Versus Magazine #16 Outubro/Novembro 2011

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Sacrifício pela originalidade O barulho está constantemente ao nosso redor, quer seja na rua ou em casa, os nossos ouvidos são frequentemente bombardeados com ruídos que queremos esquecer e é então que gentilmente colocamos os auscultadores e nos aliviamos com o barulho que gostamos. Ora este barulho é música, mas até quando continuará a ser? Quanto tempo resta até que se deixe de criar música e apenas se produza barulho? Se recuarmos atrás no tempo, até à década de 60, e ouvirmos algo aí produzido, como um dos, agora antigos, vinis da época, somos presenteados com sonoridades originais em primeiro plano e o ruído de fundo que denuncia a qualidade, nos dias de hoje considerada baixa, mas que nos faz perder e flutuar nos berços da música nossa contemporânea. À medida que avançamos até à nossa era reencontramos gostos perdidos e artistas esquecidos, presenciamos o surgimento de novos estilos e novos géneros, que exploram cantos escondidos do espectro musical, e que esticam a corda do socialmente aceite. E é com esse esticar a corda que se consegue aquilo que se quer, mais cedo ou mais tarde, no entanto há que saber ser prudente e não partir a corda. Artistas que mergulham na fórmula “polémica igual a dinheiro” são, grande parte das vezes, fúteis e vazios, apenas superficiais, não se lhes pode dar muita importância pois não passam de animais famintos por fama e dinheiro que lentamente tentam devorar as câmaras e os microfones dos repórteres e ser estrela de primeira página (mas nos dias que correm, quem não quer?). Transpondo o assunto para o campo mais pesado, já anteriormente falei da grande quantidade de “novos metaleiros” que não têm alma no que fazem e desta vez volto a bater na mesma tecla. Com o pretexto de revolucionar o mundo da música, ou de ir buscar o que foi perdido, o certo é que raramente têm algo que se aproveite realmente. Sim, lá aparece um ou outro que faz um trabalho que surpreende e eleva mais a fasquia, já alta, de tocar um instrumento ou utilizar determinada técnica vocal. Em contraponto, todos temos direito à

liberdade de expressão, e todos temos o direito de nos expressarmos consoante desejarmos, e, no mundo da música, felizmente, existem centenas de maneiras diferentes, o que significa que ninguém é obrigado a seguir um certo padrão caso não queira, dando assim liberdade a quem se aventure a ser original ou até a quem prefira armarse em cientista e magicar uma fusão de diversos padrões comportamentais, musicalmente falando. Por tal significa dizer que diferentes géneros musicais surgem quase todos os dias, mas simplesmente estão mal efetuados, ou escondidos, e não são aproveitados, o que por vezes é o melhor, visto que o público geral tem a necessidade de se habituar gradualmente a algo novo para depois conseguir aceitar. Conseguem imaginar como seria majestoso um Kizomba Metal? Ou um Pimba Deathcore? Se me perguntam, acho que fico bem sem ouvir, mas a curiosidade está sempre à espreita! E embora a música seja feita , em parte, para agradar ao público, há situações em que funciona melhor quando o escandaliza, o que pode acabar por pôr um fim a quem escandalizou mas que ameniza o caminho para bandas vindouras. É como diz o outro: “Tem que haver sempre um sacrificado”. Daniel Guerreiro


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