Primeira Pauta Edição 152

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JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO IELUSC

OUTUBRO DE 2020 | EDIÇÃO 152 | GRATUITO

O outro lado da pandemia: isolamento social intensifica transtornos mentais

Estresse e ansiedade acumulados durante período de quarentena podem se manifestar por meio de sintomas físicos

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Venda de alimentos orgânicos cresce durante o primeiro semestre do ano - Página 7 Ciclones de menor intensidade ameaçam o sul do Brasil - Página 5


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| Opinião

primeira.pauta

Outubro, 2020

Editorial

Fernando Costa

É fato que muitos brasileiros precisam fazer malabarismos com seus salários para pagar todas contas, manter uma boa alimentação e pagar transporte (coletivo ou privativo). Muitas vezes o valor recebido não é o suficiente para todo o mês e, no fim das contas, por vezes é necessário escolher alguma coisa para deixar para trás. A pobreza não é uma invenção. Se você faz parte dos 27 milhões de trabalhadores do Brasil que recebem até um salário mínimo mensal, que hoje é R$ 1.045, é importante se perguntar: você consegue viver bem com o seu salário? Segundo uma pesquisa de agosto deste ano, realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário mínimo deveria estar em torno de R$ 4.500, ou seja, quatro vezes mais que o atual. Quem recebe os R$ 4.500 reais recomendados pelo Dieese, recebe mais do que 93% dos brasileiros. Porém esse valor constitui apenas 25% do salário de um deputado estadual, que é R$25.300. Santa Catarina tem a quarta melhor média salarial do país mas mesmo assim os R$2.200 não são metade do valor recomendado, conforme expõe ferramenta do Nexo Jornal, intitulada “O seu salário diante da realidade brasileira”. Nesta ferramenta é possível realizar vários comparativos de salários por estado e por cargos e visualizar o tamanho da desigualdade em algumas regiões do Brasil. Quem ganha um salário mínimo no Rio Grande do Sul por exemplo, recebe menos do que 70% das pessoas no estado e quem recebe um salário mínimo no Ceará, recebe mais do que 70% da população no estado. Essa diferença está bem explícita nos dados de 2019 do IBGE, que mostram que as regiões sudeste, centro-oeste e sul tiveram uma grande distância nos rendimentos mensais em relação ao nordeste e norte. As três primeiras regiões tiveram uma média mensal muito próximo de R$ 2.500, o que significou uma diferença de cerca R$ 900 a mais do que a renda média no norte e quase R$ 1.000 a mais do que a do nordeste. Refletir sobre esses dados é importante para ter consciência dos casos de pobreza no Brasil. As bolhas sociais em que vivemos acabam por nos cegar a uma realidade que passa despercebida. E ter consciência desses dados contribui para uma sociedade mais informada e menos ignorante. A existência de projetos sociais serve para diminuir esses problemas e em uma situação mais utópica erradicá-los de uma vez. Programas como o Bolsa Família ajudam na complementação de renda de muitas famílias. O Auxílio Emergencial durante essa pandemia foi e continua sendo fundamental para quem perdeu renda durante o momento em que vivemos.

Editor do Jornal O Mirante

O Brasil está em chamas literalmente e figurativamente Dois dos biomas mais ricos e importantes da face da Terra passam por um dos maiores incêndios das suas existências. Por um lado, a Amazônia, a floresta tropical com a maior biodiversidade do planeta; do outro, o Pantanal, considerado Patrimônio Natural Mundial pela ONU. Como um drama grego, as queimadas em duas regiões de relevância ímpar para o Brasil e para o mundo parecem ser uma manifestação física da frágil situação política e econômica de um país que cada vez mais cava o fundo do poço. Já não bastasse o desafio que a pandemia do novo coronavírus trouxe para toda a humanidade, o brasileiro vive em um país onde o cenário de terra arrasada atinge todos os aspectos necessários para a vida em sociedade: 12,9 milhões de desempregados; empregos informais superando os empregos formais; sistema de saúde pública em colapso; um país em calamidade pública e, agora, em chamas. E, como uma versão tupiniquim e cafona de Nero, o inquilino do Palácio da Alvorada assiste a um país em chamas, antes figurativamente e, agora, também literalmente. Em vez de tocar a sua lira e

Editor-chefe Roger Cardoso dos Santos

Expediente

Editor-executivo Bernardo Gonçalves dos Santos

Editores Arthur Lincoln, Bruna Souza, Cleiton Diretor Geral | Silvio Iung Roebster, Isadora Castro, Kevin Banruque, Diretor Ens. Superior | Paulo Aires Pedro Novais Coordenadora do Curso | Marília Crispi de Moraes Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo Rua Princesa Isabel, 438 - Centro Professor Responsável | Sandro Galarça 89201-270 | Joinville-SC (47) 3026-8000 jornalprimeirapauta@gmail.com

apreciar o espetáculo causado pela própria ineficiência, o presidente Bolsonaro prefere aproveitar seu tempo de discurso da Assembleia das Nações Unidas para fazer o que faz de melhor: espalhar fake news, não admitir os próprios erros e divergir a culpa dos acontecimentos para o próximo. A bola da vez foram os índios e os “caboclos”. Aparentemente, o agronegócio (que possui interesses econômicos históricos em ambos os biomas), o desmonte histórico nas organizações e legislações de proteção ambiental do país (“tocando a boiada por entre pandemias e chamas”) e o desprezo do homem ocupante do cargo supremo do Executivo do país pela questão ambiental pouco tem a ver com as queimadas. No mundo imaginário de Bolsonaro, a culpa dos mais de seis mil registros de incêndios no Pantanal em um mês é dos povos que mais têm interesse na sua preservação. Das crises por que o país passa, há apenas uma certeza: as chamas não esperam pela inércia da população. Enquanto o fogo da insatisfação não alcançar Brasília, ao brasileiro restará um país mundialmente queimado, uma terra em cinzas e um povo à própria sorte.

