Formação do Discipulador | com ênfase na Escola Bíblica

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TIAGO CAVALCANTI ALVES Prefácio Joary Jossué Carlesso

com ênfase na Escola Bíblica

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Copyright©2021 por Tiago Cavalcanti Alves

Capa: APS

Todos os direitos reservados por: A. D. Santos Editora Al. Júlia da Costa, 215 80410-070 – Curitiba – Paraná – Brasil +55(41)3207-8585 www.adsantos.com.br editora@adsantos.com.br

Revisora: Eliane Cristina do Rosario Santos de Sousa Imagens: Envato Elements Diagramação: Manoel Menezes Coordenação editorial: Jennyfer Calado Barcelos Impressão e acabamento:  Gráfica Optagraf

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Alves, Tiago Cavalcanti Formação do Discipulador – Com ênfase na Escola Bíblica / Tiago Cavalcanti Alves – Curitiba: A.D. Santos Editora, 2021. 248 p. ISBN – 978.65.8963.611-3 1. Valores, princípios. CDD 200.1 1ª edição: agosto / 2021 Proibida a reprodução total ou parcial por quaisquer meios a não ser em citações breves, com indicação da fonte.

Edição e Distribuição:

www.discipuladoalagoas.com.br


Apresentação

Ldo no crescimento da obra do Senhor. Apresentamos neste ouvamos a Deus por sua vida e pelo interesse demonstra-

livro uma opção de treinamento e formação com o objetivo de capacitar os membros do corpo de Cristo para o trabalho do discipulado. Após a leitura de muitas obras na área de discipulado e aconselhamento bíblico, passamos a entender esta área não só como a forma de consolidação de novos convertidos, mas como o método que Jesus escolheu para a evangelização “indo”, para a consolidação “batizando” e para capacitação para a obra do ministério “ensinando a guardar tudo o que vos tenho ensinado”, conforme referências bíblicas de Mt 28.8-19 e Ef 4.11-12. Dessa forma, Discipulado passa a ser encarado como um gênero, cujas subdivisões abrangem todas as áreas ministeriais da Igreja. Este livro, portanto, pode ser utilizado como uma ferramenta de capacitação de membros para o desempenho da obra do ministério. Apesar da sua ênfase nos professores da E.B., este livro poderá ser utilizado para capacitar os membros da Igreja para o trabalho de evangelização, consolidação do novo convertido, coordenadores de departamentos em geral, regentes de conjuntos, etc. Onde houver posicionamento de liderança, todos são chamados a se comportarem como discipuladores, como um discípulo de Jesus comprometido em ajudar outros a seguirem a Cristo. Com a experiência dos momentos em que ministramos este curso, sugerimos que seja apresentado em 13 encontros de 1 hora 3


e 30 minutos de ministração. O livro foi montado em 13 encontros visando à possibilidade de ser reproduzido como uma sala de formação dentro da estrutura da Escola Bíblica (E.B.) da Igreja. Entendemos a E.B. como um excelente ambiente de formação que muitas Igrejas não têm aproveitado em nome de uma pretensa “praticidade” que tem prendido seus alunos a um currículo rotativo e que não possui uma perspectiva clara de formação e delegação. Caso a Igreja deseje, o curso também poderá ser ministrado de forma mais intensiva, sem prejuízo da carga horária de ministração (19 horas e 30 minutos). É importante observar as tarefas de casa e a necessidade de estudo entre os encontros para definir um programa mais intensivo. Tiago Cavalcanti Alves

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Prefácio

Joary Jossué Carlesso1 “Evangelizar é dar um copo com água, discipular é mostrar a fonte” (Sérgio Melfior)

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onheci o presbítero Tiago Cavalcanti Alves, quando ele esteve conosco em dezembro de 2017 conhecendo o trabalho de Discipulado da IEADJO (Igreja Evangélica Assembleia de Joinville/SC), igreja presidida pelo Pr. Sérgio Melfior. Ele fora enviado pelo presidente da Assembleia de Deus do Estado de Alagoas, Pr. José Orisvaldo Nunes de Lima, para observar na prática o trabalho de discipulado em Joinville e levar para Maceió um modelo que estivesse alinhado com a estrutura da nossa denominação. Dessa visita, surgiram muitos frutos, entre eles a cooperação da IEADJO com a AD Alagoas na confecção da versão alagoana da lição “Conhecendo o Amor de Deus”. Na época, o irmão Tiago nos acompanhou em um evento do Discipulado para o Brasil em Itapema/SC. Após as ministrações noturnas, resolvemos caminhar na orla da Meia Praia, onde ficava o nosso hotel, junto com outros preletores do evento. Depois de horas (e de alguns quilômetros) de caminhada, descobri que tinha 1 Pastor Setorial na IEADJO (Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Joinville/SC) – Setor 08 – Shalom, Coordenador Geral do Departamento de Discipulado da IEADJO e Presidente da Comissão de Planos e Estratégias de Evangelismo e Discipulado da CGADB (Convenção Geral das Assembleias de Deus do Brasil).

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feito um amigo. Nesse passeio pude ouvir o seu coração e soube, desde então, que Deus o usaria para algo grande na área do Discipulado em Alagoas e no Brasil. Descobri, então, seu zelo pela obra de Deus, seu interesse pela salvação de vidas, sua luta pela consolidação dos novos convertidos e a sua visão de que a Escola Bíblica Dominical é um ambiente propício para que a cultura de discipulado seja disseminada em toda a igreja. Trocamos muitas experiências. Foi um encontro divino! Desde então temos caminhado juntos em muitas iniciativas no Reino de Deus e tenho observado sua fidelidade ao Senhor, sua dedicação à obra de Deus e o seu espírito ensinável, características de um verdadeiro discípulo. A obra em apreço vem a calhar no momento em que a Escola Bíblica Dominical está falindo em muitas igrejas em nosso país. Creio que esse fenômeno se deve, em parte, pelo ativismo excessivo, que tem levado muitos líderes evangélicos a sacrificar a profundidade bíblica no altar do pragmatismo religioso. Além disso, muitos professores sem a visão do discipulado têm matado suas classes, porque são meros cumpridores de escalas de aula, pois não entendem o que é ser discípulo e não se veem como discipuladores. A maioria não tem o compromisso de acompanhar o crescimento espiritual de seus alunos. Os discentes são vistos como meros receptáculos de conhecimento teórico, não participativo, sem aplicação prática no dia a dia e nem prestação de contas. Infelizmente a maior parte desses pretensos mestres não compreendeu o mandato educacional da Grande Comissão, pois o Senhor Jesus não nos enviou para ensinar conteúdo bíblico ou doutrina, mas para ensinar os discípulos a obedecer a todas as coisas que ele ordenou (Cf. Mt. 8.20). “A obediência, e não o conhecimento, é essencial para viver como Cristo” (David Kornfield). Somos carentes de modelos de verdadeiros discípulos e discipuladores em nossas igrejas. Quando faltam relacionamentos comprometidos e saudáveis no ambiente da EBD, ela torna-se monótona e desconectada da vida diária. Como seres gregários, temos a necessidade de nos relacionar uns com os outros de forma profunda, em um ambiente 6


