revista 29HORAS - ed. 81 - julho 2016

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“as pessoas estão toMando reMédios deMais, e não Mais acreditaM eM si MesMas e no seu poder de cura”

Várias atletas americanas que usaram anabolizantes e estimulantes morreram aos 42 anos de infarto ou tornaramse totalmente imprestáveis física e psicologicamente para levar um dia a dia produtivo. Nessa Olimpíada, como estão as equipes que vão trabalhar contra a dopagem? Foram investidos milhões e milhões de dólares em equipamentos no Brasil, acho que eles estão preparados, mas há um backup na Grã-Bretanha para reanálise das provas. O problema do doping não está na análise, e sim na coleta de material. O pessoal que coleta tem que estar bem preparado. Tem que colher do atleta na hora certa, da pessoa certa, existe a ficha de custódia que é o documento mais importante, e que tem que ser bem preenchido. A nadadora Rebeca Gusmão tentou burlar justamente a coleta do material e teve a ajuda de outras pessoas. O futebol brasileiro, então, está cheio de buracos. A lei exige que se faça doping nos atletas, mas isso não é levado a sério como deveria ser. Quais são as substâncias que podem ser nocivas e estão ao alcance das pessoas em casa? São muitas. Não existe apenas o doping para reforçar o corpo, existe também o doping para obter alguma vantagem mental, para tirar a dor, para dormir, para esquecer os problemas amorosos, para relaxar, para se concentrar. A lista publicada pela Wada, a Agência Mundial Antidoping, inclui hoje mais de mil produtos proibidos. Entre eles, existem remédios para emagrecer, tranquilizantes, analgésicos, estimulantes. O fato de a pessoa recorrer constantemente a um remédio para aliviar ou para resolver seus problemas é um sinal de que está maltratando seu próprio corpo, e isso é doping. O uso da substância metilfinedato, a ritalina, aumentou

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400% em quatro anos no Brasil. Muitas professoras estão receitando, obrigando as mães a medicar as crianças. Os consultórios estão abarrotados de gente pedindo, só que o uso deve ser rigoroso, precisa ter o diagnóstico preciso. No ano retrasado, a Universidade de Harvard expulsou 125 alunos que usaram metilfinedato para conseguir uma nota melhor. Isso é doping. Muitas vezes, o uso de placebo resolve questões de pessoas dependentes em remédios. As pessoas estão tomando remédios demais, e não mais acreditam em si mesmas e no seu poder de cura. Qualquer resfriadinho do filho já correm para a farmácia. Remédios para gripe têm substâncias descongestionantes e anti-histamínicos que podem afetar o desenvolvimento neurológico e mental das crianças. Mas o pior disso tudo é que os pais estão passando a mensagem de que, se você sofre ou falta alguma coisa, qualquer remédio serve. Que há uma solução química para qualquer problema, seja ele físico, psicológico, amoroso. Em vez de envolver seu próprio corpo e sua própria mente, fortalecendo-se para enfrentar o problema, você usa um remédio para esquecer, para anestesiar ou para tratar apenas sintomaticamente um problema muito mais profundo. O senhor acredita na autocura? Eu sou chinês e acredito profundamente na filosofia oriental. Acredito que aguentar a dor é uma forma de promover a formação e o crescimento de uma pessoa: “no pain, no gain”. É importante mostrar para os filhos que é preciso se esforçar, e que é possível atingir os objetivos sem recorrer a substâncias químicas. Em qualquer sistema de doping, a duração do efeito é efêmera. Já o esforço fica como bônus para o resto da vida. Se você fizer uma dieta saudável, não há necessidade de substâncias. Precisa apenas do equilíbrio alimentar, de repouso correto e de exercício físico na medida certa.


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