1
2
Editorial Revista “ZACATRAZ”
3
Carlos Francisco da Silva do Rio Carvalho (307/1971) Membro da Direcção
Editorial Pátio dos Fâmulos
U
ma placa marca hoje o local do antigo Pátio dos Fâmulos. Durante muito tempo, o pessoal de apoio que limpava e servia à mesa recebia essa designação, depois substituída pela de “serventes”. Mas nunca houve nem haverá nenhuma toponímia associada ao termo “servente”. À alvorada, o Moca entrava na primeira camarata da 4ª empunhando uma vara com um pequeno gancho na ponta, abria as luzes nos disjuntores e usava a vara para abrir também todas as janelas altas. Nas manhãs gélidas de inverno ainda noite, o frio entrava imediatamente. A malta protestava e o Moca progredia, orelhas moucas aos protestos. Em quinze minutos estávamos formados para o pequeno-almoço e o Moca já estava no seu cubículo a preparar os baldes e as esfregonas para limpeza da casa de cento e cinquenta rapazes. À hora da ginástica já tudo estava lavado, sobre as camas as roupeiras tinham colocado os sacos de chita aos quadradinhos azuis e brancos com a muda de roupa, a toalha e o sabonete. Eles conheciam-nos a todos. Como não tinham qualquer poder disciplinar mantinham connosco uma relação informal e familiar e sobre nós uma vigilância neutra mas eficaz. Portanto, se algo ameaçasse a normalidade eles estavam na primeira linha da deteção e controlo do problema. Nada no nosso mundo escapava ao radar desses fâmulos. Muito escapava porém à atenção dos “vigilantes” e dos “cães” a quem activamente enganávamos, por prazer e recreio. Os serventes eram bastante multifuncionais e valiam bastante mais do que o muito pouco que ganhavam. Felizmente, podiam fazer um inocente comércio local de produtos (chocolates, bolos e pastilhas elásticas) e serviços (limpeza de fardamentos, a que algumas mães queriam poupar os rebentos). Até nisso eram úteis, proporcionando algum conforto adicional à nossa vida
e, acima de tudo, a experiência de valorizarmos esse pequeno conforto. Os serventes eram pessoas simples, mas com a perfeita noção da instituição que serviam e da missão implícita que nela desempenhavam. Os serventes eram uma componente importante de um modelo eficiente de gestão do Colégio e do internato em particular. E nessa eficiência difícil de atingir, incluía-se a forma de relaciona-
mento com os “Senhores Alunos”, próximo e tão familiar, que não haverá nenhum Antigo Aluno que os recorde senão com respeito e afecto. Só nas instituições muito depuradas se atinge este grau de perfeição, expressa na maior singeleza. Neste momento de transformações, com justificação obscura e resultado incerto, é bom olhar para trás e recordar o muito que foi possível fazer com recursos limitados, explorando os
ensinamentos de décadas de evolução de um modelo ajustado às necessidades reais do Colégio. Aliás, a eficiência e multifuncionalidade dos serventes era só um exemplo de outras componentes eficientes na organização do Colégio como a gestão dos professores ou a organização do espaço físico. O termo “servente” está associado à ação de servir e servir é importante. Mas, diz quem sabe, que se mergulharmos nas origens do latim, a palavra fâmulo tem raiz na palavra “casa”, onde nos fixamos, estabelecemos e vivemos. De tal forma, que no Colégio existe uma placa que diz onde era (é), o Pátio dos Fâmulos. 2015 será o ano do centenário do “Moca”. Os que têm menos de quarenta anos não se recordam dele em pessoa, conhecerão a alcunha e um ou outro vago episódio contado por alguém mais velho. Chamava-se Cândido Gomes Alves, era minhoto de Barcelos de onde veio para a tropa e para o Colégio. De 1936 a 1983 o Moca foi soldado e depois servente (Fâmulo) no Colégio, quarenta e sete anos em que todos os dias fez apenas coisas simples. Os episódios e o pitoresco da personagem, são uma expressão alegre e colegial da dimensão profunda do seu serviço. Em três momentos importantes de 2015 vamos celebrar o “Moca”. Convidamos todos os que o conheceram, a enviar para a Associação o relato dos episódios e os documentos que tenham ou encontrem, sejam textos, fotografias ou filmes, para que melhor possamos ilustrar o seu papel na nossa história. Sejam rápidos, que 2015 está já aí. Nós temos de contar esta história bem contada aos actuais Alunos do Colégio, para que eles o entendam e melhor possam honrar o seu passado.
4
Ficha Técnica
CORPOS SOCIAIS DA ASSOCIAÇÃO PARA O TRIÉNIO 2014-2016
Ficha Técnica PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL Fundada em 1965 Nº 197 Outubro/Dezembro - 2014 FUNDADOR Carlos Vieira da Rocha (189/1929)
DIRECÇÃO Presidente Vice-Presidente Secretário Tesoureiro 1º Vogal 2º Vogal 3º Vogal 4º Vogal 5º Vogal 1º Vogal Suplente 2º Vogal Suplente 3º Vogal Suplente
DIRECTOR Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949)
António José Sousa Valles e Saraiva de Reffóios - 529/1963 José António Madeira de Ataíde Banazol - 631/1968 Pedro Miguel Correia Vala Chagas - 357/1977 Vítor Manuel Galvão Rocha Novais Gonçalves - 666/1971 Carlos Francisco da Silva do Rio Carvalho - 307/1971 Pedro Manuel do Vale Garrido da Silva - 53/1961 Luís Baptista Esteves Virtuoso - 72/1973 José Afonso Correia Lopes - 237/1976 José Nuno Castilho Ribeiro Pereira - 233/1973 Miguel Assis das Neves Carneiro de Góis - 188/1983 Gustavo André dos Santos Lima – 248/1994 Afonso Castelo dos Reis Lopez Scarpa - 222/2000
CHEFE DE REDACÇÃO Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957) REDACÇÃO Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950) Pedro Manuel do Vale Garrido da Silva (53/1961) João Carlos Agostinho Alves (110/1996) CAPA O mais condecorado Estandarte Nacional © Foto Sérgio Garcia (326/1985) ENTIDADE PROPRIETÁRIA E EDITOR Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar MORADA DO PROPRIETÁRIO e SEDE DA REDACÇÃO Quartel da Formação - Largo da Luz 1600-498 Lisboa Tel. 217 122 306/8 Fax. 217 122 307
ASSEMBLEIA GERAL Presidente Vice-Presidente 1º Secretário
António José Fonseca Cavaleiro de Ferreira - 332/1950 Duarte Manuel Silva da Costa Freitas - 199/1957 João Miguel Jardim de Abreu Ferreira Pinto - 261/1980
TIRAGEM - 1350 exemplares DEPÓSITO LEGAL Nº 79856/94 DESIGN E EXECUÇÃO GRÁFICA: Tm. (+351) 933 738 866 Tel. (+351) 213 937 020 info@smash.pt www.smash.pt
CONSELHO FISCAL Presidente 1º Vogal 2º Vogal 1º Vogal Suplente 2º Vogal Suplente
José Manuel Spínola Barreto Brito - 539/1963 Eurico Jorge Henriques Paes - 306/1957 José Francisco Machado Norton Brandão - 400/1961 António Emídio da Silva Salgueiro - 461/1972 João Luís de Mascarenhas e Silva Schoerder Coimbra - 54/1984
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS SÓCIOS DA AAACM Isenta de registo na Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), ao abrigo do nº 1 da alínea a), do Artigo 12º do Decreto Regulamentar nº 8/99, de 9 de Junho. Os artigos publicados são da responsabilidade dos seus autores. Esta publicação não segue o novo acordo ortográfico.
NA AAACM PODE ADQUIRIR
35€
25€
40€
25€
8€
15€
14,50€
21€
15€
15€
20€
25€ -15€ -15€ -7,50€
30€
20€
8€
3€
6€
NO VO
35€
Sumário
04 Do alto desta Cúpula, Dois Séculos de História vos contemplam...
06 Pelo Instituto de Odivelas 15 Jantar Anual da Associação Pestana Palace Hotel
20 Antigos Alunos em Destaque
5
07
Colégio Militar Berço de Grandes Portugueses.
28 Encontro de Comandantes do Batalhão 29 Engenheiros Militares, Meninos da Luz 31 Alma & Orgulho 43 Curso de 1937/1944
Romagem dos 70 Anos de Saída
44 Curso de 1976/1984
Romagem dos 30 Anos de Saída
16
Comemoração dos 111 Anos da AAACM. Homenagem à Velha Guarda.
45 Curso de 1984/1992
Romagem dos 30 Anos de Entrada
46 Curso de 1994/2002
Romagem dos 20 Anos de Entrada
47 O Batalhão em números
ou a anatomia de um crime
60 Tiro desportivo na Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar
63 Antigos Alunos nas Artes e nas Letras 65 "Amarelo de Carne" património colegial 66 Protocolo AAACM - MGEN para Seguros de Saúde
68 Campeonato do Mundo de Fórmula 1 - 2007
70 Projecto Fim do Império resumo e perspectivas
75 Os que nos deixaram
33
Abertura Solene do Ano Lectivo.
49 Entrevista a José Eusébio Pereira Barata Cordeiro de Araújo (591/1973).
6
Do alto desta Cúpula, Dois Séculos de História vos contemplam...
Mestre Isabel Meirelles 1
Do alto desta Cúpula, Dois Séculos de História vos contemplam... Nota da Redacção Texto transcrito da Revista Militar Nº 2/3, Fevereiro/Março de 2003, dedicada ao bicentenário do nosso Colégio, por amável deferência da Direcção desta publicação, de grandes méritos consagrados ao longo tempo. Aqui registamos o nosso agradecimento pela disponibilidade sempre manifestada no apoio solicitado pela ZacatraZ.
O
s tempos correm céleres e vertiginosos na história da vida das pessoas e das instituições, pelo que dois séculos de permanência sólida têm que ser celebrados com entusiasmo e galhardia, pelos que já passaram e pelos que hão-de vir. Entusiasmo, porque o Colégio Militar é uma instituição de elite que ombreia com as melhores escolas do país e da Europa, que conseguiu resistir à erosão dos tempos e dos costumes. Galhardia, porque em tempo de globalização e de concorrência feroz e impiedosa, onde a revolução tecnológica sucedeu à revolução industrial, e a pressa dita todas as regras, percebeu-se que, estrategicamente, é preciso investir no princípio e nos princípios e sobretudo nas bases e fundamentos. Bases educacionais e fundamentos éticos que são outros tantos pilares de conduta.
...o Colégio Militar é uma instituição de elite que ombreia com as melhores escolas do país e da Europa, que conseguiu resistir à erosão dos tempos e dos costumes. Fundamentos, no essencial da educação e da formação na senda da melhor tradição iluminista europeia que é também um dos pilares da construção comunitária, que conseguiu triunfar sobre a barbárie medieval e evoluir através do espírito renascentista. Ou não fossem os alunos do Colégio Militar, que sempre o serão, mesmo já não o sendo, a fazerem jus ao nome de Meninos da Luz. De resto, não é de forma gratuita que, nos anos noventa do século XX, se consagra no
Tratado da União Europeia, uma política comum de educação que visa o desenvolvimento desta com qualidade e dimensão europeia. Dimensão europeia que começou politicamente por se construir em teses como as de Jean-Jacques Rousseau, Montesquieu e Jonh Locke, consolidadas através do poderio militar com descobertas fundamentais em termos práticos para a supremacia europeia como o astrolábio e a bússola magnética, bem como a pólvora para canhão. No entanto, no essencial do humanismo iluminista liberal europeu, desenvolvia-se um sistema de explicação geral do universo e de enquadramento do próprio conhecimento iniciado por Copérnico e Galileu. Contudo, talvez a mutação mais crucial ocorre quando o universo passa a ser observado de forma racional e a funcionar de acordo com uma visão causal por homens que
1 Licenciada em Direito (FD/UL-1977). Mestre em Política Internacional e Direito Comunitário (Universidade Lusíada – 1966). Curso de Defesa Nacional (IDN – 1981).
Diplomada em Hautes Études Europeennes, vertente de direito, no “College d’Europe” (Bruges/Bélgica – 1983). Doutoranda em Direito Comunitário pela Universidade Lusíada.
Do alto desta Cúpula, Dois Séculos de História vos contemplam...
...os alunos do Colégio Militar, que sempre o serão, mesmo já não o sendo, a fazerem jus ao nome de Meninos da Luz. estão acima da natureza e a dominam, como Descartes e Newton. Por outro lado, este centralismo humanista leva a uma preocupação com a economia como meio de satisfazer a liberdade, o desenvolvimento, o progresso e o bem-estar. Herdeiro deste espírito iluminista, o Colégio Militar desenvolveu ao longo destes dois séculos não só uma tradição de saber e de conhecimento, como aplicou de forma magistral a tese tão dificilmente concretizada nas nossas escolas de mens sana in corpore sano. Não apenas no sentido de uma actividade física permanente que estimula com maior acuidade o intelecto, mas também por toda a disciplina e método que comporta o seu desempenho, componentes essenciais para a flexibilidade, produtividade e competitividade. Só assim é possível formar cidadãos e profissionais capazes de prover à riqueza das nações que, mais não faz do que subjazer, a uma sólida formação de base, construída a partir de valores éticos essenciais.
...o Colégio Militar desenvolveu ao longo destes dois séculos não só uma tradição de saber e de conhecimento, como aplicou de forma magistral a tese tão dificilmente concretizada nas nossas escolas de mens sana in corpore sano. Por outro lado, é verdade que nenhuma política europeia, como a da educação, consubstancia melhor na sua prossecução dos seus objectivos, o princípio da subsidiariedade o qual prevê, nomeadamente, que a decisão seja tomada ao nível mais próximo do cidadão. Ora isto implica políticas autónomas por parte dos Estados membros, mas também pelas próprias escolas dentro de cada país, recomendando-se, ao nível comunitário, a troca de experiências visando a avaliação das melhores práticas, de que o Colégio Militar é exemplo pioneiro. Tudo porque a Europa e, por consequência os seus Estados, estão as-
7
sentes, no fundamental, numa óptica economicista de desenvolvimento, sem no entanto esquecer, por maior que seja a tentação, que ela passa por investir nas suas pessoas e, desde logo, na formação de base dos jovens. Esta óptica economicista exige flexibilidade, designadamente a capacidade de mutação e de adaptabilidade ao longo da vida que o Colégio Militar propícia amplamente pela diversidade de situações curriculares, extracurriculares e, ainda, lúdicas que apresenta aos seus alunos.
ropa na maior potência mundial, baseada na sociedade da informação, comunicação e do conhecimento, e por arrasto Portugal, inserido indelevelmente na União Europeia. O Colégio Militar está, em suma, cimentado por um forte espírito de unidade e de excelência, identificado pelo orgulho com que os seus alunos e ex-alunos usam, há dois séculos, a barretina, símbolo de tantas vivências preciosas que têm contribuído com orgulho para o que de melhor se faz em Portugal, na Europa e no Mundo.
...nada disto faria sentido se não fosse ancorado em valores e princípios éticos, nomeadamente de lealdade, de solidariedade, de verdade e transparência.
O Colégio Militar está, em suma, cimentado por um forte espírito de unidade e de excelência, identificado pelo orgulho com que os seus alunos e ex-alunos usam, há dois séculos, a barretina, símbolo de tantas vivências preciosas que têm contribuído com orgulho para o que de melhor se faz em Portugal, na Europa e no Mundo.
Prepara também para um desempenho de produtividade através de um ensino de excelência, que alia a tradição à evolução, através de uma metodologia e disciplina indispensáveis para a gestão de qualquer profissão ou carreira. Munidos destas ferramentas, aquela produtividade quase que surge espontânea, dado que fazer melhor e depressa é, em suma, a vivência do quotidiano do Colégio e um dos seus lemas. No entanto, nada disto faria sentido se não fosse ancorado em valores e princípios éticos, nomeadamente de lealdade, de solidariedade, de verdade e transparência. Recordem-se os últimos escândalos, por exemplo da Eron nos Estados Unidos, que minaram a confiança dos americanos, responsáveis em definitivo, pela recessão causada pelos pós 11 de Setembro. Começa, assim, e por cause, a estar na moda a exigência de empresas, de instituições e, logo, de pessoas eticamente correctas. Forjado neste espírito de corpo, os alunos do Colégio Militar formam uma elite, indispensável para a prossecução de objectivos nacionais e europeus, no caso, tornar a Eu-
Forjado neste espírito de corpo, os alunos do Colégio Militar formam uma elite, indispensável para a prossecução de objectivos nacionais e europeus...
8
Pelo Instituto de Odivelas
Gabriela Canavilhas *
Pelo Instituto de Odivelas Nota da Redacção Texto transcrito por amável deferência da sua autora e que foi publicado no Jornal OJE, no dia 24 de Outubro de 2014.
Q
uando um dia recordarmos este período de influência da Troika em Portugal, cujo modelo de economia liberal foi elogiado e seguido por Passos Coelho como o meio ideal para poder implementar uma viragem radical na concepção social do nosso país, será bom não esquecermos nenhuma das muitas instituições nacionais que foram, uma a uma, e pouco a pouco, vendidas, destruídas e encerradas. Tentemos não as esquecer, porque foram muitas e algumas de enorme importância histórica e simbólica. É fácil destruir em 3 anos o que levou décadas ou séculos a construir – faz-se, sem remorso nem consciência, por decreto, ou até com um simples despacho, como o que extinguiu em 2013 o Instituto de Odivelas (IO) fundado em 1900, com 113 anos de história a servir a Educação de excelência em Portugal. Com a desculpa de que o IO não é extinto mas apenas fundido com o Colégio Militar (fundado em 1803) e que assim se põe fim à descriminação feminina que impedia a frequência de meninas no Colégio Militar, esta fusão, estúpida, des-
virtua, compromete e descaracteriza também o Colégio Militar, outra instituição simbólica, escola inicial de insignes individualidades nacionais nas mais diversas áreas, cuja essência é também posta em causa com esta medida duplamente funesta. Como é que Portugal se pode dar ao luxo de destruir símbolos do melhor que fomos conseguindo criar e aperfeiçoar, com esta ligeireza? A reforma das escolas militares levada a cabo pelo Ministério da Defesa, com o acordo do Ministro da Educação, demonstra como o governo ignora a essência das matérias em que mexe. Ignora o que faz das Meninas de Odivelas um exemplo de excelência no ensino em Portugal; ignora o que está para além do estrito cumprimento dos programas e metas curriculares; ignora o sentimento de corpo, de pertença, de partilha e de solidariedade que marca as alunas que por lá passaram; ignora os conceitos de ética e os valores que se cultivam naquela escola para toda a vida; ignora que entre algumas das mais proeminentes mulheres na sociedade por-
tuguesa estão ex-alunas de Odivelas, que nunca precisaram de frequentar colégios mistos para se afirmarem. Por isso, só pode ser por ignorância e preconceito que o governo resolve extinguir aquela que é a 2ª melhor escola no ranking das escolas públicas portuguesas no secundário. Para além disso, trata-se afinal de uma medida despesista, que obriga à construção de um anexo de vários milhões no Colégio Militar para alojar as meninas e ao desperdício das actuais instalações, bem equipadas e mantidas, com laboratórios e com todo o tipo de meios complementares de aprendizagem. Este assunto é de interesse nacional e o interesse nacional está a ser lesado com a destruição do Instituto de Odivelas, com a desvirtuação apressada do Colégio Militar e com a diminuição das opções de escolha. Tudo isto devido à incapacidade do Ministro da Defesa em perceber que o Instituto de Odivelas enriquece e acrescenta o país, em vez de o diminuir.
* Maria Gabriela da Silveira Ferreira Canavilhas Pianista de formação (curso Superior de Piano do Conservatório Nacional de Lisboa e licenciatura em Ciências Musicais pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa), desempenhou diversos cargos públicos, entre os quais o de Ministra da Cultura do XVIII Governo Constitucional, Directora Regional da Cultura dos Açores, Presidente da Orquestra Metropolitana de Lisboa e Presidente da Academia Superior de Orquestra. Pertence ao quadro do Conservatório Nacional de Lisboa. Actualmente é Deputada na Assembleia da República, membro do Conselho Geral da Universidade Aberta, membro do Conselho de Administração da Fundação Oriente e membro da Academia Internacional de Cultura Portuguesa. Diploma de Mérito pela Accademia Musicale Chigiana de Siena, 1º Prémio no V Concurso Internacional "Città di Moncalieri" em Turim, 1º Prémio em Musica Erudita pelo Clube Português de Artes e Ideias, 1º Prémio Dame Ruth Railton. Foi fundadora e Directora do Festival MusicAtlântico dos Açores, apresentou diversos programas na RDP Antena 2 e foi autora e apresentadora do programa Obra Prima na SIC Notícias sobre Museus Portugueses. Como pianista apresentou com frequência vários recitais integralmente dedicados à música Portuguesa, em Nova Iorque, Itália, Brasil, Macau, Alemanha e Canadá, tendo gravado 7 CDs. Foi agraciada com a Insígnia Autonómica de Reconhecimento pela Assembleia Legislativa Regional dos Açores.
Colégio Militar Berço de Grandes Portugueses
9
José Alberto da Costa Matos 96/1950
Colégio Militar
Berço de Grandes Portugueses Nota Introdutória
N
o 3 de Março de 2013 foi feita a apresentação e lançamento do livro “Colégio Militar – Berço de Grandes Portugueses”, da autoria do nosso Camarada José Alberto da Costa Matos (96/1950), onde se apresentam sínteses biográficas de 100 personagens que se distinguiram nos mais variados campos Militares e Civis das Ciências, das Artes, das Letras e da Política, tendo todos o denominador comum de terem sido Alunos do Colégio Militar. O livro de excelente aspecto gráfico, de riquíssimo conteúdo histórico e de registo de acontecimentos e acções valorosas protagonizadas pelos biografados, constitui uma obra valiosa para a história do Colégio e para quem queira conhecer melhor alguns dos nossos antecessores ilustres pelo seu elevado contributo dado à Pátria. Não sendo o livro, pela dimensão da sua tiragem, acessível a todo o universo dos Meninos da Luz e a todos aqueles que com eles se relacionam e se interessam pelo Colégio, nasceu a ideia de publicar essas biografias na ZacatraZ, dando assim delas conhecimento
a um número mais alargado de leitores. Posta a questão ao José Alberto da Costa Matos, de imediato acarinhou a ideia e, como é seu timbre, prontamente disponibilizou meios e apoio para a realização deste projecto, alertando que se se colocarem 2 biografias por número serão precisos mais de 12 anos para publicação de todas elas, dada a periodicidade da revista. É uma realidade que terá de ser apreciada por quem em todo o tempo estiver na missão de dar luz à publicação da ZacatraZ, dando ou não continuidade ao propósito que agora se inicia. Independentemente do que o futuro determinar, vamos ”pôr mãos à obra” iniciando neste número a publicação de três biografias na altura em que se comemora o centenário do início da Grande Guerra 19141918, flagelo que destroçou a Europa e onde se perderam milhões de vidas, apresentando Antigos Alunos que serviram a Marinha, o Exército e a Aviação, homenageando assim todos aqueles que se bateram heroicamente nessa página negra da História, que nos seus
primórdios, o nosso Camarada Luís Barbosa (71/1957) designou com “a louca corrida para o abismo”. Para a escolha do elemento representativo do Exército contribuiu também o facto de entre 12 de Setembro e 23 de Novembro de 2014 ter estado em exposição, na sala temporária do Museu Bordalo Pinheiro, em Lisboa, um interessantíssimo conjunto de obras da autoria João Guilherme Menezes Ferreira (132/1900), designada por “Menezes Ferreira, capitão de artes”. Esperamos, desejamos e estamos convictos de que esta iniciativa será do agrado dos leitores da ZacatraZ.
Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949) Director da ZacatraZ
10
Colégio Militar Berço de Grandes Portugueses
António Alemão Cisneiros de Faria (134/1889) Oficial de Marinha
N
asceu em Lisboa a 9 de Julho de 1879, filho António Alemão de Mendonça Cisneiros e Faria e de Maria Brito Loures Cisneiros. Estudou no Colégio Militar, onde foi admitido como aluno em 1889, sendo-lhe atribuído o n.º 134. Concluiu o curso colegial em 1895, alistando-se então como voluntário, indo frequentar os estudos preparatórios na Escola Politécnica, após os quais foi transferido para a Armada, ingressando como aspirante de marinha na Escola Naval, em 1897, tendo terminado o curso de oficial de Marinha em 1900, sendo então promovido a guarda-marinha a 8 de Setembro desse ano. Ao longo da sua carreira ascendeu, sucessivamente, a 2.º tenente em Janeiro de 1903, a 1.º tenente em 1911, a capitão-tenente em 1918, a capitão-de-fragata em 1930 e a capitão-de-mar-e-guerra a 1 de Novembro de 1935.
Em 1903, após ter sido promovido a 2.º tenente, foi colocado na Esquadrilha de Lourenço Marques (Moçambique). Inicialmente fez parte da guarnição da canhoneira “Bengo” e, de Dezembro de 1903 a Fevereiro do ano seguinte, comandou a lancha-canhoneira “Lacerda”. Recolheu a Lisboa em 1904, passando então a servir no cruzador “Adamastor”. Durante a sua permanência em Moçambique colaborou no plano hidrográfico do fundeadouro de Nacala e na rectificação do croqui da barra e porto de Sangone bem como a respectiva balizagem. De 27 de Maio a 10 de Junho participou nas operações em Angoche, destacando-se a sua actuação em Sarja, a 6 de Junho, na qual, comandando a 1.ª secção de artilharia, executou o bombardeamento da zona e o apoio à força de desembarque. Em Novembro de 1905 foi nomeado para a Divisão Naval do Índico, chegando ao Estado da Índia no final do mês seguinte, passando a servir no depósito. Porém, em Maio de 1906 assumiu o comando da lancha-canhoneira ”Serpa Pinto”, regressando cinco meses depois à Metrópole por decisão da Junta de Saúde Naval. Em 1907, passou a imediato do rebocador “Bérrio”, cujo comando lhe seria atribuído quatro anos depois, no começo de Outubro de 1911, mas por um curto período de dois meses pois, a 4 de Dezembro desse ano foi nomeado adjunto do Departamento Marítimo do Norte. Em meados de Janeiro de 1912 foi transferido para a Figueira da Foz, onde assumiu o cargo de Capitão do Porto. Comandou o vapor “Carregado” desde Outubro de 1914 até Junho do ano seguinte, por ter sido escolhido para ajudante de ordens do Major General da Armada, vice-
-almirante Álvaro António da Costa Ferreira, cargo que desempenhou até fins de Novembro quando foi nomeado comandante da canhoneira “Beira”. Serviu neste navio em Cabo Verde, durante a 1.ª Grande Guerra, desde 25 de Novembro de 1915 até 10 de Março de 1919, quando o porto de S. Vicente foi base da Esquadra Inglesa do Atlântico, mais tarde transferida para a Serra Leoa devido à ameaça de ataque de submarinos inimigos que navegavam naquelas águas. Entre as várias acções ofensivas que ali ocorreram, refira-se a que teve lugar na noite de 4 para 5 de Dezembro de 1916, quando se encontrava fundeado em S. Vicente o vapor português “Moçambique”, transportando um contingente militar além de passageiros. Graças à aturada vigilância naval da nossa Marinha foi possível detectar em tempo oportuno o ataque de um submarino que entrara submerso na baía, o qual foi imediatamente repelido e agressivamente perseguido pelas canhoneiras “Beira” (comandada por Cisneiros de Faria) e “Ibo”. Mas, para além desta corajosa e arriscada intervenção, a canhoneira participou ainda na implementação de outras medidas de protecção dos navios comerciais, designadamente pelo estabelecimento de redes e pela execução de intensa actividade de patrulhamento, Pela sua actuação em Cabo Verde, Cisneiros de Faria foi condecorado com a Cruz de Guerra de 2.ª classe e, pelo governo britânico, com a Distinguished Service Order. Depois da guerra foi comandante do cruzador ”Carvalho Araújo”, no qual navegou para Argel, como representante de Portugal, quando o Presidente da República
Colégio Militar Berço de Grandes Portugueses
Francesa, Alexandre Millerand, visitou aquela cidade. Neste mesmo navio, apoiou em 1922 a célebre viagem aérea de Gago Coutinho e de Sacadura Cabral ao Brasil, sendo o responsável principal pelo acondicionamento a bordo e pelo transporte do hidroavião “Santa Cruz”, vindo assim a possibilitar a conclusão da 1.ª Travessia Aérea do Atlântico Sul. De Junho de 1924 a Setembro de 1926 passou ao navio-escola “Sagres” e, a 6 de Outubro daquele último ano, tornou-se seu comandante, cargo que exerceu durante
Avis
Cristo
Cruz de Guerra
sete anos, até 9 de Setembro de 1933. No mês seguinte transitou para adjunto do Departamento Marítimo do Centro mas, em 15 de Julho de 1935, voltou ao comando do navio-escola “Sagres”, acumulando o cargo com as funções de comandante da Escola de Marinharia e Manobra. Durante a guerra Civil de Espanha (1935-1939), exerceu no porto de Dover o lugar de Administrador da «Não-intervenção». Faleceu em Lisboa em 1946. Era agraciado com os graus de comendador da Ordem de Avis e da Ordem de Cristo
Vitória
Distinguished Services
Legião de Honra
11
e condecorado com a Cruz de Guerra de 2.ª classe, as medalhas de ouro e de prata de Comportamento Exemplar, medalha da Vitória, medalha Comemorativa das Campanhas com as legendas “No Mar 1916-1917” e “Beira 5-12-1916” e ainda com a Distinguished Service Order (Inglaterra), cavaleiro da Legião de Honra (França), comendador da Ordem de Leopoldo II (Bélgica), comendador da Ordem da Coroa (Itália) e comendador da Ordem de Nichan Iftikchar (Tunísia).
Leopoldo II
Coroa de Itália
Nichan Iftikchar
12
Colégio Militar Berço de Grandes Portugueses
João Guilherme Menezes Ferreira (132/1900) Oficial do Exército, governador civil, desenhador e caricaturista.
monarquia, participou no movimento, tal como outros camaradas seus, vindo a ser louvado em decreto de 22 desse mês, “em atenção aos relevantíssimos serviços prestados” nesse dia, “bem como nos combates... manifestando assim excelsa coragem, heróica dedicação e inexcedível amor pela causa sagrada da Pátria”. Foi promovido a alferes em 14 de Novembro de 1912, indo prestar serviço no Regimento de Infantaria n.º 1. Ascendeu posteriormente a tenente em 1916 e a capitão em 1918. Entretanto, em 1914, com a 1.ª Grande Guerra a pairar como uma ameaça sobre as colónias portuguesas de África que tinham fronteiras com territórios sob domínio alemão, foi organizada a primeira expedição a Angola, destinada a defender o sul da colónia, sendo o seu comando confiado ao tenente-coronel Alves Roçadas. Dessa expedição, que embarcou em Lisboa em 10 e 11 de Setembro, a bordo dos navios "Cabo Verde" e "Moçambique", respectivamente, e aportou a Moçâmedes a 1 de Outubro, fazia parte o alferes Menezes Ferreira, que havia sido nomeado para o “serviço de etapas”1 da expedição. Duas semanas decorridas, a 18 de Outubro, acontece o chamado “incidente de Naulila” entre forças militares portuguesas e alemãs, que serviu de pretexto para um
ataque alemão ao posto isolado de Cuangar, nas margens do Cubango, no dia 30 de Outubro. Roçadas decidiu então, com as poucas forças de que dispunha, organizar um destacamento misto que, atravessando o Cunene, procurasse as forças alemãs tentando expulsá-las do território angolano. Menezes Ferreira integrava esse destacamento como adjunto do respectivo comando. Após breves trocas de tiros entre patrulhas em 12 e 13 de Dezembro, a 18 de Dezembro dá-se o ataque directo a Naulila, por duas colunas alemãs. O combate durou perto de 4 horas, tendo as tropas portuguesas retirado em direcção de Humbe, sofrendo 70 mortos e 77 feridos. Entre os mortos do lado alemão contava-se o seu próprio comandante. Os portugueses retiraram pelo Humbe para Gambos, enquanto as forças alemãs regressavam ao território da Damaralândia. Aquilo que ficou conhecido por "Desastre de Naulila" acabaria também por incentivar a revolta contra Portugal dos indígenas do sul de Angola, a qual viria a ser debelada por uma segunda força expedicionária comandada pelo general Pereira de Eça (antigo aluno do Colégio Militar). Na sequência do insucesso de Naulila, Alves Roçadas foi chamado a Portugal, tendo embarcado de regresso a Lisboa em 9 de
N
asceu em Lisboa a 26 de Outubro de 1889, filho de João Gregório Duarte Ferreira e Ester Laura de Menezes Ferreira. Estudou no Colégio Militar onde foi admitido como aluno em 1900, sendo-lhe atribuído o n.º 132. Concluiu o curso colegial em 1908, tendo sido graduado em Comandante de Secção no último ano lectivo. Alistou-se de seguida no Regimento de Cavalaria n.º 2, ingressando depois na Escola de Guerra onde concluiu o curso de oficial de Infantaria em 1911. Ainda cadete, quando da revolução de “5 de Outubro” de 1910, que derrubou a 1 Ao “serviço de etapas”, competia reconhecer e preparar os itinerários de marcha dos destacamentos, fixando os locais de abastecimento, em especial de água, onde homens e
animais poderiam dessedentar-se.
Colégio Militar Berço de Grandes Portugueses
Maio de 1915. Nesse mesmo navio regressava também o alferes Menezes Ferreira. Cerca de três meses após a sua chegada à Metrópole passou à situação de licença ilimitada, na qual se manteve até 31 de Março de 1916, sendo então colocado no 5.º Grupo de Metralhadoras. Promovido a tenente a 1 de Dezembro desse mesmo ano, embarca para França na véspera de Natal, fazendo parte do Corpo Expedicionário Português (CEP). Chegado ao seu destino, foi a 3 de Janeiro para a Escola Inglesa de Metralhadoras, onde se manteve até fim de Março. Regressado ao CEP, passou ao 1.º Grupo de Metralhadoras e, em Agosto foi colocado como instrutor na Escola de Metralhadoras. Em Março do ano seguinte serviu como adjunto de uma missão da Escola de Guerra
a França, regressando com ela a Portugal no mês seguinte. Promovido a capitão em Julho de 1918, volta ao CEP no começo de Setembro e é colocado como director da Escola de Metralhadoras Pesadas. Serviu depois no Quartel-general do Corpo e no da 2.ª Divisão, tendo regressado a Portugal em Março de 1919. Foi então colocado no Corpo de Alunos da Escola de Guerra onde permaneceu até fins de 1920. A 31 de Dezembro foi nomeado ajudante de campo do Alto Comissário de Moçambique (Manuel de Brito Camacho), onde chegou a 26 de Março de 1921 mas, em Dezembro desse ano estava já de regresso para ser presente à Junta de Saúde das Colónias. Até 1924 prestou serviço em várias repartições do Ministério da Guerra e, em finais de Novembro desse ano, passou a exercer o cargo de Chefe de Gabinete do Ministro da Finanças, sendo em Março de 1925 nomeado Governador Civil do Funchal, cargo em que se manteve até Junho de 1926. No final de Setembro de 1926 foi colocado na Esquadrilha de Aviação de Treino e Depósito, obtendo no fim de 1927 a especialização de “Observador Aeronáutico”, pelo que foi transferido para o 1.º Grupo Independente de Aviação e Bombardeamento. Em Julho de 1928, ocorre uma tentativa de golpe militar contra o Estado Novo com vista a restaurar a democracia, nele se vendo envolvido Menezes Ferreira quando, no dia 21, a pedido do major Sarmento de Beires (antigo aluno do Colégio Militar então comandante da unidade sediada em Tancos e participante activo no golpe, que viria a ser demitido da Aeronáutica e forçado a abandonar o país), transportou material de
13
bombardeamento numa viatura pesada, de Alverca para Tancos. Veio por isso a ser punido com seis meses de inactividade que, por ironia do destino, lhe foram aplicados por um outro antigo aluno do Colégio Militar, o então Ministro da Guerra general Júlio Ernesto de Morais Sarmento. Terminada a pena, as suas aptidões especiais para o desenho serviram de motivo à
sua colocação na Escola Central de Oficiais como desenhador da Secção Técnica e, no ano seguinte, 1930, é enviado para Moçambique, tendo embarcado para esse território a 20 de Julho, onde foi comandar a 2.ª Bateria Indígena de Metralhadoras. Em 1931 recolheu à Metrópole para ser presente à Junta de Saúde, após o que passou a prestar serviço como adjunto da 3.ª Inspecção da Infantaria. Passou à situação de reserva em Fevereiro de 1935 com o posto de capitão, vindo a falecer um ano depois, em Lisboa, a 15 de Fevereiro de 1936. Escreveu e ilustrou diversos livros, designadamente «João Ninguém: soldado da Grande Guerra» (1921), «O fuzilado» (1923), «Um conto de Natal» (1914) e «À luz do lampadário» (1927).
