nuno Mira Vaz (277/1950) e do Almirante José Castanho Paes (228/1952).

Apresentação dos livros Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950) Coube a Nuno Mira Vaz a apresentação das publicações de Manuel Paulo Lalande Vieira Pinto (382/1949) e de Manuel Júlio Matias Barão da Cunha (150/1948). Relativamente a Manuel Vieira Pinto, autor do livro O General Ramalho Eanes e a História recente de Portugal (I volume), Nuno Mira Vaz disse o autor faz questão de esclarecer, na Introdução, que o seu trabalho não é uma biografia, ocupando-se sobre-

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tudo de «registar, analisar e apreciar a vida pública de um cidadão, nas suas actividades de natureza militar, político-militar e política), bem como das respectivas motivações e objectivos». Este I volume dá-nos a conhecer os aspectos mais marcantes da vida do General Eanes até ao fim do primeiro mandato presidencial. Na «I PARTE – Um português como os outros», acompanhamos a infância e juventude do General, em Alcains, onde nasceu, e em Castelo Branco, onde completou o ensino liceal e posteriormente a Escola do Exército, onde completou a sua formação inicial de oficial de Infantaria. A carreira militar do General Eanes é tratada sucintamente na «II Parte – Um militar como poucos». Prestou serviço na Índia, em Macau, em Moçambique por duas vezes (em 1964 e depois entre 1966 e 1968) e finalmente na Guiné (de 1969 a 1971), sendo aqui que «o pensamento de Eanes em relação ao prosseguimento da guerra se modifica profundamente, mas sem interferir, de nenhuma forma, no cumprimento das suas obrigações militares». Eanes não participou no golpe militar de 25 de Abril de 1974, pois na altura encontrava-se em serviço em Angola. Na «III Parte – O 25 de Abril e o 25 de Novembro», descreve-se o essencial das movimentações ocorridas e realça-se o papel preponderante desempenhado por Eanes nos acontecimentos relacionados com a última data.


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A «IV Parte – O novo regime», recorda de forma sucinta a génese da Constituição de 1976, bem como alguns aspectos relevantes dos 1.º e 2.º Pactos MFA-Partidos. Inclui um depoimento do General Chito Rodrigues, presidente da Liga dos Combatentes, que nos dá a conhecer o teor da proposta para Atribuição do título honorífico de Marechal ao General António dos Santos Ramalho Eanes, bem como a pronta reacção deste no sentido de recusar tal honraria. A «V Parte – O primeiro mandato presidencial», consiste basicamente no registo das principais ocorrências da candidatura e do mandato – incluindo frequentes transcrições das suas declarações públicas –, bem como dos difíceis relacionamentos que manteve com alguns dos principais protagonistas da cena política. Ficamos aguardando a prometida continuação destas interessantes memórias, que retratam com isenção e acuidade um período muito conturbado da nossa História colectiva, enquanto por outro lado prestam merecida homenagem a um cidadão exemplar. A terminar, o apresentador do livro enfatizou a circunstância de Eanes, para além de ter manifestado em mais do que uma ocasião o seu apreço pelo Colégio Militar, ser um «verdadeiro herói português», um homem de carácter exemplar, bem expresso em duas alturas: uma quando, por modéstia, recusou a promoção a Marechal; outra quando aceitou com invulgar dignidade que o Governo em funções lhe retirasse parte substancial da remuneração. Anos mais tarde, tendo o tribunal obrigado o Governo a devolver-lhe uma elevada importância a

que tinha direito, mandou entregá-la a Instituições de Solidariedade Social.

Manuel Júlio Matias Barão da Cunha (150/1948) Quanto a Manuel Barão da Cunha, referiu o seu tempo no Colégio e as comissões no Ultramar como oficial de Cavalaria. Entre 1960 e 1962 comandou um pelotão de reconhecimento em Angola, tendo participado de forma activa nas primeiras operações de salvamento de populações e de reocupação de povoações, na região dos Dembos. Em 1946/65 comandou na Guiné uma companhia de cavalaria, de início em funções de intervenção e posteriormente em quadrícula. Ferido em combate, foi condecorado com uma medalha da Cruz de Guerra. Já como deficiente das Forças Armadas, licenciou-se em Ciências Sociais e Políticas no ISCSP, após o que exerceu diversas funções, tendo sido o primeiro director de cultura da Câmara Municipal de Lisboa. Actualmente coordena, em regime de voluntariado, a Colecção Fim do Império. É autor de uma vasta obra literária, com destaque para o seu primeiro livro, Tempo Africano. Aquelas longas horas, que é também o mais conhecido do público e que teve as duas primeiras edições em 1972. Em 2014 é publicada a 4ª edição, revista e aumentada, com o título Tempo Africano. Aquelas longas horas em oito andamentos. Este livro é sobretudo um tributo de homenagem ao humilde soldado português,

que Manuel Barão da Cunha evoca com pinceladas sentidas, tanto no ardor do combate como nas pacíficas tarefas da acção psicológica. Dele disse o saudoso Dr. Júlio Martins, professor de Português do Colégio: «…E é este soldado, por isso mesmo, a personagem central do seu livro. Livro exaltador não de chefes, mas do português humilde de todas as latitudes…». Dele disse o General Ramalho Eanes: «O soldado, o homem português humilde, é a personalidade principal. Personalidade que Manuel Barão da Cunha descreve, retrata, com sóbria adjectivação, numa linguagem bastante clara e viva, que testemunha com emoção e sentido respeito, na multiplicidade caleidoscópica das suas acções, interacções, feitas, elas também, de tantos e não raro contraditórios comportamentos e emoções». Radiografia Militar e os 4 DDDD? Fim do Império, Anverso e Reverso?. Publicado pela primeira vez em Novembro de 1975, o livro foi imediatamente apreendido e todos os esforços do autor para a sua reedição em Espanha e França resultaram infrutíferos, porque as editoras contactadas só se propunham aceitá-lo se os nomes fictícios fossem substituídos pelos reais, o que o Autor, na altura, não permitiu. Desta feita, por decisão do autor, «os personagens deixam de ser uma coincidência para passarem a ser os reais, fazendo-se coincidir a ficção com a verdade histórica». Além disso, a actual edição integra novos textos e uma nova arrumação, tendo em vista obter uma radiografia sócio-militar


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que coloca interrogações aos 3 D’s do MFA - Movimento das Forças Armadas (Descolonizar, Democratizar, Desenvolver) e ao D de «Depois», com seus anversos e reversos. Segundo o Tenente-General Sousa Pinto – Presidente da Comissão Portuguesa de História Militar –, a leitura do livro permite ao leitor proceder a uma «análise racional das memórias sectoriais de cada português» no decurso das últimas seis décadas, enquanto, por outro lado, constitui um manancial de dados ao dispor dos interessados em «produzir uma História isenta e tão completa quanto possível da segunda metade do século vinte português».

José Manuel Castanho Paes (228/1952) Na apresentação a seu cargo, José Manuel Castanho Paes citou ter entrado para o Colégio, já lá vão quase 64 anos; era então uma criança com 10 anos incompletos. Deram-me o nº 228 e a curiosa deferência de ser tratado por “senhor aluno” pelo pessoal auxiliar, designadamente os serventes (fâmulos na nossa gíria colegial). Daqui saí passados 7 anos já um homenzinho, capaz de tomar opções de vida orientadas por determinados valores éticos e sociais, muitos deles cá adquiridos e desenvolvidos. Devo pois ao Colégio Militar uma boa parte da minha educação e, portanto, aquilo que fui ao longo da vida. Guardo saudades e recordações desses tempos? Claro que sim! É por isso que me sinto honrado e é com todo o gosto que aqui estou, a convite da Direcção do Colégio e por sugestão do Coronel Barão da Cunha, também Antigo Aluno, um pouco mais velho do que eu, mas meu contemporâneo não só no Colégio, mas também na Guiné, quando ambos ali cumpríamos comissões de serviço nos idos anos de 1964 e 1965, e agora principal idealizador, mentor e coordenador desta notável colecção denominada “Fim do Império”. Eis pois a razão, caríssimos Alunos e Alunas, que me trás a apresentar-vos dois dos livros da citada colecção, que se intitulam: Olhares sobre Guiné e Cabo Verde, o primeiro deles (em que ambos participámos como co-organizadores e co-autores), e Histórias e Memórias de um Marinheiro-Aviador, o segundo.

E faço-o ainda com redobrado gosto pelo facto de o primeiro dos referidos livros assumir a rara particularidade de ter trinta autores, dos quais seis são Antigos Alunos e, quanto ao segundo livro, ser também da autoria de outro Antigo Aluno – o Tenente Coronel piloto aviador Carlos Marques Pereira (que por sinal era graduado da 1ª Companhia quando eu a ela pertencia como “rata” do 1º ano). Mas antes de mais avançar, manifestou à Direcção do Colégio Militar, na pessoa do seu ilustre Director, a sua quota-parte do agradecimento por nos ter proporcionado a oportunidade de estabelecer esta “tertúlia” com Alunos do nosso Colégio, no sentido de os sensibilizar e de lhes despertar a vontade de procurarem conhecer e compreender melhor um período difícil da nossa História contemporânea, que certamente muitos dos seus avós, ou outros familiares da mesma geração, viveram e sentiram, para o bem e para o mal, com maior ou menor intensidade ou com maior ou menor empenho pessoal. As Campanhas Ultramarinas Portuguesas do 3º quartel do século XX A colecção “Fim do Império”, que julgo já estar acessível na biblioteca do Colégio, dispõe de um vasto e abrangente conjunto de obras sobre o período das Campanhas Ultramarinas Portuguesas do 3º quartel do século XX e ficará para a História, a par de várias outras obras e artigos publicados sobre tal matéria, como mais um repositório de importantes e variados testemunhos vivos sobre esse conturbado período que antecedeu a queda do Império Português, iniciada com a perda dos territórios indianos de Goa, Damão e Diu, em fins de 1960, e com a independência dos territórios africanos de Cabo Verde, Guiné, Moçambique e Angola, ocorridas após a Revolução de 25 de Abril de 1974. O livro Olhares sobre Guiné e Cabo Verde Procurando agora sintetizar o que de mais relevante me parece surgir do conteúdo do livro Olhares sobre Guiné e Cabo Verde, destaco o seguinte: - Dos seus 30 co-autores: 22 são militares dos Quadros Permanentes do Exército, da Marinha e da Força Aérea (dois já falecidos);

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5 são civis que prestaram serviço militar obrigatório no Exército e foram mobilizados para a Guiné ou Cabo Verde; e 3 (um antigo repórter de guerra e duas senhoras) falam de factos e temas relativos à realidade guineense ou cabo-verdiana da época. - Conforme consta do seu prefácio, o livro compõe-se de sete conjuntos de capítulos: Generalidades, incluindo 5 capítulos, de 5 autores, sobre variados temas como: o estudo do meio; a acção psicológica e social; Amílcar Cabral, o PAIGC e a guerra; memórias de Cabo Verde e da Guiné através dos panos; e museologia militar (de Portugal, da Guiné-Bissau e de Cabo Verde). As Actividades terrestres, incluindo 6 capítulos, de 8 autores, sobre as acções quer das forças de quadrícula, quer das forças de intervenção (estas últimas com uma especial incidência nas tropas de comandos e de pára-quedistas). A Marinha na Guiné e em Cabo Verde: navios, fuzileiros e autoridade marítima, com um único e mais extenso capítulo, de 8 autores, sobre o papel deste ramo das Forças Armadas nos referidos teatros de operações. A Força Aérea na Guiné, incluindo 2 capítulos, de 2 autores, sobre o papel deste ramo das Forças Armadas no respectivo teatro de operações. Outros olhares sobre a Guiné, incluindo 3 capítulos, de 3 autores, que relatam e retratam factos e curiosidades específicas deste território, à época em causa. Olhares sobre Cabo Verde, incluindo também 3 capítulos, de 3 autores, um que analisa aspectos históricos da evolução do arquipélago e os outros relatando episódios de natureza social e cultural relativos à realidade cabo-verdiana da época. Livros que falam no tema, com um único capítulo, de um autor, o qual tece interessantes considerações pessoais acerca da literatura existente sobre a guerra da Guiné. - Embora haja uma predominância de relatos, apreciações pessoais e expressão de sentimentos sobre o decurso das operações militares - terrestres, navais e aéreas


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- nas suas diversas vertentes, ou seja, as acções de combate que delas decorreram, o espírito de missão, a coragem, a bravura, a abnegação e a resiliência demonstradas por muitos dos nossos combatentes, avaliações objectivas da capacidade das forças inimigas, os meios e o armamento empregues por ambos os lados, os contactos e os apoios dados às populações civis, etc., não deixam de ser referidos nesta obra interessantes aspectos políticos, sociais e culturais próprios quer da conjuntura nacional e internacional que então se vivia, quer das realidades regionais específicas dos teatros de operações da Guiné e Cabo Verde. - Importa ainda referir que o teatro de operações da Guiné foi, sem dúvida, relativamente aos outros dois territórios africanos onde houve guerra (Angola e Moçambique), aquele em que as forças inimigas com que combatíamos atingiu o nível mais elevado de eficácia relativamente ao objectivo a que se propunham – a progressiva obtenção de mais zonas do território e respectivas populações sob o seu controlo. Para isso era-lhes muito favorável a reduzida dimensão e as características próprias do território (matas muito densas, clima inóspito e obstáculos naturais à livre movimentação das nossas forças), o apoio praticamente incondicional dado às forças inimigas pelos dois Estados fronteiriços (Guiné-Conackry e Senegal), onde o PAIGC dispunha de bases logísticas para suporte e projecção de acções ofensivas desencadeadas contra as nossas forças, e ainda o apoio directo que recebiam de conselheiros e combatentes estrangeiros no terreno (designadamente cubanos), bem como a elevada quantidade e boa qualidade do armamento e equipamentos que recebiam de determinados países (designadamente a União Soviética e respectivos países satélites, a China, os E.U.A., a Suécia e outros). - A guerra na Guiné foi, por tudo isso, tornando-se cada vez mais dura para ambas as partes, mas o tempo, atendendo aos crescentes e maciços apoios internacionais recebidos pelo PAIGC, parecia de facto estar a tornar-se um factor desfavorável para as nossas forças. E isto sem que por parte do poder político metropolitano se vislumbrasse qualquer vontade de procurar uma solução negociada no sentido de pôr termo ao conflito, antes que a situação se pudesse vir a tornar insustentável.

- Por outro lado, importa também referir que o grau de interdependência entre as forças dos três ramos (Exército, Marinha e Força Aérea), e a consequente necessidade de aplicação concreta do conceito de operações conjuntas, atingiu na Guiné uma expressão bastante superior relativamente aos outros teatros de operações. As circunstâncias locais sem dúvida que assim o exigiram, contribuindo substancialmente para os sucessos alcançados em muitas das missões das nossas forças. - Por fim, importa ainda salientar que as nossas forças agregaram um conjunto bastante significativo de combatentes guineenses que lutaram do nosso lado, chegando até a constituir-se em unidades próprias, designadamente companhias de comandos e destacamentos de fuzileiros. Um texto bem elucidativo desta realidade é apresentado pelo Coronel Raul Folques (380/1952) sob o título «Memorial de “Patrício” Haik, comando da Guiné». E assim termino a apresentação deste primeiro livro. O livro Histórias e Memórias de um Marinheiro-aviador Passando agora a uma sucinta descrição do conteúdo do 2º livro que vos tenho a apresentar – Histórias e Memórias de um Marinheiro-aviador - como já disse da autoria do Tenente Coronel piloto aviador reformado Carlos Marques Pereira (102/1946), começo por dizer que achei o livro de tal modo interessante que quando o li, o fiz praticamente de uma “assentada”. Trata-se de uma autobiografia do autor, desde a sua meninice até aos anos da década de 1980, altura em que terminou um difícil período de emigração no Brasil, intensamente vivido com a sua família, para se estabelecer definitivamente em Portugal. Os textos estão escritos de uma forma leve, muito sincera e humana, a que não faltam episódios humorísticos, mesmo em algumas situações bastante sérias. Conforme o autor refere logo na Introdução “Todas as histórias são verdadeiras. Em apenas duas delas ... tive que me socorrer de testemunhos idóneos, na época, para

preencher a parte da história em que não fui testemunha directa. Outros dois argumentos me encorajaram: O primeiro tem a ver com a singularidade de algumas, divertidas, dramáticas ou trágicas; o segundo, mesmo em histórias mais vulgares, com o que elas por vezes revelam do quão mutante foi, ao longo desses anos, a minha vida e a maneira de ser das gentes. Muitas das situações são passadas no âmbito militar, em paz ou na guerra em África (1961/1974); ou civil, no Brasil (1975/1980), durante uma emigração familiar. Por verdadeiro acaso do destino, nunca me encontrei na situação de ter de matar ou ferir alguém. Tive essa Graça; mas o meu avião foi atingido por duas vezes, sem me causar outros danos”. O livro compõe-se das seguintes oito partes e um epílogo: - A Infância; - O Colégio Militar; - A Marinha; - A Força Aérea; - Força Aérea no Ultramar; - Moçambique; - Brasil, início; - Continuação no Brasil; - O Monumento (epílogo). Na parte referente ao Colégio Militar, o autor relata, com grande sinceridade, episódios da sua admissão ao Colégio e da sua vida colegial, confessando, por exemplo, que sempre estudou pouco (o mínimo para ir passando de ano para ano, sem a infelicidade de “chumbar”), as influências da sua determinada Avozinha paterna, o prazer que lhe davam os “cavanços”, as suas relações com o cavalo 37 e outras, que tanto Antigos Alunos como actuais Alunos gostarão certamente de ler, embora algumas possam não constituir os melhores exemplos de rigor no cumprimento dos regulamentos, mas nunca pondo em causa qualquer falta de virtudes relevantes no respeitante à rectidão de carácter do autor. De facto, verifica-se que o autor pautou a sua vida por obediência a determinados valores e ideais a que a sua formação colegial não foi certamente alheia, conforme se pode observar dos interessantes relatos das histórias e memórias da sua vida. A firmeza do seu carácter acarretou-lhe alguns prejuízos na normal prossecução da fase mais


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avançada da sua carreira militar, apesar da muita competência , dedicação e relevantes serviços prestados no desempenho dos cargos e missões que executou ao longo das suas comissões ultramarinas, especialmente em Moçambique. Esse facto levou-o a tomar a arriscada decisão de emigrar bruscamente para o Brasil, acompanhado pela família, em pleno desenvolvimento do PREC no ano de 1975, por total discordância do rumo que a situação política e militar portuguesa estava a tomar na altura. O que atrás referi está bem patente, relativamente às convicções e valores que o autor preza e sempre assumiu, no curto epílogo desta sua obra intitulado “O Monumento”. Conclusão de Castanho Paes Em jeito de conclusão, diria que, durante os cerca de treze anos que durou o empenhamento de Portugal nas campanhas ultramarinas do 3º quartel do século XX, as nossas Forças Armadas bateram-se de uma forma que causa grande admiração e respeito em vários estudiosos estrangeiros que se têm dedicado ao assunto. Na verdade, o país envolveu-se numa guerra, conduzida em três frentes das suas ex-províncias ultramarinas do continente africano, que estavam muito distanciadas tanto do território metropolitano como entre si mesmas, em ambiente internacional altamente desfavorável, o que constituiu uma temerária proeza, dificilmente explicável em face dos limitados recursos humanos, materiais e financeiros que a reduzida dimensão metropolitana e a sua baixa riqueza permitiam disponibilizar para o efeito. Toda e qualquer análise histórica séria que se faça sobre o assunto nunca poderá deixar de admirar o esforço, a tenacidade e o extraordinário espírito de sacrifício de um povo que foi conduzido a esta situação sem sequer se poder pronunciar livremente sobre o seu acerto e justeza. Muitos milhares de militares que nelas tomaram parte, fossem dos quadros permanentes, em cumprimento do serviço militar obrigatório ou dos efectivos africanos contratados, deram bastos exemplos de coragem, bravura em combate, forte espírito de missão, extrema abne-

gação e elevada resistência física e psicológica em ambientes, situações e condições muito adversas. Concordando ou não com a orientação política dada aos acontecimentos, o seu patriotismo e sentido do dever levaram-nos a aceitar e contribuir, com maior ou menor convicção, nas missões que foram chamados a cumprir, esperando que o poder político se empenhasse seriamente em encontrar uma solução que, infelizmente, só chegou após a Revolução de 25 de Abril de 1974. Por força dessas circunstâncias, fez-se assim uma descolonização precipitada, que foi considerada exemplar por alguns, a possível por outros e desastrosa para muitos, sobretudo para aqueles que com ela mais sofreram, tanto do lado de lá como do lado de cá. Mas Portugal continua, embora em acentuado ciclo de crise que, apesar do regime democrático em que vive, está a tornar o país cada vez menos livre e soberano. Mas os portugueses vão mantendo sempre a esperança por melhores dias, que tardam em vislumbrar-se num horizonte que afinal parece estar cada vez mais longínquo. O apelo que vos deixo, jovens “Meninos da Luz”, é que não descurem os valores que aqui vos são incutidos e constituem a fonte das virtudes que devem praticar e desenvolver ao longo da vida, pois o futuro pertence-vos, e para ele tereis a obrigação de contribuir, com toda a determinação e generosidade, para que se possa vir a construir um Portugal melhor.