de amor, segurança e aceitação. Relacionamentos pessoais e centralidade no ensino da Palavra de Deus são os elementos fundamentais do discipulado de Jesus. Por isso, a Escola Bíblica Dominical tem um grande potencial para ser uma agência discipuladora estratégica em nossas igrejas, pois, conforme pontua o autor, ela já possui uma estrutura organizacional e humana que viabiliza o discipulado em pequenos grupos. O que falta para a EBD é ser relacional, estimular a convivência intencional de discipuladores e discípulos, de forma que o crescimento espiritual seja mensurável e acelerado. Isso é possível com pequenos ajustes, sem comprometer a estrutura existente, mas tornando-a funcional e eficaz para cumprir a missão de fazer discípulos, os quais o autor nos ensina passo a passo. A principal mudança proposta acontece na mentalidade dos professores, que devem abraçar o discipulado como o “cerne da Grande Comissão” e viver um relacionamento discipulador com seus alunos. É disso que se trata a obra “Formação do Discipulador com Ênfase na Escola Bíblica – uma proposta de formação ministerial objetivando a missão de fazer discípulos”: transformar meros professores em verdadeiros pais espirituais, discipuladores. Creio que, se isso se concretizar, veremos um grande avivamento na Escola Bíblica Dominical e, consequentemente, na igreja brasileira. A presente obra é um trabalho sério, oriundo de pesquisas com fidelidade acadêmica em fontes contemporâneas e clássicas do tema Discipulado, embasadas nos princípios bíblicos do discipulado de Jesus e dos apóstolos. Portanto, pode-se extrair do texto muitos princípios bíblicos e práticos que farão a diferença no trabalho da formação de discipuladores. Ademais, o que dá credibilidade ao livro é o fato de que o autor não é um teórico que escreve do alto de uma torre de marfim, desconectado da realidade. Pelo contrário, o irmão Tiago é um discipulador apaixonado que vive de forma intensa seu chamado na consolidação, acompanhamento, cuidado, integração e discipulado, propriamente dito, de novos convertidos. A autoridade 7


destes escritos reside no fato de que ele não é um mero crítico, que vive à margem da igreja, mas alguém que aponta soluções para a problemática do discipulado na Igreja e na Escola Dominical, pois ele vive e aplica a cultura de discipulado, implantando a visão discipuladora na EBD da AD Alagoas (Templo Sede – Farol), com excelentes resultados. Todos esses aspectos o credenciam para este importante tema. Recomendo o livro “Formação do Discipulador com Ênfase na Escola Bíblica – uma proposta de formação ministerial objetivando a missão de fazer discípulos” como uma excelente leitura para todos aqueles que querem imergir na cultura de discipulado. Ele foi projetado para ser utilizado como livro-texto em encontros de formação de discipuladores, num curso de um trimestre, que pode ser facilmente replicado em qualquer classe ou pequeno grupo de discipulado. Ao final de cada capítulo existem questões para reflexão e aprofundamento, que estimulam a vivência dos assuntos abordados e o compartilhamento com companheiros de jornada. Creio que esta obra veio para ser um manual de cabeceira para todos os discipuladores do Brasil e um marco importante para nossa amada Escola Bíblica Dominical.

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Sumário

Apresentação_____________________________________ 3 Prefácio__________________________________________ 5 Sessão 1 A MISSÃO DE FAZER DISCÍPULOS_________________ 15 Encontro 1 Compreendendo a Grande Comissão_______________ 17 Encontro 2 O desafio de ensinar a obedecer___________________29 Encontro 3 A cultura do fazer discípulos_______________________ 41 Sessão 2 O DESAFIO DE SER UM DISCÍPULO________________ 57 Encontro 4 O caminho do discipulado de Jesus_________________59 Encontro 5 O que se espera de um discípulo___________________75 Encontro 6 Os passos de um discípulo________________________ 91 9


Encontro 7 As ferramentas de um discípulo___________________ 103 Sessão 3 CONCEITO E A PRÁTICA DO DISCIPULADO________ 123 Encontro 8 O alvo de influenciar pessoas_____________________ 125 Encontro 9 Comunidades discipuladoras_____________________ 141 Sessão 4 CONVICÇÕES DE UM DISCÍPULO_________________ 171 Encontro 10 Convicção de fé na ressurreição___________________ 173 Encontro 11 A convicção na suficiência das Escrituras___________ 183 Encontro 12 A convicção da soberania de Deus em meio ao sofrimento humano_____________________________ 195 Encontro 13 A convicção do papel da igreja no discipulado de Jesus_______________________________________ 205 Anexo 1 Um professor de E.B. Discipulador_________________ 215 Anexo 2 Perfil do convertido, discípulo, discipulador e líder____233 Bibliografia_____________________________________ 241

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Introdução

UMA QUESTÃO DE COMUNHÃO

Emãos dadas para partilhar os pedidos pessoais e finalizar m uma reunião de oração, um grupo de irmãos estava de

um momento tão prazeroso de comunhão, pois o tempo já havia se esgotado. Porém, um pedido de uma forma especial chamou a atenção de todos. Era um pedido de uma tia pelo seu sobrinho chamado Rafael, um jovem de 15 anos de idade que resolveu não ir mais à Igreja e passou a desacreditar na Bíblia. A tia falou que estava muito preocupada com a situação espiritual dele, afirmando que ele havia sido criado na Igreja desde pequenino, passando por todas as classes da Escola Bíblica (E.B.) e por suas faixas etárias desde o berçário. Esse caso refletia, dentre tantos, mais uma fratura do sistema de ensino da Escola Bíblica das Igrejas brasileiras. Essa Igreja em questão, para muitos, reunia o que podia haver de melhor de infraestrutura e de recursos humanos para o bom desempenho da E.B., quando comparado com a realidade de outras congregações. Entretanto, situações como a do jovem Rafael demonstravam um furo no sistema de ensino. É verdade que muitas pessoas são transformadas e crescem nas salas da E.B.. Entretanto, por outro lado, outras nos surpre11


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endem abandonando a Igreja quando chegam à adolescência, momento em que pensávamos que tudo ia bem devido ao adolescente sempre frequentar as salas por faixa etária da Igreja. Esse problema é muito sério, pois chega a representar um fosso que muitos na faixa etária dos 13 a 16 anos têm caído. Naquela roda de oração, Ricardo, quem coordenava a reunião, afirmou: “Falta-nos um ensino mais relacional, que faça os professores interagirem mais com os seus alunos, com processos que incentivem a mentoria, a correção e a prestação de contas, pois certamente tal situação já teria sido identificada com antecedência suficiente para o tratamento necessário!”. A tia de Rafael afirmou que ele era colega de classe do sobrinho de Ricardo, chamado Péricles. Sem pensar duas vezes, Ricardo afirmou que o convidaria para fazer uma visita a Rafael, com o objetivo de tentar integrá-lo novamente à Igreja, ou de até implantar o curso de discipulado em sua residência. A reunião terminou com um clamor pelas crianças e adolescentes da Igreja, para que eles tivessem experiências reais com o Senhor e que se firmassem no evangelho. Ao chegar à sua residência, Ricardo encontrou seu filho João, de 12 anos, e o seu sobrinho Péricles, de 15 anos, jogando no computador. Pediu um minuto de licença e falou que teve conhecimento de que o amigo do Péricles não estava mais indo à Igreja e perguntou-lhe o que sabia sobre Rafael. Ele disse que não conhecia esse garoto muito bem, não era amigo dele, apesar de ser da mesma sala por muito tempo. Disse que já havia presenciado o menino falar palavrões nos corredores da Igreja e sabia onde ele estudava. Então, Ricardo convidou seu sobrinho para junto com ele fazer uma visita a Rafael e tentar resgatá-lo. Nesse instante, Péricles se sentiu bastante incomodado com a proposta e logo respondeu: “Não, não posso fazer isso! Nem o conheço direito, não saberia o que falar”. Ricardo respondeu: “Péricles, não se preocupe com isso, pois eu irei com você e falarei a palavra do Senhor para ele, você apenas será uma ponte para alcançá-lo!”. 12


