Escola de Danรงa de Sรฃo Paulo 80 anos
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Escola de Dança de São Paulo 80 anos REALIZAÇÃO
Fundação Theatro Municipal de São Paulo ORGANIZAÇÃO
Ruby Vásquez Núñez TEXTOS
Ana Francisca Ponzio
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Sumário
Afetos em movimento 14 Hugo Possolo
Chassé 16 Maria Emília Nascimento Santos
Para as crianças de ontem, hoje e amanhã 17 Ruby Vásquez Núñez
Um primeiro passo para o resgate da memória 19 Ana Francisca Ponzio
Linha do tempo 20 Os primeiros 40 anos 23 “ Faça! ” 45 Diferentes recomeços e movimentos de modernização a partir de 1980 65
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Ensaio de Gal Oppido 91 Década de 1990 Nos Baixos do Viaduto 113 Praça das Artes 153 Espetáculos Década de 2010 181 Memória gráfica 201 Programas Década de 1960 202 Documentos Décadas de 1950 e 1960 214 Programas Década de 2010 226
A Escola na pandemia 241 Raízes 243 Cristiana de Souza
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Afetos em movimento A dança na vida de crianças e jovens se tece de dedicação, esforço físico e mental, mas principalmente pela busca constante de um sonho. Tudo contagia quem está em volta, família, amigos e aqueles que entregam suas vidas para ensinar esse ofício — professores, artistas, diretores, que orientam esses corpos no caminho de sua expressão genuína. Ensinar é uma forma de afeto. Expressar-se artisticamente também — afeto em cena entregue ao público. Quem circula pela Praça das Artes, sede da Escola de Dança de São Paulo, respira esse ambiente de sonho. Um sentido de cidadania e pertencimento emana de cada uma das experiências vividas dentro da escola, nas salas de aulas, nos corredores, elevadores e escadas, nos lugares de estudo e convivência, inclusive com outras artes. Ali se faz o sentido do encontro, com tudo que esse complexo do Theatro Municipal abriga — Escola de Música, a Sala do Conservatório, as sedes do Quarteto de Cordas e do Balé da Cidade de São Paulo, e o próprio Theatro Municipal e seus corpos artísticos, a Orquestra Sinfônica Municipal, os Coros Lírico e Paulistano e mais uma infinidade de artistas de outras linguagens que ali se apresentam, enfim, o ponto de convergência de arte e cultura na cidade. A ligação, desde a origem, com o Theatro Municipal, tem inegável papel no desenho dos sonhos, criando no imaginário o objetivo de cada um que, ao longo do tempo, quer florescer sua arte. Hoje, cada vez mais integrados, a Escola e o Theatro estabelecem um conjunto de espaços e ações que alimentam o desejo de cada um em ocupar o palco de suas expressões, no tempo presente, de dialogar diretamente com suas referências, sem se prender ao passado, de colocar em efervescência as mais diferentes cores da dança, para escrever o futuro. A história da Escola de Dança contada nesta edição nos revela que por trás da transmissão de conhecimento de uma manifestação estética, cujo principal instrumento é o corpo, está a construção de modelos e referências liga-
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das diretamente a seu tempo, gerando constantes transformações que, aliás, podem ser sintetizadas nas mudanças de nome da escola ao longo de sua existência. Compreendendo a história podemos também imaginar seu futuro em novas perspectivas, que já apontam para as várias vertentes de expressão da dança, da diversidade que representa nossa cidade, de possibilidades pedagógicas inovadoras e transformadoras, que se estabelecem pelo diálogo permanente de todos os envolvidos em sua vida diária. Podemos apontar para adiante, a partir de um aprofundado projeto pedagógico para estabelecer um novo modelo de gestão da Escola de Dança, para que ela seja cada vez melhor. Neste livro, as imagens são um aspecto importante, que perpassa o significado de registro histórico, para atingir nossa percepção das tantas emoções vividas. Em um segundo do olhar fotografado, em um braço que se projeta à outra dimensão, em jovens artistas reunidos no palco, fora de cena na intimidade de um camarim, em cada detalhe está uma vibração que faz a existência especial. Os movimentos pulsam em afetos, dizem mais e mais sobre a Escola de Dança e, para além de uma visão institucional, nos dão sentido para continuarmos sempre na busca do sonho coletivo. Hugo Possolo Secretário Municipal de Cultura de São Paulo
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Chassé Apresentar a trajetória de 80 anos da Escola de Dança de São Paulo — EDASP, em um livro inaugural como este, significa resgatar sua memória institucional e apontar futuros possíveis para esse importante espaço de formação, que abrigou diversos artistas e mestres da dança na cidade de São Paulo. A Escola, fundada em 1940, foi concebida como escola experimental de dança clássica para suprir o corpo de baile que acompanhava as óperas no Theatro Municipal de São Paulo, mas também dialogou com as transformações da área de dança na cidade, vivenciando importantes matrizes artístico-pedagógicas desta arte. De mestres como Vaslav Veltchek e Maria Olenewa e suas rigorosas técnicas e métodos clássicos, passando pelas inovações de Klauss Vianna e Esmeralda Penha Gazal, a Escola teve que aprender, em 2020, a ser virtual e, portanto, dominar a relação entre corpo, mente, novas tecnologias e distanciamento do palco. Este livro, de maneira vibrante, comemora esse longo percurso, mas sobretudo registra uma linha do tempo para a Escola a partir do relato de diversas personalidades que por aqui passaram e fizeram história — as quais, somadas a um conjunto de fotografias gentilmente cedidas por diversos atores da dança, possibilitará a estudantes, pesquisadores e gestores compreender os eventos e mudanças que marcaram esta Escola. De sua leitura certamente restará comprovado que a trajetória de 80 anos da Escola de Dança de São Paulo ainda embala os sonhos de tantos jovens que têm na dança a sua pulsão de vida — e agora o mundo virtual — como palco, como instante do movimento em criação. Por fim, agradecemos a todos que contribuíram com seu tempo, seus acervos e suas memórias, para a construção deste apaixonante e envolvente chassé.
Maria Emília Nascimento Santos Diretora Geral da Fundação Theatro Municipal de São Paulo
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Para as crianças de ontem, hoje e amanhã Desde que decidimos produzir este livro, os espetáculos de Pina Bausch despertaram na minha memória, sobretudo, e não por acaso, o emblemático “Para crianças de ontem, hoje e amanhã”, criado após o 11 de setembro. Segundo a declaração de Pina, a coreografia “tem a ver com todas as tragédias, em como vivemos num tempo dolorido, de desamparo.” Impossível não fazer a relação com este ano tão estranho, sofrido, e de profundo desamparo. Neste contexto, produzir o livro dos 80 Anos da EDASP foi um grande desafio. Tudo indicava que seria improvável realizá-lo: a pandemia, o curtíssimo prazo de produção e a falta do acervo histórico da escola de dança. Mas a memória, ainda que esparsa, é implacável. Encontramos fotos e lembranças, buscamos depoimentos e o livro nasceu para registrar e celebrar os 80 anos de dedicação de professores, alunos e diretores que fizeram e fazem desta escola de dança uma das mais importantes do País. Esta obra é dedicada às crianças de ontem, hoje e amanhã, para os profissionais que persistem no ensino e na prática da dança, apesar de todas as dificuldades, para os que promovem a dança e acreditam que, sem ela, estaremos perdidos, como disse Pina Bausch.
Ruby Vásquez Núñez Diretora Artística da Fundação Theatro Municipal de São Paulo
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Um primeiro passo para o resgate da memória Da cúpula do Theatro Municipal, onde tudo começou, à sede na Praça das Artes, a antiga Escola Experimental de Dança Clássica, hoje Escola de Dança de São Paulo, erigiu uma história feita de paixões humanas e artísticas, que reflete o percurso da dança em São Paulo e toda sua saga de resistência, conquistas, descontinuidades, avanços, recuos e recomeços. Seus 80 anos, em 2020, coincidem com um fato mundial inédito e absolutamente desafiador: a pandemia do novo coronavírus. Neste contexto, o primeiro livro sobre a Escola surge como um signo de reconhecimento e perspectiva. Em meio às limitações que a pandemia impôs à vida de todos, havia o desafio de construir a história de uma instituição de oito décadas em tempo recorde — apenas três meses — com uma memória dispersa, poucos registros e sem um acervo documental. Essencialmente, construí este livro a partir de memórias pessoais, colhidas junto a alguns dos principais artífices desta Escola. A reconstituição desses 80 anos, embasada em histórias individuais e coletivas, possibilita olhar para o passado, o presente e o futuro, com aberturas para cultivar e expandir compreensões sobre a trajetória e o significado da EDASP. Realizar este livro é uma conquista e, espero, uma colaboração à construção e preservação da memória da primeira escola pública de dança de São Paulo.
Ana Francisca Ponzio Jornalista cultural, crítica e curadora na área de dança
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Linha do tempo
1980
1970
1960
1976 Passa a chamar-se Escola Municipal de Bailado
1950
1940
1940 Criação pela Prefeitura da Escola Experimental de Dança Clássica. Em 1943, ela instala-se nos baixos do Viaduto do Chá
Direção da Edasp
1940 1943 Vaslav Veltchek
1943 1947 Maria Olenewa
1947 1954 Marília Franco
1955 1980 Marília Franco
1954 1955 Maria Meló
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1980 Ady Addor
1982 1987 Gil Saboya
1981 1982 Klauss Vianna
1993 2010 Esmeralda Gazal
2020
2013 Mudança da sede para a Praça das Artes
2010
2000
1990
2011 Criação da Fundação Theatro Municipal de São Paulo. A escola passa a chamar-se Escola de Dança de São Paulo
2011 2017 Susana Yamauchi
2020 Cristiana de Souza
1987 1988 Mariana Natal 1988 1989 Clarice Pinto 1989 1992 Acácio Ribeiro Vallim Júnior
2017 2019 Priscila Yokoi
2019 Luiz Fernando Bongiovanni
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Esquina da Rua Líbero Badaró, com o Viaduto do Chá. Ao fundo, o Theatro Municipal e a Praça Ramos de Azevedo (1946). 22
Os primeiros 40 anos
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Parque do Anhangabaú e região circunvizinha; em primeiro plano, Praça Ramos de Azevedo e Viaduto do Chá (em construção); em seguida, Edifício Alexandre Mackenzie (mais conhecido como Edifício da Light) e Edifício João Brícola (mais conhecido como Edifício do Mappin); entre eles, o início da rua Xavier de Toledo; ao fundo, à esquerda, o início da avenida 9 de Julho e os viadutos Major Quedinho e Martinho Prado. Circa 1938.
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Em 1940, os ecos da Segunda Guerra Mundial, iniciada um ano antes, soavam distantes na capital paulista, que se expandia como centro urbano e econômico. No coração da cidade, o Theatro Municipal representava, há quase três décadas, a catedral das artes, cuja programação já refletia a vocação cosmopolita do município. Lendas do canto lírico, da dança e da música já eram presenças comuns no principal palco paulistano. Isadora Duncan em 1916, Vaslav Nijinsky e Anna Pavlova em 1918, além de Thamara Karsavina em 1919, dão uma ideia da dimensão dos espetáculos de dança exibidos pelo Theatro Municipal a partir de sua fundação. A ópera, contudo, reinava desde os primórdios, quando o barítono italiano Titta Ruffo protagonizou Hamlet com sua companhia de 170 artistas, entre cantores, bailarinos e músicos, em 12 de setembro de 1911, data da inauguração do teatro. Aos momentos gloriosos somaram-se muitas atrações, como a aguardada estreia de Enrico Caruso, considerado o maior tenor de todos os tempos, em 1917.
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A agitada produção de óperas do Theatro Municipal trouxe, com o tempo, a demanda por um corpo de baile formado por bailarinos brasileiros — que serviria, inclusive, para diminuir custos com elencos importados. Na época, o ensino do balé concentrava-se em pouquíssimas academias particulares, que atendiam a classe social mais abastada, interessada principalmente na graciosidade e boa postura que tais aulas podiam proporcionar a estudantes quase somente do sexo feminino. O fato de simbolizar a cultura clássica europeia, principalmente da França e Itália, também concedia prestígio ao balé, como atributo de formação conservadora. A escola particular mais conhecida no início da década de 1940 era a de Chinita Ullmann (1904-1977) e Kitty Bodenheim (1912-2003). Gaúcha de Porto Alegre, Chinita havia estudado na Europa com a alemã Mary Wigman (1886-1973), precursora da dança expressionista. Foi na escola de Wigman que Chinita conheceu Kitty (nascida em Colônia, Alemanha). Em 1932, as duas mudaram-se para São Paulo e dois anos depois abriram uma escola diferenciada na região de Higienópolis, primeiro na rua Maranhão, depois na Avenida Angélica, onde também ensinavam balé clássico, mais procurado pela clientela tradicional. Quando o prefeito Prestes Maia inaugurou a Escola Experimental de Dança Clássica, em 2 de maio de 1940, a proposta era proporcionar um corpo de baile amador às produções de ópera, nacionais e internacionais, do Theatro Municipal. Com isso, a ópera Aída, de Giuseppe Verdi, ganhou participação da Escola, um mês depois de sua fundação.
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A primeira instituição pública de ensino da dança de São Paulo começou a funcionar na cúpula do teatro, situada no topo do edifício, acima da sala de espetáculos. Na época, os elevadores atuais ainda não existiam e o acesso era feito por uma longa e estreita escadaria. “Já chegávamos aquecidas”, lembra Aracy Evans sobre a escalada diária até a sala de aula. Aracy tinha oito anos de idade quando ingressou na escola, participando da aula inaugural, exatamente no dia de sua fundação. “No primeiro ano, quase mil alunos já frequentavam a escola”, conta a ex-bailarina, que depois também se destacou como professora de balé clássico, formando gerações de bailarinos brasileiros. No mesmo ano de fundação da Escola Experimental de Dança Clássica foi formado o Corpo de Baile do Theatro Municipal de São Paulo. A capital paulista era o município mais populoso do Brasil. Tinha 1.326.261 habitantes, segundo o censo de 1940. Era uma cidade recortada por trilhos. Dezenas de linhas de bonde circulavam pela rua Coronel Xavier de Toledo, que levava ao Theatro Municipal. A “terra da garoa”, com sua chuva miúda e corriqueira, que resfriava temperaturas e inspirava poetas, tinha na região central o seu principal ponto de confluência. Era o lugar do footing, para ver e ser visto, onde tomava-se chá em salões com orquestras. Para mulheres e homens, a regra era andar bem vestidos e a entrada no Theatro Municipal exigia a formalidade dos vestidos refinados e do terno e gravata. Passada a era de ouro do café, os imigrantes enriquecidos estimulavam a economia paulistana. Para artistas europeus que queriam escapar das adversidades da guerra, São Paulo oferecia palco, plateia e mercado de trabalho receptivos.
Programa da apresentação de Isadora Duncan no Theatro Municipal em 1916: “Chopin – Danças Clássicas, por Madame Isadora Duncan, com o concurso do notável pianista Monsieur Maurice Dumesnil”.
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Vista do Anhangabaú mostrando os baixos do Viaduto do Chá junto à Praça Ramos de Azevedo, local que abrigou a Escola Municipal de Bailado até 2013. Circa 1943.
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Vaslav Veltchek (1897-1968) Da tradição europeia veio o primeiro mestre Uma certa mística já cercava Vaslav Veltchek, quando ele chegou ao Brasil, em 1939. Vaslav Veltchek (1942).
Nascido em Praga, capital da então Tchecoslováquia, ele iniciou seus estudos de dança na Ópera de Praga, em cujo corpo de baile ingressou como bailarino aos 13 anos de idade. Teve sólida formação clássica, mas também bebeu na fonte do modernismo, quando estudou com Mary Wigman (1886-1972), precursora da dança expressionista. Veltchek chegou a lutar na Primeira Guerra Mundial, que lhe roubou quatro anos da vida artística. Ao retornar do front tornou-se primeiro bailarino no Teatro Nacional de Liubliana, na antiga Yugoslávia. Foi neste período, de 1918 a 1924, que começou a coreografar. Em 1925 apresentou-se no Olimpya de Paris e passou a morar na capital francesa. Durante oito anos trabalhou no Théâtre du Châtelet, onde apresentou várias coreografias. Também foi maître de ballet do Théâtre National de l’Opéra Comique. Um fato curioso de sua carreira foi ter dançado, em 1929, com Antonia Mercé, a célebre “La Argentina”, que encantou Kazuo Ohno, o mestre do butô, quando ele a viu pela primeira vez, no mesmo ano, no Teatro Imperial de Tóquio.
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Em 1931, Veltchek trabalhou como orientador de coreografia da comédia musical Le Million, do cineasta René Clair. Na Exposição Universal de 1937, apresentou duas coreografias com o Ballet de Paris, cujo elenco incluía o bailarino russo George Skibine, na época com 16 anos. Recém-chegado ao Brasil, Veltchek participou, como bailarino solista e coreógrafo, da primeira temporada oficial do Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, sob direção de Maria Olenewa. Logo em seguida, foi chamado para dirigir — e inaugurar — a Escola Experimental de Dança Clássica, em São Paulo. Em dois anos, ele estava casado com sua aluna prodígio, a paulista Marília Franco.
Vaslav Veltchek em estúdio na Avenida Ipiranga. Norma Mazzella (à direita). Circa 1957.
