primeira.pauta JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO IELUSC
OUTUBRO DE 2021 | EDIÇÃO 157 | GRATUITO
Festival de Dança de Joinville retorna em meio a pandemia Máscaras, distanciamento social, álcool em gel e muita dança marcaram o evento que começou no dia 5 e se estendeu até dia 16 de outubro
PÁGINAS 8 E 9
2 | Opinião
Editorial
Brutalidade estatal degenera trabalho informal no Brasil No mês de setembro, dois casos de opressão ao comércio ambulante comoveram a população catarinense. Na cidade de Itajaí, um homem que vendia alfajor foi covardemente agredido pela Guarda Municipal. Já em Joinville, um vendedor de cocadas recebeu a inacreditável multa de R$ 1.641,55, valor superior a um salário mínimo (R$ 1.100). Embora as duas situações tenham acontecido de formas e intensidades diferentes, ambas deflagraram a impiedade e tirania de representantes das autoridades públicas. Aqueles que precisam ser exemplos de conduta respeitável, ética e civilizada, foram protagonistas de uma crueldade sem tamanho. Embora a justificativa dos “guardiões da lei” fosse uma possível infração daquilo que eles protegem, não tem o menor cabimento no sentido humanitário, aplicar castigos rígidos e desprovidos de qualquer pingo de bom senso. As leis regulatórias existem para serem cumpridas, mas qual é o limite que se pode chegar para praticá-la? Teoricamente, os governantes são eleitos para prover aos cida-
dãos condições dignas de cidadania, como segurança e estabilidade econômica. Entretanto, os dois fatores foram completamente aniquilados nas abordagens em questão. O filósofo camaronês Achille Mbembe contribuiu imensamente para o entendimento sobre o tratamento do Estado com pessoas que estão à margem da sociedade. Através do conceito de “necropolítica’’ criado por ele, o filósofo acredita que por meio do poder inserido em ações políticas, econômicas e sociais de opressões a determinados grupos que historicamente são rechaçados, o Estado determina uma política de morte. De acordo com Mbembe, “ser soberano é exercer controle sobre a mortalidade e definir a vida como a implantação e manifestação do poder”. Ora, a economia em frangalhos com 14 milhões de desempregados e a grave crise sanitária causada pela pandemia que vitimou mais de 600 mil brasileiros escancaram a crueldade estatal que deixa os mais vulneráveis à deriva, e consequentemente, mais perto da morte.
Editor-chefe Marcelo Henrique
Expediente Diretor Geral | Silvio Iung Diretor Ens. Superior | Paulo Aires Coordenador do Curso | Marília C. de Morais Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo Professor Responsável | Sandro Galarça Nos acompanhe online primeirapauta.ielusc.br @primeira.pauta
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Editora-executiva Malu Venturelli Diagramador-chefe Raphael Furtado Charge Editorial Frank Maia
Pode parecer radical pensar que as punições sofridas pelos vendedores se encaixam na percepção de Mbembe, mas se percebermos o objetivo dessas abordagens, fica fácil perceber que há uma tentativa de criminalizá-los para serem jogados aos leões. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país registrou o número de 27.9 milhões de trabalhadores ambulantes e informais no ano passado durante a crise sanitária da Covid-19. O cenário fica pior quando paramos para entender as particu-
laridades dos comerciantes, que em sua grande maioria não têm um nível mínimo de escolaridade. Assim fica covardemente fácil aplicar punições a uma camada de pessoas que desconhecem e não compreendem as leis que preservam os seus direitos. É fato que não há como atribuir toda a responsabilidade da violência física, moral e econômica sofrida pelos ambulantes ao governo, mas os agentes que representam a ordem de governantes possuem respaldo jurídico e político para agir de forma deliberada.
Charge
Repórteres Anderson Marques, Ana Carolina de Jesus, Ana Dranka, Malu Venturelli, Luiz dos Anjos, Marcus Hoffmann, Marcelo Henrique, Marinne Ohara, Otávio Laurindo, Isabela Peixer, Gabriel Quesada, Julia Venturi e J. Gabriel Silva Rua Princesa Isabel, 438 - Centro 89201-270 | Joinville-SC (47) 3026-8000 jornalprimeirapauta@gmail.com
Charge: Frank Maia
Diagramadores Pedro Simm, Raphael Furtado, Felipe Roque, Zuciane Peres, Alessandra Nimer, Marcus Hoffmann, J. Gabriel Silva, Luiz dos Anjos, Mariana Murara, Ana Carolina de Jesus, Julia Venturi
Fotógrafos Marinne Ohara e Felipe Roque
Editores Ana Dranka, Malu Venturelli, Isabela Peixer, Marcelo Henrique, Marcelo Stein, Mariana Murara, Pedro Simm, Raphael Furtado, Gabriel Quesada, Eduardo Gums, Alessandra Nimer e Marinne Ohara Distribuição | Acadêmicos Edição 157 | outubro de 2021 Tiragem | 1.000 exemplares Impressão | Gráfica Itapema
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Saúde |
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Falta de absorventes faz com que meninas deixem de frequentar a escola No Brasil, quatro em cada dez garotas já deixaram de frequentar as aulas por causa da pobreza menstrual MALU VENTURELLI A falta de produtos de higiene íntima afeta a rotina de meninas e mulheres de todo o Brasil. No dia 7 de outubro, o presidente Jair Bolsonaro vetou o andamento do projeto que, pela primeira vez na história, promoveria um programa destinado à proteção e promoção da saúde menstrual. O Projeto de Lei 4968/2019, de autoria da deputada federal Marília Arraes, garante a distribuição de absorventes descartáveis para estudantes do ensino público e mulheres em situação de rua. O argumento para o veto foi de que o Congresso não mencionou a fonte de custeio para essas ações. Porém, o texto aprovado dizia que o dinheiro viria dos recursos destinados pela União ao Sistema Único de Saúde (SUS) e, para as presidiárias, do Fundo Penitenciário Nacional. A partir da data do veto, o Congresso tem 30 dias para manter ou não o veto presidencial. O projeto prevê assistência para cerca de 5,6 milhões de mulheres em todo o país. “Vai garantir a distribuição de absorventes para estudantes em situação de vulnerabilidade, nas escolas públicas de ensino fundamental e médio do Brasil”, diz a deputada . Além disso, o projeto fornece informações
sobre saúde menstrual. Presidiárias e internas em instituições sócio educativas também serão atendidas. No mundo, estima-se que uma em cada dez meninas não têm condições financeiras e estrutura sanitária para usar absorventes descartáveis, fazendo com que deixem de frequentar a escola durante o período menstrual. No Brasil, os dados são ainda mais preocupantes: uma entre quatro estudantes já deixou de ir às aulas por não ter absorventes. Esse problema é chamado de pobreza menstrual e os dados foram divulgados pela ONU. A situação parece antiga, mas na verdade é muito atual. Ainda hoje, em comunidades carentes, mulheres recorrem a métodos inseguros, como: trapos, papel higiênico, miolos de pão, folhas de jornal e sacolas plásticas. Para tentar conter o avanço dessa situação, existem centenas de projetos no Brasil que buscam oferecer assistência às pessoas que não têm acesso a itens básicos de higiene. Criado em 2020, o projeto Igualdade Menstrual, iniciado em Curitiba, tem o intuito de tentar minimizar os impactos causados pela pobreza menstrual. Além de organizar campanhas de arrecadação e doação, o projeto elabora textos educativos e informativos, cobrando a execução dos projetos de lei que protegem as mulheres.
Ação contra a pobreza menstrual vai a Brasília Em Joinville, na Câmara de Vereadores Mirim, a vereadora Ana Carolina da Maia, da escola Santo Antônio, defenderá a distribuição gratuita de absorventes em postos de saúde na Câmara dos Deputados, em Brasília. O projeto pretende diminuir os efeitos da pobreza menstrual e a evasão escolar, já que muitas meninas deixam de frequentar a escola durante a menstruação por não ter acesso a absorventes. Além disso, mulheres em situação de rua ou de zonas periféricas da cidade também serão beneficiadas, pois os absorventes estarão disponíveis em todos os postos de saúde.
MARINNE O’HARA
Mulheres criam caixinha colaborativa com absorventes A equipe também organiza rodas de conversa para levar informação e educação para as pessoas, independentemente do contexto social. Para a idealizadora, Adriana Bykowski, isso reflete no empoderamento da mulher e na luta pela garantia dos seus direitos, por meio da educação. O estudo Pobreza Menstrual
no Brasil: desigualdade e violações de direitos aponta que 713 mil meninas vivem sem acesso básico à higiene, e mais de quatro milhões não têm itens mínimos de cuidados menstruais à disposição nas escolas. Desde o início dos tempos, meninas e mulheres deixam de praticar hábitos básicos na rotina por estarem menstruadas.