Repórteres Felipe Vecchio, Fred Romano, Gabriel Hellmann, Guilherme Martins Rosa, Gustavo Mejia, Luana Verçosa, Maria Fernanda Uller, Nadine Quandt

Foto de capa Isabel Lima Nos acompanhe online primeirapauta.ielusc.br @primeira.pauta

Diagramadores Aline Cristiane, Beatriz Kina, Isabel Lima, Larissa Vasconcelos, Luana Distribuição Digital Coelho, Pauline Ramlow, Rafaela Edição 152 | outubro de 2020 Sant’Anna Site: primeirapauta.ielusc.br/ Publicação no Issuu Chefe de Fotografia Kevin Eduardo da Silva


Outubro, 2020

Online |

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Entrevistas de emprego online se tornam rotina durante a pandemia O método de avaliação que antes já era utilizado por algumas empresas mostrou-se a melhor opção para não furar a quarentena na hora de contratar novos funcionários Foto / Arquivo Freepik - Tirachardz

LUANA VERÇOSA Desde o início da quarentena, em março deste ano, a suspensão dos serviços de transporte público contribuiu para a adoção de métodos alternativos para a realização de entrevistas de emprego. Formulários maiores, testes, provas online e solicitação de envio de vídeos de apresentação dos candidatos estão cada vez mais presentes nos sites de emprego. Tudo isso para garantir a eficácia do processo seletivo, respeitando as normas do isolamento social. Atuando no RH de uma empresa de segurança patrimonial, Fernanda de Lourdes conta que precisou contratar pelo menos 30 novos funcionários desde o início da pandemia. Muitas das contratações aconteceram por meio de entrevistas remotas. “Fiz várias entrevistas por chamada de vídeo, principalmente no período em que a cidade estava sem transporte público e também quando as vagas eram para outras cidades”, relata. Fernanda garante que apesar de não ter encontrado grandes dificuldades, foi necessária uma adaptação dos processos. Antes da pandemia, para ganhar tempo, ela conseguia avaliar cerca de 20 candidatos por vez em entrevistas coletivas.

Amanda dos Santos saiu do seu último emprego no final do ano passado e nem imaginava que ia encarar um cenário completamente novo quando voltasse a procurar oportunidades de trabalho. Ela passou por três processos seletivos entre abril e junho, e em nenhum deles teve que se deslocar até a empresa.“Eles me pediram pra fazer um vídeo, me apresentando, falando sobre mim’, descreve. “Enviaram algumas perguntas e eu tinha que responder por vídeo. Também teve ligação, fizeram meio que um bate-papo comigo por telefone”, completa. Amanda foi contratada em junho, por uma loja de artigos esportivos, como estagiária de marketing. A entrevista para essa vaga foi realizada por ligação de vídeo, através do aplicativo Whatsapp. Ela conta que não teve nenhuma dificuldade em se adaptar à nova circunstância. “Eu achei até melhor do que ter que me deslocar até o local e às vezes receber um não, gastar com transporte, essas coisas”, admite. Além disso, ela conta que se se sentiu mais tranquila por não precisar estar em contato direto com outras pessoas por conta da pandemia. Desde o dia 1º de setembro, o transporte público voltou a fun-

cionar mais uma vez em Joinville e, com isso, algumas empresas retornaram ao sistema normal de seleção, realizando entrevistas presenciais. Algumas, na verdade, nem chegaram a fazer alterações no seu processo. Luciana Boing Teixeira é gerente do departamento de RH da filial de coleta da empresa Ambiental, e as entrevistas para os cargos de operação aconteceram normalmente desde o início da pandemia. “Fazemos

contatos via telefone e para entrevistas agendamos horários e mantemos distância recomendada pelos órgãos de saúde”, relata. Para atender aos cuidados recomendados, Luciana explica que os candidatos estão sendo atendidos individualmente, com a condição do uso de máscaras. Além disso, a empresa utiliza termômetros para medição de temperatura e álcool em gel 70% disponível e visível para todos usarem.

Dicas para se sair bem durante uma entrevista de emprego online 1. Verifique sua conexão de internet 2. Escolha bem o local 3. Defina o equipamento 4. Saiba se portar diante da câmera 5. Pense no visual 6. Desligue outros programas 7. Tenha papel e caneta por perto 8. Fique atento ao delay


Outubro, 2020

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Mobilidade Urbana |

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Divulgação Prefeitura de Joinville