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Na memória de seus alunos, Veltchek ficou como um excelente professor, rigoroso e muito exigente, com fama de bravo quando os alunos erravam os movimentos. Suas aulas de técnica clássica tinham influência de Nicolai Legat (1869-1937), bailarino, mestre de balé e coreógrafo russo, com quem Veltchek teve aulas em Paris. Personalidade histórica da dança, Legat sucedeu Marius Petipa (1818-1910) na companhia de balé do Teatro Mariinsky de São Petersburgo e ao longo de sua brilhante carreira deu aulas para sumidades como Agrippina Vaganova (18791951), Tamara Karsavina (1885-1978), Vaslav Nijinsky (1889-1950), Margot Fonteyn (1919-1991), entre vários outros. Pessoalmente, Veltchek era reservado. Alto, ligeiramente calvo, falava pouco e dava aula de terno e gravata. Aracy Evans, que começou a estudar com Veltchek ainda criança, lembra que ele se expressava em francês, não apenas para se referir aos passos de balé — e ela não entendia nada, assim como as demais alunas. Por sorte, o maestro Ítalo Izzo (1911-1973), que acompanhava as aulas ao piano, traduzia em voz baixa os passos que Veltchek demonstrava com as mãos e não com os pés, como é habitual. “O maestro me dizia, ‘vire para a direita’, ‘dê um passo para trás’, eu fazia o que ele me falava e todo mundo me seguia porque eu era a primeira da fila”, diz Aracy. E foi graças a Veltchek que Aracy pisou pela primeira vez no palco do Theatro Municipal de São Paulo, como integrante do elenco infantojuvenil da ópera Aída, de Verdi, cuja coreografia ele assinou. “Foi um excelente professor”, lembra Iracity Cardoso, que teve aulas com Veltchek na década de 1950, quando ele, já desligado da direção, visitava a Escola como professor convidado. Formada na Escola, Iracity trilhou carreira de sucesso, dentro e fora do Brasil.
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Na Europa, ela dirigiu o Ballet du Grand Théâtre de Genève, na Suíça, e o Ballet Gulbenkian, de Portugal. Participou da fundação da São Paulo Companhia de Dança, onde foi uma das diretoras, e em 2003 assumiu a direção artística do Balé da Cidade de São Paulo, até 2008. Gil Saboya, outro nome importante da dança de São Paulo, afirma que Veltchek era um dos melhores professores de sua época. “Sempre adorei as aulas dele”, diz Gil, que vinculou sua trajetória à Escola a partir de 1951, quando lá ingressou como bailarino do corpo de baile, tornando-se depois coreógrafo, professor e, na década de 1980, diretor da já denominada Escola Municipal de Bailado. Como professor e coreógrafo, Veltchek era visto como um perfeccionista. Seu repertório de coreografias incluiu músicas de compositores brasileiros, como Heitor Villa-Lobos, Francisco Mignone, Alberto Nepomuceno e Camargo Guarnieri. Na direção da Escola Experimental de Dança Clássica, ele ficou apenas três anos. Entre 1944 e 1950, formou e dirigiu um grupo particular, o Conjunto Coreográfico Brasileiro. Foi diretor e coreógrafo do Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde realizou um expressivo trabalho. Marcia Haydée, que depois ganhou fama mundial como bailarina, foi aluna de Veltchek e dele ganhou coreografias feitas especialmente para ela. De 1953 a 1954, ele trabalhou no Uruguai, no Ballet Nacional Sodré, de Montevidéu. Em 1959, dirigiu o Ballet Nacional da Venezuela, em Caracas. A guerra na Europa contribuiu para a permanência de Veltchek no Brasil, onde viveu a maior parte do tempo desde sua chegada. Acabou apaixonando-se pelo País, naturalizou-se brasileiro e morreu no Rio de Janeiro, em 2 de janeiro de 1968.
Maria Olenewa (1896-1965) e Maria Meló (1911-1993) Ensinamentos das escolas russa e italiana O ano de 1943 foi marcado por mudanças na Escola Experimental de Dança Clássica. Vaslav Veltchek desligou-se da direção e mudou-se para o Rio de Janeiro junto com Marília Franco, que já era primeira bailarina do Corpo de Baile do Theatro Municipal de São Paulo. O casal havia sido contratado pelo Theatro Municipal do Rio. No caminho inverso, Maria Olenewa, a mestra russa que tinha sido exonerada do Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, mudou-se para São Paulo e acabou assumindo o lugar de Veltchek na direção da Escola Experimental de Dança Clássica. A escolha da nova diretora teve influência direta de dona Maria de Lourdes, ex-atriz e esposa do prefeito Prestes Maia, que admirava Olenewa. Com o crescente número de alunos, o prefeito Prestes Maia decidiu, também naquele ano, instalar a Escola nos baixos do Viaduto do Chá.
Maria Olenewa posando para o fotógrafo Mandel. Início do século 20.
O primeiro viaduto da cidade, destinado a interligar a rua Direita e a rua do Chá, atual Barão de Itapetininga, foi inaugurado em 1892. Projetado pelo arquiteto francês Jules Martin (1832-1906), era feito em estrutura metálica, sobre a qual se assentava um assoalho de madeira, com iluminação de lâmpadas a gás. Porém, à medida que os bondes passaram a circular cada vez mais intensamente pela charmosa passarela, o viaduto começou a trepidar, causando insegurança.
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Acabou demolido para dar lugar a um novo, em estilo art déco, com o dobro de tamanho e estrutura em concreto armado, que começou a funcionar em 1938 e permanece até hoje. O projeto foi assinado pelo arquiteto carioca Elisário Bahiana (1891-1980). A gestão do então prefeito Prestes Maia já antevia uma modernidade movida por automóveis e, ao planejar a inauguração do novo viaduto, levou em conta a instalação da Escola sob o elevado, onde está situada a Galeria Formosa. Foi assim que, em 1943, a Escola Experimental de Dança Clássica ganhou novo endereço. Com espaço amplo e adequado para as aulas de balé, passou a funcionar no ventre do Viaduto do Chá, com entrada voltada para a Praça Ramos de Azevedo. Grandes portas de jacarandá abriam-se para o interior da Escola, onde um extenso saguão com piso de mármore conduzia para as demais dependências.
Instalações da Escola nos baixos do Viaduto do Chá (1972).
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Maria Olenewa, quando chegou à Escola, trazia um sólido e reconhecido conhecimento de dança clássica. Nascida em Moscou na época czarista, já estudava balé quando foi morar em Paris com seus pais, para fugir da Revolução Russa. Na capital francesa, foi descoberta por Anna Pavlova (1881-1931), a icônica bailarina cuja interpretação de A Morte do Cisne, com seus braços ondulantes como asas, fixou-se no imaginário de gerações de artistas e espectadores. Olenewa tornou-se primeira bailarina da companhia de Pavlova, que viajava muito — o que contribuiu para a popularização do balé pelo mundo. Mas foi com um grupo de estrelas russas liderado por Leonide Massine (que acabara de se desligar dos Ballets Russes de Diaghilev, onde foi coreógrafo e intérprete dos papéis de Nijinsky), que Olenewa desembarcou no Rio de Janeiro pela primeira vez, em 1921. Entre idas e vindas à América do Sul, ela dirigiu a Escola de Dança do Teatro Colón de Buenos Aires e, a partir de 1927, associou
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Acima, Maria Olenewa (início do século 20) Na página ao lado, Anna Pavlova (à esquerda) e Maria Olenewa (à direita) em Nova York, durante turnê pelas Américas (1920).
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definitivamente seu nome ao balé no Brasil ao idealizar e concretizar a fundação da primeira escola de dança brasileira, vinculada ao Theatro Municipal do Rio — hoje Escola Estadual de Dança Maria Olenewa. Em São Paulo, quando assumiu a direção da Escola Experimental de Dança Clássica, Olenewa já era cidadã brasileira, oficializada em 1935. Durante sua gestão de pouco mais de quatro anos na escola paulistana, algumas alunas já se destacavam como bailarinas, entre elas Lia Marques, Aracy Evans, Edith Pudelko, Nice Leite. Embora em menor número, alguns rapazes também já chamavam atenção, como Johnny Franklyn e Michel Barbano. Em 1948, já desligada da Escola Experimental de Dança, Maria Olenewa abriu sua própria academia em São Paulo, em uma sala da mansão Trocadero (situada na esquina da Praça Ramos de Azevedo com a rua Conselheiro Crispiniano), mudando-se em seguida para a rua Rego Freitas, perto do Largo do Arouche. Filhas das famílias da alta sociedade paulistana compunham a maior parte de suas alunas e a escola de Olenewa se tornou uma das principais academias particulares da cidade, junto das escolas de Chinita Ullmann e Kitty Bodenheim e de Halina Biernacka (aberta em 1946). A partir de 1947, Marília Franco reinaria na Escola Experimental de Dança Clássica. Foi em 8 de julho daquele ano que o Decreto-Lei nº 430 oficializou a criação da escola. Este decreto também reorganizou a estrutura administrativa da Prefeitura. A Secretaria de Cultura e Higiene, que agregava as artes e a fiscalização dos centros abastecedores alimentícios da capital, inclusive os de carnes e pescados, foi desmembrada. Surgiram então a Secretaria de Educação e Cultura, à qual foi vinculada a escola de dança, e a Secretaria de Higiene, que ficou voltada para seus verdadeiros fins higiênicos.
A direção de Marília Franco na Escola Experimental de Dança Clássica estendeu-se por mais de três décadas, até 1980, quando ela se aposentou. Nesse período, Marília afastou-se do cargo por pouco tempo, em 1954, quando se desentendeu com o então prefeito Jânio Quadros. Por um ano, de 1954 a 1955, a escola foi dirigida pela italiana Maria Meló. Meló foi aluna e professora da escola de balé do Teatro Alla Scala de Milão, cidade onde nasceu. Em 1952 ela mudou-se para o Brasil e depois de uma breve passagem pelo Rio de Janeiro, em 1953 ela já estava em São Paulo, onde preparou duas alunas da Escola Experimental de Dança Clássica — Lia Marques e Aracy Evans — para a audição que selecionaria o elenco do Ballet do IV Centenário, a efêmera e portentosa companhia de dança fundada para comemorar os 400 anos de São Paulo.
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Maria Meló levou para a Escola Experimental de Dança Clássica os ensinamentos de Enrico Cecchetti (1850-1928), com quem ela estudou em Milão. Autor de um método de ensino que se tornou referência mundial, com proposta de revelar a ciência por trás da arte do balé clássico, Checchetti estruturou aulas que levam em conta as características individuais do bailarino, permitindo-lhe desenvolver movimentos com maior naturalidade. A passagem de Maria Meló pela Escola Experimental de Dança Clássica foi rápida, mas ela era uma professora influente e muito respeitada e formou inúmeros profissionais da dança em suas escolas particulares de São Paulo, a última delas localizada na rua Augusta. À Escola Experimental de Dança Clássica, Maria Meló retornou para dar aulas em 1967, também por um breve período.
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Maria Meló ministrando aula em escola na Bahia (início da década de 1960).
Marília Franco (1923-2006) Sob o domínio da grande dama No palco ela crescia, dominava o espaço e, da plateia, ninguém poderia imaginar que a bailarina Marília Franco tinha 1,58m de altura. Era mignon, como diziam, mas sua presença se impunha em qualquer lugar. “Em cena, era uma estrela genuína de dança”, recorda Gil Saboya. “Uma mulher impressionante”, resume. “Era figura central na Escola, uma autoridade reverenciada mesmo por quem não estudou com ela”, diz Esmeralda Penha Gazal. Ex-aluna e bailarina, Esmeralda dirigiu a Escola entre 1990 e 2010. “Supervaidosa, sua aparência cotidiana era de quem tinha acabado de sair de um salão de beleza. Estava sempre de unhas pintadas, maquiada, com meias de nylon, sapatos de salto alto. Nunca vi uma caminhada derrubada de Marília, andava sempre ereta e elegante”, complementa Esmeralda. “Tinha voz firme, um pouco estridente; era ágil, muito dinâmica e determinada”.
Marília Franco (1974).
Uma piteira também fazia parte dos adereços de Marília — e os sapatos de salto alto podiam ser arremessados contra quem a irritava, com a mesma naturalidade com que andava sobre eles. Quem conviveu com ela afirma que era simpática, mas geniosa quando ficava de mau humor.
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MarĂlia Franco quando realizou exame para primeira bailarina do Theatro Municipal de SĂŁo Paulo (1942, aproximadamente).
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Magali Franco, ex-aluna e bailarina da Escola até 1980, única filha de Marília, confirma o cuidado da mãe com a aparência e salienta: “Fazia questão de andar bem vestida. Tinha personalidade forte e sabia o que queria. Pela firmeza de seus passos e pelo perfume, já se sabia que era ela quem estava chegando. Sempre foi muito exigente com as alunas, queria tudo certinho, mas na intimidade era uma pessoa amorosa, disposta a ajudar os amigos”. Apesar da influência que exerceu nos primeiros 40 anos da Escola, ela é quase desconhecida entre as novas gerações. Atualmente, traçar um perfil de Marília Franco, recompondo seu jeito de ser, é como um mistério que atiça a curiosidade, diante dos poucos registros bibliográficos sobre ela. A expressão de Marília em fotos antigas contém certa dramaticidade de algumas cantoras líricas. Segundo sua filha Magali, ela vivia ocupada e a dança a monopolizava. Chegava a ficar na Escola das 6 às 22 horas. Participava de programas de televisão, como o Teatro de Fantasia, de Vicente Sesso, na antiga TV Tupi, e durante certo tempo, na década de 1960, assinou uma coluna sobre dança no jornal O Dia. Nascida na cidade paulista de Araraquara, em 24 de abril de 1923, Marília Ferraz Franco pertencia à fina flor da classe média alta de São Paulo. Seu sobrenome abria portas, pois pertencia a uma tradicional família de fazendeiros que se reorganizou financeiramente na capital paulista, após os prejuízos provocados pelo fim do ciclo do café. Em São Paulo, ela estudou no Des Oiseaux, colégio francês para moças, que se localizava nas esquinas das ruas Augusta e Caio Prado, onde hoje está planejada a implantação do Parque Augusta. Depois também foi aluna do Colégio Mackenzie. Na adolescência, Marília começou a preocupar os pais. “Achavam que ela não crescia”,
recorda a filha Magali. Os médicos aconselharam aulas de balé para a garota franzina, que então foi estudar na academia de Chinita Ullmann e Kitty Bodenheim. Depois, ingressou na recém-fundada Escola Experimental de Dança Clássica e tornou-se aluna de Vaslav Veltchek. Em dois anos já era primeira bailarina do Corpo de Baile do Theatro Municipal de São Paulo. Apesar da diferença de idades, Marília e Veltchek casaram-se em 1942. A cerimônia, no Mosteiro de São Bento, superlotou a igreja e foi assunto de colunas sociais durante vários dias. Em 1943, Marília tornou-se primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, novo endereço de trabalho dela e Veltchek. No final do mesmo ano, ela ingressou no Original Ballet Russe, companhia dirigida pelo empresário russo Colonel Wassily de Basil, com a qual viajou intensamente pelas Américas e parte da Europa. Já estava descasada de Veltchek e quando voltou para São Paulo, em 1947, trazia na bagagem aprendizados com nomes importantes da dança, como Bronislava Nijinska, Anton Dolin, Willian Dollar, Lubov Tchernicheva, George Balanchine. Seu retorno à Escola Experimental de Dança Clássica como diretora artística, em 1947, marcou a mais longa gestão da história da instituição, que em 1976 passou a chamar-se Escola Municipal de Bailado. Especialmente nas décadas de 1940 e 1950, a agenda da Escola era agitada — e Marília dava aulas, coreografava e participava dos espetáculos com as alunas. O Theatro Municipal era o palco principal do corpo de baile, que sempre se apresentava com música ao vivo, tocada por orquestra e com regência de maestros importantes, como Souza Lima, também pianista e compositor. Havia, ainda, apresentações nos teatros municipais da Prefeitura, como o João Caetano e o Arthur Azevedo, e também em ginásios e
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espaços públicos. “Dançava-se muito. Marília dizia que estávamos recebendo estudo de graça e por isso tínhamos que retribuir”, diz Maria Helena Mazzetti, que entrou na escola em 1952, tornando-se depois bailarina e professora. Coreografar com facilidade, a partir da música, era outro atributo de Marília, apontado pelas alunas que conviveram com ela. Também sabia lidar com elenco numeroso, como os 150 bailarinos de uma versão de O Quebra-Nozes, apresentada pela Escola. “Tinha um estilo russo de trabalhar, valorizava força e quantidade”, salienta Maria Helena Mazzetti. “Suas aulas eram difíceis, rápidas, sempre com propostas de variações complicadíssimas”, escreveu Marilena Ansaldi na autobiografia Atos — Movimento na Vida e no Palco, publicada em 1994. Formada na Escola, onde ingressou em 1951, Marilena brilhou como bailarina clássica, foi a primeira brasileira a dançar no Teatro Bolshoi de Moscou, para depois dar uma guinada em sua carreira, na década de 1970, tornando-se uma das personalidades mais marcantes da vanguarda teatral e de dança. Segundo Marilena, Marília tinha grande talento. “Era uma bailarina de muita técnica, de saltos, piruetas, toda voltada para a velocidade”. “Marília girava feito um peão”, recorda Gil Saboya. “Eram famosos seus 32 fouettés com cambré, que ela fazia quando dançava A Valsa, de Ravel”. Um dos mais difíceis passos do balé, o fouetté (ou chicote) é uma série de piruetas impulsionadas por uma das pernas, que se estende e se recolhe como se estivesse chicoteando, enquanto a outra perna permanece como único apoio no chão. Acrescentar o cambré, com torso se curvando junto com volteio de braços, já é ato de valentia e destreza para poucos.