In t r od u ção

“Tio Ricardo, definitivamente não tenho interesse em fazer isso!”. Sem acreditar, Ricardo argumentou: “Espere aí, Péricles, o que é isso que você está afirmando? Você não tem interesse em ver o Rafael de volta à Igreja? Você não se importa com o crescimento da Igreja?”. Em resposta: “Não, não me importo! Ele nem meu amigo é, nem conhecia ele direito!”. Neste momento, João entrou na conversa: “Não, pai, isso não se faz não, pai! O Péricles não quer, e nem conhece direito o Rafael!”. Ricardo não acreditou no que estava ouvindo e foi dormir naquele dia muito encabulado com a falta de conscientização dos dois, que também estavam passando pelo mesmo processo de ensino que o Rafael enfrentou. Faltava-lhes uma conscientização mais prática do que significava ser um discípulo de Jesus. No dia seguinte, no início da noite, Ricardo chamou os dois para continuar a conversa: “Olhem, não está certo esta maneira de pensar, precisamos nos importar com os outros, amar o nosso próximo e ir atrás do Rafael! É isso que o Senhor Jesus esperaria de um discípulo!”. Continuou com um sermão com muito amor no coração pelos dois: “Péricles e João, a nossa vida espiritual só ganha sentido quando estamos fazendo a obra do Senhor, quando estamos gerando frutos. É um processo que se retroalimenta: fazemos a obra do Senhor e recebemos graça de Deus para fazermos ainda mais. Lembram-se do que Jesus falou do ramo que dá fruto? Ele poda para que dê mais frutos! Por vocês não terem uma experiência real de trabalhar para o Senhor, não encontram prazer nas orações, disciplina na leitura bíblica e, muitas vezes, falta prazer para ir à Igreja. A vida espiritual precisa de experiências como ajudar o pobre e necessitado, de evangelizarmos pessoas que estão indo para o inferno, de fortalecermos uns aos outros, de amarmos uns aos outros e de servirmos uns aos outros, buscando o crescimento da Igreja e do Reino de Deus. A vida cristã não é só ir à Igreja acompanhando os pais. Vocês precisam ter a experiência de trabalhar para o Senhor e de viverem o amor uns pelos outros. Existem muitas coisas que vocês jovens poderiam estar fazendo na Igreja. Na idade de vocês, eu já dirigia o intervalo bíblico em minha 13


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escola e era um frequentador assíduo do grupo de evangelização no domingo à tarde, em minha Igreja!”. João, outra vez, saiu em defesa do primo: “Pai, seria mais fácil vivermos esse amor uns pelos outros em nossa classe se os nossos professores fizessem programações extraclasses para que nos conhecêssemos melhor e convivêssemos mais uns com os outros. Aí, seria mais fácil visitarmos um amigo que tivesse se esfriando na fé. Mas nós não vivemos isso, pai!”. Mais uma vez, Ricardo ficou incomodado, não por eles, mas pelo atual sistema de ensino que não gerava esse tipo de comunhão, que não introduzia seus alunos a um estilo de vida que procurassem seguir os passos de Jesus. Nossos alunos, de fato, não estão se tornando semelhantes a Cristo – porque se estivessem, estariam crescendo em seu amor uns pelos outros e em resgatar os que estão esfriando em sua fé, e comprometidos em consolar e ajudar os que estão passando por alguma situação difícil em sua vida. Algumas Igrejas estabelecem uma estrutura ou método específico para lidar com isso, de modo que quando alguém esfria em sua fé, ou passa por alguma dificuldade em sua vida2, uma determinada equipe ou grupo de pessoas entra em ação3 para fornecer apoio pessoal e cuidado. Isso ocorre porque nossos pequenos grupos4 não foram programados para viverem a cultura do discipulado de Jesus, na qual seus componentes e a liderança estejam comprometidos com o desafio de amar e de cuidar um do outro. Essa história teve o nome dos seus personagens modificados por uma questão de sigilo. Inclusive, este livro nasceu como fruto deste incômodo, e da visão que passou a ser amadurecida com a leitura de diversos livros na área de discipulado e aconselhamento bíblico que compõe a bibliografia mencionada nesta obra. 2

Dificuldades como um luto, uma enfermidade ou outra dificuldade.

3 Equipes como grupo de evangelização ou visitadoras. Infelizmente, muitos passam despercebidos e não recebem qualquer tipo de cuidado ou apoio, algo muito comum em grandes Igrejas. 4 Chamamos de pequenos grupos todo o ajuntamento de pessoas em nossa Igreja que compartilham de um mesmo fim, como uma sala de E.B., um departamento da Igreja ou um conjunto de louvor.

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Sessão 1

A M IS S Ã O D E FAZ E R D IS CÍPUL OS

“É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei com vocês, até o fim dos tempos.” (Mt 28.18-20)

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Encontro 1

CO M PRE E N D E N DO A G RA N D E CO M I S S ÃO

1. O CERNE DA GRANDE COMISSÃO

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bservando os verbos contidos na Grande Comissão no original grego, percebemos que o “façam discípulos (matheteuõ)”5 é o principal verbo, está no imperativo que representa a ordem a ser obedecida. Os demais verbos encontram-se no gerúndio6: “indo (poreuomai)”, “batizando (baptizõ)” e “ensinando (didaskõ) a obedecer (têreõ)”, no sentido de demonstrar como Seus discípulos deveriam fazer discípulos. As diretrizes dadas por Jesus na Grande Comissão, direcionaram os discípulos à missão de fazer novos discípulos, à medida que fossem evangelizar com a mensagem do arrependimento e da remissão de pecados (Lc 24.47), conforme eles cuidassem dos novos convertidos para consolidar sua fé, preparando-os para o

5 O verbo da língua grega matheteuõ é mais bem traduzido para o português pela expressão verbal façam discípulos, uma vez que este verbo tem sua origem na palavra mathetes que traduzido quer dizer discípulo. 6 O modo verbal no original grego está no particípio que equivale ao gerúndio da língua portuguesa. O gerúndio indica uma ação que ainda está em curso ou que é prolongada no tempo. Transmite, assim, uma noção de duração e continuidade de ação verbal.

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batismo, integrando-os ao corpo de Cristo e enquanto ensinassem a obedecer a tudo o que Ele lhes ordenou. As últimas palavras de Jesus não surpreenderam Seus discípulos. Eles não foram pegos desavisados, sem saber como colocar em prática a missão de ser testemunhas até os confins da terra (At 1.8). O cerne da grande comissão reside no desafio de fazer discípulos. Este foi o método desenvolvido por Jesus com os Seus discípulos até o momento deles serem comissionados para seguirem Seus passos, reproduzindo o processo com outras pessoas, desenvolvendo a obra que Ele executou (Jo 20.21, Mt 28.18-19).