14
Colégio Militar Berço de Grandes Portugueses
Era agraciado com os graus de cavaleiro da Ordem de Avis e de cavaleiro da Ordem de Santiago, e condecorado com a Cruz de Guerra de 1ª classe, medalha da Vitória e medalha Comemorativa das Campanhas com as legendas “Sul de Angola 1914-1915” e “França 1917-1918”, e com a 1.ª classe da Ordem de Mérito Militar com distintivo branco (Espanha). Era pai de João Humberto Menezes Ferreira que foi aluno do Colégio Militar.
Santiago
Cruz de Guerra
©Foto Sérgio Garcia (326/1985)
Avis
ANTIGO ALUNO USA A BARRETINA
Vitória
Comemorativa das Campanhas
Mérito Militar de Espanha
Colégio Militar Berço de Grandes Portugueses
António de Sousa Maya (186/1899) Oficial General e pioneiro da Aviação Militar.
N
asceu no Porto a 11 de Outubro de 1888, filho de Fernando da Costa Maya (oficial de Cavalaria e professor do Real Colégio Militar) e de Maria José Bessa de Sousa. Em 1899 ingressou como aluno no Colégio Militar, sendo-lhe atribuído o n.º 186. Concluídos em 1905 os seus estudos colegiais, assentou praça no Regimento de Cavalaria n.º 4, indo fazer na Escola Politécnica os estudos preparatórios após os quais ingressou na Escola do Exército onde concluiu e 1909 o curso de oficial de Cavalaria. Como aspirante a oficial foi fazer o tirocínio na Escola Prática de Cavalaria, então em Torres Novas, onde permaneceu durante três anos como instrutor. Foi promovido a alferes em 1909 e depois, ao longo da sua carreira militar, ascendeu a tenente em 1913, a capitão em 1921, a major em 1927, a tenente-coronel em 1938, a coronel no ano seguinte e, a brigadeiro, em 1944.
Em Agosto de 1915, era então ajudante de campo do Ministro da Guerra, general Norton de Matos, decidiu concorrer à Aviação Militar. Com efeito, em Fevereiro de 1916 o Ministério da Guerra solicitou à Grã-Bretanha a formação de alguns pilotos, destinados à constituição de uma esquadrilha do Corpo Expedicionário Português (CEP) durante a 1.ª Grande Guerra. E assim, ainda nesse mês de Fevereiro, foram enviados para aquele país aliado os tenentes António de Sousa Maya e Óscar Monteiro Torres (antigo aluno do Colégio Militar) e o alferes Alberto Lello Portela. Primeiro frequentou a Escola de Aviação Civil «Ruffy & Baumamann», onde completou o curso a 3 de Junho de 1916, sendo-lhe conferido o respectivo «brevet». Frequentou depois a Northold do Royal Flying Corp (antecessor da RAF), onde além de aviões Caudron (em que se havia iniciado), pilotou os Farman, Curtiss e os aparelhos mais rápidos da época, os Soppwitch e os Martinsyde. Após 25 horas de voo, foi submetido às provas finais que realizou com «muito bom aproveitamento». Regressou a Portugal e em Novembro de 1916 foi exercer funções de instrutor do primeiro curso de pilotagem realizado na Escola de Aeronáutica Militar, entretanto criada em Vila Nova da Rainha. Terminado este, encontrando-se em organização o Corpo Expedicionário Português (CEP) que iria combater em França na 1.ª Grande Guerra, António Maya oferece-se para combater em França indo apresentar-se Martinsyde
15
na “Esquadrilha Inicial”, comandada pelo Capitão Norberto Guimarães. Juntamente com outros aviadores portugueses seguiu então para escolas de pilotagem militar francesas de Avord e de Pau, a fim de se familiarizar com os aviões que iriam equipar a esquadrilha do CEP (que nunca veio a constituir-se). Para completar a sua instrução, tirou seguidamente as especialidades de tiro aéreo em Cazaux e de voo nocturno em Miramas, a norte de Marselha. A seu pedido desempenhou serviço numa esquadrilha inglesa de observação (10.º Squadron), com base operacional em Shoques, perto de Béthune (França), onde cumpriu diversas missões de guerra. Completados estes estágios, em Outubro de 1917 deu entrada na Esquadrilha SPAD n.º 124 "Jeanne d'Arc", que operava integrada no Grupo n.º 13 (franco-americano) com base em La Noblette, pilotando então um avião SPAD 13-C1 em que colocou na fuselagem listas com as cores portuguesas Voou em missões guerra centenas de horas no espaço aéreo inimigo e, por actos de coragem e de notável virtuosismo como piloto, foi galardoado com as Cruzes de Guerra portuguesa e francesa, sendo várias vezes citado em Ordem de Campanha do Comando Aliado. Terminado o primeiro conflito mundial, o capitão Maya, regressou a Portugal e, graças ao prestígio conquistado em combate, foi indigitado para comandar nossa primeira unidade metropolitana, o “Grupo de Esqua-
16
Colégio Militar Berço de Grandes Portugueses
SPAD 13-C1
drilhas de Aviação República”, inaugurada em 1919, com sede na Amadora, em terrenos que ele próprio escolhera. Deslocou-se então a França, a fim de adquirir aviões para a nova unidade, sendo acompanhado pelo tenente Lello Portela e dos sargentos mecânicos Manuel Gouveia e Fernando de Sousa. Naquele país, num voo de experiência efectuado à Holanda, estabeleceu um tempo recorde para a ligação Paris-Bruxelas-Amesterdão, o que foi então reconhecido pela Federação Aeronáutica Internacional. Depois disso, partindo de Paris (Vilacoublay), pretendeu realizar a ligação aérea, directa, com Lisboa. Porém, durante a viagem aérea, surgiram inesperadas avarias que impediram o seu intento. Em primeiro lugar a água fervente do carburador fê-lo aterrar em Bordéus. Mais tarde, quando atravessava a Espanha, viu-se obrigado a uma aterragem de emergência em plena Serra de Guadarrama, de que resultaram estragos no avião e ferimentos no seu mecânico Manuel Gouveia. Depois de ter de retroceder de Arévalo para Ávila, rumou para Lisboa sem mais percalços. Tendo partido a 3 de Outubro de 1919 completou o voo dois dias depois, totalizando
Cruz de Guerra
Avis
Breguet XIV
1248 km em 8 horas e 27 minutos num avião Bréguet XIV-A 2. Em Junho de 1924, devido a um decreto do Ministro da Guerra que determinava que qualquer oficial de qualquer arma ou ramo poderia chefiar a Aeronáutica, os pilotos do “Grupo de Esquadrilhas de Aviação República” manifestaram-se colectivamente contra tal decisão, movimento que ficou conhecido como “Revolta dos Aviadores”, de que resultou a detenção dos manifestantes na Torre de S. Julião da Barra. O então major Maya, que havia sido eleito deputado pela Guiné, tendo ficado em liberdade dada a sua imunidade parlamentar, fez no Parlamento uma veemente defesa dos seus camaradas, dando lugar a uma crise ministerial que arrastou a queda do governo e teve como consequência a amnistia dos seus camaradas. Em Outubro de 1927 foi transferido para Tancos como comandante do novo Grupo Independente de Aviação de Protecção e Combate, cargo que exerceu nos postos de major e tenente-coronel até 1937. Nesse ano, e até 1938, integrou a Missão Militar Portuguesa de Observação em Espanha durante a guerra civil neste país. Após a sua promoção a coronel, foi no-
Cristo
Bons Serviços
meado Inspector da Arma de Aeronáutica e, como brigadeiro, foi 2.º comandante do Comando Geral da Aeronáutica Militar. Em 10 de Outubro de 1946, por estar envolvido numa alegada rebelião armada é passado compulsivamente à situação de reforma. Faleceu a 11 de Junho de 1969, contava então 80 anos de idade. Era agraciado com os graus de cavaleiro e comendador da Ordem de Avis e de cavaleiro da Ordem de Cristo, e condecorado com a Cruz de Guerra de 2.ª e de 4.ª classes e com as medalhas de prata de Bons Serviços, de prata e de ouro de Comportamento Exemplar, da Vitória e Comemorativa das Campanhas com a legenda “França 1917-1918”, e também com a Cruz de Guerra com estrela de prata (França), com o grau de cavaleiro da Legião de Honra (França), com a medalha de La Campaña (Espanha), com a Cruz Vermelha de Mérito Militar (Espanha), com a medalha de Mérito Militar com distintivo branco (Espanha) e com a medalha da Solidariedade (Panamá). Era irmão do antigo aluno João Carlos de Sousa Maya (176/1896).
Cruz de Guerra (França)
Legião de Honra
Mérito Militar com distintivo branco
Jantar Anual da Associação Pestana Palace Hotel
Jantar Anual da Associação
17
Pestana Palace Hotel R
ealizou-se no passado dia 28 de Novembro o Jantar Anual da Associação, encontro de Antigos Alunos que se vem verificando de alguns anos a esta parte, onde tem lugar a entrega dos Prémios Barretina e são dadas as boas-vindas aos novos Antigos Alunos que completaram o curso do Colégio no ano lectivo transacto, sendo-lhes entregues as Barretinas. No próximo número será dada notícia pormenorizada do acontecimento e transcritas as palavras proferidas na altura pelo Presidente da Associação, António José Sousa Valles e Saraiva de Reffóios (529/1963).
Foram agraciados com os Prémios Barretina 2014 Amigos do Colégio Militar
Engº José Samuel Pereira Lupi e Professor Rui Jorge Vieira Farinha
Colégio Militar no Mundo
Francisco Alexandre Barros Covas (363/1984)
Amor ao Colégio
Manuel Carlos Teixeira do Rio Carvalho (124/1945)
Dedicação
António Eduardo Queiroz Martins Barrento (40/1948)
Notoriedade
João Manuel de Castro Palha Ribeiro Telles (676/1970)
Desporto
João Carlos Craveiro Lopes (71/1931)
18
Comemoração dos 111 Anos da Associação Homenagem à Velha Guarda
Gonçalo Salema Leal de Matos 371/1949
Comemoração dos 111 Anos da Associação Homenagem à Velha Guarda A
Associação comemorou os seus 111 anos de existência no passado dia 23 de Outubro de 2014, altura em que foi homenageada a “Velha Guarda” que inclui todos os Antigos Alunos que entraram para o Colégio antes de 1955. Um facto que se tem vindo a verificar nos últimos anos é o de uma afluência mais alargada nesta data, revelando uma maior capacidade de participação dos Cursos mais antigos e daqueles que frequentaram o Colégio em anos de certo modo longínquos.
©Fotos Leonel Tomaz
Comemoração dos 111 Anos da Associação Homenagem à Velha Guarda
Participaram nesta jornada os seguintes Antigos Alunos: João Carlos Craveiro Lopes (71/1931), Agostinho de Sousa Coutinho (15/1934), Aníbal José Mendes Ginja Brandão dos Santos Viegas (256/1934), José Luís Almiro Canelhas (302/1936), José da Paz Olímpio (327/1937), José Joaquim Fragoso (26/1938), Álvaro Augusto da Fonseca Sabbo (133/1938), Nuno Gomes de Lacerda Teixeira (371/1939), José Gomes Névoa Caeiro (398/1939), António de Morais Sarmento dos Santos Lucas e Costa Brotas (30/1940), Carlos Alberto de Paiva Nobre Guedes da Silva (81/1940), Rogério Fernando Sequeira Taborda e Silva (92/1940), Fernando Edgard Collet-Meygret de Mendonça Perry da Câmara (143/1940), Mário Pinto Rodrigues d’Almeida (161/1940), José Fernando Valles de Figueiredo Valente (352/1940), Carlos Fernando Valente de Ascensão Campos (12/1942), Amadeu Nunes Duarte (39/1942), José Maria Myre Dores (47/1942), João Manuel Bilstein de Meneses Luiz de Sequeira (70/1942), José Maria Barroso Branco Ló (90/1942), José Villa de Freitas (94/1942), Rafael Guerreiro Ferreira (95/1942), Pedro Júlio de Pezarat Correia (10/1943), Pedro António Nazareth Costa (152/1943), António Francisco Martins Marquilhas (67/1944), Carlos Manuel de Oliveira e Vasconcelos (44/1945), Carlos Gaspar Galvão de Mello e
Motta (48/1945), António José Brites Leitão Rito (120/1945), Isaías Augusto Pinto Gomes Teixeira (235/1946), José Joaquim da Silva Prior (262/1946), José Alberto Lopes Carvalheira (301/1946), Carlos José Sanches Vaz Pardal (100/1947), Francisco Manuel Alcântara Mota Ferreira (307/1947), José Baptista Pereira (318/1947), Ruy Eduardo Anselmo de Oliveira Soares (332/1947), Luís Alberto de Oliveira Marinho Falcão (35/1948), Luís Joel Alves de Azevedo Pascoal (145/1948), José Manuel dos Reis Moreira (200/1948), João Augusto de Oliveira Ayala Botto (254/1948), Francisco de Barahona Núncio (258/1948), Alfredo da Piedade Sério Lopes Rego (224/1949), Victor Manuel de Oliveira Santos (365/1949), Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949), Carlos Manuel Carvalho Ferreira (378/1949), Fernando Duarte Pina da Silva Ramos (9/1950), António Manuel Campos Batalha Machado Graça (63/1950), João Luís Raposo Alves Saltão (70/1950), Vasco Joaquim Rocha Vieira (127/1950), António José Fonseca Cavaleiro de Ferreira (332/1950), José Eduardo Fernandes de Sanches Osório (210/1951), Carlos Manuel Querido Baptista (303/1951), Manuel Maria de Barros Cardoso Menezes (393/1951), José Francisco Latino Tavares (197/1952), Manuel Nuno da Costa Estorninho (207/1952), José Manuel Castanho Paes (228/1952),
19
João Carlos de Azevedo de Araújo Geraldes (245/1952), António João Martins de Abreu (85/1943), Bernardo Manuel Diniz de Ayala (171/1953), António Costa e Sousa (231/1953), João Nuno Bellegarde Belo Conceição (270/1953), Pedro Manuel de Almeida Serradas Duarte (192/1954), Martiniano Nunes Gonçalves (9/1958), na qualidade de Presidente do Conselho Supremo da AAACM, e José António Madeira de Ataíde Banazol (631/1968), na qualidade de Vice-Presidente da Direcção da AAACM. Aqui fica o registo para memória futura e para quem daqui a alguns anos se interesse pelos assuntos do Colégio, recordando familiares, amigos e antecessores.
P
elas dez horas concentraram-se no Átrio do Fundador e nos Claustros do Colégio os antigos alunos participantes nesta jornada, seguindo-se, na Biblioteca, a apresentação de cumprimentos ao Director, Senhor Coronel Tirocinado de Artilharia José António Figueiredo Feliciano que se encontrava acompanhado pelo Subdirector, Senhor Tenente Coronel de Artilharia António José Ruivo Grilo (338/1978). José António Madeira de Ataíde Banazol (631/1968), na qualidade de Vice-Presidente da Direcção da AAACM e em representação do Presidente António José Sousa Valles e Saraiva de Reffóios (529/1963), ausente do País, agradeceu ao Colégio, na pessoa do seu Director, a recepção e o facto de a todos ser proporcionada, por ocasião do 111º aniversário da AAACM, a oportunidade de um convívio de sã camaradagem, voltando a percorrer e a viver os caminhos e os locais de todos tão queridos e que nos viram crescer. Na sua intervenção o Director deu as boas-vindas aos antigos alunos da Velha Guarda presentes, saudando também todos aqueles que a integram e que não puderam participar nesta romagem bem demonstrativa do apego e amor que perdura para a vida e que caracteriza todos aqueles que viveram o Colégio Militar. Estas demonstrações mostram aos actuais alunos facetas da alma e do espírito da Família Colegial e constituem bons exemplos contributivos para a sua formação. Junto do Monumento no Largo da Luz foram homenageados os Antigos Alunos que já partiram e não estão connosco e o Colégio, Instituição fundada pelo Marechal António Teixeira Rebello que, ao longo de mais de dois séculos, tem servido o País formando gentes que o serviu e serve de forma exemplar nos mais diversos campos militares e civis.
20
Comemoração dos 111 Anos da Associação Homenagem à Velha Guarda
Noutros tempos mais distantes aqui apenas se encontravam os “dispensados” por motivos de saúde (normalmente pernas e braços fracturados com os correspondentes aparelhos de gesso) que os impediam de participar nas formaturas. Na átrio do Edifício do Corpo de Alunos foram descerradas as fotografias dos cinco Presidentes da República, Antigos Alunos, numa cerimónia da iniciativa da Associação e que mereceu o apoio da Direcção do Colégio. As cinco fotografias, excelentes réplicas dos quadros a óleo existentes no Museu da Presidência da Republica, foram oferecidas ao Colégio pela Associação, substituindo com manifesta melhoria de qualidade as até agora existentes. Nessa ocasião, José de Ataíde Banazol (631/1968) agradeceu ao Director do Colégio Lamentavelmente este património cultural e humano não terá continuidade se persistirem acções determinadas por teimosia e intransigência do poder e concretizadas por omissão de quem deveria defender este Colégio secular, que se afirmou pelos seus dirigentes e por todos aqueles que o frequentaram dignificando o seu nome. Ao Fundador, Marechal António Teixeira Rebelo, foi prestada homenagem pelo seu rasgo de grande alcance quando em 1803 fundou aquela que iria ser a segunda mais antiga Instituição de ensino em Portugal (a primeira é a Universidade de Coimbra) e por ter criado as bases que permitiram o brilhantismo do seu percurso ao longo dos seus 211 anos. Lá, onde quer que esteja, certamente terá um sentimento de revolta pela forma como lentamente, por autismo do poder efémero, se vai destruindo a obra que criou e tanto amou. As coroas de flores foram depostas pelo Director do Colégio Coronel Tirocinado de Artilharia José António Figueiredo Feliciano e pelo Antigo Aluno José Luís Almiro Canelhas (302/1936). Os toques da ordenança alusivos às cerimónias foram executados por uma fanfarra do Regimento de Artilharia Anti-Aérea Nº 1, constituída por seis elementos. Com Guarda de Honra da Escolta Colegial a pé, a presença do Director do Colégio, do Vice-Presidente da Associação dos Antigos Alunos José de Ataíde Banazol (631/1968), do Antigo Aluno José Luís Almiro Canelhas (302/1936), do Comandante do Batalhão Francisco José de Jesus Santana Cordeiro de Araújo (591/2007) do Batalhãozinho Filipe Antunes da Fonseca
Gomes Rodrigues (650/2014), a Chama Colegial foi acendida perante a Velha Guarda. Pelo Capelão Capitão Diamantino Júlio Custódio Teixeira, foi rezada Missa pela intenção de todos os que se relacionam com o Colégio Militar. Seguiu-se o encontro com os Alunos sucessores e a tradicional fotografia nas escadarias da Enferma após o que, o Batalhão Colegial desfilou em continência na Parada do Corpo de Alunos. De salientar o elevado número de “Ratas” que, por não estarem ainda integrados no Batalhão Colegial, formavam junto do alçado do edifício do Corpo de Alunos. A predominância de Alunas neste conjunto era determinante.
o ter aceitado a proposta que lhe havia sido feita pela AAACM, para substituir os quadros existentes com os mesmos Antigos Alunos por estes que agora passam a figurar nesse local, referindo a intenção de contribuir para a preservação da nossa memória colectiva, acto fundamental para um povo que quer continuar livre e independente, continuando a trilhar o seu já longo caminho de 9 séculos. No Refeitório dos Alunos, teve lugar o tradicional almoço de homenagem à Velha Guarda, com a presença do Director, dos Órgãos Directivos da AAACM, do Subdirector, do Comandante do Corpo de Alunos e dos Alunos, onde não faltou o “Amarelo de carne” e o “Vinho do Porto”, que decorreu animadamente tendo os Antigos Alunos feito as honras ao prato da Culi-
Comemoração dos 111 Anos da Associação Homenagem à Velha Guarda
nária Colegial mais apreciado por muitas gerações que tiveram o privilégio de vestir a “Farda Cor-de-Pinhão”. De salientar as muitas referencias elogiosas ao “Amarelo de carne” deste ano, considerado o melhor dos últimos tempos e muito semelhante ao do tempo em que os actuais membros da Velha Guarda frequentaram o Colégio. À tarde, no auditório do Colégio, foi feito o lançamento do livro da autoria do Roberto Ferreira Durão (15/1942), com o título “Verde Mar – Cantos e Contos da Guerra e da Paz”.
acontece com o Roberto Durão que tem tido a capacidade de - desde que saiu do Colégio e ao longo da sua vida - viver esta liberdade e este amor que definem o espaço que é o Colégio Militar (usando as palavras do antigo Capelão - o Padre Braula Reis - quando nesta sala lhe foi atribuído pela Associação um “Prémio Barretina”). Intervieram igualmente, a representante da editora ACD/editores Senhora D. Ana Correia Dias, o Comandante do Batalhão Aluno Francisco José de Jesus Santana Cordeiro de Araújo (591/2007) tendo sido, ainda, lido um dos
Roberto Durão (15/1942), Ana Correia Dias da Editora ACD, António Costa Brotas (30/1940) e a capa do livro Verde Mar.
E
sta cerimónia contou com a presença do Director do Colégio Coronel Tirocinado de Artilharia José António Figueiredo Feliciano que em breves palavras referiu o significado e o bom acolhimento dado à iniciativa desta apresentação ter lugar nas instalações colegiais, de António de Morais Sarmento dos Santos Lucas e Costa Brotas (30/1940) a quem coube fazer a apresentação e que relembrou a virtude da essência colegial, do Presidente do Conselho Supremo da AAACM Martiniano Gonçalves (9/1958) que não tendo ainda lido o livro não o comentava mas, conhecendo o Autor, decidiu dirigir-se aos alunos do Colégio presentes, referindo que uma obra desta natureza só é possível por alguém que guarda na sua alma enorme liberdade e amor, o que
21
poemas do livro pelo Aluno Porta Estandarte José Pedro Gomes (198/2007). O Livro, nas palavras do seu autor, “... tem como objectivo elevar e dignificar os valores mais genuínos que sempre nos identificaram e são em especial apanágio do nosso Colégio (e não só...). É dedicado ao nosso Colégio e à sua Associação, englobando também outras Instituições culturais, militares e humanitárias, não pretendendo o autor colher quaisquer benefícios de ordem material.” No prefácio do Professor Veiga Simão, entretanto falecido, podemos ler: "Verde-Mar, da autoria de um soldado de Portugal, é testemunho de que, contra ventos e marés, a expansão portuguesa, como nos ensinou Orlando Ribeiro, figura entre os maiores acontecimentos da História Universal. A Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa é a sua Herança. Saibamos, como Roberto Durão nos ensina. «Criar novos Ecos e Esperanças, Canções Universais»"
22
Antigos Alunos em Destaque
Antigos alunos
em Destaque
José Crisóstomo Gomes Bação Leal (89/1954) Morreu em Nampula a 1 de Setembro de 1965
José Bação Leal Poesias e Cartas de Asas Cortadas
E
m Setembro de 1977, a Revista da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar publicou, na rubrica Os Meninos da Luz e as Letras, uma evocação do duodécimo aniversário da morte do José Crisóstomo Gomes Bação Leal (89/1954). O artigo, da iniciativa de um Antigo Aluno identificado apenas pelo número 184, incluía pequenos excertos de poesia e prosa do autor, e pouco mais. Agora que passa mais um aniversário da sua morte, julgamos oportuno divulgar pela Comunidade Colegial textos de dois conhecidos intelectuais sobre aspectos mal conhecidos da vida e da obra póstuma do José Bação Leal, os quais são publicados na nossa revista obtida a amável anuência dos autores. O primeiro texto, intitulado José Bação Leal: Poesias E Cartas De Asas Cortadas, foi escrito por José Jorge Letria e publicado no jornal Público, a propósito do lançamento pelo jornal de uma colecção de «Livros proibidos», II Série, na qual se incluía a referida obra do Bação Leal: «O livro “Poesias e Cartas”, de José (Crisóstomo Gomes) Bação Leal, nascido em Lisboa em 1 de Julho de 1942 e morto em combate, em Nampula, em 1 de Setembro de 1965, revela um talento que a morte súbita impediu que se concretizasse noutras obras e que ganhasse fôlego e densidade após o fim do conflito.
Morto com apenas 23 anos, este lisboeta culto e informado fez dos poemas e das cartas um testemunho sobre a experiência da guerra que lhe roubou a vida, mas também sobre as contradições de um tempo de profunda mudança que abriria as portas ao Maio de 68, ao ciclo das grandes lutas estudantis e, um pouco mais tarde, ao nosso 25 de Abril, à descolonização e também à queda das ditaduras de Espanha e da Grécia. José Bação Leal estava longe e perto, usando a palavra como arma de denúncia e autoconsciência, citando Fernando Pessoa, António Ramos Rosa ou Herberto Helder, o que confirma a sua matriz de poeta leitor de poetas e de cidadão empenhado em fazer da escrita o retrato do seu drama pessoal e geracional. Tenho comigo um exemplar de 1971, da edição póstuma de “Poesias e Cartas”, com um breve e certeiro prefácio de Urbano Tavares Rodrigues, que escreve: “O carácter extremamente pessoal das suas conotações, o tom coloquial, íntimo, que impõe, e de que nunca abdica, a violência terna exacerbada de muitas das suas metáforas, em que é sempre patente a carga afectiva, o tónus poético e de muitas das cartas ( a que se contrapõe a revolta directa e desolada, ou exasperadas, de outras) dão-nos uma tocante imagem do vertiginoso crescimento humano e estético.” E acrescenta: “Vemo-lo neste livro crescer e atingir uma invulgar estatura moral de homem”. Assim fica dito o essencial, mas é preciso ler os textos do próprio José Bação Leal, que se despediu da vida com a mesma idade com que milhares de outros foram forçados a partir, da vida ou da pátria, até que Abril por fim se cumprisse.
Antigos Alunos em Destaque
Este livro e o drama de quem o escreveu fizeram dos textos de Bação Leal um instrumento temido pelo regime, apesar de ter sido publicado em edição sem chancela comercial e de circular de forma restrita no seio da elite intelectual e dos sectores mais politizados e combativos da população. Foi Urbano Tavares Rodrigues quem me falou deste livro, ainda em 1971, na Redacção do “Diário de Lisboa”, onde éramos ambos redactores e onde nasceu, entre nós, uma amizade que durou até à sua morte. Li o livro com muita curiosidade e com o receio de poder não aderir à abordagem entusiástica de Urbano, sempre generoso e solidário. Mas a verdade é que gostei. Pouco tempo depois ouvi Mário Viegas, que conheci no Teatro Experimental de Cascais, no meu breve tempo de ser actor numa peça de Gil Vicente e noutra de Yukio Mishima, a incluir alguns dos poemas de José Bação Leal nos momentos em que fazia da poesia uma convincente e mobilizadora arma de combate. Bação Leal era um nome de que apetecia falar, mesmo num sussurro, porque as suas palavras ajudavam a manter acesa a chama de uma revolta cada vez mais forte e abrangente. Por isso a ditadura temia este livro, a par de todos os outros que perseguia e bania. Uma carta enviada pelo director da PIDE/DGS para o director da Censura, com data de 17 de Junho de 1971, interrogava-se (“pode ou não circular no País ?”) sobre a perigosidade desta obra que, “a bem da nação”, deveria ser impedida de circular com a liberdade que homenageava o jovem militar abatido em combate. O autor escrevia: “ Ah vazio ! Eterno vazio !/ vais-me matando aos poucos/ estou farto de não viver/ não tarda estarei louco/ ou morto sem morrer.” ou “Resignadamente/ escrevo o poema de sangue/ na tábua da ausência”. Vivo, José Bação Leal teria chegado muito mais longe, com experiência, sabedoria e bom gosto, mas não foi possível. E também perdura a lembrança das suas cartas, onde escrevia: “Sim, escreve: Em última análise, diz-me que chove ou que Deus é doce”. Tudo o resto ficou por dizer, porque a morte assim o quis e só a memória perdurou para lembrar o que sofreu e perdeu.» O segundo texto, da autoria de Mário Beja Santos, corresponde ao Post 13652, com data de 17 de Setembro de 2014, publicado no Blogue «Luís Graça e Camaradas da Guiné», sob o título Poesias e Cartas, por José Bação Leal: «O jornal Público tem vindo a editar livros proibidos. A Censura foi implacável no seu juí-
zo, escrevia o capitão Brandão de Mello em Dezembro de 1971: “Trata-se de obra póstuma de um combatente em África contra o terrorismo, mas imbuída de um doutrinismo político-social inaceitável ou reprovável por antinacional e negativista (…) há trechos elucidativos ou caraterísticos do pensamento ou ideário político-social do autor do livrinho que me parece sem o menor interesse literário ou espiritual, mas, isso sim, mais uma obra de contestação, eivada de revolucionarismo e revolta e constituindo um péssimo exemplo de uma mocidade para outras mocidades”. Recomendo a todos os títulos que se procure ler este voluminho de alguém que morreu em Nampula, com 23 anos, pouco tempo depois de um acidente com mina anticarro, terá morrido de doença não diagnosticada. Convém saber que quem pesquisar na net por José Bação Leal pode ter acesso a um documentário mais esclarecedor e revelador da personalidade deste jovem com uma clara inclinação para as letras. Correndo o risco de ser injusto, a sua poesia é de um iniciado que procura rumo, está datada e percebe-se quais os seus santos de culto, como é o caso de Ramos Rosa e de Herberto Helder. Onde atinge uma fasquia respeitável é na epistolografia, é verdadeiramente incomum encontrar tão possantes faculdades. Como escreve no prefácio Urbano Tavares Rodrigues: “O carácter extremamente pessoal das suas conotações, o tom coloquial, íntimo, a violência terna e exacerbada das suas metáforas, em que é sempre patente a carga afectiva, o tónus poético de muitas das cartas dão-nos uma tocante imagem de vertiginoso crescimento humano e estético”. E também uma cultura incomum, não cita à toa Sartre ou Roger Garaudy, e mesmo Mounier ou Gabriel Marcel. Duas palavras sobre a sua poesia, foi a mãe do autor que as recolheu de rascunhos que ele deitava fora. Empreguei a palavra pesquisa, alguém que desperta o estro poético e o dilui em pequenos poemas. Assim: As poesias nascem dum silêncio ou de uma conversa que temos a sós com uma dúvida ou uma madrugada que faz de nós que não somos nada a própria dúvida mas concretizada Em Novembro de 1962 escreve a um amigo que queimou tudo o que tinha escrito. Depois voltou a escrever e confessa: “Não supões a emoção absurda que se sente quando se destrói, voluntariamente, o que nos momentos mais nossos criámos”. Gosta de cinema, foi ver “Cléo de 5 a 7”, de Agnès Varda, filme
23
muito badalado e incensado pela crítica, não gostou, embora reconhecendo ter momentos belíssimos. Está em Mafra e inicia uma carta com quatro citações. De Fernando Pessoa: “Quero ir para a morte como para uma festa ao crepúsculo”; de António Ramos Rosa: “Não posso adiar o amor para o outro século. Não posso adiar o coração”; de Herberto Helder: “Porque o povo não sabe que um homem morre antes da sua última canção”; de António Ramos Rosa: “Era o tempo em que sentados na pedra, ouvíamos a erva. E era verão”. E arranca logo: “… poeticamente exausto, verticalmente só, lembro memória de um qualquer verão em nenhuma parte”. Estamos em Agosto foi promovido a aspirante. Segue para Lamego, vai tirar o curso de Ranger. Dirige-se a um amigo: “Talvez tropece em Lisboa depois de amanhã”. Dá sugestões sobre recitais. Em Julho está em Beja, de formação católica, depois de ter assistido a uma procissão escreve: “Toda aquela gente, toda aquela pompa, um sabor a erro antigo, a falsidade. Nunca mais, nunca mais acreditarei em Deus”. Em Novembro, escreve de Luanda: “Se eu morrer em África (voluntária ou involuntariamente) não permitas a utilização do meu nome por quem quer que seja”. Chegado a Nacala, parte para
24
Antigos Alunos em Destaque
Alto Molocué. Pede livros, e é preciso no que pede. A melancolia não o larga, melancolia e solidão, começa a sair para o mato, mas pede insistentemente mais livros: de Philippe Sollers, de Lawrence Durell, de Fernando Pessoa. Chegou o Natal, endereça mensagens: “Um vasto Natal, rente ao coração dos teus”. Está enfronhado nos problemas religiosos: “Não posso acreditar num Criador distraído”. Quer mais livros: de Kafka, de Malraux, de M. S. Lourenço. Continua a interrogar os amigos sobre cinema, remete poesia, recomenda a um amigo que leia o estudo da personalidade de John Ford na revista “Positif”. Quer saber se houve Dia do Estudante. Recomenda a um amigo que leia “Os Condenados da Terra”, de Franz Fanon. Recusa-se a falar da guerra, mas sente-se que entrou num processo de diluição, de confrontação: “Chegou o 2.º comandante, mas nada se alterou. Sempre o mesmo sol doente, o mesmo esqueleto a fingir de esperança”. Estamos em 30 de Maio de 1965, ainda no Alto Molocué: “Cumpro 5 dias de prisão. O general agravará fortemente, em virtude do texto, redigido a martelo, da punição”. O problema religioso devora-o: “Abraçar o ca-
tolicismo lembra-me algo como legitimar o egoísmo. Esta uma verdade que me dói no sangue. Perdoa-me, mas hoje tinha que dizer isto a alguém. Escolho-te a ti, porque te considero um católico bom, porque, penso, não me levarás a mal” e a outro amigo: “5 dias de prisão podem significar Mueda ou Vila Cabral. Sou neste momento um cadáver em fúria. Aguardo transferência, aqui em Nampula”. Quase na mesma data escreve a outro amigo: “Apresento-te um ex-presidiário, um homem ferozmente silencioso, a um degrau do Norte (isso: da guerra)”. Está obcecado pelo Norte, fala recorrentemente em Mueda ou Vila Cabral, aqui chegará em 29 de Junho, distribui o seu novo S.P.M. pelos amigos, está colocado em Metangula, povoação à beira-lago do Niassa. Em 10 de Julho, acidenta-se com uma mina anticarro, é evacuado para Nampula, vai às consultas de ortopedia, tem um braço fracturado. Está visivelmente desencorajado, diz que está a enlouquecer, a tropeçar de raiva e tédio. Em Agosto, ainda em Nampula, começa a adoecer, nas suas últimas cartas, datadas de 24 de Agosto, fala num diabólico ataque de sinusite e diz mesmo a um amigo: “Acredita que prefiro o Vietname a estas dores de cabeça. Era boa altura de me mandarem para casa”. Vai adoecendo, morrerá em 1 de Setembro. O pai, um conceituado estomatologista de Lisboa, João Bação Leal, tudo fará para deslindar os responsáveis pela negligência médica. Poder-se-ão ler estas cartas com a dupla amargura de se perceber que morreu um jovem cheio de talento, de férrea estrutura cultural para os seus 23 anos, mas também alguém que representa uma certa imagem da sua geração, alguém que vagueia em solidão e escreve trepidantemente aos amigos, à procura de uma âncora. E escusado é dizer que Bação Leal viva encouraçado nas suas leituras e nos seus poemas, aquela guerra não lhe disse literalmente nada. Este
livro está disponível nas livrarias ao preço de 6,50€.» Mário Beja Santos publica outro Post (P2176) no mesmo Blogue, lembrando que, no âmbito do DocLisboa2007, passou no Grande Auditório da Culturgest em 9 de Outubro e na sala 2 do Cinema Londres em 16 de Outubro desse ano, o documentário "Poeticamente Exausto, Verticalmente Só", da autoria de Luísa Marinho – uma aproximação à vida e obra de José Bação Leal, morto em Moçambique durante a Guerra Colonial, com apenas 23 anos, e que viria a transformar-se no símbolo de uma juventude por cumprir. A sua personalidade fascinante e o seu espírito vanguardista marcaram para sempre as pessoas que lhe estavam mais próximas. Este documentário revela um poeta e pensador corajoso, injustamente desconhecido, que contestou a ditadura dentro da própria instituição militar.