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Nos quase 33 anos que ficou à frente da Escola Experimental de Dança Clássica — ou Escola Municipal de Bailado, como ficou mais conhecida — Marília Franco também participou, junto com Lia Marques, da fundação do Corpo de Baile Municipal, em 1968, que depois virou Balé da Cidade de São Paulo. O elenco inaugural incluiu vários bailarinos da Escola — entre eles Esmeralda Penha Gazal, Ivonice Satie, Maria Ângela D’Andrea, Vera Carneiro, Mozart Xavier. A nova companhia expandia a atuação dos bailarinos, proporcionando-lhes trabalho profissional e remunerado. Durante um ano, entre julho de 1973 e junho de 1974, Marília dirigiu o Corpo de Baile Municipal. Foi o período entre a gestão de Johnny Franklyn, primeiro diretor do grupo, e Antonio Carlos Cardoso, que rompeu com os balés fundamentados no repertório clássico e trouxe identidade moderna para a companhia sediada no Theatro Municipal. Quando deixou a Escola, em 1980, Marília Franco se aposentou, mas continuou dando aulas na escola de balé que ela estruturou no Clube Palmeiras, em 1961. Lá permaneceu como professora até 2005. Tinha 82 anos e a altivez de sempre.
Comemoração na escola: Marília Franco (ao centro, de óculos), com as aniversariantes — Maria Helena Mazzetti (à esquerda de Marília, de vestido escuro), Calpurnia Rosa (à frente de Maria Helena) e Rita de Cassia Freiria (à direita de Marília). À direita, de terno escuro e gravata: Joshey Leão. No canto direito, de perfil: Acir Giannaccini, que foi bailarino do Ballet do IV Centenário.
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MarĂlia Franco (meados do sĂŠculo 20). 44
“Faça!”
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Um programa de ensino usado pelos professores da Escola Experimental de Dança Clássica, na década de 1950, continha uma extensa lista de exercícios, divididos entre os que deveriam ser feitos na barra e no centro da sala pelos alunos do primeiro ao oitavo ano.
No final do programa, destacava-se uma observação para os professores: “Exigir sempre o máximo dos alunos em classe e calcular que no palco ou exame o rendimento será de apenas a metade”. As apresentações frequentes, especialmente no principal palco da cidade, o do Theatro Municipal, eram rotina para os alunos da Escola — e o exercício de estar em cena fazia parte do aprendizado. Música ao vivo com orquestra sinfônica, algo que mais tarde tornou-se difícil até para companhias profissionais, era comum nos espetáculos do corpo de baile. O alto rendimento dos alunos, que durante os oito anos de formação já lidavam com uma expressiva agenda de apresentações, seguia normas rigorosas na escola do viaduto do Chá. Força e quantidade eram exigências seguidas com determinação — inclusive porque refletiam o gosto de Marília Franco pela dança veloz e espetaculosa. O aprendizado acontecia “na raça” — como afirmam, hoje, os que lá estudaram. “Faça!”: tal palavra de ordem conduzia aulas centralizadas no professor, que demonstrava os movimentos a serem reproduzidos pelos alunos. “Ninguém explicava a lógica dos passos, o controle da respiração, as transferências de peso pelo corpo. Tínhamos que nos virar para conseguir executar o que nos
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Na página ao lado, acima, Viaduto do Chá e Theatro Municipal (1946). Embaixo, alunas em aula (1950-1960).
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solicitavam. Mesmo os livros da época mostravam os passos, mas não explicavam os cuidados para executá-los. Com isso, cada aluno ou bailarino ia desenvolvendo sua própria qualidade técnica”, diz Maria Helena Mazzetti. Aprendia-se os nomes dos passos em francês — uma regra universal, sem muita importância para a tradução em português. “Nas aulas, copiávamos as formas do movimento”, observa Maria Ângela D’Andrea, que ingressou na escola em 1957 e lá se formou em 1964. Considerada uma aluna brilhante, Maria Ângela tornou-se primeira bailarina dos corpos de baile da escola e do Theatro Municipal, na primeira fase da companhia profissional fundada em 1968. “Com o tempo a consciência corporal foi melhorando no ensino da dança, mas temos de reconhecer que a escola formou grandes profissionais”.
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Acima, à esquerda, Maria Helena Mazzetti com figurino da ópera Aída, de Verdi, encenada no Theatro Municipal de São Paulo (1964). Acima, à direita, Maria Helena Mazzetti em frente à sua casa, com o primeiro uniforme da escola (década de 1950). Na página ao lado, Maria Ângela D’Andrea, em aula no 3º ano, com a professora Maria Helena Teixeira (1959).
Além das aulas práticas de técnica clássica do balé, com acompanhamento de piano, havia cursos de história da dança, ministrados por Marília Franco, e história da música com o professor, pianista e compositor Luis Ellmerich. Maria Helena Mazzetti tinha 16 anos quando a Escola vivia seu auge, na década de 1950. Ela recorda que as mulheres de sua geração eram criadas para “lavar, passar, bordar, costurar, casar e ter filhos”. Estudar balé foi, para ela, uma conquista avalizada pelo talento reconhecido, principalmente, pela própria família. “Para o bem ou para o mal, a Escola abriu as cabeças das pessoas para que tivessem uma visão artística da dança”. E estar na Escola, lembra, também era desfrutar do centro de São Paulo, muito tranquilo e seguro.
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Clube Pinheiros e em festa de formatura de engenheiros da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. “Na inauguração do ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, dançamos Tico-Tico no Fubá com sapatilhas de pontas, coreografado por Aracy Evans”.
“As aulas eram durante o dia, mas os ensaios aconteciam à noite, às vezes até bem tarde, cerca de 23h. Voltava sozinha para casa. Os ônibus paravam de circular às 22h e eu atravessava a pé o Viaduto do Chá, a Praça do Patriarca, andava pela rua Direita até a Praça da Sé, onde tomava lotação para Mirandópolis, o bairro onde eu morava e que, embora na época não tivesse iluminação nem asfalto nas ruas, era extremamente seguro”.
Na roda dos acontecimentos O ensino na Escola Experimental de Dança Clássica, regado à visceralidade e intuição, refletia o percurso inicial da dança em São Paulo. Na cidade sem companhias profissionais, o corpo de baile da Escola ganhava destaque e uma incessante atividade. Além da participação nas óperas e dos espetáculos que realizava no Theatro Municipal e nos teatros de bairros da prefeitura, o grupo de bailarinos da escola dançava em uma variedade de eventos comemorativos e beneficentes. Dias dos Bombeiros, do Trabalho, do Professor, do Servidor Público, eram algumas das efemérides que contavam com espetáculos de balé. Havia até os comícios políticos de Adhemar de Barros, que requisitava o grupo para animar suas campanhas. Maria Helena Mazzetti conta que o corpo de baile dançou na inauguração do palco do
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No Theatro Municipal de São Paulo aconteciam desde as temporadas de bailado patrocinadas pela Mercedes-Benz nas manhãs de domingo, transmitidas ao vivo pela TV Tupi, até noites de gala — para homenagear, por exemplo, o corpo diplomático da cidade ou em benefício de instituições como a Associação de Assistência à Criança Defeituosa. “Éramos muito solicitados para fazer cortesias”, comenta Mazzetti, lembrando que outra prática comum era o envio de cartas para a Escola, com pedidos de autoridades para vagas de apadrinhados. A Praça Ramos de Azevedo, onde fica o Monumento a Carlos Gomes, ao lado da Escola, também serviu de palco para o corpo de baile. Vale lembrar que este conjunto de esculturas encabeçado pelo famoso compositor brasileiro, em volta de um chafariz, foi concebido pelo italiano Luiz Brizzolara para conectar a praça aos “jardins” do Theatro
Na página ao lado, acima, apresentação da ópera O Guarany, de Carlos Gomes, em 1974, no Teatro Politeama Garibaldi, em Palermo, Itália: Waldivia Rangel (à esquerda, como a jovem prometida); Maria Ângela D’Andrea (como guerreira), de mãos dadas com o tenor Benito Maresca. No canto direito, a cantora Niza de Castro Tank. Na página ao lado, embaixo, ópera La Traviata, de Verdi, no Theatro Municipal de São Paulo, em 1964: Maria Ângela D’Andrea com Francisco Grecco (à esquerda), Joshey Leão (à direita) e Gil Saboya (à frente).
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Municipal. Na época, a área onde hoje se encontra o monumento era conhecida como “esplanada do teatro” e integrava-se ao então parque do Anhangabaú. “Em uma apresentação que comemorou o aniversário de Carlos Gomes, a escola montou um tablado no chafariz da Praça Ramos para que apresentássemos um bailado com coreografia de Marília Franco, inspirado na ópera O Guarani”, lembra Maria Helena Mazzetti. “No papel de índios, dançávamos com o corpo pintado. As meninas vestiam
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Acima, Marília Franco (sentada no chão, à frente), com alunas do 7º e 8º anos da Escola Municipal de Bailado. Em pé, a partir da direita: Toshie Kobayashi e Maria Ângela D’Andrea. Ao centro, em pé: Jorge Liñares, bailarino convidado. No centro, ajoelhado, o professor Mozart Xavier. Na página ao lado, Marília Franco (centro inferior), em apresentação com alunas da ópera Anita Garibaldi, de Heinz Geyer e José Ferreira da Silva, com coreografia de Vaslav Veltchek (1958-1959).
um maiô de duas peças, considerado muito ousado naquela época, quando o uso de calças compridas por mulheres era um tabu. Por isso, ouvimos muitas gracinhas do público. A partir de certo momento, também tivemos que dançar sob uma garoa fina, que começou de repente e fez nossa maquiagem derreter”. Para resistir à intensa agenda de apresentações, o alimento energético do elenco de dança foi, em certo momento, a rapadura comprada na praça pelo médico responsável pelas avaliações de saúde dos alunos, que distribuía pedaços do doce às moças e rapazes do corpo de baile. A maratona de espetáculos aproximava os integrantes da Escola de figuras notáveis. Em 1961, um evento beneficente contra a tuberculose levou ao palco do Theatro Municipal
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uma representação teatral de A Dama das Camélias, protagonizada por Walmor Chagas e Cacilda Becker que, um ano antes, em apresentação em Paris, havia sido comparada a Charles Chaplin, pela grandeza artística. O mesmo programa contou, na segunda parte, com o corpo de baile da Escola, que dançou a coreografia Contos dos Bosques de Viena, assinada por Marília Franco. Como era comum acontecer, Marília dividia o palco com os alunos, dançando como primeira bailarina, junto de Joshey Leão, seu partner constante. Apresentações pelo interior de São Paulo também aconteciam e ainda em outros Estados, como Minas Gerais e Paraná. Em 1960, acompanhado da Orquestra Sinfônica do Estado, o corpo de baile inaugurou o pequeno auditório do Teatro Guaíra, de Curitiba. Em
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Acima, programa Grande Gincana Kibon, TV Record (1960): entrega do troféu Os Melhores do Mês para Maria Helena Mazzetti (de saia escura e blusa clara, ao lado da apresentadora Clarice Amaral). À direita, o apresentador Vicente Leporace. Na página ao lado, da esquerda para a direita, ao fundo: Mozart Xavier, Gil Saboya, Silvio Capdeville, Wilson de Lucca, Joshey Leão e Michel Barbano. Centro, a partir da esquerda: Norma Mazzella, Lia Marques, maestro Souza Lima, Marília Franco e Aracy Evans. Sentadas no chão: Célia Rocha, Marcia Arabian e Clarissa Serrichia.
1964, realizou uma temporada no Uruguai, em um dos principais teatros de Montevidéu, viabilizada pelo produtor Vicente Sesso. Os bailarinos da época ainda chamavam atenção nos programas de televisão. Em 1950, quando a TV Tupi de São Paulo inaugurou o surgimento da televisão no Brasil, os aparelhos eram importados, caros e só acessíveis para a classe abastada. Acima de tudo, eram um símbolo de status. A programação, sem os apelos comerciais que surgiram no futuro, acabava sendo mais cultural. Patrocinadores como a fábrica de pianos Schwartzmann financiavam programas de música clássica, que apresentavam, por exemplo, recitais de músicos importantes, como a pianista Yara Bernette. Já a então fábrica de
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tecidos Paramount patrocinava um programa chamado Momento de Dança Organdi. Destaque na televisão, a programação cultural transmitia peças de teatro ao vivo no TV de Vanguarda, que exibia obras de autores como Shakespeare, Dostoiévski e Arthur Miller, protagonizadas por nomes como Procópio Ferreira, Bibi Ferreira, Fernanda Montenegro, Maria Della Costa, Laura Cardoso, Lima Duarte. Vicente Sesso, pioneiro da televisão brasileira, com carreira notável em várias emissoras, criou programas infantojuvenis como o Jardim Encantado, da TV Tupi, que contava com a participação constante e expressiva de bailarinos. Outro sucesso na época era a Grande Gincana Kibon, da TV Record. Primeiro programa brasileiro de auditório para público infantojuvenil, era apresentado aos domingos por Vicente Leporace e Clarice Amaral, com farta apresentação de espetáculos de balé.
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Acima, à esquerda, Marília Franco e Joshey Leão (1972). Acima, à direita, Aracy de Almeida, então primeira bailarina do Corpo de Baile da Escola Experimental de Dança Clássica, e Joshey Leão, também primeiro bailarino, em A Bela Adormecida (1971). Na página ao lado, Concerto de Chopin, coreografia de Marília Franco, 1952. Solistas: Gil Saboya (ao centro), Marilena Ansaldi (à esquerda) e Maria Helena Teixeira (à direita). Sentada no chão, à esquerda: Maria Pia Finócchio.
Bailarinos da Escola Experimental de Dança Clássica marcavam presença nos programas televisivos das décadas de 1950 e 1960, apesar de, oficialmente, a instituição ser impedida de levar alunos à TV. De forma independente e às vezes até usando pseudônimos, os bailarinos não perdiam a chance de se apresentar nas emissoras de TV, até porque, para muitos, o veículo passou a representar uma fonte de trabalho remunerado. Na intensa programação da Escola, além de dançarem gratuitamente, os bailarinos tinham que respeitar a obrigatoriedade. Recusar uma apresentação rendia uma “multa” de cinco faltas, sendo que ao atingir 25 por cento de ausências o aluno era exonerado da Escola.
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Em meio a esta precária situação profissional, os professores, que também atuavam no corpo de baile, dançando ou coreografando, só conquistaram reconhecimento oficial a partir de 1956, por iniciativa de Clarice Pinto, então encarregada da Escola. Depois da regulamentação do funcionamento da Escola e da definição de oito anos para a duração do curso, por meio de um decreto de janeiro de 1957, foi criado o cargo de professor de bailado. Até então, a maioria trabalhava sob diversas denominações do funcionalismo público — desde gari até escriturário. No entanto, a Escola dos baixos do Viaduto do Chá tinha um papel importante na vida da cidade — como reconheceu inclusive Marilena Ansaldi, em sua autobiografia. “Era uma festa, uma felicidade estar na Escola”, diz Gil Saboya. “Podiam criticar, mas todo mundo queria estar lá”. “Tenho orgulho de ter estudado na Escola”, afirma Aracy de Almeida, que lá ingressou em 1957, formando-se em 1965. Como muitos de seus colegas, tornou-se uma das professoras de balé clássico mais respeitadas de
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Acima, Maria Ângela D’Andrea, aos nove anos de idade, no camarim do Theatro Municipal, preparando-se para o primeiro solo (1959) — Pizzicato Polka, com música de Johann Strauss II. Na página ao lado, grupo de alunas da escola, formandas de 1964. À frente, a partir da esquerda: Sônia Mota, Toshie Kobayashi, Maria Ângela D’Andrea e Maria Lúcia Souza. Ao fundo, a partir da esquerda: Vera Lúcia Moretti, Lucila O. Penteado, Elizabeth de Souza, Ana Maria de Souza e Mercia Panzutti.
São Paulo. “Dançávamos em todas as óperas, em balés de repertório e isso nos proporcionava uma cultura”.
gida por Carmen Brandão, que encerrou suas atividades no final da década de 1950. A partir de então, Joshey ingressou na Escola Experimental de Dança Clássica, onde tornou-se primeiro bailarino e partner predileto de Marília Franco. Talentoso e carismático, sabia impor presença, tinha desenvoltura para lidar com os meios de comunicação da época e tornou-se uma figura popular. Emissoras de TV e jornais referiam-se a ele como o melhor dos bailarinos. Era reconhecido nas ruas e até motoristas de taxi sabiam quem ele era.
Na roda dos acontecimentos, a Escola abria suas portas para aulas e ensaios de muitos artistas internacionais que vinham se apresentar no Theatro Municipal — como Margot Fonteyn, Marcia Haydée e o Ballet de Stuttgart. Embora não oficializado, seu corpo de baile contou até com uma celebridade da época, o bailarino Joshey Leão (1927-1983).
Sua morte súbita, em abril de 1983, causou comoção geral. Morreu dançando, como diziam. Joshey Leão foi velado na Escola, onde teve o enfarte que o matou, durante o ensaio do balé da ópera O Guarani, de Carlos Gomes. Hoje, ele dá nome a uma rua residencial no bairro de Vila Prudente, na zona leste de São Paulo.