Em Joinville, projeto “MenstruAção” dá assistência para mulheres Na Câmara de Vereadores de Joinville, a vereadora Ana Lúcia Martins (PT) fez uma moção solicitando ao poder executivo que forneça absorventes higiênicos para estudantes nas escolas da rede municipal de ensino. Ana Lúcia fala da necessidade de criar ações que garantam a dignidade para as pessoas que menstruam. O projeto também prevê a distribuição nas unidades de saúde e nos CRAS. Para ela, a aprovação é um grande passo para a eliminação da pobreza menstrual, já que a saúde dessas pessoas está sendo constantemente afetada. A joinvilense Elis da Nhaia
é uma das criadoras do projeto “MenstruAção”, e realiza ações sociais que entregam absorventes descartáveis, reutilizáveis e coletores menstruais para as comunidades carentes de Joinville. Depois de estudar sobre o assunto, Elis viu que essa é a realidade de muitas meninas e mulheres de Joinville. “Sou feminista e quero ajudar elas a ter uma autoestima desde a primeira menstruação. Quero ensinar para todas as pessoas que menstruação é poder, pois nós nascemos porque uma mulher menstruou”, conta. Sua motivação é ajudar essas pessoas a vencer todo o tabu que há em volta da menstruação.
4 | Saúde
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Movimento antivacina traz riscos para saúde pública A maior esperança de dias melhores ainda sofre resistência de parte da população LUIZ DOS ANJOS
JULIA VENTURI O presidente Jair Bolsonaro, no dia 13 de outubro, disse que não tomará a vacina contra a Covid-19. Bolsonaro afirmou que por ter tido a doença, já tem os anticorpos, o que tornaria a vacina inútil. Porém, especialistas recomendam a vacinação para pessoas que já foram infectadas pelo vírus, pois elas trazem uma imunidade maior e mais duradoura. O Brasil tem mais de 600 mil mortes em decorrência da Covid-19 e muitas delas poderiam ter sido evitadas. No dia 24 de junho, o epidemiologista Pedro Hallal afirmou, durante o depoimento na CPI da Covid, que a nação poderia ter cerca de 400 mil mortes a menos caso as medidas de controle tivessem sido implantadas e principalmente se a urgência na vacinação fosse respeitada. O presidente Jair Bolsonaro e sua comitiva foram para Nova York para a 76ª Assembleia Geral da ONU e tiveram que comer na calçada, pois a cidade exige a vacina da Covid-19 para consumo na parte interna dos restaurantes. Municípios brasileiros estão implantando o “passaporte da
vacina” para que somente as pessoas vacinadas possam frequentar alguns lugares, incluindo Florianópolis, que irá exigir a comprovação para acesso a grandes eventos do fim do ano. Apesar de 50 mil joinvilenses com mais de 18 anos não terem se vacinado, o secretário de comunicação da prefeitura, Thiago Boeing, diz que Joinville não adotou o passaporte da vacina porque ela não é obrigatória no país. Para conter a disseminação do vírus, o município vai adotar todos os protocolos sanitários de eventos seguros. Além de continuar incentivando que as pessoas completem o esquema vacinal a fim de garantir a própria segurança e das demais pessoas. O movimento contra a vacina de covid-19 ganhou destaque no mundo desde que os imunizantes contra o vírus começaram a ser divulgados. Os apoiadores se baseiam em fake news e em uma política instável para manter suas ideias negacionistas e extremistas, o que põe em risco a saúde mundial. O movimento antivacina surgiu no final dos anos 90, a partir de um equívoco de um artigo publicado em uma das revistas científicas mais
renomadas, antigas e conhecidas do mundo, a The Lancet. Nele, o autor e médico inglês, Andrew Wakefield, vinculava crianças com a doença de autismo sendo consequência da aplicação da vacina tríplice viral, que é aplicada para proteger contra os vírus do sarampo, caxumba e rubéola. Anos mais tarde, em 2004, o Instituto de Medicina dos EUA concluiu que o estudo era uma farsa e que a vacina não tinha ligação com a doença. Wakefield na verdade queria lucrar, já que antes mesmo de divulgar a matéria, ele havia entrado com um pedido de patente para um imunizante contra o sarampo. O pesquisador teve sua licença médica cassada e foi impossibilitado de atuar como médico. Apesar da comprovação de fraude, a ideia se disseminou e deu origem ao movimento antivacina. Incluindo na lista de apoiadores famosos como Eric Clapton, Rob Schneider, Jim Carrey, Kanye West, Nicki Minaj e o ator brasileiro Juliano Cazarré. Um dos argumentos mais utilizados pelo grupo que é contra a vacina de covid-19 é que a vacina foi desenvolvida em tempo recorde. Enquan-
to uma vacina normal demora em média 10 anos para ser fabricada e aprovada, a da SARS-CoV-2 foi elaborada em menos de um ano. O médico infectologista Tarcísio Crocomo explica que a situação mundial fez com que fosse necessário ter mais agilidade na produção dos imunizantes e que eles passaram por um rigoroso protocolo de testes antes de serem disponibilizados para a população. O infectologista enfatiza a importância da vacinação, dizendo que quanto maior o percentual de vacinados, melhor será o controle da doença. Crocomo afirma que a pessoa que opta por não se vacinar não prejudica somente a sua vida, correndo um risco muito maior de adoecer, mas também auxilia na permanência da circulação do vírus aumentando as chances do desenvolvimento de variantes. Também esclarece que as vacinas desde sua descoberta têm sido a melhor forma de proteção para várias doenças infecciosas, prevenindo danos irreparáveis à saúde populacional. Os dados epidemiológicos têm mostrado que os antivírus da Covid-19 seguem o mesmo padrão dos demais.
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Saúde | 5 DIVULGAÇÃO
Casos de dengue em Joinville crescem 90% em relação ao ano passado Região Sul é a que mais apresenta casos da doença; Petrópolis é o bairro que possui mais focos ANA DRANKA Em Joinville, cerca de 16.517 casos de dengue foram registrados durante esse ano, resultando em cinco óbitos, diferente de 2020, que não obteve nenhuma morte. Neste ano, a cidade apresentou um crescimento de 90%
dos focos de dengue, comparando com o ano passado. A primeira vítima na história da cidade morreu em abril. Era um homem de 49 anos, de bairro não revelado. A última vítima, até o momento, possuía 68 anos e morava na zona Sul. Atualmente, o bairro que possui mais focos de dengue é o Petrópolis.
VOCÊ SABIA? Atualmente, existe uma vacina contra a dengue disponível no Brasil: a Dengvaxia. O imunizante é apenas distribuído nas redes particulares e só pode ser aplicado em quem já contraiu a doença. Esse método foi escolhido para que não haja agravamento dos sintomas em pessoas que não foram contaminadas com a dengue. Se não houver contaminação antes da aplicação da vacina, quando a pessoa se infectar com a dengue, pode existir amplificação das reações e piorar a situação.
De acordo com a médica Camila Soares Duarte, 29 anos, clínica geral, o tratamento ocorre com suporte clínico e é feito com sintomáticos. “Não existe ainda uma medicação específica, a gente vai fazendo conforme o quadro clínico do paciente”, diz Camila. No tratamento pode ser utilizada medicação analgésica e antitérmica para febre, mal estar e dor no corpo. A dengue pode evoluir para um caso grave quando não é identificada e tratada corretamente em seu estágio inicial. As complicações da doença podem causar desidratação grave, problemas no fígado, coração e respiratórios. A situação mais grave é a hemorrágica, que altera a coagulação sanguínea e pode resultar em morte. Com o surgimento da Covid-19, o vírus e a dengue podem ser confundidos pela proximidade dos sintomas. Conforme Camila, “em um quadro inicial, os dois podem ter sintomas bem parecidos. O que difere, é, que geralmente, o coronavírus é uma síndrome gripal.” A principal diferença entre eles são os sintomas respiratórios, que na dengue, não são comuns, completa a médica.
O empresário Juan Alonzo Knabben, 21 anos, conta que confundiu as duas doenças pelos sintomas serem parecidos. “Eu não apresentava sintomas fortes. Então, decidi fazer o PCR e o resultado deu negativo. Logo depois o médico solicitou o exame de dengue e apontou que eu estava contaminado”, acrescentou. Segundo o infectologista Hélio Bacha, para o site Uol, existe possibilidade de haver dupla contaminação. Mesmo sendo incomum, se uma pessoa obter as duas doenças ao mesmo tempo, a situação pode evoluir para caso grave. Contudo, quando se trata de infecção de Covid-19 depois de ter contraído dengue, as chances de morte são menores. Segundo um estudo feito pela UFPR, UFAC e pela Unicamp, em parceria com a Universidade de Harvard, pessoas contaminadas duas vezes pela dengue correm menos riscos de apresentarem sintomas graves ao contraírem covid. O estudo sugere que participantes que não foram infectados pelo Aedes, apresentam um risco de morte de 23% a mais ao contraírem Covid.
