Versus Magazine #20 Junho/Julho 2012

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dem ouvir no tema é um novo território para os Arctic Plateau! Uma área que queria deixar em aberto. Foi, também, um espaço divertido de criar como experiência e aumentar a compressão e impulsionar a dinâmica do tema. Muitos fazem isso, eu não inventei nada. Se tirares os (belos) gritos de Carmelo e deres uma compressão diferente, podes, em poucos minutos, fazer um restyling no balanço dos canais (principalmente em relação aos canais de guitarra) e toda a música torna-se post-rock! Tudo depende sempre do resultado que eu quero, é claro. Em 2011 lançaste um Split-EP com os Les Discrets. Planeias outro tipo de colaboração com eles - além de Fursy Teyssier que foi o responsável pela direção artística, desenhos e logo? Algum projeto musical, talvez? O Fursy tem um estilo único e emocionante de trabalhar, e eu não posso excluir que no futuro possamos trabalhar juntos novamente, mas agora estamos muito ocupados com os nossos respectivos projetos. Sendo assim, não te posso dizer com certeza, mas seria muito bom. Mais uma vez, vejo os Arctic Plateau como um projeto muito pessoal, não só nas letras, mas, também, a nível musical. Qual é a tua relação com os outros membros da banda? Estou a falar em termos de tocarem as tuas músicas que são pessoais. Eles podem dar ideias para um certo riff ou pura e simplesmente tocam aquilo que tu queres que toquem? Os Arctic Plateau nasceram como um projeto a solo - um projeto de estúdio a solo. Isto não é uma banda, pelo que para mim é sempre muito difícil interagir com outros músicos, especialmente porque toda a gente quer dar a sua opinião mas eu não posso mudar o significado do meu projeto. Tenho

certeza que entendes. Há um velho ditado que diz: “Nunca mude uma equipe vencedora”. Os Arctic Plateau durante um concerto ao vivo tornam-se uma banda real e todos podem, pontualmente, acrescentar algumas ideias mas sempre respeitando o tema e a ideia principal. É neste ponto onde geralmente aparecem os problemas: não podes mudar uma “frase” musical inteira! Eu não sou um músico muito ingénuo, vejo e ouço tudo o que os outros tocam e enquanto estiverem a tocar comigo consigo entender se estão a tocar de forma honesta. Estou à procura de um novo baixista, mas o baterista residente é o Massimiliano. O Massimiliano gosta dos Arctic Plateau e não é um mercenário. Conheci pessoas que queriam muito de mim, mas eu não sou rico e não posso pagar muito dinheiro por um músico ao vivo. Proponho-te tocares num projecto muito interessante chamado Arctic Plateau e tu pedes-me dinheiro: estás fora mesmo antes que eu considere a ideia de te escolher, percebes? Eu não posso dar segundas oportunidades, a vida é dura e eu também sei algo sobre isso. Acima de tudo, não permito que alguém mude o que é o som básico deste projeto e eu aprecio este conceito, mesmo se fosse um fã de qualquer banda. Estes e outros aspectos são os verdadeiros problemas que me dão um monte de dificuldades para escolher uma verdadeira banda e fazer bons concertos. Estou, também, a trabalhar neste aspecto. Muitos músicos não têm formação musical - No entanto, eles podem ser grandes músicos. Tens algum tipo de formação (educação formal) e compões sempre da mesma forma, usando os mesmos métodos? Quero dizer, escreves tudo numa pauta musical, nota por nota? Eu leio música muito devagar e mal, admito; não sou um bom lei-

tor de pautas musicais. Mas isto não é uma minha prioridade para mim, é claro. Caso contrário, eu seria agora um guitarrista clássico. Quando eu era criança tive aulas de guitarra clássica. Entretanto conheci a guitarra elétrica e tudo mudou; tu sabes e podes imaginar... Sou capaz de escrever um pouco da minha própria música numa pauta musical. Às vezes transcrevo algumas melodias, riffs básicos e isso ajuda-me a lembrar de algumas partes e arranjos musicais, mas o processo de escrita nasce sempre de uma forma diferente ; “Abuse” nasceu de repente na guitarra; “Music’s like...” nasceu com a voz e o baixo elétrico, “Melancholy is not only for soldiers” foi escrita usando um piano muito antigo. Estás familiarizado com um tipo de guitarra chamada Guitarra Portuguesa? Aqui temos um tipo de música chamado “Fado”, que é tocado com este instrumento. Quando ouvi a introdução de “Enemy Inside” e “Loss And Love” imaginei as melodias tocadas com uma guitarra portuguesa. Se não conheces, aconselhote a ouvir; soaria de uma forma diferente e ainda mais fantástica! Vi alguma coisa no Youtube. Parece uma ferramenta fantástica e isso lembra-me um pouco outro instrumento, o mandolino, que faz parte do folclore italiano. O som do fado é muito interessante e quando for a Portugal de certeza que vou querer experimentar. Agradeço-te, desde já, a valiosa sugestão. Obrigado pelo teu tempo, «The Enemy Inside» é um grande, grande álbum. Há alguma hipótese de te ver em Portugal? Falando a sério, espero mesmo tocar em Portugal. Muito obrigado! Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro


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