Nascido em Assis, interior paulista, Joshey estudou em uma das primeiras escolas de dança da capital paulista — a Original Ballet Mímica Infantil e Juvenil de São Paulo, diri-
Após viver seus anos dourados até a década de 1950 e parte dos anos 1960, a Escola foi perdendo seu protagonismo. A Orquestra Sinfônica Municipal deixou de acompanhar
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Retrato de Joshey Leรฃo, com dedicatรณria para a Escola.
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espetáculos de balé, os professores passaram a se dedicar às suas próprias escolas, que espalhavam-se pela cidade, e um decreto chegou a proibir apresentações de escolas de bailado no Theatro Municipal. Paralelamente, uma nova cena de dança estava sendo gestada em São Paulo. O mundo trazia transformações. Embalada pelos movimentos de contracultura e pelo simbólico festival de Woodstock, a década de 1970 provocou mentes e corações com a chegada de novos ícones culturais, como o músico britânico David Bowie, que ocupou a lacuna deixada pelos The Beatles. No Brasil, a repressão provocada pela ditadura militar não inibiu potencialidades artísticas — e a dança, em especial, inaugurou um momento de inovações. Em 1971, quando o Ballet Stagium estreou para plateias que, ao chegar ao teatro, encontravam as cortinas abertas, podendo acompanhar informalmente o aquecimento dos bailarinos no palco, antes da apresentação, o jeito de ver dança já começava a ganhar novas referências. Em vez de criaturas superdotadas, os bailarinos e bailarinas tornaram-se homens e mulheres que ocupavam a cena para expressar as inquietações contemporâneas. A cena paulistana entrava em ebulição. As novidades eram sucessivas. Em 1973, Penha de Souza fundava o Grupo Experimental de Dança. Em 1975, Marilena Ansaldi promo-
veu uma virada em sua carreira ao estrear Isso ou Aquilo? no recém-inaugurado Teatro de Dança, que ela idealizou e influenciou para que passasse a existir na Sala Galpão do Teatro Ruth Escobar, como um espaço para múltiplas atividades. Um ano depois, chegou o Grupo Corpo com Maria Maria, o sucesso coreografado por Oscar Araiz, com roteiro de Fernando Brandt e música original assinada por Milton Nascimento. E em 1977, Hulda Bittencourt fundou em São Paulo o Grupo Cisne Negro, que também azeitou a dança em São Paulo. Nomes como Ruth Rachou, Renée Gumiel, Ivaldo Bertazzo, Denilto Gomes e Janice Vieira, Célia Gouvea e Maurice Vaneau, J.C.Violla, Sônia Mota, Mara Borba, Ismael Ivo, formavam o caldo efervescente da dança paulistana, que fez do arrojamento a sua marca definitiva. Também o Corpo de Baile Municipal, surgido em 1968 como a companhia profissional de dança do Theatro Municipal, inaugurou nova identidade. Reestruturada em 1974 por Antonio Carlos Cardoso, voltou-se para as criações contemporâneas, moldando um perfil que se mantém até hoje, como Balé da Cidade de São Paulo. “Acabou o velho museu de danças. Agora é tudo novo” — proclamou o então influente Jornal da Tarde, quando o Corpo de Baile Municipal estreou sua primeira temporada sob direção de Cardoso. O programa daquela fase inaugural reuniu a coreografia Uma das Quatro, do espanhol Victor Navarro, Medeia, concebida por Marilena Ansaldi ao som de Pink Floyd e interpretada por Iracity Cardoso, e ainda duas criações de Antonio Carlos Cardoso: Sem Título, ao som de Herbie Mann, Miles Davis e Beatles, e Paraíso?, com música de Hermeto Paschoal. Novos ventos sopravam quando a então Escola Municipal de Bailado adentrou na década de 1980.
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Professores reunidos na Escola para curso sobre o método do Royal Ballet (década de 1970). 1-Vera Maia, 2-Magali Bueno, 3-Marília Franco, 4-Siwa, 5-Tatiana Leskova; 6-Muni Carnewal, 7-Halina Biernacka, 8-Marisa Magalhães, 9-Kitty Bodenheim, 10-Maria Helena Mazzetti, 11-Verônica Coutinho, 12-Hulda Bittencourt, 13-Toshie Kobayashi, 14-Aracy Evans, 15-Michel Barbano, 16-Nice Leite, 17-Maria Ângela D’Andrea, 18-Eduardo Sucena, 19-Aracy de Almeida e 20-Silvia Antunes. Sem identificações para os demais.
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Diferentes recomeços e movimentos de modernização a partir de 1980
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Ady Addor (1935-2018) e Klauss Vianna (1928-1992) Breves gestões de dois notáveis da dança No início de 1980, Ady Addor tinha planos promissores para a Escola Municipal de Bailado. Nomeada diretora pelo então Secretário Municipal de Cultura, Mario Chamie, ela substituiu Marília Franco, que havia se aposentado. Nascida no Rio de Janeiro, Ady Addor teve uma meteórica e brilhante carreira como bailarina. Formada pela Escola de Danças Clássicas do Theatro Municipal do Rio, em cuja companhia de balé tornou-se solista aos 16 anos de idade, ela mudou-se para São Paulo em 1953 para ingressar no Ballet do IV Centenário, do qual foi primeira bailarina.
Acima, Ady Addor em 1956, aproximadamente. Na página ao lado, fotograma de 1980, quando Ady Addor assumiu a direção da escola.
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Em 1957, quando foi para Nova York, Ady logo tornou-se solista do American Ballet Theatre, uma conquista e tanto, na época, para uma bailarina brasileira. Depois de dois anos nesta companhia, que já era uma das mais prestigiadas do mundo, dançou como convidada do Ballet Nacional da Venezuela e, em 1959, deu início à sua também breve passagem pelo Ballet Nacional de Cuba. Contratada como primeira bailarina da renomada companhia
cubana, ela dividiu o palco com Alicia Alonso em apresentações na América do Sul. No entanto, em 1961 encerrou a carreira de bailarina para depois notabilizar-se como professora de balé clássico em São Paulo, onde passou a morar. Quando chegou à direção da Escola Municipal de Bailado, Ady pretendia fazer com que o ensino implantado nos baixos do Viaduto do Chá se tornasse referência internacional — objetivo devidamente registrado pelos jornais na época. Para elevar o padrão de qualidade da escola, Ady queria, inclusive, que o Certificado de Nível Artístico oferecido aos alunos na formatura se transformasse em diploma reconhecido oficialmente. Entretanto, não conseguiu levar suas propostas adiante. Após nove meses, deixou a direção da Escola. “Lembro de minha mãe falando da quantidade de pedidos de políticos que queriam colocar filhos ou apadrinhados na escola, sem submetê-los aos exames de seleção”, afirma Ana Maria Gilioli, filha de Ady, sobre a possível razão do afastamento da mãe do cargo. Tal justificativa coincide com explicações semelhantes de professoras contemporâneas de Ady, que igualmente criticam essa conduta da época. O substituto de Ady Addor na direção da Escola Municipal de Bailado, também com uma gestão de curta duração, foi uma das personalidades mais importantes da dança brasileira. Artista visionário, pesquisador e eterno estudioso, antecipador de tendências que grassavam pelo mundo, muitas vezes incompreendido por seus pares brasileiros, mestre com profundo conhecimento da capacidade e expressão do movimento, Klauss Vianna assumiu a direção da Escola entre 1981 e 1982.
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“O balé, na sua estrutura, é perfeito”, afirmou Klauss em entrevista publicada em 1986 pelo Jornal da Tarde. “Foram séculos de pesquisa. Os quadros de Da Vinci, de Rafael, já mostravam um gestual puro, braços e musculaturas que induzem às posições clássicas — o novo já estava ali. No entanto, hoje em dia, valoriza-se o estereótipo, ou seja, quem levanta mais a perna, quem mais faz piruetas. A tendência é estabilizar parâmetros, sem que cada um conheça a si mesmo ou as próprias possibilidades. Dança, para mim, é consequência de uma busca interna, tanto corporal quanto filosófica: esse processo não acontece de uma hora para outra. Ninguém chega à dança universal sem encontrar a sua própria, sem individualidade não é possível pertencer ao coletivo. Desde que cada um conheça a estrutura dos próprios movimentos, o balé clássico pode ser modernizado”.
Para os guardiões da técnica clássica, que queriam uma escola voltada exclusivamente para a dança acadêmica, Klauss era um adepto da expressão corporal, um conceito interpretado com certo simplismo por uma parte da classe de dança. No entanto, Klauss nunca negou a importância da dança clássica, que conhecia em profundidade. Marcia Haydée, no auge de sua carreira como estrela internacional do Ballet de Stuttgart, fazia questão de ter aulas de técnica clássica com Klauss quando se apresentava em São Paulo.
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Klauss introduziu inovações na Escola, como um curso de criatividade, para despertar nos alunos o interesse em coreografar. Aulas de dança moderna também passaram a ser ministradas por Ruth Rachou e Célia Gouveia. “Acredito na validade de todas as técnicas”, disse em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, em 1981. “A única exigência que prevalece é que qualquer trabalho com o corpo deve ser muito bem realizado. Existem pessoas para quem o balé clássico é indispensável, mas também existem outras para as quais isso não representa uma verdade inquestionável”. Um curso noturno para homens, que atraiu 200 alunos, foi outra novidade implantada por Klauss Vianna. Em 1987, na gestão de Mariana Natal, este curso foi extinto pelo então prefeito Jânio Quadros, que proibiu o ingresso de homossexuais na Escola Municipal de Bailado. Além de São Paulo, Klauss trabalhou no Rio de Janeiro, Bahia e Belo Horizonte (MG), sua
cidade natal. Era cultuado no meio teatral, onde seu trabalho de preparo corporal de atores costumava ser enaltecido por grandes artistas, como Tônia Carrero, Marília Pêra, Marco Nanini, entre muitos outros. Em 1974, ganhou o Prêmio Molière, conhecido como o “Oscar do Teatro Nacional”, pela expressão corporal do elenco de Roda Viva, peça de Chico Buarque encenada por José Celso Martinez Correa. Klauss Vianna se desligou da Escola Municipal de Bailado em 1982, para assumir a direção do Balé da Cidade de São Paulo. Klauss Vianna (década 1980).
Gil Saboya, um ícone da Escola Municipal de Bailado Foi Klauss Vianna quem indicou Gil Saboya para substituí-lo na Escola Municipal de Bailado. Profundamente vinculado à Escola, onde foi bailarino, professor e coreógrafo, Gil associava um apurado conhecimento de balé clássico à visão e formação cultural amplas, além de capacidade administrativa. Dirigiu a Escola Municipal de Bailado de 1982 a 1987. Em sua gestão, manteve sintonia com as expectativas de Ady Addor e Klauss Vianna. O curso noturno para homens foi preservado, assim como o trabalho de criatividade que resultou na formação do Grupo Rebento EMB. Já no início da gestão de Gil Saboya, a Escola voltou a se apresentar no Theatro Municipal, em óperas como Il Guarany, de Carlos Gomes; Macbeth, de Verdi; Carmina Burana, de Carl Orff; Os Sete Pecados Capitais, de Kurt Weill — estas duas últimas junto com o Balé da Cidade de
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São Paulo. Professores como Aracy de Almeida, Mozart Xavier, Sidney Astolfi, Toshie Kobayashi e Célia Gouveia, compunham o corpo docente da Escola. Gil Saboya ingressou na Escola em 1951, criando uma conexão por toda sua vida com a instituição. Paulistano, descobriu a dança na adolescência, quando morava com a família no Rio de Janeiro. Apesar dos preconceitos que os rapazes enfrentavam ao demonstrar interesse pelo balé, Gil escapou à regra: seus pais foram seus maiores incentivadores. Filho do engenheiro Arthur Saboya, prefeito de São Paulo na década de 1930 e autor do Código de Obras da cidade, Gil emociona-se até hoje quando lembra do incentivo do pai. “Vivi num mundo à parte”, lembra. Um de seus principais professores foi Décio Stuart. Com experiências na França, onde estudou com Lubov Yegorova, bailarina que foi parceira de Nijinsky nos Ballet Russes, Stuart destacou-se como primeiro bailarino dos teatros municipais de São Paulo e do
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Acima, Gil Saboya, em sua sala na Escola Municipal de Bailado, como diretor (década 1980). Na parede: foto de Maria Olenewa no pôster à direita. Na página ao lado, caminhando no centro paulistano, a partir da esquerda, Maria Helena Teixeira, Gil Saboya, Marilena Ansaldi e o pianista Oleg Kusnetsoff.
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Rio de Janeiro. Depois fixou-se em Santos, onde fundou a escola frequentada por Gil, quando morou com a família no litoral paulista. Foi também em Santos que Gil conviveu brevemente com Harald Kreutzberg, quando este importante bailarino e coreógrafo da dança moderna alemã esteve na cidade. Depois, em São Paulo, estudou com Vaslav Veltchek e Marília Franco. Marilena Ansaldi foi a primeira partner de Gil na Escola de Bailado — e ele o primeiro partner dela, na coreografia Sweet Mascarade, de Marília Franco. “Dançávamos de máscara, com uma roupa brilhante, muito bonita. Era uma coreografia complexa, com 32 fouettés nas pontas, que exigiam destreza e leveza”, descreveu Ansaldi em sua autobiografia. Ele integrou o Ballet do IV Centenário e, em seguida, o Ballet do Museu de Arte de São Paulo (o MASP), que estreou em outubro de 1955 no Teatro Maria Della Costa. O programa reunia coreografias de Criatian Uboldi, Ismael Guiser, Maryla Gremo, Maria Olenewa e Nina Verchinina, com cenários assinados por artistas como Darcy Penteado e Lina Bo Bardi. Gil costumava ganhar os prêmios da época, concedidos por entidades como a Associação Paulista de Imprensa, o jornal O Dia e a TV Tupi, como melhor bailarino do ano. Na então Escola Experimental de Dança Clássica, tornou-se primeiro bailarino do Theatro Municipal de São Paulo. Em 1964 ganhou destaque nos jornais por substituir, na última hora, o bailarino que interpretaria o principal papel masculino de Romeu e Julieta, em espetáculo apresentado pela Escola nos concertos matinais de domingo, no Theatro Municipal. Por conta do desempenho nessa performance não programada, foi ovacionado pelo público e chamado de herói pela imprensa. Nos bastidores, ao contrário, enfrentou cenas de ciúmes de seus pares, que igualmente viraram assunto nos jornais. No entanto, foi como profes-
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sor que alicerçou sua carreira. “Nunca fui exibicionista; por isso, preferi lecionar. Como professor, me sentia realizado por poder oferecer uma contribuição para a vida de alguém”, afirma. Com cultura abrangente sobre dança, admirador de criadores como Pina Bausch, Gil é adepto ferrenho do balé clássico. “É uma técnica absoluta, o ‘beabá’ que trabalha o corpo humano de maneira completa. Quem dança clássico, dança qualquer coisa”, defende. Na escola do Viaduto do Chá, Gil Saboya trabalhou durante quase quatro décadas. “Foi minha segunda casa, ou talvez a primeira”, diz, ressaltando que vivenciou a Escola em todas as suas paixões, do amor ao ódio. “Tenho muitas saudades”, ele afirma hoje. Aos 86 anos, ainda é chamado de professor pelo porteiro do prédio onde mora, próximo ao centro de São Paulo.
Escola renovada com Acácio Ribeiro Vallim Júnior Depois de Gil Saboya, a Escola foi dirigida por Mariana Rocco Natal, de 1987 a 1988, e Clarice Pinto Bertini, de 1988 até a chegada de Acácio Ribeiro Vallim Júnior, no ano seguinte. Nomeado pela então Secretária Municipal de Cultura, Marilena Chauí, escolhida pela nova prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, Acácio levou uma experiência diferenciada para a direção da Escola. Formado em arquitetura, Acácio havia sido crítico de dança do jornal O Estado de S.Paulo
Momento de descontração no cotidiano da Escola. Da esquerda para a direita: Cilô Lacava, Katiah Rocha, Madge Branco, Acácio Ribeiro Vallim Júnior, Esmeralda Penha Gazal, Elaine Calux e Ivelize Giusti (entre 1989 e 1992).
por quase dez anos (de 1977 a 1986). Tinha um conhecimento de dança muito especial, adquirido com Maria Duschenes (1922-2014), pioneira que difundiu no Brasil a teoria do movimento de Rudolf Laban (1879-1958), determinante para a evolução da dança moderna mundial. Também graduado em artes cênicas, dramaturgia e crítica pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, tornou-se, essencialmente, um professor de educação artística. Inicialmente, Acácio deveria dirigir a Escola junto com Marilena Ansaldi e Ady Addor. Mas, as duas acabaram não sendo contratadas por entraves burocráticos, já que ambas estavam ligadas ao funcionalismo público. Ady, por exemplo, dava aulas no Balé da Cidade de São Paulo e preferiu prosseguir nesta função. Em fevereiro de 1989, quando Acácio Ribeiro Vallim Júnior assumiu a direção da Escola Municipal de Bailado, havia uma urgente necessidade de reforma nas instalações dos
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baixos do Viaduto do Chá. Até pianos corroídos por cupins evidenciavam esta demanda. Por isso, a Escola foi fechada e a equipe administrativa se alojou no Centro Cultural São Paulo. A promessa de reabertura rápida não aconteceu — e a perda de um ano letivo gerou pressões, inclusive da imprensa.
