Diário do Rio Doce - Edição 28/07/2013

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DIÁRIO DO RIO DOCE

7A Governador Valadares, domingo, 28 de julho de 2013

Papa admite incoerência da Igreja e costura apoio para fazer reforma AOS QUE DEIXARAM O CATOLICISMO, PEDIU QUE VOLTEM A CRISTO; “JESUS SE UNE A TANTOS JOVENS QUE PERDERAM A FÉ NA IGREJA, E ATÉ MESMO EM DEUS”, DISSE FOTO: Tomaz Silva/Abr

por JAMIL CHADE da Agência Estado

RIO — O papa Francisco reconheceu pela primeira vez em público as “incoerências” da Igreja e, em plena Jornada Mundial da Juventude, costura politicamente sua reforma da Cúria — que será iniciada assim que retornar a Roma. Durante a via-crúcis realizada na sexta-feira, 26, na Praia de Copacabana, o pontífice fez um mea-culpa, diante de uma Igreja que ele assumiu. Em um recado a todos que estão insatisfeitos com as instituições católicas, pede que voltem a colocar Cristo no centro de suas vidas. “Jesus se une a tantos jovens que perderam a fé na Igreja, e até mesmo em Deus, pela incoerência de cristãos e de ministros do Evangelho”, declarou o papa. Em pouco mais de quatro meses de pontificado, Francisco tem evitado temas como os escândalos sexuais da Igreja. Mas sabe que os problemas afetaram de forma profunda a imagem e a credibilidade do Vaticano. Parte deles vem justamente de dezenas de padres e bispos que, por anos, abafaram escândalos em comunidades, enquanto a Santa Sé fez vista grossa. Sua referência no discurso foi um sinal, segundo o Vaticano, de que o papa sabe que precisa lidar com esse assunto em algum momento. E, de uma forma mais geral, terá de começar a passar dos símbolos a uma concretização de suas promessas de mudanças. Fontes do Vaticano admitiram que o papa tem colo-

cado a reforma da estrutura da Igreja como prioridade e, nos últimos meses, tem dedicado uma parte importante de seus dias para estudar formas de promover a mudança. Seu cronograma não mudou, nem mesmo durante sua estada no Rio. Na terça-feira, enquanto o Vaticano anunciava que seu dia havia sido de “descanso”, a realidade é que o papa usou o momento para se reunir com grupos religiosos e cardeais latino-americanos para estudar projetos de reforma. Na residência do Sumaré, promoveu reuniões de trabalho, recebeu lideranças e discutiu planos concretos. A principal meta é a de criar uma estrutura que permita que brigas pelo poder sejam diluídas e uma gestão moderna seja implementada em um órgão de séculos, que há muito tempo não é modificado. Mas, para realizar a reforma, Francisco já foi alertado que terá de construir consensos e atrair propostas “das bases”. Isso porque, em parte da Cúria, o papa poderá encontrar certa resistência e, para superá-las, terá de convencer que o projeto não é apenas dele, mas o resultado de debates. Na prática, isso está sendo traduzido em um apelo para que bispos de várias regiões apresentem ideias e projetos. O cardeal brasileiro João Braz de Aviz disse que, nas próximas semanas, “boas notícias” serão dadas, em uma referência a mudanças que serão anunciadas. “O papa vai mostrar que podemos ter uma Igreja mais leve, mais simples”, declarou.

Ministro confirma validade do Programa Mais Médicos por DÉBORA ZAMPIER da Agência Brasil FOTO: Agência Brasil

