Versus Magazine #11 Dezembro 2010

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“…

adicionar instrumentos indianos à mistura só para conseguir aquele toque “étnico”, seria algo que nos iria soar desonesto” Portanto, neste momento, os DR são a primeira banda indiana a aparecer ligada a uma editora ocidental de peso. Como é que isso vos faz sentir?

É verdade. Já temos aqui algumas bandas com discos publicados através de pequenas editoras underground, mas não é nada que se compare com a Candlelight. Já há muito que sonhávamos com a possibilidade de assinar com uma editora como esta. Para uma banda vinda de uma cena que luta a cada dia para sobreviver, a probabilidade disto acontecer era mesmo muito remota. Por isso, agora que o sonho se concretizou, a sensação é fantástica. Por maior que fosse o empenho que colocássemos na promoção e distribuição da nossa música a partir da Índia, é certo e sabido que nunca iríamos conseguir resultados comparáveis aos de uma editora como a Candlelight.

No álbum «The Return to Darkness», os DR evidenciam uma variedade de influências que vão desde o black metal ao death, passando pelo prog e outros géneros. Como é que surge este híbrido de estilos?

Bom, embora tenhamos sempre tocado um misto de death, black e power metal com mais alguns estilos à mistura, penso que este álbum resultou ainda mais diversificado por causa das várias influências dos membros da banda. Por exemplo, o Viru (bateria) é um grande fã de bandas como Meshuggah e Textures, bem como de muito death metal. O estilo de percussão bastante diferente do álbum anterior que ele trouxe para a banda, acabou por influenciar a minha maneira de tocar. O Mephisto (teclas) continua a assegurar o lado mais sinfónico dos DR, e agora temos um novo guitarrista, o Daniel, que introduziu uma maneira muito própria de solar, bastante distinta de qualquer um dos três guitarristas que convidei para gravar o álbum “A Darkness Descends”.

De todas as bandas que eu poderia nomear como aparentes influências nos DR, os Dimmu Borgir são, provavelmente, o nome que mais ressalta neste álbum. O que achas?

Estaria a mentir se te dissesse que os Dimmu Borgir não são uma grande influência na minha música. No entanto, também acho que soamos muito diferentes deles. Há uns anos, bandas como Dimmu Borgir, Old Man’s Child e Cradle of Filth eram grandes referências para mim. Contudo, ainda que actualmente continue

a gostar muito destas bandas, acho que na altura em que compusemos este álbum as minhas referências musicais situavam-se mais na área do death metal na linha de bandas como Behemoth, Nile, Arsis e Anata, bem como outras de estilo mais moderno como Scar Symmetry e Soilwork.

Já alguma vez pensaste em enriquecer a sonoridade dos DR com instrumentos tradicionais e elementos musicais da cultura indiana, de forma a personalizar um pouco mais o vosso som?

Honestamente essa é uma opção que nunca cheguei a equacionar. E a razão é porque eu cresci sem nunca ter desenvolvido qualquer ligação com a música indiana. Tive uma educação muito urbana. Em casa dos meus pais ouvia-se Pink Floyd, The Doors, Abba, soul music, etc. Na escola frequentei, por volta do quinto ano, uma disciplina de música que incluía música indiana, mas não se aprendia música a sério. Além disso, a música Bollywood que se ouvia na minha infância já era muito ocidentalizada. Portanto, como não me identifico pessoalmente com a música tradicional, não faz sentido pensar em usá-la nos DR.

Fiz a pergunta anterior porque acho que as pessoas estarão possivelmente à espera de música um pouco diferente de uma banda proveniente da Índia; talvez estejam a contar com um pouco da cultura local misturada com o metal. O que tens a dizer sobre isto?

Não é fácil explicar-te exactamente o porquê da nossa opção. Cada um dos elementos da banda é originário de uma região diferente da Índia, com a sua própria cultura, tradições, danças e música. A única coisa que é comum entre nós é basicamente a mesma educação urbana. O que partilhamos é no fundo a mesma filosofia e estilo de vida, e a música que fazemos é um reflexo das nossa maneira de estar. Portanto, adicionar instrumentos indianos à mistura só para conseguir aquele toque “étnico”, seria algo que nos iria soar desonesto. Eu sei que as pessoas estão à espera que os DR injectem na música um pouco da sua própria cultura. No entanto, como já disse antes, eu não cresci a ouvir música indiana, portanto para mim não seria natural fazer essa fusão. Este sentimento é, aliás, partilhado pelos restantes membros da banda. O único elemento dos DR que teve algum contacto com instrumentos tradicionais e tem alguma formação, neste caso em


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