Considerações finais A Sessão constituiu uma muito interessante jornada promovida pela Tertúlia Fim do Império, que tem tido um papel importante na divulgação de literatura especialmente vivida pelos seus autores, muitos deles Antigos Alunos. Foi seguida com o maior interesse por todos os presentes, dos quais tive oportunidade de ouvir referências muito elogiosas quanto à apresentação e à sua utilidade na formação e cultura dos Alunos do Colégio. O mérito das acções desenvolvidas e o êxito da publicação da Colecção Fim do Império deve-se, como tudo na vida, a um conjunto

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de individualidades que, com a sua participação, tornaram possível a realização do que já foi feito e de quem se espera uma sequência que permita um contínuo desenvolvimento e prosseguimento das acções já efectuadas. Estamos convictos de que tal assim irá acontecer no futuro. Não podemos deixar de registar uma especial referência ao grande impulsionador e obreiro destas acções, Manuel Júlio Matias Barão da Cunha (150/1948) que, com o seu esforço, saber, espírito de sacrifício, camaradagem e devoção pelo bem comum, tem conduzido ao êxito esta realização. O texto apresentado foi coligido e elaborado com base nas diferentes participações dos vários intervenientes nesta apresentação realizada no Colégio. Gonçalo Salema Leal de Matos 371/1949


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Pedro José de Santa Bárbara Governardor do Presídio de São Julião da Barra

Gonçalo Salema Leal de Matos 371/1949

Pedro José de Santa Bárbara Governador do Presídio de São Julião da Barra

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elo nosso Camarada Joaquim Vito Côrte-Real Negrão (146/1948), de quem já recebi prestimosas colaborações que foram publicadas na ZacatraZ, foi-me enviado um conjunto de elementos resultante de uma pesquisa que tem levado a cabo relacionada com o destino de cinco familiares seus em tempo detidos, em cativeiro, na Torre de São Julião da Barra de Lisboa.

Dos cinco familiares respeitantes à investigação que tem feito, concluiu já que um deles faleceu na Torre, outro na Feitoria que na altura servia como hospital para colmatar as privações e doenças mal curadas a que estavam sujeitos os detidos, um terceiro foi homiziado para Moçambique e dos restantes ainda não conseguiu seguir o rasto. Á primeira vista poderia parecer que tal assunto se circunscrevia apenas a uma questão de ordem familiar e como tal sem relevância para divulgação na ZacatraZ. Acontece que na “História do Cativeiro dos Presos de Estado na Torre de São Julião da Barra de Lisboa durante a desastrosa época da usurpação do legitimo governo constitucional deste Reino de Portugal”, da autoria de João Baptista da Silva Lopes (Publicações Europa-América 1111), é referido que em 1833 iniciou as funções de governador do Presídio da Torre de São Julião o tenente-coronel Pedro José de Santa Bárbara, que antes tinha exercido o cargo de subdirector do Colégio (na realidade desempenhou funções de director) como adiante iremos constatar. A personagem (Santa Bárbara) já foi muito bem abordada na vertente colegial, pelo Chefe de Redacção da ZacatraZ, Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957), no excelente artigo de sua autoria “Tempos difíceis. O reinado do Senhor D. Miguel e o Colégio”, publicado no número 202. A referência existente ao governador Santa Bárbara, no livro “História do Cativeiro dos presos ... ...”, deixa antever tratar-se de pessoa sem carácter,

sem ética, sem princípios e de mentalidade deformada. Uma vez que ele esteve ligado ao Colégio e para saber mais alguma coisa sobre semelhante personagem, socorri-me do meu Grande Amigo e Camarada José Alberto da Costa Matos (96/1950) que de imediato, como é seu uso e costume, disponibilizou um valioso apoio que me permitiu escrever este texto para que não seja esquecida gente com semelhante comportamento. Transcreverei referencias já inseridas no artigo antes publicado, na perspectiva de que existe sempre alguém que não o terá lido e, consequentemente, teria um panorama incompleto. Na sua obra relacionada com o Bicentenário do Colégio, José Alberto da Costa Matos, a páginas 400, referia “Apesar da escassez de documentos a seu respeito que permitam conhecer o seu percurso depois de deixar o Colégio, sabe-se que terá sido demitido em 24 de Julho de 1833, dia em que o Duque da Terceira entrou triunfalmente em Lisboa, à frente das tropas liberais que comandava desde o seu desembarque em Cacela, exactamente um mês antes. Desconhece-se do mesmo modo, quando, onde e em que circunstâncias faleceu.” Ainda segundo José Alberto da Costa Matos, na História do Colégio Militar (1º Volume), Santa Bárbara “Torna-se um acérrimo miguelista, levando a acrisolada admiração por D. Miguel aos limites do paroxismo. Essa devoção vai valer-lhe a sua nomeação para Subdirector do Real Colégio Militar por decreto de 7 de Maio de 1829, sem que


Pedro José de Santa Bárbara Governardor do Presídio de São Julião da Barra

houvesse director em funções ou nomeado para tal cargo; isto equivale a dizer que Santa Bárbara era de facto o «director». De referir que Santa Bárbara se sentia injustiçado, o que o leva a fazer petições por mais de uma vez ter sido preterido na promoção a tenente-coronel mantendo-se 16 anos no posto de capitão.

Pedro de Santa Bárbara

Para melhor avaliarmos quem era Santa Bárbara, vamos socorrer-nos mais uma vez do brilhante trabalho levada a cabo por José Alberto da Costa Matos que, durante muitos anos se tem dedicado à investigação documental, com especial relevância na documentação tanto existente no Colégio como com ele relacionada. A personalidade de Santa Bárbara, está bem patente na referência de Costa Matos em resultado da sua laboriosa pesquisa: “Pedro José Santa Barbara revelaria na sua direcção não só um conjunto de circunstâncias que iam desde algum ressentimento, como se viu, passando por ataques apoplécticos, de que padecia, até à forma, por vezes despropositada, como pretendia demonstrar o seu «amor pelo melhor dos soberanos» (D. Miguel), mas também, e em simultâneo de uma grande preocupação com a manutenção do nível do ensino e com a resolução de carências de alunos eventualmente desamparados como consequência dos tempos agitados em que decorria o seu mandato. Não admira, assim que, um mês depois de estar no Colégio, iniciasse uma série de despedimentos de empregados, esclarecendo que isso se devia ao facto de desejar «manter a ordem e a opinião pública deste Real Collegio; querendo arredar, e mesmo afugentar, as mais leves sombras, tanto as que são contrarias à Santa Religião Catholica Romana que professâmos, e a Fidelidade que por

muito títulos devemos ao Nosso Augusto Libertador, Snr. D. Miguel 1º, como qualquer fermento anárquico, em hum lugar aonde sempre deve existir obediência exacta às Leis e Ordens dimanadas por competentes autoridades» (Ordem do Colégio de 10 de Junho de 1829). Para os lugares vagos, passaram a ser nomeados indivíduos sujeitos a prévias e escrupulosas «indagações dos costumes Civis e Políticos». É interessante verificar também o modo invulgar como são redigidas as ordens do dia colegiais durante a sua direcção, através das quais exerce como uma contínua acção psicológica em favor de D. Miguel, a quem se refere permanentemente com expressões como: «Augusto e Adorável Rei, Nosso Libertador e Nosso Benfeitor; «O Melhor dos Soberanos, o Augusto e Insuperável Senhor D. Miguel 1º»; «Nosso Anjo Libertador»; «Viva o Nosso Magnânimo Rei, Anjo e Senhor»; «O Nosso Anjo Libertador, Pai, Rei e Senhor D. Miguel 1º». Em relação aos oficiais do estado-maior, professores e estado menor do Colégio, é peremptório na exigência de «huma conduta politica, civil e christan», ameaçando desde logo que «serão imediatamente despedidos deste Estabelecimento, por que o Nosso Adorável Monarcha Snr. D. Miguel não quer que existão propagadores de doutrinas e costumes venenosos, em hum Collegio, por sua Régia Beneficência conservado, como viveiro de intrépidos defensores do Altar e do Throno». As informações por si prestadas e assinadas acerca de oficiais e professores são o corolário do seu posicionamento, não hesitando em reparti-los em três grupos: os que eram «entusiastas do falso governo que infelismente existiu», os que «a respeito dos seus sentimentos Civis e Políticos» não podia pronunciar-se com precisão, e os que eram «sem suspeita, affectos a S. Mag.de O Snr. D. Miguel».” Pela mão de Joaquim Vito Côrte-Real Negrão (146/1948), recebi extractos do livro antes citado, que se podem resumir da seguinte forma e constituem uma ajuda preciosa para a compreensão do carácter e personalidade de Santa Bárbara.

Capítulo XI Governo do Coronel Pedro José de Santa Bárbara no Forte de São Julião da Barra 20 de Fevereiro de 1833 “Seguiu o novo governador, Santa Bárbara, as ordens vigentes, e para pior nada alterou do que Raimundo havia praticado. Mostrou algum susto por haver numa só prisão (a do revelim) cento e noventa pessoas; deu, porém, a entender, e até

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declarou a um dos companheiros que lhe foi falar, que ele para aqui só fora mandado para mitigar a nossa sorte e fazer todos os benefícios que fossem compatíveis com a segurança dos presos. Deu licença aos que lha requereram para passear no pátio do revelim e não proibiu a entrada da carne na Quaresma aos que o médico Chaves aprovou para dela, por doentes, fazerem uso, no que, em verdade, nada foi escrupuloso, dizendo em publico que, depois de tão longa reclusão e tais padecimentos, todos, de necessidade, deviam comer carne e passear, tomando ar livre. A 26 veio o capelão da Torre fazer aviso de que nos preparássemos para a desobriga da Quaresma, que devia começar na segunda-feira próxima de vinte a trinta por dia, quais escolhessem. Essas maneiras contrastavam singularmente com as grosserias dos anos anteriores, em que, num só dia, íamos de caldeirada cento e sessenta e mais pessoas. Novo alvoroço nos causou a soltura do Sr. Félix José da Silva procurador da casa de Ficalho (a 28), que todos muito celebrámos. Era Santa Bárbara pessoa de alguma instrução e boas maneiras, de sentimentos e ideais liberais, até exaltadas no tempo do regime constitucional de 1820, mas na queda tinha voltado a casaca, e tornando-se de libertino rematado hipócrita, com o que a patente de coronel empolgara e por último a pingue subdirecção do Colégio Militar da Luz. Com mão encoberta, não pouco figurara na quadrilha dos cacetes da Graça, cujas acções não são conformes às suas ideias, o bem sempre vem com ressaibos da mesma hipocrisia que na alma traz incubada. Seja, pois, o que for, o seu comportamento mostrará estas mesclas. Fomos avisados para irmos à missa, e o brejeiro do Jaime quis divertir-se com um ensaio de nos metermos em forma a marchar a dois de fundo, lembrança que o Sr. Valadas rebateu e o Trindade, que honradamente continuava a portar-se, e segundo (que primeiro é o Rego) até ao fim igual se conservou, com desprezo desaprovou. Lamentava o Santa Bárbara a duração da prisão, e numa conversação com outro companheiro (que para negócios particulares pediu falar-lhe) esses sentimentos expendeu, dizendo que era contra razão ter presos sem culpa, despronunciados e absolvidos, mas que por outra parte não deixava de ser necessária esta medida, porque «se estivessem presos todos os que lá fora se deixaram, pensando que em nada se envolveriam e estariam sossegados, não teriam agora emigrado tantos, que faziam mais mal do que os vindos de fora, e até mulheres, que bastante mal têm feito». Esta confissão, ao passo que demonstrava a malignidade do seu coração, deixou-nos certos da emigração que se nos dizia. Encontrando um dia o tenente Falcão, que


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Pedro José de Santa Bárbara Governardor do Presídio de São Julião da Barra

Esta obra que relata não apenas os sofrimentos e infortúnios do seu autor, mas sim os de todos aqueles, sem distinção, que foram sujeitos aos mesmos tratamentos desumanos e despóticos, constitui uma comovente descrição e um importante registo desses acontecimentos. Tudo isto porque tinham ideias diferentes, tão boas ou até talvez melhores, relativamente a quem detinha o poder que, muitas vezes sendo menos dotados, apenas conseguiam impor as suas vontades usando métodos de perseguição e de subjugação pela força, espezinhando física e moralmente numa tentativa de destruição de seres humanos.

só conduzia à igreja os eclesiásticos, ordenou-lhe que não mais os levasse sem guarda. Segurou-lhe aquele que responderia pelos presos; ele, porém, lhe replicou: «Nada, nada; farei todos os benefícios que puder, mas com segurança; nós vemos caras, e não corações.» Tal era a desconfiança e medo! Fomos, com efeito, à missa no domingo, 3 de Março, às 11 horas, e vimos desenvolvido todo o aparato de força militar que nos pudesse meter respeito, que assaz patenteava, ou o medo que inermes, lhes incutíamos, ou o menosprezo em que nos quis ter, fazendo-nos passar, os do revelim, entre fileiras de tropas armadas, postadas na ponte até à porta da igreja e os das outras prisões escoltados e metidos em partidas mais fortes que o número de presos que escoltavam. Patrulhas dobradas rondavam a praça logo desde o amanhecer, e a artilharia aparelhada e guarnecida. As janelas e portas fronteiras à igreja estavam cheias de gente, que os leões olhavam, uns com susto, outros com rancor, e alguns talvez com piedade. Os soldados de milícias da Guarda, entre os quais passámos, os mesmos sentimentos dividiam, e alguns seus apodos e sarcasmos nos lançavam, admirando-se muito do cego. O governador assistiu à porta da igreja, com os poucos oficiais que desempregados ficaram, à nossa entrada, depois da qual ali se reuniu em maciço toda a tropa. Seríamos os presos uns duzentos e cinquenta e a tropa armada mais de trezentos homens. Reunidos na igreja, foi impossível contermo-nos de cumprimentar e abraçar amigos e

companheiros nos trabalhos que, ou há muitos não víamos, ou ainda não havíamos encontrado. Logo, porém, que o padre se pôs no altar, reinou o mais profundo silêncio, como de pessoas bem educadas era de esperar. Para tudo ser malhado, até o sacerdote o era, o Sr. Padre Manuel Joaquim Forte, coadjutor da freguesia da Lapa em Lisboa, e só na igreja havia duas únicas pessoas estranhas (afora os malandros), que da nossa comunhão não fossem, a saber, o governador e o sacristão Fróis. Recolhemo-nos na mesma ordem e à porta da prisão teve o Trindade (por nímia ingenuidade) a simplicidade de agradecer ao Sr. Valadas e boa ordem que havíamos mantido não sendo de esperar outra coisa. Este, para lhe despertar a atenção, perguntou-lhe: «Que ordem? Cá ou lá?» Ele ainda teve a simplicidade de responder: «Cá.» O Sr. Valadas pronto lhe retorquiu «Diz bem, que nem outra coisa se devia esperar, ainda mesmo sendo conduzidos por aquele menino (um filhinho do Jaime, que acaso ali estava), porque sempre assim nos portámos.» Ele, sorrindo, encolheu os ombros, dizendo: «Não foi coisa minha.»” Do prefácio do livro donde foram retirados alguns apontamentos, refere-se que a obra não é propriamente um diário, mas antes um relato do que se passou durante o longo período de encarceramento, primeiro na cadeia do Limoeiro (a «sala de espera de S. Julião», como lhe chama Oliveira Martins) e depois na Torre de São Julião. São anos de sofrimento, de injúrias, de humilhações, de maus tratos, de torturas, ...

João Baptista da Silva Lopes (1781-1850) escreveu e traduziu diversas obras de que se destacam a História do Cativeiro dos Presos de Estado na Torre de S. Julião da Barra de Lisboa (1833-1834), Corografia ou memoria economica, estadistica, e topografica do reino do Algarve (1841), Carta corográfica do reino do Algarve, que faz parte da corografia do mesmo reino (1842), Relação da derrota naval, façanhas e sucessos das cruzadas que partirão do Escalda para a Terra Santa no anno de 1189 (1844), A cidade de Silves num itinerário naval do século XII por um cruzado anónimo (1844), Memórias para a história ecclesiastica do Bispado do Algarve (1848), Memoria sobre a reforma dos pezos e medidas em Portugal segundo o systema metrico-decimal (1849). Bacharel em Leis pela Universidade de Coimbra, advogado, politico, escritor, sócio da Academia Real de Ciências de Lisboa, da Academia das Ciências de Turim e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Apoiou a Constituição Portuguesa de 1822. Em 1822 exerce o cargo de Presidente da Câmara Municipal de Lagos, do qual é deposto em 1823 após a Vilafrancada, sendo perseguido por ser constitucionalista e mação. Neste mandato é construída a torre do relógio na Igreja de Santo António e adquiridos para a autarquia os edifícios dos Paços do Concelho (onde colocou uma lápide alusiva à Constituição de 1822) e da Alfândega de Lagos. Em 1828, por ordem do governo Miguelista, é preso no Forte de São Julião da Barra, só sendo libertado em 1833, após a tomada de Lisboa por parte dos liberais. Deputado nas Cortes eleito pelo Algarve, em 1834, salienta-se pela elaboração de projectos de lei com destaque para os que se relacionam com o Sistema Métrico Decimal, Código Penal Militar, Montepio Militar e Recrutamento Militar. A sua vida foi sempre pautada por um grande espírito de justiça e de dignidade.