6 | Política
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Vereador do PSC perde mandato por candidaturas laranjas em Joinville Osmar Vicente tornou-se culpado pelo envolvimento do PSC em fraude de cota de gênero MARCELO HENRIQUE Em Joinville, Osmar Vicente (PSC) teve seu mandato de vereador cassado pela Justiça Eleitoral. Ele foi punido porque seu partido usou três candidaturas laranjas nas eleições municipais de 2020. Na ocasião, três mulheres, que estavam preenchendo a cota de gênero obrigatória, pediram voto para um concorrente do próprio partido, o ex-vereador Jaime Evaristo. O resultado nas urnas foi um número baixíssimo de votos para as postulantes à vaga na Câmara de Vereadores de Joinville (CVJ). De acordo com o mestre em sociologia política Eduardo Guerini, os “laranjas” são pessoas que se candidatam a um cargo político, mas que na prática não fazem campanha, servindo de fachada para outros políticos Apesar de não estar envolvido diretamente na fraude, Osmar perdeu o cargo, já que a legislação eleitoral prevê a cassação do registro de todos os candidatos do partido, inclusive os eleitos. O agora ex-vereador acredita que o imbróglio envolvendo seus colegas de partido não justifica a remoção do seu lugar na Câmara. “Não se faz justiça porque o processo é em cima de cota de gênero feminino, uma vez que me afastaram com votação maior que o vereador que assumiu em meu lugar”, questiona.
Osmar, que recebeu 2.744 votos nas urnas, diz que não tinha conhecimento do esquema e não considera que houve atos ilícitos nas práticas da sua chapa: “Vejo fraude quando falsificam assinatura, oferecem dinheiro para concorrer, entre outros, o que não aconteceu no nosso partido.” Nos tribunais, foi constatado que Jadna Souza de Azevedo Rodrigues, Maraiza Marlete Borba e Roseli Pereira Gonçalves não fizeram campanha eleitoral. Muito pelo contrário, elas e seus familiares estavam buscando votos para eleger Jaime Evaristo, atual presidente do PSC de Joinville e que se candidatou à reeleição como vereador. Entretanto, o político entende que as denúncias não são justas. “Ninguém fez nada de errado e não teve nada irregular”, afirma o ex-vereador.
Candidatas apoiaram Evaristo
Segundo a sentença do juiz Roberto Lepper da 95ª Zona Eleitoral de Joinville, a documentação trazida no processo diz que Jadna não arrecadou dinheiro e não usou nenhuma verba em sua campanha. Ela garantiu apenas três votos e foi a última colocada na votação para vereador nas eleições de 2020. Outro fator que pesa contra Jadna é que em mais de uma oportunidade a própria
candidata pediu votos para Jaime Evaristo no Facebook. Além disso, Jadna é esposa de Janes Rodrigues, assessor parlamentar de Evaristo. Na penúltima colocação do pleito eleitoral, Roseli Pereira Gonçalves recebeu quatro votos, não arrecadou qualquer dinheiro para sua campanha e não declarou gasto algum. Seu marido publicou ao menos seis pedidos de voto, em sua página do Facebook, para Jaime Evaristo. A própria Roseli também fez a publicação com o seguinte apelo: “este é o meu candidato a vereador: Jaime Evaristo”. A situação foi a mesma com Maraiza Marlete Borba, antepenúltima colocada nas eleições com oito votos. Maraiza também não acumulou recursos para sua campanha, tampouco teve qualquer gasto com ela e não demonstrou ter pedido votos para si. Seu marido, Leomar Dias, pediu votos em seu Facebook para Jaime Evaristo. Na mesma página, Leomar postou foto com o concorrente de sua esposa, usando a frase: “Obrigado meu amigo, Vereador Jaime Evaristo”. Roseli foi questionada sobre a participação no caso, mas não retornou o contato. Já Maraiza e Jadna não foram encontradas até o fechamento da matéria. De acordo com a decisão, o pedido de votos para outro competidor
MAURO ARTHUR SCHLIECK
Osmar Vicente teve o mandato cassado configura fraude. Para o juiz, não há dúvidas de que as mulheres mencionadas apenas preencheram as vagas destinadas à cota de gênero por tabela, pois apresentaram votação muito pequena, manifestaram apoio a eleição de outro político e não produziram qualquer atividade de campanha (santinhos, adesivos produzidos, folders etc). Como a Justiça interpretou como legítima as acusações, ela se baseou na Lei Complementar nº 64/90, art. 22, inciso XIV, que diz que se a queixa for procedente, fica cassado o registro do candidato diretamente beneficiado pelo desvio ou abuso do poder de autoridade. Como consequência jurídica, Osmar foi responsabilizado pela irregularidades cometidas pelo partido.
Decisão foi julgada em três instâncias. Entenda o caso Em 19 de fevereiro de 2021, Osmar foi julgado em primeira instância pela 95ª Zona Eleitoral de Joinville, mas uma liminar do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) determinou a permanência do vereador no cargo até o julgamento do mérito. Em julho, o TRE cassou em segunda instância o diploma do vereador. Entretanto, Osmar permaneceu no cargo até 17 de agosto, quando a CVJ reconheceu as decisões da Justiça Eleitoral e anunciou Ednaldo José Marcos,
conhecido como Nado, do PROS, como seu substituto, pois estava em primeiro lugar na fila de espera dos vereadores das eleições de 2020. Osmar não desistiu do seu mandato e tentou recorrer a mais uma liminar de efeito suspensivo, desta vez no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Entretanto, o tribunal negou o recurso em terceira instância no dia 13 de setembro A justificativa é que não foi demonstrada “nenhuma intenção real das candidatas em
concorrer”. A esperança de Osmar é pelo julgamento do mérito do recurso do PSC, que ainda não data marcada. No dia 16 de setembro, o vereador afastado foi nomeado para a assessoria parlamentar do presidente da CVJ, Maurício Peixer (PL). Os responsáveis por acionar a Justiça foram Nado e seu partido, que moveram um processo de ação de investigação judicial eleitoral. Nado finalmente chega à Câmara após tentar se eleger em quatro ocasiões: 1994, 2008, 2012, e 2020,
quando obteve 2.287 votos. Nado disse que encontrou irregularidades através de uma pesquisa feita por seu advogado após o resultado das eleições. O vereador despistou sobre a possibilidade de ter apresentado a denúncia por ser o primeiro político na fila de espera uma vaga na Câmara: ``O que me motivou foi a busca da verdade e honrar aqueles que depositaram sua confiança em mim nas urnas. Diante da injustiça, as pessoas corretas não devem se calar”.