Acima, Acácio Ribeiro Vallim Júnior na Escola, com alunas, em foto de Gal Oppido (1991). A foto ao fundo, é um retrato de Michel Barbano, professor, bailarino e coreógrafo da Escola.
Porém, quando a Escola reabriu, em fevereiro de 1990, o ambiente impecável, com novas instalações hidráulica e elétrica, chão especial, barras de apoio, espelhos e pianos novos, revigorou os ânimos de todos. A sala principal de aulas ganhou até um piano de cauda. O projeto da reforma, desenvolvida pela EMURB (Empresa Municipal de Urbanização), foi de autoria do arquiteto Henri Michel Lesbaupin.
Na página ao lado, Esmeralda Penha Gazal (entre 1973 e 1974).
Enquanto a Escola permaneceu fechada, além de reuniões mensais com pais e alunos, para informar com transparência sobre procedimentos e prazos, foi realizado um ciclo de palestras na Biblioteca Mário de Andrade. Um novo regimento também foi desenvolvido e,
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ao reabrir suas portas, a Escola introduziu criatividade, música, técnica moderna, história da arte e da dança como matérias obrigatórias. No corpo docente conviviam profissionais respeitáveis da dança moderna, como Lenira Rangel, Maria Mommenshon e Ruth Rachou, com mestres igualmente importantes da técnica clássica, como Toshie Kobayashi. Outra novidade foi a contratação do bailarino, coreógrafo e professor Umberto da Silva, como assistente de direção. Quando Umberto desligou-se do cargo, no segundo semestre de 1990, foi substituído por Esmeralda Penha Gazal. Os teatros Municipal e João Caetano foram os principais palcos dos alunos durante a gestão de Acácio. No saguão da Escola, aconteceram exposições de fotografias — uma delas de Gal Oppido, que passou alguns dias registrando o cotidiano da instituição. A organização da Associação de Pais e Mestres, a partir da iniciativa da mãe de uma aluna, foi incentivada por Acácio, tornando-se um canal de participação expressivo na Escola. Com liberdade, inteligência e eficiência, Acácio encerrou sua gestão em outubro de 1992, abrindo as portas para Esmeralda Penha Gazal assumir, no ano seguinte, a direção da Escola Municipal de Bailado.
Esmeralda Penha Gazal: evolução pedagógica e aberturas artísticas Quando Esmeralda Penha Gazal retornou à Escola Municipal de Bailado em 1989, para ser professora e logo em seguida assistente de direção de Acácio Ribeiro Vallim Júnior, ela reencontrava o lugar onde adentrou pela primeira vez aos oito anos de idade, em 1961, para iniciar sua formação em balé. Nascida em São Bernardo do Campo (SP), sua família mudou-se para a capital paulista quando ela tinha menos de dois anos de idade. Nunca mais morou em outro lugar. Quando sua mãe a inscreveu no exame de seleção para admissão na Escola Municipal de Bailado, ela teve sua prova conduzida por Aracy Evans, que elevava suas pernas para que sua capacidade física fosse avaliada pela banca de examinadores.
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Em 1968, prestes a se formar, foi aprovada na audição para o elenco do Corpo de Baile Municipal, que acabava de ser fundado na gestão do então prefeito Faria Lima. Lá ficou até 1978, vivenciando as gestões de Johnny Franklyn, Lia Marques e Marília Franco, e a fase transformadora promovida por Antonio Carlos Cardoso. Depois disso, dedicou-se ao ensino de dança clássica na Escola Joyce Ballet. Em fevereiro de 1993, quando assumiu a direção da Escola Municipal de Bailado, Esmeralda deu início a uma gestão de quase 18 anos, encerrada em dezembro de 2010. Logo que assumiu, sua maior preocupação foi manter o equilíbrio do que ela chama de três pilares da Escola: a administração de acordo com as regras do serviço público municipal e as diretrizes artística e pedagógica da instituição. “Foi um grande aprendizado”, lembra. “Chegávamos muitas vezes a resultados ótimos e às vezes nem tanto dentro das
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Esmeralda Penha Gazal (2013).
Mommenshon, para ministrar criatividade — entre outras disciplinas que assinalavam a expansão curricular da Escola, a partir da década de 1980. “Era necessário tratar o ensino da dança na Escola Municipal de Bailado sob a influência das novas tendências pedagógicas”, diz Esmeralda. Por isso, também passou a contestar o antigo modelo autoritário de professores. “Numa sala de aula, todos os alunos deveriam ser contemplados com o máximo empenho, não só aqueles com maiores habilidades. Teríamos que atender também os alunos que, por razões subjacentes, têm outras maneiras de apreender. Modelos pedagógicos antigos, com professores que intimidam os alunos, prejudicando o aprendizado, não faziam mais sentido. Eu mesma não fui a melhor aluna em sala de aula, mas consegui traçar meu percurso profissional e chegar a algum lugar. Sempre há potencial para caminhar e isso não pode ser tolhido”. possibilidades deste contexto”. Para compor sua equipe, chamou Maria Ângela D’Andrea, que assumiu a direção técnica anteriormente exercida por Ilara Lopes. Umberto da Silva e a assessora de imprensa Elaine Calux também se juntaram ao grupo, mas depois se desligaram para assumir outras funções na Secretaria Municipal de Cultura. Ao longo de sua gestão, Esmeralda contou com um relevante corpo docente. Professores como Aracy de Almeida, Toshie Kobayashi, Katiah Rocha, Sidney Astolfi, Nely Guedes, Nancy Bergamin, Maria Ângela D’Andrea, Yara Ludovico, todos ex-alunos da Escola, fizeram parte, junto de muitos outros, do grupo de mestres responsável pelo ensino de técnica clássica. “O clássico sempre foi a coluna vertebral da Escola”, observa. Ao mesmo tempo, se cercou de outros professores importantes como Ruth Rachou e Cristiana de Souza, para o ensino de dança moderna, e ainda Lenira Rangel, Cilô Lacava e Maria
Movida por essas aspirações, Esmeralda procurou ampliar seus recursos e conhecimentos e, em 2003, ingressou na Universidade Anhembi-Morumbi, no curso de Licenciatura, Bacharelado e Produção em Dança. A busca por novas possibilidades se refletiu na Escola, em projetos como Trânsitos Pedagógicos, que proporcionou palestras sobre diferentes temas. Em Registro dos processos criativos, sob coordenação da artista e professora Ana Terra, as coreografias desenvolvidas na escola passaram a ser analisadas sob diferentes prismas. Por meio de outro programa, o Dançando Histórias, procurou-se a integração da literatura com a dança: em apresentações para alunos da rede pública, em bibliotecas e no salão nobre da Escola, procurava-se estimular o hábito da leitura e, ao mesmo tempo, o gosto pela arte da dança. Quanto às apresentações, foram mantidos de início os espetáculos de final ano e, em 1995, para comemorar os 55 anos da Escola
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Municipal de Bailado, foi realizada a montagem do balé O Quebra-Nozes. Em 1997, a pedido do então diretor do Departamento de Teatros, José Carlos Benedito, reativou-se o Corpo de Baile Jovem, formado por alunos selecionados do quinto ao oitavo anos, que representou um passo importante para a expansão de linguagens coreográficas entre os alunos da Escola. Obras clássicas ganharam releituras — como Por que Cinderella vai ao Baile? sobre o balé Cinderella, e A Bela, a partir de A Bela Adormecida. Coreógrafos convidados — como Jorge Garcia, Robson Lourenço, Luiz Fernando Bongiovanni, Cristiana de Souza, Roberto Amorim e Raymundo Costa — somaram a expressão contemporânea ao repertório do Corpo de Baile Jovem. Segundo Esmeralda, esta abertura pretendia despertar nos alunos não só o interesse pela dança contemporânea como também o conhecimento de processos diferenciados de construção coreográfica. “Em alguns momentos tínhamos verbas adequadas para as despesas de produção e circulação. Mas muitas vezes passei o chapéu, fizemos bazares, brechós, conseguíamos doações de tecidos para figurinos e ainda contávamos com a colaboração da Associação de Pais e Mestres”, relata Esmeralda. As apresentações se multiplicaram, nos mais diversos locais da cidade — do Theatro Municipal aos teatros distritais e às unidades do SESC (Serviço Social do Comércio). Participações no projeto Acordes Pão de Açúcar, com a Orquestra de Cordas Municipal, sob regência do maestro Daniel Misiuk, também entraram na agenda da companhia de dança da Escola. Mesmo os alunos que não integravam o Corpo de Baile Jovem participavam das óperas do Theatro Municipal e do Circuito Cultural, que levava espetáculos para bibliotecas públicas, centros culturais e esportivos.
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Em 2002, a temporada da ópera João e Maria no Theatro Municipal, dirigida pelo maestro Jamil Maluf e por Flávio de Souza, contou com alunos da Escola Municipal de Bailado. Os resultados se concretizaram. Integrantes do Corpo de Baile Jovem conseguiram ingressar em companhias profissionais, no Brasil e no exterior. Balé da Cidade de São Paulo, Cisne Negro, Grupo Corpo, Balé do Teatro Guaíra, São Paulo Companhia de Dança, Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e mesmo o Ballet de Hamburgo, da Alemanha (para onde foi Thiago Bordin), passaram a contar com bailarinos formados na Escola Municipal de Bailado. Para Esmeralda, esses jovens que encontraram seus caminhos, confirmaram que, a despeito de seus problemas, a Escola tem um valor inquestionável.
Avanços e descontinuidades Em 2011 a Escola Municipal de Bailado ingressava em seu 71º ano. Já era possível dizer “era uma vez”, com relação aos seus primeiros tempos. O ensino rigoroso do início formou muitos bailarinos, mas desapontou quem se sentia fora dos padrões físicos exigidos. Sônia Mota, bailarina, coreógrafa e professora respeitada em todo o Brasil, autora de
Aracy Evans com alunas (1974).
um método de dança, o Arte da Presença, há mais de 30 anos vivendo na Alemanha, onde desenvolve reconhecido trabalho de artes cênicas, foi uma das alunas que se sentia um “patinho feio” quando frequentou a Escola, entre 1956 e 1963. Para adquirir a forma “oficial” exigida pela instituição, ela diz ter passado muito tempo alongando as pernas que eram consideradas curtas, além de pressionar os pés embaixo de um piano para desenvolver a curvatura tão almejada e ficar horas na posição de sapinho para adquirir o en dehors, a rotação que coloca quadris, pernas e pés na posição voltada para fora. “Dona Aracy Evans foi a única professora que soube ver que eu tinha um espírito dançante dentro de um corpo ‘não dotado’ e me incentivou sempre”, diz Sônia. O suposto corpo não dotado de Sônia Mota não impediu que ela tivesse uma carreira intensa e bem-sucedida. No início da década
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de 1970 foi solista no Royal Ballet de Flandres, na cidade belga de Antuérpia. Depois voltou ao Brasil e ingressou no Balé da Cidade de São Paulo, onde dançou de 1974 a 1989, nas gestões de Antonio Carlos Cardoso, Klauss Vianna e Julia Ziviani. No Brasil e na Europa fez inúmeros trabalhos autorais, como artista independente — entre outros Vi-Vidas, de 2006, que conquistou o prêmio Bravo! Prime de Cultura, como melhor espetáculo de dança daquele ano. A profícua carreira de Sônia Mota na dança contemporânea mostra que fugir à regra pode significar outras possibilidades artísticas — algo que a Escola Municipal de Bailado incorporou de acordo com gestões mais empenhadas na expansão de conceitos e mentalidades. Quando Susana Yamauchi tornou-se diretora da Escola Municipal de Bailado, em 2011, a ideia era atualizar a instituição, eliminando anacronismos. A iniciativa foi do então Secretário de Cultura do Município, Carlos Augusto Calil, que convidou Susana para também inaugurar um novo momento histórico. Em maio daquele ano a Escola passou a se chamar Escola de Dança de São Paulo (EDASP), deixando para trás o termo “bailado”, não mais condizente com o entendimento de dança do século 21. Em 2012 a gestão da EDASP se vinculou à recém-criada Fundação Theatro Municipal de São Paulo, desconectando-se do Departamento de Teatros ligado à Prefeitura da cidade. Outra mudança significativa ocorreu no final de 2013, quando a EDASP mudou de endereço. Retirando-se dos baixos do Viaduto do Chá, cujas instalações foram ocupadas pelo Centro de Referência da Dança da Cidade de São Paulo, passou a funcionar na Praça das Artes, o moderno complexo cultural com entrada principal pela Avenida São João e a poucos passos do Theatro Municipal.
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Com novo nome e casa nova, a Escola de Dança de São Paulo tornou-se interdisciplinar na gestão de Susana Yamauchi. O balé clássico, a partir de então, tornou-se mais integrado às demais áreas de conhecimento, como dança moderna e contemporânea, composição, consciência corporal — sem discriminação de tipos físicos e estimulando a revelação e o desenvolvimento de talentos.
Praça das Artes: entrada pelo Vale do Anhangabaú.
Tal abordagem ia de encontro às buscas que Susana empreendeu na própria carreira, quando ainda estudava na Escola Municipal de Bailado, entre 1967 e 1975. Aluna de professores como Joshey Leão, Mozart Xavier, Toshie Kobayashi, Aracy de Almeida, Gil Saboya e Marília Franco, ela ao mesmo tempo vivia a geração dos que se deslumbravam com as novidades trazidas pelos anos 1970. Ainda frequentando a Escola, ela procurava conhecer novas linguagens da dança. “Eu queria experimentar outras coisas. Na cidade havia as aulas completamente diferentes de Renée Gumiel, que dançava descalça. Em 1971 eu fugia para fazer aulas com os Dzi Croquettes no extinto Teatro 13 de Maio. Aquilo tudo era muito novo e eu adorava. A Escola Municipal de Bailado me deu uma formação sólida, mas conservadora, e a busca por outras experiências me abriu novas perspectivas”, afirma Suzana, que ingressou no Ballet Stagium em 1976, quando estava terminando sua formação de oito anos na Escola. Embora tenham estudado na Escola Municipal de Bailado em épocas diferentes, Susana Yamauchi e Sônia Mota cruzaram caminhos em diversos momentos. Susana teve aulas com Sônia no Teatro da Dança, que funcionou de 1974 a 1981 no Teatro Galpão de Ruth Escobar. Depois as duas integraram o Corpo de Baile Municipal e em 1980, junto com Mara Borba, estrearam Certas Mulheres, espetáculo eleito o melhor do ano pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) e que ganhou remontagens no Brasil e na Europa.
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O frenesi da dança paulistana, entre as décadas de 1970 e 1980 também impulsionou Susana para estudar nos Estados Unidos. “Quando Alvin Ailey American Dance Theater se apresentou em São Paulo, eu fiquei fascinada e fui atrás”. Com bolsa de estudos, rumou para Nova York para ter aulas de dias inteiros na escola de Ailey, um dos mais importantes coreógrafos da dança moderna. A estada novaiorquina também rendeu aulas nos estúdios de Paul Taylor e Merce Cunningham. Aprovada em uma audição para ingressar na Larry Richardson Dance Company, acabou dançando nesta companhia por um ano e participou, inclusive, de uma turnê pela Europa. Em 1984, quando retornou para Nova York por intermédio de outra bolsa de estudos, da CAPES-Fullbright, realizou aperfeiçoamento técnico e curso de orientação pedagógica na companhia Jeniffer Muller & The Works.
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Acima, Balé Jovem de São Paulo, no espetáculo Steps in the Street, de Marta Graham. Theatro Municipal (2013). Na página ao lado, espetáculo Pinochianas, concepção e direção de Susana Yamauchi; criação coreográfica da equipe artística e alunos da Escola de Dança de São Paulo (2012).
