Versus Magazine #21 Agosto/Setembro 2012

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“Concerteza” “Verão é calor, é praia, é corpos seminus. E como tudo o que atrai e junta pessoas precisa de festa, verão é também um enorme festival. Festivais de verão há-os quase desde sempre, basta apenas dois amigos e um espalhar a palavra para se obter uma concentração maciça de indivíduos(as) à procura de diversão no seu estado mais puro, com a finalidade de refrescar o espirito e clarificar as ideias. A um convívio que apenas se obtém quando todas as mentes estão sincronizadas, aliou-se a música, mais uma forma de prazer, desta vez intelectual, para congregar e agradar a ainda mais pessoas. De todo o espectro musical há aqueles festivais que se focam mais num género e nos seus afluentes, embora estes sejam menos publicitados, mais “underground” se quisermos, e talvez aqui encontremos a grande maioria dos festivais que mais nos agradam, os “Metal Fests”. No nosso tímido país, de tímidas pessoas com tímidos horizontes, surgem tímidos festivais ambiciosos que começam por crescer e impor-se sempre que o vento sopre a favor disso e, dos mais pequenos aos maiores, temos uma pequena vastidão por descobrir. Após esta introdução prolongada acerca de um mundo que todos nós, uns mais, outros menos, conhecemos, chegamos à conclusão que, afinal de contas, a música é aquilo que nos faz organizar e ir, mas o convívio é a verdadeira razão para ficar. Mas o que, neste caso, distingue um festival, de um simples concerto? Primeiro que tudo, e o que salta logo à vista, a relação quantidade custo, mais bandas, por menos dinheiro. Enquanto um concerto simples com duas bandas de abertura ronda os vinte e cinco euros, um festival de dois dias com quatro bandas por dia custa, em média, os mesmos vinte e cinco euros por dia, o mesmo custo, mais música. Em segundo, o prolongamento dos festivais em relação aos

concertos isolados, mesmo que, no caso dos segundos, haja bandas de abertura. Festivais podem durar desde um único dia até vários, sendo que o normal é rondar os 2, 3 dias, ou seja, mais tempo longe do “mundo real”, como se se gozasse de umas miniférias. Aliado a este prolongar do afastamento da realidade estão as próprias relações interpessoais, aprofundar as que já vêm de trás e até mesmo algumas que possam eventualmente surgir, assim como (re)descobrir partes de nós próprios numa espécie de introspeção durante o transe do momento “zen” que existe em todos os festivais, mas não em todos os concertos. Aquela altura em que estancamos e nos apercebemos de que estamos mesmo a viver aquele momento, em que nos sentimos totalmente invencíveis e nos surge um sorriso enorme na cara, normalmente seguido de um grito de guerra e um salto para o moche... ou um abraço de grupo no meio deste. Muitos defendem que a prática do moche e do headbang é algo selvático, mas só quem vive, vê e sente o extremo companheirismo gerado destes rituais sabe que “o culto do metal” é do mais amigável que pode haver. E é isto que faz de um festival de metal, uma experiência única e inesquecível, sem retirar um pingo da brutalidade que é o mundo do metal e até adicionandolhe mais dois ou três amigos. Daniel Guerreiro


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