Sociedade | 7
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Outubro, 2021
Mutirão regulariza situação de ambulantes Movimento foi realizado pela prefeitura após incidente com vendedor de cocada GIOVANE ZANDONAI
Reprodução: Twitter
Vendedor de cocada foi multado e teve seus produtos apreendidos
Quanto vale uma cocada? O doce não costuma ser caro, mas para um vendedor ambulante de Joinville as cocadas custaram mais de R$1,6 mil. Esse foi o valor da multa que o vendedor, identificado como Romualdo, recebeu no dia 22/09, além de ter as mercadorias apreendidas. O motivo foi a comercialização dos doces no terminal do centro da cidade sem licença da prefeitura. A repercussão do caso foi bastante negativa e motivou ações da prefeitura de Joinville para regularizar a atuação dos ambulantes. Assim surgiu o Mutirão da Regularização, no dia 30/09, no Ginásio Abel Schulz. Uma ação da Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente (Sama), da Secretaria da Assistência Social (SAS), da Vigilância Sanitária e da equipe do Espaço do Empreendedor. Cerca de 140 ambulantes foram atendidos no
mutirão. Desses, 64 saíram com as licenças emitidas e outras dezenas deram entrada no processo. “Esta ação trouxe resultados positivos, garantindo a formalização desses trabalhadores que muitas vezes, por falta de conhecimento, não buscam a licença”, afirma Fábio Jovita, secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Joinville. “A Secretaria vai realizar novas ações a fim de possibilitar que mais pessoas atuem de forma regular no município”. No Centro de Atendimento ao Cidadão, a Sama segue atendendo àqueles que precisarem regularizar sua situação. Por outro lado, há pressão dos lojistas para combater os ambulantes. No dia seguinte ao caso da cocada (23/09), a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) publicou nota defendendo a fiscalização do comércio informal, com o objetivo de acabar com a atividade de ambulantes irregulares. Segundo a enti-
No caso do vendedor de cocada, o auto de infração aponta que o homem infringiu o artigo 122 da Lei Complementar 84/2000 (Código de Posturas): “O exercício do comércio ambulante dependerá sempre de licença especial da prefeitura municipal, mediante requerimento do interessado”. Mas a advogada de direito trabalhista, Geisa Cristiane Kuster, conta que “a Lei 84/2000 está em vias de ser alterada, devendo ser atualizada para a realidade do
município. A Câmara de Vereadores de Joinville já está debatendo alguns pontos relevantes”. Aos vendedores ambulantes, Geisa recomenda o cadastramento na Sama para obter a licença municipal. “Uma vez concedida a licença, o vendedor ambulante poderá exercer sua atividade de forma regular, sempre de porte de sua licença especial, devendo apresentar à fiscalização quando solicitado. Deste modo, evitará receber multas por des-
MARCUS HOFFMANN
dade, os ambulantes “perturbam a circulação das pessoas, obstruem a visibilidade das vitrines, dificultam o acesso às lojas e estabelecem concorrência desleal com os pequenos comércios”. Segundo o presidente da CDL, José Manoel Ramos, a informalidade não se justifica pois há 10 mil vagas de emprego em Joinville. O comerciante Antônio de Oliveira Pinto tem 64 anos e vende pipoca no centro de Joinville. Ele chegou no município há 39 anos e conta que no início não tinha alvará, mas assim que começou a crescer o número de ambulantes a fiscalização também aumentou. “Antigamente tive problema com isso, mas hoje tenho alvará”. Antônio observa que os haitianos têm sofrido mais com os fiscais ultimamente. Joinville tem pelo menos 4,5 mil imigrantes, o segundo maior número do estado, segundo dados da Polícia Federal. A maioria deles são haitianos
e venezuelanos e muitos têm dificuldades para encontrar emprego. Rofenel Joslin é haitiano e está há sete anos no Brasil. Como estava desempregado, começou a ajudar a esposa vendendo roupas nas calçadas do Centro de Joinville. Ele esteve no mutirão e afirma que não foi possível regularizar sua situação. “Disseram que a única coisa que é possível vender é cocada e pano de prato. E se o fiscal ver a mercadoria no chão pode confiscar”, disse o vendedor. Segundo servidores da Sama durante o mutirão, a ação era focada em regularizar produtos alimentícios. Cerca de 20 pessoas que tinham produtos que não poderiam ser regularizados foram direcionadas para o Centro Público de Atendimento aos Trabalhadores (Cepat). Lá houve encaminhamento dentro das vagas disponíveis na cidade. Mas Rofenel não conseguiu emprego no Cepat, pois as vagas exigem experiência.
O que a lei diz sobre o comércio ambulante? cumprimento da lei”. Ela reforça a importância do comerciante respeitar os horários e locais definidos pelo município, além de vender apenas os produtos declarados no requerimento da licença. A advogada também informa que os ambulantes que trabalham dentro da área de estabelecimentos privados — mercados, lojas de departamentos e afins — não precisam desta licença. É necessária apenas para quem circula nas vias públicas.
A criação de empregos
formais dobrou no Brasil em 5 anos. De acordo
com o IBGE, do total de
89 milhões de ocupados, 36,3 milhões são informais.
8 | Cultura
Festival de Dança de Joinville retorna em meio a pandemia
primeir
Com quase dois anos de covid-19, a 38ª edição do Festival aconteceu no modelo híbrido ISABELA PEIXER Máscaras, distanciamento social, álcool em gel e muita dança marcaram o evento que começou no dia 5 e se estendeu até dia 16 de outubro, em Joinville. Cancelada em 2020 por conta da pandemia, a 38ª edição do Festival de Dança de Joinville contou com apresentações de 316 grupos presenciais, com 1.319 coreografias, e 44 grupos virtuais, com 134 coreografias. Além disso, a transmissão do evento, com câmeras nos bastidores e comentaristas ao vivo, foi uma novidade deste ano. O cumprimento das medidas de segurança para prevenir o contágio da covid-19 causaram mudanças no evento, além de serem indispensáveis durante todo o festival. Uso de máscaras, álcool em gel, distanciamento de pelo menos um metro e medição de temperatura na entrada são cobrados pelos organizadores do evento. Aqueles que apresentarem estado febril não irão entrar. Para participar do evento, será necessário que o público apresente: ou a carteira de vacinação com o esquema vacinal completo (duas
doses ou dose única de vacina contra a COVID-19), ou o laudo de exame RT-qPCR realizado nas últimas 72h, ou a Pesquisa de Antígeno para SARS-Cov-2 por swab, realizado nas últimas 48h com resultado “negativo, não reagente ou não detectado”. A capacidade máxima do público variou de acordo com a situação do município no mapa de risco da Covid-19. No início da venda de ingressos eram 30%, porém, como Joinville diminuiu o nível, 60% da capacidade total pode ser ocupada pelos espectadores. Vale lembrar que mudanças na situação de risco potencial da região podem trazer alterações nos procedimentos de segurança. Quem comprou o ingresso e foi impedido de entrar ou solicitado a sair do evento por não cumprir as determinações sanitárias, não teve reembolso de valores pagos. A organização do evento separou uma Sala de Apoio Sanitário, instalada no térreo do Centreventos Cau Hansen. Durante o festival, atendeu como uma base da Secretaria de Saúde, agindo em função das medidas protetivas para a Covid-19, como: FELIPE ROQUE
Apresentação dos palcos abertos na feira da sapatilha, dia 13
testagem, primeiro atendimento para casos respiratórios, encaminhamentos e definição de quarentena. Para a atleta Giovanna Araujo Gonçalves, do grupo Kulture Kaos, que participa do festival desde 2015, as dificuldades para a apresentação deste ano foram maiores do que nas outras edições. Além do nervosismo e da ansiedade para subir no palco, o uso de máscaras durante os ensaios, a procura de ambientes maiores, para evitar aglomerações, entre outras questões foram obstáculos que a covid-19 impôs na dança. De acordo com a dançarina, “Foi muito difícil ter que ensaiar com máscara. Alguns ensaios chegam a ter cinco horas. Já antes da pandemia, a dança não era valorizada. Nós [dançarinos] não somos vistos como atletas, somos vistos apenas como entretenimento, sem profissionalismo. Como se a dança não fosse algo que precise de treinamento e esforço para acontecer.” As mudanças do formato do evento afetaram diretamente os dançarinos. Nos outros anos, os grupos de dança da cidade eram avaliados presencialmente. Desta vez a avaliação ocorreu de forma online para todos os grupos. Os dançarinos puderam ensaiar suas coreografias no palco apenas duas vezes antes da apresentação. Já no segundo dia de apresentação, a organização do evento tornou o uso de máscaras durante as apresentações não obrigatório, entretanto os participantes ainda tiveram que apresentar o esquema vacinal contra covid completo, ou exames que comprovem que não estavam com o vírus. A organização do evento não custeou os exames para os atletas. Algumas dessas mudanças foram repentinas e acabaram atrapalhando o planejamento dos grupos. “No começo dos ensaios, estávamos contando com determinadas pessoas, e após as alterações tivemos que mudar, por diversos motivos pessoais dos dançarinos, como o fato de ter que pagar a testagem da covid-19, por exemplo, que foge da realidade
de alguns”, diz Giovanna. Ela ainda comenta que essas decisões poderiam ter sido analisadas com mais antecedência, já que o festival estava programado para acontecer desde o ano passado. A organização e o planejamento dessa edição foi totalmente diferente dos outros anos. “Atender todos os protocolos e selecionar todos os trabalhos foi um novo desafio com muitas mudanças, mas tudo foi feito com cuidado, para que o evento seja seguro e divertido para todos”, disse Társila Elbert, que faz parte da assessoria do Festival. De acordo com os assessores, a relevância do festival é imensa, já que é o maior festival de dança do mundo e um dos principais do país. Ele traz pessoas de todos os lugares para Joinville, movimentando a economia e o turismo da cidade. A diversidade de estilos, grupos e culturas é enorme. É uma experiência muito rica pros bailarinos e para a população. Ele movimenta a cidade e faz com que o país volte os olhos para cá.
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“Os cursos, a Feira da Sapatilha e outras atividades se mantêm no formato híbrido.” MARINNE O’HARA
Para receber o público com conforto e segurança, o Festival de Dança desta edição permaneceu no formato híbrido, com atividades presenciais e online, dependendo da escolha de cada participante. De acordo com a assessoria do festival, essa mudança trouxe uma grande logística para a organização, mas adequa o evento ao que o mundo está vivendo e o torna inovador. Estima-se que o festival contou com aproximadamente 270 mil telespectadores. “A cidade de Joinville se preparou para receber o público do Festival e quis fazer um evento modelo, oferecendo orientação, cuidado e protegendo tanto visitantes quanto moradores”, reforçou o presidente do Instituto do Festival de Dança de Joinville, Ely Diniz. Segundo a assessoria de comunicação, as transmissões ocorreram por diversos navegadores (computador, celular ou televisão). O link de acesso esteve disponível no site do Festival de Dança mesmo, tanto para transmissão tradicional quanto para comentada.