A partir de então, no Brasil, Susana criou coreografias para diversas companhias, entre outras o Balé da Cidade de São Paulo e o Balé do Teatro Castro Alves, de Salvador, deu aulas em várias escolas, participou do musical A Chorus Line, produziu uma trilogia de espetáculos solos inspirados em sua origem nipo-brasileira, fundou o grupo LúDiCaDaNçA com João Maurício e trabalhou no programa Fábricas de Cultura da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, onde dirigiu o projeto Núcleo Luz. Na direção da EDASP, Susana procurou desenvolver uma formação diversificada para os alunos, com profundidade em todas as disciplinas. Para garantir continuidade, a nova diretriz pedagógica foi aprovada em 24 de novembro de 2011, por meio do decreto nº 52.811. Representando um aprimoramento para os objetivos da Escola, este decreto incluía propostas como o diálogo da dança com o mundo contemporâneo; formação qua-
lificada de intérpretes-criadores; desenvolvimento da capacidade criativa, de pesquisa e de apreciação crítico-estética; diálogo entre o erudito e o popular, com prática cênica como processo educativo — sendo que este aprendizado, na primeira escola pública e gratuita de dança de São Paulo, seria inclusivo e acessível, sem distinção de raça, cor, sexo, credo religioso ou político. Para Susana, a ruptura com o conservadorismo significava estimular a postura investigativa nos alunos, a criatividade, a busca por referências. “Não fazia sentido realizar aulas automaticamente, como se fosse um adestramento, com repetições do que já está decorado”. A formação completa ganhou um ano a mais, passando para nove anos. Também foi aumentada a quantidade de horas de aulas (“tínhamos que proporcionar mais do que uma hora de aula por dia para a criança que mora na periferia e vai frequentar a Escola no centro
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da cidade”). A quantidade de crianças também aumentou, com a implantação do Programa de Formação, que objetivava proporcionar à faixa etária entre seis e oito anos uma introdução gradativa à dança, com desenvolvimento de coordenação motora, memorização, flexibilidade, musicalidade, organização corporal e alinhamento. A integração entre pais, alunos e professores também foi estimulada, por meio de encontros práticos e pedagógicos que fomentavam a compreensão e o envolvimento com as práticas do ensino. Cursos livres para adultos foi outra iniciativa, voltada para bailarinos e estudantes que, assim, puderam contar com aulas gratuitas regulares e de qualidade, de dança clássica e contemporânea — algo não disponível na cidade, onde as academias são majoritariamente pagas. Incentivando uma visão mais aberta do mundo da dança, eram ministradas aulas de repertório clássico — e também do moderno, algo inédito até então. Esta expansão se refletiu nos programas apresentados pelo Balé Jovem de São Paulo, como passou a chamar-se a companhia de dança formada pelos alunos. Dignos de companhias profissionais, os programas contaram com nomes tarimbados na produção dos espetáculos. Pinochianas, que estreou no final de 2011 no Theatro Municipal, tinha cenário de Felippe Crescenti, trilha musical de Ed Côrtes, figurinos e adereços de Fábio Namatame, desenho de luz de Sergio Funari, dramaturgia de Cecília Pimenta, entre outros. Este espetáculo, concebido e dirigido por Susana Yamauchi, teve participação dos alunos na criação coreográfica. Nos espetáculos dos anos seguintes, além de obras de coreógrafos brasileiros contemporâneos, como Luis Fernando Bongiovanni, José Ricardo Tomaselli e Liliane de Grammont, também havia uma criação coletiva dos alunos do 8º ano e ainda uma conquista e tanto
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para a jovem companhia: duas peças de Martha Graham (1894-1991), uma das mais importantes criadoras da história da dança, cuja obra transformadora lhe rendeu comparações a Picasso e Stravinsky. A inestimável oportunidade de obter direitos de reprodução de duas criações de Graham se deu por meio da articulação da EDASP com o Martha Graham Center of Contemporary Dance, de Nova York, que permitiu a vinda a São Paulo de um de seus integrantes, o dançarino e ensaiador esloveno Tadej Brdnik. Junto com Daniela Stasi, bailarina brasileira que dançou durante 11 anos na companhia de Graham e, a convite de Susana, assumiu a função de coordenadora de projetos especiais da EDASP, foram montadas as coreografias Steps in the Street, excerto de Chronicle, de 1936, e Helios, de Acts of Light (1981). Além da coreografia, também figurinos e cenografia obedeceram às criações originais de Graham. Para alunos e público, tais programas representaram experiências singulares, além de uma aula de história da dança moderna. Disposta a mostrar que a dança é território do encontro, onde clássico, moderno e popular podem ser apropriados por diferentes biotipos e personalidades, Susana Yamauchi ficou à frente da direção da EDASP até o primeiro semestre de 2017, quando foi substituída por Priscila Yokoi. A bailarina Priscila Yokoi foi nomeada para a direção da EDASP pelo então Secretário Municipal de Cultura André Sturm. Com Priscila Yokoi, a EDASP voltou a cultivar a tradição do balé clássico. Visando alto desempenho técnico, o tipo físico dos alunos novamente tornou-se condição indispensável. Participações em festivais competitivos também entraram na agenda. Além do objetivo de formar bailarinos essencialmente clássicos, o teatro musical tornou-se outra meta e por isso passou-se a enfatizar o ensino de
canto, sapateado e teatro. O nome da escola foi alterado por Priscila, que passou a chamá-la de Escola de Dança do Theatro Municipal de São Paulo, mesmo sem oficialização por meio de um decreto. Em setembro de 2019, Priscila Yokoi foi substituída por Luiz Fernando Bongiovanni, bailarino e coreógrafo com experiência em companhias internacionais e presença expressiva na dança contemporânea de São Paulo. Em menos de seis meses, Bongiovanni preferiu voltar a ser artista independente e deixou a direção da instituição, que resgatou o nome de Escola de Dança de São Paulo.
2020: celebração de 80 anos em meio ao desafio mundial da pandemia No ano de 2020, que marca os 80 anos da Escola de Dança de São Paulo, o mundo vive uma situação inédita e dramática: a pandemia do novo coronavírus. No dia 24 de março de 2020, o Governo de São Paulo determinou quarentena em todo o Estado e, pela primeira vez na história a capital paulista parou, refletindo o que já ocorria no mundo. Aeroportos paralisados, ruas vazias, estabelecimentos comerciais fechados, população confinada em casa, aglomerações banidas, trouxeram um silêncio incomum à cidade mais frenética e populosa do Brasil, então com 12.325.232 habitantes, quase dez vezes mais do que quando a Escola foi fundada. No momento em que este livro está sendo finalizado, em dezembro de 2020, a COVID-19, doença provocada pelo novo coronavírus, já matou quase 180 mil brasileiros (segundo dados oficiais, sem contar as subnotificações). No Estado de São Paulo, há quase 1,3 milhão de pessoas infectadas, mais de 43 mil óbitos, sendo quase 15 mil na capital. Uma nova
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rotina se tornou obrigatória. Além do uso de máscaras por todos e rotinas de higienização, o distanciamento social também virou regra — e com isso os teatros fecharam.
colas do mundo), enfrentando o imenso desafio de prover seus alunos com aulas on-line — implantadas com a urgência criada pela chegada súbita da pandemia.
Profundamente afetada, a dança, assim como outras artes, tornou-se uma manifestação virtual. O uso da internet e das redes sociais se potencializou, passando a representar o principal meio de relacionamento entre as pessoas. As aulas e apresentações — aquelas que conseguem meios de produção — são transmitidas on-line, para telas de smartphones e computadores, por meio de redes sociais e aplicativos de serviços de conferência remota. Sob os desafios da pandemia, artistas, companhias de dança, instituições culturais, resistem por meio da reinvenção virtual. Na perspectiva de uma vacina capaz de resgatar a normalidade em 2021, a sensação geral é de incerteza e insegurança.
O ano letivo de 2020 também marcou o início da gestão de Cristiana de Souza na direção da EDASP. Bailarina, coreógrafa e professora, Cristiana se criou em meio à dança. Filha de Penha de Souza, mestra que expandiu horizontes na dança brasileira, irmã de mais duas artistas da dança, Cassia e Claudia, com as quais já manteve grupos de dança contemporânea que se destacam na cena paulistana, Cristiana ingressou na EDASP na gestão de Esmeralda Penha Gazal. Com instrumental amplo e visão polivalente para gerir o ensino da dança no século 21, em uma cidade diversa e potente como São Paulo, ela exercita, em 2020, o desafio de construir estratégias para garantir o aprendizado à distância de centenas de alunos.
Também diretamente afetada, a Escola de Dança de São Paulo foi obrigada a cancelar aulas presenciais (assim como todas as es-
Em versão on-line, a Escola chega ao final de 2020 com seu programa de ensino realizado e até progressos de alunos que contaram
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Na página ao lado, Cristiana de Souza, diretora da EDASP a partir de 2020, com Júlio Domingos, no espetáculo Sons, da Cia. Danças (2010). Acima, sala de aula na Praça das Artes em 2020, ano da pandemia do novo coronavírus. Alunos: Hellen Fernandes e Isac Soares.
com o empenho visceral dos professores para que o aprendizado não fosse interrompido. Aos 80 anos, a EDASP tem o desafio não só de enfrentar a pandemia do novo coronavírus, como também de se transformar em instituição de ensino referencial, capaz de atender a diversidade de demandas da metrópole paulistana e também da arte contemporânea. Companhias de dança, hoje, no Brasil e no mundo, pedem bailarinos com versatilidade e instrumental amplo, capazes de se expressar por meio da dança clássica e dos mais variados recursos das artes do corpo. Pedem também mentalidades receptivas para a experimentação, as novas possibilidades, a reflexão permanente sobre o fazer artístico e seus significados — além de soluções de sustentabilidade diante dos desafios da produção cultural e da arte como profissão.
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Ao mesmo tempo, a demanda inclusiva — ao invés da excludente — amplia as finalidades da EDASP em direção à formação de profissionais capazes de atuar em áreas diversas da cultura. Dentro de uma estrutura pública que, no Brasil, ainda impõe descontinuidades dependendo das instabilidades e disputas políticas, a EDASP está cercada de desafios mas também de conquistas. Hoje, as instalações da EDASP, na Praça das Artes, possuem padrão de excelência compatível com as melhores instituições do ensino das artes no mundo. Inserida na área de 29 mil m² deste moderno centro cultural encravado no centro paulistano, divide espaços com os seis corpos artísticos do Theatro Municipal — Balé da Cidade de São Paulo, Orquestra Sinfônica Municipal, Orquestra Experimental de Repertório, Quarteto de Cordas, Coral Lírico e Coral Paulistano. Na Praça das Artes, a antiga dispersão em pontos diferentes da cidade, deu lugar à integração em lugar adequado e inspirador. Do poder público, a EDASP demanda a prioridade que lhe é devida, para se firmar e cumprir seu papel fomentador e formador, dentro de uma visão democrática de fruição e compartilhamento de saberes. Aos 80 anos, por meio deste seu primeiro livro, produzido em meio aos desafios da pandemia, a EDASP preenche lacunas de sua memória, procurando proporcionar compreensão sobre sua história e seu papel na dança brasileira.
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Alunos dançam, nas instalações da EDASP na Praça das Artes.
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No início da década de 1990, o então diretor da Escola Municipal de Bailado, Acácio Ribeiro Vallim Júnior, convidou o fotógrafo Gal Oppido para registrar o dia a dia da instituição. A experiência resultou em uma exposição fotográfica, apresentada no saguão da Escola. “O contato dos alunos com o corpo, com a expressão do movimento, eu acho muito importante, não importa se eles vão se vincular ou não a uma companhia, se vão atuar ou não no espaço da dança”, diz Gal, cuja obra artística é marcada por leituras do corpo. “Há uma coreografia emocional que cerca essa iniciação à vida através da dança”. Parte das fotos desta exposição estão nas páginas seguintes.
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Ensaio fotogrĂĄfico de Gal Oppido DĂŠcada de 1990
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Parque do AnhangabaĂş e regiĂľes circunvizinhas (1938). 112
Nos Baixos do Viaduto
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Instalada na cúpula do Theatro Municipal quando foi fundada, a Escola Experimental de Dança Clássica mudou-se para os baixos do Viaduto do Chá em 1943, por iniciativa do então prefeito Prestes Maia. O crescente número de alunos exigia espaços mais amplos e adequados para as aulas de balé. Esta demanda foi suprida no ventre do primeiro viaduto da cidade de São Paulo, onde a Escola passou a funcionar, até 2013, com entrada voltada para a Praça Ramos de Azevedo.
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Sala de ensaio
Sala de aula
Sala de aula
Sala de aula
Sala de aula
Entrada
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1m
5m
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Instalações da Escola nos Baixos do Viaduto do Chá Planta do piso térreo 115
Rua Formosa
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Rua Xavier de Toledo
Rua Xavier de Toledo
Instalações da Escola nos Baixos do Viaduto do Chá Cortes Sem escala
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Entrada da Escola Municipal de Bailado na dÊcada de 1980, com vista para a Praça Ramos de Azevedo.
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Acima, apresentação de espetáculo de final de ano no Theatro Municipal de São Paulo, em 1959: Minueto de Paderewski, coreografia de Maria Helena Teixeira, com alunas do 3º ano. Em primeiro plano, dançando nas pontas (da sapatilha): Maria Ângela D’Andrea. Ajoelhadas, a partir da esquerda: Mercia Panzutti, Sônia Mota e Maria Lucia Rossi. Na página ao lado, acima, apresentação no salão nobre da Escola Experimental de Dança Clássica, em 1959, em festa de aniversário de Clarice Pinto, que exercia o cargo de Encarregada da Escola. Coreografia: Flauta de Bambu, sobre música de Tchaikovsky, com coreografia de Maria Helena Teixeira. Alunas, a partir da esquerda: Mercia Panzutti, Maria Ângela D’Andrea e Maria Lucia Rossi. Na página ao lado, professora Maria Helena Teixeira em 1957, com alunas do 1º ano da Escola Experimental de Dança Clássica. A partir da esquerda, ajoelhada: Maria Ângela D’Andrea.
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Na página ao lado e acima: Aracy de Almeida em Valsa do Espaço, coreografia de Marília Franco, e no balé Dom Quixote. Década de 1970.
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Acima, professores do método do Royal Ballet, em visita à Escola. Sentadas no chão: Siwa, nome artístico de Muni Carnewal, com sua assistente (à esquerda) e Maria Ângela D’Andrea (à direita). Em pé, a partir da esquerda: Verônica Coutinho, Aracy de Almeida, Tatiana Leskova, Toshie Kobayashi, Marília Franco e Wilson Lima. Na página ao lado, acima, professora Aracy Evans e dr. Carlos Rizzini, então Secretário de Cultura do Município de São Paulo, com alunas do 5º e 6º anos (1961/1962). Na página ao lado, professora Maria Helena Teixeira com alunas do 2º ano (1958).
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Acima, Maria Ângela D’Andrea e Wilson de Lucca em O Cavaleiro da Rosa (1962). Na página ao lado, alunas da escola em ensaio, 1999.
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Sala de descanso da Escola Experimental de Dança Clássica, 1947. Aracy Evans (com pernas para cima), David Dupré (sentado). Siwa e Lia Marques (sentadas no banco). Sem identificações para os demais.
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Acima, Aracy de Almeida, Joshey Leão e Toshie Kobayashi. Na página ao lado, acima, Aracy Evans e a aluna Cristina Lacava. Década de 1970. Na página ao lado, professora Valerie Taylor, do Royal Ballet, em dia de exame sobre o método inglês (1974).
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Cenas de ensaios de alunas do 8ยบ ano, na Escola Municipal de Bailado (1991).
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Ensaios de alunas na Escola Municipal de Bailado (1991).
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Sra. Esmeralda Lucena, funcionรกria da Escola, e aluna, na entrada da Escola Municipal de Bailado (1991). 137
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Alunas nos corredores da Escola Municipal de Bailado, depois da reforma das instalaçþes (1991).
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Alunas da Escola Municipal de Bailado (1991).
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Ensaio de alunos da Escola Municipal de Bailado (1991).
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Alunas da Escola Municipal de 144(1991). Bailado
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Alunas da Escola Municipal de Bailado (1991). 146
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Alunas da Escola Municipal de Bailado (1991). 148
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Mascote da Escola Municipal de Bailado (1991).
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Ensino como filosofia de vida A gaúcha Katiah Rocha ingressou na então Escola Experimental de Dança Clássica em 1968, aos 11 anos de idade. Sua família havia se mudado para São Paulo havia quase dois anos e a dança já se manifestava como talento nato na garota que, ao chegar na capital paulista, se encantou com o Theatro Municipal e disse a seu pai que queria morar naquele castelo. “Entrei no segundo ano da Escola e minha primeira professora foi Aracy Evans. Depois estudei com Aracy de Almeida e na fase final com Marília Franco e Joshey Leão. Me formei com Gil Saboya que, para mim, é o mestre dos mestres. Aprendi a ser professora com ele”, diz Katiah. Para Katiah, a Escola e seu cotidiano fazem parte de sua vida. Professora há quase 40 anos, hoje ela é a mestra de carreira mais longeva da EDASP. “Sempre quis ser professora”, afirma. Katiah chegou a dançar no Corpo de Baile Municipal, no início da gestão de Antonio Carlos Cardoso, em 1974. No entanto, a carreira de professora foi se impondo e, a partir de 1981, por intermédio de Ady Addor, foi efetivada no corpo docente da escola dos baixos do Viaduto do Chá. “A Escola tem a função não só de proporcionar qualidade técnica e artística para o aluno, mas fazer dele um indivíduo, um formador de opinião, e o professor tem de ter um olhar especial para isso”, ela pondera, enumerando disciplina, respeito e generosidade como as três principais qualidades que nortearam seu aprendizado e depois também conduziram os seus ensinamentos.
Katiah Rocha, dando aula na Escola de Dança de São Paulo.
Para os atuais alunos da EDASP, Katiah Rocha representa uma fonte de aprendizado intimamente ligada a grande parte da história da Escola.
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Em 2013, quando completou 73 anos, a antiga Escola Municipal de Bailado passou a chamar-se Escola de Dança de São Paulo e deixou de funcionar nos baixos do Viaduto do Chá para ocupar dois andares nas modernas instalações da Praça das Artes — o complexo cultural inaugurado um ano antes, em uma área de 29 mil m2, a poucos passos do Theatro Municipal. Como uma praça aberta para a cidade e o público que circula na área, o conjunto arquitetônico se desenvolve em direção ao Vale do Anhangabaú (rua Formosa), avenida São João e rua Conselheiro Crispiniano. Integrando os corpos artísticos do Theatro Municipal, a Praça das Artes compõe um local inspirador, que contém a história e também aponta para o futuro das artes e da Escola de Dança de São Paulo.
Praรงa das Artes
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A Praรงa das Artes, encravada no centro histรณrico de Sรฃo Paulo.
Entrada da Praça das Artes pelo Vale do Anhangabaú.
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Representação esquemática da implantação urbana da Praça das Artes Edifício principal Trecho do edifício principal onde está instalada a EDASP Áreas externas de circulação de pedestres
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Entrada da Praรงa das Artes pela Rua 158 Conselheiro Crispiniano.