2. MÉTODO ESCOLHIDO POR JESUS

“A maior dedicação de Jesus durante seu breve ministério na Terra foi direcionada para a formação de um núcleo íntimo de seguidores, uma equipe bem treinada de colaboradores.” (CAMPANHÃ, 2001, p. 24)

Se o desejo de Jesus era salvar todos os homens com a mensagem do Reino de Deus, você já parou para refletir por que 18


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Ele ensinava através de parábolas com o objetivo da multidão não compreender os mistérios do Reino de Deus7? Por que Ele, muitas vezes, se desviava da multidão “não querendo que ninguém soubesse o Seu caminho” para ensinar apenas aos Seus discípulos8? Por que Ele se afastou da multidão quando esta estava impressionada com os Seus milagres e disposta a proclamá-lo rei sobre eles9? Ou por que os Evangelhos registram pelo menos seis ocasiões diferentes em que Cristo recomendou que Seus milagres não fossem propagados10? Por que, no início do Seu ministério, Ele escolheu 12 homens dentre Seus discípulos para estarem mais próximos a Ele e para serem os apóstolos11? E ainda, por que destes 12, Ele escolheu apenas 3 para desenvolver uma experiência mais profunda na vida de oração e na experiência de alguns milagres12? Por que pediu também a estes 3 discípulos que não comentassem o evento da transfiguração13?Por que Jesus ordenou para Seus discípulos que a ninguém dissessem que Ele era o Cristo, após a revelação que Pedro fez sobre a identidade de Jesus?14 Grande foi a expectativa de alcançar o mundo com a mensagem do evangelho. Certa vez, Ele apontou para alguns samaritanos e desafiou os discípulos a erguerem os olhos e verem os campos brancos para ceifa (Jo 4.35). Enorme era a compaixão que sentia da multidão, que andava perdida como ovelha que não tinha pastor, tanto que rogou aos discípulos que orassem ao Senhor da colheita para que enviasse trabalhadores para a Sua colheita (Mt 9.36-38). O desejo de Deus sempre foi abrangente a todos os homens: “Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade”, (1 Tm 2.4). Era algo desa7

A passagem correspondente encontra-se em Mc 4.10-12.

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Como pode ser verificado em Mc 9.30-31.

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A passagem correspondente encontra-se em Jo 6.14-15.

10 (1) A cura de um leproso (Mt 8.4; Mc 1.44; Lc 5.14);(2) várias curas entre aqueles que o seguiam (Mt 12.16);(3) a cura de dois cegos (Mt 9.30);(4) a ressurreição da filha de Jairo (Mc 5.43; Lc 8.56); (5) a cura de um surdo e gago (Mc 7.36); e(6) a cura de um cego em Betsaida (Mc 8.26). 11 A passagem correspondente encontra-se Lc 6.12-16. 12 Como podemos verificar nas passagens de Lc 9.28, Mt 26.37 e Mc 5.37. 13 As passagens correspondentes encontram-se em Mt 17.9 e Mc 9.9. 14 Mt 16.20.

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fiador, a colheita era muito grande e poucos eram os trabalhadores. Tendo em vista estes desafios e expectativas, Jesus escolheu 12 homens para investir pesado na vida deles, andando junto com eles durante os três anos do Seu ministério. Esses doze foram consolidados, edificados, treinados e enviados para fazerem novos discípulos. Nesse período, Jesus concentrou a Sua atenção em fazer discípulos para multiplicar-se através da vida deles. O exame detalhado dos evangelhos demonstrará o foco de Jesus na multiplicação dos discípulos. As multidões faziam parte do ministério de Jesus; entretanto, por vezes, Jesus despistava-as para manter-se dedicado aos discípulos. Vejamos alguns comentários acerca do método escolhido por Jesus para a expansão do Seu reino: Jesus atraiu para si doze homens, capacitou-os e desencadeou o movimento do evangelho através deles. Jesus não tinha um plano B. Os discípulos eram o plano. Ele deixou a mensagem nas mãos deles. A maioria das pessoas teria escolhido outro método para garantir que as pessoas ouvissem sobre seu sacrifício. Ele tinha todos os recursos disponíveis. Afinal, era Deus. Ele poderia ter escolhido transmitir sua morte e ressurreição para o mundo inteiro. Poderia ter pregado bem alto lá nos céus. Poderia ter enviado anjos a distribuir folhetos pelo Cosmo. Em vez disso, ele simplesmente se derramou nos seus discípulos. (RAINER e GEIGER, 2012, p.114) “Ele poderia ter feito que a imprensa, o rádio ou até mesmo a televisão fossem inventados antes do nascimento de Cristo. Jesus poderia ter sido um escritor de renome, um mestre de ensino bíblico pelo rádio ou o primeiro evangelista de televisão. As opções de Deus não eram limitadas. No entanto, em vez de adotar qualquer um desses métodos sofisticados, Jesus optou pelo discipulado. Ele treinou pessoalmente um pequeno grupo de homens e equipou-os para que treinassem outros que pudessem ensinar outros. Ele ordenou que fizessem discípulos.” (PHILLIPS, 2008, p. 26,)

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Será que Jesus acertou investindo 3 anos na multiplicação na vida de 12 homens? Um o traiu, outro o negou 3 vezes. No momento de Sua crucificação, apenas um lhe acompanhou e todos os outros se esconderam! Por que Ele não concentrou Seus ensinos na multidão? Por que Jesus fazia questão de dispersar as multidões que andavam como ovelhas que não tem pastor para focar no treinamento desses 12 homens durante o Seu curto período de ministério que foi de 3 anos? A preocupação de Jesus com o sigilo quanto aos milagres ou algumas revelações sobre si mesmo intrigava os Seus familiares: “Disseram-lhe, pois, seus irmãos: Sai daqui, e vai para a Judeia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. Porque não há ninguém que procure ser conhecido que faça coisa alguma em oculto. Se fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo. Porque nem mesmo seus irmãos criam nele.” (Jo 7.3-5). Vejamos outro relevante comentário acerca deste assunto: É de se questionar por que Jesus não queria que as pessoas relatassem que foram curadas, principalmente porque se entende que as pessoas, ao relatarem os milagres, estariam expandindo o evangelho. A divulgação dos milagres não era uma forma de expansão do reino? Alguém pode concluir, com base na passagem do leproso, que o fato daquele homem relatar o milagre atrapalhou os planos de Jesus permanecer naquela cidade devido à multidão que O procurava. Entretanto, este não é o motivo de Jesus ter proibido que o ex-leproso contasse o seu milagre. (CRISPIM, 2015, online)

O objetivo de Jesus era maximizar Sua influência e Seus ensinamentos em um grupo restrito de pessoas para não perder a qualidade nessa transmissão de vida. De forma que, em algumas circunstâncias, Ele se voltava para um grupo ainda mais íntimo de 3 apóstolos, sempre os mesmos: Pedro, Tiago e João, com o objetivo claro de maximizar ainda mais a influência na vida deles. A atenção de Jesus voltada para o discipulado dos doze vem à tona quando Ele rejeita o pedido insistente de um recém-conver21


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tido, liberto de uma legião de demônios nas terras de Gadara, para seguir viagem junto com Jesus15. Alguém pode defender, com razão, que Jesus tinha em vista o testemunho daquele homem para os seus conterrâneos e familiares. Porém, podemos destacar que esse homem também era um recém-convertido e que muito pouco sabia sobre os ensinamentos e a identidade daquele que o libertou das prisões impostas pelos espíritos malignos. O fato é que, após a escolha dos 12 discípulos para serem Seus apóstolos em Lc 6.12-16, Jesus manteve esse grupo restrito a esses homens, e somente eles acompanhavam Jesus em todas as Suas viagens, dividindo as refeições e a estadia por onde passavam16. Jesus se esquivava da multidão porque não estava interessado em apenas adicionar seguidores, mas em multiplicar discípulos. Ele alimentava as multidões com pequenas porções da Sua Palavra e, por misericórdia, atendia às suas necessidades com curas e libertação de demônios, para que elas percebessem que suas vidas poderiam ser transformadas, se elas o seguissem e para facilitar a expansão missionária da Igreja a partir da multiplicação dos Seus discípulos, conforme Mt 28.18-20. O modelo de Jesus também fica claro pela maneira como Ele treinou Seus discípulos. Ele deu instruções claras, conforme Lc 10.1-7, sobre como deveriam focar suas atenções no momento da evangelização. Quando os discípulos chegassem a esses locais, deveriam seguir as instruções de Jesus para permanecerem na casa das pessoas que lhe recebessem e que não deveriam ficar de “casa em casa”. E mais: eles deveriam procurar pessoas que fossem dignas de recebê-los, para permanecerem nessa casa até partir desse povoado (Mt 10.11 e Lc 10.7). Mais importante do que uma evangelização superficial de casa em casa, Jesus parece 15 Jesus tinha atravessado o mar da Galileia para chegar às terras de Gadara. Por ter sido expulso pelos habitantes daquela região, devido ao episódio com os porcos, Jesus entrou no barco com os Seus doze discípulos e voltou para o outro lado do mar da Galileia. A passagem encontra-se em Mc 5.1-20. 16 É certo também que, de alguma forma, em um dado momento, além do grupo dos 12, Jesus exerce influência e treinamentos com um grupo de setenta discípulos, chegando a enviá-los em uma viagem de treinamento missionário, conforme Lc 10.1-24.