Palcos abertos
Os Palcos Abertos aconteceram em espaços públicos, fazendo com que a dança cheguasse em toda comunidade. O Centro de Artes e Esportes Unificados do Aventureiro, no Shopping
Bailarinos envolvidos no acidente sobem ao pódio no Festival de dança O grupo Corpo de Baile Noara Beltrami bateu em um caminhão na sexta-feira (8) enquanto estava a caminho do Festival de Dança. O acidente aconteceu no viaduto da rua Ottokar Doerffel, no bairro São Marcos. A batida deixou oito bailarinos feridos. No caminhão, havia apenas o condutor, que não se machucou. As vítimas foram encaminhadas para o atendimento pelos socorristas dos bombeiros e Samu. Cinco foram levadas ao Hospital Municipal São José, duas para o Regional e uma ao Hospital Dona Helena. Em redes sociais, a responsável pelo grupo falou sobre o acidente e confirmou a participação dos bailarinos no festival de dança.
“Estamos bem graças a Deus. Não tivemos nenhuma perda maior, todos estão com vida”, disse Noara Beltrami. Mesmo com o imprevisto, o grupo subiu ao pódio três vezes. Na terça-feira (12), o grupo conquistou o 2º lugar no conjunto da Balé Neoclássico. Já no sábado, a equipe conseguiu duas posições em um só dia, 3º lugar na variação feminina de Balé Clássico de Repertório, e 2º lugar no solo feminino de Dança Contemporânea. A pessoa com maiores ferimentos foi a dançarina Maria Eduarda Meireles, de 15 anos, com um dedo do pé amputado. Ela recebeu alta médica do Hospital São José no último domingo (10). Além disso, ela sofreu um ferimento na orelha.
Mueller, no Garten Shopping, no Shopping Cidade das Flores e na Rua da Dança, localizada na Praça Tiradentes, foram pontos de Palcos Abertos. São Francisco do Sul também sediou algumas programações no Cineteatro X de Novembro, na Praia da Enseada e no Centro Histórico. As pessoas tiveram acesso às apresentações de forma gratuita durante todos os 12 dias de programação do 38º Festival de Dança de Joinville. Foram 34 coreografias de Joinville prestigiadas durante o evento, entre conjuntos, duos e solos. Montadas por oito grupos diferentes, as 18 coreografias sucederam na Mostra Competitiva. No Festival Meia Ponta, quatro coreografias foram apresentadas por quatro grupos. Já nos Palcos Abertos, sete grupos joinvilenses apresentaram 12 coreografias. Nos Palcos Abertos, foram realizadas apresentações de danças populares internacionais, danças urbanas e jazz. No Festival Meia Ponta, os grupos fizeram uma competição pelas categorias: danças populares internacionais, danças populares brasileiras e danças urbanas. Durante as noites de Mostra Competitiva, os grupos joinvilenses competiram nas categorias de dança contemporânea, danças populares brasileiras, danças populares internacionais, danças urbanas, jazz e sapateado.
Feira da Sapatilha A Feira da Sapatilha é considerada a maior do país. Ela é vinculada ao Festival de Dança de Joinville e reúne bailarinos, professores, coreógrafos e público em geral. A feira traz moda, tendências, lançamentos, artigos e equipamentos que foram adquiridos pelos participantes e visitantes durante o evento. Nesta edição, a Feira da Sapatilha também foi realizada no formato híbrido. As lojas expuseram seus produtos tanto nos estandes no Expocentro Edmundo Doubrawa, quanto nas plataformas e-commerce. Além da venda de produtos e artesanato, a Feira da Sapatilha também foi um dos Palcos Abertos do Festival de Dança de Joinville.
1 0 | Educação
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Outubro, 2021
Detentos são destaque em ressocialização educacional DIVULGAÇÃO
O bom desempenho dos presos no Exame Nacional para PPL promove readaptação social e redução da pena
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), aplica desde 2010 um Exame Nacional para pessoas privadas de liberdade (PPL) ou sob medida socioeducativa. A cada ano o número de inscritos aumenta. No total, 6.078 presos de Santa Catarina fizeram a prova e 2.067 tiveram aprovação total no exame. Já no sistema socioeducativo, entre os 207 adolescentes que prestaram o exame, 31 tiveram aprovação em todas as áreas. No início de 2021, 77 adolescentes realizaram as provas. Dentre eles, oito disputaram vagas para se inscrever no Ensino Superior. Além disso, dois entre os oito concorrentes alcançaram a média necessária e a aplicaram no processo de inscrição do SISU – Sistema Único de Seleção Unificada –, que permite a disponibilidade de bolsas em universidades públicas. No Casep de Joinville, um jovem de 19 anos alcançou uma nota acima da média nacional em algumas áreas do exame. O destaque foi em Ciên-
cias da Natureza, com 548,2 pontos. A média nacional foi de 490,39. Além disso, ele alcançou 640 pontos na redação linguística com o tema “O desafio de reduzir as desigualdades entre as regiões do Brasil”. Encorajado pelo grupo técnico da unidade, ele se inscreveu no curso de Engenharia de Transporte e Logística na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e no curso de Licenciatura em Química no Centro Universitário do Estado de Santa Catarina (UDESC). Também se cadastrou no PROUNI e se encaixou em uma vaga com 100% de bolsa para cursar o superior em Gestão da Qualidade na Universidade da Região de Joinville (Univille). O adolescente sempre apresentou curiosidade e desejo de cursar um ensino superior, por isso a equipe técnica da unidade o inseriu em três processos seletivos. Assim como ele, centenas de apenados têm o mesmo objetivo de cursar o ensino superior. Conforme a psicóloga da unidade, Daiana Busarello, o material utilizado pelos detentos é de pesquisas
realizadas pela equipe de presídio na internet. “Eles têm anseio por mais material. Cada vez estão pedindo mais, é visível notar a vontade de aprender e conseguir realizar um bom exame”, conclui. Neste ano, em Joinville, 113 reeducandos irão realizar o Enem-
PPL, representando uma adição positiva em relação a 2019. O Inep acredita que incluir a educação no processo de reincidência criminal faz uma grande diferença, pois tira as pessoas da exclusão social e investe em conhecimento e profissionalização.
Cerca de cinco mil detentos trabalham no sistema prisional catarinense, o que representa uma média de 20% do total. O valor já chegou a 31%, antes de uma redução por conta da pandemia. A expectativa do governo do estado é que as primeiras turmas sejam capacitadas até o começo de outubro. Dos 360 detentos da Penitenciária Industrial de Joinville (PIJ), 166 estão trabalhando, recebendo salário e sendo beneficiados com a redução da pena. Em parceria com o Senai, o governo se uniu ao ensino educacional para ampliar o número de detentos aptos ao trabalho. Para o governador Carlos Moisés, em fala publicada pelo governo do estado, a iniciativa possibilita
bons parâmetros em relação à ressocialização por meio do trabalho. Ele reforça também que Santa Catarina já possui um modelo de trabalho copiado em outros estados. Uma delas, por exemplo, é a unidade São Cristóvão do Sul, onde 100% dos apenados participam das atividades. O objetivo é qualificar os detentos para logística e produção de peças de vestuário. Entre as opções de aula estão: costura industrial, manutenção de máquinas de costura, auxiliar de logística e noções de cortes e serigrafias. “Eles iniciaram produzindo os novos uniformes para os alunos da rede estadual de ensino”, enfatiza o secretário de administração prisional socioeducativa, Leandro Lima.
Durante uma reunião na Secretaria do Estado de Desenvolvimento Regional de Joinville, para a renovação do contrato de trabalho dos detentos, o diretor da penitenciária, Richard Harrison dos Santos, informou ao site oficial do governo que a prestação de serviço para as empresas representa uma relação muito boa de confiança que tende a crescer com a vinda de outras empresas. Também esteve presente no evento o secretário de Desenvolvimento Regional do estado, Manoel Mendonça, que anunciou estar criando mais de 650 vagas no sistema prisional da região Norte. “Estamos investindo maciçamente na área de segurança nos oito municípios integrantes da SDR. Está acontecendo
a ampliação do Presídio Regional de Joinville, a construção das instalações do Regime Semi Aberto e a construção das Unidades Prisionais Avançadas (UPAs) de Barra Velha e São Francisco do Sul”, conclui Mendonça.” Em vários depoimentos, os representantes das empresas que possuem parceria com a Penitenciária Industrial de Joinville reagem positivamente à iniciativa e demonstram apoio ao processo. Na opinião de Paulo Antonini, da empresa Ciser, em Joinville, a parceria é muito importante tanto para o setor empresarial como também para os detentos. “Com certeza estes trabalhos vão trazer novas perspectivas de futuro para os presos”, expõe Antonini.