Recomendamos o visionamento de um excelente filme sobre José Bação Leal, em que o Colégio aparece como um dos pilares da sua formação e onde são enaltecidas as virtudes da educação nele ministradas, na ética dos princípios e dos valores. O link de acesso é POETICAMENTE EXAUSTO, VERTICALMENTE SÓ … - Vimeo
3 Pequenos/Grandes Poemas de José Bação Leal Tudo é um branco demasiado vago na tarde imensa... A árvore do tédio exala um calor ébrio que abre o pano do medo e aprofunda as feridas do tempo. A rotina com a sua cor sem memória elogia os vultos que afagaram o Outono. Estende a cidade na poeira das sombras. Eu vagamente bêbado de incertezas deponho o meu fantástico desprezo na tristeza redonda do momento. E deixo-me morrer na curva austera dum silêncio nevrótico. Ah vazio eterno vazio! vais-me matando aos poucos estou farto de não viver não tarda estarei louco ou morto sem morrer. Perdido no nada encontrei-me um dia faltava-me tudo apenas vivia.
Antigos Alunos em Destaque
25
António Vasco da Costa Carvalho Massapina (209/1957) Vasco Massapina - Arquitecto
Sessão evocativa na Ordem dos Arquitectos
N
o passado dia 17 de Outubro a Ordem dos Arquitectos realizou uma sessão evocativa do nosso camarada Vasco Massapina, 209/1957. No Auditório Nuno Teotónio Pereira da sua Sede, cheio de familiares e amigos e onde foi distribuído o último número da revista oficial Boletim Arquitectos "Palavras de Ordem" com diversos textos da autoria do evocado, a sessão iniciou-se com a intervenção do Presidente da Ordem dos Arquitectos, João Santa-Rita, que lembrou as responsabilidades que Vasco Massapina teve na governação da casa - Presidente do Conselho Directivo Regional do Sul da Associação dos Arquitectos Portugueses e Vice-Presidente do Conselho Directivo Nacional - e informou
a assembleia da recente atribuição do estatuto de Membro Honorário.1 As diversas intervenções seguintes, acompanhadas pela passagem de diapositivos ilustrativos da sua vida e seu trabalho, estiveram a cargo de João Paulo Bessa - sobre a vida conjunta no Colégio Militar - e que terminou, com a participação dos diversos antigos alunos presentes, com a tradicional saudação colegial. Elísio Sumavielle lembrou a sua ligação à defesa do património construído enquanto membro do Conselho Consultivo do Instituto Português do Património Arquitectónico onde, já depois de reformado, continuou a dar a sua contribuição no sistema pró-bono. Seguiu-se Fernando Pinto que lembrou a sua intervenção no Conselho Superior de Obras Públicas e Transportes, Helena Souto dos tempos do atelier e dos seus conceitos de design seguida de João Soares que lembrou a sua faceta de cidadania e a sua não separação da intervenção profissional. Luís Carvalho recordou a intervenção quotidiana no seu gabinete e a aprendizagem que as suas intervenções proporcionavam
Claustros. Desenho do Vasco Massapina para o projecto do Colégio Militar de Timor Lorosae, por solicitação da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar.
Intervenção de João Paulo Bessa (200/1957) na Ordem dos Arquitectos. Vasco Massapina encontra-se na formatura em primeiro plano. ©Foto Francisco da Silva Alves (392/1954)
- um Senhor, classificou Luís Pedro Cerqueira também lembrou intervenções profissionais e a sua faceta de professor universitário - leccionou a cadeira de Urbanismo II na Faculdade de Arquitectura de Lisboa - e o legado que aí deixou. Pedro Guimarães, Presidente da Associação dos Urbanistas Portugueses - da qual Vasco Massapina era vice-presidente - entregou à família o Diploma de Membro Honorário que a assembleia-geral decidiu atribuir, aproveitando para lembrar a importância da sua participação associativa. Em nome da família falou Pedro Vaz, genro e colaborador, que trouxe à colação o livro "O Risco do Arquitecto, Interesse Público e Autonomia da Profissão", citando aspectos marcantes da sua escrita e lembrando convicções do arquitecto e cidadão. O último orador, Rui Rasquilho recordou as suas relações de amizade com o Vasco Massapina e família. No final das intervenções, alguns elementos da assembleia aproveitaram a oportunidade para dizerem algumas palavras sobre as suas relações e memórias. António Avelar Pinho (259/1957) chamou a atenção, com riso suficiente, para que não se ficasse com a ideia, depois de todas as intervenções, de que o Vasco era um bem comportadinho e o
1 Esta atribuição foi publicamente entregue à família, a título póstumo, em cerimónia realizada no passado dia 30 de Outubro de 2014.
26
Antigos Alunos em Destaque
filho João Massapina veio, fechando a sessão, afirmar o bom pai que Vasco Massapina tinha sido. Por todos os oradores foi sublinhada a personalidade, os valores, o carácter, a permanente disponibilidade, o conhecimento e a amizade de que deu sempre demonstrações claras e inequívocas. A memória fica connosco, amigos do Vasco.
Intervenção de João Paulo Bessa (200/1957) Excelentíssimas Senhoras e Senhores. Amigos do Vasco. A memória tem uma enorme vantagem: enquanto existe não deixa esquecer. E nós, camaradas do 209 de 1957, colegas do arquitecto Vasco Massapina, amigos do Vasco, não o esqueceremos. Generoso, amigo do seu amigo, diligente, inteligente, culto e disponível temo-lo hoje, como o teremos amanhã, na nossa memória. Com saudade feita de longa amizade. Conhecemo-nos já vão 57 anos e dez dias... ... nesta camarata da 1ª Companhia onde, no dia da entrada, fazíamos a cama pela primeira vez. Separavam-nos duas, três camas; ficámos na mesma turma. Começava assim o ano de "Ratas" numa vida de fardas, de formaturas, de paradas militares. De continências.
Hoje vem cá a Isabel.
Vasco Massapina, sempre bem fardado e com a paixão pelos cavalos.
Iniciávamos então a construção de uma marca indelével de uma forma de ser, de uma forma de encarar a vida, de uma forma de estar no mundo. De uma solidariedade chamada camaradagem assente em valores tão claros como simples: não deixar ninguém para trás, nunca ser canalha, respeitar os valores da honra, da dignidade e da decência. Olharmo-nos de frente e assumirmos as nossas responsabilidades. O Vasco sempre gostou de cumprir. E fazia-o de forma inteligente e imaginativa: por "ordem de serviço" éramos obrigados a escrever todas as quartas-feiras para a família. Uma chumbada, uma dor de cabeça na invenção do nada para dizer. Excepto para o Vasco: nas cartas que escrevia relatava os nossos jogos de futebol do campeonato inter-turmas para terminar a missão com um definitivo não tenho mais nada para contar. O Vasco gostava de se fardar bem, de aparecer de botas altas de equitação. Sempre impecavelmente alinhado - o Martiniano Gonçalves lembra que gostava de lhe cravar cigarros porque eram os únicos que saíam direitos dos bolsos - tinha uma postura permanente de elegância. Que lhe ficou para a vida. No Desporto que o Colégio tornava obrigatório: a esgrima, o tiro, a equitação, a ginástica, o atletismo - levando-nos à prática do Pentatlo Moderno de que não conhecíamos existência, o Vasco, como tantos de nós, ainda fazia questão de pertencer às equipas representativas colegiais que disputavam os campeonatos da salazarista Mocidade Portuguesa. Também gostava muito de cavalos e embora por evidente estupidez nas prioridades do então responsável - não tenha feito parte da Escolta a Cavalo colegial, montava bem e tinha artes como mais ninguém, aliás - de conseguir, nas diversas vezes que qualquer castigo o proibia de
saída ao fim-de-semana, o direito a um "cavalo de serviço". E então, com o Francisco Cardoso de Menezes a cronometrar, fazia da pista de atletismo o hipódromo de todos os sonhos. De mais aulas, de menos aulas, mais formaturas e mais paradas, borgas e desatinos, chegámos ao fim do curso marcado pelo Baile dos Finalistas. Aos próximos avisou: deixem-se de palermices, nada de parvoíces, hoje vem cá a Isabel! Gostava de fardas o Vasco, pensou em ir para a Marinha - farda azul no inverno, farda branca no verão - mas a Isabel, a caminho das Belas-Artes, levou-o, pelo amor de uma vida e para sorte nossa, a preferir Arquitectura. Acabado o 7º ano - onde ambos pertencemos, no fundo da hierarquia, ao notável clube dos "furriéis" - o Vasco manteve sempre uma enorme e apaixonada relação com o Colégio e a nossa Associação de Antigos Alunos. Muitas vezes passava lá as manhãs de sábado a ver, orgulhoso, os netos nos treinos do Pentatlo.
No Colégio com o sobrinho Afonso
Antigos Alunos em Destaque
Ao desafio do então Director colegial, Raul Passos, para projectar um novo e complexo pavilhão desportivo que respondesse às actuais necessidades da formação desportiva de excelência, organizámos uma equipa peculiar: só podiam participar profissionais Antigos Alunos do nosso curso e nossos filhos. A nós juntaram-se o Adão da Fonseca e o Santos Coelho e os nossos filhos, o João Massapina, arquitecto e o Raul Bessa, engenheiro. E com a generosidade que punha em tudo que fazia, ao pró-bono dos projectistas, juntou o serviço do seu gabinete. Projecto que está pronto e à espera da inteligência de melhores dias para ver a primeira pedra. E dessa sua permanente disponibilidade ainda resultaram, a pedido da nossa Associação, o anteprojecto do Colégio Militar de Timor e a reabi-
litação do Quartel da Formação para, a exemplo das "Meninas de Odivelas", construir o nosso lar social. Durante anos rimos - como gozávamos com o ar jamesbond de o "risco ser a nossa profissão" - e tivemos, longas, divertidas e interessantes conversas sobre políticas, politiquices, exercício da profissão, arquitecturas, urbanismo e, principalmente, sobre a mútua paixão da Cidade - essa obra-prima da capacidade do ser humano. Sempre disponível para a intervenção cívica e profissional, participamos, juntos, em muita actividade. Por seu desafio e insistência - "a Ordem precisa da tua experiência", dizia - tenho sido nos últimos anos membro do Conselho Nacional de Delegados desta casa.
27
Gostaria assim por tudo o que nos liga que nós, camaradas do 209 de 57, trouxéssemos da nossa outra casa que será sempre do Vasco e para esta outra casa onde o Vasco é membro honorário, a nossa saudação tradicional: Senhores Antigos Alunos, de pé! Pelo 209 de 57, pelo arquitecto Vasco Massapina, pelo nosso amigo Vasco Zacatraz! Zacatraz! Zacatraz! Zacatraz! Zacatraz! Zacatraz! Zacatraz! Zacatraz! Zacatraz! Ala, Ala! Arriba Ala, Ala! Arriba Allez, Allez à votre santé!
António Xavier Lobato de Faria Menezes (568/1969) Tenente-General Comandante das Forças Terrestres do Exército Português
E
m 17 de Junho de 2014 tomou posse como Comandante das Forças Terrestres do Exército Português. Frequentou o Colégio Militar de 1969 a 1976, ano em que ingressou na Academia Militar e onde completou o Curso de Infantaria após o que passou a integrar a Arma de Infantaria do Exército Português. Está também habilitado com o Curso de Estado Maior, o Curso de Estado Maior dos EUA e os Cursos de Promoção a Oficial Superior e de Promoção a Oficial General, do Instituto de Estudos Superiores Militares. Ao longo da sua carreira, prestou serviço em várias Unidades, Estabelecimentos e Órgãos do Exército e das Forças Armadas. Na Escola Prática de Infantaria desempenhou as funções de Instrutor de Táctica e Técnicas de EM, de Educação Física Militar aos diversos cursos, bem como de Comandante de Pelotão e Comandante de Companhia, tendo sido ainda Director de Tirocínio. Na Academia Militar foi 2º Comandante do 1º Batalhão de Alunos. Foi Professor no Instituto de Altos Estudos Militares de Táctica e Técnicas de Estado-maior, Operações de Apoio à Paz e de Apoio Aéreo aos CPOS e CEM. Desempenhou ainda as Funções de Ajudante de Campo e de Adjunto do General CEME. Comandou o 1º Batalhão de Infantaria Mecanizada da Brigada Mecanizada Independente
e o Agrupamento Echo/SFOR na Bósnia-Herzegovina. Como Coronel exerceu as funções de Chefe de Departamento de Ciências e Tecnologias Militares na Academia Militar. Como Coronel Tirocinado foi Coordenador da área de ensino de operações no Instituto de Ensino Superior Militar. Como Oficial General desempenhou as funções de 2º Comandante e Director de Ensino da Academia Militar e as funções de Chefe da Divisão de Planeamento Estratégico Militar no EMGFA. Cumpriu uma comissão de serviço no estrangeiro como Chefe do G3 Air Branch do Quartel- general de alta disponibilidade (HRF) de Valência/Espanha. Da sua folha de serviços constam 16 louvores, dos quais um concedido pelo Ministro da Defesa Nacional, um concedido pelo General CEMGFA, um concedido pelo General CEME, 12 por Oficiais Generais e um por outras entidades militares. Possui, ainda, várias condecorações de que se salientam quatro Medalhas de Prata de Serviços Distintos, a Medalha de Mérito Militar de 2ª e 3ª classe, a Medalha de Defesa Nacional de 1ª Classe, a Medalha de 1ª e 2ª Classe da Medalha de D. Afonso Henriques – Mérito do Exército e a Medalha de Ouro e Prata de Comportamento Exemplar.
28
Antigos Alunos em Destaque
Carlos Alberto Grincho Cardoso Perestrelo (329/1972) Major General Comandante da Brigada de Reacção Rápida do Exército Português
N
o passado dia 17 de Outubro de 2014, em Tancos, Carlos Perestrelo (329/1972) que frequentou Colégio Militar de 1972 a 1979, oriundo da Arma de Infantaria, a que pertenceu após ter completado os seus estudos na Academia Militar, após trinta anos do seu ingresso nas Tropas Pára-quedistas Portuguesas, tomou posse como comandante da Brigada de Reacção Rápida do Exército Português, grande unidade que integra as Tropas Especiais do ramo terrestre das Forças Armadas Portuguesas. Assume o comando desta grande unidade em que um dos seus Batalhões está em alerta permanente no âmbito da Força de Reacção Imediata do Estado Maior General das Forças Armadas e onde recentemente foi integrado o Regimento de Cavalaria 3, de Estremoz, ao mesmo tempo que subunidades e quadros da Brigada de Reacção Rápida se encontram em missões no Afeganistão, Kosovo e Mali. Carlos Perestrelo conhece muito bem a Brigada, tendo sido seu segundo comandante, chefe de estado-maior, comandante da Escola de Tropas Pára-quedistas e também do seu Batalhão de Instrução. Foi ainda chefe de estado-maior do Comando das Forças Terrestres e desempenhou cargos no estrangeiro, na EUFOR e como observador na ex-Jugoslávia.
Os desafios que a situação internacional pode colocar são vários, mas Carlos Perestrelo está bem preparado para os enfrentar. Em 1985 ingressou no Corpo de Tropas Pára-quedistas da Força Aérea Portuguesa, onde serviu até 1993, ano em que este Corpo Militar foi transferido para o Exército. Esteve colocado em todas as unidades territoriais do Corpo de Tropas Pára-quedistas, tendo exercido diversas funções de Comando e de Estado-Maior em subunidades operacionais da Brigada Ligeira Pára-quedista e de Instrução. Está habilitado com os cursos curriculares de carreira, o Curso de Estado-Maior e o Curso de Promoção a Oficial General e possui, entre outros, o Curso de Pára-quedismo, Instrutor de Pára-quedismo, Saltador Operacional de Grande Altitude, Instrutor Comando/Forças Especiais e “Rangers” do Exército dos Estados Unidos da América. Da sua folha de serviços constam 13 louvores, dos quais 4 concedidos pelo General Chefe do Estado-Maior do Exército, 5 por outros Oficiais Generais e 4 por outras Entidades. Possui, ainda, várias condecorações de que se salientam, a Ordem Militar de Aviz (Grande Oficial), 2 Medalhas de Prata de Serviços Distintos, 1 Medalha D. Afonso Henriques de 1ª Classe e as Medalhas de Mérito Militar de 1ª e 3ª Classe.
Jorge Manuel Pereira da Silva (70/1980) Director da Escola de Lisboa da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa
J
orge Manuel Pereira da Silva (70/1980) é o novo director da Escola de Lisboa da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa (UCP), tendo tomado posse no passado dia 1 de Outubro. Licenciado em 1993 pela Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, Jorge Pereira da Silva é docente da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa na área do Direito Público e Ciência Política desde esse ano. Obteve o grau de mestre em Julho de 2002 e de doutor em Março 2014. Investiga e lecciona na UCP na área do Direito Público, nas disciplinas de Direito Constitucional, Direitos Fundamentais, bem como Teoria e Ciência Política. Foi docente convidado do Instituto
de Estudos Políticos da Universidade Católica e do Instituto de Estudos Superiores Militares. Desempenha funções no Gabinete do Representante da República para os Açores e desenvolve actividade privada como jurisconsulto.
A AAACM deseja as maiores felicidades e um grande sucesso nas novas funções que lhes foram atribuídas, congratulando-se pelo facto de terem sido escolhidos Antigos Alunos para cargos de grande relevo tanto na área militar como na área académica.
Antigos Alunos em Destaque
29
João Miguel Jardim de Abreu Ferreira Pinto (261/1980) Prémio “PME Digital 2014”
A
©Foto Sérgio Garcia (326/1985)
João Ferreira Pinto & Associados Soc. Advogados foi distinguida como “PME Digital 2014” nos prémios “Navegantes XXI” atribuídos pela ACEPI (Associação da Economia Digital) na edição de 2014. A cerimónia de entrega dos prémios ACEPI “Navegantes XXI” 2014 realizada no passado dia 29 de Outubro, no Teatro Thália, em Lisboa, contou com a presença do Secretário de Estado da Modernização Administrativa, Dr Joaquim Cardoso da Costa. João Ferreira Pinto, Senior Partner da João Ferreira Pinto & Associados, recebeu o prémio “PME DIGITAL 2014” que foi entregue pelo Presidente da ACEPI, Dr. Alexandre Nilo da Fonseca e pela Presidente da Associação DNS.pt, Dra. Luísa Gueifão. Os prémios “Navegantes XXI”, promovidos pela ACEPI, distinguem em cada ano os melhores projectos na área do Comércio Electrónico e do Marketing Digital em Portugal.
ANTIGO ALUNO USA A BARRETINA
A iniciativa assinalou o encerramento de mais uma “Portugal Internet Week”, novamente marcada por um conjunto de actividades centradas nas vantagens da Economia Digital, com destaque para os debates realizados no âmbito do Fórum da Economia Digital e para o Dia das Compras na Net. Foram igualmente atribuídos prémios nas diferentes áreas relacionadas com o Comércio Electrónico e o Marketing Digital, tendo também sido entregue o Prémio Carreira a Fernando Pinto – CEO da TAP, que premeia a relevância do percurso profissional de uma individualidade para o desenvolvimento da Economia Digital em Portugal. (Foto: ACEPI - António Costa)
30
Encontro de Comandantes do Batalhão
Encontro de
Comandantes do Batalhão O
comandante do batalhão cessante, 196 de 2006, Nuno Miguel Lopes Raposo, entendeu oferecer ao seu sucessor, 591 de 2007, Francisco Cordeiro Araújo, a sua carcela de comandante simbolizando, desta forma singela, a passagem de testemunho no exercício da função de comandante do Batalhão de Alunos. E resolveu fazê-lo numa cerimónia simples, precedida de um jantar festivo, para o qual entendeu convidar todos os comandantes do batalhão anteriores ainda vivos, nessa estrita condição e não em representação dos respectivos cursos. No final e sob a égide do mais antigo presente, o 47 de 1942, José Maria Myre Dores, vice-decano, cuja proverbial jovialidade ajudou a passagem de testemunho, que se concretizou acompanhada por uns breves votos de felicidades e de encorajamento, pelo
comandante cessante, e de agradecimento e simpatia, pelo comandante actual. Esta iniciativa inédita, a que tive o privilégio de assistir, significou, para mim, que os finalistas da Instituição Colegial estão bem cientes das enormes dificuldades que se deparam na gestão do Património Imaterial que caracteriza o Colégio e lhes está, em certa medida, confiada, em condições muito diversas daquelas em que esse mesmo Património se criou, estabeleceu e consolidou. E reiterou-me a reconfortante certeza que, não obstante as profundas e permanentes alterações a que a sociedade o está porfiadamente sujeitando, a perenidade do Colégio, com esta juventude, está assegurada. Eduardo Maria Rato Martins Zúquete 20/1945
Engenheiros Militares Meninos da Luz
31
Engenheiros Militares
Meninos da Luz* N
o número 196 da ZacatraZ no artigo relacionado com o RE3 e a Homenagem a Sérgio Bacelar (184/1956), foi incluída uma lista de Antigos Alunos Oficiais de Engenharia. No preâmbulo dessa lista e antes da sua publicação já se manifestava a preocupação de, eventualmente, se verificarem omissões ou erros apesar de todos os esforços desenvolvidos para que tal não acontecesse. Independentemente de todas as lacunas e imprecisões que possam existir, tal lista constitui um primeiro passo para que se consiga chegar à meta desejada, isto é, uma lista completa e sem falhas de todos os AA Engenheiros Militares. Tendo-se verificado algumas omissões na lista então publicada e feitas as necessárias correcções, publicamos novamente a relação de AA Engenheiros Militares, apelando à colaboração da Comunidade Colegial para que nos faça chegar elementos que permitam eliminar eventuais faltas que porventura ainda possam existir. Concluída essa fase, será então publicada novamente a lista já enriquecida com o contributo que, estamos certos, será dado por todos para a feitura de um documento de registo que irá sendo actualizado ao longo do tempo. Contamos com a vossa indispensável colaboração para levar a bom termo tal tarefa.
* Procurou fazer-se um levantamento exaustivo e rigoroso. No entanto, agradecemos que nos informem de algum Antigo Aluno que nela não conste e tenha pertencido à Engenharia Militar. Lembramo-nos, por exemplo, de nomes como o do Fernando Jorge Marcelino Mota Cardoso, 603/73, ingressado na Academia Militar em 1980, bem como o do José Carlos Costa da Silva Rosa, 108/65, ingressado na Academia Militar em 1981 que, apesar de terem “ostentado a insígnia do castelo”, não constavam dos registos utilizados.
Joaquim das Neves Franco (sn/1803), Manuel Álvares da Silva (s/n1809), Joaquim António Velez Barreiros (28/1813), António de Azevedo e Cunha (36/1820), António Pedro de Azevedo (67/1821), Tibério Augusto Blanc (34/1822), Carlos Ernesto de Arbués Moreira (23/1824), Faustino José Mena Aparício (34/1828), José Maria Correia da Silva (42/1830), António Maria Barreiros Arrobas (23/1833), Joaquim Thomaz Lobo d'Avila (45/1833), José Joaquim de Castro (39/1835), Júlio Augusto Leiria (153/1835), Nuno Augusto de Brito Taborda (164/1835), Álvaro Macedo da Cunha (2/1837), Ladislau Miceno Machado Álvares da Silva (61/1837), Caetano Alberto de Sorri (73/1838), José Maria Couceiro da Costa Coelho e Melo (16/1839), Manuel Raimundo Valadas (51/1839), José Maria Salema Garção (Ext/1839), Pedro de Alcântara Gomes Fontoura (14/1840), Joa-
quim Filipe Nery da Encarnação Delgado (139/1844), Firmino José da Costa (158/1854), Carlos Augusto Morais d'Almeida (105/1855), Luiz António de Sousa Viana (79/1860), Fernando Pereira Mousinho de Albuquerque (107/1861), João José Pereira Dias (40/1862), Luiz Feliciano Marrecas Ferreira (57/1863), António Maria Mimoso de Mello Gouveia Prego (88/1864), Pedro António Salema Garção (81/1865), Eduardo Augusto Xavier da Cunha (4/1866), José da Costa Cascaes (Ext/1868), Alfredo Augusto de Vasconcellos (67/1870), António da Conceição Parreira (76/1870), António Joaquim de Sequeira d'Almeida Beja (153/1870), António d'Almeida Pinto da Mota (20/1875), Carlos Alberto Soares Cardoso (222/1876), Sebastião Augusto Nunes da Mata (159/1877), Luiz Augusto Sampaio (164/1877), Luiz Gonzaga Vaz da Victoria (119/1878), Luiz Teixeira Beltrão (94/1884), Fernando de Al-
meida Loureiro e Vasconcelos (154/1884), João Baptista d'Almeida Arez (167/1884), Henrique Jacinto Ferreira de Carvalho (240/1885), Salvador Correia de Sá (241/1885), Raul da Cunha Paredes (9/1887), António Alfredo de Magalhães Correia (146/1889), José Celestino Regala (208/1890),Egas Ferreira Pinto Basto (147/1891), Francisco da Cunha Rego Chaves (166/1891), Pedro Fava Ribeiro d'Almeida (164/1892), Jaime Eduardo dos Santos Paiva (66/1894), Vasco Lopes de Mendonça (167/1894), Júlio César de Carvalho Teixeira (31/1895), Jorge Arsénio de Oliveira Moreira (117/1895), José lgnacio de Castelo Branco (197/1895), Eduardo Evangelista Carvalhal (158/1896), Carlos de Barros Soares Branco (192/1896), Bernardino Teixeira dos Reis (118/1897), José Caetano Mazziotti Salema Garção (154/1897), Ruy o'Connor Shirley Pereira (137/1898), Heitor de Mascarenhas Inglês (145/1898), Augusto Cordeiro Diniz Sampaio (198/1898), José Júlio Botelho de Castro Silva (48/1899), Fernando de Oliveira Pinto (180/1899), Roberto de Oliveira Pinto (Ext/1899), Plínio Octávio de Sant'Anna Silva (10/1900), Alfredo Almeida Carvalho (112/1900), João Caetano Gomes Valente de Almeida (129/1900), Virgílio de Jesus e Silva Escudeiro (133/1900), João Alegria dos Santos Calado (136/1900), Afonso Zuzarte de Mendonça (178/1900), José Luís Supico (91/1901), Henrique Hipácio Brion (94/1901), Eugénio António Duro Xavier (96/1901), Eduardo Pimentel Maldonado Pellen (101/1901), Álvaro Eugénio Neves da Fontoura (116/1901), Fernando Galvão Jácome de Castro (89/1902), Mário José Ferreira Mendes (22/1903), José Manuel Sarmento de Beires (36/1903), António Maria Neves de Carvalho (107/1903), Artur Quintino Rogado (40/1904), Júlio Carlos Faria Lapa (119/1904), Manuel Alexandre de Castro Pratas Dias (181/1907), José Machado de Barros (274/1907), Flávio José Álvares dos Santos (288/1907), Américo Soares Beirão (12/1912), Mário dos Santos Risques Pereira (233/1912), Alfredo de Sousa Ghira (33/1913), Albano
32
Engenheiros Militares Meninos da Luz
Moreira de Almeida (127/1913), Manuel José Estêvão Guimarães (135/1913), Henrique Herculano Santa Clara da Cunha (141/1913), António de Brito Pereira Luz (172/1913), Mário António Lisboa Oliveira Dores (189/1913), José Rodrigues Moutinho (297/1914), Joaquim Fernando da Conceição Gomes Marques (326/1914), António da Silva Leitão (335/1914), Eduardo Jorge Gomes da Silva (340/1914), Paulo Emílio de Brito Aranha (356/1914), Luiz Ribeiro Viana (87/1915), Luiz José de Avelar Machado Veiga da Cunha (94/1915), Albino Augusto de Macedo Vendeirinho (182/1915), Manuel Artur Teles da Costa Monteiro (31/1916), Inácio Constantino de Meneses Oom do Vale (60/1916), Daniel Mendes Tavares (329/1916), José de Sousa Fogaça (357/1916), João Meira Rebelo Valente de Carvalho (377/1916), José Rafael Baptista Júnior (390/1916), António Arantes de Oliveira (114/1917), João Manuel Terenas Latino (207/1917), Carlos Miguel Lopes da Silva Freire (246/1917), Armando José Marques Girão (426/1917), João Correia de Magalhães Figueiredo (345/1918), Manuel Avelino Barreira Antunes (436/1918), Eduardo Arantes de Oliveira (ext/1918), José Carlos Arantes de Oliveira (ext/1918), Fernando de Sousa Medeiros Júnior (226/1919), Alexandre Guedes de Magalhães (290/1919), António Ferreira Molarinho do Carmo (72/1920), Henrique Costa dos Santos Paiva (117/1920), Rogério Jaime de Campos Cansado (131/1920), José Fortunato Paulino Brandão Freire Themudo (157/1920), Humberto Lopes Gonçalves Garcia (169/1920), António Gonçalves Barata Galvão (216/1920), José de Azevedo Monteiro de Barros (219/1920), Vasco de Paiva Baltazar Brites (326/1920), Manuel Barbosa de Matos Chaves (178/1921), João Anacoreta de Almeida Viana (322/1921), Bernardo Tiago de Mira Delgado (348/1921), Raul de Brito Subtil (227/1922), João José Rodrigues Mano (177/1923), Armando de Brito Subtil (134/1924), João Carlos Câncio da Silva Escudeiro (136/1924), José Augusto Salvador Tribolet (199/1925), Raul de Figueiredo da Cunha Pacheco (54/1926), Raul de Brito Subtil (227/1927), Artur Vieira (289/1927), Viriato Monteiro Reinas (319/1927), Joaquim de Freitas Morais (21/1930), Vasco Manuel Fernandes Coucelo (91/1930), António Alves Ávila de Melo (323/1930), Francisco Maria Rocha Simões (141/1931), Carlos Maria Bastos Carreiras (249/1931), José Augusto Fernandes (133/1932), José Pedro Saraiva Vi-
cente da Silva (30/1933), João Manuel Gonçalves de Oliveira (352/1933), Carlos Alberto Mongiardim Coelho Costa (237/1937), João António Lopes da Conceição (381/1938), José da Costa Pereira de Sande de Sacadura Bote Corte Real (384/1938), Gonçalo Nuno de Albuquerque Sanches da Gama (385/1938), José Eugénio da Costa Estorninho (77/1940), Fernando Edgard Collet-Meygret de Mendonça Perry da Câmara (143/1940), José Fernando Lopes Gomes Marques (345/1940), Manuel Joaquim Álvaro Maia Gonçalves (61/1940), Francisco Pedro de Oliveira Simões (155/1940), Nuno Manuel Guimarães Fisher Lopes Pires (115/1941), Carlos Jorge da Cunha Fernandes Beirão (54/1942), Júlio César Pedreira de Campos (68/1943), António Eduardo Domingos Mateus da Silva (86/1943), António José Águas Rodrigues Varela (219/1944), Manuel Robalo dos Santos (137/1945), José Augusto Gonçalves Ramos (255/1946), João Manuel Soares de Almeida Viana (107/1947), Álvaro António Duarte Dinis Varanda (347/1948), José Eduardo Roquete Morujão (349/1948), António Carlos de Magalhães Arnão Metello (353/1948), Fernando Eduardo Tinoco Barradas (6/1949), António Manuel Vilares Cepeda (38/1949), Carlos Alberto Borges do Rego Falcão (366/1949), Rui António de Menezes Fonseca e Silva (369/1949), José Corte Real Gonçalves Dias (372/1949), Vasco Joaquim Rocha Vieira (127/1950), José Francisco Pereira Machado Dray (217/1950), António Manuel Seabra Gomes (12/1951), José Eduardo Fernandes de Sanches Osório (210/1951), António Bento Formosinho Correia Leal (74/1952), Francisco José Gomes de Sousa Lobo (95/1952), João José da Silva Veiga (130/1952), Mário José Rosas Leitão (193/1952), Mário Eduardo Abrantes Mendoça Frazão (215/1952), João Carlos de Azevedo de Araújo Geraldes (245/1952), António João Miranda Cecílio Gonçalves (359/1952), Duarte Nuno de Ataíde Saraiva Marques Pinto Soares (44/1953), António João Martins de Abreu (85/1953), Carlos Alberto Biscaia Rabaça Fraga (304/1953), Carlos Jorge de Paiva Ferreira e Costa (371/1955), António Filipe Nunes Salvador Tribolet (61/1956), Sérgio Augusto Margarido Lima Bacelar (184/1956), Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957), José Fernando Decoppet dos Santos Coelho (379/1957), António Manuel Rosas Leitão (441/1958), José Joaquim Restani Graça Alves Moreira (344/1961), José Carlos Costa da Silva Rosa
(108/65), Manuel Ferreira da Silva e Osório de Castro (259/1965), Carlos Alberto de Morais Neves Brás (320/1965), José António Carneiro Rodrigues da Costa (64/1966), José Manuel Silva da Graça Monteiro (192/1966), António Manuel do Nascimento Mendes Abóbora (409/1966), Vítor Manuel dos Reis Correia de Almeida (410/1967), Gil Abel de Andrade Ramos (193/1970), Afonso Jorge Alves Pereira Marques (623/1972), Fernando Jorge Marcelino Mota Cardoso (603/73), Jorge Manuel Noronha da Silveira Alves Caetano (641/1974), Rui Paulo Brazão Martins Costa (560/1975), Bartolomeu Pedro Martins de Bastos (65/1980), José António Fernandes Amaral (442/1983), Miguel Henrique Domingos Dias Sereno (331/1988), Paulo Jorge Vieira Varanda (321/1989), Pedro Alexandre Gaspar de Campos Leal (211/1992), André Henrique Patrício Botica (191/1996).