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estar preocupado em aprofundar a mensagem do Reino de Deus em uma única casa, nas regiões visitadas pelos discípulos.

3. O PODER DA MULTIPLICAÇÃO Após o discipulado de Jesus na vida dos apóstolos e discípulos, o Livro de Atos registra milhares de novos convertidos passando a ser ensinados nas casas, pelas pessoas que haviam sido desenvolvidas por Jesus. Essa multidão era constituída dos discípulos dos discípulos de Jesus e, após a perseguição, esses novos discípulos foram espalhados pelo mundo realizando a multiplicação do processo de discipulado. Para entendermos a eficácia do modelo de expansão escolhido por Jesus, além do exemplo da Igreja primitiva que será demonstrado nos próximos tópicos, tomemos como ilustração a rica experiência demonstrada por Keith Phillips em seu livro a Formação de um Discípulo17. Pensei que seria feliz se em três anos eu pudesse treinar tão bem uma pessoa que ela pudesse ajudar-me a treinar outros, mas, nesse passo, eu jamais conseguiria deixar alguma marca nos 2 milhões de pessoas do gueto de Los Angeles. No máximo, só poderia esperar fazer 16 discípulos em toda a minha vida. De que adiantaria isso? Meu pecado foi duvidar de Deus, de Sua sabedoria e de Sua soberania. Quando, porém, estudei o que é discipulado, descobri que Deus escolheu um método sólido e eficaz de edificar Seu Reino. Começaria pequeno, como um grão de mostarda, mas cresceria rapidamente, à medida que se propagasse de uma pessoa para outra ao redor do mundo. Sua Igreja seria um movimento 17 O autor registra sua experiência ao se deparar com o método de Cristo e os desafios missionários para alcançar a periferia da cidade de Los Angeles nos EUA. A princípio, o autor relata a experiência do seu envolvimento com a evangelização e a obtenção de conversões sem conseguir gerar discípulos de Jesus. Sem poder acompanhar a nutrição espiritual com estratégias de discipulado do alto número de convertidos, começou a se frustrar com a ausência de transformação de vidas, chegando a quase desistir do trabalho missionário naquele lugar. A redescoberta do discipulado vivido por Cristo com os discípulos e ordenado em Mt 28.18-20, revolucionou o ministério do autor que passa a testificar a sua experiência, resultados e alegria em treinar outros, para que façam o mesmo com outros (2 Tm 2.2).

23


For mação d o D i s ci pu l ad or

dinâmico, em vez de uma estrutura estática. O discipulado é o único meio de produzir tanto a quantidade como a qualidade que Deus deseja dos cristãos. Quando cheguei ao gueto, estava apaixonado pela evangelização. Imagine que no meu primeiro dia eu conduzisse alguém a Cristo. Em seguida, levasse mais um indivíduo a Cristo todos os dias até o restante do ano. No final do ano, eu teria conduzido 365 pessoas ao Senhor. Se eu continuasse a fazer assim pelos próximos 32 anos, teria atingido 11.680 pessoas. Uma grande realização! Por outro lado, suponhamos que eu alcançasse apenas uma pessoa para Cristo naquele primeiro ano. Mas, dessa vez, fizesse um treinamento de discipulado com ela durante um ano para que estivesse plenamente alicerçada na fé cristã e fosse capaz de alcançar e fazer outro discípulo. No ano seguinte, nós dois alcançaríamos mais uma pessoa cada um e as treinaríamos para se juntarem a nós no treinamento de outros. Se continuássemos assim por 32 anos, haveria 4.294.967.296 discípulos — quase a população do mundo todo! Apesar de o discipulado ter um começo lento, no final das contas a multiplicação espiritual atinge muito mais pessoas no mesmo espaço de tempo do que a adição... A Grande Comissão é possível! (PHILLIPS, 2008, p.26-27)

Para demonstrar a eficácia do método de discipulado, o livro a Formação de um Discípulo apresenta a seguinte tabela:

24

ANO

EVANGELISTA

DISCIPULADOR

1

365

2

2

730

4

3

1095

8

4

1460

16

5

1825

32

6

2190

64

7

2555

128


Compr een d en d o a Gr an d e Com issã o

8

2920

256

9

3285

512

10

3650

1.024

11

4015

2.048

12

4380

4.096

13

4745

8.192

14

5110

16.384

15

5475

32.768

16

5840

65.536

17

6205

131.072

18

6570

262.144

19

6935

524.288

20

7300

1.048.576

21

7665

2.097.152

22

8030

4.194.304

23

8395

8.388.608

24

8760

16.777.216

25

9125

33.554.432

26

9490

67.108.864

27

9855

134.217.728

28

10220

268.435.456

29

10585

536.870.912

30

10950

1.073.741.824

31

11315

2.147.483.648

32

11680

4.294.967.296

33

12045

8.589.934.592 Fonte: (PHILLIPS, 2008, p. 28)

Nesta simulação, entendamos o papel do evangelista e do discipulador da seguinte forma:

25


For mação d o D i s ci pu l ad or

EVANGELISTA

DISCIPULADOR

Comprometido com o método de evangelização com cultos ao ar livre e evangelização de rua. Os convertidos são direcionados para os cultos da Igreja, mas não passam por um processo específico de treinamento e desenvolvimento ministerial com a mentoria18 de um discípulo mais maduro. Supondo que nenhum convertido se perca19.

Comprometido com um método de amadurecimento na fé que envolve ensino bíblico, influência, mentoria e treinamento ministerial, para que o discípulo possa multiplicar repetindo o mesmo processo no próximo ano.

Num primeiro momento, o investimento em indivíduos parece ser muito lento. Parece ser mais fácil pensar numa evangelização que objetiva apenas convertidos do que numa evangelização que objetiva gastar tempo com o indivíduo para ensiná-lo a “obedecer a tudo o que lhes tenho ordenado”. O próprio Jesus levou três anos para fazer doze discípulos e um deles foi um fracasso. Keith Phillips define discipulado da seguinte maneira: “O discipulado cristão é um relacionamento de mestre e aluno baseado no modelo de Cristo e seus discípulos, no qual o mestre reproduz tão bem no aluno a plenitude da vida que tem em Cristo, que o aluno é capaz de treinar outros para que ensinem outros”. (PHILLIPS, 2008, p. 20)

18 Prática de ajudar ou de aconselhar uma pessoa menos experiente, durante um período de tempo. Sistema em que alguém mais experiente ou mais velho dá orientação e direcionamentos a alguém mais jovem e inexperiente. Relação estabelecida entre quem aconselha e quem recebe conselhos. Fonte: https://www.dicio.com.br › mentoria, extraído 17/02/2021. 19 Estatísticas das Assembleias de Deus mostram uma perca de 95% dos convertidos em 5 anos. De cada 100 convertidos nas ações de evangelização da Igreja e nos cultos, apenas 5 permanecem após 5 anos. Muito séria esta estatística. Fonte: EMAD – Escola de Missões das Assembleias de Deus.