BRASÍLIA— O presidente em exercício do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, deu decisão provisória, na de sexta-feira (26), confirmando a validade da medida provisória que O MINISTRO Lewandowski deu a liminar na condição de plantonista, instituiu o programa Mais pois o STF está de recesso até o Médicos. O projeto do início de agosto Executivo Federal foi questionado por meio de mandado de segurança da Associação Médica Brasileira na última quarta-feira (24). Depois de citar números para destacar o mérito da iniciativa para suprir as deficiências na área de saúde, Lewandowski informou que o Judiciário não pode discutir o mérito de políticas públicas, “especialmente no tocante ao reexame dos critérios de sua oportunidade e conveniência”. O ministro ressaltou que não compete ao STF analisar os requisitos de urgência para edição de medida provisória, exceto em casos específicos de desvio de finalidade ou de abuso de poder. De acordo com ele, essa avaliação compete ao Executivo e ao Legislativo. “Não me parece juridicamente possível discutir, com certeza e liquidez, critérios políticos de relevância e urgência, na via estreita do mandado de segurança”. Lewandowski determinou a convocação de outras partes interessadas no processo e a prestação de informações pela Presidência da República. Em seguida, os autos serão encaminhados à Advocacia-Geral da União.

EM POUCO mais de quatro meses de pontificado, Francisco tem evitado temas como os escândalos sexuais da Igreja

Grupo quer Dilma longe do projeto de iniciativa popular BRASÍLIA (AE) — Na corrida contra o tempo para coletar 1,5 milhão de assinaturas, com o objetivo de tornar viável uma reforma política que valha para as eleições de 2014, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) teme que o respaldo do Palácio do Planalto carimbe a proposta como “chapa branca”, antes mesmo de a oposição ser convencida sobre as virtudes da iniciativa. O objetivo dos organizadores é fazer com que o projeto popular siga autônomo e ganhe apoio da sociedade. Ciente das dificuldades políticas para aprovar um plebiscito no Congresso e das resistência dos partidos, inclusive os da base aliada, para agilizar uma reforma política que tenha validade para a próxima eleição, a presidente Dilma Rousseff afirmou a auxiliares, conforme antecipou o Estado em sua edição do último dia 5, que poderá declarar apoio ao projeto de iniciativa popular. Entre as principais mudanças defendidas pelo movimento intitulado “Eleições Limpas” estão o sistema de voto em dois turnos nas eleições proporcionais (com

votação primeiro nos partidos e depois nos candidatos), proibição da doação de empresas a campanhas (cada eleitor poderá doar até R$ 700), criminalização do caixa dois (com pena de reclusão de dois a cinco anos) e a escolha dos candidatos de cada partido por meio de prévias fiscalizadas pelo Ministério Público e Justiça Eleitoral. Caso o modelo já tivesse sido adotado nas últimas eleições municipais, estimam os organizadores, o número de candidatos despencaria 73,5%. “Não queremos que a proposta seja vinculada ao governo ou à oposição, queremos deixar clara a qualidade da nossa proposta para a vida política brasileira”, afirmou o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcus Vinícius Furtado, que aposta no trâmite do projeto no Congresso em agosto, antes mesmo da conclusão da coleta de assinaturas. “Não interessa para o movimento que ele seja adotado pela presidente Dilma. Isso seria ruim porque queremos justamente evitar a partidarização. Não seria justo (que o projeto) recebesse qualquer tipo de vinculação. O que queremos e pre-

cisamos do apoio de todas as forças políticas na hora da aprovação (no Congresso). Uma aproximação partidária ou com o governo nesse momento poderia inviabilizar a proposta”, admite o juiz Márlon Reis, do MCCE, e presidente da Associação Brasileira dos Magistrados e Promotores Eleitorais. Encabeçado pela OAB, o MCCE é composto por 55 entidades dos mais diversos segmentos sociais, como Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal e União Nacional dos Estudantes (UNE), além de lideranças evangélicas e do movimento de gays e lésbicas (movimento LGBT). Dos presidenciáveis de 2014, a OAB já teve conversas com a presidente Dilma, o senador Aécio Neves (PSDB) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Todos teriam demonstrado interesse e simpatia à proposta — Campos chegou, inclusive, a pedir que o fim da reeleição fosse incorporado ao projeto. A exsenadora Marina Silva, que tenta viabilizar a sua Rede Sustentabilidade, já está sendo procurada pelo grupo. FOTO: Antônio Cruz/Abr

LÍDERES DO movimento não querem que iniciativa tenha participação de Dilma para que movimento não se torne político


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