A ILHA DO RATO

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imigrantes-colonos, para povoar, trabalhar e desenvolver, o recém-criado e independente país do Rato, sito a escassos quilómetros de minha área de residência. De início não entendi muito bem como tal coisa tinha surgido de modo tão rápido, tão incomum e tão perto de mim. Jornais eram coisa que eu agora comprava espaçadamente devido a minha situação periclitante em termos financeiros. Algo que passara a artigo de luxo em muito pouco espaço de tempo, o que era uma pena, pois adoro ler jornais e estar informado. E igualmente porque as ofertas de emprego diminuíam de dia para dia como cogumelos em floresta apinhada de gente em actividade recolectora. E o pior era que os poucos anúncios de emprego aos quais me candidatava nem se davam ao trabalho de responder. Idade, situação de desemprego de longo termo, habilitações que não se encaixavam neste perfil, naqueloutro era a experiência profissional que me tramava, bom, um cano sem fim. Calhou por isso naquele dia ter comprado o jornal quase por casualidade na bomba de gasolina para dar de caras com aquela oferta inusitada. Dizia laconicamente assim: “Administração Geral do Rato, por iniciativa da Secretaria dos Assuntos Internos, recruta através deste meio, candidatos para colonizar, trabalhar e viver neste país. Todas as profissões são requeridas. Enviar CV junto com foto recente para o seguinte e-mail: rato_recruit@live.mail.com Provas de aptidão e de selecção a realizar dentro do prazo de 15 dias in itenere.” Atónito e surpreso, decidi saber algo mais acerca desta nova nação aqui nascida tão perto e de modo tão espontâneo. Consultei a internet, claro, mas pouca informação existia acerca do que raio era o Rato e como tinha sido parido. Muito menos acerca da administração geral e ainda menos acerca de contratações de pessoal colonizador. Parecia que um manto de mistério em forma de neblina cercava todo aquele assunto. Com alguma persistência consegui na biblioteca de minha zona, através da consulta de um nobiliário, recolher algumas informações dispersas acerca do que se tinha passado nos meses anteriores e comecei a formar uma ideia geral da génese de tão original país. Pois então vejamos. Há algum tempo atrás, mais coisa menos coisa, aquela ilha, do Rato mesmo, jura a toponímia original em antigos mapas bebida, propriedade de particular, foi colocada à venda. Os poucos interessados rapidamente fugiam do local após o visitarem. Feio, pantanoso e

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