Alma & Orgulho
33
Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957
Alma & Orgulho N
as comemorações do passado 3 de Março estiveram presentes entre nós, a convite da nossa Associação, dois representantes da direcção de um colégio militar britânico, o «The Duke of Yorks Royal Military School», nomeadamente o seu «Vice Principal», Tenente Coronel Steven Saunderson e pela «Assistant Principal», Senhora Alice Kehaya.
Aqueles que então assistiram às cerimónias no Colégio e ao desfile na Avenida da Liberdade, com certeza deram conta da sua presença, dada a posição de destaque que lhes foi reservada e que muito apreciaram, como posteriormente tiveram a amabilidade de expressar, na carta que a direcção do seu colégio enviou ao Presidente da Direcção da nossa Associação e que foi publicada no nº 195 (Abril/Junho de 2014 ) desta nossa revista. Pouco após a visita, em conversa com um camarada da Direcção da Associação, perguntei-lhe se sabia qual tinha sido a opinião dos nossos visitantes acerca do que se lhes tinha sido dado ver durante a sua estadia entre nós. A resposta que obtive foi a de que eles tinham ficado muito bem impressionados e que tinham sublinhado duas palavras, ao expressarem a sua opinião. Essas palavras foram «Soul» e «Pride». Foram pois a ALMA do Colégio e o ORGULHO dos Alunos e dos Antigos Alunos no seu Colégio, o que mais os impressionou. Na sua carta de agradecimento voltaram a frisar estes dois aspectos, nas duas seguintes frases:
«The pride of the Batallion was very clearly evident throughout the day» e «Zacatraz clearly sums up the spirit of the Batallion».
Os Membros do The Duke of Yorks Royal Military School na visita à Associação e ao Colégio.
Um Antigo Aluno não precisa que se lhe diga ou que se lhe recorde a razão do nosso imenso orgulho por termos tido o privilégio de frequentar o nosso Colégio, essa «exemplaríssima escola de camaradagem», como já lhe chamaram. No entanto, não resisto a voltar a transcrever o que dois militares ilustres, não antigos alunos do Colégio, escreveram no nº2/3 da Revista Militar, de Fevereiro/Março de 2003, exclusivamente dedicado ao bicentenário do nosso Colégio. Escreveu o então Director da Revista Militar, o Exmo. Senhor General Gabriel do Espírito Santo, no Editorial da revista, o seguinte. «O Colégio Militar foi, é, e será, uma escola de Virtudes». Escreveu, por sua vez, o Exmo. Senhor Coronel de Artilharia Carlos Gomes Bessa, no artigo inti-
tulado «Imagens da Projecção Externa de uma Escola Singular», o seguinte: «Nos duzentos anos de vida decorridos, o Colégio Militar foi firmando e confirmando os seus créditos, mantendo como Escola características muito próprias não identificáveis com qualquer outra. Por quanto deu às Forças Armadas, ao Exército em particular, e em termos mais gerais ao País, tornou-se valioso património nacional a que não tem faltado capacidade, projecção e razão de ser para enfrentar preconceitos, resistir e continuar a marchar em frente e enriquecer os valores pelos quais propugna e enriquece o meio em que se insere.». Encontrando-se ainda no mesmo artigo a seguinte asserção:
34
Alma & Orgulho
«...ao mesmo tempo que se cultiva o dever, a lealdade e o patriotismo e se formam intelectualmente os alunos, fomenta-se o espírito de camaradagem que os há-de unir através de todas as vicissitudes da vida, simbolicamente ligados ao emblema da barretina e, espiritualmente, ao amor da Pátria, o que faz dele a melhor escola de cidadania.». As Virtudes Militares que se ensinam e sempre se praticaram no Colégio e os elevados Valores que o Colégio sempre transmitiu e defendeu são pois inquestionáveis. Quanto à Alma do Colégio, esse património imaterial da Pátria pelo qual todos nós Antigos Alunos temos a estrita obrigação de zelar, não podemos deixar de mencionar, que quando se celebrou o bicentenário do Colégio, se considerou necessário e oportuno publicar, a par de uma actualizada «História do Colégio Militar», um livro fundamental, intitulado «O Espírito do Colégio Militar». Não conhecemos outra instituição onde tal tenha também ocorrido. Logo no prefácio da citada obra, da autoria de Luiz Miguel Alcide de Oliveira (163/1952), encontra-se esta frase, que todos nós subscreveríamos:
«A maneira como o Batalhão desfila, o entusiasmo com que é apoiado pelos antigos alunos, a maneira fácil como aqueles que usam a barretina na cabeça ou na lapela comunicam, e a doce saudade que a simples contemplação dos Claustros suscita em quem lá passou fardado, são factos tão incontestados como indizíveis». Tal como acreditamos que a nossa Alma se situa algures na profundeza dos nossos peitos, também muitos de nós acreditam que a Alma do Colégio paira algures nos seus Claustros. Daí que passe a citar escritos de dois Antigos Alunos que assim acreditaram. Escreveu Ramiro Guedes de Campos (42/1915): «Mas a alma é qualquer coisa que passa para lá das almas, e reveste as lajes, sensibiliza as abóbadas! Qualquer coisa que faz perfilar militarmente as colunas dos claustros mas que as une, umas às outras, por arcos de pedra que são abraços!». Escreveu Carlos Dias Antunes ( 212/1939): «Querem uma fotografia que contenha a história, a alma e o sentimento colegial? -Tirem uma fotografia aos Claustros. Vazios, se possível... Está lá tudo!».
sa de subjacente que pertence às camadas mais profundas da realidade e que a cada aluno se revela, de súbito, no simbolismo do número que lhe foi destinado, número misteriosamente impregnado da vida de todos os antecessores e contendo o futuro de todos os sucessores!». Caracterizou de seguida essa Alma destoutra maneira: «Uma expressão de virtudes cívicas e guerreiras, transmitidas não por oralidade mas por intuição, e temperadas sempre, como o heroísmo, códice de regras entre monásticas e de ordem de cavalaria medieval, de que o ponto mais alto - como o Zimbório da Luz do Colégio e que se avista na distância - é a camaradagem!». Para daí concluir: «Eis, meus senhores, porque o Colégio Militar não pode morrer: ele tem a imortalidade da nossa Alma! E a Alma do Colégio tão alta a vejo que a confundo, em honra, glória, grandeza e perenidade, com a Alma da própria Pátria!». Exortou-nos finalmente o Costa Matos. «Que saibamos unir-nos em torno dessa Alma em defesa do Colégio Militar».
Para terminar não posso deixar de transcrever partes do discurso proferido pelo José Alberto da Costa Matos (96/1950), no jantar de Novembro de 2013, comemorativo do aniversário da nossa Associação, em que falou pela última vez, publicamente, como Presidente do Conselho Supremo. Disse-nos então o seguinte: «A Alma do Colégio Militar é qualquer coi-
Nota final Nestes tempos funestos em que o Colégio é atacado traiçoeiramente nos seus fundamentos, recomendo a leitura de «O Espírito do Colégio Militar». Faz-nos bem à Alma.
Abertura solene do Ano Lectivo
Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957
Abertura solene do Ano Lectivo N
a tarde do passado dia 17 de Outubro decorreu no Colégio a tradicional cerimónia da abertura solene do ano lectivo. Fui para esta cerimónia com alguma curiosidade, para ver se o Ministro da Defesa Nacional se atreveria a comparecer, para ver «in loco» o resultado da sua obra de descaracterização do Colégio, ou se mandaria em sua substituição a Secretária de Estado, com o mesmo propósito. Felizmente nenhum dos dois compareceu. Não tiveram coragem para tanto, o que não nos surpreendeu e está de acordo com o que de lamentável fizeram até agora. Primaram pela ausência. Dispensaram-nos da sua indesejável presença, que iria decerto estragar-nos a tarde. A cerimónia foi presidida pelo Chefe do Estado Maior do Exército, General Jerónimo. Como infelizmente deixou de ser regra, de há uns tempos a esta parte, a presença do Chefe do Estado Maior do Exército nas cerimónias que marcam os dias festivos do Colégio, seria bom que esta presença fosse o sinal de que o actual ocupante do cargo irá prestar ao Colégio toda a atenção que o mesmo merece, em reconhecimento da sua longa história de mais de dois séculos ao serviço da Pátria, dando à Nação homens de carácter, que sempre honraram o Colégio ao longo das suas vidas. A ver vamos se esta nossa esperança é fundada. As cerimónias tiveram, como sempre, os Claustros como cenário e iniciaram-se com a entrada em formatura das três primeiras companhias e da escolta, obviamente apeada. Ao observar essa entrada chamaram-me a atenção dois factos. O primeiro foi a presença de uma aluna na 3ª Companhia, tendo ao peito as fitas
correspondentes a medalhas do Instituto de Odivelas. O segundo facto inédito que me chamou a atenção, foi a presença de uma aluna na formatura da escolta. Penso ser a mesma aluna que competiu no «Jumping» do Colégio, realizado no passado mês de Junho no hipódromo do Campo Grande, e para quem eu na altura previ este destino. Não era preciso ser adivinho para o fazer. Esta aluna está de parabéns por se ter imposto tão rapidamente. Seguiu-se a integração na formatura do novo Comandante do Batalhão, aluno 591 Cordeiro de Araújo, que após receber a apresentação das diferentes companhias e da escolta ordenou, por sua vez, a integração na formatura do Estandarte Nacional. O Batalhão apresentou armas e cantou o Hino Nacional com o acompanhamento de todos os presentes, incluindo os alunos da escola primária (agora 1º ciclo,) que o fizeram com a mão direita sobre o coração, o que é de assinalar. É de pequenino que se começa. Seguiu-se a entrada nos Claustros da formatura dos novos alunos e alunas, o que constituiu um espectáculo insólito, dada a grandeza da formatura, de cerca de metade do tamanho do Batalhão ali pronto para a receber, dada a idade e o tamanho de muitos dos elementos da formatura, a ingressarem no Colégio para os últimos anos do curso, e dada a presença maciça de novas alunas, em resultado da extinção do Instituto de Odivelas, um atentado ao Património Imaterial da Nação, que deverá cobrir de vergonha, até ao final dos seus dias, aqueles que o praticaram e que ficarão , como é habitual, impunes. Na formatura dos novos alunos e alunas havia um número grande de elementos ©Foto Renato Oliveira
35
36
Abertura solene do Ano Lectivo
©Foto Renato Oliveira
ainda em farda de serviço interno, o que terá sido apenas uma pequena amostra dos inúmeros problemas que irão ocorrer ao longo do ano e que irão com certeza alterar significativamente a paz e a ordem que devem imperar no Colégio, para que a educação e o ensino aí ministrados não sejam afectados. Veremos o que o ano lectivo agora iniciado nos reserva. Com o Batalhão completo, já com os seus novos componentes, foi entregue pelo Aluno Batalhãozinho, Filipe Antunes da Fonseca Gomes Rodrigues (650/2014), ao Aluno Comandante do Batalhão, Francisco José de Jesus Santana Cordeiro de Araújo (591/2007), a réplica da espada de El-Rei D. Carlos, seguindo-se o abraço entre ambos, que simboliza a união e a camaradagem entre todos os elementos do Batalhão. De seguida e conforme é tradição, foi a vez de o Comandante de Batalhão se dirigir à comunidade colegial, tendo proferido o discurso que seguidamente se transcreve:
“Vossa Excelência General Chefe do Estado Maior do Exército, Excelentíssimos Oficiais Generais, Excelentíssimo Coronel Tirocinado, Director do Colégio Militar, Oficiais, Docentes, Sargentos, Praças e Funcionários Civis, Excelentíssimos Convidados, Pais e Encarregados de Educação, Camaradas Antigos Alunos, Camaradas Alunos Eis-me hoje aqui, como graduado, nas funções de Comandante de Batalhão, aqui nestes nossos ilustres Claustros, a discursar perante esta insigne audiência na Abertura Solene do Colégio Militar. Este facto, que naturalmente me enche de orgulho, serve, acima de tudo, para sublinhar um especial agradecimento a todos aqueles que, de forma bastante empenhada, nos apoiaram, a mim e ao meu curso, para que hoje aqui pudéssemos estar, nesta última e, porventura, a mais importante etapa do nosso percurso colegial. A todos esses, reconhecidamente deixamos um encarecido muito obrigado, pelo trabalho, mas também pela confiança que em nós depositaram. Quando, há sete anos atrás, entrei nesta tão nobre casa, estava longe de me imaginar no desempenho desta função e num colégio tão diferente. Incontestavelmente, o colégio de hoje é muito diferente do de então. Julgo que já ninguém tem dúvidas de que vivemos num período de profunda mudança, provavelmente a maior, por que o colégio passou, na sua já longa existência, e quiçá no seu futuro. Contudo, se me fosse dada a oportunidade de escolher o momento para ser graduado, não tenho dúvidas de que escolheria o presente momento. É um grande privilégio estar na linha da frente numa altura que será decisiva para a continuidade desta nossa tão amada casa. Certamente que seremos todos nós, e repito, TODOS nós, que, com a nossa entrega de corpo e alma, decidiremos o futuro do Colégio Militar enquanto Instituição fiel aos seus pilares base. Cabe-nos a todos honrar os que passaram por estes egrégios claustros cheios de história e tradição. É também nossa especial missão imortalizar o sonho do homem visionário, que da lei da morte se libertou pela sua sabedoria e bravura, e que, com
a sua obra, garantiu que muitos meninos, ao longo dos anos, se tornassem, para além de Homens, verdadeiros Meninos da Luz. O Colégio Militar vive actualmente um período de grande mudança. Uma mudança que nos foi imposta, no conteúdo e também no calendário, e que não acautelou a particular sensibilidade que deve orientar as alterações numa instituição como esta. No entanto, e como o colégio tão bem nos ensina, devemos assumir que também nós fomos a tinta que determinou esta mudança. Fomos nós, como Alunos, que ao não nos mobilizarmos para que dedicássemos à nossa formação todo o nosso esforço e inteligência, deixámos que se propagasse um aproveitamento escolar inadmissível para uma casa como esta, e de que os rankings, pontualmente, nos foram dando sinal. Fomos também nós, como Professores, que permitimos que alguns, que se julgam de lugar garantido, não se empenhassem na docência como este colégio merece e deve exigir. Fomos igualmente nós, como Oficiais, que deixámos que o serviço no colégio fosse visto como um prejuízo na carreira, e não como algo de prestigiante e gratificante. Fomos ainda nós que, como funcionários desta casa, esquecemos o espírito e a dedicação características dos antigos fâmulos, passando a regular a nossa actividade por interesses essencialmente pessoais. Fomos nós, como Encarregados de Educação, que quisemos um colégio à medida do nosso educando, não aceitando as virtudes de um projecto educativo com provas dadas. Por fim, fomos também nós, como Antigos Alunos, que fora destas quatros paredes nem sempre afirmámos o que cá dentro se aprende, não ambicionando um contributo nas mais diversas áreas da intervenção humana, esquecendo, por vezes, que esta barretina se traz no coração, e não somente na lapela. Fomos, pois, todos nós que, de uma forma ou de outra, entregámos o futuro do nosso Colégio à decisão de quem não o conhece. A restruturação foi-nos, pois, imposta, mas agora TODOS devemos ser parte activa e integrante da luta pela preservação institucional deste Colégio. Aceitemos, pois, que hoje, como sempre o futuro não é garantido pelo passado, mas irá depender, em grande medida, das nossas acções do presente. Como sabemos, todo o processo de mudança
Abertura solene do Ano Lectivo
já leva um ano. Por isso, é meu justo dever congratular não aqueles que o aceitaram de uma forma passiva, mas em especial todos aqueles que, em prol do futuro do Colégio, e muitas vezes pondo de lado algumas das suas convicções, não desistiram. Assumindo como desafios o que outros veriam como problemas. Pais, Encarregados de Educação e demais familiares, alegra-me saber que confiam no Projecto Educativo do Colégio Militar e, desde já, vos felicito pela coragem da vossa escolha que, embora poucos tomem, ainda menos se arrependem de a ter tomado. O Colégio complementará a formação dos seus alunos; no entanto, é da vossa competência e responsabilidade a educação dos vossos educandos. Acompanhem o seu percurso, apoiem e ajudem os vossos filhos, ambicionem e exijam mais deles. Sendo o colégio uma segunda família, é importante uma relação de cooperação e empenhamento conjuntos, para que a educação dos vossos educandos não fique comprometida. Professores, vós sois uma parte fundamental na continuidade deste Colégio, numa altura em que se questiona o aproveitamento escolar dos alunos: para além de exigência, pedimos-vos profundo envolvimento. Empenhem-se e exijam empenho; só assim a vossa função e o esforço serão inequivocamente retribuídos pelas gerações que aqui voltarão. Estamos certos que com o vosso espírito de missão e de sacrifício, conseguiremos inverter o ciclo menos positivo que, infelizmente, o colégio tem vindo experienciar relativamente aos nossos resultados escolares. Por isso, sublinho as palavras de William Arthur Ward, que tantos de nós reconhecem; “O professor medíocre descreve, o bom professor explica, o professor superior demonstra e o grande professor inspira”. Militares, a história desta casa está pejada de inúmeras expressões das virtudes militares, nomeadamente a coragem, a lealdade, a honra, a camaradagem, o espírito de servir e o amor à Pátria. Peço-vos que, com a vossa conduta e empenho, luteis para que estes continuem a ser os valores de orientação da vivência colegial. Só assim conseguireis prestar um verdadeiro serviço militar à Nação. Demais servidores desta nossa Casa, os vossos antecessores são parte incontornável da história do Colégio; por isso vos peço que não sucumbais perante a tarefa de contribuir para
um Colégio melhor. Novos alunos, futuros ratas, estais formados pela primeira vez em frente a todo o Batalhão Colegial, o qual em breve e solenemente ireis integrar. Por estes centenários claustros passaram gerações e gerações de alunos que enfrentaram as adversidades que vós ides ultrapassar. No início, muitas serão as lágrimas derramadas, mas estou certo de que no fim serão muitas mais, natural fruto do orgulho de finalizar um amado percurso que agora se inicia. Aqui aprenderão o significado das palavras Camaradagem, União, Esforço, Dedicação, Altruísmo e Abnegação, palavras essas que vos guiarão não só no vosso percurso colegial, mas serão parte da formação que vos norteará ao longo das vossas vidas. Nesta casa, a força de todos reside no empenho de cada um, e a alma de cada um alimenta o espirito de todos. Sereis “Um Por Todos, Todos Por Um”. Hoje ainda só Turistas, amanhã, verdadeiros Meninos da Luz prontos a honrar a Casa que vos fez crescer. Uma palavra especial às alunas que vieram do Instituo de Odivelas. É com um enorme pesar que vemos desalentar uma instituição que sempre esteve ligada ao Colégio. Por tudo isto, e porque esta é, agora, a Casa de todos nós, peço-vos o vosso empenho na afirmação deste nosso Projecto Educativo. Graduados, o nosso trabalho estará para sempre ligado ao futuro do Colégio. Pela positiva ou pela negativa, seremos sempre parte integrante da sua história. Enfrentaremos dificuldades que, provavelmente, nunca outros Graduados enfrentaram. Anime-nos, no entanto, uma frase de outras forças especiais, “se fosse fácil estariam cá outros”. Tenho plena confiança de que estareis à altura das inúmeras barreiras que iremos ter de ultrapassar. Sinto um verdadeiro privilégio por integrar esta equipa. Sois aqueles que comigo sorriram nos bons momentos, e nos tempos difíceis me ampararam e alentaram, para que junto triunfássemos. Por último, uma palavra com particular emoção, a todo o Batalhão Colegial: sois vós a verdadeira essência desta casa, em todos nós reside a esperança de um futuro à altura dos nossos pergaminhos. É tempo de reflectirmos sobre as nossas atitudes e querermos ser, mais do que nunca, verdadeiros Homens de
37
©Foto Renato Oliveira
valor. Ser aluno do colégio é primar pela excelência, independentemente do género ou do regime de frequência; compete-nos a todos dignificar a farda que envergamos. Só o nosso esforço conjunto ditará a justa perenidade desta casa. Termino, citando um grande líder que mudou a história da humanidade. Nelson Mandela, em tempos, disse que “A grande glória não está em nunca cair, mas em levantarmo-nos cada vez que caímos”. O Colégio, nos seus mais de duzentos anos, deparou-se com guerras, crises, mudanças de regime, novas constituições; foi posto em causa, mudou, mas nunca tombou. Será, sem dúvida, pretensioso afirmar que algo ou alguém lhe porá fim. Por isso, devemo-nos unir para divisarmos, pelo menos, mais dois séculos de Glória Colegial. Uma certeza tenho “Se o espírito vive, a chama perdura”. Ao nosso tão amado Colégio, um forte Zacatraz, Bem Hajam.”
38
Abertura solene do Ano Lectivo
©Foto Renato Oliveira
Finalizado o discurso fez-se imediatamente ouvir um vibrante Zacatraz bem gritado pelos Antigos Alunos presentes nos Claustros, com o que se concluiu a cerimónia aí efectuada. Passou-se então à Parada Nova onde o Batalhão, sem os novos alunos e alunas, desfilou garbosamente perante o General Chefe do Estado Maior do Exército, mas com os elementos em formatura exageradamente distanciados uns dos outros, o que parece ser uma nova moda que agora pegou, aparentemente na procura de protagonismo individual de cada elemento da formatura. As cerimónias prosseguiram no Ginásio Professor Dario Fernandes, tendo o Director do Colégio, Coronel Tirocinado José Figueiredo Feliciano, proferido as seguintes palavras:
©Foto Renato Oliveira
“Excelentíssimo Senhor General Chefe do Estado-Maior do Exército, Meu General, O Colégio Militar e toda a comunidade colegial congratulam-se pela presença de V.Ex.ª ao dignar-se presidir à cerimónia de abertura solene do ano lectivo 2014-2015, o que muito nos honra e sensibiliza, conferindo a esta cerimónia um especial brilho, dignidade e relevância, simbolizando o apreço e consideração que V.Ex.ª dedica ao Colégio Militar, cientes e seguros da prioridade que o meu General confere ao cumprimento da nossa nobre missão, em especial num momento particularmente relevante na já longa história do Colégio Militar. Exmo. Senhor Tenente-General Comandante da Instrução e Doutrina do Exército, Meu General Comandante, Exmos. Senhores Oficiais Generais, Exmo. Senhor Major-General Director de Educação, Exmo. Tenente-General Perry da Câmara; na pessoa do Meu General permitam-me que dirija uma palavra de particular apreço e consideração pelos que me antecederam no cargo de Director do Colégio Militar, Exmos. Senhores Directores do Instituto de Pupilos do Exército e do Instituto de Odivelas, Exmo. Senhor Presidente da Associação de Antigos Alunos do Colégio Militar, Exmo. Senhor Presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos do Colégio Militar, Caros Pais, Encarregados de Educação, Antigos Alunos e Comunidade Colegial em geral, Senhores Adidos Militares de Países Amigos, Entidades instituidoras de prémios, a quem agradecemos o contributo para galardoar o mérito dos nossos alunos,
Exmos. Senhores Professores e Antigos Professores, Oficiais, Sargentos, Praças e Funcionários Civis, Exmas. Entidades convidadas, Minhas Senhoras; Meus Senhores, Caros Alunos, Começo por agradecer a todos os ilustres convidados que nos quiseram honrar com a sua presença nesta cerimónia pública, que anualmente comemora e formaliza o início do ano lectivo, facto que interpretamos como um sinal inequívoco do respeito que vos merece a instituição Colégio Militar. Neste momento solene, gostaria de saudar com particular ênfase e apreço todos os novos alunos e suas famílias que sonharam, desejaram e acreditaram escolher o Colégio Militar para crescer, e que hoje se encontram presentes na sua primeira cerimónia oficial. A Abertura Solene do Ano Lectivo constitui o momento em que o Colégio Militar se apresenta pronto para desenvolver a sua actividade perante a Comunidade Educativa. Não deixa igualmente, à parte do nosso quotidiano, de constituir um momento de reflexão, sobretudo na conjuntura do actual Colégio Militar, porque, de facto, no nosso entendimento, só faz sentido falar em comunidade, quando todos os que nela se inserem, conhecem e sentem a realidade e, por isso, este momento de partilha. O Colégio Militar irá completar 212 anos de existência, durante o presente ano lectivo, numa história marcada por muitos desafios vencidos, que consolidaram a sua identidade actual e nos dão a garantia de um longo e promissor futuro. Esta é, seguramente, uma marca do valor do Colégio Militar: A sua história e a sua identidade.
Abertura solene do Ano Lectivo
O Colégio Militar é um estabelecimento militar de ensino que se insere na estrutura orgânica do Exército há mais de dois séculos, tendo à sua guarda um Estandarte Nacional, o que lhe confere uma dimensão institucional que importa preservar e que está na génese da sua intemporalidade. O Colégio Militar tem associado um conjunto de responsabilidades que vão muito para além do tradicional formato educativo de uma escola do sistema de ensino português. Trata-se de uma escola de dimensão nacional, que assenta a sua organização e vivência interna numa matriz castrense, numa lógica formativa própria, em que o desígnio da identidade nacional e a formação integral se desenvolvem num quadro de Valores e Princípios próprios, que se estende por diferentes fases de crescimento dos nossos alunos. Ao Colégio Militar estão associados conceitos como Exigência, Rigor e Disciplina, próprios da Instituição Militar e, como tal, os alunos adquirem nessa condição, uma responsabilidade e um conjunto de deveres diferentes dos demais alunos do sistema educativo em Portugal. Ser aluno do Colégio Militar tem associado um valor distintivo que importa preservar e desenvolver. Este facto não invalida que tomemos consciência que o seu universo são crianças e jovens, que se encontram ao abrigo de um regulamento próprio que decorre do estatuto do aluno e da ética escolar, sem qualquer vínculo estatutário de natureza Militar. O Colégio Militar encontra no apoio à família militar uma das suas responsabilidades, não deixando, no entanto, de assumir que serve Portugal e, como tal, é frequentado por alunos filhos de militares e de civis, desenvolvendo um sistema de ensino regular de acordo com os currículos do Ministério da Educação e Ciência, com a finalidade principal, na vertente escolar, de promover o acesso dos seus alunos ao sistema de ensino superior, assegurando ainda uma formação militar de base, sendo os alunos, no final dos seus percursos escolares, livres de fazerem as suas opções escolares ou profissionais. Estas palavras estão de facto carregadas de uma convergência de intemporalidade e actualidade, que importa reflectir e manter bem presentes. Meu General, Ilustres Convidados, Minhas Senhoras e meus Senhores, O momento actual do Colégio Militar é ca-
racterizado pelo designado processo de reestruturação dos Estabelecimentos Militares de Ensino. O sentido da evolução e adaptação aos novos tempos levou o Colégio Militar, na sua condição de instituição viva e aprendente, para uma nova realidade sem, no entanto, deixar de continuar a entender tudo o que foi referido. O Colégio Militar procedeu no passado ano lectivo à implementação do 1º Ciclo do Ensino Básico, introduziu o ensino misto e a par do regime de frequência em internato, modelo fortemente diferenciador do Colégio Militar, assumiu também o modelo de frequência em regime de externato como mais uma opção formativa. Num corpo discente mais heterogéneo e com diferentes caracterizações terá agora que imperar uma visão mobilizadora e integradora, em que o respeito pela diferença possa trazer e reforçar o conceito de unidade o que, no nosso entendimento, só poderá ser atingido pela assunção de um Projecto Educativo único para todos os seus alunos. Terão igualmente que se ir aproximando os adequados modelos pedagógicos e de vivência interna neste novo universo de alunos, que preserve e potencie a identidade e o espírito colegial como marca e valor do Colégio Militar. Neste momento, cumpre-me uma palavra de reconhecimento a todos os que servem no Colégio Miliar, em especial ao Corpo Docente, Militares e Funcionários Civis, mas sobretudo aos nossos alunos, que num tão curto espaço de tempo, tiveram a capacidade de acomodar estas novas realidades e perceber que este era o caminho e o futuro. O Colégio Militar é por definição pedagógica um espaço de crescimento, um espaço de esperança, esperança de acreditar e olhar para o futuro. Um espaço de Pessoas, de Infra-estruturas e de Projectos. Das Pessoas, importa relevar que nos encontramos num efectivo processo de crescimento. Iniciámos o ano lectivo com 608 alunos, sendo 498 alunos do Batalhão Colegial e 110 alunos do 1º Ciclo do Ensino Básico. Uma palavra muito especial para estes alunos que, pelas suas especificidades, pelas suas reduzidas autonomias e idiossincrasias próprias de crianças dos 6 aos 10 anos que, embora não integrando o batalhão colegial, não deixam de assumir em pleno a condição de alunos do Colégio Militar.
39
Do efectivo total de 608 alunos, 289 são novos alunos, sendo que destes 85 são alunas que transitaram do Instituto de Odivelas. Para o efectivo de alunos referidos, o Colégio Militar iniciou o presente ano lectivo com 79 docentes, nos quais se incluem 13 docentes que transitaram do Instituto de Odivelas, dando assim forma a um efectivo esforço de racionalização e optimização de recursos que está a ser desenvolvido em coordenação com a Direcção de Educação do Comando de Instrução e Doutrina do Exército. Ainda no âmbito das pessoas, refira-se que se encontra em processo de revisão um novo quadro orgânico que possa acomodar esta nova realidade, sendo que existe uma expectativa e uma necessidade de reforçar o efectivo de funcionários civis, nomeadamente ao nível dos serviços auxiliares e de apoio, de forma a melhorar a nossa capacidade em alguns dos nossos processos funcionais. Ao nível das Infra-estruturas, encontram-se a decorrer os procedimentos para a construção do internato feminino, que deverá naturalmente ser acompanhado por uma melhoria das condições de habitabilidade das camaratas masculinas. No nosso processo de crescimento é necessário, ainda, encontrar algumas respostas para o aumento do efectivo de alunos, nomeadamente pela redefinição de um plano director que, nesta fase, passa pela prioridade que deverá ser dada à construção de um novo pavilhão gimnodesportivo e ainda pela construção de infraestruturas de base para o 1º ciclo, de modo a ampliar os espaços de apoio e de recreio coberto para os alunos mais pequenos. Em talhe de balanço, torna-se importante referir algumas das principais obras e trabalhos efectuados na conservação e requalificação de alguns espaços e infraestruturas, sendo de relevar: Trabalhos de recuperação e manutenção do Edifício Gulbenkian, das Ciências; Substituição de toda a caixilharia de alumínios e pintura do Pavilhão General Morais Sarmento, das aulas, obra ainda em curso; Remodelação de um espaço para reuniões com Pais e EE, sala de visitas e de estudo; Recuperação e adaptação de várias instalações sanitárias nos diferentes espaços do Colégio Militar, com vista a encontrar o equilíbrio necessário para servir alunos e alunas;
40
Abertura solene do Ano Lectivo
©Foto Renato Oliveira
A Instrução Primária, na Parada Nova, assistindo ao desfile do Batalhão Colegial.
Adaptação de instalações do Palácio da Mesquitela, com vista a servir de vestiários femininos para as alunas durante o período de transição; Obras de melhoria na Feitoria, em Oeiras; Continuada adaptação das infraestruturas no 1º Ciclo do Ensino Básico com mais duas salas e a construção de um pequeno parque infantil; No âmbito dos Projectos, a componente pedagógica tem vindo a caminhar no sentido de acomodar: Um crescimento acentuado de novos alunos; A Consolidação da implementação do 1º Ciclo, o ensino misto e da relação equilibrada e desejável entre a realidade dos alunos internos e externos; Uma redefinição de uma mancha horária pedagogicamente mais adaptada à actual realidade do Colégio Militar, nomeadamente pela alteração do horário de serviço interno e, ainda, pela revisão de Actividades de Complemento Curricular, nomeadamente pela introdução de algumas opções, como o mandarim e a expressão dramática direccionada para a representação. Também na lógica de crescimento entre as pessoas e o conhecimento, que em última análise, diria primeira, constitui os alicerces de uma boa escola, encontramo-nos centrados no desafio sistémico da melhoria dos resulta-
dos escolares como factor determinante na afirmação do Colégio, como uma escola de referência no sistema educativo. Passou, ainda, a ser uma das nossas preocupações permanentes desenvolver e reforçar as competências ao nível da Cidadania, Liderança e Valorização Pessoal, tão essenciais e diferenciadoras do projecto educativo do Colégio Militar. Como base de suporte ao conhecimento das diferentes disciplinas, definimos como tema anual e transversal “Português, uma língua de crescimento” e escolhemos como título da lição inaugural “O Português, uma língua do Mundo e no Mundo”, que irá ser proferida pela Srª Professora Susana Pereira que, desde já, felicito e agradeço pela disponibilidade manifestada. No âmbito de uma visão de abertura ao mundo, estamos a relançar as relações de cooperação com Colégios Militares de países amigos. Em colaboração com a Associação dos Antigos Alunos, iniciámos a relação com Colégio Militar Duke of York's Royal Military School do Reino Unido. No mundo lusófono, recebemos a visita de S.Exª o Ministro da Defesa da República de Moçambique, na procura de se iniciar um projecto de cooperação institucional com aquele país. Com a República Federativa do Brasil, iremos recuperar relações antigas, encontram-se
já confirmadas a recepção de duas delegações da rede de Colégios Militares daquele país. Ainda numa lógica de crescimento do espaço de afirmação do Colégio Militar, e também no âmbito da sua responsabilidade institucional, importa igualmente relevar a nossa vontade em desenvolver e reforçar os processos de cooperação e de divulgação estruturada junto dos países lusófonos. Neste quadro geral, a responsabilidade formativa do Colégio Militar cresceu e engrandeceu-se, e só o valor do Colégio Militar tem permitido responder aos desafios que nos foram colocados. Somos hoje um Colégio, com mais potencial, com mais oferta formativa e com mais valor. Com novos desafios e novas oportunidades. Meu General, Ilustres Convidados, Minhas Senhoras e meus Senhores, Temos consciência que existe um longo caminho a percorrer, estamos cientes da responsabilidade que nos incumbe. Nesta fase do Colégio Militar, é fundamental uma visão colectiva, nomeadamente num momento em que o sentido da mudança e da evolução para novos tempos passou a ser uma realidade. Temos o dever e o compromisso de continuar a entender o Colégio Militar como uma instituição de ensino de referência, alicerçado nos valores e princípios que emanam da matriz formativa de um sistema militar de
Abertura solene do Ano Lectivo
ensino, que tem como seu principal desígnio Servir Portugal. Será no encontro entre os valores da Instituição Militar, com o conhecimento do passado, a compreensão do presente e a reflexão prospectiva que se aprende a escolher, a traçar e a percorrer novos caminhos. Termino com a confiança no trabalho de TODOS e com a motivação de enfrentarmos o futuro com as dificuldades e os desafios que nos sejam colocados, os quais constituirão motivo para tornar mais una e forte a comunidade colegial. As pessoas e as organizações revelam o que têm de melhor nos tempos difíceis, nomeadamente como aqueles que vivemos a nível nacional, e neste momento particularmente relevante do nosso Colégio Militar, estamos seguramente perante uma oportunidade e um compromisso para com o futuro. O Colégio Militar, com o apoio do Exército, saberá estar à altura do seu passado no respeito por todos aqueles que ao longo da sua história contribuíram para edificar esta obra. A terminar, formulo votos dos maiores sucessos escolares para todos os nossos alunos, e que em harmonia com a vida colegial, e com o contributo empenhado de todos, formadores, docentes e famílias, e ainda com o apoio dos alunos graduados finalistas, o presente ano lectivo constitua uma fase da vossa vida, que encontre o equilíbrio entre o ser criança e jovem e a responsabilidade de apresentar resultados. Aos alunos que terminaram a sua formação no Colégio Militar, no ano lectivo anterior, desejo-vos as maiores felicidades na condição de antigos alunos, designadamente na frequência do ensino superior e, posteriormente, na vossa vida profissional. Um bom ano lectivo para todos.”