MARINNE O´HARA
Projeto de ressocialização na penitenciária de Joinville
Incentivoàcapacitaçãorestauraoportunidades
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Outubro, 2021
Economia | 1 1
Criptoativos geram renda por meio de games online e artes digitais Jovem catarinense ganha quase três mil reais por mês com o jogo Axie Infinity LUIZ DOS ANJOS
A tecnologia chamada de Blockchain, também usada como fundamento do Bitcoin (BTC) e de outros criptoativos, funciona como um banco de dados público que descentraliza as transações do mercado e declarações de propriedades. Graças a esse recurso inviolável, os Tokens Não-Fungíveis (NFT) – peças insubstituíveis – do game online Axie Infinity têm gerado uma renda mensal de quase três mil reais para Nickolas de Souza, 22, residente em Florianópolis. Nickolas explica que conheceu o jogo por meio da indicação de um amigo e que o investimento inicial dele foi de oito mil reais. Atualmente, três meses depois de ter começado e recuperado o valor investido, ele recebe entre dois e três mil reais mensalmente em Axie Infinity (AXS) e Smooth Love Potion (SLP), criptoativos baseados na plataforma Ethereum – uma rede de transações descentralizadas com contratos inteligentes e tecnologia Blockchain.
O game é parecido com o anime Pokémon. Os gamers cuidam de “Axies”, monstrinhos que batalham. Cada um deles tem habilidades e características próprias, sendo NFTs. Para jogar, é necessário comprar Axies de quem já faz parte do jogo. O valor varia de US$ 150 até milhares de dólares, e a plataforma cobra 4,25% em toda operação de venda entre usuários. Lauro Gripa Neto, 31, é joinvilense e embaixador da moeda digital Polkadot (DOT). Segundo ele, os NFTs funcionam como uma certificação de posse sobre algo único que está na internet, autenticada por um registro criptografado no Blockchain. “Hoje, a Ethereum é a principal rede de ‘tokanização’”, alega Lauro. Skins de jogos e obras artísticas são exemplos de tokens negociados com frequência. Para ilustrar melhor a lógica disso tudo, um exemplo é a pintura Mona Lisa. Ela é singular por si só e, por isso, tem um valor especial e significativo no mercado de artes, o que define o custo para quem quiser adquiri-la. A obra é,
MONTAGEM DA INTERNET
Axies do game são únicos para cada jogador e podem valer muito dinheiro portanto, um NFT em estado físico. E dessa maneira funciona o mercado das criptoartes. O youtuber e UX designer curitibano Tim Balabuch, 31, diz que o Blockchain é como um livro-razão digital – ou seja, um registro de entradas e saídas. “A diferença é que o Blockchain não está em um único lugar, mas em uma rede imensa de computadores, o que o faz seguro”, reforça Tim. Conforme estatísticas do painel CryptoArt Market Data, o total de obras vendidas
em NTFs foi 1.637.557, o que movimentou, desde o fim de 2020 até o momento, mais de U$ 881,7 milhões (290.924.341 ETH). Marcos Fontenele é youtuber e fundador do grupo Axie Infinity Brasil no Telegram, a maior comunidade brasileira sobre o jogo, com mais de cinco mil membros. Ele afirma: “os criptoativos são a revolução financeira para as pessoas, e por isso os governos tentam de todas as formas banir ou aplicar impostos”.
Criptomoedas são terceiro investimento mais escolhido no Brasil Um relatório divulgado em agosto deste ano pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo e Fundação Getúlio Vargas, junto com a fintech Hashdex, revelou que as criptomoedas já são o terceiro ativo mais escolhido pelos investidores. Nas duas primeiras posições estão as ações na Bolsa de Valores e os Títulos Privados de Renda Fixa. A pesquisa, que dispôs de uma amostra com 576 participantes, também mostrou que os criptoativos têm maior predominância entre investidores pessimistas em relação à economia brasileira. “Os criptoativos são uma oportunidade para a popula-
ção deixar de ser completamente dependente do Estado e das instituições privadas”, aponta Tim Balabuch. Porém, ele explica que, quando as pessoas entendem que, com os cripto-
“Não tem como dissociar o Bitcoin de uma revolução político-filosófica.” Lauro Gripa Neto, joinvilense embaixador da Polkadot.
ativos, são totalmente responsáveis pela segurança do que têm, elas deixam de confiar tanto. “Como não há uma instituição centralizada, não há suporte para casos de problemas com senhas, golpes entre outros.” Mesmo assim, Lauro Gripa vê as criptomoedas como uma contraproposta política. Ele conta que o Bitcoin foi pensado em meio à crise econômica de 2008 por um grupo de anarquistas e libertários chamado Cypherpunks. A ideia era desenvolver um dinheiro descentralizado, não controlado pelo Estado ou instituições privadas, mas pelo povo.
“Conheci tudo isso no meio político, estudando anarquismo e libertarianismo”, comentou. Além disso, o embaixador da Polkadot esclarece que o poder de emissão de moeda, ao mesmo tempo que é solução para o problema das cédulas, também é um problema, pois é usado com certo abuso. “Na crise dos Estados Unidos, em 2008, muitas pessoas perderam casas, mas os bancos que provocaram aquilo foram salvos pelo governo, que emitiu mais dinheiro”, alega ele. “Esse dinheiro chega primeiro nas instituições e depois chega ao povo no formato de inflação, impactando no consumo.”
1 2 | Cidade
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Outubro, 2021
Retirada de radares aumenta acidentes Ocorrências cresceram cerca de 21% nos cinco meses seguintes. Colisões entre carros e motos são as mais frequentes
ANA CAROLINA DE JESUS Após a desativação dos radares de fiscalização eletrônica em Joinville no início de março deste ano, o número de acidentes de trânsito aumentou cerca de 21% nos meses seguintes até agosto. Segundo dados do Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville, o mês de abril teve 338 ocorrências de trânsito atendidas, 65 a mais que o mês anterior, que foram 273. O número se mantém na média de 333 acidentes por mês até agosto. Até agosto deste ano mais de 2400 ocorrências foram atendidas pelos bombeiros voluntários. As mais comuns são colisões entre carros e motos, que nos últimos meses equivaleram a quase um terço do número total de acidentes, com Vejo motoristas cometendo
imprudências quase
todos os dias. Uma das
mais comuns é avançar o sinal vermelho.
Luiz Bento, motorista de ônibus
média de 130 acidentes por mês, seguidas por queda de moto, que mantém a média de 36. Acidentes envolvendo carros e bicicletas no mês de agosto somaram 29. Nos anos anteriores os números destes tipos de acidentes foram menores. Luiz Bento, 49 anos, é motorista de ônibus na Transtusa, uma das empresas responsáveis pelo transporte coletivo da cidade, e afirmou que percebeu mudanças no trânsito após a retirada dos equipamentos das rodovias. “Os motoristas passaram a abusar da velocidade, fazendo com que mais acidentes aconteçam”, disse. Ele acredita que este seja um dos fatores que levam a imprudência de muitos motoristas, resultando em acidentes que podem envolver e ferir outras pessoas no trânsito. “Isso ocorre principalmente na madrugada e nos finais de semana”, avaliou. Todos os radares foram desligados no início de março e logo depois todos os equipamentos foram retirados das vias. Segundo a Prefeitura Municipal, era inviável prorrogar o contrato com a empresa que operava os equipamentos. Em abril deste ano, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) e a Justiça determinaram a suspensão da licitação referente à contratação de nova empresa para operar os radares na cidade.
FELIPE ROQUE
Cerca de 236 mil infrações de trânsito foram registradas em 2020 A suspensão foi realizada devido a ausência de detalhamento de custos unitários nas planilhas de orçamento que foram apresentadas. Após isso,o Departamento de Trânsito (Detran) revisou o edital e ele foi publicado novamente no dia 24 de agosto. A sessão para decisão quanto à contratação da empresa ocorreu no dia 17 de setembro e está na fase final para abertura do processo licitatório.
No ano de 2019, foram aplicadas cerca de 46 mil multas por agentes de trânsito em Joinville. Já em 2020, mesmo com a pandemia, a quantidade total de multas passou para 51 mil. Até julho deste ano, o número já é de cerca de 31 mil. Só no mês de abril, primeiro mês sem os radares de fiscalização eletrônica nas ruas, foram aplicadas cerca de 5.800 multas.