A equitação no meu tempo

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Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957

A equitação no meu tempo

A

minha vivência no Colégio deu-se num período de contrastes no que concerne à equitação, tendo ocorrido dois factos importantes e de sinal contrário. O facto negativo foi a demolição do antigo picadeiro, que existia para os lados onde hoje se situa o «Colégio Novo». O facto positivo foi a criação da Escolta a Cavalo. Antes da minha entrada para o Colégio em 1957, para o 3º ano, o ensino da equitação no Colégio era de nível elevado, como os que são desses tempos recordam e como foi testemunhado pelo Eduardo Maria Rato Martins Zúquete (20/1945) em artigo publicado no número 150 da nossa revista, com o titulo «Histórias e figuras do meu tempo», onde referia que na altura o «Horse-Ball» se praticava no Colégio, que se pode dizer que introduziu esta modalidade hípica em Portugal. Nesses tempos as instalações eram boas, a fileira dos cavalos era razoável e havia bons mestres, que não só punham bem a malta a cavalo, como ainda a punham a participar nos concursos hípicos, onde obtinha boas classificações na sua categoria. No que se refere a mestres desses tempos cito os nomes de Reymão Nogueira, de Fernando José Pereira Marques Cavaleiro (147/1929) e de António Romeiras (Sócio Honorário da AAACM). Reymão Nogueira, que tinha um filho que entrou com o meu curso para o Colégio, foi um dos dois oficiais enviados, em 1949, à famosa escola de equitação de Saumur, em França, para aí se especializarem. Regressou de Saumur com o bastão e as «esporas de ouro» do «Cadre Noir» dessa célebre escola. Foi concursista de nomeada e veio a ser muito mais tarde, nos anos de 1968 a 1970, como general, Director do Colégio. Fernando Cavaleiro, também ele com um filho do meu tempo no Colégio, foi cavaleiro por duas vezes

olímpico, tendo participado nos Jogos Olímpicos de 1948 em Londres e de 1952 em Helsínquia. António Romeiras foi também ele concursista de nomeada. Assisti a numerosos concursos em que os dois últimos participaram e ainda hoje recordo um episódio único, a que assisti num Concurso de Saltos Internacional Oficial de Lisboa, passado com Fernando Cavaleiro, em prova feita em moldes que nunca mais voltei a ver, disputada por dois cavaleiros em simultâneo, em percursos rigorosamente simétricos, tendo os dois a mesma meta. Os dois cavaleiros (Fernando Cavaleiro e um oficial espanhol) transpuseram os seus últimos obstáculos ao mesmo tempo e carregaram ambos para a meta, onde as duas montadas vieram a chocar. O choque foi feio, ninguém queria perder, mas que me lembre não houve, surpreendentemente, estragos de monta. No que se refere a participações dos Alunos desses tempos em provas hípicas, apresento, a título de exemplo, uma fotografia do ano lectivo de 1956/1957 com um grupo de alunos finalistas que participaram em provas de campo na Quinta da Princesa, propriedade da família de Ana Maria Ribeiro Ferreira, que era a única amazona (como então se dizia) a participar em provas de seniores, em que fazia muito boa figura, naquele meio então de domínio praticamente exclusivo de homens. Na fotografia podem-se ver, da esquerda para a direita, os seguintes Alunos: Diogo Francisco Passanha Braamcamp Sobral (24/1949), já falecido e com uma vida dedicada ao meio hípico, Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950), Coronel Pára-quedista e agora escritor, Alfredo Manuel Coelho e Campos Ghira (37/1949) Coronel de Cavalaria, já falecido, José Maria de Campos Mendes Sentieiro (294/1952), Coronel de Cavalaria, António José Fonseca Cavaleiro de Ferreira (332/1950), Vice-Almirante,

Presidente da Mesa da Assembleia Geral cessante da nossa Associação, António Vital Fernandes Faia (71/1951), Coronel de Cavalaria, já falecido e meu antecessor directo e Joaquim Lopes Picão Fernandes (247/1950), médico de nomeada já falecido, que coleccionou numerosas classificações nas provas hípicas daquele tempo, porventura o cavaleiro mais dotado do seu curso. Pode-se dizer que compunham um belo friso de cavaleiros. De notar que naquela altura não havia calções cor de pinhão da farda de pano, os calções eram de cotim da farda de serviço interno. Os calções cor de pinhão, que já tinham existido, ressurgiram em 1959 com a criação da Escolta. Quando entrei para o Colégio, em 1957, o picadeiro tinha sido demolido, pelo que não tive instrução de equitação. No ano lectivo seguinte (1958/1959) foi inaugurado o internato no «Colégio Novo» e foi adaptada a picadeiro (ou a mini-picadeiro) uma antiga camarata da 1ª Companhia, que tinha ficado vaga. Neste ano lectivo, ainda sem picadeiro, dá-se o «milagre», ou seja, nasce a Escolta, que se apresenta pela primeira vez em público na festa de encerramento do ano lectivo. O autor do «milagre» foi o então Capitão Manuel José Lopes Cerqueira (341/1931), mestre de equitação, a quem chamávamos entre nós «O Manel» e que era uma figura do universo colegial daquela época. O Comandante dessa 1ª escolta foi o «Pepe», o 106/52, Luís Maria Teixeira da Mota de seu nome, que era 3 estrelas da 1ª Companhia. Os cavalos foram emprestados pela Guarda Republicana, estavam habituados a evoluir em formaturas e não se assustavam com o público e os inerentes ruído e movimento, o que não acontecia então com os cavalos do Colégio, sem traquejo nessas andanças. No ano de 1959/1960 inaugurou-se o mini-picadeiro, a que o «Manel» chamava a «caixa


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A equitação no meu tempo

Diogo Braamcamp Sobral (24/1949)-falecido, Nuno Mira Vaz (277/1950), Alfredo Ghira (37/1949)-falecido, José Maria Sentieiro (294/1952), António Cavaleiro de Ferreira (332/1950), António Faia (71/1951)-falecido, Joaquim Picão Fernandes (247/1950)-falecido

de fósforos». Para se ter uma ideia das suas dimensões, apresento uma fotografia do que penso ter sido a camarata que lhe deu origem. Com a «caixa de fósforos» pronta, o ensino da equitação estendeu-se a todo o Batalhão e, melhor ou pior, lá desempenhou as suas funções durante três anos. Foi ali que a malta do meu tempo aprendeu a montar. Neste ano lectivo de 1959/1960 a Escolta apresentou-se pela primeira vez fora do Colégio, no desfile do 3 de Março, sendo comandada por Pedro Augusto Lynce Faria (21/1954), que tal como o «Pepe», seu antecessor na função, era três estrelas da 1ª Companhia. A Escolta desceu a Avenida antes do Batalhão, escoltando o carro do Ministro até ao monumento aos mortos da Grande Guerra, onde o Ministro assistiu ao desfile. Foi o meu último desfile na «infantaria colegial», pouco mais tarde fui transferido para a Escolta. A minha transferência para a Escolta foi surpreendente para todos e em particular para mim.

Foi feita a convite do 21, que penso que nunca me teria visto montar, mas que simpatizava comigo. O convite foi completamente inesperado, pois só nesse ano tinha começado a montar, tendo no meu currículo um número mínimo de aulas de equitação. Com o atrevimento próprio dos meus 14 anos, aceitei de imediato o convite, nada dizendo quanto à minha inexperiência. Tive sorte, deram-me uma montada dócil e o entusiasmo e a sede de aprender que tinha deu para suprir a falta de sabedoria e de prática. Lá ia imitando os outros o melhor que podia. Estreei-me assim na Escolta na festa de encerramento desse ano lectivo, de peito feito e já cheio de «peneiras», como seria natural naquela idade. Nesta festa a Escolta já não utilizou cavalos da Guarda Republicana, mas sim cavalos da fileira do Colégio, todos de pelagem ruça, com excepção dos cavalos do Comandante da Escolta e do Porta Guião. O «Manel» fez umas trocas de cavalos com outras Unidades, para ter um conjunto de cavalos com uma cor de pelagem homogénea. No que respeitava ao «carácter»

Picadeiro dos anos 40-50, vendo-se ao lado o rink de hóquei em patins. Foi demolido no final dos anos 50

dos cavalos havia tudo menos homogeneidade, havendo cavalos para todos os gostos. Lembrome de termos recebido um cavalo tarado, que nem chegou a entrar na Escolta, pois a simples operação de lhe enfiar a cabeçada dava origem a um verdadeiro «festival», com três soldados de volta dele. Para alindar os cavalos, o «Manel» deixoulhes crescer a crinas, o que juntamente com as cabeçadas e os peitorais enfeitados com botões amarelos bem brilhantes (brilho puxado a solarina) e com uns xairéis de cores garridas, acabou por dar muito bom aspecto ao conjunto. Não ficávamos atrás da Guarda Republicana. No ano lectivo de 1960/1961 surgiu, pela primeira vez a graduação de Comandante da Escolta, o qual foi agregado ao Comando do Batalhão, ficando com 3 estrelas, à semelhança do Ajudante de Comandante de Batalhão e do Porta Bandeira. O Aluno que recebeu essa graduação foi João Henrique de Bívar Melo e Sabbo (301/1953), homem oriundo do Algarve. Dava nas vistas, com quase 1,90m de altura. Neste ano lectivo, já no meu 6º ano, passei a ser um «veterano» na Escolta, o que levou a que me fosse distribuído um cavalo difícil, o 75, com o qual lá acabei por me entender. Foi o meu ano de glória na Escolta, em que tive o prazer de descer a Avenida da Liberdade integrado na mesma. Essa descida da Avenida da Liberdade ficou para a história. Íamos a escoltar o carro do Ministro, com parte da Escolta à frente do carro e outra parte atrás do mesmo. Eu seguia no grupo da frente, quando oiço um estoiro atrás de mim, seguido da ultrapassagem do grupo da frente da Escolta por um dos cavalos do grupo de trás, sem cavaleiro e lançado a bom galope Avenida abaixo. Assim seguiu até ao Rossio, onde, como viemos mais tarde a saber, foi parado por um animoso


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Camarata da 1ª Companhia nos anos 40-50, transformada em Picadeiro provisório quando da demolição da antiga instalação.

popular que se pendurou à sua cabeçada. Os cavaleiros do grupo da frente, onde eu me incluía só ficaram a conhecer a origem da estranha cena a que tínhamos assistido, quando nos apeámos no Rossio. O cavalo que tinha «cavado» era o 4, cavalo manhoso e de boca dura, que seguia imediatamente atrás do carro do Ministro. O 4 enervou-se com o alarido, começou a disparatar, deu um valente «galão» para a frente e «aterrou» em cima do porta bagagens do carro, deixando-o todo amolgado e pregando um valente susto ao Ministro. O cavaleiro infortunado foi o Luís Medeiros Alves (46/1957), largos anos mais tarde Vice-Almirante da nossa Armada, que «aterrou», sem saber como, no asfalto da avenida, felizmente sem ter ficado ferido. Como era um tipo teso, apresentou-se de seguida no Rossio, para de novo montar o 4, fazer a tirada final do desfile até ao Terreiro do Paço e regressar de seguida a cavalo até ao Colégio. O «Manel» interveio então e fez uma mudança de cavalos. O 4 passou para um «veterano» do 6º ano e o futuro Almirante completou a jornada num cavalo mais dócil, o que lhe permitiu decerto recuperar-se dos traumas físico e psicológico da queda. A partir de então não se pode falar da Avenida e da Escolta sem vir à baila

o «voo» do 46. No ano lectivo de 1961/1962 deixei a Escolta, sendo graduado em Ajudante de Comandante de Batalhão, e a Escolta passou a ser comandada pelo António Filipe Nunes Salvador Tribolet (61/1956), que ainda agora, mais de 50 anos passados, continua a montar diariamente, tal foi o vício que apanhou no Colégio. Neste ano fez-se a festa de encerramento do ano lectivo com o 61 a comandar a Escolta, sendo Porta Guião da mesma António Manuel Latino Tavares (100/1954), também finalista, que sucedeu na função a Manuel Lourenço Castelo Branco Gomes Pereira (353/1956), igualmente do meu curso. Nesta festa de encerramento do ano lectivo deu-se a inauguração do actual picadeiro, onde nunca cheguei a montar. O novo picadeiro permitiu uma melhoria imediata do ensino da equitação. No ano seguinte à minha saída do Colégio já foi possível realizar um festival hípico no hipódromo do Campo Grande, coisa que no meu tempo nunca ocorreu. Foram basicamente três os instrutores de equitação que tive no Colégio, Capitão Manuel Cerqueira (341/1931), já referido, Capitão Milho Ferro (o “Ferrinho”) e Tenente Mora. Tive ainda, no principio, meia dúzia de aulas com o Tenente Hélder Humberto do Nascimento Matias (146/1940), que então deixou o Colégio. O «Manel» era, como já referi, uma figura no universo colegial, que fica para a história como sendo o «pai» da Escolta, que levantou a partir do zero. A sua escola era a do desenrascanço ou do desembaraço, como lhe queiram chamar. O que era preciso era não cair do cavalo, nem que nos agarrássemos com os dentes. Proibido era agarrarmo-nos ao cepo. O Capitão Milho Ferro não era tão popular entre a malta como o «Manel», que nesse aspecto

era difícil de bater, dando mais atenção à técnica da equitação, que procurava transmitir-nos. O Tenente Mora apareceu a meio do meu 7º ano, creio que vindo da Guarda Republicana, para substituir os dois anteriores, que terão sido mobilizados para o Ultramar. O curto convívio com ele não deu para ter uma ideia de qual seria a sua escola. Retenho na memória que era um tipo castiço, acerca do qual constava que tocava num conjunto de Jazz e que era casado (?) com uma bailarina inglesa, não do ballet clássico. Até hoje não sei se isto era pura fantasia, mas foi o suficiente para lhe dar uma certa «aura» aos olhos da malta, sedenta de novidades como estas, completamente «exóticas» para a época. No que se refere aos cavalos da fileira de então, ainda hoje recordo uma boa porção deles. O 39, o 45 e o 47 eram três cavalos semi-tarados, que despachavam pessoal para o meio do chão que era um ver se te avias. O 59 era um preto de boa estampa, montado na escolta pelo Portão Guião. O 353, Manuel Gomes Pereira, gostava de o pôr a fazer uns bonitos nos treinos da Escolta, para impressionar a populaça que nos via passar. O 88 e o 97 eram baios, que em geral não levantavam problemas. O 53 era um lazão, com uma pitada de sangue árabe, que quando cavava no exterior era muito difícil de parar, a não ser no final da viagem, ou seja, na manjedoura. Havia ainda um ou outro cavalo argentino, parte de uma remonta que se tinha feito largos anos atrás e que sendo já de idade, não davam problemas no exterior. Como os nomes deles começavam por C, a malta conjecturava que seriam da mesma remonta que o Caramulo, que era na altura quiçá o melhor cavalo de obstáculos em Portugal, montado por esse «génio» da nossa equitação que foi o então Capitão Henrique Calado. Dado a fileira dos cavalos do Colégio ser fracote, a mal-


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ta mais evoluída na equitação daquele tempo sonhava em montar algo de melhor e o melhor estava mesmo em frente do nosso nariz, eram as montadas de desporto dos mestres. Só que essas montadas não eram emprestadas a ninguém, não se fossem abrir precedentes. Tínhamos todos debaixo de mira as duas éguas do «Manel», a Helsínquia e a Oti, esta última uma grande égua alemã de temperamento duvidoso, que não era montada para qualquer um. Vedados que nos estavam esses animais, restava-nos a fantasia, ou seja, restava-nos sonhar. Sonhávamos em montar uns bons cavalos de Alter. Enquanto que os mais «puros» sonhavam em montar um Alter apenas pelo prazer e desafio inerentes a essa monte, os mais «ímpios» viam nessa monte um possível meio para atingir outros fins, pensando num fado marialva que na altura se cantava, cuja letra, a dado passo, era a seguinte: Quem anda ao trote Em cima de um bom Alter Leva no bote A mais difícil mulher Confesso que também eu sonhei na altura em montar um Alter, coisa que só vim a fazer muitos anos mais tarde. Penso não ser relevante para o objectivo do presente artigo indicar em que grupo, dos dois anteriormente citados, eu me incluía. Mas tive realmente esse sonho, como atesto com um pequeno desenho que fiz na época e que aqui reproduzo em primeiríssima mão. Como podem observar, a «pileca» que desenhei, de Alter só tinha o ferro. É bom ser-se prudente e não se sonhar alto de mais.

“Fim das Ilusões” – aguarela de António Manuel Latino Tavares (100/1954)

No que se refere a cavaleiros colegiais, que no meu tempo entravam em concursos recordo, mais velhos do que eu, José Eduardo Fernandes de Sanches Osório (210/1951) que foi meu Comandante de Companhia na 2ª, Fernando José Cabral Picão Caldeira (226/1952), dos «Picões» de Elvas que passaram pelo Colégio, todos bons cavaleiros, e João António de Sousa Dias de Almeida (344/1953), ribatejano de Benavente. Do meu curso entravam nas poucas «poules», organizadas pela Sociedade Hípica no Hipódromo do Campo Grande, António Manuel Latino Tavares (100/1954) e Manuel Lourenço Castelo Branco Gomes Pereira (353/1956). Mais novos recordo João Carlos de Morais Pinheiro da Silva (70/1958), mais tarde Comandante da Escolta, que fez uma boa carreira na categoria de juniores, começada creio eu, quando eu ainda estava no Colégio. Terá havido outros, que de momento não recordo, aos quais peço desculpa por não os mencionar. O facto mais marcante daquele tempo foi protagonizado por João António de Sousa Dias de Almeida (344/1953), já falecido, que com um cavalo de reserva da equipe portuguesa que foi disputar o campeonato da Europa de juniores, em Veneza, no Verão de 1960, conseguiu um magnifico 3º lugar, feito que na altura não foi destacado como se impunha. A finalizar este pequeno desfiar de recordações não posso deixar de lembrar um episódio protagonizado pelo António Manuel Latino Tavares

(100/1954), que para além de ser um bom cavaleiro era um mestre em desenho e em aguarela. Pedi-lhe para me fazer um desenho, representando-me a saltar um obstáculo. Este pedido iria requerer muito da sua imaginação, pois os míseros obstáculos que eu à época saltara eram os simples cavaletes que existiam no mini-picadeiro. Sendo o Latino um tipo desenrascado e cheio de humor, não hesitou e lançou-se imediatamente à tarefa, que cumpriu em tempo record. Rapidamente fez um esboço, puxou da minúscula caixa de aguarelas, com 5 pastilhas de diferentes cores, que trazia sempre no bolso do blusão e desatou a pintar, usando, à falta de água, cuspo para molhar o pincel, prática já muito apurada em inúmeras aguarelas executadas no decurso das aulas e dos estudos. O resultado do seu trabalho, já um pouco alterado pelo tempo passado, é apresentado como ilustração neste artigo, para que todos possam atestar a qualidade da sua arte. Este desenho foi guardado religiosamente durante mais de 50 anos, ou para ser mais correcto, andou perdido durante todos esses anos, pois não me conseguia lembrar onde o tinha posto. Todas as obras de arte têm a sua mensagem, sendo a desta obra linear. Ao retratar-me sentado na vala de água, depois dum magnifico borrego do cavalo, que me cuspiu em mortal perfeito por cima das suas orelhas, o Latino estava a dizer-me de forma muito diplomática «O melhor é dedicares-te à pesca, pois nos cavalos não passarás disto». Como alma generosa que sou, até hoje não lhe guardo qualquer rancor pela sugestão velada que me fez, embora tenha conseguido acabar por fazer na equitação algo um pouco melhor (não muito) do que aquilo que a sua obra sugeria.