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Acima, recepção da Escola de Dança de São Paulo, no 4º andar da Praça das Artes. Na página ao lado: o projeto arquitetônico da Praça das Artes integra história e modernidade ao abraçar o antigo prédio tombado do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, construído em 1886, e as instalações inauguradas no século 21.
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Acima, sala de convivência — EDASP/Praça das Artes. Alunos: Hellen Fernandes e Isac Soares (2020). Na página ao lado, acima, corredor da EDASP/Praça das Artes. Alunos: Hellen Fernandes e Isac Soares (2020). Na página ao lado, embaixo, sala de concertos e apresentações do Conservatório, na Praça das Artes. Aluna: Hellen Fernandes (2020).
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Acima, espetáculo Kronos e Kairós (2013). Na página ao lado, acima, espetáculo Pinochianas. À frente dos alunos, Daniela Stasi (2012). Na página ao lado, ensaio de alunos na Praça das Artes (2019).
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Acima, e na página ao lado, Mostra Ciclo Fundamental, gestão de Susana Yamauchi, na Sala do Conservatório, na Praça das Artes (2015). Próximas páginas, Ateliê Acadêmico na Sala do Conservatório (2018).
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Nas páginas anteriores, bastidores de ensaios de mostra de dança — EDASP/Praça das Artes e Galeria Olido (2015). Acima, danças brasileiras em festa junina — Sala de Convivência EDASP/Praça das Artes (2015)
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Espetáculos Década de 2010
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Espetรกculo Lagos, coreografia de Mariana Muniz, com o Corpo de Baile Jovem, gestรฃo de Esmeralda Penha Gazal (2007).
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Alunos do 7ยบ ano na coreografia Simbiose, de Luiz Fernando Biogiovanni (2013).
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Danças Percussivas, espetáculo de 2014, no Theatro Municipal de São Paulo, com participação de alunos da Escola de Música.
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Nesta página, e ao lado, espetáculo Nós do Bambu, de 2013, na Praça das Artes. Nas próximas páginas, apresentação de Helios, de Acts of Light, de Martha Graham, no Theatro Municipal de São Paulo (2014).
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Acima, coreografia Sonho de Valsa, de Wilson Helvécio, para o Balé Jovem de São Paulo (2015). Na página ao lado, acima, coreografia Linguagem das Flores, de Raymundo Costa, para o Balé Jovem de São Paulo (2015). Na página ao lado, Danças para Piano, coreografia de José Ricardo Tomaselli — Atelier Balé Jovem com alunos do 6° ano da EDASP (2014).
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Acima, Passagem, coreografia de Duda Braz. Atelier Balé Jovem com alunos do 8º ano da EDASP (2014). Na página ao lado, acima, espetáculo Valsa para Julieta (2014). Na página ao lado, Concerto ao Revés, coreografia de José Ricardo Tomaselli. Atelier Balé Jovem com alunos do 7º ano da EDASP (2014).
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Acima, Thinking About You, coreografia de Lourenço Homem. Atelier Balé Jovem 2012, Teatro Cacilda Becker. Na página ao lado, Os Muffins, coreografia de Fernando Martins. Atelier Balé Jovem 2012, Teatro Cacilda Becker. Nas próximas páginas, alunas do 1º ano com a professora Virginia Abbud, bastidores de A Flauta Mágica, de Mozart. Sala de Convivência da Praça das Artes (2019).
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Memรณria grรกfica
Programas Década de 1960 Além da participação nas óperas e dos espetáculos que realizava no Theatro Municipal e nos teatros de bairros da prefeitura, o grupo de bailarinos da escola dançava em uma variedade de eventos, em geral acompanhados pela Orquestra Sinfônica Municipal. A maratona de apresentações colocava a Escola Experimental de Dança Clássica na roda dos acontecimentos da cidade de São Paulo, ainda sem companhias profissionais atuantes. A pequena amostragem reunida nas páginas seguintes integra o acervo pessoal de Maria Helena Mazzetti, ex-aluna, bailarina e professora da Escola.
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MarĂlia Franco Mozart Xavier 212
Joshey LeĂŁo Norma Mazzella
Maria Ângela D’Andrea Wilson de Almeida 213
Michel Barbano Maria Helena Mazzetti
Documentos cotidianos Décadas de 1950 e 1960 Cada aluno da Escola Experimental de Dança Clássica tinha sua ficha de inscrição. Muitos destes alunos transformaram-se em profissionais importantes da dança de São Paulo e do Brasil — dentre eles Marilena Ansaldi (ao lado) e Iracity Cardoso (Iracity Segreto, na página seguinte).
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Programas Década de 2010 No século 21, a Escola de Dança de São Paulo intensificou a perspectiva de expandir horizontes pedagógicos e artísticos. Repertórios em sintonia com a contemporaneidade passaram a ser mais explorados, proporcionando conhecimentos sobre processos diferenciados de construção coreográfica.
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A Escola durante a pandemia
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Raízes Minha chegada na então Escola Municipal de Bailado foi um tanto nervosa, afinal eu cuidaria da disciplina de Dança Moderna no lugar da grande mestra Ruth Rachou, que estava se aposentando. Lugar de respeito, honra e muita responsabilidade. Por muitos anos acompanhei e fiz parte desta formação, passando por algumas gestões, conhecendo profissionais sensacionais, somando aprendizado, trocando experiências, apresentando a dança e a arte aos inúmeros alunos que passaram por mim neste percurso. No início deste ano, a convite da direção geral da Fundação Theatro Municipal de São Paulo, assumi a coordenação da Escola de Dança de São Paulo e por um instante me lancei ao passado, naquele momento um tanto nervoso em que me encontrava quando cheguei aqui, mas algo estava diferente, havia a experiência adquirida nesses tantos anos de casa. Com isso assumi o cargo e a pandemia assumiu o mundo, foi imenso o desafio de manter a escola funcionando em modo on-line, e agora, ao final do processo, posso olhar e ver que conseguimos, somos vitoriosos e privilegiados por estar aqui. A parceria com as famílias, alunos e equipe, baseada em respeito, resiliência e amor, proporcionou um resultado além das expectativas neste estranho 2020. Este livro celebra os 80 anos desta instituição, e celebra também a vida, mostrando que somos capazes de grande superação quando acreditamos. Eu acredito nesta escola, nesta formação, acredito no movimento que traz novas possibilidades, que preserva a tradição e que se renova junto aos tempos. Como dizia minha incrível mestra, minha inspiração, minha mãe, “hoje me sinto raiz, meus frutos se desprendem e seguem, na dança, na arte”, e assim sinto também a Escola de Dança de São Paulo. Cristiana de Souza Coordenadora Artística da Escola de Dança de São Paulo
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Armando Aurich Christiana Sarasidou Cristina Shimizu
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Denise Passos Emanuele Artieri Flavio Lima
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Flora Gomes Gabriel Bueno Guilherme Oliveira
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Gustavo Lopes Iryna Kosareva Joseph Lopes
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Katiah Rocha LetĂcia Tadros Liana Zakia
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Liliane de Grammont Luciana Nunes Melina Sanches
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Paulo VinĂcius Silvana de Jesus Silvana Franzoi
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Thais de Assis Virginia Abbud Wagner Santos
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Welton Nascimbene Milton Kenedy e alunos
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Sabine Marion e alunos Yaskara Manzini e alunos
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Equipe da Escola de Danรงa de Sรฃo Paulo
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Pianistas
Pianistas e percusionistas
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ÍNDICE DE IMAGENS e d c b
esquerda direita cima baixo
Capa e contracapa Alunas 1991 Gal Oppido Centro de Documentação e Memória da FTM p. 2 Espetáculo Paquita 1966 Sem identificação de autoria Centro de Documentação e Memória da FTM p. 3 Suite de Don Quixote 2018 Silvia Machado Centro de Documentação e Memória da FTM p. 4 Formandas Meados do século 20 Sem identificação de autoria Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 20 Maria Olenewa Início do século 20 Sem identificação de autoria Acervo da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa
p. 33 Maria Olenewa Meados do século 20 Mandel Acervo do Teatro Municipal do Rio de Janeiro
p. 21 Programa da Escola Municipal de Bailado 1979 Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 34 e 35 c Entrada da Escola Municipal de Bailado 1972 Camerindo Ferreira Máximo Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo
p. 21 Programa, formandos 2011 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 21 Praça das Artes 2012 Nelson Kon p. 22 e 23 Esquina da Rua Líbero Badaró com o Viaduto do Chá 1946 Aristodemo Becherini Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo
p. 5 Formandas 2019 Sem identificação de autoria Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 24 e 25 Vale do Anhangabaú 1938 Benedito Junqueira Duarte (BJ Duarte) Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo
p. 6 Aluna 1991 Gal Oppido Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 27 Programa do Theatro Municipal 1916 Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 7 Isac Soares 2020 Noelia Nájera Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 28 e 29 Vale do Anhangabaú 1943 Benedito Junqueira Duarte (BJ Duarte) Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo
p. 12 e 13 Alunas 1991 Gal Oppido Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 30 Vaslav Veltchek 1942 Sem identificação de autoria Acervo Magali Franco
p. 20 Vale do Anhangabaú 1943 Benedito Junqueira Duarte (BJ Duarte) Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo
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p. 31 Vaslav Veltchek e à direita Norma Mazzella 1957 (ano aproximado) Sem identificação de autoria Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 34 e 35 b Sala de aula da Escola Municipal de Bailado 1972 Camerindo Ferreira Máximo Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo p. 36 Maria Olenewa Início século 20 Sem identificação de autoria Acervo da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa p. 37 Maria Olenewa e Anna Pavlova 1920 Sem identificação de autoria Acervo da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa p. 38 Maria Meló Início da década de 1960 Sem identificação de autoria Acervo Maria Helena Mazzetti p. 39 Marilia Franco 1974 (aproximado) Sem identificação de autoria Acervo Magali Franco p. 40 Marília Franco 1942 (aproximado) Kojima Acervo Magali Franco p. 43 Marília Franco e aniversariantes 1965 (ano aproximado) Sem identificação de autoria Acervo Magali Franco p. 44 e 45 Marília Franco Meados do Século 20 Sem identificação de autoria Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 47 c Esplanada do Theatro Municipal 1946 Sem identificação de autoria Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo p. 47 b Ensaio das alunas 1972 Camerindo Ferreira Máximo Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo p. 48 Maria Helena Teixeira e Maria Ângela D’Andrea 1959 Studio Salles Acervo Maria Ângela D’Andrea p. 49 e Maria Helena Mazzetti 1964 Sem identificação de autoria Acervo Maria Helena Mazzetti p. 49 d Maria Helena Mazzetti 1952 Sem identificação de autoria Acervo Maria Helena Mazzetti p. 51 c Maria Ângela D’Andrea, Benito Maresca, Niza de Castro e Waldívia Rangel 1974 Allota Acervo Maria Ângela D’Andrea p. 51 b Maria Ângela D’Andrea , Francisco Greco, Gil Saboya e Joshey Leão 1964 Souza Aranha Acervo Maria Ângela D’Andrea p. 52 Marília Franco com alunas Entre 1958 e 1959 Sem identificação de autoria Acervo Magali Franco p. 53 Marilia Franco ao centro e alunos Entre 1947 e 1980 P. Salles Acervo Maria Ângela D’Andrea p. 54 Concertos Matinais Mercedes Benz Meados do Século 20 Sem identificação de autoria Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 55 Grande Gincana Kibon 1960 Sem identificação de autoria Acervo Maria Helena Mazzetti
p. 68 Klauss Vianna 1989 Juvenal Pereira Acervo familiar
p. 82 Espetáculo Steps in the Street 2013 Sem identificação de autoria Acervo Susana Yamauchi
p. 56 Concerto de Chopin (Chopinianas) no Theatro Municipal 1952 Sem identificação de autoria Acervo Gil Saboya
p. 69 Klauss Vianna 1989 Juvenal Pereira Acervo familiar
p. 83 Espetáculo Pinochianas 2012 Ronaldo Aguiar Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 57 e Marilia Franco e Joshey Leão 1972 Folha de São Paulo Acervo Maria Ângela D’Andrea p. 57 d Aracy de Almeida e Joshey Leão 1971 Sem identificação de autoria Acervo Aracy de Almeida p. 58 Maria Ângela D’Andrea 1959 Sem identificação de autoria Acervo Maria Ângela D’Andrea p. 59 Formandas 1964 Sem identificação de autoria Acervo Maria Ângela D’Andrea p. 60 Retrato de Joshey Leão Década de 1970 Sem identificação de autoria Centro de Documentação e Memória da FTM p. 62 e 63 Professores da Escola Municipal de Bailado Década de 1970 Sem identificação de autoria Centro de Documentação e Memória da FTM p. 64 e 65 Aluna da Escola Municipal de Bailado 1991 Gal Oppido Centro de Documentação e Memória da FTM p. 66 Ady Addor 1956 (ano aproximado) Maurice Seymann Acervo das filhas de Ady Addor p. 67 Ady Addor na Escola Municipal de Bailado 1980 Sem identificação de autoria Acervo das filhas de Ady Addor
p. 70 Gil Saboya Entre 1982 e 1987 Sem identificação de autoria Acervo Gil Saboya p. 71 Maria Helena Teixeira, Gil Saboya, Marilena Ansaldi e Oleg Kusnetsoff Meados do século 20 Sem identificação de autoria Centro de Documentação e Memória da FTM p. 73 Acácio Ribeiro Vallim Júnior e equipe 1991 Gal Oppido Acervo do Centro de Referência da Dança p. 74 Acácio Ribeiro Vallim Júnior com alunas 1991 Gal Oppido Centro de Documentação e Memória da FTM p. 75 Esmeralda Penha Gazal 1973/1974 Gerson Zanini Acervo de Esmeralda Penha Gazal p. 76 e 77 Esmeralda Penha Gazal 2013 Clarissa Lambert Acervo de Esmeralda Penha Gazal p. 79 Aracy Evans com alunas 1974 Sem identificação de autoria Acervo de Aracy Evans p. 80 e 81 Entrada da Praça das Artes pelo Vale do Anhangabaú 2019 Nelson Kon
p. 86 Cristiana de Souza e Júlio Domingos 2010 Gil Grossi Acervo de Cristiana de Souza
p. 118 Entrada da Escola Municipal de Bailado 1972 Camerindo Ferreira Máximo Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo p. 119 c Entrada da Escola Municipal de Bailado Década de 80 Viana p. 119 b Jardim do Vale do Anhangabaú Década de 80 Viana
p. 87 Alunos Hellen Fernandes e Isac Soares 2020 Noelia Nájera Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 120 c Mercia Panzzutti, Maria Ângela D’Andrea e Maria Lúcia Rossi — Salão Nobre da Escola Municipal e Bailado 1959 Foto Estúdio Salles Acervo Maria Ângela D’Andrea
p. 89 Alunos Hellen Fernandes e Isac Soares 2020 Noelia Nájera Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 120 b Maria Helena Teixeira com alunos 1957/1958 Sem identificação de autoria Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 90 à 111 Ensaio Fotográfico 1991 Gal Oppido Acervo do Centro de Referência da Dança
p. 121 Maria Ângela D’Andrea, da esquerda para a direita: Mercia Panzzutti, Sônia Mota e Maria Lúcia Rossi 1959 Stúdio Salles Acervo Maria Ângela D’Andrea
p.112 e 113 Vale do Anhangabaú 1938 Benedito Junqueira Duarte (BJ Duarte) Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo p. 114 e 115 Cortes da Planta da Escola nos Baixos do Viaduto do Chá 2020 Gustavo Tonelli Migliari Jade Monique Honório da Silva Bruno Vinicius Santana Amorim p. 116 e 117 Cortes da Planta da Escola nos Baixos do Viaduto do Chá 2020 Gustavo Tonelli Migliari Jade Monique Honório da Silva Bruno Vinicius Santana Amorim
p. 122 Aracy de Almeida 1972 Sem identificação de autoria Acervo Aracy de Almeida p. 123 Aracy de Almeida 1972 Sem identificação de autoria Acervo Aracy de Almeida p. 124 c Aracy Evans e Secretário de Cultura e Dr. Carlos Rizzini 1961/1962 Salles Acervo Maria Ângela D’Andrea p. 124 b Maria Helena Teixeira com alunas 1958 Salles Acervo Maria Ângela D’Andrea
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p. 125 Professores do método Royal Ballet 1970 Sem identificação de autoria Acervo Maria Ângela D’Andrea
p. 135 Ensaio de alunas 1991 Gal Oppido Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 148 e 149 Alunas nos corredores da Escola 1991 Gal Oppido Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 126 Ensaio 1999 Adri Felden Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 136 e 137 Sra. Esmeralda Lucena e aluna na entrada da escola 1991 Gal Oppido Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 150 Mascote da Escola Municipal de Bailado 1991 Gal Oppido Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 138 c Alunas nos corredores da Escola 1991 Gal Oppido Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 151 Katiah Rocha 2018 Thaís Quintiliano Acervo Particular