Ônibus voltam a circular em Joinville Linhas extras e medidas de higiene são essenciais para que o transporte não seja suspenso novamente GABRIEL HELLMANN Com a redução do número de novos casos e internações por conta do coronavírus, o transporte coletivo voltou a circular no mês de setembro em Joinville. A principal mudança nesta retomada foi a redução de 60 para 40% na lotação permitida dentro dos veículos. Além disso, uma série de medidas sanitárias devem ser cumpridas, para garantir a redução nos riscos de contágio. “Neste momento vários segmentos estão abertos e as pessoas precisam se locomover, então definimos as condições de funcionamento e de fiscalização para que fosse retomado”, explicou o secretário da saúde de Joinville, Jean Rodrigues da Silva, 36. A Secretaria de Infraestrutura Urbana, Seinfra, realiza a fiscalização dos transportes. Nas plataformas dos terminais existem profissionais que realizam a contagem dos passageiros e informam ao motorista. A lotação máxima depende de cada veículo. Sendo assim, cada um deles tem uma quantidade permitida e possui um adesivo que fica na parte superior da cabine do motorista, e tem o objetivo de informar o número de passageiros. Quando atingida

a capacidade máxima, o motorista muda o display, que mostra o destino do ônibus, para “Ônibus lotado, aguarde o próximo.” Para Gabriela Neumann, estudante de psicologia, 20, a sensação de insegurança é constante durante a utilização do transporte coletivo. Mas apesar de tudo, percebeu uma rigidez maior no controle do número de passageiros. “Na primeira vez que o transporte retornou, não havia um controle tão rigoroso. Era possível ver os fiscais nos terminais, porém o número de pessoas dentro dos ônibus era muito grande”, aponta. Todos os profissionais que trabalham com o transporte coletivo receberam os equipamentos de segurança necessários. Um dos motoristas que atua no setor de transporte público, e preferiu não se identificar, contou que todos os dias no início do expediente é feita a aferição de temperatura e, que se qualquer funcionário apresentar algum sintoma suspeito, é encaminhado diretamente para o consultório da empresa. “Eu me sinto seguro para exercer minha função”, completou o motorista. Mais 40 ônibus foram disponibilizados pela Gidion e Transtusa.

Com isso, 200 linhas extras atenderão a população joinvilense. A higienização é feita duas vezes por dia, no início e na metade do período de circulação. Além disso, todos os veículos possuem três pontos com álcool em gel disponíveis no seu interior.

Transmissão durante o percurso

Ao utilizar o transporte coletivo é necessário adotar todas as medidas preventivas que são repassadas. Ao entrar no ônibus as pessoas já estão expostas a contaminação.

“As empresas podem oferecer limpeza durante o percurso, mas a rotatividade de pessoas que pegam no mesmo objeto é muito grande”, afirma a epidemiologista Tadiana Maria Alves Moreira. Tadiana explica que a transmissão pode sim ocorrer dentro do ônibus. No entanto, demonstra compreensão de que as pessoas precisam trabalhar. Pois nem todos possuem outro meio de transporte, como carros e motos, e por isso, a epidemiologista esboça a ideia de necessidade do transporte coletivo.

E se for do grupo de risco? Pessoas do grupo de risco, como fumantes, hipertensos, com doenças respiratórias, diabéticos e idosos podem utilizar o transporte. Porém, a recomendação da Secretaria da Saúde é de que seja feito o uso somente nos casos de extrema necessidade.


Outubro, 2020

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Meio ambiente | 5 Foto / Arquivo Wikimedia Commons

Ciclones de menor intensidade ameaçam o sul do Brasil Pesquisadores relacionam o aumento deste fenômeno com o aquecimento global MARIA FERNANDA ULLER Após o grande ciclone que atingiu o sul do Brasil no final do mês de junho, diversos alarmes de instabilidade climática surgiram na região. Um novo ciclone bomba atingiu o litoral do Rio Grande do Sul, no dia 3 de setembro, causando instabilidade marítima no porto local. Apesar ter uma intensidade mais baixa que o ciclone ocorrido em junho, os climatologistas alertam que eventos como este tem a possibilidade de surgir novamente com maior intensidade em toda a região Sul. O professor Francisco Eliseu Aquino, coordenador da divisão de Climatologia Polar e Subtropical da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), apresentou, em um Webinar à comunidade, promovida pelo ClimaInfo, portal de notícias sobre o clima, dados que evidenciam o quanto esses eventos extremos estão ligados com o aquecimento global. Ele explica que o ciclone bomba é uma área de baixa pressão desce muito rápido contra a pressão atmosférica. Suas pesquisas apontam que, o aumento de 1ºC na temperatura média do Brasil de norte a sul tem influenciado toda a circulação at-

mosférica do continente, contrastando com a massa de ar frio vinda da região Sul Polar. Na tarde do dia 30 de junho, a combinação das nuvens convectivas mais rigorosas que avançaram rápido por Santa Catarina, com o contraste de ar frio ‒ um campo de pressão atmosférica baixo e o ar quente e úmido ‒ fez com que o ciclone bomba tivesse mais intensidade. “Algo que incrementa esse sistema é a entrada de ar frio da região Sul Polar, especialmente do mar de Wandel, que vem sido trazida graças ao aquecimento global”, explica Aquino. O professor do departamento de geociências da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Lindberg Nascimento Júnior, tem uma análise parecida sobre o caso. Segundo ele, a região sul é constantemente atingida, justamente porque uma parte da circulação atmosférica tende a se formar no Oceano Atlântico Sul, que é o ponto de encontro preferencial de grandes processos de baixas pressões. O que assusta os pesquisadores é o aquecimento que esta região tem sofrido nos últimos cinco anos. “A base do aquecimento global é a queima do combustível fóssil,

a principal forma de energia para gerar motores, e gerar indústria para construir energia”, explica o professor. “Enquanto não houver um desaceleramento, a situação tende a piorar.” A possibilidade é que eventos como o ciclone bomba possam acontecer mais vezes porque com o oceano mais quente, a pressão atmosférica fica mais dinâmica e pode prover mais evaporação.

“Enquanto não houver um desaceleramento, a situação tende a piorar.” Lindberg Nascimento Júnior, professor do departamento de geociências da UFSC.

