Versus Magazine #19 Abril/Maio 2012

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LES DISCRETS «Ariettes Oubliées…» (Prophecy Productions) Composições esquecidas, longínquas, difíceis de lhes dar alma, mas nem por isso impossíveis de lhes dar forma. «Ariettes Oubliées…» corresponde precisamente a esse desafio, e parece que monsieur Fursy e companhia estiveram à altura. Igualar ou superar a genialidade e surpresa do primeiro álbum sugeria ser uma tarefa difícil, mas o grupo não só conseguiu manter essa genialidade como otimizou o seu trabalho, o que resultou noutra surpresa. O que há de parecido entre estes dois trabalhos está no «Ariettes Oubliées…» ainda melhor; e as diferenças entre ambos fazem deste último um passo positivo para a carreira musical de Fursy. As estruturas das músicas são parecidas e mantêm-se focadas nas guitarras, sem perder o lado Metal mas mais inspiradas em estruturas post-rock e shoegaze; e os ritmos estão bastante dinâmicos, mostrando um Winterhalter capaz de se superar. Contudo, este novo trabalho traz uma escuridão muito própria, um lado negro ainda mais negro que o seu antecessor, mas bastante confortável e com uma doçura que só a melancolia nos dá. Esse negrume é proporcionado com passagens ambientais, baseadas em dedilhados, como se estivéssemos a ser tocados por veludo cor de noite; e além disso a voz de Fursy está menos épica e mais calma e doce, aproximando-se desta forma ao que uns tais de Alcest fazem – mas sem luz e sem Neige! Mas falar de Les Discrets não é só falar de música, mas num conjunto de artes que fazem os seus lançamentos obras de arte. E por isso não se pode esquecer o trabalho gráfico de Fursy, que, como podem imaginar, enche os olhos ao mesmo tempo que somos afagados pela música. Outra dimensão artística são as letras, que ora são escritas pela Audrey Hadron ora são excertos da obra poética do francês Paul Verlaine. No final sentirão algo de sublime, algo confortável e acolhedor como se essa escuridão nos fosse muito própria… [9/10] Victor Hugo MESHUGGAH «Koloss» (Nuclear Blast) Finalmente! Os já anteriormente chamados “Einsteins” da música, vieram com a sua regra e esquadro (leia-se instrumentos) e apresentam este fenomenal «Koloss» para deleite de quem aprecia jogos matemáticos em forma de música. Os Meshuggah tinham a árdua tarefa de substituir o muito aclamado «ObZen» e passaram no teste com distinção. Tomas Haake continua com a sua forma peculiar de tratar a bateria, um primor para quem gosta deste instrumento. Jens Kidman permanece com a sua voz robótica carregada de raiva. Fredrik Thordendal e Mårten Hagström mostram que as suas guitarras de oito cordas são poderosas mas também cheias de ritmos agudos que nos entram no ouvido e nos dão um arrepio, tal o impacto que causam. E Dick Lövgren, o fiel escudeiro quando toca a suportar as músicas, com um registo muito próprio de baixo que o torna facilmente reconhecível em qualquer música. O álbum começa com “I am Colossus”, seguida da obra-prima deste trabalho, “The demon’s name is surveillance”, com um trabalho de bateria genial marcado por um bombo incansável, com o resto dos músicos a acompanhar de uma forma envolvente, e onde a subida que fazem ao minuto 2:36 é qualquer coisa de extraordinário. Destaco também as músicas “The hurt that finds you first” e “Swarm”, que conjugam velocidade, técnica e um experimentalismo raramente visto. É bom olhar para «Koloss» e ver que «ObZen» foi sucedido de forma exímia. Estamos perante, muito provavelmente, e na minha opinião, o álbum do ano. Fazendo jus ao nome, é fácil afirmar que “este álbum é Colossal”. [10/10] Sérgio Pires MY DYNAMITE «My Dynamite» (Listenable Records) Por vezes chegam à VERSUS Magazine álbuns de bandas que se distanciam da cena atual do Metal e que se situam num espaço muito especial, algures entre o Rock Clássico e o Hard Rock que ajudaram a abrir portas ao Heavy Metal ali nos anos 70. Motivados e inspirados por essa cena, os australianos My Dynamite trazem pela música esse feeling que apesar de se encontrar à margem do Metal atual consegue agarrar pelos colarinhos qualquer apreciador de Rock. A qualidade demonstrada nesta estreia é estonteante levando-nos a pensar que não é o registo de estreia, mas antes um terceiro ou quarto lançamento. A composição é muito boa, a


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