Joinville é a cidade com mais infrações em SC Joinville é a cidade que mais comete infrações de trânsito em Santa Catarina. Segundo estatísticas do site do Detran, só no ano de 2019, o município registrou cerca de 265 mil infrações. Florianópolis ficou na segunda posição com mais de 219 mil, seguida de Criciúma, com 157 mil. Em 2020, mesmo com o início da pandemia do Covid-19 e o fechamento total dos estabelecimentos conforme decretos estaduais, o número alto de infrações se manteve, com 236 mil ocorrências. Segundo a assessoria da Prefeitura, após a retirada dos equipamentos, as rondas em áreas esco-
lares, que antes eram fiscalizadas pelos radares, foram intensificadas pelos agentes. Conforme dados fornecidos pela prefeitura da cidade, anteriormente espalhados por Joinville haviam 134 radares de fiscalização eletrônica até o mês de março. A via que mais possuía radares era a rua Monsenhor Gercino, que atravessa a zona sul até a zona central, com 10 radares. Em segundo lugar estava a rua Dona Francisca, localizada na região central, com seis equipamentos. O motoboy Carlos Alberto Hass Júnior, 40 anos, não notou nenhu-
ma diferença no trânsito após o desligamento dos radares. “Acho que a imprudência faz parte da pessoa. Depende muito de quem está pilotando ou dirigindo o veículo. É uma falha humana”, respondeu. Ele exerce a função há 18 anos e já presenciou muitos acidentes no trânsito. “Pessoas falando no celular, cortando a frente sem olhar, avançando o sinal, vejo isso todo dia. Há uma rivalidade muito grande entre motoristas de caminhão, de ônibus, de carros e motocicletas. Hoje em dia não há respeito, então está bem complicado”, completou ele.
De acordo com a assessoria da prefeitura de Joinville, é importante ressaltar que cabe ao motorista respeitar a sinalização de trânsito e praticar a direção defensiva mesmo quando não há fiscalização na rua. Estas medidas geram segurança tanto para motoristas, quanto para ciclistas e pedestres. Quando um acidente de trânsito ocorre, vários órgãos precisam ser mobilizados para prestar atendimento. Além disso, dependendo da gravidade, a vítima pode ficar temporária ou permanentemente inapta para as atividades que praticava rotineiramente.
Outubro, 2021
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Segurança | 1 3
Motoristas de aplicativos pedem mais segurança Até junho deste ano, 43 pessoas morreram no Brasil enquanto faziam viagens pelo serviço ANDERSON MARQUES O número de agressões contra motoristas de aplicativo está crescendo cada vez mais. De acordo com levantamento do programa Fantástico, até junho de 2021, foram registradas 43 mortes desses profissionais no Brasil. Em Joinville, dois ataques comoveram a comunidade: o primeiro em 2019, com um homicídio, e o segundo nesse ano, com um assassinato a facadas. Em 24 de outubro de 2019, Joel Weiber levou cinco tiros de arma de fogo e foi morto por dois adolescentes que estavam em seu veículo no bairro Paranaguamirim. Após a morte, os assassinos lançaram o corpo da vítima pela rodovia, que depois foi encontrado com marcas de atropelamento. Evandro Telles Rodrigues foi assassinado por dois homens após aceitar uma corrida no dia 7 de agosto de 2021. Telles, como era conhecido por amigos e familiares, foi morto a facadas na região do bairro Boa Vista. O caso ocorreu três dias depois que a vítima esteve na Câmara de Vereadores pedindo apoio para mais segurança pela categoria. O encontro aconteceu em virtude da preocupação com a vulnerabilidade da profissão. Além de serem assassinados, os motoristas de apps muitas vezes são amordaçados e colocados dentro de porta-malas dos carros, ou perdem os veículos para sempre, quando são levados para desman-
ches clandestinos. Foi o que aconteceu com o joinvilense Marcos Oliveira, abordado por um passageiro na zona Sul no ano passado. “O cara percebeu que o sinal da operadora tinha caído, quando anunciou o assalto com arma e mandou eu descer do carro sem olhar para trás e levou o meu carro’’, lembra Marcos. Após o episódio, ele abandonou esse tipo de serviço por receio de acontecer algo com ele e sua família. Desde o começo dos ataques, protestos com carreatas pedindo mais segurança à classe aconteceram em Joinville. As principais reclamações dos trabalhadores são relacionadas à falta de proteção das empresas e à falta de regulamentação do serviço. Com a intenção de apoiar esses trabalhadores, a Associação dos Motoristas de Aplicativos de Joinville (AMAJ) foi criada em março de 2018. A entidade conta com aproximadamente nove mil membros. Segundo o presidente William Tenório, a instituição conversa com as forças de segurança para que seja realizada uma fiscalização mais dura, porém, como se trata de um serviço privado é mais difícil. “Não há muito o que cobrar do setor público uma ação de segurança, além daquilo que toda comunidade cobra”, afirma. De acordo com William, a estimativa de profissionais desse ramo é de 8 mil pessoas em Joinville. Além de Santa Catarina, diversos estados também sofrem com esse tipo de violência. Segundo
pesquisa do aplicativo de viagens Rebu, 123 mil motoristas fizeram 14 acionamentos do botão de pânico por dia no estado de São Paulo em 2020. Já uma apuração feita pelo aplicativo de localização Drive Social indica que 156 mil condutores acionaram 84 vezes o recurso no Ceará ano passado. O botão de pânico pode ser usado durante corridas para a realização de chamadas rápidas para a polícia. A ideia é facilitar a execução de ações de segurança, principalmente em momentos críticos. Além de chamar a polícia, é possível entrar em contato com a central da Uber ou compartilhar dados da viagem com contatos. Um empregado da Uber, que preferiu não se identificar, conta que o aplicativo muda as estratégias de seguranças conforme o grau de crime de cada bairro ou localização solicitada. Ele alega que quando morava em Minas Gerais, a liberdade para escolher onde pilotar era maior. “Em Belo Horizonte, tem muitos lugares perigosos e, quando solicitado a viagem, o motorista vê no mapa a área de periculosidade antes de aceitar o cliente, coisa que não se vê aqui no Sul”, critica.
Empresas dizem que prestam apoio O presidente da AMAJ, William Tenório, reclama que as empresas não se posicionam oficialmente em nenhum caso de violência. “Sempre que questio-
nadas, a afirmação é sempre de que irão colaborar com as investigações no que elas forem acionadas”, contesta. No Brasil, a Uber é a maior companhia de transportes individual, a empresa começou suas atividades em 2014, e até julho de 2021, já contabilizou um milhão de empregados, segundo pesquisa de agosto de 2020. Influenciadas por esse crescimento, outras entidades aproveitaram para se estabelecer no mercado, como 99, Blablacar, entre outras. A Uber foi contraditória sobre o acesso aos dados de violência contra seus funcionários. A empresa privada disse que só podem ser solicitados aos órgãos públicos de segurança. Para tentar diminuir o número de ataques a seus colaboradores, a plataforma conta com serviços como detecção de mensagens inapropriadas, ligação para a polícia, checagem de rota, gravação de áudio e outros recursos. A 99 alega que investiu R$ 70 milhões em sistemas de proteção, incluindo inteligência artificial e câmeras de monitoramento, o que reduziu em 20% os casos graves ocorridos em todo o país, como roubos e sequestros, no primeiro semestre de 2021. A Blablacar afirma que realiza verificação de números de telefone, e-mails e fotos de perfil, e permite que seus membros passem por uma verificação de identidade. ANDERSON MARQUES
Categoria se preocupa com a falta de segurança após morte de dois motoristas de aplicativos na região de Joinville
1 4 | Esporte
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Outubro, 2021
Categorias de base ajudam jogadores de futebol a entenderem a profissão Atletas jovens dependem da aprendizagem das academias para agregar profissionalmente OTÁVIO LAURINDO A base tem um papel muito importante dentro do futebol, pois permite que jogadores tenham um ponto de partida em suas carreiras e cheguem com mais conhecimento nos times profissionais. Além disso, permite às equipes economizar e lucrar muito nos caixas ao utilizar atletas da casa. No Brasil, o ritmo é o mesmo, visto que clubes como Santos, Athletico Paranaense, Fluminense, entre outros, sempre dão muitas oportunidades para jovens jogadores do clube. De acordo com dados de uma pesquisa da Pluri Consultoria, o Peixe (mascote do Santos) foi o clube brasileiro que mais utilizou esses jogadores nos últimos cinco anos. Segundo os dados, 39,6% dos minutos jogados pelo elenco principal foram dos meninos da vila (apelido de quem se forma no time do estádio Vila Belmiro). Segundo Arthur Bezerra, atleta do time sub-21 da Krona (equipe de futsal de Joinville), a categoria de base prepara os jogadores em
todas as áreas (técnicas, físicas, mentais etc) e os dá uma ótima chance de alcançarem êxito profissional. “Como o futsal é um esporte muito rápido e intenso, o raciocínio precisa ser bem trabalhado para melhorar a tomada de decisão dentro de campo. Na formação esses fatores são bastante trabalhados e desenvolvidos”, disse Arthur. Para Gianpietro Zanatta, ex-olheiro do Mestre Calcio (quarta divisão do futebol italiano), um scout (encarregado de encontrar os novos talentos) deve acima de tudo garantir o espírito de sacrifício dos jovens, e não iludir os jogadores de que o sucesso no futebol é de fácil acesso. “A parte mental e a capacidade de concentração são tão importantes quanto as qualidades técnicas no aprimoramento de um atleta”, conta o italiano. O Flamengo, clube bem sucedido nos últimos anos, montou um time recheado de estrelas por conta das vendas de jogadores formados no Ninho do Urubu (centro de treinamento do Flamengo) para o futebol europeu. Entre as
principais negociações estão: Vinícius Júnior para o Real Madrid (45 milhões de euros), Lucas Paquetá para o Milan (35 milhões de euros) e Renier também para o clube espanhol (30 milhões de euros). Em geral, a tradição do uso de jogadores da base em times profis-
sionais sempre esteve presente no futebol, especialmente no Brasil. Conforme uma pesquisa do Centro Internacional de Estudos Esportivos (CIES), em 2020, dos 55.865 atuantes em 132 ligas ao redor do mundo, 2.742 eram brasileiros ou iniciaram as carreiras neste país.