Devastação e desigualdade social

Conforme explica Lindberg, é evidente que o capitalismo e o consumo desenfreado são altamente desiguais. Para ele, além de pensar na origem natural dos processos dos eventos climáticos, é preciso pensar como estes tendem a atingir desigualmente as po-

pulações. E nesse caso, não só os estudos do pesquisador, mas uma grande parte de pesquisadores ‒ que trabalham com o tema do risco de vulnerabilidade ‒ apontam que existe uma seletividade no impacto desses eventos climáticos. Segundo ele, não é apenas a questão de que haverá outros ciclones bomba. “Isso vai acontecer porque dentro de um princípio de aquecimento global, de uma atmosfera mais instável e mais aquecida, eles tendem a acontecer. O mais perigoso é que não há um território, um espaço que ofereça segurança e proteção para essas populações.” A partir das observações feitas na capital de Santa Catarina, Florianópolis, o professor percebeu que algumas famílias ainda não tiveram suas casas reconstruídas. A desigualdade social ainda é mais impactante do que o evento ocorrido. “Antes de levantarmos a bandeira verde, devemos resolver os nossos problemas de classe. A desigualdade reforça a concepção racista da relação dos povos com a natureza - dos negros, indígenas, quilombolas - povos que são muito mais próximos da natureza do que os centros urbanizados”, relata.


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Planos interrompidos

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Outubro, 2020

Número de desaparecidos cresce em Santa Catarina Mesmo com a quarentena a quantidade de registros já ultrapassa a do ano passado

FELIPE VECCHIO

Em meio a uma pandemia, Santa

Quem cuida da investigação de desaparecidos no estado? O trabalho é feito pela Delegacia Especializada em Pessoas Desaparecidas (DPPD), que fica em Florianópolis. Eles coordenam as buscas por todo o estado. A Polícia Militar, o Instituto Geral de Perícias (IGP) e o projeto SOS Desaparecidos também ajudam nessa causa.

Catarina contabilizou ao todo 47 pessoas desaparecidas. O número pode parecer baixo, mas em um ano tão atípico como 2020, se comparado com outros, acaba se tornando alto e bem relevante. O total deste ano já é maior que o de 2019 em 17 pessoas e 24 a mais em comparação com 2018. Os 47 desaparecimentos são divididos em 31 municípios do estado, sendo o de maior ocorrência na capital, que tem ao todo sete pessoas desaparecidas, seguida de Palhoça com quatro, logo depois vem Joinville e São José com três. O caso mais recente foi registrado no dia 20 de setembro em São Francisco do Sul. De acordo com o delegado, Vinicius Ferreira, da 7ª delegacia de polícia (DP) de Joinville, existem duas formas de desaparecimento, o real e o hipotético. “Casos de pessoas que tem alzheimer, demência, e acabam se perdendo ou os casos de homicídio, em que a pessoa foge, são reais, já os hipotéticos, que não são a maioria, são de pessoas que optam por desaparecer”, afirma. Mas o que torna essas 47 pessoas desaparecidas tão diferente? A razão é simples, 2020 é um ano marcado por uma coisa: a pandemia da covid-19. Com a quaren-

Números para ligar caso alguém que você conheça esteja desaparecido: DPPD: (48) 3665-5595 Polícia Militar: 190 IGP: (47) 3481-4315

02ª DP de Joinville: (47) 3481-2800

SOS Desaparecidos: (48) 3665-4715

IML: (47) 3433-2582

tena, decorrente deste vírus, poderia se imaginar que o número diminuiria, ou continuaria o mesmo, dado que as pessoas acabaram saindo menos, mas ele acabou crescendo, mostrando que de nada adiantou. Para o delegado, é difícil fazer uma conexão entre o crescimento dos desaparecidos e a pandemia. “Apesar do aumento em um ano como 2020, não posso dizer que seria diferente sem o covid, mesmo porque as buscas não se tornaram mais difíceis, continuaram da mesma forma.”

Ocorrências Mesmo com um número alto em 47 pessoas, a lista total de ocorrências acaba sendo maior, pois nela são encontrados todos os tipos de desaparecimentos. Sejam aqueles desde bebês que somem da vista dos pais, até filhos que saem sexta-feira e não dão nenhuma informação. Vinicius explica que em casos assim, quando os pais, responsáveis ou pessoas do convívio dela, acham que houve o desaparecimento, é necessário utilizar de todas as formas antes de registrar um Boletim de Ocorrência (BO). Tentar ligar para a pessoa, perguntar para amigos, divulgar em redes sociais, procurar em hospitais, ligar para um Instituto Médico Legal (IML), o que for necessário.

“Sempre esgotar todos os recursos possíveis, se não houver contato, registrar um BO” Viniciús Ferreira, delegado