A ignorância e a curiosidade

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António Rafael Passarinho Franco Preto 67/1950

A ignorância e a curiosidade

Q

uanto mais ignorante tenho a consciência de ser numa qualquer área de conhecimento, mais oportunidades tenho de ser curioso (não no sentido da vulgar bisbilhotice mas com o objectivo de diminuir a minha ignorância nessa área). E o estímulo mais frequente que desperta a minha curiosidade – e consequentemente me leva a pôr o meu “chapéu de investigador” – acontece através da leitura. Estava um dia destes muito sossegado a ler uma novela de ficção cujo título, “Black Ops”, esclarece perfeitamente o seu tipo, quando uma das personagens da novela, um “sniper” - atirador de precisão a longa distância - refere que dois fenómenos a que tem que prestar atenção para maximizar a probabilidade de acertar no alvo (para além da velocidade e direcção do vento, da força da gravidade e da resistência do ar) são o Efeito (ou Força) de Coriolis e o desvio giroscópico da bala (“the bullet gyroscopic drift”). A minha curiosidade estava estimulada e mais ainda ficou quando atirei em voz alta para a minha mulher: Olha lá, sabes o que é o Efeito de Coriolis? Confesso que me senti algo humilhado (ela andou comigo na Faculdade e também não fez o serviço militar... ) quando a ouvi responder sem ligar qualquer importância ao assunto: Ah, nós demos isso em Física na Faculdade... tem a ver com balística! Parei de ler a novela e durante umas horas dediquei-me com afinco a tudo o que encontrei à volta dos “snipers, rifles, bullets, distances, weights, etc”.

Satisfeita a minha curiosidade e sentindo-me menos ignorante (e consequentemente menos curioso), decidi – para não me esquecer – colocar por escrito o que encontrei de mais interessante sobre esta área, apresentando desde já as minhas desculpas aos leitores especialistas desta área e que certamente não estarão interessados em ler o que para eles não passa da “tabuada básica”.

Efeito (Força) de Coriolis A força de Coriolis, como o próprio nome indica, foi descoberta em 1835 pelo físico e matemático francês Gaspard Gustave de Coriolis (Paris 1792-1843) O Efeito Coriolis (numa definição adaptada a este assunto) tem a ver com o facto de que

qualquer objecto em movimento na atmosfera terrestre – como por exemplo, uma bala – se desvia do alvo contra o qual foi atirado, devido à rotação da Terra e à sua velocidade. A razão básica para isso é que enquanto um alvo no solo está solidário com o movimento de rotação da Terra, a bala (percorrendo o seu trajecto pelo ar) não o está. Por razões relacionadas com o movimento de rotação da Terra, no hemisfério Norte esse desvio é para a direita da direcção inicial da bala; no hemisfério sul é para a esquerda. A quantificação desse desvio depende de várias variáveis e o seu cálculo é bastante complexo. Aceita-se no entanto que um atirador que utilize uma arma e projéctil apropriados, só necessita de fazer uma correcção para neutralizar o efeito Coriolis, sob pena de não acertar no local que pretende, para


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percursos da bala que ultrapassem os 2 segundos (tendo em consideração a velocidade inicial da bala e a sua redução ao longo da trajectória, estamos pois a falar de alvos situados a mais de 1.000 metros do local do disparo). Ao embrenhar-me pela análise e quantificação das variáveis em causa fui alertado por um aviso cheio de bom senso, que me fez dar por findo esse estudo (por já ter alcançado o meu objectivo de saber o que era o Efeito de Coriolis): - Se você quiser saber mais sobre o efeito Coriolis, provavelmente está a precisar de ajuda médica. - Dei uma gargalhada e dirigi-me para o desvio giroscópico da bala (“bullet gyroscopic drift”).

Num exemplo estudado, esse desvio variava de 0cm para alvo a 100 metros, 3cm para alvo a 400 metros, 16 cm para alvo a 800 metros, 30cm para alvos a 1.000 metros, etc. Ao estudar este assunto apreciei com interesse (evidentemente) vários exemplares de espingardas de precisão para longas distâncias e respectivas munições. Como as imagens são sempre elucidativas, aqui vão algumas: Uma característica interessante da AS 50 é o facto de ser desmontada (ou montada) sem recurso a quaisquer ferramentas e colocada numa mala para transporte em menos de 4 minutos. Tem um peso aproximado de 10 kgs, sem contar com o peso dos projecteis (tem capacidade para 5 projecteis). Ambas usam preferencialmente os mesmos projecteis (.50 BMG) representados na

O Desvio giroscópico da bala (“bullet gyroscopic drift”) O desvio giroscópico da bala é a consequência da interacção da massa da bala e da sua aerodinâmica, com a atmosfera que ela atravessa. Mesmo com uma total ausência de vento, uma bala saída da espingarda com uma rotação (“spin”) para a direita (adquirida ao longo do trajecto no cano) desviar-se-à para a direita; desviar-se-à para a esquerda se tiver adquirido uma rotação (“spin”) para a esquerda. São as seguintes as variáveis que influenciam este desvio:

Accuracy Int. AS 50 Sniper Rifle (USA)

- Comprimento da bala – quanto maior o comprimento, maior o desvio - Velocidade de rotação da bala – quanto maior fôr, maior o desvio - Distância a percorrer, duração do percurso e sua altitude – quanto maiores forem, maior o desvio - Densidade da atmosfera – quanto maior fôr, maior o desvio Cada conjunto espingarda-projéctil tem a sua própria tabela de desvios giroscópicos (que são devidamente neutralizados pelo “sniper”).

DSR 50 (Alemã)

figura da página seguinte (comparados com uma nota americana e com outros projecteis) . Estes projecteis (.50 BMG) pesam um total de 650 a 800 gramas cada um (WOW!), as balas propriamente ditas têm 1.3cm de diâmetro e pesos que variam de 42 a 52 gramas, tendo uma velocidade de saída do cano das espingardas de 930 metros/segundo (para a bala mais leve) a 880 metros/segundo (para a bala mais pesada). Recordemos que a velocidade do som é de 340 metros/segundo o que significa que – mesmo considerando a perda de velocidade da bala ao longo da sua trajectória – o som da explosão que acompanha o disparo só chegará ao alvo muito depois dela. O registo devidamente comprovado do maior feito de perícia dum “sniper” pertence a um membro das forças armadas inglesas


A ignorância e a curiosidade

que atingiu mortalmente um taliban a 2.475 metros de distância, no Afganistão em 2009. E terminamos assim esta digressão por esta área bélica para abordar um assunto completamente diferente que me surgiu durante a última celebração da Páscoa mas igualmente relacionado com o binómio ignorância-curiosidade.

Domingo de Páscoa Qual a razão para o “domingo de Páscoa” ser uma data móvel? E como é que é determinada essa data, em cada ano? É daquelas coisas em cuja justificação já tinha pensado várias vezes mas - por qualquer razão - nunca tinha chegado ao fim ... por outras palavras, não achando a explicação rapidamente, tinha-me chateado de continuar à procura dela. E na vez seguinte em que alguém mencionava algo como “este ano a Páscoa é tarde” ou “este ano a Páscoa é cedo”, lá ia eu à procura ... (durante uns minutos, até me chatear...). E vocês, sabem? Se calhar sabem e eu é que era o ignorante ...eheheh. De qualquer maneira e antes que me esqueça aqui vai como é determinada a sua data em cada ano: O domingo de Páscoa é o primeiro domingo depois da primeira lua cheia a seguir ao equinócio da primavera! (Pode variar entre 22 de Março e 25 de Abril) E – como encontrei um “boneco giro” – aqui vai um explicativo gráfico. Agora vou arquivar tudo isto… e ver se não esqueço onde guardei estas explicações “importantíssimas” (fruto do binómio ignorância-curiosidade)! E já posso voltar à leitura do meu livro ...

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Os Master Chefes

Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957

Os Master Chefes

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stou farto deles! Não da «chica-

lhada», como a soldadesca cantava nos tempos da guerra de África, mas sim dos programas dos «master chefes» que me entram pela casa dentro via televisão, quando deixo a escolha dos programas ao superior critério da minha mulher. Já não me lembro bem em que canal da televisão começou esta praga, parece-me que foi na RTP 1, com a Catarina Furtado, a que se seguiram os outros canais na luta constante pelos melhores «shares» de audiências. Entretanto apareceu também um programa «master chefe» da Austrália, que começou por ser para candidatos ao título adultos, a que se seguiram os candidatos crianças, que esses sim eram verdadeiramente de espantar, fazendo coisas extraordinárias para a sua idade. De qualquer forma, acho que já tenho a minha dose. Basta! Apesar da frequência com que tenho de ver estes programas, nunca me senti tentado a imitar aqueles candidatos a «artistas», que é assim que são agora considerados os que antigamente se classificavam como bons cozinheiros. As minhas aptidões culinárias foram adquiridas há muitos anos atrás, quando eu andava no Colégio, e são muito limitadas. Naquele tempo, quando saíamos ao sábado a meio da tarde, não tínhamos direito à meia carcaça de pão casqueiro que constituía então o nosso lanche, o que tinha como consequência eu chegar a casa desvairado de fome e comer de enfiada de quatro a seis papo secos, consoante o desvario era menor ou maior. Um ou dois dos referidos papo secos eram guarnecidos com umas suculentas omeletes, que a criada lá de casa (agora seria empregada doméstica ou técni-

ca de acção culinária) preparava para o «menino», que só ao fim de semana podia disfrutar dos mimos da alimentação caseira. À custa de ver a criada fazer as omeletes lá me atrevi um dia a imitá-la e quando dei comigo, já era um perito na matéria. Tenho que confessar que passados todos estes anos já «perdi a mão», pelo que agora nem me atrevo a aproximar-me da frigideira. Para os leigos em matéria de culinária, devo dizer que uma omelete bem feita não está ao alcance de todos. Há largos anos atrás havia um chefe de cozinha de um dos mais afamados hotéis de Lisboa, que antes de admitir um novo elemento para a sua cozinha o mandava fazer uma omelete, bastava-lhe isso para avaliar logo ali a qualidade do candidato. O visionamento dos programas «master chefe» recordou-me mais de uma vez o Colégio e a alimentação que aí tínhamos. Em abono da verdade, devo dizer que a alimentação que tínhamos no meu tempo era em geral de boa qualidade, não podendo ser de outra maneira, dada a carga física a que estávamos submetidos curricularmente, à qual nos encarregávamos de acrescentar, por iniciativa própria, outra igual, com o desporto que praticávamos aos recreios e em qualquer outro tempo livre que aparecesse. Às vezes tínhamos treinos no intervalo do almoço, que era devorado num ápice, bem como treinos ou futeboladas nos «Gerais» entre o jantar e o recolher. Não fosse a alimentação «boa, abundante e bem confeccionada», classificação sacramental usada pelos Oficiais de Dia nos seus relatórios, teríamos todos ficado tísicos ou, no mínimo, escanzelados e subalimentados. Não me lembro de ver nenhum obeso no Batalhão

daquele tempo, as calorias ingeridas eram integralmente «derretidas», o que nos dava uma aptidão particular para perceber na sua plenitude a máxima do Lavoisier «nada se cria, nada se perde, tudo se transforma» e assim fazíamos brilharetes nas aulas de Química, com o exemplo da aplicação do principio daquele sábio galês ao caso especifico do nosso regime alimentar. A alimentação no Colégio era um assunto sério para nós, pois as refeições eram uns intervalos de descontracção e de recarregar de baterias no regime diário espartano a que estávamos sujeitos. Todos os dias procurávamos adivinhar o que iria ser o almoço ou o jantar, pois não havia «menus»


Os Master Chefes

pré-anunciados. A adivinhação muitas vezes prolongava-se até quase à entrada no refeitório, durante a marcha de aproximação ao mesmo, quando começavam a chegar às nossas pituitárias os odores mais ou menos agradáveis do repasto que nos esperava. Todos distinguíamos com perfeição os eflúvios emanados pelas repelentes «pelancas» ou caldeiradas de lulas, dos emanados por um suculento amarelo ou por umas boas fatias recheadas com carne. Os sabores dos pratos mais apreciados ficaram indelevelmente guardados nas nossas memórias gustativas. A textura e o paladar dos croquetes daquela época eram inigualáveis, não me lembro de os comer tão bons como no Colégio. Eram de dimensão relativamente pequena, mas as travessas que vinham para cada mesa de seis traziam à partida setenta e dois croquetes. Só os mais glutões precisavam de repetição, mas glutões havia muitos, sobretudo quando se faziam concursos para bater o record do Colégio, que constava ser de sessenta e quatro croquetes. Quando estava no 5º ano resolvi experimentar a minha capacidade, mas claudiquei miseravelmente quando ainda nem tinha chegado a metade do dito record. Fiquei-me por uns modestos vinte e sete croquetes e quase que tive de arrastar-me do refeitório para fora, com uma barriga que parecia ter engolido uma bola de

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basquete. Era a falta de juízo própria da idade. Ainda bem que assim era, pois se tivéssemos juízo naquela idade, de que é que hoje poderíamos falar? Para ilustrar e comprovar a minha afirmação relativa à importância da alimentação para sucessivas gerações de colegiais apresento dois documentos distintos, que não me deixam mentir. O primeiro dos dois documentos é, nada menos, nada mais, do que o primeiro número da nossa revista, publicada há 50 anos atrás. O segundo documento é o livro «Culinária Colegial. Uma visita guiada», publicado em 2003, por ocasião da celebração do bicentenário do Colégio, pela parceria formada pelos Antigos Alunos João Salgueiro Pinto Ribeiro (47/1935), actual decano do nosso Conselho Supremo, Fernando Edgard Collet-Meygret de Mendonça Perry da Câmara (143/1940), antigo Director do Colégio, e Eduardo Maria Rato Martins Zúquete (20/1945), Comandante do Batalhão quando Aluno e mais tarde Professor no Colégio. Nesta parceria o Pinto Ribeiro tratou dos textos e da coordenação, tarefa em que foi auxiliado pelo Perry da Câmara e pelo saudoso Mário Margarido e Silva Falcão (314/1936), o Perry da Câmara tratou da parte da ilustração dos textos, com uns deliciosos «bonecos», e o Eduardo Zúquete tratou das engraçadíssimas quadras que acompanhavam os referidos «bonecos», ou seja da «versalhada», sem qualquer desprimor para a dita. De assinalar ainda um outro mentor do projecto, o inesquecível Rui Manuel Figueiredo de Barros (62/1936), bem como o «master chefe» que esteve na base de toda a obra, cuja identidade nos é desvendada no Prefácio do livro, de que passamos a fazer uma transcrição parcial: «…O manual Culinária Colegial teve, como sólido suporte, um minucioso levantamento das melhores e mais tradicionais receitas colegiais testadas nas cozinhas da Instituição. Com este levantamento, o José Lopes Seco Paula Santos (349/1938) não só desvendou segredos que atravessaram gerações de alumnos e alunos, como também os tornou acessíveis, através de uma sábia conversão das doses gigantescas

necessárias à confecção do rancho, em medidas agradavelmente ajustadas a uma normal cozinha caseira». No primeiro número da nossa revista, como já foi referido, publicado há cerca de 50 anos atrás, o seu Fundador e Director Carlos Ayala Vieira da Rocha (189/1929) apresentou uma única receita relativa ao manjar emblemático de gerações de Antigos Alunos. A receita foi apresentada sob o título «Culinária – Como se fabrica o maravilhoso amarelo». Este manjar divinal é um dos elementos que atrai os Antigos Alunos ao Colégio por ocasião das peregrinações anuais para as comemorações do 3 de Março ou das peregrinações de celebração dos anos de entrada e de saída dos seus cursos no Colégio. No livro editado por ocasião do bicentenário, que se pode considerar a «Bíblia Culinária Colegial», são apresentadas variadas receitas, começando pelo já referido amarelo, com continuação por muitos e variados pratos de que destaco os croquetes, os «submarinos», o arroz à generalíssimo (prato mais recente) e o famoso arroz doce, que projectávamos vigorosamente em gordas colheradas nos nossos pratos de sobremesa, quais colheradas de argamassa projectadas por pedreiros em paredes a rebocar. Esta é pois uma pequena referência e homenagem à cozinha colegial, mas como diria o nosso maior poeta «mais vale experimentá-la que julgá-la, mas julgue-a quem não a puder experimentar».


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Os Master Chefes Ricardo Fernando Ferreira Durão

Ricardo Fernando Ferreira Durão (17/1938)

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elo Antigo Aluno Ricardo Durão foram oferecidos à biblioteca da nossa Associação, onde podem ser consultados, dois livros de sua autoria de que se reproduzem as respectivas capas.

Tudo o que o paladar de gerações e gerações de alunos experimentou ao longo dos anos foi obra dos «master chefes» colegiais, que são objecto de uma justa homenagem no final da «Bíblia» a qual aqui reproduzimos. Reproduzimos ainda a ilustração da marcha de aproximação ao refeitório no «Colégio Velho», aí designada por «A longa marcha», em que procurávamos adivinhar a ementa através dos odores provenientes da cozinha, bem como a ilustração da forma como era distribuído o nosso lanche, ainda no «Colégio Velho», em que literalmente cada um pescava a sua meia carcaça de pão casqueiro do fundo de um enorme cabaz paralelepipédico pousado no chão. Conheci uma variante mais expedita deste método, quando estava na 2ª. Consistia em formar as turmas ou pelotões em duas fileiras, abrir fileiras, dando em seguida a fileira da frente meia volta, passando então o cesto, carregado por dois fâmulos, entre as duas fileiras, retirando dele cada um o seu quinhão. Quando o pão vinha com grossas fatias de marmelada, em vez da margarina usual, tínhamos o dia ganho. Não posso deixar de referir que quando o cesto paralelepipédico não era prontamente retirado do geral da 3ª ou da 4ª, podia o mesmo acabar por ter outro tipo de utilização, com um voluntário leve e pequeno lá acocorado dentro, descendo o cesto escada abaixo em alta velocidade, qual tobogan em pista dos jogos olímpicos. A integridade física do tripulante não era então garantida. NOTA As ilustrações, da autoria de Fernando Edgard Collet-Meygret de Mendonça Perry da Câmara (143/1940), foram copiadas do livro “Culinária Colegial ... ... Uma visita guiada”, livro que teve Mário Margarido e Silva Falcão (314/1936) – já falecido e que integrou a Direcção da AAACM durante 31 anos, 20 dos quais sendo Director da Revista - como organizador, João Salgueiro Pinto Ribeiro (47/1935) como coordenador e Eduardo Maria Rato Martins Zúquete (20/1945) como autor da versalhada.

NUNCA ESQUECEREI..., «O que não foi contado nas comemorações dos 40 anos do 25 de Abril. E não só...», com prefácio de Marcelo Rebelo de Sousa e posfácio de Daniel Proença de Carvalho e A MINHA VIDA, biografia, com prefácio de Luís Eduardo Almeida Soares de Oliveira (137/1939), «É o meu desejo, sempre desejei isso, ser um tipo normal, um homem comum e o que escrevi é apenas um registo, um arquivo de factos que, para mim, merecem a minha recordação. Nada me importa que a minha vida não se destaque de muitos homens comuns, até me agrada.»