26


Compr een d en d o a Gr an d e Com issã o

Na análise dessa definição podemos compreender dois desdobramentos fundamentais do discipulado cristão que pretendemos desenvolver no decorrer deste livro. O primeiro deles é a expectativa do relacionamento seguindo o modelo de Cristo e Seus discípulos. O segundo é a expectativa da reprodução, o desafio de não apenas consolidar novos convertidos, mas introduzi-los num processo de crescimento espiritual que os preparem para discipular outros. Ao formar um discípulo, a pessoa se reproduz na vida dele, tornando-o um discipulador. Depois, ambos passam a se reproduzir na vida de outros, e assim, sucessivamente, veremos a reprodução de discípulos e discipuladores como uma cadeia espiritual de multiplicação (2 Tm 2.2). O conceito de multiplicação é demonstrado nas palavras de Jesus em Sua oração sacerdotal: “Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles” (Jo 17.20). É também inerente à Grande Comissão: “Ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei” (Mt 28.20). Onde “tudo que lhes ordenei” certamente inclui o exemplo de Jesus de “fazer discípulos” e Sua ordenança para Seus discípulos seguirem este método (Mt 28.19). Essa compreensão do poder da multiplicação torna-se fundamental para o empenho que se fará necessário para a missão de fazer discípulos. Pois, se o discipulador não tiver a visão da multiplicação, dificilmente pagará o preço de se envolver com outra pessoa numa relação de discipulado. Discípulos de Jesus não podem ser construídos como carros numa linha de montagem, será necessário gastar muitas horas de instrução na palavra de Deus, de convivência intencional e de intercessão. Num tempo em que tudo é instantâneo, precisamos nos disciplinar e investir na qualidade. É um processo demorado. Exige esforço e lágrimas, mas dá muitas alegrias. Significa doar sua própria vida. “Nisto conhecemos o que é o amor: Jesus Cristo deu sua vida por nós, e devemos dar a nossa vida por nossos irmãos” (EIMS, 2022, p.113) 27


For mação d o D i s ci pu l ad or

EXERCÍCIO PARA APROFUNDAMENTO E REFLEXÃO: 1) Explique as diretrizes dadas por Jesus na Grande Comissão estabelecida em Mt 28.18-20 e os itens abaixo: a. Identifique o verbo que representa o desafio principal deste comissionamento. b. Considerando o curto ministério de três anos e meio de Jesus com Seus discípulos, poderíamos supor que o Senhor deu a Grande Comissão (Mt 28.18-20) aos discípulos no último momento, sem aviso prévio e depois voltou aos Céus, sem ter tido a chance de conversar com eles. Como iriam colocar em prática? Jesus demonstrou quais eram os meios para cumpri-la? c. O “fazer discípulos” é uma responsabilidade somente para os apóstolos, pastores e missionários ou é para todos os seguidores de Cristo? d. Partindo do modelo de reprodução do Reino de Deus praticado por Cristo e ordenado aos Seus discípulos na Grande Comissão, pode-se afirmar que este modelo foi seguido pela Igreja primitiva, destacando-se especialmente o ministério de Paulo? (embase com versículos bíblicos) e. Existe diferença entre “ensinar as coisas que Jesus ordenou” e “ensinar a obedecer às coisas que Jesus ordenou”? Explique a diferença entre os dois desafios. Observando que o Desafio da Grande Comissão diz: “ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei”.

28


Encontro 2

O D E S A F IO D E E NS I N AR A O B E D E CER

É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei com vocês, até o fim dos tempos. (Mt 28.18-20)

1. DISCERNINDO O DETALHE

C

onvém destacar, no desafio que a Grande Comissão nos impõe, o fato de sermos comissionados a “ensinar a obedecer” em algumas versões, ou “ensinar a guardar” em outras versões. Observe que Jesus não nos comissionou a apenas ensinarmos todas as coisas que Ele nos ordenou; o desafio apresentado é bem maior do que uma simples transferência de conhecimento. Vejamos a seguinte comparação:

29


For mação d o D i s ci pu l ad or

ENSINANDO TODAS AS COISAS QUE VOS TENHO ORDENADO

ENSINANDO A OBEDECER TODAS AS COISAS QUE VOS TENHO ORDENADO

A diferença encontra-se na intenção relacional em um processo de ensino que envolva a mentoria, prestação de contas, correção, admoestação, incentivo e treinamento. Vejamos o exemplo do personal trainer:

“Ensinando todas as coisas”

“Ensinando a obedecer”: monitorando e corrigindo a prática do exercício

“Ensinando a obedecer”: incentivo, mentoria, testes e desenvolvimento

No treinamento de Jesus com os Seus discípulos havia um relacionamento de mentoria, com instruções personalizadas, com prestação de contas e a correção. Mentorear é servir de mentor a alguém. Trata-se de uma pessoa experimentada e madura, que adota o papel de guardião, conselheiro, amigo e tutor de uma pessoa com menos experiência. Aprendemos com Jesus ao observar como Ele mentoreava os Seus discípulos na prática da oração, no exercício do perdão, na obediência às autoridades e nos valores do Reino de Deus. Jesus não se limitava a ensinar apenas atrás de uma escrivaninha ou de um púlpito. Ele estava 30


O D e s afi o d e E n s i n ar a O bedecer

junto com os Seus discípulos, vida na vida. Jesus encorajava, ensinava e servia de modelo aos discípulos. Nesse sentido, vejamos relevante contribuição do pastor Dantas Júnior20: Fazer discípulos de Jesus não é somente ensinar as coisas que Jesus ordenou, é ensinar a guardar as coisas que Jesus ordenou. Fazer discípulos é mais que transferir conhecimento, informações ou alguma teoria teológica ou filosófica. É mais que ensinar doutrinas ou crenças. Fazer discípulos é ensinar a viver. Livros, apostilas, seminários, congressos e vídeos no Youtube são ferramentas úteis, mas precisamos muito mais do que isso para fazermos discípulos de Cristo. Precisamos de relacionamento. Em um bom sermão aprendemos que devemos perdoar, mas não aprendemos a perdoar. Aprendemos que devemos amar o próximo, mas não é ali que aprendemos a amar. Experiências como perdão, amor e justiça só aprendemos na rede de relações pessoais. Necessariamente é entrar numa dinâmica de relacionamentos onde Jesus está presente como autoridade maior.

2. MODELO REPRODUZIDO PELO APÓSTOLO PAULO O comprometimento com a missão do “fazer discípulos” é visto no ministério de Paulo em seu relacionamento com os seus liderados. Jamais o apóstolo Paulo poderia ter êxito em suas viagens missionárias se não formasse discípulos. O texto de 2Co 2.12-13 demonstra o quanto o apóstolo Paulo estava focado na multiplicação de discípulos, seguindo o exemplo de Jesus: “Ora, quando cheguei a Trôade para pregar o evangelho de Cristo, e abrindo-se-me uma porta no Senhor, não tive descanso no meu espírito, porque não achei ali meu irmão Tito; mas, despedindo-me deles, parti para a Macedônia”. Apesar de entender a necessidade de pregar o evangelho para pessoas não convertidas como uma obrigação, conforme 20 Pastor Dantas Júnior, pastor da Assembleia de Deus em Alagoas, publicou esta frase de sua autoria em seu Instagram após passar pelo Curso de Formação de Discipuladores da respectiva Igreja no ano de 2019.