Outubro, 2020

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Economia | 7

Venda de alimentos orgânicos cresce durante o primeiro semestre do ano

Paula Plodowski

Agricultores relatam aumento da procura e lojas estimam aumento de 45% nas vendas NADINE QUANDT Pesquisa divulgada pela Associação de Promoção de Orgânicos (Organis) aponta que a venda desses produtos aumentou mais de 50% no varejo, nos últimos seis meses. Os orgânicos são frutas, verduras e hortaliças produzidos sem adição de agrotóxicos. Em Joinville, a tendência nacional se confirma. Paula Plodowski, dona do serviço Orgânicos Joinville, afirma que as vendas aumentaram cerca de 45%. Com a opção do serviço de entrega a domicílio, as cestas orgânicas se tornaram uma saída para quem respeitou as medidas de distanciamento social. A Orgânicos Joinville é um perfil comercial no Instagram que tem o delivery como serviço principal há quatro anos. Os produtos podem ser adquiridos por pacotes semanais ou mensais. Somente neste ano, a loja fez parcerias com outros comércios e estabeleceu cinco pontos de vendas físicos, onde os produtos podem ser comprados avulsos. Já Carla Jane Weber, responsável da loja de alimentação saudável Jequitibá, optou pela montagem de kits para entrega como forma de manter o rendimento durante a pandemia e notou aumento nas vendas. “O crescimento da popularidade dos orgânicos está relacionada à preocupação com a saúde, dado o cenário atual, e também do aumento da consciência alimentar”, observa Carla. O perfil dos clientes das lojas orgânicas é formado por mulheres de 25 a 70 anos, com ensino médio completo e com filhos. Como Maria Elisa Máximo, professora universitária, que opta preferencialmente por alimentos orgânicos há seis anos. Ela adotou esse hábito pela saúde e também pelo bem-estar e aumento de imu-

nidade. “Eu tenho dois filhos pequenos, a minha filha mais nova, por exemplo, eu tentei desde cedo priorizar o consumo de alimentos orgânicos e não processados”, conta a professora. Carlos Alberto Noronha do Amaral, gerente da Unidade de Desenvolvimento Rural de Joinville e produtor orgânico, atribui o aumento da procura à preocupação com a saúde. “As pessoas estão mais atentas com aquilo que comem. Cada vez mais escutamos que doenças estão diretamente relacionadas com a nossa alimentação”, afirma, “Existe muito espaço para novos produtores ou a expansão da produção”, completa. Carlos ainda comenta que os agricultores certificados também perceberam aumento da procura e estão animados com a popularização de seus insumos. Porém, ele avalia que a produção joinvilense é mais baixa que a demanda atual. Em Joinville, atualmente, há 43 produtores orgânicos certificados pelo Ministério da Agricultura, Pecuário e Abastecimento (Mapa) e mais 80 produtores que participam de grupos na cidade, onde a certificação é feita de forma autônoma por certificadores privados. “Precisamos ter certeza da qualidade do alimento e ele não precisa ser só orgânico mas também agroecológico, que não atinge o meio ambiente”, afirma Paula, dona da Orgânicos Joinville. Tanto Paula quanto Carla só repassam produtos que são produzidos de forma certificada. A professora Maria Elisa ressalta que consumir alimentos orgânicos também envolve questões sociais e ambientais, que é importante saber quem produz e de que forma produz aquele insumo.

Paula visita os produtores para garantir a qualidade dos produtos.

Os agrotóxicos Agrotóxicos são substâncias sintéticas que são utilizados no cultivo de frutas, verduras e hortaliças para evitar pragas e doenças. Em curto prazo, não causa nenhum problema à saúde de quem consome, porém, em grandes quantidades ao longo dos anos, pode acarretar doenças. Além disso, o uso indiscriminado atinge a biosfera e mata milhares de insetos e pequenos animais. Somente em 2019, 475 novos defensivos foram aprovados pelo governo e neste ano, só nos primeiros cinco meses, 150 novos agrotóxicos foram registrados.


8 | Saúde Mental

Outubro, 2020

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O outro lado da pandemia:

isolamento social intensifica transtornos mentais Estresse e ansiedade acumulados durante período de quarentena podem se manifestar por meio de sintomas físicos IISABEL LIMA

FRED ROMANO FRANCO De acordo com o Mapa brasileiro da Covid-19, desenvolvido pela startup Inloco, nas três primeiras semanas de setembro, uma média de 37,3% da população brasileira respeitou a recomendação de isolamento social, forma mais eficaz de combate ao vírus até o momento. Em Santa Catarina, a média é de 37,1%. Para aqueles isolados há meses, o estresse e ansiedade acumulados podem causar sintomas físicos, como dores no corpo. “Tudo aquilo que não pode ficar dentro da capacidade de circular pelo psiquismo, vai para o corpo em inúmeras manifestações”, explica Gabriela Kunz Silveira, mestre em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A psicóloga esclarece que a mudança de rotina, causada pelo contexto da pandemia, provoca o estresse, que por sua vez é provocado pela tensão originada do medo de adoecer ou morrer. “O estresse é fruto dessa quebra de ilusão, desse real que se impõe”, explica. Gabriela sugere que cada pessoa se permita olhar para si e para esse medo, e então, colocar em palavras. Além da procura por um psicólogo ou psicanalista, ela aconselha a conversa com amigos e, até mesmo, a arte, para poder entrar em contato consigo mesmo e produzir algo além dos sintomas. “Se eu sinto uma dorzinha em algum lugar, eu já começo a especular o que pode ser, o que geralmente me leva a uma crise de ansiedade e a certeza que eu estou morrendo”