La Masia se diferencia das outras academias Ao longo da história do futebol, vários elencos ficaram muito marcados pelo grande número de futebolistas criados no clube e que ganharam muitas conquistas a partir disso. O Barcelona da era de Pep Guardiola (2008-2012) possuía sete dos 11 titulares revelados em La Masia (categorias de base do time espanhol). Entre eles Lionel Messi, Andrés Iniesta e Xavi Hernández, todos finalistas do prêmio Bola de Ouro em 2011. De acordo com André Donke, comentarista nos canais ESPN, como o estilo de jogo implantado na La Masia é basicamente o mesmo do time principal do Barcelona, acaba facilitando bastante a
adaptação dos atletas em formação. “Jogadores como Nico González e Pablo Gavi, que acabaram de chegar na equipe do Barça, se mostram muito à vontade com os outros companheiros. Dado toda a padronização de futebol recebida desde pequenos”, afirma o analista. Além de todo o entendimento futebolístico que os formandos de La Maisa recebem, eles também aprendem a lidar com diversas situações do cotidiano e como eticamente devem seguir suas carreiras. Algo fundamental para um jogador do Barcelona e de qualquer outra equipe é ter a cabeça no lugar, e entender a necessidade do esforço para obter sucesso. REVISTA FC BARCELONA
Jogadores revelados na categoria de base são esperança para o futuro do Barcelona
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Outubro, 2021
Especial | 1 5
Idosos sofrem com mudanças durante pandemia em asilos Em Joinville, visitas às instituições precisaram ser canceladas para evitar proliferação do vírus GABRIEL QUESADA No dia primeiro de outubro é comemorado o Dia Mundial do Idoso. Durante a pandemia, essa parcela da população precisou de atenção redobrada quanto aos protocolos de segurança e de prevenção a covid-19. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), 14,26% da população brasileira tem mais de 60 anos, e como as pessoas com mais idade estão enquadradas no “grupo de risco”, elas poderiam desenvolver complicações caso contraíssem o coronavírus.Tais fatores fizeram com que as Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) aumentassem os cuidados com a saúde dos moradores, diminuindo a frequência das visitas de parentes e amigos com o intuito de evitar a proliferação do vírus entre os idosos e os funcionários. Em Joinville, segundo o Conselho Municipal dos Direitos do Idoso (COMDI) existem 50 ILPIs espalhadas pela cidade, e dessas, 37 instituições possuem o certificado de inscrição junto ao COMDI. A Casa de Repouso Anjos da Guarda foi fundada em 2016, no bairro Saguaçu e atualmente, o lar tem capacidade para atender 23 idosos. Entre eles, está Albertina de Oliveira, 66 anos, moradora da Casa desde 2019, ela comentou sobre o período de isolamento durante a pandemia: “Foi bem difícil, eu senti bastante saudade das visitas dos meus filhos e dos
meus netos durante os finais de semana, mas o pessoal daqui cuidou da gente direitinho”. Do lado dos trabalhadores, o enfermeiro Luiz Gilberto Alvarenga da Silva, 31, contou: “Quando chegou a pandemia foi bastante assustador para todos. Tivemos o primeiro caso confirmado em dezembro de 2020, depois que voltamos com as consultas no médico, mas seguimos com os protocolos e foi tranquilo. Não perdemos ninguém por causa da Covid”. Luiz ainda disse que por conta do grande volume de notícias relacionados a pandemia, os idosos do lar ficaram com medo do vírus e para distraí-los, a clínica passou a promover regularmente terapia ocupacional, fisioterapia e outras atividades recreativas, além das visitas, que mesmo com as restrições, já retornaram. Na vacinação, de acordo com dados da Prefeitura de Joinville, dos 49.729 idosos que já foram vacinados com duas doses ou com a dose única contra a covid-19, 1.158 são residentes das instituições de longa permanência e desses, 360 já receberam a dose de reforço. “O Sistema Único de Saúde (SUS) funcionou bem para nós. Os enfermeiros do posto de saúde vieram até aqui para vacinar os moradores, e todos já tomaram tanto as duas doses quanto a dose de reforço sem problemas”, afirmou Luiz. Um dos principais receios dos cuidadores das casas de repouso durante o isolamento foi o desenvolvimento de problemas psicolóSABINE VAN ERP
Mais de mil idosos em ILPIs foram vacinados na cidade
GABRIEL QUESADA
Em Joinville existem 50 ILPIs espalhadas pela cidade gicos causados pelo hiato de visitas de parentes e contato com o exterior. “A velhice é uma fase de conexão muito grande. Com a pandemia, essas conexões que o idoso tem com a família diminuíram bastante e a falta delas pode levar a transtornos mais graves, como a depressão, por exemplo” explicou a professora e psicóloga Juliana Kunz Silveira. Um estudo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) revelou que houve um aumento de 90% nos casos de depressão entre os brasileiros durante a pandemia. Outra pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), demonstrou que nos meses de maio, junho e julho de 2020 as pessoas tornaram-se 80% mais ansiosas.
As pessoas que têm familiares nas ILPIs também enfrentaram dificuldades para se relacionar com seus parentes durante a pandemia. “Ano passado foi uma aflição. Não pudemos visitar minha avó por causa das restrições. O único jeito de falar com ela era por vídeo chamada, mas não era a mesma coisa” contou Mirela Vieira,19. A estudante ainda revelou que o lar Ventura, onde sua avó vive no Bucarein, contratou um robô para facilitar as conversas online dos moradores com os parentes do lado de fora, mas esse recurso acabou após a retomada das visitas agendadas. “Agora com as visitas presenciais, tomando todos os cuidados, melhorou bastante”, afirmou.
1 6 | Especial | Outubro, 2021
Steve Jobs Em 5 de outubro de 2011, o mundo se despedia de uma das mentes mais brilhantes da tecnologia. O transformador das indústrias de computação, música e telefonia que, após dez anos, ainda marca a vida de todos os usuários da rede. Responsável por revolucionar a maneira de se consumir a internet, Jobs foi o precursor de muitas das coisas que conhecemos hoje.
Ao lado de Steve Wonzniak, em 1976, na garagem de sua casa, se instalava o que hoje se tornaria uma das maiores empresas da atualidade. Uma fábrica de computadores, que no mesmo ano, criaria o Apple I (o primeiro computador pessoal, que era apenas uma placa mãe, junto a alguns chips, instalada em uma caixa de madeira). Até a criação do Wozniak, os computadores eram vendidos em kits, onde possuiam instruções de como montar e fazer suas instalações.
Em 1977, o Apple II já estava sendo lançado. Desta vez, um computador mais elaborado, apresentando um mouse e um disco rígido interno. Este já vinha montado, possuía um teclado junto a si e era capaz de gerar gráficos coloridos.
Lançado em 14 de janeiro de 1984, o Macintosh foi o primeiro computador pessoal a popularizar a interface gráfica (forma de interação entre o usuário e o computador), tela incorporada e mouse. Sendo bem sucedida em ramos da educação e editoração eletrônica, o Macintosh foi o maior feito da época para Jobs, sendo responsável por tornar a Apple a segunda maior fabricante de computadores da década. Em 2001, o iPod movimentou a grande virada da Apple na fabricação de produtos móveis não só pelo motivo da volta de Jobs para a empresa, mas pela mudança no modo de escutar e se reproduzir músicas. O audacioso aparelho proposto por Jobs oferecia a capacidade de se carregar até mil músicas dentro de um único dispositivo, que descartava a necessidade de se usar mídias físicas para para os players de música, passando a utilizar meios digitais. Criado em 2007, o iPhone chegou para revolucionar o mercado de smartphones. Antes dele, celulares com touchscreen necessitavam de uma ‘caneta’ para realizar os comandos sensíveis ao toque. Em 2008, com a inauguração da Apple Store, os usuários passaram a selecionar e baixar seus aplicativos direto com a Apple. Antes da invenção de Jobs, era preciso ir atrás dos apps nos sites dos produtores.