p. 127 Maria Ângela D’Andrea e Wilson de Lucca, 1962 Salles Acervo Maria Ângela D’Andrea p. 128 e 129 Alunos na sala de descanso 1947 Sem identificação de autoria Acervo Aracy Evans p. 130 Aracy de Almeida, Joshey Leão e Toshie Kobayashi Década de 1970 Sem identificação de autoria Acervo Aracy Evans p. 131 c Aracy Evans e Cristina Lacava Década de 1970 Sem identificação de autoria Acervo Aracy Evans p. 131 b Professora Valery Taylor e alunos 1974 Sem identificação de autoria Acervo Aracy Evans p. 132 Ensaio de alunas 1991 Gal Oppido Centro de Documentação e Memória da FTM p. 133 Ensaio de alunas 1991 Gal Oppido Centro de Documentação e Memória da FTM p. 134 Ensaio de alunas 1991 Gal Oppido Centro de Documentação e Memória da FTM
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p. 138 b Aula na Escola Municipal de Bailado 1991 Gal Oppido Acervo do Centro de Referência da Dança p. 139 Alunas nos corredores da Escola 1991 Gal Oppido Centro de Documentação e Memória da FTM p. 140 e 141 Alunas 1991 Gal Oppido Centro de Documentação e Memória da FTM p. 142 e 143 Ensaios 1991 Gal Oppido Centro de Documentação e Memória da FTM p. 144 e 145 Alunas 1991 Gal Oppido Centro de Documentação e Memória da FTM p. 146 Ensaio 1991 Gal Oppido Centro de Documentação e Memória da FTM p. 147 Alunos nos corredores da Escola 1991 Gal Oppido Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 152 e 153 Praça das Artes 2013 Nelson Kon p. 154 e 155 Praça das Artes 2019 Nelson Kon p. 156 Vista da entrada da Praça das Artes pelo Vale do Anhangabaú 2019 Nelson Kon p. 157 Mapa da localização da Praça das Artes 2020 Homem de Mello e Troia Design
p. 164 e 165 Alunos Hellen Fernandes e Isac Soares 2020 Noelia Nájera Centro de Documentação e Memória da FTM p. 166 c Corredor da EDASP Alunos Hellen Fernandes e Isac Soares 2020 Noelia Nájera Centro de Documentação e Memória da FTM p. 166 b Sala do Conservatório — Praça das Artes Aluna Hellen Fernandes 2020 Noelia Nájera Centro de Documentação e Memória da FTM p. 167 Sala de Convivência — Praça das Artes Alunos Hellen Fernandes e Isac Soares 2020 Noelia Nájera Centro de Documentação e Memória da FTM p. 168 e 169 Alunas 2019 Welton Nascimbene Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 158 e 159 Entrada da Praça das Artes na Rua Conselheiro Crispiniano 2013 Nelson Kon
p. 170 Espetáculo Kronos e Kairós 2013 Sem identificação de autoria Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 160 Sala do Conservatório e entrada da Praça das Artes na Av. São João 2013 Nelson Kon
p. 171 c Espetáculo Pinochianas 2012 Sem identificação de Autoria Acervo de Susana Yamauchi
p. 161 Recepção da EDASP 2020 Noelia Nájera Centro de Documentação e Memória da FTM p. 162 e 163 Alunos Hellen Fernandes e Isac Soares 2020 Noelia Nájera Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 171 b Ensaio de alunos 2019 Luciana Rizzo Centro de Documentação e Memória da FTM p. 172 e 173 Mostra Ciclo Fundamental na Sala do Conservatório 2015 Adriana Nogueira Acervo de Susana Yamauchi
p. 174 e 175 Ateliê Acadêmico na Sala do Conservatório 2018 Mayra Maris Centro de Documentação e Memória da FTM p. 176 e 177 Ensaios para Espetáculo Contos da Aldeia Adriana Nogueira Acervo Susana Yamauchi p. 178 Danças Brasileiras na Festa Junina 2015 Sem identificação de autoria Acervo Susana Yamauchi p. 179 Danças Brasileiras na Festa Junina 2015 Sem identificação de autoria Acervo Susana Yamauchi p. 180 e 181 Espetáculo Escuta Aqui Escuta Lá 2013 Sem identificação de autoria Acervo Susana Yamauchi p. 182 e 183 Espetáculo Lagos 2007 Silvia Machado Acervo Esmeralda Gazal p. 184 e 185 Espetáculo Simbiose 2013 Sem identificação de autoria Centro de Documentação e Memória da FTM p. 186 e 187 Espetáculo Danças Percussivas Silvia Masini Acervo Susana Yamauchi p. 188 e 189 Espetáculo Nós do Bambu na Praça das Artes 2013 Sem identificação de autoria Acervo Susana Yamauchi p. 190 e 191 Espetáculo Helios de Act of Lights 2013 Guilherme Licurgo Acervo Susana Yamauchi p. 192 c Espetáculo Linguagem das Flores 2015 Silvia Masini Acervo Susana Yamauchi
p. 192 b Espetáculo Danças para Piano 2014 Sem identificação de autoria Acervo Susana Yamauchi p. 193 Espetáculo Sonho de Valsa 2015 Adriana Nogueira Acervo Susana Yamauchi p. 194 Espetáculo Passagem 2014 Silvia Masini Acervo Susana Yamauchi p. 195 c Espetáculo Valsa para Julieta 2015 Silvia Masini Acervo Susana Yamauchi p. 195 b Espetáculo Concerto ao Revés 2014 Silvia Masini Acervo Susana Yamauchi p. 196 Espetáculo Thinking About You 2012 Cacá Meirelles Acervo Susana Yamauchi p. 197 Espetáculo Os Muffins 2012 Cacá Meirelles Acervo Susana Yamauchi p. 198 e 199 Alunas com Virginia Abbud 2019 Luciana Rizzo Centro de Documentação e Memória da FTM p. 200 e 201 Programa dos 75 Anos da Escola de Dança de São Paulo e Escola Municipal de Música de São Paulo Opera Estúdio 2015 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 203 Programa do Theatro Municipal 1960 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 204 e 205 Programa do Theatro Municipal 1964 Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 206 Programa do Theatro Municipal Grande Festival de Ballet Seleção dos Melhores Bailarinos 1959 p. 207 Programas do Theatro Municipal 1962 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 208 Programa do Theatro Municipal 1962 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 209 Programa do Theatro Municipal 1962 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 210 e 211 Programa do Teatro João Caetano 1965 Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 219 Ficha de inscrição da Escola Municipal de Bailado Gil Saboya e Maria Ângela D’Andrea 1957 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 220 Ficha de inscrição da Escola Municipal de Bailado Maria Helena Ansaldi (1957), Esmeralda Penha Gazal (1961), Aracy Evans (1957), Katiah Rocha (1968), Angela Nolf (1966) e Klauss Vianna (1950) Centro de Documentação e Memória da FTM p. 221 Ficha de inscrição da Escola Municipal de Bailado Sônia Mota (1961), Susana Yamauchi (1967), Marília Franco (1940), Toshie Kobaiashi (1958), Ivonice Satie (1960) e Yaskara Manzini (1977) Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 212 e 213 Primeira linha: Marília Franco, Joshey leão, Maria Ângela D’Andréa e Michel Barbano Segunda linha: Mozart Xavier, Norma Mazzella, Wilson de Almeida e Maria Helena Mazzetti Sem identificação de autoria Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 222 Bilhete de Gil Saboya 2000 Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 215 Ficha de inscrição da Escola Municipal de Bailado Maria Helena Ansaldi 1957 Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 224 e 225 Regimento da Escola 1947 Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 216 e 217 Ficha de inscrição da Escola Municipal de Bailado Iracity Segreto 1954 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 218 Ficha de inscrição da Escola Municipal de Bailado Aracy de Almeida e Maria Helena Mazzetti 1958 e 1957 Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 223 Mensagens no Livro de Ouro 2000 Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 227 Programa da Mostra da Escola de Dança de São Paulo 2015 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 228 Programa do Corpo de Baile Jovem 2011 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 229 Programa de Comemoração de 70 Anos da Escola Municipal de Bailado 2010 Centro de Documentação e Memória da FTM
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p. 230 e 231 Programas 10 Anos de Reativação do Corpo de Baile Jovem 2007 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 232 Programa Pinochianas na comemoração de 100 Anos do Theatro Municipal 2011 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 233 Programa Pinochianas 2012 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 234 Programa da Temporada da Escola de Dança de São Paulo 2012 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 235 Programa do Balé Jovem de São Paulo 2011 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 236 Programa 75 Anos da Escola de Dança de São Paulo 2015 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 237 Programa Dom Quixote 2019 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 238 e 239 Programa Dom Quixote 2019 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 240 e 241 Alunos e Yaskara Manzini 2020 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 244 Armando Aurich, Christiana Sarasidou e Cristina Shimizu 2020 Centro de Documentação e Memória da FTM
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p. 245 Denise Passos, Emanuele Artieri e Flavio Lima 2020 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 246 Flora Gomes, Gabriel Bueno e Guilherme Oliveira 2020 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 247 Gustavo Lopes, Iryna Kosareva e Joseph Lopes 2020 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 248 Katiah Rocha, Letícia Tadros e Liana Zakia 2020 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 249 Liliane de Grammont, Luciana Nunes e Melina Sanches 2020 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 250 Paulo Vinicius, Silvana de Jesus e Silvana Franzoi 2020 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 251 Thais de Assis, Virginia Abbud e Wagner Santos 2020 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 252 Welton Nascimbene Milton Kenedy e alunos 2020 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 253 Sabine Marion e alunos Yaskara Manzini e alunos 2020 Centro de Documentação e Memória da FTM
p. 254 Equipe EDASP Noélia Najera, Felipe Camarotto, Yeda Peres, Igor Lopes, Luciana Rizzo, Talita Cardeal, Cristiana Souza e Guilherme Oliveira 2020 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 255 c Pianistas Bia Francini, Matheus Alvisi, Ana Carolina Gouveia e Nilza Peres 2020 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 255 b Pianistas e percussionistas Cristina Carneiro, Rosely Chamma, Nilton Ramos, Denis da Silva Duarte, Janine Freitas, Claudia Padilha e Neném Menezes 2020 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 254 e 255 Frame detalhe de mãos Vianna 2010 Centro de Documentação e Memória da FTM p. 266 e 267 Praça das Artes 2019 Nelson Kon
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alves Guimarães, Maria Claudia. Chinita Ullman e os primórdios da dança moderna em São Paulo. São Paulo: Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (Tese de doutorado), 2003. Ansaldi, Marilena. Atos — Movimento na vida e no palco. São Paulo: Editora Maltese, 1994. Berezin Lafer, Josie. Dirigente cultural: Susana Yamauchi. São Paulo: Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (Cátedra Olavo Setúbal), 2018. Brandão, Ignácio de Loyola. Teatro Municipal de São Paulo — Grandes momentos. São Paulo: DBA Dórea Books and Art, 1993. Dias, Lineu. Corpo de Baile Municipal — Pesquisa 2. São Paulo: Área de Pesquisa em Artes Cênicas do Idart — Departamento de Informação e Documentação Artísticas da Secretaria Municipal de Cultura, 1980. Faro, Antonio José e Sampaio, Luiz Paulo. Dicionário de balé e dança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1989. Manzini, Yaskara Donizeti (organizadora). Centro de Referência da Dança da Cidade de São Paulo — A tradição e o cotidiano dançante no Vale do Anhangabaú. São Paulo: Secretaria Municipal de Cultura e Cooperativa Paulista de Dança, 2017. Mattos de Alcântara Pinto, Simone. A Escola Municipal de Bailado — Silêncio e movimento (1940-1992). São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (Tese de doutorado), 2002. Melgaço da Silva Júnior, Paulo. Escola Estadual de Dança Maria Olenewa — 75 Anos — A história que fez estórias. Rio de Janeiro: Imprinta, 2002. Nosek, Victor (organização). Praça das Artes. São Paulo: Azougue Editorial, 2013. Pavlova, Adriana. Maria Olenewa — A sacerdotisa do ritmo. Rio de Janeiro: Funarte (Série Memória), 2001. Sucena, Eduardo. A dança teatral no Brasil. Brasília: Fundacen — Fundação Nacional de Artes Cênicas do Ministério da Cultura, 1988. Theatro Municipal de São Paulo — 100 Anos — Palco e plateia da sociedade paulistana. São Paulo: Dado Macedo Produções Artísticas, 2011.
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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO Prefeito Bruno Covas Secretário Municipal de Cultura Hugo Possolo Secretária Adjunta Regina Silvia Pacheco
FUNDAÇÃO THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO Direção Geral Maria Emília Nascimento Santos Direção de Gestão Letícia Schwarz Direção Artística Ruby Vásquez Núñez Produção Executiva Gisa Gabriel Assessor da Direção Geral Radamés Marques
Contratos Artísticos Grazieli Araujo Guerra Marcia Helena Moutinho de Oliveira Marcio Santos da Silva Licitação e Contratos Anastacio Varsamis Alexandro Robson Bertoncini Mariana Menegassi Monitoramento de Contratos Natasha Borali Miriã Correira da Silva Orton Koiti Hirano Leonardo Camargo Oliveira dos Santos Denis Leandro Costa de Carvalho Assessoria Jurídica Rachel Samos Guardia João Paulo Alves Souza Kaique Maciel Marinho Equipe de Produção Executiva e Comunicação Enrique Bernardo dos Santos Luiz Henrique Bonfim da Silva Israel Pereira de Sá José Carlos de Souza José Lourenço da Silva Junior Paulo Henrique de Souza Secretaria das Escolas Aline Roberta de Souza Yara Gonçalves de Melo Supervisão de Recursos Humanos Viviane Bittencourt José Luiz Perroni Nocito
Supervisão de Finanças e Administração Priscila de Melo Silva Alipia de Santana Santos Marcio Aurelio Oliveira Cameirão Gabriela Ribeiro Zanardo Supervisão de Infraestrutura – Arquitetura Gustavo Tonelli Migliari Supervisão de Obras e Manutenção Narciso Martins Leme Supervisão de Informática Ricardo Martins da Silva Serufo Renato Santos Duarte Contínuo Pedro Bento do Nascimento Estagiários Allan Escolástico dos Santos Bruno Vinicius Santana Amorim Dayane Conceição da Silva Dolores Alves Batista Erick Barros Oliveira dos Santos Giovani Caldana Jade Monique Honório da Silva João Victor Camini Fortaleza Juliana Cristina Souza Santos Mauricio Silva Conserva Nycolle Vieira Gomes Ricardo Marques Campos Sara Macedo Cota
ESCOLA DE DANÇA DE SÃO PAULO Coordenadora Artística Cristiana de Souza Assistente Artístico Fellipe Camarotto Yeda Peres Auxiliares Artísticos Luciana Rizzo Talita Cardeal Noelia Najera Auxiliar de Produção Igor Ribeiro Lopes Administração Yara de Melo
Quadro Docente Ana Carolina Gouveia Armando Aurich Bia Francini Carlos Augusto Menezes Christiana Sarasidou Claudia Padilha Cristina Carneiro Cristina Shimizu Denis Duarte Denise Passos Emanuele Artieri Flavio Lima Flora Gomes Gabriel Bueno Guilherme Oliveira Gustavo Lopes Iryna Kosareva Janine de Freitas Joseph Lopes Leticia Tadros Liana Zakia Liliane de Grammont Luciana Nunes Matheus Alvisi Melina Sanches Nilton de Ramos Nilza Maria Peres Paulo Vinicius Rosely Chamma Sabine Marien Pisarra Silvana de Jesus Silvana Franzoi Thais de Assis Virginia Abbud Wagner dos Santos Welton Nascimbene Yaskara Manzini Professores da SMC Katiah Rocha Milton Kennedy Estagiários Andressa Batista de Souza Cláudio Perini Colavita Fabricio William Pasqual Borges Hugo Jose Damas Jessica Dantas de Araújo Kelly Cristina Lobo Marcela Rodrigues da Silva
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AGRADECIMENTOS ESPECIAIS Gal Oppido Nelson Kon AGRADECIMENTOS Acácio Ribeiro Vallim Júnior Adriana Assaf Ana Maria Gilioli Andreza Randizek Angel Vianna Angela Nolf Antonio Magnoler Aracy de Almeida Aracy Evans Beatriz Hack Betina Zacharias Camila Pupa Carolina Fagundes Carolina Franco Ciro Pereira Claudia Alves Guimarães Daniela Severian Duda Braz Elaine Calux Esmeralda Penha Gazal Fabiana Ikehara Fernando Guimarães Fernando Portari Gil Saboya Graziela Gilioli Hélio Bejani Hellen Fernandes Hulda Bittencourt Inês Bogéa Iracity Cardoso Isac Soares João Carlos Couto Juvenal Pereira Kátiah Rocha Lilia Rios Tsukuda Luana Nery Magali Ferraz Franco Marcos Cartum Marcos Mauro Rodrigues Maria Ângela D’Andrea Maria Helena Mazzetti Maria Helena Nepomuceno Marilena Ansaldi Marina Giunti Milly Pasqualini Neide Neves Neli Guedes Nina Canadari
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Paula Firetti Paulo Melgaço Raymundo Costa Renata Gardiano Renata Gilioli Pinard Ronaldo Martins Sandra Amaral Silvio Tsukuda Sônia Mota Sulla Andreato Susana Yamauchi Talita Bretas Thais de Assis Valéria Mattos Viana Vicente Sesso Yaskara Manzini Zelia Monteiro
FICHA TÉCNICA Pesquisa, entrevistas, edição e redação Ana Francisca Ponzio Projeto gráfico, edição de imagens Homem de Melo & Troia Design Organização e produção iconográfica Ruby Vásquez Núñez Assistente de produção iconográfica Luiz Bonfim Revisão Marcos Mauro Rodrigues
ISBN 978-65-993301-0-0
Todos os esforços foram investidos para reconhecer os direitos morais, de autoria e de imagem deste livro. A Fundação Theatro Municipal agradece qualquer informação relativa à autoria, titularidade e outros dados que estejam incompletos nesta edição e compromete-se a incluí-los nas futuras edições.
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REALIZAÇÃO