Lívia Meinert, estudante

Alguns relatos A pandemia agravou o caso de hipocondria da estudante de Biologia Lívia Meinert, 18 anos, o que faz com que ela pense constantemente na ideia de ter um problema médico. Com o surto de coronavírus, cada tosse ou espirro é motivo de preocupação para a estudante. “No começo desse ano, eu passei uma semana me despedindo de todo mundo, achando que eu tava com câncer. No fim, era só uma íngua”, relata Lívia. Ela conta que toda vez que achava estar doente, sentia dores, como pontadas, no corpo todo. O psicanalista e professor Titular do Instituto de Psicologia da USP, Christian Dunker, comenta, em seu blog, que um hipocondríaco não finge que tem uma doença, ele realmente sofre com isso. E, falar para a pessoa que sofre de hipocondria que isso tudo é psicológico, é como uma humilhação. “Se eu sinto uma dorzinha em algum lugar, eu já começo a especular o que pode ser, o que geralmente leva a uma crise de ansiedade e a certeza que eu estou morrendo”, conta Lívia. A acadêmica fazia acompanhamento há um ano, porém parou. Atualmente, ela está à procura de um terapeuta online. A estudante de Relações Públicas Thays Machado, 22 anos, que já sofria de crises de ansiedade antes da pandemia, relata que ficou mais ansiosa durante o período de isolamento, e até teve crises de pânico quando precisou sair de casa. “Passei mal dentro de um mercado. Acho que foi por conta das pessoas com máscaras e luvas. No começo era bem assustador”, conta a acadêmica. Ela relata também ter ficado de cama por dores nas costas. Segundo a psicóloga Gabriela, o corpo sente aquilo que o psiqu-

Pandemia agravou quadro de hipocondria de Lívia ismo não pode elaborar, podendo descarregar a tensão no corpo. Thays perdeu o emprego no começo da pandemia. A empresa em que trabalhava fez uma demissão em massa. A falta de trabalho dificultou a situação dela, já que precisou fazer terapia por conta das crises e também tinha a faculdade para pagar. Já Vinícius Pietschmann, 21 anos, estudante de Jornalismo, teve a sua primeira crise de ansiedade durante o período de isolamento social, no mês de setembro. Ele afirma sentir dores musculares no pescoço e ombros por conta do estresse. Uma semana após a crise, Pietschmann começou acompanhamento psicológico. O acadêmico comenta

que apesar de ter vontade, nunca teve orientação de um psicólogo antes. Vinícius trabalha na Rádio Udesc e voltou ao emprego normalmente há dois meses. Para ele, o receio com a contaminação do irmão de quatro meses e dos demais membros da família contribuiu para a crise. “Talvez o término do meu relacionamento junto à preocupação do coronavírus tenha me afetado mais”, conclui. A psicóloga Gabriela explica que a pandemia traz o medo de se contaminar ou contaminar o outro, fazendo outra pessoa adoecer, o que coloca em evidência elementos mais primitivos, que o “eu” pode ter dificuldade de processar.


Setembro, 2020

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Bem Estar |

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KEVIN EDUARDO

Convívio com animais de estimação ajuda a enfrentar a solidão causada pela pandemia Relação também diminui sintomas de doenças agravadas pelo isolamento social como depressão e ansiedade KEVIN EDUARDO Ficar muito tempo isolado, sem o convívio social, pode trazer consequências negativas, mesmo essa sendo a única maneira de conter o avanço da Covid-19. Uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) no primeiro semestre deste ano mostrou que os índices de depressão dobraram na quarentena. E os casos de ansiedade e estresse, em pessoas, aumentaram em 80%. Uma das maneiras de evitar esses problemas é dividir o lar com um animal de estimação durante o período de isolamento. O convívio com animais ajuda a combater problemas psiquiátricos e a suportar o luto e a solidão.

Pequenos companheiros

Judite é pequena, seu pelo é uma mistura das cores amarelo, branco e preto. Aliás, ela tem um belo bigode. A cachorra foi adotada em agosto deste ano, pela estudante de psicologia Leticia Delfino Nunes, 21. “Eu fico o dia todo em casa. Trabalho em home office durante a tarde, e à noite tenho aula

online. Por causa do isolamento, me sinto muito sozinha no dia a dia. Então, Judite me faz muita companhia”, contou a acadêmica. Leticia já tinha a pretensão de adotar um animal há algum tempo, pois sentia falta desse convívio. Mas a morte de Kiara, cachorra que acompanhou sua família há 13 anos, fez com que a decisão de adotar fosse postergada. “Eu e minha mãe demoramos muito para superar. Na época, não queríamos mais adotar.” Porém, tudo mudou quando a estudante passou a conviver frequentemente com as cadelas e o gato do namorado. Por causa disso, ela relembrou como era bom conviver com animais. Com a pandemia, ela tomou a decisão de adotar. “Ficando o dia todo em casa, eu percebi que esse era o melhor momento para adotar, porque poderia dar mais atenção nesse período de adaptação até ela (Judite) se acostumar com a casa”, explicou. Leticia encontrou Judite na ONG de animais Garra Joinville. A intituição, que existe há quatro meses, já recolheu 122 animais até

o momento. Desse total, 68 foram adotados. “Resolvemos adotar um gatinho nesse período por dois motivos: primeiro, teríamos mais tempo para nos dedicarmos ao novo membro da família. Segundo, precisávamos de algo a mais para que os nossos dias fossem menos angustiantes”, contou o assessor de marketing Mario Daniel Pereira, 55. Ele e a família também decidiram adotar um animal durante a pandemia. Em casa, já tinham quatro cachorros e optaram por ampliar a família. Um dos principais motivos que levaram a essa adoção foi a filha de Mario, Vitória. “Diante da pandemia, minha filha estava muito ociosa e se aproximando de um quadro de depressão”, contou. De acordo com o psicólogo Hudelson dos Passos, especialista em neuropsicologia, os animais de estimação podem oferecer distração, afeto e outros benefícios durante o isolamento, minimizando os impactos da pandemia à saúde mental. Além disso, ele explica que esse convívio pode trazer sensações semelhantes àquelas produzidas por hormônios como a

serotonina, endorfina e oxitocina. “Essas substâncias são sintetizadas a partir do consumo de alimentos e outros processos fisiológicos, mas sua liberação provoca sensações de prazer, bem estar, alegria e amor. A convivência com animais pode propiciar essas sensações e, desta forma, agir de maneira protetiva à saúde mental das pessoas”, explicou. O psicólogo, assim com os outros entrevistados, também adotou animais durante o período de isolamento. A maioria dos abrigos de animais permanecem abertos durante a pandemia. Caso deseje adotar, atente-se às normas e requisitos necessários.