41
Ao discurso do Director seguiu-se a lição inaugural proferida pela Professora Dr.ª Susana Margarida Gonçalves Pereira Gomes de Carvalho, subordinada ao tema «O Português, uma língua no Mundo e do Mundo».
“Sua Ex.ª General Chefe do Estado-Maior do Exército, Senhores Generais, Ilustres Convidados. Pais e Encarregados de Educação, Caros colegas, Alunos e Antigos Alunos. Falar de Português num ano de celebração da língua foi o repto lançado pelo Exmo. Sr. Director do Colégio Militar, Coronel Tirocinado José António de Figueiredo Feliciano, convite esse que aceitei com muito gosto. Que país pode pretender afirmar a sua identidade, negligenciando a sua língua materna? Este ano, em 27 de Junho, passaram 800 anos sobre o mais antigo documento oficial conhecido, a nível de Estado, em língua portuguesa, o testamento do rei D. Afonso II. Não é seguramente o aniversário do nosso idioma, porque o nascimento de uma língua não se pode determinar com tanta exactidão, mas a data em que conheceu a luz do dia o mais antigo documento régio escrito em português. Outros houve que mereciam igual destaque, como a Notícia de Fiadores, datada de 1175, o Pacto de Gomes Pais e Ramiro Pais, também por essa data e a Notícia do Torto, provavelmente anterior a 1214, mas ficou determinado que fosse o Testamento do rei D. Afonso II. Os primórdios da língua portuguesa Ora, a história da língua portuguesa remonta à época dos romanos quando estes invadiram a Península Hispânica em 218 a.C., tendo os povos que aí habitavam, com excepção dos bascos, adoptado o latim como língua. Em 409, a Península é invadida por povos germânicos – vândalos, suevos e alanos e, mais tarde, pelos visigodos. Em termos de cultura e língua, a contribuição dos suevos e visigodos não foi preponderante, tendo-se mantido o latim escrito como única língua de cultura, mas realçando-se o facto de o latim falado ter evoluído e diversificado. Em 711, sucede a invasão muçulmana e, depois, no início do século XI, a Reconquis-
©Foto Renato Oliveira
ta Cristã. Estes dois acontecimentos são marcantes na formação de três línguas peninsulares – o galego-português a oeste, o castelhano no centro e o catalão a este. Posteriormente, a língua galego-portuguesa, que sofrera menor influência árabe, transformar-se-á no português. Ao fundo latino, que está na base do galego-português, vieram juntar-se palavras de origem germânica, de determinados campos semânticos, como a guerra (guerra, espiar), a indumentária (fato, ataviar), a casa e seu equipamento (estaca, espeto), os animais (ganso, marta) e ainda inúmeros nomes de pessoas (Fernando, Rodrigo, Gonçalo, Afonso), assim como topónimos (Guimarães, Gondomar). E também palavras de origem árabe, pertencentes a actividades que floresciam na época – a agricultura, os animais e as plantas (arroz, azeite, alface); as ciências, as técnicas e as artes (alfinete, alicate, almofada); as profissões (alfaiate); a guerra, as armas e a vida militar (alferes, refém); a habitação urbana e rural (arrabalde, aldeia). Há ainda um grande número de palavras de origem árabe nos topónimos portugueses – Alcântara (a ponte), Almada (a mina) e Algarve (o ocidente). O galego-português é a língua em que foi escrita a primitiva poesia lírica peninsular,
42
Abertura solene do Ano Lectivo
conservada em compilações como o Cancioneiro da Ajuda, o Cancioneiro da Vaticana e o Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa. Em documentos oficiais e particulares, surge, por exemplo, no testamento de Afonso II. O rei D. Dinis dará, depois, grande impulso a esta “língua vulgar” ao tornar obrigatório o seu uso em documentos oficiais. Por volta de 1350, data em que se extinguiu a escola literária galego-portuguesa, o português moderno vai constituir-se no eixo Lisboa-Coimbra, a primeira, cidade onde reside o rei e capital do reino e a segunda onde estão implantadas instituições de grande prestígio cultural, como o Mosteiro de Santa Cruz e a Universidade. Com a expansão ultramarina, a língua portuguesa chegou a África, Brasil, Malaca, China e Japão, conheceu o Mundo e foi por ele conhecida. O Português em África Pelos contactos havidos entre os portugueses e africanos, a partir do século XV, formaram-se os crioulos africanos de origem portuguesa, ligados à escravatura dos negros. Tais línguas resultaram da simplificação e reestruturação de uma língua europeia que as populações adoptavam por necessidade. Hoje em dia, essas línguas estão algo distantes do português, persistindo, na sua maioria, apenas a base lexical. Foi com a Revolução de 1974, que surtiram alterações. Nas cinco repúblicas que se tornaram independentes após essa data (Cabo-Verde, Guiné-Bissau, S. Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique), o português tornou-se a língua oficial a par dos crioulos, as línguas locais, sendo usada na administração, ensino, imprensa e nas relações com o mundo exterior. Embora as autoridades evidenciem a utilidade do português e o desejem conservar, também confessam que o seu fim último é o de promoção das línguas nacionais. Em termos oficiais, o “português de África” segue a norma europeia, mas, na oralidade, aproxima-se muito do “português do Brasil.” O Português no Brasil Após a descoberta do Brasil, em 1500, os colonos de origem portuguesa falam o português europeu e as populações de origem
indígena aprendem o português, mas usam-no de modo muito imperfeito. Ao lado deste idioma, existe a “língua geral”, o tupi, língua principal das regiões costeiras e tornada língua comum. Assim coexistiram durante muito tempo. Mais tarde, o Marquês de Pombal proíbe o uso da língua geral e obriga ao uso oficial da língua portuguesa. Com a ida de D. João VI para o Brasil, acelera-se o progresso cultural do país, que se irá tornar depois independente. A partir de 1822, o Brasil vai valorizar tudo o que é seu, distinto da metrópole, nomeadamente as suas raízes índias, influenciado pela cultura de França e pelos imigrantes europeus que aí aportam, alemães, mas sobretudo italianos. Estes viabilizaram grandes alterações a nível demográfico e económico, com a urbanização e industrialização do Brasil. O Brasil rural transformou-se em vastas regiões urbanas que coexistem com zonas subdesenvolvidas. É nas grandes cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, entre outras, que se vai desenvolver a língua que é hoje o português do Brasil. O Português na Ásia Durante o período expansionista português, nos séculos XVI a XVIII, o português serviu de língua franca nos portos da Índia e do sudeste da Ásia. Com o decorrer do tempo, a presença política na Ásia foi perdendo intensidade, até se encontrar restringida ao território de Goa, Diu e Damão na Índia, a uma parte da ilha de Timor e a Macau, no início do século XX. Hoje em dia, o domínio português no Oriente desapareceu – a Índia portuguesa foi recuperada pela União Indiana em 1961, Timor-Leste, primeiro anexado pela Indonésia, tornou-se mais tarde independente e Macau tornou-se uma região administrativa da China. No entanto, Macau permanece como esteio do ensino da língua portuguesa e como dinamizadora da expansão da cultura chinesa na Europa. Quando em 1513, dois ou três mercadores portugueses, liderados por Jorge Álvares e vindos de Malaca, aportaram na ilha de “Tamão”, rapidamente perceberam que essas viagens eram vantajosas, resultando num lucro quatro vezes superior ao valor do investimento. Depressa a zona se tornou num local
atractivo para o comércio – os portugueses vendiam pimenta e madeiras aromáticas e levavam para Malaca porcelanas, sedas, leques. Só em 1550 se verificou o estabelecimento em Macau. A China é hoje o local onde crescem mais universidades a falar português, tirando o Brasil, claro, com o objectivo de reforçar as relações comerciais com os países de língua portuguesa, sendo aquele e Angola dois dos seus principais parceiros. Em Macau, essa aprendizagem estende-se também a um Jardim de Infância e a escolas secundárias. No Japão, o primeiro contacto com o português ocorreu aquando da chegada de Jesuítas portugueses à ilha de Tanegashima, em 1543, para espalhar o Catolicismo. Durante este período, os jesuítas estudaram japonês e publicaram livros sobre o idioma, tendo esta fase de influência portuguesa em várias vertentes como química, matemática, medicina, teologia, história, literatura e ciências náutica e militar durado até ao início do século XVII, data em que o Cristianismo foi proibido no Japão e os jesuítas expulsos do país. Mais de duzentos anos depois da saída dos portugueses, quando se deu uma nova abertura do Japão, em meados do século XIX e com o estabelecimento da Embaixada em Tóquio, verificou-se que, apesar desse hiato de mais de duzentos anos, a influência portuguesa tinha permanecido. Tem sido exactamente essa nossa herança, tão apreciada junto dos japoneses, a base desta ligação entre os dois países, sendo o português ensinado ao nível do ensino universitário, secundário e também primário, devido, sobretudo, à comunidade brasileira presente no Japão. O Português no mundo actual O Português é o quinto idioma mais falado no mundo, o terceiro no Ocidente e o primeiro no hemisfério sul. É a língua oficial de nove países: Angola, Brasil, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, S. Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Juntos formam a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). A enorme diáspora de cidadãos de países lusófonos levou a que o português seja hoje um dos idiomas que mais tem crescido entre as línguas europeias. O português é também a língua oficial em
Abertura solene do Ano Lectivo
diversas organizações internacionais, como a Mercosul, a Organização dos Estados Americanos (OEA), a União Africana e a União Europeia. Sendo a terceira língua usada nas redes sociais e a quinta na internet, em geral, a CPLP pretende que a língua portuguesa seja integrada nos idiomas oficiais da ONU, que actualmente são seis – árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo. Para tal poderá invocar factores económicos, como o facto de 50% dos recursos petrolíferos descobertos na última década se encontrarem em solo de países pertencentes à CPLP ou o facto de o gás e o petróleo produzidos no Brasil, Angola, Moçambique e Guiné-Bissau representarem, num futuro próximo, cerca de 30% da produção mundial. Há uma crescente procura pelo conhecimento da língua portuguesa e da cultura riquíssima a ela associada, não só em Portugal, com a afluência de inúmeros estrangeiros que aprendem português em universidades portuguesas, como as do Algarve, Açores, Aveiro, Beira Interior, Coimbra, Lisboa, Minho e Porto, mas também no estrangeiro com a presença de cursos de língua portuguesa em escolas primárias, secundárias e em Universidades. Assim, o Instituto Camões promove no estrangeiro a aprendizagem da língua e da cultura portuguesas através de programas de apoio à criação de departamentos de português ou estruturas equivalentes em universidades. Esses Centros de Língua Portuguesa estão disseminados um pouco por todo o mundo – África do Sul, Alemanha, Angola, Argentina, Áustria, Bélgica, Bulgária, Cabo Verde, Canadá, China, Croácia, Espanha, Estados Unidos, Estónia, Etiópia, França, Geórgia, Guiné-Bissau, Hungria, Índia, Itália, Marrocos, México, Moçambique, Moldávia, Namíbia, Polónia, Reino Unido, República Checa, Roménia, São Tomé e Príncipe, Senegal, Sérvia, Suécia, Timor-Leste, Tunísia, Venezuela e Zimbabué. É co-responsável por 35 cátedras em universidades estrangeiras, que promovem a investigação e o ensino em diferentes áreas como a Linguística, Literatura, Artes ou História, entre outras. É ainda responsável pelo ensino do português em escolas básicas e secundárias no mundo inteiro, auxiliando a actividade dos docentes através dos Centros de Coordenação. Nos Estados Unidos, na Universidade de Harvard, verificou-se um aumento de 60% no
ensino desta língua entre 2011 e 2012. No Reino Unido, um estudo do Instituto British Council considera o português um dos 20 idiomas estrangeiros mais importantes nesse país nos próximos 20 anos, a par do espanhol, árabe, francês, mandarim, alemão, turco, russo, italiano e japonês. Tal selecção baseia-se em factores económicos, culturais e também nas necessidades das empresas inglesas relativamente aos seus negócios com o exterior. Aí, já se estuda português em escolas secundárias e também primárias. Na Venezuela, há um crescente interesse pelo português, sendo ensinado não só em escolas de ensino universitário, mas também secundário. Na Tunísia, pretende-se introduzir o português ao nível do ensino secundário. O país que descobriu o mundo há quinhentos anos atrás, muito embora tenha perdido o poderio económico, não mais abandonou a expansão linguística e cultural. Ao longo da História, religiosos, filósofos, cientistas, escritores elevaram o nome de Portugal, da língua portuguesa e da sua cultura. Nas diferentes áreas do saber, podemos citar João de Barros (gramático e divulgador da história de Portugal), D. João de Castro (náutica), Pedro Nunes (matemático e cosmógrafo), Francisco Sanches (filosofia), Bartolomeu de Gusmão (aeronáutica), Jacob Sarmento (médico divulgador das ideias de Isaac Newton), Jacinto Magalhães (projectista de instrumentos), Avelar Brotero (botânica), Andrada e Silva (mineralogia), Neves da Costa (cartografia militar), Carlos Ribeiro (geologia), Oliveira Martins (historiador, crítico social e político), Rafael Bordalo Pinheiro (caricatura artística), Leite de Vasconcelos (fundador da dialectologia portuguesa), Gago Coutinho (navegação aérea), Egas Moniz (médico, professor, laureado com o Prémio Nobel da Medicina e Fisiologia em 1949), Abel Salazar (Histologia e Embriologia), Luís de Freitas Branco (música), Rómulo de Carvalho / António Gedeão (professor, divulgador científico e poeta), Aniceto Monteiro (matemático), Vieira da Silva (pintura), Tiago de Oliveira (estatística e probabilidades), Luiz Saldanha (oceanografia e ictiologia). Na literatura, não podemos esquecer Gil Vicente, Luís de Camões, Padre António Vieira, Bocage, Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Antero de Quental, Eça de Queirós, Guerra Junqueiro, Cesário Verde, António Nobre, Raul Brandão, Fernando
43
Pessoa, Maria Lamas, Florbela Espanca, Maria Archer, José Gomes Ferreira, José Rodrigues Miguéis, Miguel Torga, Vergílio Ferreira, Sophia de Mello Breyner Andresen, Maria Judite de Carvalho, José Saramago (prémio Nobel da literatura em 1998), Eugénio de Andrade, Alexandre O’Neill, José Cardoso Pires, Luís de Sttau Monteiro, David Mourão-Ferreira, Maria Velho da Costa, António Torrado, Teolinda Gersão, António Lobo Antunes, Vasco Graça Moura, Alice Vieira, João Aguiar, Lídia Jorge, Gonçalo M. Tavares, Valter Hugo Mãe e José Luís Peixoto. Todos eles contribuíram para a renovação do saber, abriram a cultura portuguesa ao contacto exterior, deram-na, receberam-na, enfim, tornaram-na mais rica. Ao longo de mais de oito séculos de existência, foi pela língua e cultura portuguesas que se formou a nossa identidade nacional. Se esta esteve ameaçada aquando do domínio castelhano, a Restauração de 1640 permitiu consolidar a nossa herança histórica e cultural. A cultura portuguesa é Europa e é Mundo. É nesse sentido que deve ser entendida a lusofonia. O lugar privilegiado que a língua portuguesa ocupa hoje no Mundo deve ser preservado. E não são os escritores, cientistas ou homens do saber os agentes principais dessa expansão. Somos nós, os cidadãos dos diferentes países lusófonos, que temos a responsabilidade na divulgação, no estudo, na partilha de conhecimentos, na análise, na crítica, na protecção desse património cultural tão rico que é a língua portuguesa. Só através do correcto uso da língua podemos alcançar os nossos interlocutores, podemos ensinar e aprender, daí que seja premente uma sólida aprendizagem da língua portuguesa com a leitura e análise de textos literários de diferentes géneros e épocas, com práticas de exposição oral e escrita. Leitura, escrita e oralidade permitem o domínio do vocabulário, a nitidez e estruturação do pensamento e a faculdade de o expor. Conhecendo bem a língua portuguesa podemos alcançar outros saberes, navegar pela história, mergulhar na ciência, embrenharmo-nos na literatura e nas artes, crescermos enquanto alunos para crescermos como cidadãos do Mundo. Só entendendo o português, entendemos outras linguagens, só conhecendo a nossa cultura, conhecemos a dos outros. Por isso, deveis, caros alunos, empreender
44
Abertura solene do Ano Lectivo
Personalidades que presidiram à cerimónia.
©Foto Renato Oliveira
Concluída a lição inaugural, seguiu-se a entrega de medalhas e prémios aos Alunos que mais se distinguiram no ano transacto pela sua aplicação literária e aptidão física e a entrega de cartas de curso aos Alunos que concluíram os seus cursos no final do ano lectivo passado (2013/14). A cerimónia efectuada no ginásio foi encerrada com o Hino Nacional, cantado por todos os presentes. Ao final da tarde procedeu-se ao arriar da Bandeira Nacional na fachada principal do edifício do Colégio.
©Foto Sérgio Garcia (326/1985)
um profundo estudo da vossa língua para vos compreenderdes a vós e ao Mundo, lidando hoje com as matérias escolares, amanhã com as contingências da profissão que escolherdes. Quantos de vós não haveis respondido a uma questão por não entenderdes a pergunta? Quantos de vós não haveis apreendido o essencial de um texto por não saberdes o significado de uma palavra? Deveis, pois, aproveitar cada dia para aprender um novo vocábulo, um novo conceito para que cada dia seja dia de enriquecimento linguístico e cultural. O português é a vossa língua materna tornai-a a vossa língua de comunicação, de conhecimento, de crescimento. Sois vós o depositário deste vasto património que é a língua e a cultura e sois vós os perpetuadores do mesmo. É certo que a língua portuguesa se espalhou pelo globo, derrubou fronteiras, avançou para outros continentes, tornou-se internacional. É nesta realidade actual, com uma constante troca de ideias e conhecimentos, que urge preservar a nossa identidade cultural e linguística, urge preservar a nossa capacidade de ser diferente, de ser PORTUGUÊS.”
ANTIGO ALUNO USA A BARRETINA
Curso de 1937/1944 Romagem dos 70 Anos de Saída
Curso de 1937/1944 Romagem dos 70 Anos de Saída 31 de Outubro de 2014
Os Antigos Alunos do Curso 1937/1944 prestam Homenagem ao Fundador Marechal António Teixeira Rebello. ©Fotos Leonel Tomaz
Francisco José Martins Ferreira (13/1939) Alberto Mendes Quadro (87/1938) Álvaro Augusto Fonseca Sabbo (133/1938) João Carlos Oudinot Larcher Nunes (142/1938) Jorge Manuel Riley da Mota Faria (171/1936) João António Piano Martins (182/1937) Durval Serrano de Almeida (214/1938) Manuel Francisco Dias Pereira do Vale (376/1938
45
46
Curso de 1976/1984 Romagem dos 30 Anos de Saída
Curso de 1976/1984 Romagem dos 30 Anos de Saída 10 de Outubro de 2014
Curso 1976/1984 – 30 Anos de Saída – 10 de Outubro de 2014 ©Fotos Leonel Tomaz
V
inte anos depois, nesta Romagem de Saudade, estiveram presentes os Professores Major Nelson da Silva Ferreira, Coronel Carlos Frederico Dias Antunes (212/1939), Engenheiro Valdemar Morgado Gama e os Antigos Alunos Rui Jorge Pestana Gomes do Souto (12/1976), João Carlos Gil da Silva Ribeiro (18/1976), Manuel João Correia do Nascimento Pereira (38/1976), João Miguel Potier Rodeia (54/1976), Francisco Maria Sarmento Cavaleiro de Ferreira (58/1977), Luís Miguel Quita Cardoso de Oliveira (102/1976), Miguel Serrão Sirgado Arnaut Pombeiro (133/1975), José Manuel Díez Roncon (140/1977), Jorge Miguel Paisley Dias Antunes (224/1976), Paulo Alexandre Ventura Prates de Figueiredo Delfino (252/1976), Jacinto Paulo Alves Ribeiro (260/1976), Rui Pedro Rosa Ferreira Rodrigues (320/1976), José António Pires
Poças (323/1976), Pedro Duarte da Rocha Ferreira (362/1977), João Gião Pires Lopes Morais (383/1976), António João Gomes Correia dos Santos (392/1975), Francis-
co José Ferreira Duarte (394/1976), Nuno Bettencourt Sardinha Portela Ribeiro (396/1976), José Eduardo Cacela Pesquinha
da Silva (404/1974), Carlos Manuel Pereira do Nascimento Neves Oliveira (408/1976), Fernando Manuel Baptista Coelho Pereira (448/1976), Pedro António Melo de Oliveira (451/1976), Paulo Jorge de Barros Pires Trigo (462/1976), João Nuno Hipólito Pires Mateus (490/1977), Paulo Alexandre de Almeida Alves Monteiro (501/1976), Rui Miguel Laboreiro Risques da Costa Ferreira (516/1976). O Curso de 1976 distinguiu-me com o privilégio de me convidar a participar nas celebrações dos seus 30 anos de saída do CM. No nosso reencontro, verifiquei, com estranheza, que algumas das volumosas curvas abdominais (a que chamo "curvas da prosperidade"), as raras alvas cabeleiras e "outros sinais do correr dos tempos", em poucos segundos, desapareciam para um retorno do mesmo indivíduo
Curso de 1984/1992 Romagem dos 30 Anos de Entrada
aos seus 10 a 17 anos, com o mesmo sorriso malandro, frases "calixtas" ou atitudes mais "gozáveis"… Foi um fenómeno que me encantou. Mas, no decorrer do convívio, fui observando, em êxtase, que o aprumo e correcção no trato, iam revelando excepcionais virtudes individuais, indícios indesmentíveis
de qualidades de carácter onde imperam o civismo e os mais nobres valores humanos. Na celebração da Eucaristia, só tive uma prece: a de agradecimento por terem sido excedidas as minhas expectativas nos meus "sonhos" de professor, ex-educador daqueles que agora como homens, cidadãos válidos e contribuintes em pleno, na construção
Curso de 1984/1992 Romagem dos 30 Anos de Entrada 24 de Outubro de 2014
Curso 1984/1992 – 30 Anos de Entrada – 24 de Outubro de 2014 ©Fotos Leonel Tomaz
T
rinta anos depois, nesta Romagem de Saudade, estiveram presentes: André Rodrigues de Oliveira Ponces de Carvalho (30/1984), Rui Pedro de Almeida Borges Isaías (34/1984), Hélder Manuel Dias Teixeira (35/1984), Pedro Miguel Sena da Costa Branco (38/1984), Henrique Maria de Proulle Dias Rebello da Silva (50/1983), João Luís de Mascarenhas e Silva Shoerder Coimbra (54/1984), Carlos Jorge Veríssimo Bastos de
Ferreira Marques (88/1984), Nuno Miguel Silva Dias da Costa (93/1984), Rui Pedro Bargado Lérias (102/1984), Gonçalo Miguel de Matos Gonçalves (105/1984), Hernâni da Rosa Bonifácio (107/1984), Mário Manuel Vieira Martins Bento (127/1984), Arlindo Miguel Rosado Rodrigues (140/1984), Gonçalo Nuno Papoula Marcão de Figueiredo (142/1984), Pedro Filipe Moreira de Andrade Tavares (145/1984), Sérgio José Faria
47
de uma Humanidade Melhor. Por toda a felicidade que me haveis proporcionado, a todo e cada um dos elementos do curso de 1976, OBRIGADO. Carlos Frederico Dias Antunes (212/1939)
48
Curso de 1994/2002 Romagem dos 20 Anos de Entrada
Lourenço (179/1984), Pedro Nuno Morgado de Fonseca (224/1984), João Luís Pestana Pereira (256/1984), Miguel Mota da Costa Cascaes Guiné (269/1984), Pedro Henrique Marcelino Alves Delgado (278/1984), Gonçalo Faivre dos Santos Lopes (288/1984), José Miguel Pissarra Coelho Rolo Duarte (364/1984), João José Pacheco de Almeida
Tété (383/1984), Pedro Rodrigo dos Santos Pires Salvado (392/1984), Tiago Costa Gaspar Duarte Ramos (404/1984), Paulo Jorge da Silva Curto (431/1984), António Miguel Magalhães Nogueira Lúcio (37/1983), Pedro Manuel Patrocínio Dias Madeira (452/1984), Tiago Maria Duarte Santos Gonçalves de Azevedo (454/1983), Mar-
Curso de 1994/2002 Romagem dos 20 Anos de Entrada 26 de Outubro de 2014
Curso 1994/2002 – 20 Anos de Entrada – 26 de Setembro de 2014 ©Fotos Leonel Tomaz
V
inte anos depois, nesta Romagem de Saudade, estiveram presentes: Rui Eduardo Vieira Barrento Sabbo (11/1994), Sérgio Alexandre Vieira Pombo Mendes (23/1994), Tiago Alexandre Fernandes Vaz (44/1994), José Augusto de Pinho Tavares (61/1994), Fábio Nuno Ribeiro das Neves (148/1994), Nuno Miguel Gomes Calado (151/1994), Gustavo André dos Santos Lima (248/1994), João Pedro de Bettencourt Jordão de Noronha Krug (252/1994), Tiago
Miguel de Castro Parente (343/1993), César Augusto Paulo Pousa (372/1994), João Carlos Briosa Antunes Baeta (426/1994), Guilherme João Cavaco Esperança da Silva (431/1994), Gonçalo Francisco de Oliveira Vilela da Silva (439/1994), David Miguel Tavares da Costa Garcia (442/1994), José Ulisses Lemos Pires Ribeiro Braga (446/1994), Manuel Amaral de Ataíde Banazol (447/1994), Paulo Alexandre Ribeiro Martins de Sousa (448/1994).
co António Martinho da Silva (456/1984), Ricardo Afonso Barata (491/19849, Nuno Pedro Rodrigues Vieira de Sousa Dow (493/1984), António José Calhabrês Fiarresga (495/1984), António José Ferreira Pinto Dá Mesquita (498/19849, João Miguel Trigueiros Serra Ramos Ferreira (499/1984) e Celso Adriano Pinto Leal Pisco (500/1984).
O Batalhão em números ou a anatomia de um crime
49
Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957
O Batalhão em números
ou a anatomia de um crime O
s anos de 2013 e de 2014, este último que agora se aproxima do seu final, foram dois anos horríveis para o Colégio Militar, vítima da sanha destruidora, da insensibilidade, da obstinação, e da incapacidade de reconhecimento do valor das instituições, do ministro da Defesa Nacional, que em má hora entrou em funções e decidiu volver os seus olhos para aquilo a que decidiram chamar os Estabelecimentos Militares de Ensino, onde o Colégio se encontra incluído. Durante o Verão de 2013, confrontada com as determinações ministeriais relativas ao futuro do Colégio, a nossa Associação empenhou-se denodadamente na tentativa de revogação dessas mesmas determinações, altamente lesivas da identidade do Colégio. A forma mais visível dessa luta foi a campanha televisiva, que muito incomodou o referido ministro, em que várias individualidades conhecidas e de prestigio da nossa comunidade colegial e não só, expressavam a interrogação «MATAR O COLÉGIO, PORQUÊ?». Esta mesma interrogação fez a capa do nº 193 (Outubro/Dezembro de 2013) da nossa revista, capa essa de fundo negro, sinal da nossa tristeza e do nosso luto. Até aos últimos dias que antecederam o início do ano lectivo passado, muitos de nós, ingenuamente, acreditámos que a nossa luta poderia ter êxito e travar os desígnios ministeriais. Não foi esse o caso. O início oficial do ano lectivo passado deu origem a uma enorme manifestação de pesar protagonizada pelos Antigos Alunos e que deu origem ao artigo intitulado «JOR-
NADA DE LUTO» publicado no referido nº 193 da “ZacatraZ”. Foi uma jornada pungente, que também foi vivida pelos próprios Alunos, por intermédio do magnífico discurso do Aluno Comandante do Batalhão, em que disse aquilo que alguns generais deveriam ter dito, com todo o empenho e determinação, fazendo valer o peso das suas patentes e das suas funções, e que, tanto quanto nós sabemos, nunca foi dito até agora. A nossa manifestação de nojo e o referido discurso de nada valeram, até porque o ministro inexplicavelmente fugiu a estar presente na abertura solene do ano lectivo, a que tinha prometido comparecer, em idêntica cerimónia do ano lectivo anterior. Foi uma prova eloquente da sua natureza. Não nos surpreendeu, era previsível. O que surpreende é o cargo que ocupa. No final de Novembro de 2013, no jantar comemorativo do aniversário da nossa Associação, o António Reffóios (529/1963), no discurso que proferiu como Presidente da Associação, salientou que estávamos em luta, sendo essa luta assimétrica e desigual, pelas razões que então expôs, prometendo porém, que continuaríamos a defender-nos dos ataques feitos ao Colégio e à nossa Associação. O ano lectivo de 2013/2014 foi o ano em que se começaram a sentir no Colégio os efeitos da acção funesta do ministro, com a consequente descaracterização do Colégio. Para que todos possam ter uma ideia das alterações aí introduzidas, apresentamos de seguida os dados relativos à composição
do Batalhão Colegial no referido ano lectivo. Não se incluem no Batalhão os Alunos/as do 1º ciclo (antiga Instrução Primária).
50
O Batalhão em números ou a anatomia de um crime
Dados relativos à composição do Batalhão Colegial no ano lectivo 2013/2014.
A estes números correspondem as seguintes percentagens:
Alunos Internos Alunos Externos Alunas Externas
86% 4% 10%
Verifica-se que os Alunos/as Externos já constituíam 14% da população colegial, o que já era uma percentagem com significado. Esta alteração de tomo deu origem durante o ano lectivo transacto a inúmeros problemas, que poderiam ter sido evitados em boa parte, se as coisas tivessem sido, ao menos, devidamente previstas e planeadas. Tal não foi possível fazer, dada a precipitação com que foram impostas as modificações introduzidas, procurando o ministro criar uma situação de facto consumado. A Direcção do Colégio teve de ir resolvendo, o melhor que pôde, as situações complicadas com que se foi deparando no seu dia a dia, no que foi auxiliada pela nossa Associação e pela Associação de Pais e Encarregados de Educação, com um desgaste que bem poderia ter sido evitado. O ano lectivo que no passado mês de Setembro se iniciou não vai ser melhor do que o que se concluiu, sendo marcado pela injecção maciça no Batalhão Colegial de meninas obrigadas a migrar do Instituto de Odivelas para o Colégio, devida à extinção imposta ao Instituto, num acto prepotente e de lesa-pátria, que não deveria ficar impune. Oxalá alguém consiga que se faça justiça. Concluído o processo de admissões ao Colégio a composição do Batalhão passou a ser a seguinte:
A análise conjunta destes números revela-nos alguns factos significativos, que passamos a analisar. O número de alunos internos decresceu, passando de 313 a 286. A percentagem de alunos internos teve também uma queda, mas esta bem maior, devida ao aumento do total de alunos e alunas, que passou de 365 para 494. A percentagem de alunos internos é agora de 58%, ou seja, apenas pouco mais de metade do Batalhão é constituída por alunos internos. Se atendermos que o internato era um dos pilares de apoio do Colégio, temos logo aqui uma evidência irrefutável da sua descaracterização em curso. O número de alunos externos mais do que duplicou, passando de 16 a 38. Em termos de percentagem duplicou, passando de 4% a 8%, o que se ficou a dever à entrada de 16 alunos externos para o 5º ano. Dos alunos admitidos para o 5º ano, cerca de 1/3 são externos. O número de alunas teve um enorme aumento, passando de 36 para 170, o que se deveu á entrada em bloco de alunas vindas do Instituto de Odivelas. Das 170 alunas 46 pernoitam no Instituto de Odivelas. Em termos percentuais as alunas passaram de 10% para 34%, ou seja, de súbito, passaram a representar um terço do Batalhão. Estes números falam por si, é inútil referir a mudança radical que esta entrada maciça de alunas introduz no Colégio e a perturbação que poderá causar. A análise dos números apresentados permite ainda algumas outras constatações interessantes, que de seguida se indicam. No próximo ano lectivo iremos ter como finalistas, se todos os alunos/ as do 11º ano tiverem sucesso escolar, 22 alunas e 34 alunos. Haverá 34 graduados e 22 furriéis? Ou ir-se-ão graduar alunas externas que terão então apenas um ano de permanência no Colégio? A ver vamos. Face a tudo o que já se passou de há pouco mais de um ano para cá, tudo é possível, pois parece reinar o principio «quanto pior, melhor». Se tomarmos o que se passa no 5º ano como indicativo das tendências para os anos futuros, a composição do Batalhão em termos percentuais, passaria a ser a seguinte:
Alunos Internos 42% Alunos Externos 22% Alunas (Internas/Externas) 36% Este não seria o cenário que uma quantidade maciça de Antigos Alunos, em cujo número me incluo, alguma vez admitiu. Foi esta a notável obra do senhor ministro em pouco mais de um ano e mais ainda está para vir. É caso para dizer:
É obra senhor ministro. Seria difícil fazer pior!
A estes números correspondem as seguintes percentagens:
Alunos Internos Alunos Externos Alunas Externas
58% 8% 34%
Entrevista a José Eusébio Pereira Barata Cordeiro de Araújo (591/1973)
51
Entrevista conduzida por Martiniano Gonçalves (9/1958)
Entrevista a
José Eusébio Pereira Barata Cordeiro de Araújo (591/1973) N
asceu em 24 de Outubro de 1960 e ingressou no Colégio em 1973 com o número 591, onde foi Porta Guião no ano de finalista. É sócio da AAACM com o número 2237. Tenente-Coronel da Força Aérea na Reserva com a especialidade de Navegador, é Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, e possui o Curso de Defesa Nacional pelo Instituto de Defesa Nacional. Professor Efectivo da Academia da Força Aérea, Director do Centro de Estudos Aeronáuticos e do Curso Básico de Comando, Coordenador Táctico da Aeronave P-3P, com cerca de 6000 horas de voo, desempenhou diversas funções de Comandante de Missão em múltiplos cenários operacionais e integrou Forças Combinadas e/ou Conjuntas nomeadamente em operações de bloqueio à ex-Jugoslávia. Presente na vida colegial onde o seu filho (591/2007) é o actual Comandante do Batalhão, foi
colaborador activo no apoio à Direcção da Associação em particular nas iniciativas de orientação profissional aos alunos finalistas. Desempenhou funções na Associação de Pais e Encarregados de Educação do Instituto de Odivelas e integra a Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos do Colégio Militar de que é Presidente, onde desempenha papel muito activo no apoio à Direcção do Colégio, com participação de relevo no Conselho Escolar. É Presidente do Conselho de Delegados de Curso, dirigindo o apoio dos Cursos à Direcção da Associação e prestando informações de relevo para as linhas de orientação e comunicação de informações dos Delegados aos respectivos Cursos. É membro do Conselho Supremo da Associação desde Março de 2014.
Gostava de começar por falarmos acerca da tua passagem pelo Colégio e da tua vida profissional. Martiniano Gonçalves - Foste “Rata” no 3º ano (hoje 7º ano); porquê? Como encaras mais de 40 anos após entrares para o Colégio, o período que lá viveste? Como foste como aluno? Em que é que isso te marcou? Graduação?