Antigos Alunos nas Artes e nas Letras

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Nuno António Bravo Mira Vaz 277/1950

Antigos Alunos

nas Artes e nas Letras Fernando Augusto Falcão Lamy (157/1947) ANGOLA: as brisas da memória. Um peão lançado no turbilhão Colecção “Fim do Império”, n.º 14

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hamado pela segunda vez a cumprir o serviço militar em 1961 – a primeira fora em 1958, no Regimento de Cavalaria 7 –, estando já casado e pai de três filhos, Fernando Lamy foi mobilizado para Angola, para onde partiu em 12 de Janeiro de 1962. Em Março, exactamente um ano depois dos terríveis massacres dos Dembos, seguiu para o norte do território, ainda a tempo de testemunhar os sinais que a selvajaria deixara em povoações e fazendas. Durante dois anos vai participar na penosa reocupação dessa região atormentada, anotando cuidadosamente num Diário os medos, os perigos e as mortes que pontuavam as actividades operacionais, mas também as mostras de camaradagem e os impulsos de bondade que podem medrar nos corações mais desesperados. O livro dá-nos uma imagem impressiva do que foram esses primeiros tempos de resposta ao terrorismo, levando-nos a visitar fazendas destruídas onde, com apoio dos militares, alguns sobreviventes se reinstalavam, dispostos a todos os sacrifícios para relançar as suas vidas tão duramente atingidas. Homens de rostos marcados pela memória das brutalidades, que teimavam em acreditar no futuro. O autor traça deles um

retrato desencantado, de gente embrutecida por anos de isolamento, totalmente desprovida de humor, que não faz ideia do que se passa no mundo e que tem dificuldade em manter uma conversa. A seu favor, têm o conhecimento da região e servem muitas vezes de guia à tropa. Os militares, por seu turno, viviam muitas vezes em condições mais precárias do que os civis, obrigados que eram a deslocar-se por picadas esburacadas e estreitas à beira de precipícios insondáveis, onde o inimigo os emboscava, e recolhendo no final das missões a aquartelamentos improvisados, onde durante muito tempo não houve água nem luz e onde a comida era quase sempre enlatada. Nos intervalos dos combates, das emboscadas e dos bombardeamentos, Fernando Lamy, furriel miliciano, comandante de uma secção de atiradores, encontra ainda tempo para nos descrever a beleza insuperável de certos trechos da floresta ou dos vales de alguns rios, como o Luíca. Mas a impressão mais forte deixada pelo livro é a da descrição viva, sentida e meticulosa dos combates travados contra um inimigo esquivo, no interior duma natureza desmedida, onde tantos camaradas do autor encontraram a morte.


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Origem do ZacatraZ

Origem do

ZacatraZ H

á dias, quando andava a proceder à limpeza do disco rígido do meu computador, deparei com uma sequência de “posts” no Facebook iniciada pelo Artur Manuel de Spínola e Santos Pardal (587/1961), subordinada ao tema “Origens do Zacatraz”, que cita um testemunho do Carlos Ayala Vieira da Rocha (189/1929). Anteriormente, na ZacatraZ, surgem intervenções de Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949), de Eduardo Maria Rato Martins Zúquete (20/1945) e de mim próprio, João Martins Ribeiro Mateus (169/1944). Porque a diversidade e complementaridade dos diversos textos poderão constituir um interessante contributo para o esclarecimento de tema tão icónico da tradição colegial, julgo que, no actual momento de viragem do paradigma da nossa Casa, se justificaria a sua divulgação pelo meio ou meios que forem julgados convenientes. Como, a meu ver, a ZacatraZ seria a via mais indicada, dou ao seu director a palavra, solicitando-lhe que considere essa possibilidade e se pronuncie quando achar oportuno. João Martins Ribeiro Mateus 169/1944

Carlos Vieira da Rocha, quando Director da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar (AAACM), publicou numa revista de então um texto relacionado com o tema Zacatraz, texto que foi transcrito na página 79 da Revista 142 (Janeiro/Março de 2001) num pequeno artigo de Gonçalo Leal de Matos e que se reproduz. “A origem do Zacatraz Em tempos, na nossa revista foi publicado um apontamento sobre a origem do Zacatraz, que aqui se reproduz novamente pelo interesse que

o tema poderá ter e também com o intuito de um desafio no sentido de se procurar conhecer mais e melhor o assunto, apelando às achegas que eventualmente possam ser do conhecimento de alguns de nós sobre a matéria. O texto rezava assim: «Muitos antigos alunos interrogam-se sobre a origem do Zacatraz. Quando ainda era vivo o meu querido e sempre lembrado amigo Diogo Neff Sobral (246/1903) lembro-me de ter falado com ele sobre o assunto e que me contou a história seguinte, sujeita a confirmação, pois não estava certo da sua veracidade: Quando o Neff Sobral já era aluno do Colégio Militar, foi Lisboa visitada por uma escuna francesa denominada Zacatraz e que trazia a bordo alguns guarda-marinha, tirocinantes, espanhóis. Houve um jantar a bordo, para o qual foram convidados alguns oficiais portugueses e um pequeno grupo de Meninos da Luz. A comida era óptima e o vinho ainda melhor. À sobremesa foi servido um Porto de qualidade excepcional, oferta dos militares portugueses, que foi altamente apreciado e largamente bebido. Um oficial francês discursou e, no final, à falta de melhor, gritou por três vezes: Zacatraz, Zacatraz, Zacatraz, no que foi correspondido pelos tirocinantes espanhóis por vibrantes Olés, gritados por várias vezes. A euforia atingira o máximo e, então o comandante do barco, para acabar com a gritaria, levantou-se solenemente e brindou: À votre santé. Parece que os Meninos da Luz apreciaram aquela gritaria toda e adaptaram-na para outras jantaradas, mas, para rimar com o olé, passaram a dizer à votre santé, abrindo bem o é para rimar com o olé. Fantasia? Verdade? Se non è vero è ben trovato.» Carlos Vieira da Rocha 189/1929 in Revista da AAACM – Nº 142, página 79

Pela leitura deste texto verifica-se que certezas poucas há e para ajudar à confusão relato uma outra versão já ouvida de mais do que uma fonte, com enquadramento semelhante à anterior mas com um cariz diferente do protagonismo assumido pelos diversos intervenientes. A história passa-se igualmente no porto de Lisboa a bordo de um navio da Marinha de Guerra Francesa, visitado por um delegação do Colégio. Os pormenores da recepção a bordo não são conhecidos e para o caso são irrelevantes. Quando a visita terminou e os Meninos da Luz se preparavam para deixar o navio foram saudados pela guarnição com o grito de saudação daquela unidade militar. Apanhados de surpresa e não havendo, ao tempo, nada de tradicional nesta matéria, consta que um dos elementos da comitiva do Colégio, por ventura mais expedito, olhando para o nome do navio gritou por três vezes: Zacatraz, Zacatraz, Zacatraz, tendo sido secundado, em uníssono e de cada uma das vezes pelos restantes camaradas, com um forte traz traz e, em seguida, a homenagem ao jeito de despedida aos anfitriões do navio francês Allez allez à votre santé. Existem algumas teorias de que o Zacatraz só aparece após 1918 o que, a verificar-se, inviabiliza a veracidade das versões antes referidas que se situam por volta dos primeiros anos do Século XX. Cerca de 1940, tanto quanto é possível afirmar com rigor, terá sido introduzido o Ala ala arriba (não o ala riba que por vezes tem sido ouvido recentemente) provavelmente, segundo conceituada opinião, para contrariar o galicismo do allez allez à votre santé. Que seja do nosso conhecimento não existe documentação sobre o assunto e à medida


Origem do ZacatraZ

que o tempo vai decorrendo será cada vez mais difícil memória viva que possa fazer luz sobre a saudação que há longos anos é dos alunos do Colégio Militar e que perdura para sempre já quando antigos alunos se encontram nas mais diversas ocasiões, efemérides e acontecimentos.” Gonçalo Salema Leal de Matos 371/1949

“A Concretização Este grito de saudação é proferido de forma rápida e com força como quem grita um grito de guerra e pela seguinte ordem, que constitui a junção de três séries de elementos, a solo e em coro, de que resulta uma forma característica, cheia de alegria e juventude: Grito ZacatraZ, ZacatraZ, Zacatraz - Resposta Geral Traz, Traz (3 vezes); Ala, Ala - Arriba (2 vezes); Allez, allez à votre santé – Allez (1 vez). A Simbologia O “Zacatraz” é o grito de saudação com que se festeja qualquer acontecimento importante, no Colégio ou fora dele; é como que um brinde que distingue quem frequentou ou frequenta o Colégio Militar. Neste grito estão contidos o sentimento e a alma dos “Meninos da Luz”. Por isso, é para ser proferido e acompanhado com vibração e entusiasmo, mas igualmente com solenidade e respeito. Não se deve abusar da sua repetição; este profere-se por exclusiva vontade dos alunos em ocasiões importantes ou saudando pessoas e factos relevantes. Meu acrescento: Da minha memória, o Ala Arriba já existiria quando entrei para o Colégio, em 1945, mas não garanto totalmente esta afirmação, a memória já é muito ténue. Mais recentemente, sexta-feira passada, 20 de Novembro, o meu curso comemorou o 70º aniversário da entrada (ainda conseguimos reunir 14 bravos octogenários dos 28 possíveis!) e fomos saudados no refeitório do Colégio por um vibrante Zacatraz do agora enorme Batalhão Colegial que foi declamado com uma majestosa lentidão que muito me impressionou e que julgo aumentar qualidade e conferir uma inesperada solenidade ao momento. Julgo que já será uma mais-valia do presente curso de graduados que, segundo me disse o CB, está procedendo a uma cuidadosa análise das tradições e do vocabulário colegiais tendo em atenção a circunstância

de agora haver alunos e alunas e já haver graduadas femininas. Posição muito positiva, portanto, que saudei em plena concordância.”

Eduardo Maria Rato Martins Zúquete 20/1945

Então, já agora, vai o contributo de um elemento do curso de 1943-1950, entrado em 1944 para o 2º ano: 1º ponto - A palavra “Zacatraz” não corresponde ao nome do navio visitado pela simples razão de que, nos registos da Armada Francesa, não consta que tal nome tenha sido atribuído a qualquer navio daquela nacionalidade. Isto foi-me garantido por Luís de Sá Machado Rebelo (134/1945), Capitão-Mar-e-Guerra, que diligenciou sobre o assunto e estava bem posicionado para tal. 2º ponto - “ZacatraZ” é uma onomatopeia que resulta do som (detonação) das armas (artilharia ou outras de bordo). Era uma espécie de «grito de guerra” (incitamento e saudação) utilizado nessa unidade naval. 3º ponto - A saudação à delegação do CM (alunos e oficiais) terá tido lugar, no fim da visita, na câmara do comandante, na altura dos brindes e pronunciada três vezes, logo seguida - enquanto elevava a taça da bebida adequada - da expressão: “Allez, Allez, à vôtre sante” (tradução desnecessária). Parece-me dever salientar que esta frase seria utilizada em espaços reservados a brindes e em momentos marcadamente cordiais ou mesmo solenes. 4º ponto - Não existem fontes que permitam localizar no tempo a data ou mesmo década em que tal visita ocorreu. Posso garantir que em 1944 a expressão francesa quase deixara de ser usada e apenas era utilizada por Antigos Alunos, durante refeições de confraternização. 5º ponto – Por altura da década de quarenta, o corpo colegial nunca teria simpatizado muito com tal expressão que lhe era culturalmente alheia e ia-se ficando pelo Zacatraz que a claque colegial repetia incansavelmente em provas desportivas para incitar os nossos atletas. Era um verdadeiro “grito de guerra” onde o “Allez, allez” não tinha cabimento nem sentido. 6º ponto - Em 15 de Setembro de 1941 teve lugar, no cinema S. Luís, a estreia do filme de Leitão de Barros, intitulado “Ala, Arriba” (“vamos, para cima”, em português regional arcaico). Com esse filme, aquele reputado realizador pretendeu homenagear os pescadores da Póvoa de Varzim e

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a coragem com que enfrentavam os perigos do mar no seu ganha-pão diário. Nele se pode apreciar o momento de convergência de esforços de homens e mulheres para, após o regresso da faina, arrastarem, em subida (arriba) o pesado barco, de 10 remadores, para local seguro. Enquanto isso, o mestre ia gritando, repetidamente, “Ala, arriba, ala arriba”. Estava encontrado substituto para o “allez, allez”. E a malta bem aplaudia a nossa Amália quando esta, farta de francesismos (galicismos), entoava “Lisboa não sejas francesa, tu és portuguesa, tu és só p’ra nós”... 7º ponto - E foi assim, praticamente, até ao fim da década de 40. Depois, gradualmente, à boa maneira portuguesa, foi-se recuperando o “allez, allez à vôtre santé”, sublimado com um refinado “Bordeaux” misturado com o “Ala, ala, arriba” acompanhado de um luso “Porto”. Só mais um pormenor: O “Ala, ala..... Arriba”, era sempre gritado três vezes, tendo-se suprimido o terceiro para enxertar o recuperado allez, allez... . Neste ponto, estou em ligeiro desajustamento com o Eduardo Zúquete. Agora já sabem tanto como eu. João Martins Ribeiro Mateus 169/1944

A 25 de Novembro de 2015, houve uma sequência de “posts” no Facebook por iniciativa de Artur Manuel de Spínola e Santos Pardal (587/1961), subordinada ao tema “Origens do Zacatraz”, citando o testemunho do Carlos Ayala Vieira da Rocha (189/1929), já antes referido. Desta Iniciativa não resultou nenhum contributo de relevo relacionado com o esclarecimento deste assunto. Observações posteriores 1 - Carlos Vieira da Rocha já narra “por ouvir dizer”, o que confirma quando termina em italiano “Se non è vero è ben trovato”. E ouviu dizer que Zacatraz era o nome do navio da Armada Francesa visitado, o que se confirmaria, posteriormente, ser falso. Fala na presença de guarda-marinha espanhóis no navio francês, o que não faz sentido. O ambiente de “rebaldaria” vivido no final da refeição casa muito mal com as tradições da Armada de qualquer nacionalidade e muito menos na elegante francesa. A conexão e o contexto do triplo brado “Zacatraz” e o “Allez, allez à vôtre santé” surgem muito confusos. A forma parodiada desta narrativa traz pouco suporte ao rigor que todos gostaríamos de encontrar na origem do nosso “grito de guerra”.


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Origem do ZacatraZ

Esta fotografia foi cedida por José Alberto da Costa Matos (96/1950)

2 - A intervenção do Gonçalo já se aproxima do que julgo ser a versão menos fantasista de quantas têm sido contadas. Aponto-lhe apenas a origem da palavra Zacatraz, bem como o momento do brado “Allez, allez à vôtre santé” que, na versão portuguesa (bebamos) “à vossa saúde”, não se pronuncia à saída da casa do anfitrião, mas sim ainda à mesa, em momento de solenidade. 3 - Concordo em tudo o que o Eduardo Zúquete refere e saliento a altura da introdução da fórmula “Ala, ala...Arriba”, já consolidada em 1945 (seu ano de entrada) e em 1944 (minha entrada). Dos meus graduados aprendi ter ela sido adaptada do grito de incitamento da faina dos pescadores de Póvoa de Varzim, após a estreia do filme “Ala, Arriba”, ocorrida em Setembro de 1941. Quem se der à curiosidade de ver esse filme, pode adquiri-lo em versão DVD de edição Lusomundo. 4 -Tenho ouvido o Zacatraz, gritado veementemente, nas mais diversas ocasiões e até já no funeral de um antigo professor muito estimado por várias gerações de Meninos da Luz. Entendo o impulso da homenagem, mas não como saudação (“...à vôtre santée...”). Prefira-se “Ala, Ala...Arriba” que, para os crentes, assumirá o sentido de encomendação para o transcendente: “Vai, vai... Para cima”.

João Martins Ribeiro Mateus (169/1944)

Nota do Director da ZacatraZ Na década de 30 foi encomendado aos Estaleiros de Cádis um navio que se destinava ao México e iria ser baptizado de Zacatecas (Estado Mexicano cuja capital tem o mesmo nome). Entretanto eclodiu a Guerra Civil de Espanha, quando apenas estava concluído o casco e ainda não havia as superstruturas do navio. Esse casco foi ”apreendido” pelas forças nacionalistas, equipado com superstruturas adequadas à guerra naval, baptizado com o nome Calvo Sotelo e enviado para acções de combate. O Zacatecas, cujo nome seria o mais próximo de Zacatraz, morreu à nascença. Por outro lado, as pesquisas feitas indicam não ter existido nenhum navio fosse em que Armada fosse com o nome de Zacatraz, o que deita por terra as hipóteses afloradas nos textos que sobre a matéria têm vindo a lume. Também não há documentos fidedignos nem nada escrito em termos oficiais que possam garantir quando e por que razão este brado foi usado pela primeira vez e, tão pouco, a sua forma original. Há teorias de que terminava no “Ala ala arriba” e que “Allez, allez à votre santé” lhe terá sido acrescentado posteriormente. Em boa verdade, o “Allez, allez à votre santé” só faz sentido quando é dito em honra de pessoa ou pessoas mas é inapropriado quando se homenageia uma instituição ou, como exemplo de entre outros, quando se homenageia alguém que se encontra em câmara ardente. Nestes casos seria mais adequado terminar com “Ala ala arriba”. Esta expressão contempla bem todas as situações. O Zacatraz é bradado nas mais diversas conjunturas, quer por motivos de saudação, de homenagem, de respeito, de alegria ou de coesão. Esta é mais uma achega para que, eventualmente e com serenidade, se possa concluir a melhor maneira de dignificar e fazer perdurar este brado que é património do Colégio Militar, dos seus Alunos e dos seus Antigos Alunos. Como contributo para quem de direito normalizar e registar devidamente o nosso “Grito de Guerra”, aqui fica uma sugestão, que vale o que vale: Zacatraz – Zacatraz – Zacatraz Traz – Traz (3 vezes) Ala Ala Arriba (2 vezes) Reproduzimos a fotografia da Canhoneira “Calvo Sotelo” que emergiu do casco destinado ao navio que seria baptizado com o nome “Zacatecas” e que nunca viu a luz do dia.


Espada de Aluno do Real Colégio Militar

Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957

Espada de Aluno do Real Colégio Militar H

á um tempo atrás, ao aguardar por atendimento numa instituição bancária, chamou-me a atenção um belo livro que ali estava à disposição dos clientes, para amenizar os seus tempos de espera. O livro em causa era um álbum ricamente ilustrado, intitulado «As Armas e os Barões», com um conjunto notável de fotografias das mais variadas armas antigas. O livro é editado pela «Quimera», sendo Eduardo Nobre o seu autor. Ao folhear a parte do álbum relativo às armas brancas, encontrei a dado passo a descrição de uma espada, a que era dada a designação «Espada de Aluno do Real Colégio Militar». Dado nunca ter tido conhecimento da existência de uma espada com tal designação, a minha curiosidade foi aguçada e fui de imediato ver a fotografia da espada e ler o pequeno texto dedicado à mesma. Verifiquei que a pequena espada a que era dada esta designação, era a espada usada pelo Príncipe D. Luis Filipe, quando, ainda menino, era já Comandante de Batalhão Honorário do Real Colégio Militar. O livro apresentava, conjuntamente com a fotografia da espada, uma reprodução da conhecidíssima fotografia do Príncipe fardado de Aluno do Colégio Militar, armado com a sua pequena espada. A fotografia foi tirada na época pelo fotógrafo Camacho.