Diante da pandemia, minha filha estava muito ociosa e se aproximando de um quadro de depressão.

Mario Pereira, pai


10 | Esporte

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Surfe catarinense inova e realiza etapa virtual GUSTAVO MEJÍA Para que o surfe continuasse a ser praticado mesmo em tempos de pandemia, a Federação Catarinense de Surf, Fecasurf, realizou sua primeira etapa em formato virtual da história. O projeto, que conta com o nome de Surf Talentos Oceano, patrocinado pela empresa joinvilense de roupas Oceano, teve início em junho e conheceu seus campeões em agosto. Por ser a distância, atletas de todo Brasil puderam entrar na disputa. Mas você deve estar se perguntando como pode acontecer uma etapa de surfe não sendo presencial. De acordo com o regulamento, os participantes poderiam ir a qualquer lugar do Brasil em que houvesse boas condições para a prática do esporte. Com isso, as oito melhores ondas de cada atleta, com comprovação de data e local, foram enviadas, em vídeo, aos juízes da Fecasurf, que julgavam os desempenhos. A competição seguiu neste formato: duas ondas analisadas na primeira

fase, duas nas quartas-de-final, duas para a semifinal e duas para a grande final. Os melhores de cada confronto avançaram até ser definido o campeão. A etapa contou com a participação nas categorias sub-10 (masculino), sub-12 (masculino e feminino), sub14 (masculino e feminino), sub-16 (masculino) e sub-18 (masculino e feminino). Os surfistas, além de ter um bom desempenho dentro da água, precisavam trabalhar em conjunto com o filmmaker, profissional responsável pelas gravações. A qualidade e o entrosamento entre os dois era fundamental para conquistar o título. Em tempos normais, competições de surfe movimentam todo o mundo e sempre contam com um grande número de pessoas na praia. Neste formato, apenas atleta, técnico e filmmaker participam, mantendo o distanciamento e evitando as aglomerações. Para o árbitro e técnico da Seleção Brasileira de surf, o barrassulense

Outubro, 2020 MARCIO DAVIS

Surfista Luiz Mendes em bateria de treinamento na Praia da Joaquina Balu Schroeder, a competição foi um sucesso. “Foi uma experiência muito boa. Recebemos as ondas e analisamos em casa. Foi show. Com certeza é um evento que veio para ficar.” Oito surfistas entraram para a história e se tornaram os primeiros

campeões virtuais em um circuito da Fecasurf: Luã Silveira e Laura Raupp (sub-18), Léo Casal (sub-16), Gabriel Ogasahara e Nairê Marquez (sub-14), Anuah Chiah e Laura Mandelli (sub12) e Arthur Vilar (sub-10) foram os vencedores.

MARCIO DAVIS

Prodígio do surfe catarinense avalia novo formato

Barrasulense é destaque no surfe nacional

O atleta Luiz Mendes, 18, não conquistou o pódio na competição virtual, mas já coleciona outros títulos. Ele foi campeão brasileiro na categoria sub-14 em 2017 e é tetracampeão catarinense. Mendes comentou que a competição virtual vem mantendo o nível dos atletas mesmo com as competições presenciais paradas. “Está sendo legal, a etapa está puxando o nível dos competidores. Mas eu espero que volte tudo ao normal logo, como era antes”, disse. Mesmo com a competição rolando, a questão psicológica afetou um pouco, pois havia uma grande expectativa para 2020. “Todo atleta tinha metas

para alcançar. A pandemia adiou tudo. Mas pelo lado bom, tivemos mais tempo para treinar e aproveitar a família”, finalizou Luiz. Ex-morador de Barra do Sul, Luiz é uma das promessas do surfe do norte-catarinense, por muitas vezes representando a Seleção Brasileiro de base fora do país. Buscando melhores condições, o surfista mudou-se para Florianópolis, e suas gravações para o campeonato foram feitas por lá, principalmente na praia da Joaquina, mundialmente conhecida pela qualidade e regularidade de suas ondas.


Outubro, 2020

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Educação | 11 GUILHERME MARTINS ROSA

Escola João Bernardino reúne esforços e estreia coral remoto Professores gravaram guias de ensaio e juntaram dinheiro para pagar a edição do vídeo GUILHERME MARTINS ROSA Recentemente, o coral da escola João Bernardino, localizada no bairro João Costa, zona sul de Joinville, fez uma apresentação remota no Youtube. Por causa do isolamento social, cada aluno tocou um instrumento e soltou a voz em casa. Isso não os impediu de dar um show: o resultado é uma performance de encher os ouvidos. À primeira vista, parece que a apresentação da música Mulher Rendeira foi feita ao vivo, mas não foi bem assim: cada aluno gravou uma voz e um instrumento separadamente. A professora do coral, Michele Priscila Mohr, gravou vozes guia e enviou para cada aluno cantar e tocar de forma sincronizada. O resultado final, com todas as vozes e instrumentos juntos, veio de um árduo trabalho de edição. “A gente pagou um profissional para fazer a edição. Os professores ajudaram, cada um deu uma quantia”, conta a professora.