José Cordeiro de Araújo - A minha entrada para o CM dá-se por um acaso, de 1971 a 1973 estive em Moçambique, na cidade da Beira, como tantos outros filhos de militares que acompanharam os pais nas suas comissões no Ultramar. Não tinha até essa data nenhum conhecimento acerca do Colégio
Militar. Porém, nesse já distante ano de 73, comecei a ouvir falar de uma visita de estudo dos alunos do CM à província de Moçambique, o que se veio a concretizar em Junho de 1973. Sendo a vida social muito intensa nas províncias ultramarinas, rapidamente os comentários, todos bastante positivos, começa-
52
Entrevista a José Eusébio Pereira Barata Cordeiro de Araújo (591/1973)
Com os Pais e Irmãos.
ram a correr. E foi assim, por um daqueles felizes acasos da vida, que despertei para uma realidade para mim desconhecida até então: o Colégio Militar. Filho de militar e com elevado pendor para a vida militar, imediatamente falei com os meus pais que prontamente acederam a que eu fizesse as provas de admissão. Não estando eu à altura das provas físicas de admissão, o meu pai arranjou-me um treinador, um ginasta de excepção cujo nome recordo agradecido, Lien Jonh, que me preparou física e mentalmente para o desafio. Como na altura vivia na cidade da Beira, tive que me deslocar a Lourenço Marques, para realizar as provas de admissão. Em Outubro de 1973 ingressei, juntamente com mais 12 ratas do 3º ano (actual 7º ano), no Colégio Militar, a partir dessa data e para a vida, Menino da Luz. Quanto ao período que vivi, e sublinho vivi em toda a plenitude, porque nesse tempo vivia-se no colégio, pois entravamos ao Domingo à noite e saíamos ao Sábado. Aliás, saíam aqueles que pudessem ir a casa, o que no meu caso não acontecia com frequência pois os meus pais moravam em Castelo Branco. Por tudo isso assumo uma enorme dívida de gratidão para com o Colégio, devo-lhe indesmentivelmente uma grande parte da minha educação e formação, tanto como homem como também como cidadão. Acentuo que esta constatação assume particular relevância se recordarmos o contexto social de permanente instabilidade que então se vivia em Portugal.
No que se refere ao meu percurso de aluno, e sintetizando, considero que fui “decrescendo” em aproveitamento académico, veja-se que acabei por chumbar no 6º ano (actual 10º ano), e “crescendo” no envolvimento na dita “vida colegial”, exclusivamente medalhas de aptidão militar e física, escolta, reactivação da revista “O Colégio Militar”, que tinha deixado de ser publicada, actividades extra escolares, chás dançantes e tantos outros eventos deliciosamente característicos do nosso colégio. Terminei o meu percurso colegial como finalista do 7º ano (actual 11º ano), graduado 3 estrelas do Comando, Porta-Guião e responsável pelas actividades extra-escolares. Foi um tempo tão agradável e feliz, que a saída teve que ser quase à “força”. Recordo que tiveram de nos “despejar” no Largo da Luz, a mim, ao Couceiro Braga, ao Bragança Moutinho e ao Inocêncio, pois não queríamos sair do CM, e já tínhamos mudado as camas da camarata para a sala de leitura da terceira. Martiniano Gonçalves - Lembras-te de alguns acontecimentos de que guardas memória? José Cordeiro de Araújo - Como sabes a vida colegial é bastante prolífera em acontecimentos marcantes, daqueles que ficam para o resto da nossa vida. Como tenho a felicidade de pertencer ao curso do António Miguel Brochado Miranda, ele de tempos a
tempos recorda-nos esses eventos já perdidos na espuma do tempo. Com os seus blogs e livros, nomeadamente o último, que tem o sugestivo título “ Os Meninos da Luz”, vai-nos relembrando e assustando com histórias que para a maioria das pessoas, e actualmente, podem parecer inverosímeis, no entanto ocorreram mesmo, e foram esses acontecimentos que foram sedimentando uma vivência única recordada hoje com muita nostalgia e emoção. Dessas histórias, que afirmam a especificidade educacional do CM, recordo por exemplo no que se refere à destreza do Menino da Luz, o ter realizado, no meio de uma enorme confusão de uma aula de equitação, uma prova de saltos montado ao contrário no cavalo, isto é, voltado para trás. Lembro também com muita saudade os jogos de futebol com o capelão, o cinema às quartas, onde para além do ritual de ida à Formação, adquirimos uma enorme cultura cinéfila. Julgo que foram tempos em que o Colégio Militar se assumia verdadeiramente como uma família, até porque nalguns casos era mesmo a Família. Desses tempos recordo ainda essa especial época histórica, do 25 de Abril e dos anos que lhe seguiram, que com o natural folclore revolucionário então vivido contribuiu, em muito, para o caricato de algumas situações, mas também para a afirmação e teste da nossa formação. Desse período, particularmente intenso, recordo com orgulho e saudade alguns momentos particularmente marcantes. DesComo graduado num almoço com os novos alunos em 1979.
Entrevista a José Eusébio Pereira Barata Cordeiro de Araújo (591/1973)
taco por exemplo, como sinal de respeito que nutria por esta casa, a continência do General António de Spínola, quando passou em frente ao Colégio Militar nos primeiros dias da revolução. Igualmente marcante foi o contraste evidenciado pela serenidade e carácter dos Alunos do Batalhão Colegial perante o fervor revolucionário dos militares das sessões de esclarecimento. Dentro das situações mais caricatas destaco as aterragens de helicópteros no campo de Futebol, a escolha de um novo fardamento interno com calças à boca-de-sino e sapatos de tacão, as “discussões” ou mais propriamente as guerras de palavras em que lançávamos os dicionários uns aos outros, os minuciosos assaltos à copa, as operações de planeamento para acesso a informação privilegiada nos testes. Bem, não me alongo mais, pois tenho a certeza que o meu filho vai ler a entrevista, e ele ainda está no colégio! Martiniano Gonçalves - Como ocorreu a tua transição para a Força Aérea após a saída do Colégio? Porquê a Força Aérea? José Cordeiro de Araújo - Quando terminei o Colégio, em Setembro de 1979, até pela particular instabilidade que ainda era visível nas fileiras militares, não coloquei sequer a hipótese de concorrer às Academias. Assim, e evidenciando aquela autonomia e independência característica de aluno finalista do CM, não quis reingressar no lar familiar, a casa dos meus pais em Castelo Branco, pelo que fiquei a fazer o ano propedêutico (actual 12º ano que então ainda não era feito no CM) em Lisboa, por minha conta e risco. Com a imperiosa necessidade de concretizar e afirmar a minha emancipação, e também porque estava a tirar a licença de Piloto Particular de Aeronaves, mais uma facilidade então concedida pelo colégio, acabo por ingressar na Força Aérea, como voluntario em Julho de 1980, após o que se seguiu um período de serviço ao longo de 31 anos, onde procurei fazer jus à divisa que nos ensinaram nesta nossa casa “Servir”. Martiniano Gonçalves - Como tem sido a tua vida profissional? Em que medida o Colégio a influenciou? José Cordeiro de Araújo - Pessoalmente,
53
Récita 1977.
considero-me um individuo bastante afortunado com a vida, pois julgo que tenho sido bafejado pela fortuna nas diversas vertentes da minha realização, nomeadamente no que se refere à família, amigos e profissão. A prestação profissional é um exemplo disso. Após o colégio, onde como sabemos desenvolvemos com particular acuidade o espírito crítico, a iniciativa e as capacidades de julgamento e decisão, muito bem condimentados com os atributos da coragem, lealdade e responsabilidade e em perfeita consonância com uma perfeita consciência dos deveres e direitos, julgo que estamos desde logo bastante bem apetrechados para iniciarmos a nossa vida profissional. Se a estes instrumentos acrescermos os princípios resultantes da nossa matriz de ensino militar, dos quais destaco a coragem, a lealdade, a honra, a camaradagem, o espírito de servir, o amor à Pátria e uma rigorosa e exigente auto disciplina, não tenho dúvidas em afirmar peremptoriamente que somos uns sortudos, pois possuímos à partida um conjunto de valores que naturalmente nos habilitam a uma prestação profissional bastante singular e meritória. Habilitado por uma vivência colegial orientada pelos valores referidos, o meio militar permitiu-me naturalmente dar voz a esses valores, e operacionalmente tive a sorte de servir no cumprimento de uma missão, necessária e diariamente gratificada pelos inúmeros salvamentos em que participei. Sublinho ainda, que na esquadra de voo em que
servi, a Esquadra 601 que operava a aeronave P-3P, tive o privilégio de ombrear com militares, homens e mulheres, que pela sua dimensão humana, são inequivocamente do melhor que o nosso país tem, e por tudo isto sou um militar orgulhoso e gratificado pela sua prestação profissional. Não tenho dúvidas, e digo-o emocionadamente, que fui inequivocamente um privilegiado, por ter podido servir o meu país e ao mesmo tempo ter podido aprofundar o significado da palavra camaradagem, que já bem conhecia do Colégio, mas que cenários mais complexos dimensionaram de outra forma. Por tudo isso sinto-me afortunado, aos camaradas colegiais pude acrescer os camaradas da minha vida profissional, acentuando Porta Guião.
54
Entrevista a José Eusébio Pereira Barata Cordeiro de Araújo (591/1973)
FAP Na Esquadra de voo
Caricatura do Livro Fim do Curso
a dimensão desta nossa palavra tão caracterizadora da dimensão da nossa vivência e que vamos acarinhando com cuidado especial com o passar dos anos. Martiniano Gonçalves - Então, porque saíste da Força Aérea no posto de Tenente-Coronel? José Cordeiro de Araújo - Tal deveu-se a duas características básicas da minha personalidade: não me considero profissionalmente ambicioso e continuo a valorizar determinados aspectos da vivência humana. Explicando melhor, como expressei ao então Chefe do Estado Maior da Força Aérea, General Luís Araújo, que pela sua amizade me interpelou quanto à minha saída, as razões que presidiram à minha decisão foram muito simples e transparentes. Em primeiro lugar tinha 50 anos, uma idade que me permitia ainda intervir noutras vertentes da vida e dedicar mais tempo à família, com uma qualidade que nem sempre tinha conseguido assegurar durante a intensa prestação militar. Em segundo lugar, sendo eu de um quadro técnico, da especialidade Navegador, tinha um número significativo de camaradas na expectativa da minha saída para usufruírem da minha vaga para promoção, pelo que por uma questão de camaradagem, em especial para com os meus camaradas de curso, mas também dos
mais novos, se me impunha a minha saída e correspondente vacatura. Por fim, sendo eu oriundo de um quadro técnico, portanto sem acesso ao generalato, com uma carreira essencialmente operacional, embora com algumas pinceladas académicas, como director do Centro de Estudos Aeronáuticos e professor da Academia, a minha continuidade na Força Aérea passaria por desempenhos e colocações caracterizados por serem fruto de boas vontades e não estatutariamente previstos, o que para mim é algo perfeitamente contra natura. Assim, e de uma forma absolutamente natural, dei por encerrado um agradável capítulo da minha vida e iniciei um novo ciclo, saboreando agora o tempo de uma forma menos fogosa e mais ponderada.
essa vertente noutro estabelecimento de ensino, como aliás ocorreu com alguns camaradas. Assim, como eu não colocava sequer a mínima hipótese de sair do colégio, prossegui na vertente de ciências. Voltando ao presente, reconheço que actualmente abrandei um pouco o redireccionamento da minha vida para o Direito, fruto de um empenhamento mais direccionado para o CM. No entanto, este é um “luxo” que posso assumir por enquanto, e é algo que me dá um imenso gozo fazer, para além disso é uma pequena compensação perante a divida que tenho para com o Colégio. Por isso não estou nada arrependido desta dedicação mais intensa ao nosso Colégio, que assumi por estes tempos próximos.
Martiniano Gonçalves - Como surgiu a ideia de estudares Direito e como se desenvolveu a ideia?
Falemos da Associação.
José Cordeiro de Araújo - Iniciei este novo ciclo com o Mestrado em Direito, na sequência da licenciatura que havia realizado na década de 90, ainda quando estava na Força Aérea. A este propósito, recordo que a licenciatura em Direito sempre foi uma aspiração que acalentei desde os tempos do Colégio. No entanto, nessa altura o CM não dispunha da vertente de letras, pelo que para irmos para Direito, teríamos que sair e frequentar
Martiniano Gonçalves - Desde quando és sócio? Nos últimos anos participaste em acções de orientação profissional dos alunos finalistas promovidas pela Associação ainda como Oficial da Força Aérea. Agora que tens uma participação mais activa, o que surpreendeu positiva e negativamente? José Cordeiro de Araújo - Não sei precisar ao certo a data em que entrei para a Associação, no entanto recordo com orgulho, que ainda como aluno fui agraciado com um
Entrevista a José Eusébio Pereira Barata Cordeiro de Araújo (591/1973)
louvor e medalha comemorativa da Associação que me foi entregue pelo tão saudoso presidente da AAACM, o Armando Girão (426/1917), em 1978. O louvor reza assim, e se a memoria não me falha, “pela sua excelente colaboração com a Associação dos Antigos Alunos…”. Posteriormente, vivi os primeiros tempos de Associação dos Antigos Alunos mais na vertente emocional, aquilo que designo por “fase do Zacatraz e ginjinha”. Agora, na minha “reentrada” na AAACM, já com outra aprendizagem e ponderação, julgo que poderei dar humildes contributos de outra ordem. Aliás, aproveito para publicamente aqui agradecer aos meus camaradas, entre os quais tu Martiniano, que reconhecendo em mim algumas potencialidades, me deram a oportunidade de poder dar esse contributo. Muito obrigado. Nestes novos tempos de AAACM, destaco duas questões que me suscitaram alguma perplexidade e que julgo poderem ser aperfeiçoadas, mas que não dependem só da AAACM. Primeiro, julgo que a tutela do CM, há muito se devia ter apercebido das mais-valias que os Antigos Alunos podem acrescer ao Projecto Educativo do Colégio Militar. Perante esta fácil constatação, seria com naturalidade que veríamos surgir protocolos de colaboração, ou até mesmo de parceria, que viabilizariam uma intervenção mais vincada e profícua, formalmente sustentada, na componente formativa do CM. A título de exemplo refiro projectos no âmbito do “Mentoring”, onde julgo não haver dúvidas quanto à grande mais valia que resultaria do aproveitamento das inúmeras competências de relevo que proliferam na comunidade colegial repercutindo-as em favor da formação dos alunos do CM. Outra questão que me preocupou, foi a enorme dispersão de esforços visível na existência de bases de dados versando os mais diversificados objectivos e finalidades que proliferam por toda a comunidade virtual colegial. Julgo que não contrariando o espírito de iniciativa, independência e irreverência tão característico dos Antigos Alunos, poderíamos prestar um melhor serviço à nossa comunidade colegial, optando por beneficiar todos com esses meritórios contributos.
FAP Curso de Fuga e Evasão
55
56
Entrevista a José Eusébio Pereira Barata Cordeiro de Araújo (591/1973)
General Lemos Ferreira (CEMFA), entrega o prémio do melhor instruendo ao Aspirante Piloto José Eusébio de Araújo, na Base Aérea 2 (Ota) a 2 de Outubro de 1980.
Parece-me pois que a adopção de uma base de dados matriz, sediada na AAACM, e com acesso facultado a todos os Antigos Alunos, sob estrita reserva, permitiria pôr ao serviço da nossa comunidade um conjunto bastante significativo de facilidades. Martiniano Gonçalves - Como vês a Associação no contexto actual e dos dois últimos anos de discordância e contestação do MDN? José Cordeiro de Araújo - Falando exclusivamente como Antigo Aluno, julgo que devemos começar com uma honesta reflexão prévia. Como todos sabemos, há muito que a AAACM vinha alertando para a necessidade de ajustar o Colégio às novas realidades e exigências sociais, procurando modelos que assegurassem a sustentada sobrevivência do Projecto Educativo do Colégio Militar. São muitos os estudos e documentos da AAACM, que foram sendo remetidos para as entidades tutelares, onde são apresentados os problemas e propostas soluções. Paradoxalmente, algumas das soluções então apresentadas são agora desfraldadas como bandeiras da actual reforma, veja-se por exemplo o caso de implementação do 1º Ciclo. Por isso, julgo que não devemos esquecer uma factualidade incontornável, que costu-
mo ilustrar com uma imagem: só bateram no Colégio porque o Colégio estava no chão. Aliás, estou convencido que foi esta infeliz circunstância que deu espaço a que fossemos utilizados como bandeira politica, o que embora já tivesse sido tentado noutros tempos, não havia conseguido ir por diante, porque então estávamos mais fortes, assim como a tutela. Actualmente, julgo que já não subsistem dúvidas que a restruturação esteve carecida dos adequados estudos prévios e que a sua implementação temporal se sustenta num calendário completamente absurdo. Contudo, reconheço que apesar de todas as patologias expectáveis, os problemas têm sido pontualmente debelados pelas capacidades e empenhamento daquele organismo que nos é tão caro e a que chamamos Família Colegial. Considero que, de forma verdadeiramente excepcional toda a Família Colegial, alunos, docentes, militares, empregados, encarregados de educação e antigos alunos, se têm organizado e empenhado para atenuar e responder aos enormes desafios colocados. Julgo que esta tem sido uma afirmação inequívoca de que somos uma instituição e um corpo social com um conjunto de capacidades manifestamente dignas de destaque. Nesta perspectiva, e em perfeita consonância com o que referi, considero que a opção estratégica da AAACM por uma luta que visasse atenuar ao máximo os efeitos perniciosos desta restruturação, foi a pragmaticamente mais adequada. Talvez por isso mesmo tenha sido ratificada pelo mandato da Assembleia Geral. Acentuo igualmente, que considero de louvar, mas também indiciador de um elevado nível de elegância comportamental, o facto de nesta luta nunca nenhum Antigo Aluno levantar o dedo acusador para os eventuais responsáveis pela situação em que o CM se encontrava, mesmo quando estes se esconderam atrás do despacho do ministro. Martiniano Gonçalves - O que pensas que deve ser o papel da Associação no futuro imediato e a mais prazo? José Cordeiro de Araújo - A restruturação dos Estabelecimentos Militares de Ensino (EME’s) está aí, pelo que, pragmática e inteligentemente, temos que deixar de ser
reactivos e passarmos a ser proactivos na condução dos acontecimentos. Torna-se pois imperiosa uma reflexão, conjunta e imediata, sobre qual o modelo de CM porque devemos continuar a lutar, identificando os correspondentes pilares estruturantes, nomeadamente no que se refere aos valores e princípios. Nesta nossa reflexão devemos procurar indicar e assegurar os instrumentos viabilizadores desse modelo. Visando garantir a preservação da alma colegial, devemos procurar criar os mecanismos protocolares que assegurem formalmente a participação da AAACM na prossecução desse modelo. Não podemos esquecer que uma das grandes mais-valias inerente ao facto de ser aluno do Colégio Militar é ingressar neste enorme e verdadeiro Batalhão Colegial para o resto da vida. Esta é de facto uma realidade incontornável, e por isso mesmo sustentadora da legitimidade da participação da AAACM no Projecto Educativo do CM, participação esta que deve ser assegurada em termos formais e protocolares. Martiniano Gonçalves - E quanto à diversidade de opiniões que existe na comunidade dos antigos alunos sobre a pseudo-reforma do Colégio? José Cordeiro de Araújo - Acho essa situação perfeitamente compaginável com a tão louvada independência e espírito crítico que sempre caracterizou a nossa comunidade. Acresce ainda, que sendo um assunto que tem subjacente uma carga emocional muito grande, nem sempre é fácil apelar a toda Com a Família.
Entrevista a José Eusébio Pereira Barata Cordeiro de Araújo (591/1973)
a nossa capacidade de abstracção analítica para que possamos racionalizar possíveis caminhos em concreto. No entanto apesar das múltiplas opiniões ou dúvidas sobre todo o processo de reforma, julgo que temos sido “colegialmente disciplinados” no cumprimento e respeito das acções consolidadas pelos mandatos da Assembleia Geral da AAACM. Martiniano Gonçalves - Como Presidente do Conselho de Delegados, como interpretas a sua necessidade? Há quem discorde da sua existência por ser uma estrutura que se interpõe entre os antigos alunos na sua individualidade e pluralidade e o Colégio; o que pensas disto? Quais as principais missões que, em termos práticos, atribuis aos Delegados de Curso? O que dizes da tua experiência até agora? José Cordeiro de Araújo - Julgo que todos os Antigos Alunos estão cientes da função primordial que continuam a deter no âmbito da vivência colegial, ora essa consciência traz-nos deveres implícitos, pelo que acho natural que se procurem encontrar os modelos que melhor garantam o preenchimento das nossas responsabilidades. Parece pois de louvar que a Direcção da AAACM, procure garantir as formas de interacção e expressão com vista a assegurar um profícuo desempenho das funções para que foram mandatados, visando a adequada materialização das suas responsabilidades. Este dever assume especial pertinência num período de acentuada complexidade, pelas alterações que estão a ocorrer no CM,
nomeadamente as referentes aos novos regimes implementados, realidade esta que desde logo determina um acompanhamento mais presente e próximo por parte de todos os Antigos Alunos. É pois com esta naturalidade, e visando uma intervenção construtiva de inquestionável legitimidade, que advém da eleição e atribuição de mandato por curso, que vejo surgir o Conselho de Delegados de Curso. Acentuo que no Conselho de Delegados tenho encontrado virtualidades, paradoxalmente não possíveis no mundo virtual, como a partilha de algumas preocupações, a discussão e análise de problemas específicos, mais fáceis de expor presencialmente do que na impessoalidade do mundo virtual. Talvez seja um sinónimo de velhice, mas ainda gosto muito desta interacção pessoal colegial, olhos nos olhos sob o signo da Barretina. Acresce ainda que, como sabemos cada curso tem o seu microcosmos comunicativo, pelo que a divulgação e recepção de informação através dos Delegados de Curso é normalmente mais eficaz do que a utilização de outras formas. Em termos globais, julgo ainda de referenciar uma última vantagem do Conselho de Delegados de Curso. Constata-se actualmente que os Delegados de Curso são inequivocamente uma excelente fonte de informação para a AAACM assegurar o cabal cumprimento da sua missão, nomeadamente no que se refere à detecção de situações delicadas de carência, que normalmente não seriam expostas por outras vias. Para além de todas estas vantagens, reRomagem ao Colégio comemorativa dos 40 Anos de Entrada.
57
Após o desfile do 3 de Março
lembro ainda a capacidade concretizadora no que respeita à execução de um conjunto significativo de trabalhos, que de outra forma não poderiam ser realizados devido à carência de meios humanos para o efeito. A título meramente exemplificativo começo por destacar o exaustivo e minucioso trabalho realizado pelo Bernardo Ayala (171/53), que através de uma profunda pesquisa documental tem conseguido erigir a listagem de todos os graduados da história do CM. Acentuo também a importância do trabalho desenvolvido pelo Luís de Matos, (324/1987), na procura e sistematização dos Antigos Alunos, com residência no estrangeiro. Este trabalho permitiu beneficiar significativamente a Base de Dados da AAACM e consequentemente disponibilizar mais valências a toda a comunidade de Antigos Alunos. Prossigo, referindo igualmente o trabalho de construção de uma memória fotográfica do CM, que está a ser realizado pelo Nuno Gonçalves (66/1985). A análise e tratamento das fotografias disponibilizadas pelos AA, mas também do espólio do fotógrafo Delgado, tem permitido a construção de um património de inquestionável valor para o imaginário colegial. Por fim, mas ilustrando ainda as valências do Conselho de Delegados, refiro o trabalho do Francisco Silva Alves (392/1952), no âmbito da compilação de histórias e episódios, que permitam a consolidação formal dos princípios e valores colegiais e da sua passagem às gerações mais novas. Este trabalho será fundamental para a consolidação da
58
Entrevista a José Eusébio Pereira Barata Cordeiro de Araújo (591/1973)
Pai e Filho nos Claustros.
alma colegial junto das novas gerações de alunos. Concluindo, acentuo que sou um incondicionalmente crente nas virtualidades do modelo subjacente ao Conselho de Delegados, tanto assim que o adoptamos para a Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos do Colégio Militar (APEEACM): materializamos o conceito na criação de um órgão congregador dos Representantes dos Encarregados de Educação, o Conselho de Representantes de Turma.
dade é acrescida pela propina substancial que hoje lhes é exigida. Assim, conscientes das suas responsabilidades como educadores, mas também como clientes e destinatários de um produto, os pais hoje detêm um papel muito mais interventivo e exigente do que aquele que era visível noutros tempos. Julgo que esta é uma afirmação natural e não problemática, até porque se adequadamente exercida faz subir o nível da prestação e consequentemente do produto final.
Mudemos de tema: o Colégio e o Pai de aluna do Instituto de Odivelas (IO) e de um aluno do Colégio
Martiniano Gonçalves - Integraste a Associação de Pais e Encarregados de Educação das Alunas do Instituto de Odivelas (APEEAIO) com grande actividade; como foi essa experiência? Que principais diferenças vêem entre o Instituto de Odivelas e o Colégio, no seu funcionamento corrente?
Martiniano Gonçalves - Como vês o Colégio de hoje? Que experiências significativas tens vivido como Pai de aluno? Constatas grandes diferenças relativamente ao teu tempo? Quais? José Cordeiro de Araújo - Como sabemos hoje em dia a participação dos Pais na vida escolar, sendo uma realidade inquestionável, exerce-se em moldes muito distintos dos do nosso tempo, basta olhar para os Claustros nas cerimónias colegiais. Actualmente, os pais ou encarregados de educação também estão conscientes que são os primeiros responsáveis pela educação dos seus filhos ou educandos. Essa legitimi-
José Cordeiro de Araújo - Como referiste, sou pai de uma antiga aluna do Instituto de Odivelas, que terminou o seu percurso, há já 2 anos, como graduada Comandante da 1ª Companhia do IO. Actualmente está a frequentar o curso de Medicina na República Checa. Relativamente à minha experiência como membro da Associação de Pais e Encarregados de Educação das Alunas do Instituto de Odivelas, devo dizer que esta foi muito enriquecedora em termos de conhecimento do
Instituto de Odivelas, das suas especificidades e valências. Tive o privilégio de integrar a comissão dinamizadora da Associação de Pais e posteriormente os órgãos sociais da então reactivada APEEAIO, isto tudo num momento de particular complexidade na vida do IO. A título meramente exemplificativo, recordo com saudade alguns momentos especialmente intensos, tais como as acções que conduziram à substituição da então Directora Graça Martins. A nomeação, como Director do IO, do Coronel Serra, homem que rapidamente conseguiu dar uma nova vitalidade ao Instituto de Odivelas e que tudo fez para evitar a anunciada extinção e demonstrar quão injusta esta era. Presto-lhe, como camarada de armas mas também como Encarregado de Educação de uma Antiga Aluna de Odivelas, o meu público reconhecimento. No que se refere às semelhanças e diferenças entre o Instituto de Odivelas e o Colégio Militar, julgo que se podem sintetizar em duas palavras: irmão e irmã. Isto é embora sendo ambos estabelecimentos militares de ensino não superior, cujos projectos educativos se afirmaram no panorama nacional pela diferença com que asseguraram uma profícua complementaridade entre as dimensões intelectuais, física, moral e cívica, aquilo que hoje é usual denominar como formação integral, não são contudo iguais, e atrevo-me a dizer que ainda bem. Quanto às diferenças, julgo que para além das inerentes às naturais características e potencialidades de cada género, optimizadas de forma mais direccionada nestes sistemas de educação pelo género, são ainda de referir as resultantes do próprio espaço escolar. Assim, e num breve resumo mas ilustrado, direi que a vida interna no IO é mais “aconchegada” e “amiga”, desenvolvendo-se num espaço mais restrito e sempre debaixo de tecto. Já vida no CM é mais “viril”, mais de “camaradas”, mais ao ar livre, mais militar. Martiniano Gonçalves - O que te levou a integrar a Associação de Pais e Encarregados de Educação do Colégio (APEEACM) de que és actualmente o Presidente? O que pensas deste tipo de estrutura e como se tem pas-
Entrevista a José Eusébio Pereira Barata Cordeiro de Araújo (591/1973)
59
sado as coisas com o Colégio? Que principais dificuldades e sucessos nos podes referir? José Cordeiro de Araújo - Permite-me como ponto prévio fazer uma breve leitura de um parágrafo do Regulamento Interno do Colégio Militar: “ Os pais ou encarregados de educação são os primeiros responsáveis pela educação dos seus filhos ou educandos, incumbindo-lhes a função primordial, o direito e o dever imprescindível e inalienável de apoiar a acção educativa do Colégio Militar, não podendo ficar isentos ou abdicar das suas responsabilidades de educadores.” Parece-me que este parágrafo, que julgo de fácil apreensão, será bastante claro e expressivo para referência da actuação dos pais e respectiva associação. Como sabemos a participação das Associações de Pais na vida escolar é hoje uma realidade inquestionável, não só de direito mas também de facto. No Colégio Militar essa realidade tem vindo a assumir inúmeras materializações, que estão consagradas no Projecto Educativo, como aliás acontece com a AAACM, e que podemos resumir numa evidência simples: a de que em conjunto, será possível encontrar as melhores soluções pedagógicas e funcionais para o desenvolvimento integral dos alunos. Genericamente, é com este espírito de colaboração, que tem sido especialmente aprofundado com a actual Direcção do Colégio, que a APEEACM, no âmbito das suas competências, tem actuado. Relativamente aos desafios que no presente momento nos retêm mais energia mobilizadora refiro essencialmente dois: a preocupação em afirmar a APEEACM como tal e o actual aproveitamento escolar dos alunos. No que se refere à APEEACM, a nossa preocupação tem sido consolidar a Associação como uma verdadeira e legitima Associação dos Pais e Encarregados de Educação dos Alunos do Colégio Militar, sublinho dos Alunos do Colégio Militar, para reiterar que queremos mesmo afirmar a agregação de todos os Encarregados de Educação (EE) de todos os Alunos do CM. Por isso a lista eleita para o triénio 20142015 congrega EE dos diversos ciclos escolares, 1º,2º,3ºCiclos e Secundário e regimes
No dia da graduação do Filho
de frequência do CM, internos masculinos, externos masculinos, externas femininas e alunas oriundas do IO. Na construção desta lista tivemos ainda uma preocupação suplementar, aceite como bastante útil por toda a comunidade de EE, que foi colocar antigos alunos encarregados de educação nos lugares de topo dos órgãos socais da APEEACM. A legitimidade da APEEACM foi ainda reforçada com a criação do Conselho de Representantes de Turma, Encarregados de Educação eleitos em cada turma do CM, pelos respectivos EE. Considero pois, que no presente momento temos uma Associação de Pais a funcionar em toda a sua plenitude, com uma intensidade nunca antes vista, mas e acima de tudo encarada como um verdadeiro parceiro na sustentação do Projecto Educativo do Colégio Militar. Martiniano Gonçalves - Que principais questões se têm posto e virão a pôr-se no futuro imediato? José Cordeiro de Araújo - Quanto aos problemas que se nos colocam, entendo que o grande desafio desta associação é a questão do Aproveitamento Escolar. Como sabemos o Colégio Militar ocupa presentemente posições no ranking que não são compatíveis com uma escola que tem excelentes condições para a vida escolar e com um vínculo
tradicional assente na excelência. Com este aproveitamento escolar por melhor que o Projecto Educativo pretenda afirmar-se, faltar-lhe-á sempre a consistência que assegurará a sua sustentabilidade, até porque se vai afirmando uma incontornável conclusão, a persistir-se neste caminho, os pergaminhos do Colégio Militar deixam de ser suficientes para que este continue a ser uma alternativa credível para os pais aqui colocarem um filho. Ciente destes factos indesmentíveis a APEEACM, pretende afirmar-se com parceiro de referência, num programa mobilizador de toda a Família Colegial, visando incentivar os seus elementos a participar empenhadamente na melhoria significativa do Aproveitamento Escolar no Colégio Militar, o que poderá ser traduzível e mensurável numa significativa subida nos rankings, a ocorrer já em 2015. Aplaudimos pois a Direcção do Colégio pelo desenvolvimento de um programa desta natureza, pois estamos profundamente convencidos que a existência de um objectivo comum alinhará mais facilmente alunos, docentes, militares, encarregados de educação e antigos alunos. Além disso não podemos esquecer que o cumprimento do objectivo estabelecido criará uma referência produtiva sustentável, tanto em termos de recrutamento de alunos como em termos de comportamentos aceitáveis na comunidade.
60
Entrevista a José Eusébio Pereira Barata Cordeiro de Araújo (591/1973)
Na Abertura Solene do Ano 2014.
Numa frase, o nosso desafio de referência adoptado para o próximo triénio será a superação da deficitária situação que o Colégio Militar vive no que se refere ao Aproveitamento Escolar. Martiniano Gonçalves - O que pensas da pseudo-reforma em curso protagonizada pelo MDN? E do internato, externato e misto no Colégio? Que impacto pensas que podem ter na identidade do Colégio? Que cuidados particulares sugeres para o funcionamento do 1º Ciclo, projecto pelo qual a AAACM se bateu durante muitos anos? José Cordeiro de Araújo - Se me permites explanar um pouco sobre o actual processo de restruturação, eu pessoalmente aponto-lhe desde logo três grandes erros: Primeiro, a extinção do Instituto de Odivelas, solução que além de injusta não era nada necessária, nem mesmo do ponto de vista de racionalidade económica. Julgo que os pressupostos que lhe estão subjacentes não têm fundamentação factual. Facilmente conseguimos detectar que havia espaço e procura para optar por outros modelos, nomeadamente, alargar os regimes de frequências do CM e do IO, com a implementação do 1º Ciclo, externato e externato misto, e manter no CM o internato masculino e no IO o internato feminino. Reafirmo a extinção do Instituto de Odive-
las, é um erro colossal, até porque é facilmente evitável. Segundo, o calendário de implementação, embora tendo a consciência que por imperativo dos ciclos eleitorais as pretensas reformas estruturais nunca podem ser dimensionadas para lá dos quatro anos, considero completamente contraproducente a introdução de alterações tão profundas em tão curto espaço de tempo, com mais uma agravante: é que estamos perante uma implementação simultânea de mudanças muito profundas. Este é um problema que não vai permitir a adequada monitorização da aplicação dos diversos regimes de frequência e tem submetido toda a comunidade escolar a uma tensão enorme. Por fim, considerava igualmente um manifesto erro crasso, felizmente hoje já corrigido, a permissão de admissões de alunos até ao 10º Ano. Para além de estarmos perante uma clara forma de destruir o modelo formativo caracterizador do Projecto Educativo do Colégio, que será sempre desenvolvido de uma forma naturalmente evolutiva, arriscaríamos a ocorrência de situações que, pela destabilização inerente, poderiam implodir os frutos já consolidados. Perguntas, e bem, dos possíveis impactos que a implementação da reforma poderá ter na identidade do Colégio. Julgo que estando nós perante a maior reforma que o colégio
sofreu, atrevo-me até a dizer que será, porventura, também a maior que sofrerá nos próximos séculos: é incontornável que o colégio resultante será muito distinto do que frequentámos. No entanto, e no que se refere aos princípios e valores que constituem a matriz do seu Projecto Educativo, tenho observado uma agradável e meritória realidade: os alunos entrados no ano transacto, para os diversos regimes de frequência, têm demonstrado, junto dos que agora entraram, que assimilaram na essência a matriz colegial e que são já seus empenhados e esclarecidos paladinos. Saltando agora para uma área consensual da presente reforma: o 1º Ciclo cuja implementação foi unanimemente acolhida. Parece não suscitar qualquer discussão, a afirmação de que o desenvolvimento do 1º Ciclo no Colégio, embora tenha sido sustentado por factores de rentabilização dos meios e apresentação de uma solução de continuidade e de fidelização ao projecto educativo, só terá sentido se assente no pressuposto de um projecto de grande qualidade, ao nível do melhor que há no país quer no ensino público quer no privado. Esta evidente constatação, deve determinar desde logo uma actuação muito cuidada tanto a nível das instalações e equipamentos, dos materiais pedagógicos actualizados, dos métodos de ensino a utilizar, bem como uma selecção de professores e auxiliares com formação adequada e experiência comprovada. Parafraseando, e concluindo no que se refere ao 1º Ciclo, temos que assegurar um projecto educativo que conduza o Colégio ao nível de grande prestígio que se pretende atingir, pois só uma diferença visível é que poderá assegurar um futuro promissor a esta iniciativa e fidelizar os alunos ao longo dos ciclos seguintes. Concluindo, devo acentuar que estão bem delineados os pilares sustentadores deste projecto, pelo que cientes da importância deste nosso “ninho”, nos cabe agora a responsabilidade estratégica de lutarmos TODOS pela sua concretização qualitativa. Martiniano Gonçalves - Já se falou de internacionalização do Colégio. O que pensas sobre isto? Sob que formas?