De acordo com a descrição da espada apresentada, era a mesma dotada de uma guarda de varetas de ferro, tendo o punho forrado a pele de peixe. A lâmina era ligeiramente curva, de um só gume, passando a dois gumes na ponta. A goteira da lâmina era ricamente trabalhada com troféus de armas e ramagens. Finalmente a bainha da espada era em ferro polido e dotada de uma braçadeira com argola de suspensão. Porém, o que tornava esta espada única eram as suas dimensões reduzidas. O comprimento da espada era de 82,5 cm, quando o comprimento das espadas comuns era de 92 a 96 cm. Os comprimentos da lâmina e da bainha eram obviamente também reduzidos, estando de acordo com o comprimento da espada. O comprimento da lâmina era de 71cm, sendo o comprimento da bainha de 73 cm. No livro não se indica onde é que se encontra actualmente a espada, sendo o seu paradeiro obviamente do conhecimento do autor do livro. Não seria de promover a vinda desta espada para o Museu do Colégio? Aqui deixo este alvitre. Nota final O livro "As Armas e os Barões" referido, pode ser consultado na biblioteca da AAACM.

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A lição do Velho Professor

A lição do Velho Professor

Texto achado por Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957)

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m dia um velho professor universitário foi convidado, por uma escola superior de gestão e administração, a proferir uma palestra subordinada ao tema «Time Management». Esta palestra era destinada a um grupo de quinze «Managers» de topo de grandes empresas norte americanas. Dado a palestra constituir uma das cinco sessões de um dia de trabalho dos referidos «Managers», foi atribuída ao velho professor apenas uma hora para transmitir os seus conhecimentos sobre este complexo tema. Chegado à sala da conferência, o velho professor ficou perante os seus quinze auditores, prontos a tomar notas sobre aquilo que iria dizer aquele homem de elevada reputação. O professor observou-os lentamente, um a seguir ao outro e disse «Vamos fazer uma experiência».

O velho professor tirou debaixo da mesa que o separava dos seus ouvintes um grande copo de vidro e colocou-o sobre a mesa. Depois pegou numa dúzia de pedras do tamanho de bolas de ténis e colocou-as, cuidadosamente, uma após a outra, dentro do grande copo. Quando o copo ficou cheio e era impossível adicionar mais uma pedra, olhou o velho professor para a assistência e perguntou «O copo está cheio?». Todos responderam «Sim». Ele esperou um par de segundos e perguntou «De certeza?». Curvou-se de seguida e retirou debaixo da mesa um recipiente cheio de pequenos seixos. Verteu então vagarosamente os pequenos seixos sobre o copo das pedras, ao mesmo tempo que agitava cuidadosamente este último, até que os pequenos seixos preenchessem os intervalos entre as pedras,

chegando ao fundo do grande copo de vidro. O velho professor olhou de novo para a sua assistência e perguntou de novo «O copo está cheio?». Nesta altura perceberam os assistentes o seu jogo. Um deles disse «Provavelmente não». «Bem», disse o velho professor. Curvou-se de novo e retirou desta vez debaixo da mesa um vaso cheio de areia. Verteu então cuidadosamente a areia para dentro do copo. A areia foi preencher os vazios entre as pedras e os seixos. Perguntou novamente «O copo está cheio?». Desta vez, sem qualquer hesitação e em conjunto respondeu a assistência «Não». «Bem», respondeu de novo o velho professor. Como seria de esperar, tirou então debaixo da mesa um jarro cheio de água e encheu o copo de vidro até cima. Olhou então para a assistência e perguntou «Qual é a grande conclusão que se pode tirar desta experiência?». Um dos assistentes, pensando no tema da conferência, respondeu «Isso prova, que mesmo quando uma pessoa pensa que tem a sua agenda completamente preenchida, é sempre possível, desde que uma pessoa realmente queira, acrescentar novos compromissos, ou a resolução de questões pendentes». «Não», respondeu o velho professor, «Não é isso. A grande verdade que esta experiência mostra é a seguinte: as grandes pedras devem ser as primeiras a entrar, para que depois se possa adicionar o restante». Instalou-se um grande silêncio na sala, enquanto cada um procurava compreender o alcance da conclusão indicada.

O velho professor perguntou então «Quais são as grandes pedras na vossa vida?». A saúde. A família. Os amigos. A realização dos seus sonhos. Fazer-se o que se gosta. Aprender. Servir uma causa. Descontrair-se. Ou… qualquer outra coisa. O que se deve notar é quão importantes são estas grandes pedras na nossa vida. Quando não se consideram estas coisas como importantes na nossa vida, corre-se o risco de se dar cabo da mesma. Quando se dá prioridade às miudezas (calhaus pequenos e areia), enche-se a vida com coisas sem importância e falta-nos o tempo para nos dedicarmos àquilo que é verdadeiramente importante para nós. Então não se esqueçam de perguntar a vós próprios «Quais são as GRANDES PEDRAS da minha vida?». Depois ponham-nas em primeiro lugar nos vossos «copos». Com um pequeno aceno de cabeça despediu-se o velho professor da sua audiência e abandonou vagarosamente a sala... (Autor desconhecido)


Carta para o filho entregar ao Professor no primeiro dia de Escola

Carta para o filho entregar ao Professor no primeiro dia de Escola Caro Professor,

©Foto Sérgio Garcia (326/1985)

Ele terá de aprender que nem todos os homens são justos, nem todos são verdadeiros, mas por favor diga-lhe que, por cada vilão há um herói, que por cada egoísta, há também um líder dedicado, ensine-lhe por favor que por cada inimigo haverá também um amigo, ensine-lhe que mais vale uma moeda ganha que uma moeda encontrada, ensine-o a perder mas também a saber gozar da vitória, afaste-o da inveja e dê-lhe a conhecer a alegria profunda do sorriso silencioso, faça-o maravilhar-se com os livros, mas deixe-o também perder-se com os pássaros do céu, as flores do campo, os montes e os vales. Nas brincadeiras com os amigos, explique-lhe que a derrota honrosa vale mais que a vitória vergonhosa, ensine-o a acreditar em si, mesmo se sozinho contra todos. Ensine-o a ser gentil com os gentis e duro com os duros, ensine-o a nunca entrar no comboio simplesmente porque os outros também entraram. Ensine-o a ouvir a todos, mas, na hora da verdade, a decidir sozinho, ensine-o a rir quando está triste e explique-lhe que por vezes os homens também choram. Ensine-o a ignorar as multidões que reclamam sangue e a lutar só contra todos, se ele achar que tem razão. Trate-o bem, mas não o mime, pois só o teste do fogo faz o verdadeiro aço, deixe-o ter a coragem de ser impaciente e a paciência de ser corajoso. Transmita-lhe uma fé sublime no Criador e fé também em si, pois só assim poderá ter fé nos homens. Eu sei que estou a pedir muito, mas veja o que pode fazer, Caro Professor.”

ANTIGO ALUNO USA A BARRETINA

Abraham Lincoln, 1830

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Uma luz na Luz General Calixto e Silva

Uma luz na Luz

General Calixto e Silva Antigo Director do Colégio

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ntónio Máximo de Oliveira Calixto e Silva (1932-2016), General, era condecorado com Grã-Cruz de Mérito Militar, Medalha de Ouro de Serviços Distintos, Medalha de Prata de Serviços Distintos com Palma, 3 Medalhas de Serviços Distintos, Medalha de Mérito Militar de 1ª Classe, Cavaleiro da Ordem de Aviz, Medalha de Ouro de Comportamento Exemplar, Medalhas Comemorativas das Campanhas com as legendas “Angola 1961-62-63” e “Moçambique 1970-71-72”. Foi Director do Colégio Militar nos anos de 1988 a 1992 e Sócio Honorário da AAACM. Quando o General Firmino Miguel (CEMGFA) o chamou para ser Director do nosso Colégio, ainda argumentou não ser Antigo Aluno e que essa missão caberia melhor a um Antigo Aluno. A resposta foi: – “Toma lá a tua guia de Marcha”. Em 19 de Outubro de 1988, aí estava o General Calixto no Colégio.

Eu lutava com o que podia e não podia para vencer as terríveis consequências dum acidente de viação, tendo ficado meio ano em coma. Já no Colégio implementou ao nível das infraestruturas mudanças como as da adaptação das instalações para a sala de professores, a criação da sala de esgrima no 2º piso do ginásio, a reparação exterior do edifício do Corpo de Alunos, os benefícios no picadeiro, na cúpula, nas instalações sanitárias do edifício principal, o ginásio, o antigo pavilhão de Química adaptando o edifício para ser a messe de oficiais e professores. Adaptou-se a sala da Santa nos claustros destinando-a ao núcleo de Língua Portuguesa. Os sistemas de aquecimento com substituição do gasóleo por gaz a granel e iniciou a transferência dos serviços do quartel da formação para a sede do Colégio, começando pelo refeitório das praças e a construção da cavalariça junto ao picadeiro. Foram adquiridos 30 computadores, 16 para equipar uma sala de ensino de informática, 9 para uma sala do curso complementar, 3 para a sala de leitura dos alunos na biblioteca e 2 para a sala de professores. Foi também instalada na área do serviço escolar, e dotado com novos meios, o centro de informática de apoio escolar. Estabeleceu estudos obrigatórios para os alunos com deficiente rendimento escolar, nos períodos livres resultantes de não terem aulas ou por falta dum professor, ou por não pertencerem ao orfeão ou não frequentarem aulas de formação religiosa. Promoveu numerosas normas de execução permanente. Durante a sua direcção foi alargado o âmbito do ensino no Colégio, passando a ser ministrada, com início no de 1989/90, área de economia e, no mesmo ano lectivo, pela primeira vez, três docentes do sexo feminino, passaram a integrar o corpo colegial de professores. Tomou a iniciativa de dirigir aos Alunos, no dia do seu aniversário um cartão de felicitação pela referida data. Aproximando de sobremaneira o Director dos Alunos.

Como referi, quando o Director iniciou funções no Colégio debatia-me com o meu estado de coma, quando voltei a ter alguma condição de vida, quis regressar ao Colégio e completar o meu ensino curricular nesta Casa que me era tão grata, não concebia que fosse doutra forma. Dada a minha situação tão peculiar, tive de pedir autorização ao Director. Numa entrevista que tive, chegámos à conclusão que conhecia o meu avô, também ele oficial de artilharia. E que tínhamos estado os dois ao mesmo tempo em Moçambique, o nosso General destacado em serviço, e eu acabado de nascer. No Colégio empenhou-se na minha recuperação. Por diversas vezes era chamado ao General Director, que estando a receber alguém, me chamava à sua presença, mostrando como exemplo da versatilidade e capacidade desta Casa em albergar e contribuir para as melhoras dum caso tão especial como era o meu. No 3 de Março em 1989, por não ter condições para marchar pela avenida convidou-me a estar com ele na tribuna de honra, quebrando todos os protocolos. Mas no 3 de Março de 1991, deixou-me desfilar com a espada que era do meu avô, diferente por ser de artilharia, com o copo prateado. Terá compreendido como era importante para mim, e como Homem de grande sensibilidade, autorizou. Pretendo com esta minha breve narrativa enfatizar, a vertente humana do nosso General, que não era de todo pequena. Para minha surpresa, depois de sair do Colégio, continuou a felicitar-me pelo meu aniversário e a desejar-me as Boas Festas na época natalícia. Escrevia: Deste teu “velho” amigo… Na verdade era o meu novíssimo Amigo, com quem continuei a manter um próximo contacto, muito para além das datas festivas de ambos. O nosso General, tinha tomado em mãos uma mui nobre missão, ao cuidar com grande dedicação da sua esposa a sofrer de Alzheimer. Luís Ricardo da Silva e Costa Roncon Santos 226/1981


Pró-Memória Emygdio Cadima

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Mário João de Oliveira Ruivo

Pró-Memória

Emygdio Cadima , 1

Cultor da ciência da pesca ao serviço da sociedade e cidadão militante

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assado mais de meio século desde que nos encontrámos pela primeira vez na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa – o Emygdio a estudar matemática e eu ciências naturais/biologia – é com fraternidade que recordo uma amizade consolidada pelo tempo e pelas vivências, e reforçada pelos ideais que sempre nos animaram. Recordo, por já então ser revelador da sua personalidade, a solidariedade e empatia com os outros, designadamente com os colegas e depois Emygdio Landerset Cadima (236/1938)

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com os alunos, manifestas nas suas extraordinárias qualidades de pedagogo que viriam a marcar a sua vida profissional. Era impressionante, ainda na Faculdade, a fila à volta do Emygdio para que ajudasse a melhor compreender os conceitos e metodologias da matemática na sua aplicação. Terminado o curso e desempenhando funções no ensino superior em Angola, o Emygdio foi um atento observador do desenvolvimento da pesca comercial, procurando contribuir para uma gestão mais racional dos recursos que, embora na al-

tura aparentemente inesgotáveis, apresentavam os seus limites em confronto com as capacidades crescentes de captura. Esta sensibilidade à problemática das pescarias no pós-2ª guerra mundial, estimulada pela intensificação da procura de alimentos para responder ao descalabro mundial, seria estimulada com a sua integração como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, por um curto período, no Laboratório de Lowestof, então um dos centros de investigação mais avançados neste domínio. Neste laboratório, a sua competência como matemático no estudo da dinâmica de populações foi altamente apreciada e criou-lhe ligações de cooperação científica com os seus pares, que viriam a acentuar-se ao longo da sua carreira. Não procurarei, neste “pró-memoria” profundamente motivado pela amizade que nos ligou, resumir a vida profissional de Emygdio Cadima, acentuando porém que ela foi sempre marcada pela coerência com os valores éticos e políticos. O Emygdio passaria depois, na diáspora, pelo Laboratório canadiano de St Andrews (Canada, 1962-64) e seguidamente pelo Departamento de Pescas da FAO, quer na sua sede em Roma, quer como perito das Nações Unidas em projectos de assistência técnica em vários países do então chamado Terceiro Mundo, nomeadamente na América Latina, como Cuba. Durante este


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Pró-Memória Emygdio Cadima

investigação, reforçando a capacidade nacional em avaliação e gestão de recursos pesqueiros, cada vez mais necessária. Pelo seu significado, sublinharei a merecida homenagem que a Universidade do Algarve lhe prestou ao atribuir-lhe o doutoramento honoris causa em Janeiro de 2010, a par da atribuição de grau equivalente ao professor Daniel Pauly, um dos mais prestigiados peritos mundiais em ciências da pesca. Com o sentimento de muito modestamente contribuir para a memória do cidadão militante e cientista das pescas, recordo a valiosa contribuição de Emygdio Cadima para uma gestão mais racional das pescas portuguesas, acentuando o seu contributo como cidadão para a realização das esperanças geradas pelo 25 de Abril e para reinserir Portugal no processo conducente à plena inserção na comunidade mundial.

NOTA DA REDACÇÃO O Professor Doutor Mário Ruivo, cientista e político português, biólogo por formação e pioneiro na defesa dos oceanos, especializou-se em Oceanografia Biológica e Gestão dos Recursos Vivos na Universidade de Paris – Sorbonne, Arago Laboratory.

período é reconhecida a sua valiosa contribuição para a formação de peritos locais e o reforço das capacidades nacionais de que são marcos os manuais e cursos que regeu e os projectos que orientou. De regresso a Portugal após o 25 de Abril, tivemos ocasião de prosseguir a colaboração mantida ao longo dos anos do exílio, agora finalmente ao serviço de Portugal e dos “três D” - Democracia, Descolonização, Desenvolvimento -, procurando pôr em prática estes objectivos ao serviço do sector pesqueiro como elemento importante da economia do país. Olhando retrospectivamente para este período e para a política da Secretaria de Estado das Pescas de então (II/IV Governos provisórios – 1974/75), marcada por uma visão abrangente dos assuntos do mar, recordo a alta prioridade conferida à estruturação do Instituto Português para a Investigação do Mar, IPIMAR, de forma a responder aos requisitos científicos e de observação ambiental marinha, entre os quais a dinâmica das populações pesqueiras da costa portuguesa e de áreas distantes onde a pesca portuguesa era exercida. Emygdio Cadima contribuiu de forma relevante para este processo pelo seu exemplo e pela especial capacidade de mobilizar os colaboradores na aplicação das novas metodologias de apoio a uma gestão crescentemente marcada pelas orientações resultantes da I Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano. Foi neste quadro que procurou desenvolver a cooperação com os PALOP mobilizando projectos de assistência técnica e as ligações que tínhamos mantido no exílio com a NORAD através da FAO e de uma estreita colaboração com noruegueses, nomeadamente, do Instituto das Pescas de Bergen. Mais tarde, como investigador e professor da Universidade do Algarve, Emygdio Cadima colocou de novo as suas qualidades pedagógicas e a atenção aos seus colaboradores e alunos ao serviço do ensino e da

Na sua extensa actividade académica, profissional, política e científica, destacam-se os cargos de Presidente da Comissão Oceanográfica Intersectorial do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior; Presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável; Presidente do Comité para a Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO e Representante de Portugal no seu Conselho Executivo; Presidente do European Centre for Information on Marine Science and Technology (EurOcean); Delegado de Portugal no Marine Board da European Science Foundation; Presidente da Assembleia-Geral da Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais; Presidente da Federação Portuguesa das Associações e Sociedades Científicas; Presidente da Direcção do Fórum Permanente para os Assuntos do Mar; Membro da Direcção do Centro Nacional de Cultura; Membro da Sociedade de Geografia de Lisboa e da Secção de Geografia dos Oceanos; Membro do Conselho Consultivo da Fundação Francisco Pulido Valente; Membro do Conselho de Administração do International Ocean Institute (Malta); Membro Vitalício do Conselho Geral da Fundação Mário Soares; Membro Honorário da Ordem dos Biólogos; Vice-Presidente da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO; Membro do Conselho Consultivo da Estrutura de Missão para os Assuntos do Mar; Membro da Comissão Estratégica dos Oceanos; Encarregado da Equipa de Missão para a Candidatura de Lisboa à Sede da Agência Europeia de Segurança Marítima; Coordenador da Equipa de Missão para o Programa Dinamizador de Ciências e Tecnologias do Mar; Membro e Coordenador da Comissão Mundial Independente para os Oceanos (1995-1998); Conselheiro Científico da EXPO’98: “O Oceano – Um Património para o Futuro”; Professor Catedrático Convidado da Universidade do Porto; Secretário da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO, Paris; Director Geral dos Recursos Aquáticos e Ambiente do Ministério da Agricultura e Pescas; Presidente da Comissão Nacional para a FAO; Chefe da Delegação Portuguesa à Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar; Secretário de Estado das Pescas e Ministro dos Negócios estrangeiros; Director da Divisão de Recursos Aquáticos e Ambiente do Departamento de Pescas da FAO. Para além de numerosas publicações científicas nas áreas da Oceanografia Biológica, Ecologia e Gestão dos Recursos Pesqueiros, é autor de estudos, ensaios e artigos sobre Política e Governação do Oceano, tendo-lhe sido atribuídos vários prémios, a nível nacional e internacional. Foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Nacional de Mérito Científico (Brasil), Grã-Cruz da Ordem de Mérito (Portugal), Grande Oficial da Ordem Militar de Santiago de Espada (Portugal), Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique (Portugal), Companion, The National Order of Merit (Malta), Chevalier de la Légion d’Honneur (França).