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For mação d o D i s ci pu l ad or

1 Co 9.16, apesar da passagem registrar que o Senhor tinha aberto uma porta para pregação do evangelho na cidade de Trôade, ele não descansa o coração por não ter encontrado o seu cooperador Tito. Convém destacar relevante comentário de Leroy Eims sobre o exemplo demonstrado por Paulo, na passagem de 2 Co 2.12-13: Paulo sabia que, se algo acontecesse a Tito, seu ministério sofreria sério revés. Para Paulo, o homem era mais importante que as massas, pois a multiplicação de uma pessoa é a chave para se alcançar o povo. Se Tito continuasse a crescer e a trabalhar, a obra de Cristo progrediria muito mais. Quando se estuda a Bíblia, descobre-se que Deus sempre se preocupou com o indivíduo. As multidões estarão sempre no coração de Deus, mas parecem ser o pano de fundo no cenário da eternidade. No centro do palco está o homem, a quem Deus usa para a multiplicação do ministério. Ele sabe que, se puder contar com um Josué, Gideão, Moisés, Davi ou Paulo, as multidões serão alcançadas e instruídas no Evangelho. (EIMS, 2002, p. 120).

Tomemos como exemplo, o treinamento de Timóteo. Muito mais do que uma transferência de habilidades ou de informações, Paulo compreendeu a necessidade de servir de exemplo, através de oportunidades de relacionamento que geram influência sobre seus liderados, como demonstrado no texto a seguir: Tu, porém, tens seguido, de perto, a minha doutrina, modo de viver, intenção, fé, longanimidade, amor, paciência, perseguições e aflições tais quais me aconteceram em Antioquia, em Icônio, e em Listra; quantas perseguições sofri, e o Senhor de todas me livrou (2 Tm 3.10-11) Paulo descreveu Timóteo, várias vezes, com grande ternura, como seu filho amado21. A partir deste relacionamento, Paulo influenciava e treinava pelo exemplo os seus liderados. E Timóteo, por sua vez, deveria ser modelo desta maneira de viver para os outros: “Ninguém despreze a tua mocidade, pelo contrário, 21 1Co 4.17, Fp 2.22, 1 Tm 1.2 e 18, 2 Tm 1.2

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O D e s afi o d e E n s i n ar a O bedecer

torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza” (1 Tm 4.12). Acerca da estratégia seguida pelo apóstolo Paulo, influenciando novos discípulos com o seu exemplo, vale destacar relevante o comentário de Colin Marshall: Paulo exortou um de seus pupilos, Tito, em termos semelhantes: “Torna-te, pessoalmente, padrão de boas obras. No ensino, mostra integridade, reverência, linguagem sadia e irrepreensível, para que o adversário seja envergonhado, não tendo indignidade nenhuma que dizer a nosso respeito” (Tt 2.7-8). Observe que o ensino e o comportamento exemplares de Tito se refletiam também em Paulo (“indignidade nenhuma que dizer a nosso respeito”), porque Tito estava ensinando e se comportando em imitação a Paulo. (MARSHALL e PAYNE, 2015, p. 80 e 81)

O ministério de Paulo em Éfeso foi muito frutífero, o nome do Senhor foi engrandecido nesta cidade e a palavra do Senhor cresceu poderosamente. O livro de Atos registra um grande avivamento com grandes expressões de arrependimento; pessoas confessavam espontaneamente os seus pecados e praticantes de feitiçaria queimavam seus livros na presença de todos. Até mesmo as pessoas que trabalhavam no comércio e na fabricação de artifícios voltados para o culto do templo de Diana, ídolo dos efésios, sofreram pesados prejuízos com o impacto daquele avivamento. O livro de atos registra como tudo começou nos primeiros versículos do capítulo 19. Quando chegou à cidade de Éfeso, Paulo encontrou pessoas já convertidas. Lucas registra que havia 12 discípulos que tinham sido batizados no batismo de João e logo foram consolidados por Paulo. O apóstolo ensinou sobre Jesus, sobre o Espírito Santo e ao impor as mãos sobre eles “veio sobre eles o Espírito Santo, e falavam em línguas e profetizavam”, (At 19.6). A partir daí, estes 12 discípulos passaram a seguir Paulo no seu ministério naquela cidade. Após ter sua mensagem resistida na sinagoga dos judeus, o evangelista Lucas registra que Paulo: “levou consigo os discípu33


For mação d o D i s ci pu l ad or

los e passou a ensinar todos os dias na escola de Tirano”. Este período de ensino durou dois anos. Apesar da Bíblia registrar que pelas mãos de Paulo Deus fez milagres extraordinários naquele lugar e muitos que habitavam na Ásia, tanto judeus como gregos, ouviram a palavra do Senhor Jesus, convido você a voltar sua atenção para a interação de Paulo com esses 12 discípulos. Além de ter levado consigo esses 12 homens, durante os dois anos que ensinou a palavra de Deus na escola de Tirano, Lucas registra, em Atos 19.30, que os discípulos impediram Paulo de se apresentar ao povo no tumulto provocado pelos comerciantes e artífices do templo de Diana, mostrando o envolvimento destes discípulos com a vida de Paulo. E depois, após o término daquele tumulto, At 20.1 registra que “Paulo chamou a si os discípulos e, tendo-os encorajado, despediu-se e partiu para a Macedônia”. O esforço relacional de Paulo no treinamento desses discípulos demonstra o quanto ele estava compromissado com o desafio de fazer discípulos em seu processo de ensino. Em seu retorno a cidade de Éfeso, descrito em At 20.17-38, muito provavelmente, esses mesmos discípulos passam a ser identificados como presbíteros daquela Igreja e são encorajados a seguir o seu empenho e o seu exemplo no ensino da palavra de Deus: “Portanto, vigiai, lembrando-vos de que durante três anos, não cessei, noite e dia, de admoestar com lágrimas a cada um de vós”, (At 20.31)22. Ensinar a obedece refere-se a nossa tarefa de exortar, encorajar e ensinar. Este é o ministério pessoal da palavra de Deus que é divinamente inspirada para repreender, para corrigir e para instruir em justiça (2 Tm 3.16). Ministério pessoal da palavra que objetiva admoestar e ensinar a todo o homem em toda a sabedoria bíblica (Cl 1.28), a fim de que sejamos um instrumento nas mãos do Redentor para cooperar com a formação do caráter de Cristo. Ao tratar sobre o alcance da Grande Comissão, após explicar que ela não pode ser restringida à perspectiva de missões 22 De forma semelhante, Paulo se expressa para a Igreja em Tessalônica: “Assim como bem sabeis de que modo vos exortávamos e consolávamos e testemunhávamos, a cada um de vós, como o pai a seus filhos; Para que vos conduzísseis dignamente para com Deus, que vos chama para o seu reino e glória”, 1 Ts 2.11-12.

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transculturais e ao trabalho de ministros de dedicação integral assalariados pela Igreja, Paul Tripp discorre sobre o desafio de “ensinar a obedecer”: Considere o grande chamado à missão de Cristo a seus discípulos e à igreja, e pergunte-se: “Qual é esse ministério? Que impacto ele tem em nossas conversas diárias? Que exigências ele faz no mundo da fala? (...) Eu creio que a igreja tem se enfraquecido por sua tendência de negligenciar a segunda parte desta comissão. Jesus nos chama não apenas para ir e fazer discípulos, mas também para ensiná-los a viver uma vida de obediência a todos os mandamentos de Cristo. É um chamado para exortar, encorajar e ensinar, de modo que sejamos progressivamente libertados dos antigos padrões de pecado e, em seu lugar, conformados à imagem de Cristo. A grande comissão não é apenas um chamado para trazer pessoas para dentro do reino da luz, mas também um chamado para ensiná-las a viver como filhos da luz, uma vez que elas estão lá. Quando perdemos de vista essa segunda parte da grande comissão (ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei), perdemos de vista sua reivindicação sobre nossa fala diária. (TRIPP, 2019, p. 158 -159)