A ideia do vídeo é inspirada em outros corais que fizeram vídeos nesse formato. Mas não foi fácil: o processo de ensaio e produção durou cerca de 2 meses e os alunos já ensaiavam a música antes da pandemia. E o coral da escola João Bernardino não para por aí: o próximo vídeo já está em produção. Dessa vez, a música escolhida foi o internacional Stand By Me.

Meu primeiro violino

Além do coral, outro projeto cultural que faz sucesso na escola JB é o Meu Primeiro Violino. Coordenado pelo professor Pedro Mickucz, o projeto consiste em aulas de violino gratuitas para os alunos. Quando começou, em 2012, Pedro precisava correr atrás de jovens que estivessem interessados. “Eles não conheciam realmente. Achavam que era música tradicional, clássica, então eu tinha que convencer”, conta. Hoje, 8 anos depois, é necessário um processo seletivo, pois muitos alunos querem participar. “O JB virou uma referência musical na cidade” afirma o professor.

Os dois projetos – Meu Primeiro Violino e Coral JB – são como melodia e harmonia, andam de mãos dadas. Esse crossover já rendeu apresentações até na Sociedade Harmonia Lyra e no Teatro Juarez Machado. O frio na barriga, entretanto, vem mais no professor do que nos alunos. Pedro conta que, antes de subir no palco, a tensão vem. De vez em quando, são até necessárias algumas broncas para que os pequenos violinistas tomem suas posições. “A Michele é a mãezona e eu sou o pai bravo”, brinca o professor. No momento, o Meu Primeiro Violino está parado devido à carga horária do professor, que dá aula em outras escolas. Mas a ansiedade para voltar é grande. “Eu defendo muito esse projeto. É o projeto da minha vida”, afirma Pedro. Ele frisa a importância de ver os alunos da escola pública ocupando espaços como a Sociedade Harmonia Lyra, que era restrita à elite há algum tempo. “Já ouvi algumas coisas ofensivas, dizendo que eu

deveria ir para outros lugares [escolas particulares], como se os meus alunos de escola pública não merecessem meu projeto”, conta.

Pessoas que têm mais condições não dão tanto valor quanto essas crianças

Pedro Mickucz, professor

Pedro conta que já deu aulas em conservatórios particulares, mas a empolgação não é a mesma, pois muitos alunos não possuem real interesse em aprender os instrumentos. Na verdade, são comuns as matrículas apenas por exigência dos pais. Na escola pública, os alunos abraçam os projetos, pois não possuem a mesma oportunidade fora dali.


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Outubro, 2020

Não maltrate o seu PET ROGER CARDOSO DOS SANTOS Não é preciso ser um pai ou mãe de pet para ter um animalzinho, só é preciso ter disposição para cuidar e amor de sobra para dar. Conquistar a lealdade de um cãozinho significa ter um companheiro a todo momento. Não tem nada a ver com classe social, cor da pele ou orientação sexual. A gente o conquista com o coração. E nós somos conquistados com seu jei-

to inocente e sem preocupações. Ter um gatinho em casa significa alguns arranhões, pelos pela roupa e ouvi-lo fazer um escândalo na hora do banho. Mas também significa escutar um ronronar carinhoso e de vez em quando senti-lo roçando na sua perna implorando por atenção. Seja como for, ter um animal para cuidar implica responsabilidade, significa arcar com os gastos e tomar todos os cuidados para que o pet tenha uma alimentação balanceada,

uma boa higiene e um ambiente espaçoso para que possa se divertir e ser livre. Existem bichinhos para todos os perfis de dono, desde os mais apegados e carinhosos até os mais independentes. Há aqueles que são peludos e pequenos, aqueles quase sem pelos e grandões, tem os brincalhões e os mais sérios, sempre há um que combina com você. Ainda existem pessoas que adotam um filhote por ser bonitinho e quando este cresce passa a sofrer maus-tratos. É sempre cabível lembrar que maus tratos com animais é crime. O presidente Sancionou uma lei que altera a atual lei vigente sobre os maus tratos. A lei foi sancionada em uma cerimônia que teve direito a foto com o presidente segurando o clássico vira -lata

caramelo. A alteração foi na Lei de Crimes ambientais – Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. A pena aumentou. Caso você abuse, fira ou mutile algum animal doméstico está sujeito a uma pena de dois a cinco anos de reclusão. Não sabe o que é reclusão? Segundo consta no site do TJDFT (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios). “A pena de reclusão é aplicada a condenações mais severas, o regime de cumprimento pode ser fechado, semiaberto ou aberto, e normalmente é cumprida em estabelecimentos de segurança máxima ou média.” O crime agora fica registrado como antecedente criminal, o que não ocorria antes, bem como é possibilitado o encaminhamento à prisão caso haja flagrante. Histórias que envolvem crueldades com os animais não são difíceis de achar, muitos são maltratados, criados para briga, alguns são inclusive tatuados ou então abonados no meio do nada. Acima de tudo são seres vivos mas mesmo assim muitos não terão um dia sequer de paz, não receberão carinho, um mimo ou mesmo um afago na barriga. Adotar um animal que já passou por maus bocados é ajudá-lo a superar traumas e ter a oportunidade de proporcioná-lo alegria, além de ter um companheiro a toda hora.

DENUNCIE Prefeitura Municipal de Joinville (47) 3481-5100 www.joinville.sc.gov.br

ADOTE Abrigo Animal de Joinville (47) 3416-0734 De Segunda à Sábado das 8h às 11h e 14h às 17h

FOTOGRAFIAS JESSICA AMANDIO


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