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Os que nos deixaram

Os que nos deixaram Fernando José Pereira Galhardo (450/1934) Engenheiro Electrónico Nasceu a 17 de Janeiro de 1924 Faleceu a 2 de Março de 2016

F

ernando José Pereira Galhardo, era filho do Major Eduardo de Brito Galhardo e de D. Fernanda Jorge da Câmara Leme Fragoso Pereira de Brito Galhardo. Nasceu no Convento de Mafra a 17 de Janeiro de 1924, servindo na altura seu pai como capitão na Escola Prática de Infantaria. O seu pai integrou o Corpo Expedicionário Português que combateu em França durante a 1ª Grande Guerra e foi Comandante da Polícia Municipal de Lisboa. Era neto paterno do General Eduardo Augusto Rodrigues Galhardo (94/1857) que se distinguiu na campanha contra os Vátuas em Moçambique, comandando as Forças Portuguesas nas batalhas de Coolela e Manjacaze. As vitórias alcançadas levariam à tomada de Chaimite e à prisão do régulo Gungunhana pelo seu subordinado Capitão Mouzinho de Albuquerque. Após ter sido Governador de Macau e do Estado da Índia, regressa a Portugal tendo sido recebido, à chegada a Lisboa, pela Família Real. Foi então nomeado ajudante de campo do Rei D. Carlos. Quando faleceu em 1908 estava indigitado para Ministro da Guerra no governo de Ferreira do Amaral. Ao Museu Colegial, onde se encontram expostas, o nosso Tio Fernando ofereceu a espa-

da de Honra de seu Avô e a grande Bandeira Azul e Branca do Reino de Portugal, debaixo da qual este se bateu em Moçambique. Foram igualmente oferecidas as suas numerosas condecorações entre elas a da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, que foram recebidas com grande solenidade. O Director, com o Batalhão Colegial formado em Parada, prestou-lhe homenagem e agradeceu aos seus Familiares o valioso contributo entregue ao Museu. O Antigo Aluno Fernando Galhardo, que concluiu o curso do Colégio, foi baptizado na igreja de São Pedro em Alcântara a 14 de Março de 1924, tendo sido durante toda a sua vida um católico praticante e fervoroso. Participou em muitas iniciativas na sua paróquia de São Sebastião da Pedreira, em Lisboa. Nunca casou e não teve descendentes directos. Prestou serviço militar como oficial no Quartel de Transmissões da Graça, em Lisboa. Frequentou o Instituto Superior Técnico em Lisboa e nos 2 últimos anos da sua formação universitária a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, onde terminou a sua licenciatura em Engenharia Electrotécnica com alta classificação. A sua carreira profissional, em que prestou relevantes serviços na organização nacional

das telecomunicações, começou na antiga Emissora Nacional, onde esteve colocado durante muitos anos tendo atingido o cargo de Director Técnico. Foi chamado para a antiga Companhia Portuguesa Rádio Marconi (mais tarde integrada na Portugal Telecom), primeiro para a instalação de feixes hertzianos, depois para as comunicações por cabo e, finalmente, para as comunicações via satélite. Foi representante de Portugal em diversas conferências internacionais no âmbito da Eutelsat e da Intelsat, como participante e também como presidente, tendo nessa qualidade viajado por diversos países do mundo. Após ter atingido a idade para a reforma, foi chamado para o Instituto de Comunicações de Portugal para o cargo de assessor da Administração, onde terminou a sua vida activa aos 70 anos de idade. Manteve ao longo de toda a sua longa vida, uma relação afectiva com o “seu” Colégio Militar do qual conservava vivas e afectuosas recordações. Faleceu dormindo, por paragem cardíaca, na sua casa do Bairro Azul em Lisboa no dia 2 de Março de 2016, aos 92 anos de idade.

Eduardo Galhardo Campos Eduardo Sabino Galhardo Sobrinhos


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Os que nos deixaram

Joaquim Lopes Cavalheiro (131/1935) Oficial do Exército - Tenente General Nasceu em Elvas a 1 de Junho de 1925 Faleceu em Lisboa a 15 de Abril de 2016

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asceu em Elvas a 1 de Junho de 1925, filho de Januário Machado Cavalheiro e de Celeste Andrade Lopes Cavalheiro. Foi admitido no Colégio Militar no ano de 1935, com o n.º 131, tendo concluído o curso em 1942. Em 10 de Novembro do mesmo ano foi alistado no corpo de alunos da Escola do Exército, aqui concluindo em 1947 o curso de Cavalaria, sendo então colocado como aspirante a oficial no Regimento de Lanceiros n.º 1 (Elvas). Alferes em 1 de Novembro de 1948, desempenhou naquele regimento funções de instrutor, mas também de comandante de esquadrão de autometralhadoras; em Outubro de 1949 fez parte do esquadrão de escolta de honra durante a vista de Franco a Portugal. Promovido a tenente em 1 de Dezembro de 1951, continuou no Regimento de Elvas, agora como adjunto do comando, instrutor e comandante dos esquadrões de instrução e de formação e trem, tendo também desempenhado em acumulação funções de tesoureiro. Por ter sido colocado na Escola Prática de Cavalaria, apresentou-se nesta em 25 de Julho de 1954, sendo integrado no Grupo Escolar de Carros de Combate. Nos dois primeiros meses de 1955 frequentou no Tank Training Center do Exército Americano em WilsecK (Alemanha) o curso de carros de combate M47 e, em Julho seguinte, passou a instrutor destes carros. Em 26 de Outubro seguinte é colocado de novo no Regimento de Lanceiros n.º 1, mas mantém-se em diligência na Escola Prática onde comanda o esquadrão de reconhecimento e é instrutor dos cursos de oficiais e de sargentos milicianos. Em Maio desse ano de 1956 frequenta por ante-

cipação na Escola Prática o curso de comandante de esquadrão, em que obtém a classificação mais elevada sendo por isso louvado pelo Director da Arma de Cavalaria. Terminado o mesmo segue, em 29 de Julho, a apresentar-se no Estado Maior do Exército, onde vai servir como ajudante de campo do General Chefe até Abril de 1958. Promovido entretanto a capitão em 1 de Agosto de 1957, é novamente colocado no Regimento de Lanceiros n.º 1, para onde segue em 8 de Abril de 1958, assumindo o cargo de adjunto do comando que já anteriormente desempenhara. Ainda em 1958 é admitido à matrícula no Curso Geral de Estado Maior no ano lectivo de 1958/59, o qual decorre no Instituto de Altos Estudos Militares, em Caxias, concluindo o mesmo com a classificação de «aprovado». Em 17 de Setembro seguiu para os Açores, onde estagiou no desempenho das funções de Chefe do Estado Maior do Comando Militar da Terceira até 4 de Setembro de 1960, data em que segue novamente para o Instituto para frequentar o Curso Complementar de Estado Maior o qual conclui em Julho de 1962, sendo então colocado na 4.ª Repartição do Estado Maior do Exército (EME). Em Novembro deste ano toma parte na X Conferência dos Estados-Maiores Peninsulares, no grupo de Logística das Forças Terrestres. Em 12 de Março de 1963 segue para Angola em comissão por imposição ficando a prestar serviço na 3.ª Repartição do Quartel General, sendo promovido a Major do Corpo de Estado Maior por portaria de 7 de Novembro. Regressa à metrópole em 27 de Março de 1965, sendo colocado na 3.ª Repartição do EME, exercendo interinamente, a partir de 25

de Outubro, e em regime de acumulação, as funções de Professor Catedrático da Academia Militar. Em Novembro é aqui colocado definitivamente e em 5 de Janeiro de 1966 é provido no cargo de Professor Catedrático efectivo, continuando porém a prestar serviço no EME em regime de acumulação. Foi Director dos Cursos de Infantaria de 1965 a 1968 e do 1.º ano Especial e 3.º de Engenharia em 1969, e em Agosto de 1970 foi nomeado orientador da participação dos Cadetes no VI Colóquio Luso-Espanhol de Academias Militares. Promovido a Tenente Coronel por portaria de 30 de Novembro de 1968, continuou no exercício das anteriores funções até 11 de Janeiro de 1971, dia em que deixa a Academia Militar por ter sido nomeado por escolha, por despacho ministerial, para o desempenho do cargo de Subchefe e depois de Chefe do Estado Maior do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné, para onde segue no dia 15. Regressa à metrópole dois anos depois, em 15 de Janeiro de 1973, tendo entretanto sido promovido a Coronel a 7 deste mesmo mês. Em Fevereiro de 1973 vai para Madrid por ter sido nomeado Adido Militar e Aeronáutico junto da Embaixada de Portugal na capital espanhola, permanecendo no desempenho destas funções até meados de 1976, ou seja, no período difícil, extremamente complexo e delicado que envolveu o último ano do anterior regime, a revolução de «25 de Abril» de 1974, as convulsões e agitação que se lhe seguiram, o «11 de Março» e o refúgio do general Spínola em Espanha (de onde seria obrigado a sair em Janeiro seguinte), o movimento militar de «25 de Novembro» de 1975» a morte de Franco cinco dias antes e a consolidação do regime monárquico em Espanha.


Os que nos deixaram

Após o seu regresso é nomeado Comandante do Regimento de Cavalaria de Santa Margarida, nele se apresentando em 6 de Julho de 1976. De 19 a 26 de Maio de 1977 acompanhou o Presidente da República, general Ramalho Eanes, na sua visita oficial a Espanha, e a 8 de Julho desse mesmo ano deixou o comando do regimento para passar a prestar serviço na Casa Militar da Presidência da República. Promovido a Brigadeiro por portaria de 9 de Dezembro deste mesmo ano de 1977, é então nomeado Director do Colégio Militar, cujo cargo ocupa quatro dias antes do Natal, em 21 de Dezembro, para substituir o Brigadeiro Banazol que ali falecera havia cerca de dois meses. Apesar de ter permanecido apenas quatro meses como director, durante o seu mandato o Colégio foi condecorado pelo Presidente da República, em «3 de Março» de 1978, com a Ordem de Santiago da Espada. Foi reiniciado o tradicional desfile do aniversário na Avenida da Liberdade com missa na igreja de S. Domingos, que entretanto havia sido interrompido. Ainda, integrado nas comemorações dos 175 anos do Colégio, foi inaugurado um monumen-

José Gualberto do Nascimento Matias (245/1936) Oficial do Exército - Coronel (R) Nasceu a 12 de Julho de 1924 Faleceu a 14 de Fevereiro de 2016

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hegou à ZacatraZ a notícia do falecimento deste nosso Camarada, ocorrência que muito lamentamos. A Todos os seus Familiares apresentamos as mais sentidas condolências. Que descanse em paz.

to evocativo dispondo de uma chama simbolizando o coração do Colégio Militar que, desde então, é acesa todos os anos no dia «3 de Março», bem como o Museu Colegial nas suas actuais instalações (antigo refeitório). Em 27 de Abril de 1978, deixa a direcção do Colégio Militar e regressa à Presidência da República para trabalhar na estruturação do Serviço de Informações da República (SIR). Em 14 de Janeiro de 1980 é Director da Arma de Cavalaria, funções que desempenhou até 3 de Fevereiro de 1981, data em que foi nomeado Ajudante General do Exército. A 18 de Março, também de 1981, é promovido a General e em 16 de Fevereiro de 1983 é nomeado Secretário do Conselho Superior de Defesa Nacional (CSDN), em cujo exercício de funções permanece mesmo depois de transitar para a situação de reserva em 1 de Junho de 1984. Em 14 de Maio de 1991 deixou o cargo de Secretário do CSDN, sendo desligado do serviço. Passou à situação de reforma em 31 de Dezembro do ano seguinte. É agraciado com os graus de cavaleiro (1958), oficial (1961), comendador (1969) da Ordem

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Militar de Avis, grã-cruz da Ordem do Infante D. Henrique (1986), comenda da Ordem do Mérito Civil (1977-Espanha), grã-cruz do Mérito Militar com Distintivo Branco (1980- Espanha), grã-cruz da Ordem do Rio Branco (1987-Brasil), duas medalhas de prata de Serviços Distintos com Palma (1965 e 1970), medalhas de Mérito Militar de 3.ª classe (1954) e 2.ª classe (1969), medalhas de prata (1972) e ouro (1980) de Comportamento Exemplar, medalha de prata Comemorativa do 5.º centenário da morte do Infante D. Henrique (1961), medalha Comemorativa das Campanhas com as legendas «Angola 1963-64-65» e «Guiné 1971-72-73», duas cruzes de 1.ª classe de Mérito Militar com Distintivo Branco (1972 e 1977-Espanha), e foram-lhe conferidos 24 louvores. Texto cedido por José Alberto da Costa Matos (96/1950) História do Colégio Militar, comemorações dos 200 Anos

NOTA DA REDACÇÃO

Era membro vitalício do Conselho Supremo da AAACM.

João Joaquim de Oliveira (187/1938) Oficial do Exército - Coronel Engº do Serviço de Material Nasceu em Goa, Índia Portuguesa, a 7 de Outubro de 1927 Faleceu em Cascais a 4 de Março de 2016

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Coronel João Joaquim de Oliveira (187/1938) teve dez irmãos dos quais três foram Antigos Alunos. As histórias da preparação para a entrada no Colégio Militar e a alegria pela mesma sempre fizeram parte das reuniões de família, para chegar a “Rata” teve que ser especialmente alimentado. Teve quatro filhos, dois Antigos Alunos João Guilherme Melo de Oliveira (529/1969) e Pedro António Melo de Oliveira (451/1976), duas Antigas Alunas do Ins-

tituto de Odivelas Maria Paula Melo de Oliveira (308-IO/1971) e Maria Teresa Melo de Oliveira (308-IO/1974. Entre 1957 e 1958, Capitão, comandou a Bateria Independente de Defesa de Costa nº3 em S. Vicente, Cabo Verde, foi lá que conheceu a mulher, a Mary, e onde granjeou amizades e o reconhecimento dos militares e dos Cabo-Verdianos com quem privou durante toda a sua vida. Casou em 1959 no Mindelo na Ilha de S. Vicente, Cabo


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Os que nos deixaram

Verde, em cerimónia que ainda hoje é recordada pelos mais antigos e a que toda a Cidade assistiu. Da nota de assentos do Militar retiro que, terminou o Curso de Artilharia da Escola do Exército em 1950. Oficial de Artilharia licenciou-se em Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico tendo passado, nos termos da Lei, para o Quadro de Engenheiros do Serviço de Material do Exército. Comandou o Batalhão de Serviço de Material, sediado em Nampula na Região Militar de Moçambique, entre 1968 e 1970, e o Campo de Tiro de Alcochete entre 1970 e 1972. Chefia por três vezes a 2ª e a 1ª Repartição da Direcção de Serviço de Material cuja Direcção assumiu, interinamente, antes de passar à reserva em 1977. Entre 25 de Novembro de 1975 e até 1977 foi Director do Depósito Geral de Material de Guerra, função que desempenhou por escolha e onde confirmou as suas extraordinárias qualidades de comando. Aí, sem prejuízo das missões do Depósito, e sobrecarregado com as pesadas responsabilidades com a recuperação, classificação e manutenção de enorme quantidade de material vindo do Ultramar, planeou e dirigiu os trabalhos de modo a que fosse possível promover e recuperar a maior parte daqueles materiais de

valor significativo para a Fazenda Nacional. Aquelas funções foram exercidas em circunstâncias particularmente difíceis, em que teve que resolver problemas de disciplina e de carência de quadros. Extraordinariamente modesto mas de forte personalidade, duma grande lealdade e com correcto sentido de camaradagem conseguiu elevado prestígio entre os seus colaboradores. Professor efectivo de Mecanotecnia no Colégio Militar entre 1978 e 1982, exerceu durante 18 meses as funções de Subdirector e de Director Interino do Colégio. Foi louvado pelo General Director do Departamento de Instrução do EME, porque, tendo desempenhado o cargo de Subdirector do Colégio Militar, desenvolveu acção directiva exemplar em acumulação com as funções de Professor de Mecanotecnia. Na actividade que desenvolveu reafirmou as suas qualidades de carácter íntegro, lealdade, dedicação e competência, relevando a mais elevada aptidão para bem servir, através de uma acção objectiva e constante junto de todos os sectores da vida colegial. Como Professor soube encontrar a forma mais adequada e eficiente para a sua docência. Como Subdirector não olhou a sacrifícios para dar prioridade à resolução dos difíceis e complexos

problemas que caracterizam o exercício do cargo de Subdirector dum Estabelecimento de Ensino com tal projecção e responsabilidades, o Coronel Oliveira conseguiu transmitir aos Alunos, Docentes e Empregados um espírito de camaradagem e um modo exemplar de prestigiar as suas funções. Conhecedor esclarecido do Colégio Militar onde, como Aluno, iniciou a sua formação básica militar, o Coronel Oliveira reforçou uma imagem de respeito, consideração e estima pela sua figura de Homem e Militar, por parte de todos os que consigo contactaram. O Antigo Aluno João Oliveira (187/1938) amava a sua Família e o Colégio Militar fazia parte dessa Família, que o acompanhou e que ele abraçou até ao fim. Quem o conhecia passava a fazer parte da sua Família, era um Homem Bom. O seu grande coração, misto de amor, camaradagem e morabeza, não aguentou a antiguidade e sempre acreditou que ia ter com a Mary. O 187/1938, era o meu Pai. João Guilherme Melo de Oliveira 529/1969

Vasco Prego Rosado Durão (364/1949) Superintendente Chefe Nasceu a 21 de Abril de 1939 Faleceu a 19 de Maio de 2016

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vida não deixa de nos surpreender diariamente e sem que estivéssemos à espera o Vasco faleceu no final de Maio depois de uma intervenção cirúrgica; sabíamos que tinha problemas de saúde mas que ia gerindo com muita tranquilidade e sem alarme com grande apoio da Graça e dos filhos. Aconteceu! O coração parou!

Tive ao longo da vida uma relação muito forte com o Vasco, tanto no Colégio Militar (CM), como na Academia Militar (AM) em que fomos do mesmo Curso de Artilharia (com mais 3 AA do CM) e não há modo de disfarçar a dor. É a vida e estamos na idade em que estas situações se começam a repetir; os mais novos do Curso completam em 2016 os seus 76 anos.

Em 2007, quando dos 50 anos de saída do CM (em que no 7º ano éramos 60), o Costa Matos (96/1950) escreveu um livro com a participação de muitos do Curso e editado pela AAACM, tinham falecido 20 AA dos que passaram por este Curso; nestes últimos 9 anos (e segundo as minhas falíveis contas) terão falecido 19; como o ritmo aumentou e as dores também.