Com posse do desafio estabelecido por Cristo de “ensinar a obedecer”, concluiremos que fazer discípulos nos exigirá tempo e trabalho. Mas, não podemos perder de vista que os resultados serão permanentes (Jo 15.16) e se multiplicarão de forma exponencial, como pode ser constatado no texto do apóstolo Paulo em total sincronia com a Grande Comissão:

Paulo

Homens fiéis

Homens fiéis

Homens fiéis

Homens fiéis

Timóteo

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For mação d o D i s ci pu l ad or

“E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros.” (2 Tm 2.2) Observando a cadeia de multiplicação do discipulado com resultados exponenciais ordenada por Paulo ao seu cooperador Timóteo no texto acima, destaco relevante contribuição de Colin Marshall: A cadeia de imitação se inicia em nosso Senhor, a quem Paulo copiava, passava por Timóteo (que toma como modelo o próprio Paulo e lembra aos outros os caminhos dele) e chega até aos crentes, que se tornam “imitadores nossos e do Senhor”. Podemos nos esquivar disso com base numa humildade piedosa ou numa avaliação honesta da pobreza de nosso exemplo. Mas Paulo não mostrou nenhum embaraço quanto a si mesmo ou a seus cooperadores. Ele exortou Timóteo e os outros a se unirem a ele em dar o exemplo para os crentes e exortou os crentes a seguirem tal exemplo! Paulo instou suas congregações a se unirem a ele no sofrer pela missão de Cristo, a buscar a salvação de outros por renunciarem seus próprios direitos. A ambição de Paulo por salvar outros deveria, também, ser a ambição deles. (MARSHALL e PAYNE, 2015, p. 82 e 83)

O apóstolo Paulo nunca perdeu de sua perspectiva os contornos da Grande Comissão, até mesmo quando ele instruía seus cooperadores do ministério: Conjuro-te, pois, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino, Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina. (2 Tm 4.1-2) A prática de um discípulo maduro equipar e treinar outros discípulos de Jesus não é tarefa fácil, exige determinação reso36


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luta e compaixão sacrificial. Vejamos relevante comentário do pastor Josué Campanhã a este respeito: A igreja de hoje também tem multidões sedentas para ouvir a respeito dos princípios de vida eterna que Jesus ensinou, mas não basta falar às multidões a respeito desses princípios. Depois que muitas pessoas da multidão decidirem se tornar discípulos de Jesus, é preciso que a igreja tenha homens e mulheres assim como os doze, prontos para discipularem estas pessoas e ajudá-las a amadurecer em sua fé. (CAMPANHÃ, 2011, p. 44)

Não se faz discípulos em atacado, o ensino da palavra de Deus em sala de aula para um grupo de alunos não pode substituir o trabalho relacional de um discipulador. No discipulado acontece uma transfusão de vidas em que o discipulador reproduz no outro sua experiência de vida com Cristo e com as disciplinas espirituais (leitura bíblica, memorização, meditação, jejum, oração, adoração, etc.). Por isso, o discipulador precisa praticar aquilo que irá ensinar e ser exemplo na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza (1 Tm 4.12). O desafio de quem ensina a obedecer está voltado para o crescimento e a maturidade espiritual dos seus alunos, conforme Ef 4.13. Em Seu ministério e na especificação da Grande Comissão, Jesus tinha em mente um interesse relacional de quem ensina para com quem aprende, a fim de servir de exemplo, maximizar a influência e estruturar o aprendizado e o efetivo crescimento no processo de ensino. Este exemplo foi reproduzido por Ele, seguido por Seus discípulos e precisa conduzir um professor de E.B. que deseja cumprir a Grande Comissão de Jesus.

3. UM PROFESSOR QUE ENSINA A OBEDECER Pensando no caso dos pequenos grupos, como uma sala da Escola Bíblica ou um grupo de um departamento, caso o professor ou líder ministerial esteja consciente de que a Grande Comissão é uma ordenança a ser obedecida, o seu ensino e a sua 37


For mação d o D i s ci pu l ad or

postura necessitam estar comprometidos com a transformação dos seus alunos e com o efetivo crescimento espiritual. Para isso, o professor precisa nutrir um interesse relacional para desenvolver discípulos de Jesus, ensinando-os a obedecerem tudo o que Jesus lhes ordenou. Se houver dedicação ao ministério de ensino, como prescrito por Paulo em Rm 12.7, os esforços não devem se concentrar apenas na preparação de uma boa aula a ser transmitida por trás de uma mesa ou um púlpito. Quem assume o compromisso de apenas ensinar a aula da E.B. alegando não dispor de tempo para interagir com seus alunos buscando influenciá-los, não estará preocupado em atender a Grande Comissão de Jesus e seguir o exemplo dos Seus discípulos, ainda que, em suas aulas, esteja transmitindo todas as coisas que Jesus nos ordenou. É preciso mais, é preciso “admoestar, noite e dia, com lágrimas a cada um dos seus alunos”. É preciso desenvolver o compromisso de paternidade espiritual: “exortando, consolando e testemunhando, a cada aluno de sua classe, como um pai a seus filhos”. É necessário o interesse de apascentar, como demonstrado por Jesus na parábola da centésima ovelha que pode ser adaptada no contexto da estrutura de ensino da Escola Bíblica: Então, lhes propôs Jesus esta parábola: Qual dentre vós, é o professor da Escola Bíblica que, possuindo cem alunos e perdendo um deles, não deixa na sala os noventa e nove e vai em busca do que se perdeu, até encontrálo? Achando-o, põe-no sobre os ombros, cheio de júbilo. E, indo para a igreja, reúne a direção da Escola, os demais professores, seus alunos e os alunos das outras classes, dizendo-lhes: alegrai-vos comigo, porque já achei o meu aluno perdido. Digo-vos que, assim, haverá maior júbilo no céu por um aluno que se arrepende do que por noventa e nove alunos que não necessitam de arrependimento. (Lc 15.3-7, texto adaptado) 38


O D e s afi o d e E n s i n ar a O bedecer

Neste ambiente de Escola Bíblica, apresentaremos algumas estratégias e exemplos que auxiliarão de forma prática o professor atuar como um discipulador comprometido com a missão do ensinar a obedecer no Anexo 1 deste livro.

EXERCÍCIO PARA APROFUNDAMENTO E REFLEXÃO: 1) À luz do desafio de ensinar a obedecer, estabelecido na Grande Comissão, como você pode descrever os alvos a serem buscados por quem deseja dedicar-se ao ensino, conforme ordenança de Rm 12.7? 2) Ler o Anexo 1 – “Um professor de E.B. Discipulador” e realizar o exercício de reflexão e aprofundamento no final deste anexo. Nesse anexo, será apresentado instruções para aumentar a mentoria do professor com o aluno através dos procedimentos de entrevista na matrícula e no final do trimestre da E.B.

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Leia também Discipulado Estratégico Implantação e Fortalecimento do Discipulado Quemuel Lima

Discipulado é compartilhar vida. Cada um de nós é chamado a levar o novo convertido a crescer na graça e no conhecimento da Palavra de Deus e este conteúdo muito auxiliará nessa tão importante e relevante missão. Em um estilo prático e muito assertivo e ao escrever, conseguindo com facilidade, criatividade e muita propriedade passar o que lhe vem no coração e na mente. Ele pontua com clareza, transformando seu texto em um verdadeiro manual, o que facilita a compreensão e a aplicabilidade.

Emaús, o Discipulado que Faz Arder o Coração Quemuel Lima

Os 11 aspectos de como Jesus discipulou os dois discípulos que, entristecidos, estavam a caminho da cidade de Emaús. Em menos de uma tarde Jesus fez com que houvesse grande transformação naquelas vidas. Aprenda com Jesus o verdadeiro discipulado!

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