Entrevista a José Eusébio Pereira Barata Cordeiro de Araújo (591/1973)
José Cordeiro de Araújo - Julgo que a internacionalização do Colégio irá permitir por um lado um novo dimensionamento globalizante e por outro a criação de instrumentos formativos mais amplos. Precisando, e mais em concreto, o contacto e ligação com a rede internacional de Colégios Militares de todo o mundo dotar-nos-á de forma única com capacidades muito mais amplas a todos os níveis, até internos. Para além disso, a colaboração no desenvolvimento de Colégios Militares em países que ainda não dispõe dessas valências, será não só estratégica mas também bastante gratificante. Acresce a tudo isto um facto de profundo valor formativo: a possibilidade de os nossos alunos poderem usufruir desta rede internacional, o que conduziria inequivocamente ao acréscimo de novas e peculiares valências na sua formação integral. Sintetizando, considero de especial pertinência a internacionalização do Colégio, tanto em termos de constituição de uma rede global como também na colaboração na criação de colégios militares noutros países, designadamente, nos de língua oficial portuguesa. Martiniano Gonçalves - Como imaginas o Colégio dentro de 20 anos e qual a sua missão? José Cordeiro de Araújo - A história do Colégio Militar demonstra uma inquestionável capacidade, a de, apesar das vicissitudes dos tempos, conseguir sempre encontrar os caminhos que asseguram a preservação da sua matriz valorativa. Por isso, não tenho dúvidas que o Colégio Militar vai, mais uma vez, encontrar as soluções que irão sedimentar novos e meritórios caminhos e assegurar a continuidade da sua matriz educacional. Humildemente, julgo que não será pretensioso prognosticar que nessas soluções estarão novos modelos de tutela, supervisão pedagógica e autonomia. Aliás, será através desta última, que o Colégio se poderá desonerar do peso do modelo organizativo que actualmente o condiciona. A autonomia facultará ao Colégio a tomada de decisões nos domínios da organização pedagógica e curricular, bem como
da gestão dos recursos humanos e gestão administrativa e financeira. Martiniano Gonçalves - Finalmente: Como é ter um filho no Colégio que é o Comandante do Batalhão? Falam sobre o Colégio? Contestam-se um ao outro? José Cordeiro de Araújo - Questão muito interessante a que me colocas. Começo por salientar que para mim foi com muito orgulho e emoção que recebi a notícia da sua nomeação como Comandante do Batalhão Colegial. Acentuo esse orgulho, porque essa nomeação foi precedida de um processo de escolha por fases. Dessas fases, assume para mim como antigo aluno, uma importância muito especial a inicial, aquela que sendo realizada entre pares, isto é entre o curso, conduziu à indicação do seu nome para as funções de Comandante de Batalhão. As fases seguintes, também importantes, porque envolvem o Corpo de Alunos, o Conselho Pedagógico e a Aprovação do Director, consolidaram esta nomeação. Assim, embora orgulhoso, não me esqueço de lhe relembrar diariamente a enorme responsabilidade institucional que lhe está cometida. Naturalmente discutimos muito sobre o Colégio, são naturais as divergências, até pelos diversos estatutos que actualmente envergo. Depois há ainda a questão da diferença de idade e as cores com que vemos o mundo. Ele sendo um jovem, vê ainda tudo a preto e branco, sendo portanto mais intransigente,
61
o que contrasta com a minha tão necessária flexibilidade e ponderação, resultante da minha vivência e idade e que diz que são poucas as coisas totalmente pretas ou totalmente brancas. No fim, e apesar das nossas acaloradas e intensas discussões, considero-me particularmente feliz porque permanentemente acentuamos o valor muito especial, emocional e racionalmente sustentado, das palavras Pai/ Filho e Aluno/ Antigo Aluno.
62
Tiro desportivo na Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar
Jorge Semedo de Matos 165/1965
Tiro desportivo
na Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar A equipa feminina de tiro, da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar (AAACM), foi campeã nacional no ano de 2013, na modalidade de pistola 10 metros (P10), com ar comprimido.
As atletas Joana Nunes, Raquel Baptista e Rita Nunes, constituintes da equipa da AAACM, campeã nacional de P10, no ano de 2013.
O TIRO DESPORTIVO
A
prática do tiro desportivo de competição, em Portugal, é regulada por uma lei própria, não sendo possível sem o controlo da Federação Portuguesa de Tiro (FPT), através dos muitos clubes de tiro existentes.
É compreensível que assim seja, uma vez que as destrezas técnicas adquiridas pelos atletas de tiro podem ter um uso perigoso alheio à prática desportiva, e isso obriga à atenção por parte das autoridades nacionais competentes. Este procedimento é comum à maioria dos países do mundo, sendo neces-
sário que os clubes procedam à sua inscrição na Federação, mostrando que dispõem de um conjunto de condições e assumindo as responsabilidades sobre a prática da modalidade por parte dos seus atletas. Todos os praticantes têm de ser federados, sendo essa a única forma legal de participarem nas competições desportivas oficiais. As únicas excepções a esta regra são, naturalmente, os militares e membros de forças de segurança, no que diz respeito ao uso profissional das armas e ao processo de treino próprio, que pode incluir uma prática competitiva interna (existe um campeonato nacional das Forças Armadas e Forças de Segurança que não é controlado pela FPT). Mas, nos termos da lei específica, todos os outros atletas das modalidades de tiro – e mesmo os militares se desejarem competir no quadro desportivo comum –, só podem praticá-lo e competir, desde que inscritos num clube de tiro, submetendo-se a um exame próprio na Federação, e obtendo a sua licença desportiva, indispensável à prática da modalidade.
Tiro desportivo na Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar
O TIRO NA ASSOCIAÇÃO DOS ANTIGOS ALUNOS DO COLÉGIO MILITAR (AAACM) O aparecimento de uma Secção de Tiro na nossa Associação, organizada e legalizada como clube de tiro federado, não me surpreendeu completamente, sendo eu um atleta de tiro desportivo com alguns anos de prática e acompanhando de perto a vivência da maioria dos clubes. Fui sabendo dos propósitos através de outros atiradores e, na altura, felicitei pessoalmente quem teve a iniciativa; mas devo confessar que nunca supus que ela alcançasse, tão rapidamente, a notoriedade que obteve logo no seu primeiro ano de existência. O Carlos do Rio Carvalho (307/1971), que acompanha a prática desportiva dentro da AAACM há alguns anos, explica-me que a iniciativa decorreu da actividade da Sala de Armas da Associação, e do facto dela mesma se ter constituído como Clube de Esgrima no passado ano de 2006. Juntou-se nesse projecto um conjunto circunstâncias favoráveis de que foi determinante a vinda para o Colégio do Tenente Coronel Helder Alves, como Mestre de Esgrima. E o entusiasmo que essa modalidade veio a merecer na Associação, beneficiou da sagração do esgrimista Joaquim Videira, treinado por Helder Alves, como vice-campeão do mundo de espada, nesse mesmo ano de 2006. O número de atletas que acorreu à nossa Sala de Armas foi muito significativo, atraídos pela qualidade e prestígio alcançados, e muitos deles eram praticantes do pentatlo moderno, modalidade que sempre atraiu muitos antigos alunos. A Secção de Esgrima da Associação estava constituída como Clube de Esgrima e acolheu todos os atletas que a procuraram, entre as quais se contam as três atiradoras que agora formam uma equipa feminina de tiro. Eram praticantes de pentatlo, vieram por causa da esgrima e passaram para o tiro, quando a Secção se federou, em moldes idênticos aos que já tinha usado com a esgrima. Em qualquer das modalidades, os/ as atletas praticantes pagam uma quota de funcionamento desportivo, como em qualquer outro clube, e representam as cores da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar.
A EQUIPA FEMININA DE TIRO Foi nestas condições que apareceu uma equipa feminina na nossa Associação: primeiro como equipa de esgrima e, mais tarde como equipa de tiro desportivo. A candidatura à Federação Portuguesa de Tiro (FPT) decorreu no ano de 2012, e 2013 foi a primeira época competitiva das nossas atletas, ano em que lograram alcançar o título de campeãs nacionais, por equipas, na modalidade P10, em prova efectuada na carreira de tiro do Complexo Desportivo Nacional do Jamor, no dia 15 de Dezembro de 2013. Realcei este feito na última Assembleia Geral, apresentando uma moção de apreço à Direcção da AAACM que foi aprovada por unanimidade, precisamente porque o achei de grande relevo, num contexto nacional, onde existem umas centenas de clubes de tiro, com milhares de praticantes, alguns deles com muitas décadas de experiência desportiva. As três atiradoras, que agora representam as nossas cores, são a Ana Raquel Baptista, a
63
gundo o modelo olímpico, pelas 8 atletas com melhor classificação. É, digamos, uma forma de aumentar a pressão psicológica directa sobre os competidores, numa disputa tiro a tiro, à voz do árbitro e com tempo controlado. Foram seleccionadas para esta final a Ana Raquel e a Joana Nunes, da AAACM, que se classificaram, respectivamente, em 2º e 5º lugares, entre atiradoras muito mais experientes, com provas já dadas em provas nacionais e internacionais.
ANA RAQUEL BAPTISTA O feito das nossas atletas, no ano de 2013, é absolutamente extraordinário – como disse – mas a carreira desportiva da Ana Raquel merece ainda um realce particular, pelas classificações e marcas que tem vindo a obter na época de 2014. Para além de ter ficado nos primeiros lugares, em quase todas as provas, esta atleta já ultrapassou as marcas mínimas, definidas pela FPT, para participação
As atletas da AAACM com o fisioterapeuta Eurico Rodrigues e o treinador Helder Alves.
Rita Nunes e a Joana Nunes, todas elas com boas classificações individuais, obtidas no ano de 2013 em campeonatos regionais e no campeonato nacional de P10. Os campeonatos nacionais desta modalidade, para além da prova normal de 40 tiros (senhoras), têm ainda uma final disputada se-
em provas internacionais e campeonatos da Europa e do Mundo. A Federação tem um sistema pontuado que coloca as atletas em níveis sucessivos de “C”, “B” e “A”, com vista a representações internacionais. Quem alcança o nível “A” é seleccionável para Taças do Mundo, com o nível “B” tem acesso
64
Tiro desportivo na Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar
a campeonatos da Europa e do Mundo, e o nível “C” é condição para a presença noutras provas internacionais de menor importância. A Raquel já ultrapassou por mais do que uma vez a classificação de acesso ao nível “B” de seniores femininos e está a apenas um ponto de passar ao nível mais elevado. É, além disso, a terceira melhor atiradora do ranking nacional, na modalidade P10. Com dedicação, muito trabalho e disciplina pessoal tem vindo a superar progressivamente as suas próprias marcas, e estou certo que muito poderemos esperar dela num futuro próximo. Certamente que, no próximo ano de 2015, já a vamos ver a representar Portugal em competições internacionais, para as quais eu lhe desejo os maiores sucessos. Alcançou a posição que tem, com pouco mais do que um ano de competição, mas as suas qualidades desportivas e juventude dão-nos todas as esperanças de um futuro brilhante.
O FUTURO DO TIRO DESPORTIVO NA AAACM O Carlos do Rio Carvalho, que se prestou a falar-me sobre os detalhes do funcionamento interno das Secções Desportivas de Esgrima e Tiro, explicou-me que a perspectiva da AAACM na manutenção destas secções (cujos praticantes nem sempre são sócios ordinários da Associação) se prende com os reflexos positivos que a prática destas modalidades na Associação pode ter dentro do Colégio. O objectivo é manter e estimular uma prática, com perspectivas de continuidade e numa relação
As atletas Joana Castelão (CAPSP) e Ana Raquel Baptista, na disputa do 1º e 2º lugar da final olímpica do Campeonato Nacional de P10, de 2013.
estreita com o quadro competitivo nacional. E, neste sentido, a iniciativa de criação do Clube de Tiro parece-me extraordinária, não só pelas qualidades da modalidade, como pela possibilidade de a ver divulgada junto da juventude colegial, onde podem nascer os nossos melhores atletas. Assim ela possa estimular o fomento da disciplina, proporcionando a manutenção de condições e meios indispensáveis (carreiras de tiro adequadas, armas desportivas e vontade de o fazer). Mas nós temos já uma equipa de tiro – a Equipa Feminina de Tiro Desportivo da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar
–, que nos enche de orgulho ao ter-se sagrado campeã nacional de P10 e prestigia a nossa camisola por todo o país. Só temos que a acarinhar, fazê-la sentir que a acompanhamos, felicitá-la pelos excelentes resultados e encorajá-la a prosseguir o seu trabalho. É afinal a nossa equipa, a equipa do nosso clube, o clube dos Antigos Alunos do Colégio Militar. E espero um dia poder ver as carreiras de tiro desportivo portuguesas pejadas de atletas com a Barretina desenhada na camisola.
Antigos Alunos nas Artes e nas Letras
65
Antigos Alunos
nas Artes e nas Letras João Manuel Velhinho Pereira Nobre de Carvalho (248/1952)
Recensão de Livros
O
primeiro livro, publicado em 2006, tem por título Contra ventos e marés e acompanha o autor num percurso muito diversificado, tanto profissional como geograficamente, começando na infância em Goa, onde nasceu em 1940 e terminando em 2005, quando cessou funções de assessor do Director do Gabinete Nacional de Segurança. Nobre de Carvalho partilha com o leitor, com imensa candura e larga cópia de pormenores, passagens da juventude no Colégio Militar e na Escola Naval, e, já adulto, dos aspectos que ele considera mais relevantes numa carreira que inclui funções tão díspares como as de comandante de uma lancha de fiscalização no rio Zaire, as de chefia do Centro de Comunicações do Comando da Defesa Marítima da Guiné, as
de comandante da corveta Augusto de Castilho, as de comandante do Corpo de Alunos da Escola Naval, as de Capitão dos Portos de Macau e as de Comandante da Zona Marítima dos Açores. Em 2007 sai O átomo persa, uma história de espionagem que envolve os Serviços de Informações de França, Israel e Portugal, empenhados em impedir a produção, pelo Irão, de urânio enriquecido para ser utilizado em ogivas nucleares. «O autor, um especialista em segurança industrial, urde um enredo original sobre os meandros da colaboração entre os Serviços de Informações e a segurança das empresas». A laranja maculada, publicado em 2009, descreve a actuação dos vários níveis da Al Qaeda, «desde a cúpula aos operacionais, passando
pela coordenação e as ligações às redes de tráfico de droga, seres humanos e crime organizado, em ambientes tão diversos como o Paquistão, o Afeganistão, o Egipto, a Somália, a Guiné-Bissau, culminando em Portugal com três atentados sucessivos a navios, nas águas sob jurisdição nacional. O leitor poderá acompanhar a formação dos combatentes-mártires, iniciada nas madrassas do Paquistão e consolidada em operações de guerrilha no Afeganistão e nos assaltos a navios mercantes ao largo da costa da Somália, bem como a sua deslocação para Marrocos e, finalmente, a infiltração em Portugal, país cujo nome tem uma pronúncia parecida com a da palavra árabe Porthucal, que significa laranja.
66
Antigos Alunos nas Artes e nas Letras
Jardinagem
os jovens a ultrapassarem a sua herança genética e cultural e a descobrirem as verdades que possibilitam a construção de um futuro melhor, quer para o homens, quer para os animais seus companheiros de jornada». A certa altura da vida, o Nobre de Carvalho interessou-se pela pintura e começou a pintar
©Foto Sérgio Garcia (326/1985)
Finalmente, em 2013, saiu Entre toiros e gurus, uma reflexão em forma de ficção, com forte marca religiosa, sobre a evolução da humanidade e sobre os paradigmas mentais através dos quais «vemos» a realidade, designadamente a tradição cultural portuguesa da tourada. «Como diz o autor na Dedicatória, o seu intuito é inspirar
Romeiros da Ilha de São Miguel
ANTIGO ALUNO USA A BARRETINA
Porto de Pesca de Rabo de Peixe
a óleo sobre tela, participando, regularmente, em exposições colectivas. A pedido da ZacatraZ, seleccionou os três quadros que se reproduzem, dos quais dois documentam a sua passagem pelos Açores. Nuno António Bravo Mira Vaz 277/1950
"Amarelo de Carne" património colegial
67
Martiniano Gonçalves (9/1958)
"Amarelo de Carne" património colegial
É
grande a responsabilidade de tocar neste tema: o ”Amarelo de Carne”. Qualquer pequeno deslize no que se diz ou escreve poderá gerar iras, indignações ou no mínimo discordâncias da parte dos cerca de cinco mil antigos alunos vivos, uma vez que é matéria sagrada do imaginário de gerações e gerações de Meninos da Luz. Tendo aparecido pela primeira vez nas ementas do Colégio em 15 de Outubro de 1904, significa que até aos nossos dias houve 9.038 Meninos da Luz (nove mil e trinta e oito! número de antigos alunos que desde 1897 passaram pelo Colégio) que com ele tiveram o primeiro contacto sentados no antigo refeitório (hoje Museu) e no do actual Corpo de Alunos (desde 1958). Mas vou arriscar, arriscando os ingredientes e o “processo produtivo”: a carne barata de vaca que era cozida e depois desfiada, que sobrava e não era consumida ou que sobrava de outras refeições ficando dentro de água para não secar, a batata frita às rodelas e o ovo mexido, tudo coisas que vinham da Manutenção Militar ao preço mais baixo, denominador comum ao longo de gerações.
zeres gastronómicos da actual juventude, o que E assim, o critério preço funcionou como “gapermitiu, entre outras razões, termos classes esrantia” da manutenção da sua qualidade e sabor, peciais de ginástica de que tanto nos orgulhamos compensando a imaginação criadora dos diferenachando sempre que a “do nosso tempo” era muites “chef’s” que hoje ocorreria se cada cozinheiro to melhor que as dos anos seguintes, e vitórias em decidisse inovar estragando tudo. campeonatos de futebol, voleibol, atletismo etc. Mas, não foram apenas os ingredientes nem a Revivalismo? Não é. disciplina orçamental da Manutenção Militar que Apenas saudade que se pode matar, de prefecontribuíram para a qualidade desta nossa instituirência em conjunto com “irmãos” colegiais se hoje ção gastronómica. quisermos ir comer o melhor amarelo de carne É que, não são estranhos àquele sabor que apreque já experimentei desde que saí do Colégio ciamos, a palamenta, os grandes panelões com depois do que até então – justiça seja feita - era quase um metro de diâmetro em que se cozinhao melhor: o do almoço do 3 de Março de 2012 no vam de uma só vez os quilos e quilos de “Amarelo” Algarve, organizado pelo Maná (78/1967), Chico que calcavam pelo seu próprio peso as camadas Antunes (422/1955), Joaquim Paleta (413/1965) e inferiores e lhe davam a densidade e compactação o “Buzz” João Pedro Quaresma, (213/1965). que bem conhecemos. Passe a publicidade, fui ao restaurante em Difícil é hoje usar aqueles ingredientes e aquele Lisboa do Carlos Vasconcelos (467/1958), o “Paprocesso de fabrico! lhão”; éramos 26 todos à base do curso de Ratas Qualquer ASAE, mais ou menos eficiente, proide 1957 em que estivemos acompanhados pelo birá as panelas lavadas com sabão macaco, em Gonçalo Leal de Matos (371/1949), o nosso Direcque o sarro próprio dos panelões eram, também, tor da “ZacatraZ”. matéria fundamental para apaladar o cozinhado que se seguia, a banha com um conceito muito próprio de “prazo de validade”, a falta de luvas na confecção, aquela envolvente ambiental gordurosa dos vapores da cozinha, etc, etc.,…, tudo coisas modernas que adulteram a verdadeira essência do “Amarelo de Carne”. Mas ao longo de todas as gerações não se produziram Meninos da Luz gordos fruto das pizzas e outras massas, dos Aspecto parcial dos convivas, vendo-se o dono da casa em primeiro hambúrgueres e outros pra- plano do lado esquerdo.
68
Protocolo AAACM - MGEN para Seguros de Saúde
Protocolo AAACM-MGEN para Seguros de Saúde
N
o passado dia 18 de Julho, a AAACM estabeleceu com João Mata Corrector de Seguros e a MGEN* um Protocolo que permite a adesão a seguros de saúde mutualistas com condições muito particulares no mercado os seguintes factores diferenciadores: a) Sem limites de idade na adesão ou na permanência; b) Sem questionário médico ou selecção clínica; c) Sem exclusões de doença, nomeadamente pré-existências; d) Sem exclusões de doenças graves; e) Sem resolução unilateral do contrato; f) Carências reduzidas.
Tanto os planos como as condições e formulários de adesão para os Associados estão disponíveis para consulta na Sede da AAACM e também no nosso site, podendo ainda entrar directamente em contacto com o Corrector João Mata, cuja equipa presta todo o apoio na adesão e acompanhamento posterior. A título de síntese existem os seguintes planos: Vital 2014, Essencial 2014, Essencial + 2014 e Plano Complementar 2014. São aceites nos presentes planos os Associados de pleno efeito da AAACM e respectivos membros do agregado familiar. A inclusão do agregado familiar deve ser feita para todos os membros (cônjuge, filhos dependentes e ascendentes dependentes). A dependência de filhos maiores de 25 anos ou de ascendentes comprova-se através das declarações de IRS.
das principais redes existentes em Portugal, tendo convenção com todos os principais hospitais privados, bem como uma presença nacional em cerca de 17.000 prestadores clínicos das várias especialidades. Esperamos sinceramente que a celebração deste Protocolo seja do futuro agrado dos nossos sócios.
A MGEN utiliza a Rede AdvanceCare para toda a gestão clínica das apólices. A AdvanceCare é uma
* Fundada em 1946, a MGEN gere em França o regime obrigatório de seguro de saúde dos profissionais da Educação Nacional, entre outros sectores. MGEN é a sigla de “Mutuelle Générale de l´Education Nationale”, que é hoje a mútua de saúde líder em França. A MGEN é regida pelo código mutualista e cujos princípios são a Democracia, a Liberdade, a Independência, a Solidariedade e Não discriminação e a Responsabilização. Presentes em Portugal desde 2009, os planos da MGEN são geridos e distribuídos pela Europamut (mandatária e a representante fiscal da MGEN).
69
70
Campeonato do Mundo de Fórmula 1 - 2007
António Rafael Passarinho Franco Preto 67/1950
Campeonato do Mundo de Fórmula 1 2007 1
E
ste espectáculo desportivo – com fins eminentemente lucrativos, como todos os restantes – atrai o entusiasmo de milhões de entusiastas e movimenta biliões (qualquer que seja a moeda escolhida). O campeonato de 2007 (com a sua última corrida no domingo dia 21 de Outubro desse ano) teve mais peripécias que as habituais e um final “explosivo” que me leva a escrever este artigo.
Situação Inicial
Caso ocorrido durante a época
Duas equipas concorrentes ao título mundial de construtores: a Ferrari (Italiana) e a McLaren (Inglesa). Quatro pilotos concorrentes ao título mundial de condutores: Räikkönen (Finlandês) e Massa (Brasileiro) pela Ferrari; Alonso (Espanhol, vencedor dos dois últimos anos) e Hamilton (Inglês) pela McLaren.
Tendo a Ferrari apresentado uma queixa à FIA (Federação Internacional de Automobilismo) relativamente a espionagem industrial técnica feita pela McLaren e que – segundo a Ferrari – seria a causa principal para o facto dos dois pilotos da McLaren estarem nos dois primeiros lugares da classificação e a McLaren também se en-
Campeonato do Mundo de Fórmula 1 - 2007
Kimi Räikkönen.
Filipe Massa.
contrar no primeiro lugar dos construtores, a FIA decidiu dar-lhe razão e publicou as suas decisões: • Desclassificar a McLaren do campeonato de construtores. • Manter os pontos ganhos pelos pilotos da McLaren2 (!). • Antes do início da época de 2008, a McLaren teria que apresentar o seu carro para inspecção (garantindo a inexistência de qualquer infracção de ‘copyright’ relativamente à Ferrari).
Acontecimentos ocorridos nas últimas duas corridas da época 3 Hamilton (que durante toda a época evidenciou uma quase total ausência de erros) cometeu dois erros “inexplicáveis” (um em cada corrida), • Na penúltima, despistou-se a uma velocidade extremamente reduzida, tendo abandonado a corrida. • Na última, andou a velocidade extremamente reduzida durante aproximadamente um minuto (!) tendo feito o resto da corrida à sua velocidade habitual, tendo terminado em 7º lugar com mais de uma volta de atraso (!) do vencedor, o finlandês Räikkönen. Alonso terminou a última corrida em 3º lugar a quase um minuto (!) do vencedor, o finlandês Räikkönen.
Fernando Alonso.
Räikkönen venceu as duas últimas corridas. Mesmo assim, para ser campeão, necessitava que – na última corrida – Hamilton não ficasse classificado acima do 7º lugar e Alonso acima do 3º lugar. Por coincidência4, Hamilton terminou a última corrida precisamente em 7º lugar e Alonso, em 3º lugar.
Resultado Final do campeonato mundial de pilotos em 2007 Raikkonen foi campeão mundial de pilotos de Fórmula 1 com 110 pontos, tendo Hamilton e Alonso ficado ambos com 109 pontos.
Facto colocado à consideração do leitor Dois dias antes da última corrida o jornalista Italiano Renato D’Ulisse escreveu um artigo em tom provocatório e “meio a brincar” no reputado jornal La Gazetta dello Sport que se intitulava E se estivesse tudo escrito para Räikkönen ser campeão? Nele era descrita (e logicamente não provada) uma verdadeira teoria que se baseava no facto de que a FIA não podia aceitar (em nome da “verdade desportiva”) que Hamilton ou Alonso fossem campeões (por o fazerem em carros “copiados” dos Ferrari) mas que, ao mesmo tempo, tinha
71
Lewis Hamilton.
de garantir – por motivos exclusivamente financeiros – que o campeonato terminasse com os quatro melhores pilotos a disputarem (pelo menos aparentemente) o título, levando o entusiasmo dos adeptos ao rubro. A FIA teria então chamado (antes de tornar públicas as penalizações descritas na página anterior) os responsáveis máximos da Ferrari e da McLaren e negociado que, embora Hamilton e Alonso mantivessem os pontos já conquistados (sendo assim aparentemente favoritos ao título de campeão de pilotos) eles não poderiam ser campeões.
O que se verificou. “Si non è vero è bene trovato” (Se não é verdade, é bem achado) – Provérbio Italiano. Claro que as coincidências (e outros factos inexplicáveis) existem!5
1 Espectáculo Desportivo (não se confunda com “Desporto”) de automobilismo. 2 Correndo em carros “copiados” da Ferrari! 3 Antes das quais o piloto Hamilton da McLaren era “praticamente” campeão. 4 Esta palavra só existe, porque – de facto – existem coincidências (mas se acontecem, provocando situações inesperadas e de importância, a sua veracidade deve ser submetida a rigoroso ”escrutínio”). 5 Como acontece, por exemplo, com os atletas de várias modalidades desportivas, cujos testes acusam ter competido drogados, sem que tal tivesse acontecido realmente (pelo menos assim o juram…).
72
Projecto Fim do Império resumo e perspectivas
Projecto
FIM DO IMPÉRIO resumo e perspectivas O
projecto Fim do Império é, essencialmente, um trabalho de voluntários, apoiado pela Câmara Municipal de Oeiras (CMO), pela Liga dos Combatentes (LC) e pela Comissão Portuguesa de História Militar (CPHM). Tem duas vertentes complementares. A mais antiga é a das tertúlias mensais, com base em livros sobre o período histórico que abrange o final do nosso império e suas consequências, os quais são debatidos o mais serenamente possível. A outra é a da colecção literária que tenta ajudar a que não se percam testemunhos e investigações sobre este importante período da nossa História. Ambas visam o confronto de olhares diferentes, mas complementares. Existe um protocolo entre as três Instituições, as quais acordaram que a coordenação seria feita pelo Coronel Manuel Barão da Cunha (150/1948), em regime de voluntariado. A gestão a cargo da Liga dos Combatentes é acompanhada pela Comissão de Representantes constituída pelo Dr. Manuel Machado (275/1961), da CMO, em representação do presidente Dr. Paulo Vistas, que sucedeu ao Dr. Isaltino Morais, pelo superintendente Isaías Teles da LC e que sucedeu ao Coronel Montez, em representação do presidente da LC General Chito Rodrigues, pelo Coronel José Banazol (631/1968) em representação do presidente da CPHM, General Sousa Pinto, pelo editor Daniel Gouveia e pelo coordenador. As tertúlias Fim do Império começaram em 21 de Janeiro de 2009, na Livraria Galeria Municipal Verney/Colecção Neves e Sousa, no centro histórico de Oeiras na rua Cândido dos Reis, n.º 90, desenvolvendo-se, em princípio, na 3.ª terça-feira de cada mês, de Outubro a Maio, inclusive, às 15h00 (três da tarde), ou seja, «333». Em 26 de Outubro de 2011 começou uma segunda tertúlia em Lisboa, no Palácio de In-
dependência ao Rossio (onde no 3 de Março se depositam as armas durante a Missa na Igreja de São Domingos), a convite da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, presidida por Dr. Alarcão Troni, com o apoio da Dra. Ana Prosérpio e da CPHM, funcionando normalmente à 4.ª quarta-feira, às 15h00, ou seja, «443». Alterna os ciclos com o CASLisboa/ IASFA (Cooperativa Militar, na rua de S. José). Em 8 de Novembro de 2012 começou a terceira tertúlia na Messe de Oficiais da Batalha, no Porto, normalmente à 2.ª quinta-feira, às 15h00, «253», da responsabilidade do Núcleo do Porto da LC, presidida pelo Coronel José Belchior e apoiada pelo Capitão Delgado. Realizaram-se 11 ciclos, sendo convidado para cada sessão um autor de uma obra literária sobre o tema. Tem havido a preocupação de alargar a abrangência dos «olhares» não só com testemunhos de militares profissionais dos três Ramos, mas também de outros combatentes e de outras vivências, nomeadamente, femininas. Também, com obras de investigação por parte de oficiais em serviço activo e outros estudiosos, que complementam os testemunhos de quem viveu os acontecimentos. Em 16 de Abril de 2013, iniciou-se em Oeiras a internacionalização do projecto com a apresentação do livro da Doutora Maria José Santiago, que se deslocou de Pontevedra, Espanha. Em 20 de Maio de 2014 esteve o autor residente no Brasil, Fernando Lamy (157/1947). O professor René Pélissier (residente em França) historiador do nosso Ultramar e especialista nas colonizações de África por outros países, com obra editada, tem acompanhado a colecção publicando comentários a várias edições. No conjunto, de Janeiro de 2009 a Outubro de 2014, inclusive, realizaram-se 97 sessões das tertúlias: 1.ª tertúlia/Oeiras, mais de 2.900
presenças em 46 encontros, com uma média de cerca de 64 presenças por sessão; 2.ª, em Lisboa, mais de 1.000 presenças, em 24 sessões, média de cerca de 45 por sessão; 3.ª, no Porto, cerca de 575 presenças, em 15 encontros, com média de 38 por sessão. Também se realizaram 10 sessões extraordinárias: em Lisboa (2), Porto (2), Évora, Lagoa, Estremoz e Coimbra (2), com cerca de 430 participantes, com média de 43 por encontro. Ou seja, um total de mais de 4.900 presenças em 94 tertúlias, com média de 52 por encontro. A outra vertente do Projecto, complementar das tertúlias, é a da colecção literária. Iniciada em 18 de Maio de 2010, conta já com 14 edições e duas reedições de livros e três edições e uma reedição de cadernos. Está prevista a edição de mais dois livros ainda este ano, atingindo-se assim o 16.º livro antes de o Projecto completar seis anos. Dos actuais 14 livros da colecção, 10 são inéditos e 7 são da autoria de debutantes onde se incluem cinco septuagenários e um octogenário, com obras escritas na idade da sabedoria e da serenidade que mostram lados da guerra menos conhecidos, graças à sensibilidade dos autores que, para além de aspectos dramáticos, também utilizam o humor. Pretende-se que as edições tenham uma boa relação custo/qualidade, incluindo letra facilmente legível. Os livros já editados são:
Projecto Fim do Império resumo e perspectivas
73
1º Crónica dos meus últimos dias de Timor e outras histórias de guerra, de Coronel de Infantaria reformado Dr. Rui Marcelino, sobre Moçambique, Angola e Timor; o autor foi o último subchefe de Estado-Maior em Timor e relata as últimas semanas da soberania portuguesa naquele território. No lançamento, o livro foi apresentado pelo General António Barrento (40/1948), último Chefe do Estado Maior em Timor e antigo Chefe do EstadoMaior do Exército.
2º Tempo Africano, aquelas longas horas em oito andamentos de Coronel reformado Dr. Manuel Barão da Cunha (150/1948), sobre Angola, Guiné e Moçambique, com prefácio de General Ramalho Eanes, posfácios de General Vasco Rocha Vieira (127/1950) e Almirante Ribeiro Pacheco (163/1944) e ilustrações do pintor Albano Neves e Sousa. Integra textos de outros antigo alunos: Dr. António Sena e Silva (149/1948) e Dr. António Carrelhas (159/1947); Coronel Ruben Domingues (196/1948), Coronel Luís Dias Antunes (221/1948) e Coronel Álvaro Varanda (347/1948); Góis Pinto (201/1947).
3º Kinda e outras histórias de uma guerra esquecida do Major piloto-aviador reformado Carlos Acabado, esgotado (2.ª edição geminada com 12.º livro), sobre o Leste de Angola, onde o autor esteve cerca de 12 anos. Kinda é o nome de uma rapariga que ficou órfã em Angola e foi adoptada pelo Capitão que, involuntariamente, lhe matou a mãe.
4º Caleidoscópio, antologia de recordações militares saborosas do Tenente-Coronel Rui de Freitas Lopes, esgotado (2.ª edição geminada com 14.º livro), sobre Açores, Angola e Moçambique; o autor nasceu em 1922, sendo irmão do escritor Óscar Lopes. Capa da 1.ª edição, escultor Augusto Cid; da 2.ª, pintor Neves e Sousa.
5º Arcanjos e bons demónios de Daniel Gouveia, ex-alferes miliciano em Angola, incluindo CD com 198 fotos; é o editor da colecção. Refere também população, fauna e flora.