Os que nos deixaram

O Vasco era muito afectivo, mas tanto podia ser uma festa, como ser explosivo; em qualquer situação sempre foi muito leal. Durante os anos da nossa juventude estudantil jogámos juntos basquetebol e andebol de sete (ele jogava bem qualquer desporto) e tivemos com outros amigos um camarote de boca para as estreias das Revistas do Parque Mayer, além de sermos companheiros nas corridas de touros, em que ele era especialmente aficionado dos Grupos de Forcados de Évora e Montemor (era o sangue alentejano a ferver e não se podia tocar na qualidade daqueles forcados e respectivas pegas, pois reagia de imediato). No período que antecedeu os exames do 1º ano da EE/AM (Amadora) fomos estudar (+-) para casa de seus Pais em Reguengos de Monsaraz num Junho já muito quente; mais tarde estivemos no mesmo quarto em Gomes Freire no ano lectivo 1958/59 e estive com um grupo de amigos no seu casamento em 1964 num monte da família da Graça; aqui seguíamos no carro de meu Pai que avariou já na estrada Évora/Reguengos tendo o final da cerimónia sido atrasado para que pudesse ocorrer a passagem dos noivos por baixo do arco das espadas. Enfim! Tanta coisa ao longo da vida e depois começaram as comissões no então Ultramar em que nunca nos encontrámos, mas a relação de forte amizade, tam-

bém desenvolvida com as famílias, no âmbito dos AA do CM e do nosso Curso de Artilharia, nunca enfraqueceu, bem pelo contrário. Como todos os Oficiais do Exército, a partir de 1961 o Vasco iniciou uma sequência de Comissões (Angola-1962/64; Moçambique-1965/67; Guiné-1970/72) que só terminaram em 1974. Tomou parte ativa no 25 de Abril, sem que disso tivese feito qualquer publicidade ou tirado qualquer vantagem; foi também Membro da CA da EN/Radiodifusão Portuguesa entre 1975 e 1978. Em 1981 passou para a PSP onde teve uma longa, por vezes difícil e responsável carreira, tendo terminado como Comandante Metropolitano de Lisboa, funções que desempenhou de 1991/1996. Morreu, mas fica na memória de todos os que com ele conviveram e trabalharam. Uma palavra de especial de amizade e apoio para a Graça e toda a família. Que descanse em paz! Lisboa, 22 de Maio de 2016 José Eduardo Martinho Garcia Leandro 94/1950

Vasco Prego Rosado Durão, natural de Reguengos de Monsaraz, foi admitido no Colégio Militar em 1949, sendo-lhe atribuído o número 364. Em 1957 concluiu o curso deste Estabelecimento Militar de Ensino e ingressou na Academia Militar onde, em 1960, completou a licenciatura em Ciências Militares (Artilharia). Na Escola Prática de Infantaria, em 1961, complementou a sua formação com o «Curso de Métodos de Instrução» a que se seguiu um «Estágio de Artilharia Antiaérea» no Centro de Instrução de Artilharia Antiaérea e de Costa e, muito mais tarde, o «Curso de Defesa Nacional» no Instituto de Defesa Nacional, nos anos 1987/1988. Em 1987, com a patente de Tenente Coronel, transitou para o Quadro de Oficiais da Polícia de Segurança Pública onde, por reforma, concluiu em 1999 a carreira como Superintendente Chefe. Fez três comissões de serviço no Ultramar, em Angola

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1962/1964, como Comandante do Pelotão de Artilharia Antiaérea Independente 47 (mobilizado pelo Regimento de Artilharia Antiaérea Fixa, Queluz), em Nóqui e, posteriormente, na Base Aérea de Luanda. Em Moçambique 1965/1967 na 3.ª Repartição do Quartel General, como Adjunto, em Nampula. Na Guiné 1970/1972 na Companhia de Artilharia 2771 (mobilizada pelo Grupo de Artilharia Contra Aeronaves 2, Torres Novas), como Comandante, em Nova Sintra (Tite). Na Academia Militar foi Instrutor, Comandante da Formação, Chefe do Gabinete de Estudos e Adjunto da Cadeira de Tiro de Artilharia. Nos anos de 1975/1978 foi Membro da Comissão Administrativa da Emissora Nacional/ Radiodifusão Portuguesa. No período de 1979 a 1996 foi investido nos seguintes cargos: Chefe da Repartição de Informações do Comando da Zona Militar dos Açores, Comandante da Divisão da PSP do Aeroporto de Lisboa, Chefe da Repartição de Operações do Comando Geral da PSP, Subchefe do Estado-Maior / Intendente Geral do Comando Geral da PSP, Inspector da Polícia de Segurança Pública, Assessor no Ministério da Administração Interna e Comandante Metropolitano de Lisboa da PSP. Participou nas Conferências Anuais dos Comandantes das Polícias das Capitais Europeias em Londres, Estocolmo, Praga, Dublin e Berna e nos Congressos de Polícia na Sicília e em Istambul. Desempenhou missões oficiais nos EUA, Japão, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe. Foi representante do Ministério da Administração Interna na Comissão Interministerial para o Combate à Droga e na Comissão de Ajuda aos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. Foi autor de «A Comunicação Social e as Forças de Segurança – Seu relacionamento e contributo para a Defesa Nacional» - Instituto de Defesa Nacional – 1988. Foram-lhe conferidos 17 louvores e outorgadas as seguintes condecorações: Medalha de Prata de Serviços Distintos, Medalha de Mérito Militar (3ª Classe), Cavaleiro da Ordem Militar de Avis, Medalhas de Ouro de Comportamento Exemplar e 3 Medalhas Comemorativas das Campanhas (Angola, Moçambique e Guiné). Texto redigido com elementos facultados à ZacatraZ por José Alberto da Costa Matos (96/1950) Dados que constam de obras de sua autoria, já publicadas


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Os que nos deixaram

José Francisco Teles Pereira da Rosa (280/1949) Consultor/Auditor de Certificação de Qualidade Nasceu a 26 de Janeiro de 1937 Faleceu a 6 de Março de 2016

Um adeus ao nosso camarada José Francisco

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má notícia foi comunicada pelo nosso amigo Padre José Maria Braula Reis (Sócio Honorário da Associação de Antigos Alunos do Colégio Militar/AAACM). O 280 esteve connosco do 5.º ao 7.º ano, tendo sido graduado da 4.ª companhia, então comandada pelo José Maria de Avilez Corrêa de Sampaio (367/1949). Lamentavelmente, «foi para o coco» nesse ano, infelicidade que julgo nunca ter superado. Infelizmente, nem todos os nossos mestres tinham a categoria do Padre Braula Reis ou do Dr. Jaime Mota. Penso que se ofereceu para cumprir o serviço militar, tendo-lhe sido atribuído o posto de furriel miliciano, por falta de duas disciplinas do 7.º ano. Creio que prestou serviço no Regimento de Lanceiros n.º 2, onde, também, montava a cavalo. Sempre foi um grande cavaleiro, tendo montado até há pouco tempo, quando a doença se manifestou. Recordo que, muitas vezes, ele ficava para o fim na escolha de cavalos, calhando-lhe o «rei do coice» e outros cavalos menos desejados, embora o nosso curso tivesse bons cavaleiros, como o Francisco de Barahona Núncio (258/1948), o Luís Gonzaga de Castro Mendes de Almeida (285/1948) ou o Luís Alberto de Oliveira Marinho Falcão (35/1948), no 7.º ano. Aliás, dos finalistas do nosso curso, só foram oficiais do Quadro da Arma de Cavalaria, ele, o Filomeno Jorge Malheiro Garcia (311/1947) e o Manuel Júlio Matias Barão da Cunha (150/1948). Nasceu na Vidigueira, onde regressava frequentemente, sendo um dos muitos alentejanos alunos no Colégio, como António Eduardo Queiroz Martins Barrento (40/1948), os Núncios, os

Mendes de Almeida, Jorge Maria Lemos Pereira Máximo (101/1947), Luís Fernando Franco Mira (264/1948), Luís José Passanha Braamcamp Sobral (34/1948), João Augusto Serrinha Figueira (339/1947), António Francisco Martins Marquilhas (67/1943)… Oportunamente, o nosso 1.º Comandante do Batalhão, em 1948/1949, o saudoso José Maria Myre Dores (47/1942), partilhou que em vez de classificar as pessoas como de «esquerda» ou de «direita», o que interessava era se «estavam, ou não, atentos aos outros». Creio que o Zé Francisco estava. Recordo que foi um dos que mais acompanhou os anos finais do nosso camarada Luís Manuel Dias Antunes (221/1948), por exemplo; que pertenceu à Associação Coração Amarelo, vocacionada para minorar solidões; ou que tentou desenvolver solidariedade, através da nossa Associação, tendo, inclusivamente, tentado envolver alguns condiscípulos médicos, como o António Costa Gil de Sousa Prates (138/1947) ou o Francisco Manuel Alcântara Mota Ferreira (307/1947). Lembro, por exemplo, o facto de ter tentado ajudar outro Antigo Aluno, embora mais novo, que morava perto de Colares, com o apoio do camarada Manuel Agostinho de Castro Freire de Meneses (423/1955), que foi Comandante da 4.ª companhia. Com a doença do 221, o principal animador dos convívios na Feitoria, fez-se uma reunião, em 28 de Junho de 2005, com o Director do Colégio Militar, Major General Luís Medeiros, e os Antigos Alunos Eduardo José Naughton Félix Rodrigues (278/1947), José Pereira da Rosa e Manuel Barão da Cunha, tendo em

vista o reinício de convívios-almoços na Feitoria. Nova reunião no Colégio, com o mesmo Director e o Presidente da AAACM, José Eduardo Martinho Garcia Leandro (94/1950), onde, simbolicamente, foi criada a Delegação/Núcleo da Feitoria, em 13 de Setembro de 2005. Também participou o Subdirector José João Abudarham Cruz Azevedo (268/1960) e, pela delegação, Diogo Baptista Coelho (343/1947), Eduardo Rodrigues, Pedro Lagido, António Helder Monteiro de Sena e Silva (149/1948), Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves (190/1951), José Pereira da Rosa e Manuel Barão da Cunha. Por tudo isto, entre outras coisas, iremos acrescentar às placas de azulejos na Feitoria, referindo o nosso Curso, o nosso Capelão Braula Reis e três dos fundadores do Núcleo – Dias Antunes, Eduardo Rodrigues e Tito Lívio Xavier (335/1947) - o nome do Zé Francisco, sugestão que já tem a adesão do Presidente do Núcleo da Feitoria, Jorge Alberto Gabriel Teixeira (315/1947), Vice-presidente António Marquilhas, Comandante do Batalhão do Curso de 1948/1955, Mendes de Almeida, e de outros camaradas colegiais, incluindo o residente no Brasil António Pedro Pereira de Bacelar Carrelhas (159/1947) e do próprio Colégio Militar, prevendo-se que aconteça no último convívio deste ano lectivo do Núcleo da Feitoria, no próximo dia 20 de Maio, coincidindo com uma reunião do curso de 1948/1955. Manuel Júlio Matias Barão da Cunha 150/1948


Os que nos deixaram

Durante os anos do Colégio Militar não tive uma relação de amizade tão próxima e forte com ele, como com outros companheiros do curso 1947-1955, no entanto sempre o considerei uma “pessoa fixe”. Entretanto, passaram os anos e perdi de vista o José Francisco. Foi um hiato de relação de 40 anos. Com o início da tertúlia da Feitoria, nos anos 90, e sobretudo depois de me reformar em 2001, é que a nossa relação se retomou e aprofundou. Tivemos muitas conversas sobre a sua vida profissional, falámos sobre os problemas da qualidade na indústria dos quais era um conhecedor profundo, assim como da eletricidade industrial e do melhoramento do desempenho de funções. Também me comunicou os seus anseios de solidariedade social e falava com grande entusiasmo. Colaborámos juntos num colóquio, que teve lugar nas instalações da AAACM. Falou-me muitas

vezes dum projecto de solidariedade para com Antigos Alunos em situação de dificuldades e carência económica, nas vertentes de assistência jurídica e de saúde, contando com a colaboração gratuita de Antigos Alunos e a ter lugar em instalações da Associação. Imaginou, ainda, um projecto de uma organização de solidariedade social, cujos estatutos redigiu e me mostrou e que estavam primorosamente pensados e redigidos. A sua mulher adoeceu gravemente e ele passou a acompanhá-la, com total empenhamento, pondo de lado outros projectos. Finalmente, adoeceu. Agora morreu. Dói! Foi uma vida que ”valeu” e que se acrescentou à longa marcha da Humanidade! Creio que está com Deus! Pedro do Canto Lagido 330/1947

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Pereira da Rosa, Pedro Lagido, Serrinha Figueira, Joaquim Manuel Trigo Mira Mensurado (252/1946), entre outros, acompanharam regularmente o Padre Braula Reis num convívio semanal que se desenvolveu nos últimos anos de permanência do nosso Capelão em Lisboa. Mesmo com ele a residir em Ançã, alguns de nós temos podido lá ir. No seu último aniversário, participámos Pedro Lagido, Mendes de Almeida, José Eduardo Fernandes de Sanches Osório (210/1951) e Manuel Barão da Cunha, tendo telefonado vários Antigos Alunos, dos quais o José Alberto Lopes Carvalheira (301/1946). O Padre Braula Reis lamentou que «tivessem cortado as pernas» ao 280, não lhe tendo permitido ir para a Escola do Exército e fazer a carreira que ele desejava.

Manuel Severino Matias do Nascimento (273/1952) Arquitecto Nasceu a 28 de Abril de 1940 Faleceu a 5 de Março de 2016

Jamais te esquecerei

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m 1956/57, no conjunto de graduados da 1.ª Companhia havia três que, por não residirem em Lisboa, passavam vários dos fins-de-semana dentro do Colégio, durante os quais iam acompanhando e ajudando os alunos mais novos que também ali permaneciam por também não terem família na capital. Um deles era eu (96/1950), outro era o Santos Clara (368/1949), por alcunha o “Diabo” e o terceiro era o Matias do Nascimento (273/1952), um algarvio de feições árabes a quem, por ser alto e magro,

logo havíamos posto a alcunha de “Esteca” quando entrou para o 3.º ano do meu curso. A nossa continuada permanência dentro do espaço colegial, aliada ao facto de sermos todos graduados na mesma Companhia, acabou por gerar entre nós uma grande amizade e fortes laços de camaradagem. E de tal modo isso era perceptível pelo resto do Curso que passámos a ser conhecidos pelo “Triunvirato” ou, como preferia o Nascimento, por “Trempe”. O 273 era um jovem discreto e pouco falador, um amigo sincero e um íntegro respeitador dos valo-

res que o Colégio nos ensinava e que ele haveria de preservar e praticar ao longo de toda a sua vida. Naquele tempo, tal como agora e como sempre, quando se chegava ao 7.º ano (que então era o último ano do curso) a “veterania” implicava a assunção de outras responsabilidades que não apenas as escolares e, no caso do Matias do Nascimento, além de graduado foi também nomeado para integrar a direcção da revista “O Colégio Militar” tendo por companheiros dois dos melhores de entre nós: o 199, Pedro Leitão e o 189, Serpa Soares.


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Os que nos deixaram

Recordo-me também que, por apelo do indefectível espírito de camaradagem que é timbre dos “Meninos da Luz”, o “Esteca” e os seus dois parceiros do “Triunvirato” acabaram por tornar-se... barbeiros ocasionais! É verdade e expliquemos porquê. O Zé Ramalho, barbeiro colegial, nem sempre conseguia dar vazão ao ritmo a que cresciam os cabelos a quatro centenas de adolescentes, acontecendo por vezes que, na revista que era feita durante a formatura que precedia a marcha para o refeitório, era detectado pelo oficial de dia um ou mais alunos com uma “trunfa” não condizente com os padrões estabelecidos. Quando tal acontecia lá se ia o fim-de-semana como castigo o que, para os mais pequenitos, de quem éramos graduados, era especialmente doloroso. Perante isto, resolvemos, durante a meia hora de intervalo que ia até ao almoço, abrir a barbearia que ficava ao lado da secretaria da 1.ª Companhia (cujo edifício já não existe), e ali dar “uns toques” nas guedelhas dos mais necessitados. Nunca nos saímos muito mal pois não tenho memória de reclamações. E chegámos até a adquirir uma experiência tal que até deu lugar a que a nossa “actividade” viesse a ser reclamada por camaradas mais velhos Mas a mais engenhosa faceta da “Trempe”, como gostava de nos apelidar o 273, ocorreu após os exames finais, quando já estávamos prestes a deixar de vez aquela que, durante sete anos, fora a “nossa casa”. No âmbito das responsabilidades suplementares dos finalistas, ao Santos Clara coubera-lhe desempenhar as funções de adjunto da Secção de Fotografia e Cinema então chefiada pelo tenente Óscar Lopes, nosso instrutor militar e antigo aluno. Nestas circunstâncias, o “Diabo” era alguém que dispunha de acesso privilegiado aos equipamentos de cinema utilizados no Colégio. Acontecia ainda que, naquele tempo, entre o piso térreo do edifício do claustro e o edifício onde estava instalada a 1.ª Companhia, havia um pátio com uns seis ou sete metros de largura que dava acesso a três dependências da Companhia que ficavam mesmo por baixo do assoalhado da Biblioteca, assoalhado esse que era simultaneamente o tecto dessas dependências: uma era a sala de graduados da 1.ª e do Comando do Batalhão, outra era uma arrecadação geral de material diverso e a terceira servia de vestiário aos fâmulos em serviço na 1.ª Companhia. Do lado oposto ficava um corredor envidraçado de acesso aos claustros, uma porta de comunicação com o geral da 1.ª Companhia e a sala de aulas n.º 20.

Para minimizar o nervoso que decorre até se- durante a Guerra do Ultramar. Só voltei a enconrem afixadas as notas dos exames, o “Esteca” o trar-me com ele nas reuniões que o nosso Curso “Diabo” e eu estudámos um estratagema capaz fez já depois de terminado o conflito ultramarino. Continuava a exercer arquitectura no Algarve, de o atenuar. Para o efeito os finalistas concentraram-se na sala de aulas n.º 20 enquanto de- mas veio a ter desinteligências com a autarquia corria na Biblioteca a reunião do Conselho Esco- de Albufeira, talvez porque valores como a honra, lar para anúncio das notas de exame, por aluno o dever, a honestidade e o respeito pelos outros e por disciplinas. Nessa sala de aula o “Triunvira- (que o Colégio lhe ensinara), fossem incompato” instalou a máquina de projectar de 16 mm tíveis com outros conceitos e interesses prevacom o respectivo altifalante ligado. À máquina lecentes. Para não pactuar com aquilo de que foi conectado o respectivo microfone (que só magoava a sua consciência, decidiu deixar para era ligado a ela quando tinham que ser efectua- sempre a arquitectura e, quase ao cair do século dos comentários durante a projecção de filmes XX, criou na sua terra de origem a Sociedade de mudos), e o seu extenso cabo saindo através de Panificação Bem Parece, Ldª., à qual veio a dediuma janela da sala de aulas, atravessava discre- car com sucesso os últimos anos da sua vida. Meu caro Matias do Nascimento, agora que tamente o pátio e ia largar o microfone no interior da tal arrecadação de material cujo tecto nos deixaste, quero que saibas que jamais te era, como já referi, a parte inferior do soalho da esquecerei, bem como o “Triunvirato” do qual Biblioteca, através do qual podiam ser ouvidas fazias parte. Um dia destes iremos encontrar-nos... e de todas as falas que ali tivessem lugar. Dentro da arrecadação posicionou-se o “Triun- barretina na lapela! virato”: o Nascimento, de microfone em punho José Alberto da Costa Matos e ouvido colado ao soalho, ia relatando em di96/1950 recto para a sala 20 o que se decidia ou discutia no Conselho Escolar; eu, atentamente, ia registando em papel as “nossas” pautas para o caso de existirem dúvidas, e o “Diabo” mantinha operacional a parte técnica. Foi assim, através deste engenhoso esquema, que fomos sabendo em cima da hora as notas que a cada um iam sendo atribuídas. Quando deixámos o Colégio o “Triunvirato” desfez-se. O Matias do Nascimento foi para arquitectura e eu e o Santos Clara para a então designada Escola do Exército. Terminados os cursos, o “Esteca” foi exercer a profissão para a sua terra natal, enquanto eu e o Santos Clara ini- António José Nunes da Silva Bagulho (64/1950), Manuel Severino Matias do Nascimento ciámos treze anos de (273/1952), José Alberto da Costa Matos (96/1950) e Manuel Alberrto Botelho dos Santos sucessivas comissões Clara (368/1949)


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