Casa Claudia (March 2010)

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romance no campo Passou anos a tentar decidir se preferia viver no campo ou na cidade. Como não chegou a qualquer conclusão, manteve a sua casa de Londres e comprou outra em Dartmoor, sul de Inglaterra. A história do retiro de Suzy Bennett, jornalista de viagens, decorado pela designer de interiores britânica Holly Sullivan. Texto Petra Alves

Fotografia Constantino Leite

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mau estado em que a casa se encontrava não desmotivou Suzy Bennet, que uma hora depois de ter as chaves da sua nova (segunda) morada já envergava um macacão de trabalho e retirava o velho papel de parede. O espaço não é grande, mas foi suficiente para que a jornalista caísse de amores. Na época, procurava uma casa de campo “inserida num parque nacional, por haver menos risco de construção a rasgar a paisagem, como auto-estradas, por exemplo”. Num passeio pelo sudeste de Inglaterra descobriu Dartmoor: “Nem queria acreditar como era bonito. Já viajei muito, mas sinceramente penso que este é o lugar mais bonito do mundo. É um cenário perfeito para uma casa de férias: os telhados de colmo, o pub, a igreja, o verde dos carvalhos, o sentido de comunidade, a paz e o sossego, o ‘clip clop’ dos cavalos, meio de locomoção de alguns moradores… Aqui não mudou muita coisa nos últimos 300 anos!” Em três dias, visitou seis casas para venda; uma delas dava pelo nome de Moorland View. Através do agente imobiliário tomou conhecimento de que a casa integraria, no fim-de-semana seguinte, a secção de imobiliário do The Guardian. Não perdeu tempo e logo fez a sua oferta ao proprietário, impedindo a publicação do anúncio. “Tinha de me mexer, não podia brincar com o assunto. É que a perfeição é coisa rara de encontrar e eu encontrei-a assim que vi aquela a casa.” Por esta pertencer a um parque nacional, as normas de (re)construção são muito mais rigorosas do que em qualquer outro lugar. Lembrando a época em que teve

Foram mantidos intactos o maior número possível de elementos, como a laje do pavimento do piso térreo e a tábua corrida do superior, as vigas de madeira à vista, incrustadas nas paredes rebocadas. Boas ideias: na sala de jantar, a decoradora conjugou a estrutura de uma mesa com o tampo de outra; no WC social, exíguo, lavatório em inox de diâmetro reduzido assente sobre tábua de madeira

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de pedir dezenas de autorizações, além da permissão para alterações estruturais, Suzy graceja: “Quando perceberam que eu vivia em Londres, devem ter pensado que eu queria transformar a cottage (casa de campo) num open space cheio de aço inox!” O processo burocrático foi um dos grandes desafios deste projecto. Uma vez transpostos todos os obstáculos a esse nível, outros emergiam: como acompanhar a obra a partir de Londres? “Eu trabalhava em tempo integral como jornalista de viagens e a Holly tem ateliê em Londres. Dávamos as indicações ao responsável de obra e quando regressávamos, semanas depois, nada estava como previsto. Uma série de falhas de comunicação obrigaram a que a maioria das coisas tivesse de ser refeita duas e três vezes, o que encareceu o orçamento inicial.” Apesar de todos os contratempos, um ano depois a casa de campo estava pronta. Aquando da remodelação foram mantidos intactos o maior número possível de elementos, como a laje do pavimento do piso térreo e a tábua corrida do superior, as vigas de madeira à vista, incrustadas nas paredes rebocadas. Sob a orientação profissional de Holly, amiga, além de designer de interiores, o projecto ganhou forma, cor, texturas. “Ela ‘fez’ o meu apartamento em Londres, que adoro. Para a Moorland View, dei-lhe carta branca e apenas uma indicação: quero uma casa romântica, com algum luxo.” A intervenção resultou num estilo “britânico moderno, com sotaque francês”, colorido a cinzas luminosos, verdes, castanhos-chocolate e rosas-pastel. A rusticidade do

Curosidade: no piso térreo, na parede das escadas, há um cesto pendurado no cabide onde se deposita a correspondência; na cozinha, sobre a bancada, junto à janela, a tábua de cortar é de carvalho. Ainda na cozinha, destaque para os utensílios à vista

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pavimento e toros de madeira cravados na parede é suavizada pelo papel de parede ‘cintilante’, lustres e espelhos. Como peças favoritas, Suzy elege a banheira de cobre – cujo transporte para o 2.º andar foi uma aventura – comprada pela “internet por menos 60% do valor do mercado de loja”; a tábua de cortar, em carvalho, os utensílios da lareira, encomendados a um ferreiro local: “Estavam ainda quentes quando os fui buscar”, recorda. No que toca aos pormenores, a jornalista descreve-os assim: “Lençóis brancos de linho, bem passados, proporcionam-me sonhos encantadores, cores neutras e bem coordenadas clareiam os meus pensamentos, linda loiça artesanal faz com que me apeteça cozinhar pratos saudáveis e criativos!” Se o todo faz sentido, é porque o detalhe foi realmente bem trabalhado. Quando optou por uma segunda casa, Suzy sabia que teria de a rentabilizar, pois o seu orçamento não suportava duas habitações. Decidiu, então, alugar a casa de campo por curtos períodos, férias (www.moorlandview. com), a ‘visitantes’ cuidadosos em busca de dias tranquilos e ambiente romântico. A C iniciativa está a ser um sucesso! A intervenção resultou num estilo “britânico moderno, com sotaque francês”, colorido a cinzas luminosos, verdes, castanhoschocolate e rosas-pastel; a rusticidade do pavimento e toros de madeira cravados na parede é suavizada pelo papel de parede ‘cintilante’, lustres e espelhos. Curiosidade: a banheira da casa de banho foi comprada pela internet, 60% mais barata do que o seu valor no mercado

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