74
Projecto Fim do Império resumo e perspectivas
6º Memórias do Oriente, Índia, Timor e Moçambique de Coronel Dias Antunes (221/1948), entretanto falecido, sobre Índia, Timor e Moçambique, quase esgotado. Integra participações de outros antigos alunos, nomeadamente, Engº. Mendes de Almeida (285/1948), Engº. António Nogueira (262/1948), Dr. António Carrelhas (159/1947), Capitão Carlos Frederico Dias Antunes (212/1938), Comandante Seixas Serra (30/1947), Dr. Vieira Pinto (382/1949), Coronel Roberto Durão (15/1942) e Coronel Manuel Barão da Cunha (150/1948). O livro foi apresentado pelo Major General António Marquilhas (67/1944).
7º Meninos da Mucanda, olhares de Angola de Tenente-Coronel do SGE reformado e Dr. Albano Mendes de Matos (prémio Aquilino Ribeiro); refere instituições regionais angolanas. O autor foi sargento em Angola.
8º Salazar e Tchombé, o envolvimento de Portugal na questão do Catanga (1961-67) do Major de Infantaria e Mestre Rui Velez, com base em tese de mestrado. O autor está no serviço activo e lecciona na Academia Militar.
9º Olhares sobre Guiné e Cabo Verde organização do Coronel Manuel Barão da Cunha (150/1948) e do Almirante José Manuel Castanho Paes (228/1952), co-edição DG Edições e Caminhos Romanos; 30 autores, incluindo os antigos alunos coordenadores, Coronel comando tirocinado Raul Folques (380/1950), Coronel pára-quedista Nuno Mira Vaz (277/1950), Coronel de Infantaria José Vaz Serra (Sócio honorário da AAACM), Vice-Almirante José Carvalheira (301/1946) e Contra-Almirante Isaías Gomes Teixeira (235/1946).
10º Mousse de Manga 11º Moçangola da pintora Helena Pinto Magalhães, nascida em Bolongongo, nos Dembos, em Angola, onde foi gravemente ferida. Também foi piloto-aviador em Angola. Geminado com 11.º, Moçangola, do Coronel José Castro de Figueiredo, com CD de Coros Africanos, sobre Angola e Moçambique.
Projecto Fim do Império resumo e perspectivas
75
12º Histórias de um marinheiro aviador do Tenente-Coronel piloto-aviador Carlos Marques Pereira (102/1946), sobre quase todo o Império. Foi oficial da Marinha, da Aviação Naval e da Força Aérea. Geminado com 2.ª edição do 3.º livro.
13º Livro, O Soldado Clarim do Coronel pára-quedista Nuno Mira Vaz (277/1950), romance histórico sobre Angola, no período de 1885 a 1961, incluindo personagens históricas, como Silva Porto e João de Almeida, o terrorismo inicial no Norte de Angola e a onda de repressão que provocou.
14º Angola, brisas da memória, um peão lançado num turbilhão do ex-Furriel miliciano luso-brasileiro Fernando Lamy (157/1947), com capa do pintor Neves e Sousa. Geminado com reedição do 4.º livro.
A
s edições têm sido da DG Edições sendo, em co-edição, o 9.º e o 12.º livros com a editora Caminhos Romanos, e o 13.º e o 14.º livros com a editora Esfera Poética. Em 25 de Novembro de 2014, foi lançado o 15.º livro da colecção Fim do Império, intitulado O General Ramalho Eanes e a História Recente de Portugal, da autoria do antigo aluno Dr Vieira Pinto (382/1949), biógrafo do Professor Adriano Moreira, com a colaboração do antigo aluno General Rocha Vieira (127/1950), para além da dos Generais Loureiro dos Santos, Chito Rodrigues, Tomé Pinto e Sousa Pinto e do Coronel Costa Ferreira, pai de um antigo aluno prémio Barretina. Em 16 de Dezembro de 2014, teve lugar o lançamento do 16.º livro da colecção, também no Auditório Princesa Benedita no Cen-
tro de Apoio Social de Oeiras, intitulado Dois Amigos, dois destinos, romance histórico sobre Guiné e Cabo Verde, da autoria do Eng José Alvarez, antigo oficial da Reserva Naval, com prefácio do Professor Adriano Moreira. Foram também publicados cadernos sobre bibliografia temática e sobre o próprio projecto. Para além dos autores e co-autores antigo alunos já referidos, houve outros preletores nas 94 tertúlias já realizadas tais como os generais António Barrento (40/1948), Rocha Vieira (127/1950), Pezarat Correia (10/1943) e António Marquilhas (67/1944) e o Coronel Costa Matos (96/1950). A obra póstuma do General Jesus da Silva (136/1949) foi objecto de uma tertúlia. Entre a frequência habitual contam-se vários
antigos alunos, como Tenente General Jorge Gabriel Teixeira (315/1947), Coronel tirocinado Manuel do Rio Carvalho (124/1945), Dr Helder Sena e Silva (149/1948), Eng Luis Mendes de Almeida (285/1948), Eng Pedro Lagido (330/1947), Coronel Joaquim Corte Real Negrão (146/1948) e Coronel Mário Arada Pinheiro (164/1943).
76
Projecto Fim do Império resumo e perspectivas
Locais onde podem ser adquiridos os livros Comissão Portuguesa de História Militar, Palácio da Independência, Rossio, Lisboa Tel. 213 465 120 cphistoriamilitar@defesa.pt Cooperativa Militar (Comandante Macedo), Rua de S. José, Lisboa Tel. 213 407 607 caslisboa@iasfa.pt Liga dos Combatentes no Bairro Alto (Coronel Hilário), Rua João Pereira da Rosa 18, Lisboa Tel. 213 468 245 Associação de Antigos Alunos do Colégio Militar, Largo da Luz, Lisboa Tel. 217 122 306 geral@aaacm.pt Esfera Poética na Rua D. Domingos Jardo, 4A, 1900-294 Lisboa Tel. 934 124 558 e Tel. 218 151 437 rui.teles.margem@gmail.com Leya-Oficina do Livro, Rossio 11, Lisboa Ler, na Rua 4 de Infantaria 18-18A, Lisboa Orvil, no Centro Comercial da Portela, Lisboa Espaço, na Av dos Combatentes da Grande Guerra 51B, Algés Livraria Escriba, na Rua Cooperativa Piedense 100F, Cova da Piedade Universo, na Rua do Concelho 13, Setúbal Culsete, na av 22 de Dezembro 33A, Setúbal Hemus, na Rua Serpa Pinto 20, Setúbal Livraria Escriba, na Rua Cooperativa Piedense 100F, Cova da Piedade Lojas da Câmara Municipal de Oeiras e Livraria Verney ( Dr.ª Maria José Rijo), Rua Cândido dos Reis 92, Oeiras Tel. 214 408 329 e Tel. 919 847 011 maria.rijo@cm-oeiras.pt Liga dos Combatentes em Oeiras (Superintendente Isaías Teles) Tel. 214 430 036 lcombatentesoeiras@sapo.pt CASOeiras/IASFA, próximo do Liceu, Oeiras. Livraria do Alto da Barra em Oeiras. Asztali, na Rua 5 de Outubro 29A, Carcavelos Liga dos Combatentes, no Porto Nunes, na Av da Boavista (à Rotunda), Porto
A
Tertúlia Fim do Império iniciou o seu 12º Ciclo no passado dia 21 de Outubro de 2014. Este ciclo subordinado ao tema Fim do Império versus Império da Alma, teve 3 sessões que decorreram antes da ZacatraZ chegar aos seus leitores. A última terá lugar no dia 20 de Janeiro de 2015, pelas 15h00, na Livraria-Galeria Municipal Verney/Coleção Neves e Sousa, em Oeiras, onde será apresentado pelo Capitão-de-Mar-e-Guerra José Malhão Pereira, o livro em Banda desenhada da autoria do Comandante Guilherme de Alpoim Calvão e A. Vassalo, com o título A Guerra em África. A nossa História. Do Índico ao Niassa. Haverá igualmente uma sessão no Porto a 8 de Janeiro de 2015 e uma sessão em Lisboa no dia 28 de Janeiro de 2015. Relativamente aos temas, está previsto que no Porto se abordem temas abrangentes e, especificamente, Angola, Moçambique e consequências do fim; em Oeiras, temas abrangentes e, especificamente, Goa, Guiné e Moçambique; em Lisboa, Angola e Guiné, consequências do fim. Assim, na globalidade dos seus 12 encontros, o 12.º ciclo tratará de temas abrangentes do período do fim do Império e suas consequências, em especial, de Angola, Goa, Guiné e Moçambique, tendo sido lançados o 15.º e o 16.º livros. Para quem possa estar presente aqui fica o convite formulado pelos Presidentes da Câmara Municipal de Oeiras, Dr Paulo Vistas, da Direção Central da Liga dos Combatentes, Tenente General Chito Rodrigues, do Núcleo de Oeiras e Cascais da Liga dos Combatentes, Superintendente Isaías Teles e pelo Director do CASOeiras, Coronel João Marquito.
Lello, na Rua das Carmelitas, Porto Bookmania, na Rua de Ceuta, Porto Esquina (Foco), Porto Sousa e Almeida, na Rua da Fábrica, Porto
Manuel Júlio Matias Barão da Cunha (150/1948) Coordenador do Projecto em regime de voluntariado mbaraocunha@gmail.com T. 917 519 280
Os que nos deixaram
77
Os que nos deixaram Rui Spínola da Costa (110/1943) Director de Serviços na Hidroeléctrica de Cabora Bassa Administração Pública - Reformado Nasceu a 24 de Abril de 1933 - Faleceu a 24 de Setembro de 2014
A
través da sua Filha, Senhora D. Ana Isabel Gouveia da Costa, recebemos a notícia do falecimento do nosso Camarada Rui Spínola da Costa. A todos os seus Familiares apresentamos as nossas mais sentidas condolências. Que descanse em paz.
Manuel Carlos Teixeira do Rio Carvalho (124/1945) Coronel Tirocinado de Infantaria Nasceu a 28 de Junho de 1935 - Faleceu a 22 de Setembro de 2014
O
ntem choveu muito e morreu um homem bom que nunca desistiu de viver. O meu pai cultivou a esperança com coragem, sempre a pensar mais em nós do que nele. Morreu um verdadeiro soldado, porque sempre cultivou as virtudes que os distinguem, mas também porque combateu e desde muito novo, comandou. Morreu o meu Pai que viveu para nós e me entendeu tão bem. Que feliz eu fui de ter um Pai assim, essencial, do princípio ao fim. Carlos
M
anuel Carlos Teixeira do Rio Carvalho, Coronel Tirocinado de Infantaria, ao longo da sua vida profissional desempenhou inúmeros cargos de prestígio e grande responsabilidade para alem de 4 comissões no Ultramar em Comandos Operacionais. Serviu o Colégio onde foi Comandante do Corpo de Alunos, Subdirector e Director interino. Na Associação fez parte de diversas Direcções, tendo sido no triénio passado Presidente da Assembleia Geral. Após o Curso no Colégio Militar entrou para a Escola do Exército cm 1952 onde frequentou o Curso de Infantaria.
Como Oficial Subalterno prestou serviço no Regimento de Infantaria 2, em Abrantes. Mais tarde, como Coronel, viria a Comandar esta Unidade Militar. Desempenhou funções de Instrutor, Comandante de Companhia e Chefe dos Serviços Culturais da Academia Militar, foi 2.º Comandante da Escola de Formação de Sargentos (no período em que esta esteve sediada em Lamego). Foi Assessor no Ministério da Administração Interna, Assessor no Instituto da Defesa Nacional e Director do "Jornal do Exército". Frequentou o Curso Complementar do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, o Curso de Defesa
78
Os que nos deixaram
Nacional e o Curso Superior de Comando e Direcção no Instituto de Altos Estudos Militares. Publicou diversos artigos na Imprensa Militar Portuguesa e Brasileira e proferiu conferências em Instituições Nacionais e Estrangeiras. Foi sócio Efectivo da "Revista Militar" tendo sido Vogal da Direcção durante vários anos. Foi igualmente Vogal da Direcção da "Associação dos Militares na Reserva e na Reforma” em vários mandatos. Foi Vogal da Direcção da Associação de Auditores dos Cursos de Defesa Nacional em duas Direcções (1990/1991 e 1992/1993) de cujo
entusiasmo e profícuo trabalho guardou as melhores recordações. Já na situação de Reforma colaborou, no âmbito da "Comissão de Estudos das Campanhas de África", inserida na Direcção de Documentação e História Militar do Estado-Maior do Exército, no livro “Moçambique - Operações 1964-1975” incluído na colecção “Resenha Histórica das Campanhas de África”, editado por aquela Direcção. Considerou o Associativismo como uma forma elevada de cidadania cada vez mais necessária na Sociedade actual, tendo estado ligado a variadas Associações.
Integrou a Associação de Auditores dos Cursos de Defesa Nacional. Interessou-se, particularmente por assuntos Sociopolíticos e Históricos. Um Homem, um Cidadão para quem o Ser está à frente do Ter, que sabe Estar e dizer Presente para ser útil aos outros. A Ética e a cultura dos Valores fizeram parte do seu modo de agir perante o mundo. A todos os seus Familiares as nossas mais sentidas condolências, com um abraço fraterno aos Antigos Alunos seu Filho e seus Netos. Que descanse em paz.
in Memoriam
O
Coronel Rio Carvalho fez parte da plêiade de homens (e mulheres), que constituem o esteio de um País e o equilíbrio da Sociedade. São os que oram, trabalham, preocupam-se com a Justiça e a Moral, estudam, defendem a Nação, esforçam-se pela rectidão de atitudes, dão o que sobra de si à comunidade, agem pelo exemplo e são patriotas. Numa palavra, têm o sentido da vida e do Dever. O Coronel Rio Carvalho era tudo isto e muito mais. Fazia tudo isto com simplicidade, educação e sem ponta de afectação, nem arrogância, tão pouco falsas modéstias. Era sóbrio e sensato. Foi, na sua essência, um homem bom que praticava o Bem! Era entranhadamente português, sem alardes, porém, sem deixar que qualquer ideologia política tal pusesse em causa. O Coronel Rio Carvalho foi, para além de tudo, um soldado. E foi-o desde os 10 anos - como ouvi uma vez dizer ao seu filho mais novo – desde que entrou para o Colégio Militar (era o 124/1945), instituição de que chegou a
Director, que amava profundamente e que uma infeliz, insensata e escusada decisão política, está a descaracterizar e a destruir. Pude constatar as grandes qualidades humanas e militares do Coronel Rio Carvalho desde cadete do 3º ano da Academia Militar e ao longo de 40 anos, em que se cimentou entre nós, uma sólida relação de amizade e camaradagem, até uns dias antes do seu passamento, em que o vi pela última vez, no seu leito de hospital. O Exército Português acaba de perder um dos seus mais fiéis servidores e Portugal um dos seus dilectos filhos. Resta-me a consolação de estar seguro que a justiça divina o sentará, também, à direita do Pai e que uma recordação doce, da sua memória consiga, espero, preencher o vazio da sua ausência. Meu coronel e amigo, até sempre. Palavras proferidas na missa de corpo presente, na Basílica da Estrela, em 24 de Setembro de 2014, pelo Tenente-Coronel Piloto Aviador João José Brandão Ferreira, numa sentida homenagem pessoal ao Coronel Manuel do Rio Carvalho.
António Henrique Trigo Perestrello D’Alarcão e Silva (202/1946) Oficial da Força Aérea – Coronel Reformado Nasceu a 13 de Fevereiro de 1936 - Faleceu a 7 de Outubro de 2014 Biografia in Voos Terrenos, livro de poemas dedicado à Liga dos Combatentes
A
ntónio Henrique Trigo Perestrello D’Alarcão e Silva, por vezes conhecido por António Alarcão, Coronel da Força Aérea, nasceu no Monte-Estoril a 13 de Fevereiro de 1936. Depois de ter cursado o Colégio Militar ingressou na, então, Escola do Exército, seguindo uma tradição familiar. Prestou serviço em diversas unidades do Continente e Açores e em comissões durante mais de nove anos nas ex-províncias de Cabo Verde, Angola e Moçambique no período da Guerra do Ultramar. Foi piloto, pára-quedista, marinheiro... e Campeão de Portugal de Tiro de Guerra (300 metros, G3) em 1969 e de
Moçambique em 1972. Foi Subdirector do Museu do Ar e da revista «Mais Alto», 2.° Comandante da Base do Lumiar e Chefe do Centro de Recrutamento e Mobilização da Força Aérea. Comandou a Polícia Aérea em Tancos, Monte Real, Angola e Tete, onde foi comandante da FAV-308 (Força Aérea Voluntária) e por 3 anos foi nomeado responsável pela organização das Comemorações do Dia da Força Aérea em Vila Real, Leiria e Setúbal. Sensível onde as ARTES se alcandoram, é autor de diversos trabalhos, artigos e escritos poéticos, entre eles, o hino da Força Aérea e da Academia da Força Aérea. Transitou para a situação de reserva, no posto de Coronel, passando a prestar serviço na Liga dos Combatentes, onde foi Director do órgão de informação da-
Os que nos deixaram
quela Instituição - a Revista «Combatente» - e depois foi Presidente do Núcleo de Lisboa da Liga dos Combatentes, passou à situação de reforma em 2001. Poeta e escritor publicado em diversas revistas e jornais em Portugal e no Brasil, foi galardoado com os prémios «Mais Alto» e «Combatentes». A todos os seus Familiares endereçamos as nossas mais sentidas condolências. Que descanse em paz. Redacção da Revista ZacatraZ
O voo ainda mais alto Há pessoas cuja influência exercida é maior do que poderíamos supor, até ao dia em que se faça essa reflexão. Morreu o Perestrello, o coronel poeta ou o poeta coronel. Invocá-lo de um modo ou de outro será indiferente na medida em que ambas facetas coincidem na mesma pessoa. Ainda que nestes últimos anos “a” pudesse ter anunciado, no modo súbito e sereno da sua partida parece ter improvisado um qualquer acto repentista que procuramos decifrar. Sem que se pudesse notar um esgar nos lábios, a linha direita da boca sublinhou a tangência lírica entre os dois mundos sobre os quais versejou em vida. Foi o abalo desta notícia que me fez recuar aos arquétipos pessoais. Depois do meu Pai, João António Gomes da Costa David (178/1951), do Avô Manuel Américo David (378/1918) e do Tio Avô José Augusto Junqueiro Gonçalves de Freitas (132/1917) e o do Primo Manuel Freitas de Lucena Ferreira (132/1963), o António Perestrello (202/1946) é o primeiro Menino da Luz de que me recordo fora da esfera familiar. O Perestrello, era assim que o chamava, sendo um nome antigo de origem italiana explica o “L” duplamente grafado. O apelido ancestral sempre me pareceu consentâneo com a figura de rosto altivo, franco, vagamente pueril, virgulado pelo incensório cachimbo e acentuado pela barba e bigode, que acrescentavam significado à sua presença, expressão verbal e silêncios. Apesar da diferença de idades entre eles, na amizade fraterna, nascida no Colégio Militar,
N
79
aquela triste madrugada, subitamente partiu para o Além o nosso querido camarada de curso António Perestrelo, que no Colégio todos tratavam por Xico - aliás o único Xico conhecido que não se chamava Francisco! Desde novo se revelou um espírito de eleição, generoso, exuberante, amigo jovial e sincero, com imaginação fértil e apurada sensibilidade artística. Foi um digno e brioso oficial da Força Aérea, conforme o atesta a súmula biográfica incluída nesta mesma edição da Zacatraz. E a par da sua carreira profissional por terras de Portugal continental, insular e ultramarino, a sua veia poética desenvolveu-se e traduziu-se na composição de belos versos, de diferentes índoles e matizes, muitos dos quais reunidos e publicados em livros, como é o caso da sua derradeira obra, "Voos Terrenos", lançada há bem escassos cinco meses. Ao longo da sua vida, após a saída do Colégio, o Xico foi sempre muito dedicado à nossa Associação de Antigos Alunos, tendo sido colaborador frequente da Revista, em especial sob a direcção do Carlos Vieira da Rocha durante os anos épicos da Guerra do Ultramar.
No âmbito do nosso curso, esteve sempre disponível, muito activo e dedicado na organização das romagens de saudade que periodicamente temos feito à Casa que nos formou como cidadãos responsáveis e patriotas. Entre nós foi também dos mais assíduos e participativos nos almoços mensais de confraternização da malta, além dos convívios globais do Três de Março e da Velha Guarda. Grande Xico, Deus chamou-te precisamente na véspera do nosso já aprazado almoço de Outubro. Nós que ficámos, nesse dia, na mesa habitual do "Jardim da Luz", olhámos para a cadeira em que habitualmente te sentavas - e o nosso mudo sofrimento e tristeza profunda só de algum modo se atenuaram ao sentirmos, no íntimo dos corações, o calor suave da tua Alma presente, a enternecer-se connosco! À Maria Arlette, tua Mulher querida, e vossos filhos Kika e Pedro, renovamos a expressão das nossas mais sentidas condolências.
notava uma certa atitude protectora do David, talvez por vezes de alguma benevolência condescendente. Sendo dois homens do Ar, creio que o pendor mais pragmático de um tivesse ajudado, por vezes, a corrigir algumas trajectórias poéticas do outro. O certo é que, apesar das diferenças, entendiam-se, reconheciam o seu substrato e o respeito era mútuo. Dessa Amizade germinaram outras amizades, desde logo entre as respectivas esposas, a Arlete Perestrello e a Maria Helena de Albuquerque David, e nas descendências; nós, os filhos, que vivenciámos e partilhámos irmãmente muitos episódios, sobretudo entre a infância e a adolescência: a Maria Paula “Kika”, o Pedro Miguel, “Piko” e, do meu lado, o João Pedro, a Isabel Maria e o Miguel. Então, logo no dealbar da minha vida, de entre aqueles que me são mais próximos e suscitaram fascínio e respeito pelas Letras devo incluir o Perestrello. Sendo um militar, intrigava-me a neblina sensível que envolvia este homem de formação castrense e encontrava na Escrita forma de se dar a entender, exaltar os cada vez mais ameaçados valores éticos e morais inculcados, feitos e glórias, entre eles a pertença à Pátria que nos viu nascer, dirigindo-se em especial a toda a gente que, sem querer, sente e “Poeta será”. A sua figura fleumática e bonacheirona, de nobre echarpe e boleada elegância, era por si só romanesca; infundiu no meu imaginário infantil, antes mesmo de descobrir como juntar as letras para as ler, a referência presencial daquele que usa a caneta para se ausentar e gastar silenciosamente muito do seu tempo a expressar tudo o que está contido na nossa finitude e que
talvez lhe sobreviva. Lembro-me de o ver escrever poemas na adega da casa do Penedo, em Sintra, naturalmente na casa de sempre, à Lapa, de os pastorear junto de familiares e amigos; adiante igualmente me ofereceu textos avulsos, crendo porventura que os guardaria com zelo e pudesse também eu encontrar guisa própria de escrevinhar para cantar o que sinto e penso. A Poesia, que para alguns é manifestação vã da vaidade, insolência mesmo, e tibieza, para outros é necessidade imperiosa, militância que se empenha na transmissão da universalidade relativa aos ideais e sentimentos humanos; assim era com o Perestrello, que por certo se inspirou em algumas das acções do inseparável Amigo Combatente, o David, meu confessável Herói. Embora com deferência, trato-o por “tu”, exerço o meu direito e dever de antigo aluno do Colégio Militar que me assiste: Perestrello, coronel poeta ou poeta coronel (da mesma forma como podemos ler o teu número colegial – 202), encontraste uma chave que abriu as Portas do Céu de par em par, e assim continuarás a Travessia, os voos poéticos. Por esta hora és escoltado na imensidão dos ares por bravos pilotos, entre eles o inquestionável Camarada David, meu saudoso Pai, avistando-se ainda na esquadrilha os “pilotaços” Carlos Alberto Heitor Lavrador (322/1951) e o Luís Carlos de Quintanilha Reis Araújo (395/1951). Cumprido o serviço Terreno, segue-se uma aventura misteriosa e empolgante, que adiante nos contarão.
Luís Joel Alves de Azevedo Pascoal (145/1948) pelos Camaradas do Curso 1947/1954
Jorge de Albuquerque Gonçalves de Freitas David 87/1979
80
Os que nos deixaram
Manuel Joaquim Brou Ramos Lopes (181/1945) Tenente General Piloto Aviador Nasceu a 9 de Outubro de 1933 - Faleceu a 17 de Julho de 2014 Da esquerda para a direita: No 1º plano, de joelhos, Nuno Bastos de Bívar (121/1943), António Machado do Carmo (96/1943), Manuel Mesquita Guimarães (177/1945), no 2º plano, de pé, João Ribeiro Mateus (169/1944); José Rocha e Melo (193/1945), Manuel Joaquim Brou Ramos Lopes (181/1945), José Veiga da Fonseca (218/1945), Rui Ferreira Fernandes (243/1945).
H
á coisa de um mês, andava eu às voltas com velhas fotografias dos meus primeiros tempos do Colégio e encontrei uma delas muito curiosa e em bastante mau estado. Nela estão alunos do Colégio Militar que integravam uma equipa de voley do Colégio, aí pelos anos lectivos de 1945/46 ou 1946/47 e nela está o Ramos Lopes, o autor destas linhas e mais sete que infelizmente já não estão entre nós. Ainda pude telefonar-lhe e falar-lhe dessa foto, prometendo enviar-lha oportunamente. Já não houve tal oportunidade. Vai agora para que os seus amigos e camaradas o possam lembrar, com o seu sorriso afável e sua estatura física incontornável. Que Deus o tenha em Sua companhia.
Guardo dele a memória de um homem afável e de boa índole. Paz à sua alma.
João Martins Ribeiro Mateus 169/1944
Duarte Nuno de Carvalho Gomes de Castro 288/1949
Eduardo Maria Rato Martins Zúquete 20/1945
Sinto profundamente a morte do Manuel Ramos Lopes. Paz à sua alma.
Luís Manuel da Fonseca Lobo de Oliveira (385/1949) Engenheiro Mecânico com a especialidade Minas Faleceu a 7 de Novembro de 2014
C
orriam os anos das guerras de África. Quando, em 1963, desembarquei em Luanda para comandar o 1.º pelotão da 2.ª companhia do Batalhão de Caçadores Pára-quedistas n.º 21 (BCP 21), encontrei o Finta – alcunha que já vinha do Colégio e pela qual era conhecido entre os oficiais da Companhia – a comandar o 3.º pelotão. Eu vinha da Academia Militar e o Finta era miliciano. Tinha-se licenciado em Engenharia Mecânica e, já engenheiro de Minas, fora chamado a cumprir o serviço militar. Embora não fôssemos propriamente amigos íntimos no Colégio, a verdade é que a qualidade de antigos alunos marcou desde logo o nosso relacionamento, muito gratificante sob todos os aspectos.
O Finta era um matulão quase sempre jovial, amigo do seu amigo, um camarada para todas as ocasiões. Um homem bom. Não era grande adepto da disciplina militar, mas o seu pelotão era uma afinada máquina de guerra, um grupo heterogéneo de homens que ele conduzia com um misto de bonomia e rigor. Não era difícil, porque ele era um combatente corajoso e intrépido, que comandava pelo exemplo. Tive oportunidade de contar na Zacatraz algumas das aventuras e desventuras que vivemos em conjunto no decurso da comissão. Infelizmente, as palavras com que hoje o recordo não se destinam a ilustrar esses episódios, mas sim a despedir-me dum amigo que foi encontrado morto em sua casa, no dia 7 de
Os que nos deixaram
81
Novembro. Reformado da docência no ensino secundário, há muito que vivia sozinho. Finta: costumavas pedir-me cigarros porque os teus, com frequência, acabavam cedo. Quantas vezes te ouvi: “Oh puto, dá aí um cacilheiro”! Está descansado, caro amigo, vou guardar sempre cigarros para ti. Nuno António Bravo Mira Vaz 277/1950
BCP 21 Oficiais da 2ª Cª, Luanda 1964 Luís Lobo de Oliveira, 2º a contar da esquerda, e Nuno Mira Vaz, o último da direita.
Manuel Inácio Godinho Novais Leite (166/1953) Oficial de Marinha Nasceu a 22 de Março de 1943 - Faleceu a 7 de SETEMBRO de 2014
Partiu… um bom amigo de olhar sofrido coração angustiado um homem amado Partiu… em nós deixou a sua ternura a sua amargura e não voltou Partiu… Deus o tomou A irmã Maria da Conceição
P
artiu o meu Irmão Manel, o melhor Amigo da minha vida. Éramos 8 irmãos. Dos seis rapazes, cinco passaram pelo Colégio Militar - 151/1951 - 166/1953 - 406/1955 - 381/1959 - 406/1962. O outro, o mais novo, passou pelo colégio dos jesuítas das Caldinhas. Foi o mais novo que faleceu aos 45 anos, vítima de acidente de automóvel provocado por um terceiro. A irmã Maria Teresa faleceu aos 65 anos e o meu irmão João (151/1951) aos 66 anos, ambos de doença prolongada. O Manel (166/1953) faleceu subitamente, injustamente, deixando 2 filhos e 5 netos. Não tive tempo de me despedir dele. Não sei como hei-de falar de ti, porque estás muito presente em mim.
Sei que foste dotado de uma inteligência superior, mas ao mesmo tempo apagado. Não gostavas de te evidenciar. Eras um lutador sem limites, passaste pela vida fazendo o Bem aos teus e aos que te rodearam. Eras o amigo nas dificuldades, o companheiro na Alegria, sempre presente mesmo quando fisicamente estávamos distantes. Há 8 anos que me reformei, que quase diariamente falava contigo, de tudo e do que me ia na alma. Escutavas-me inteligente e prolongadamente, acompanhando o meu raciocínio de perto ajudavas-me sempre. É por isso que a tua partida foi para mim a mais dolorosa morte de toda a minha vida de 69 anos, apesar de ser médico durante 39 anos e ter assistido a centenas de mortes. Foste dos melhores alunos de Marinha, brilhante fuzileiro e nas vossas funções dos melhores. Pela Fé em Cristo acredito que repouses em Paz e veles por toda a família e que nos terás sempre presente e continues a acompanhar e ajudar. Um abraço Manel Xico Francisco Xavier Godinho de Abreu Novais 406/1955
82
Os que nos deixaram
Oh Manel , então tu vais assim embora, num repente de pressa, sem te despedires, nem dizeres nada a ninguém? Precisamente agora quando se aproxima a resolução, e parece que positiva, do teu último combate, o processo referente à revisão da tua carreira naval e o seu abrupto termo por razões interferentes com a situação política de então, e que te promoveria ao posto que consideravas, e bem, a que terias direito. Tu foste um dos Homens de primeira linha nesse combate, com idas ao Parlamento, ao Ministro, aos Doutores de direito e até aos Juízes e a tua luta ia, ao fim de não sei quantos anos de impasses, finalmente ser ganha. Oh, Manel devias ter esperado pela honra, pela justiça, pela victória. Entrámos no Colégio, este Colégio Militar que já não é bem o nosso, no mesmo ano, tu já com 10 anos feitos e eu ainda com imberbes 9, ambos nascidos na Invicta cidade do Porto, ambos com a família longe, ambos com um irmão mais velho, e protector, ainda no colégio (tu ainda herdaste a alcunha do teu). Ficamos na mesma turma e lá fomos navegando por esse rio fora, ano após ano conseguindo, sem reprovar, chegar á foz, ao nosso 7º ano, ao nosso início de vida própria. Aí ainda me lembro que te escrevi os versos, brejeirotes, para o nosso livro de curso e, com o Zé Subtil, o João Freire, o Paulo, o Barbosa, o Costa e Sousa, o “Mosca” , começámos a imaginar o mar, a sua liberdade, a sua audácia e a ver os cadetes da Escola Naval a perfilarem a sua linda farda na baixa de Lisboa e no nosso baile de finalistas.
Decidimos então que navegaríamos para sul, o Alfeite e daí construiríamos a nossa nau e nela, desfraldadas as velas da audácia começaríamos a vida. Por sortes do destino, ou malandrices de Mestres ou, o mais natural, percalços meus, não te pude acompanhar nesse ano e vestir a farda azul do nosso sonho, mas lá te vi ingressar na Escola Naval e acompanhei essa tua vida de perto, até à promoção a guarda-marinha. Aí soube, com alguma estupefacção que seguiste logo para Vale de Zebro a tirar o curso de Fuzileiro Especial e mal adivinhava eu, que 2 anos depois me sucedia o mesmo e te apanhava como Instrutor. E de Educação Física, imagina tu, em que nos obrigavas a fazer crosses, logo às 7 da manhã, em jejum e abstinência, estradas de Coina acima e abaixo. Logo de seguida partiste para Angola, numa Companhia de Fuzileiros e, imagina lá tu outra vez, que te segui, um ano depois, num Destacamento de Fuzileiros Especiais, tu no norte e eu a leste. Regressado mandaram-te para aquela escola única, e infelizmente desfeita e enterrada sem hipótese de ressurreição, dos "navios de madeira com Homens de ferro", os Draga-minas onde navegaste no Ribeira Grande (o navio escola do nosso curso naval) e o São Roque, o navio suporte dos mergulhadores. Quando eu cheguei lá já te não encontrei e perdi-te o rasto. Regressado ao Ultramar, e desta vez à Guiné, tiveste a honra de comandar a LDG, a grande lancha de desembarque. Montante, que tão empolgante, destemido, imprescindível e perigoso empenho teve na guerra de então. Vindo desses 2 cansados e desgastantes anos, ainda sulcaste os mares nas Fragatas operacionais "americanas", embrenhaste-te na luta política do post revolução defendendo as tuas próprias ideias e guardando os valores que consideravas dever guardar, e apareceste de novo nos Fuzileiros. Desturvadas as águas em 1976 partiste calmamente para Macau onde, em 4 anos de canícula
sadia, te conservaste como Comandante dos serviços de marinha e, nas doces tardes de nirvana foste lembrando o teu passado e pensando o teu futuro. Acabado o banho de sol nascente entendeste sair da Armada ou, como frequentemente me disseste depois, não te quiseram lá mais e tiveste assim de enfrentar o desconhecido da vida fora do colete militar, a sociedade civil. Conheceste bem empresas privadas, incluindo terminais portuários e, uns bons anitos depois, resolves, passando por uma formação em Londres, dedicar os teus conhecimentos e a tua argúcia ao seguro marítimo de carga (aliás uma invenção portuguesa), o que te permitiu uma agitada vida de ausências e viagens e algumas preocupações. Reformado da Marinha desde 1991, seguias a tua nova rota, por vezes com mar um pouco agitado e alguma nebulosidade. Por fim chegou a bonança, ou alguma bonança, nomeadamente com a recuperação de parte de bens de tua família numerosa e conhecida na Estremadura lusitana que, ignobilmente, haviam sido arrebatados pelo Estado meio louco de então, e, no repensar da sonolenta esperança do fim da actividade, esperavas que te dessem a promoção devida, aprovada , aliás, pela comissão competente, mas desaprovada por um ignaro ministro. Já no fim, quase, da luta assististe à partida de tua Mulher, companheira desde os velhos tempos de Angola, Mãe de teus Filhos e Avó de teus netos, que tanto acompanhavas. Estivemos juntos, outra vez, nesse momento difícil, e tu, como nos tempos do Colégio, não tiveste vergonha de chorar. Quando te fui ver, Manel, agora e pela última vez, na capela de São Roque, também eu chorei. Um abraço grande e até sempre Manuel Maria de Menezes Pinto Machado 92/1953
Carlos Alberto Restani Graça Alves Moreira (280/1963) Oficial de Marinha Nasceu a 6 de Junho de 1953 - Faleceu a 19 de Fevereiro de 2014
Recebemos na ZacatraZ a notícia do falecimento do nosso Camarada Carlos Alberto Restani Graça Alves Moreira (280/1963). A todos os seus Familiares apresentamos as nossas mais sentidas condolências. Que descanse em paz.
83
84